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Fundamentos de Sistemas

Elétricos de Potência

I Prof. Manoel Afonso de C'JMlho línlor


Coordenadtr do LDSP
DEE / CTG / UFPE

Editora Livraria da Física


Luiz Cera Zanetta Jr.

Fundamentos de Sistemas
Elétricos de Potência

Editora Livraria da Física


São Paulo - 2006 - 1! edição
Copyright 2005: Editora Livraria da Física

Editor: José Roberto Marinho


Capa: Arte Ativa
Impressão: Gráfica Paym
Diagramação: Carlos Eduardo de Morais Pereira
Ilustrações: Ricardo Vianna Lacourt
Revisão do texto: Tânia Mano Maeta

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação ( CIP )


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Zanetta Júnior, Luiz Cera


Fundamentos de sistemas elétricos de potência / Luiz Cera Zanetta Jr.
-1. ed. - São Paulo : Editora Livraria da Física, 2005.

Bibliografia.
l. Centrais elétricas
2. Correntes elétricas
3. Energia elétrica - Distribuição
4. Energia elétrica - Sistemas
5. Energia elétrica -Transmissão
6. Linhas elétricas I. Titulo. ~Í'' • ·. , :1fonso de carvalho Jm

05-1252 e ,:o~- •Jenador do LDSP


OEE / CTG / UFPE
CDD-621 .3191

Índices para catálogo sistemático:

1. Sistemas eletricos de potência : Engenharia elétrica 621.3191

ISBN: 85-88325-41-1

Editora Livraria da Física


Telefone: (11) 3936-3413
www.livrariadafisica.com. br
Sumário

PREFÁCIO .... ....... ...... ... .. ................... ....... ....................................... ..... ........ .... ......... l

CAPÍTULO 1 Introdução aos Parâmetros de Linhas de Transmissão ...................... 5


1.1 Introdução ...................................................................................................... 5
1.2 Condutores Utilizados em Sistemas de Potência ........................................... 6
1.2.1 Resistência de Condutores ..................................................................... 8
1.2.2 Efeito da Temperatura na Resistência
dos Condutores em Corrente Contínua .................................................. 9
1.3 Indutância de Linhas de Transmissão .......................................................... 11
1.3.1 Generalidades ....................................................................................... 11
1.3 .2 Fluxo Concatenado com um Condutor ................................................ 15
1.3.3 Indutância de um Condutor devida ao Fluxo Interno .......................... 15
1.3.4 Efeito Pelicular .................................................................................... 20
1.3.5 Indutância de um Condutor devida ao Fluxo Externo ......................... 24
1.3.6 Adição dos Fluxos Interno e Externo ........................ ~ .......................... 28
1.3.7 Indutância de uma Linha a Dois Fios com Condutores Cilíndricos ..... 29
1.3.8 Fluxo Concatenado com um Condutor
por um Grupo de Condutores ............................................................... 3 1
1.3.9 Linha Bifásica com Condutores Compostos ou em Feixe ................... 34
1.3.1 0Reatância Indutiva da Linha com Utilização de Tabelas .................... .43
1.3.11 Indutância de Linhas Trifásicas com Espaçamento Eqüilátero ........... .45
l .3.12Linhas Trifásicas com Espaçamento Assimétrico .............................. .47
1.4 Capacitância de Linhas de Transmissão ...................................................... 50
1.4.1 Generalidades .................................... ,.. ,............................................... 50
1.4.2 Condutor Isolado ................... ,............. ,.............................................. .. 51
1.4.3 Diferença de Potencial entre Dois Pontos no Espaço .......................... 52
1.4.4 Capacitância de uma Linha Bifásica .................................................... 53
1.4.5 Linha Trifásica com Espaçamento Eqüilátero ..................................... 59
1.4.6 Linha Trifásica com Espaçamento Assimétrico ................................... 62
1.4.7 Consideração de Condutores Compostos ou Bundle ........................... 65
1.5 Referências Bibliográficas ........................................................................... 70

CAPÍTULO 2 Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas de Transmissão ........... 71


2.1 Introdução .................................................................................................... 71
2.2 Cálculo de Parâmetros Incluindo o Efeito do Solo ...................................... 71
2.2.1 Matriz de Impedâncias Série ................................................................ 72
2.2.2 Aplicação do Método das Imagens ...................................................... 73
2.2.3 Solo com Resistividade não Nula ........................................................ 76
2.2.4 Efeito dos Cabos-Guarda ..................................................................... 78
2.2.5 Aplicação de Componentes Simétricas ................................................ 83
Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

2.3 Matriz de Capacitâncias ............................................................................... 88


2.3.1 Consideração dos Cabos-Guarda ......................................................... 95
2.3 .2 Aplicação das Componentes
Simétricas no Cálculo de Capacitância ................................................ 98
2.4 Linhas de Transmissão com Circuitos em Paralelo e Cabos-guarda ......... 100
2.5 Cálculo Computacional de Parâmetros de Linhas de Transmissão ........... 114
2.5.1 Cálculo da Impedância Série (Matriz de Impedâncias) ..................... 114
2.5.2 Cálculo da Matriz de Admitâncias Capacitiva ................................... 118
2.6 Referências Bibliográficas ......................................................................... 121

CAPÍTULO 3 Relações entre Tensões e Correntes em uma Linha de Transmissão .... 123
3.1 Introdução .................................................................................................. 123
3.2 Propagação de Ondas Eletromagnéticas
em uma Linha de Transmissão .................................................................. 123
3.3 Impedância Característica de uma Linha de Transmissão ......................... 127
3.4 Regime Permanente em Linhas de Transmissão ....................................... 127
3.4.1 Modelo de Linhas de Transmissão com Comprimento Finito ........... 130
3.4.2 Quadripolo Equivalente ..................................................................... 133
3.4.3 Modelo rc Equivalente de uma Linha Genérica (Linha Longa) ......... 134
3.4.4 ModelorcNominal ............................................................................. 140
3.4.5 Modelo para Linhas Curtas ................................................................ 141
3.4.6 Modelo T Nominal ............................................................................. 142
3.5 Algumas Propriedades de Quadripolos ...................................................... 143
3.5.1 Associação em Cascata de Quadripolos ............................................. 143
3.5.2 Associação de Qu?..dripolos em Paralelo ............................................ 144
3.5.3 Representação de Elementos
Concentrados Através de Quadripolos ............................................... 145
3.6 Transmissão de Potência ............................................................................ 146
3. 7 Compensação Reativa de Linhas de Transmissão ..................................... 150
3. 7 .1 Linha de Transmissão em Vazio ........................................................ 150
3. 7 .2 Linha de Transmissão em Carga ........................................................ 154
3 .8 Referências Bibliográficas ......................................................................... 164

CAPITULO 4 Curto-circuito ................................................................................. 165


4.1 Introdução .................................................................................................. 165
4.2 Modelos de Geradores ............................................................................... 167
4.2.1 Motor Síncrono .................................................................................. 170
4.2.2 Motor de Indução ............................................................................... 170
4.3 Curto-circuito Considerando as Condições Pré-falta ................................. 171-·
4.4 Modelo de Carga e Análise Pré-falta ......................................................... 179.
4.4.1 Modelo de Carga ................................................................................ 179
4.4.2 Estudo das Condições Pré-Falta ......................................................... 180
4.5 Curto Trifásico Equilibrado ............................. __ 1
,... •
Sumário

4.6 Curto-circuito Fase-terra ............................................................................ 183


4.7 Curto Dupla-fase ........................................................................................ 188
4.8 Curto Dupla-fase-terra ............................................................................... 19 l
4.9 Potência de Curto-circuito ......................................................................... 195
4.9.1 Potência de Curto-circuito Trifásica .................................................. 195
4.9.2 Potência de Curto-circuito Monofásica .............................................. 198
4.1 O Referências Bibliográficas ......................................................................... 212

CAPÍTULO 5 Tratamento Matricial de Redes ...................................................... 213


5.1 Introdução .................................................................................................. 213
5.2 Matrizes para Redes de Seqüências ........................................................... 213
5.2.1 Formação da Matriz Y Considerando
os Elementos Indutivos sem Mútuas .................................................. 213
5.2.2 Formação da Matriz YConsiderando
Elementos Indutivos com Mútuas ...................................................... 216
5.2.3 Obtenção da Matriz de Impedâncias Nodais ...................................... 218
5.3 Matrizes Trifásicas .................................................................................... 220
5.3.1 Formação da Matriz YTrifásica ......................................................... 22 l
5.4 Referências Bibliográficas ......................................................................... 224

CAPÍTULO 6 Cálculo Matricial do Curto-circuito ............................................... 225


6.1 Introdução .................................................................................................. 225
6.2 Informações da Rede Pré-falta .................................................................. 225
6.3 Infom1ações da Rede em Falta .................................................................. 226
6.4 Superposições ............................................................................................ 228
6.5 Componentes de Fase ................................................................................ 228
6.6 Cálculos de Curto-circuito ......................................................................... 229
6.6.1 Curto Trifásico ................................................................................... 229
6.6.2 Curto Dupla-fase ................................................................................ 230
6.6.3 Curto Fase-terra ................................................................................. 231
6.6.4 Curto Dupla-fase-terra ....................................................................... 232
6.7 Referências Bibliográficas ......................................................................... 238

CAPÍTULO 7 Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica ...................................... 239


7.1 Introdução .................................................................................................. 239
7.2 Análise de uma Rede Elementar ....................................................... :........ 240
7.3 Variáveis e Análises de Interesse .............................................................. 244
7 .3 .1 Barras ................................................................................................. 244
7.3.2 Ligações ............................................................................................. 245
7.4 Considerações sobre o Método Iterativo de Gauss e Gauss-Seidel ........... 250
7.4.1 Método de Gauss ............................................................................... 250
7.4.2 Fluxo de Potência com o Método Iterativo de Gauss-Seidel ............. 253
7.5 Fluxo de Potência com o Método Iterativo de Newton-Raphson .............. 254
Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

7 .5.1 Método Iterativo de Newton-Raphson ............................................... 254


7.5.2 Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica
com o Método de Newton-Raphson ................................................... 258
7.5.3 Montagem da Matriz Jacobiana ......................................................... 259
7 .6 Fluxo de Potência com o Método
Newton-Raphson Desacoplado-rápido ...................................................... 273
7. 7 Referências Bibliográficas ......................................................................... 284

CAPÍTULO 8 Estabilidade .................................................................................... 285


8.1 Introdução .................................................................................................. 285
8.2 Modelo Elementar ..................................................................................... 286
8.2.1 Modelo Clássico ................................................................................. 286
8.2.2 Obtenção da Curva Px ô .................................................................... 286
8.3 Análise da Estabilidade .............................................................................. 289
8.3 .1 Elevação da Potência Mecânica ......................................................... 291
8.3.2 Ocorrência de Curto-circuito ............................................................. 292
8.4 Equação Eletromecânica ............................................................................ 294
8.4.1 Equação de Oscilação (Swing) .......................................................... 294
8.4.2 Critério das Áreas Iguais .................................................................... 296
8.5.1 Modelo Eletromecânico Simples ....................................................... 300
8.5 Referências Bibliográficas ......................................................................... 312
FUNDAMENTOS DE SISTEMAS
ELÉTRICOS DE POTÊNCIA

PREFÁCIO

Um sistema elétrico de potência é constituído por usinas geradoras, linhas de


alta tensão de transmissão de energia e sistemas de distribuição.
As usinas geradoras estão localizadas próximo dos recursos naturais energéti-
cos, como as usinas hidroelétricas estabelecidas nos pontos favoráveis para o apro-
veitamento dos desníveis e quedas de água dos rios, assim como locais propícios
para a formação de lagos e o armazenamento da água. Da mesma forma, as usinas
térmicas localizam-se próximo das reservas de combustíveis fósseis como o carvão
ou gás. Cabe mencionar que pode ser mais econômico fazer o aproveitamento des-
ses combustíveis por meio de sua queima, geração de calor e sua transformação em
energia elétrica, transportando-a via linhas de alta tensão até os centros de consumo,
do que efetuar o transporte do combustível por veículos, ferrovias ou embarcações.
Até mesmo as usinas nucleares, que eventualmente poderiam se localizar próximo
aos centros de consumo, por razões de segurança são instaladas em regiões afasta-
das das grandes cidades.
As grandes empresas estatais ou privadas são normalmente as responsáveis
pela geração de energia elétrica, devido ao expressivo aporte de capital necessário
nesses empreendimentos. Nas usinas geradoras a energia elétrica é produzida em
um nível de tensão da ordem de urna ou duas dezenas de quilovolts, sendo muito
comum a tensão de 13,8 kV, mas essa é uma tensão baixa demais para que o seu
transporte seja economicamente viável a longas distâncias. Desse modo, utilizam-se
transformadores encarregados de elevar esse nível de tensão a um patamar superior,
que vai de algumas dezenas de quilovolts até algumas centenas.
Essa energia, ao chegar aos grandes centros de consumo, corno as cidades e
parques industriais, percorre regiões densamente habitadas, com circulação perma-
nente de pessoas, cuja segurança exige a redução do nível de tensão a patamares
inferiores, novamente sendo muito comum a tensão de 13,8 kV. Dessa tarefa se
encarregam as empresas distribuidoras, que fornecem energia elétrica aos consumi-
dores, geralmente classificados em grupos, corno residenciais, comerciais e industriais.
2 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Fatores macroeconômicos, empréstimos, juros, variações de preços interna-


cionais de insumos energéticos, previsões de demanda e contratos de energia for-
mam o pano de fundo de toda uma engenharia financeira que determina a viabilida-
de e o sucesso de cada empreendimento. Tudo isso ocorre ainda ligado a uma ten-
dência recente de desregulamentação do setor elétrico, ou seja, a grosso modo di-
minuindo a participação estatal na geração, transmissão e distribuição, e permitindo
a entrada no mercado de um número maior de agentes empreendedores privados.
Após mais de um século de exploração da energia elétrica, as fontes de ener-
gia mais próximas dos centros de consumo já se encontram em utilização plena ou
quase isso, o que implica a busca de potenciais cada vez mais distantes, com desafi-
os a serem superados no transporte destas grandes quantidades de energia. Embora
diversos aspectos ligados aos sistemas elétricos de grande porte, como os anterior-
mente mencionados, sejam assuntos palpitantes, nosso interesse neste trabalho é
dirigido a um aspecto extremamente importante neste encadeamento, que é o da
transmissão de energia elétrica por meio de linhas de alta tensão. Inúmeros proble-
mas técnicos devem ser superados para que a energia elétrica possa ser transportada
atendendo aos requisitos de segurança das instalações e das pessoas envolvidas.
Aspectos cruciais como confiabilidade, flexibilidade e custos envolvidos no trans-
porte estabelecem o núcleo das ações das equipes técnicas encarregadas da opera-
ção e planejamento dos sistemas elétricos de potência.
Do ponto de vista das linhas aéreas de transmissão, cabe a nós entender os
aspectos básicos dos campos elétrico e magnético, que estabelecem os fundamentos
para a transmissão de energia através de cabos. Dessa forma trataremos dos aspec-
tos básicos no cálculo dos parâmetros das linhas de transmissão, com e sem a pre-
sença do solo. Em seguida, estabeleceremos a modelagem elementar da linha de
transmissão em regime permanente, delineando modelos utilizáveis do ponto de
vista da teoria de circuitos, que são úteis no cálculo de variáveis elétricas como
tensões, correntes e potências, assim como suas relações matemáticas.
Faz parte ainda de nosso objetivo analisar o cálculo das correntes de curto-
circuito, principalmente do ponto de vista de sua avaliação para os diferentes tipos
de faltas em redes elétricas, com o uso das componentes simétricas.
Um outro tema de nosso interesse e igualmente importante será a abordagem
do fluxo de potência em redes pois, como sabemos, os sistemas elétricos são consti-
tuídos por diversas usinas de geração e centros de consumo, interligados por redes
elétricas com diferentes configurações, que evoluem e se modificam devido a vários
fatores. As interligações elétricas na transmissão permitiram um aproveitamento j
jiiii Prefacio 3
----------------------------'~...;_;_____;;;_
mais econômico e confiável dos recursos energéticos e dos equipamentos elétricos.
Fará parte de nossa investigação a compreensão do fluxo desta energia pelos dife-
rentes caminhos possíveis de uma rede interligada, com o seu equacionamento por
meio de uma formulação eficiente no cálculo das grandezas elétricas envolvidas.
Desfrutamos de notórios beneficios que as interligações de sistemas propor-
cionam às redes elétricas, como redução de custos e aumento da confiabilidade. No
entanto, a partir destas interligações também surgiram dificuldades técnicas para
uma operação estável dos sistemas diante de perturbações inevitáveis, algumas
normais, provenientes de alterações operativas e variações da carga. Outras pertur-
bações são causadas por curto-circuitos, cuja origem muitas vezes se encontra em
tempestades e quedas de raios nas linhas de transmissão, além de outros fatores.
Desse modo, complementamos o texto com uma introdução à estabilidade de
geradores conectados a barramentos suficientemente robustos, conhecidos como
barramentos infinitos, introduzindo os conceitos elementares de estabilidade de
redes, com base no modelo clássico de geradores.
Mencionamos que o objetivo deste livro foi reunir os elementos de transmis-
são de energia elétrica em um sistema de potência, particularmente aqueles empre-
gados na cadeira de Sistemas de Potência I, na formação de engenheiros eletricistas
pela Escola Politécnica da USP. Sua despretensiosa elaboração não pretende substi-
tuir urna vasta e rica literatura de textos clássicos existente sobre o terna, mas ape-
nas condensar aspectos fundamentais empregados em um curso de graduação. Para
sua leitura, o aluno de graduação necessita apenas conhecimentos de componentes
simétricas e modelos de equipamentos em valores por unidade, desenvolvidos em
cursos mais básicos.
A análise introdutória desenvolvida se ampliará num segundotrabalho im-
presso, ainda em elaboração, abordando aspectos complementares mais avançados.
4 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência
CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO AOS PARÂMETROS DE


LINHAS DE TRANSMISSÃO

1.1 Introdução
O projeto de uma linha de transmissão envolve cálculos elétricos e mecâni-
cos, pois o bom dimensionamento elétrico está intimamente ligado a fatores mecâ-
nicos, como por exemplo o dimensionamento das estruturas capazes de suportar o
peso dos cabos, rajadas de ventos e outras ocorrências como rompimento de cabos,
etc. Como o cabo sofre deformações, a sua altura em relação ao solo, entre duas
estruturas, é inferior à sua altura nas torres. Além disso, como os vãos entre torres
podem ser irregulares, por exemplo em trechos montanhosos, nas travessias de rios
ou de vales, existe a necessidade de uma otimização do número de torres e de suas
alturas visando reduzir custos, assim como a definir adequadamente o tracionamen-
to admissível desses cabos nas estruturas.
A elevação da tensão necessita de maior altura dos condutores em relação ao
solo, assim como de um maior distanciamento entre fases, o que implica maiores
estruturas de sustentação, freqüentemente metálicas, conhecidas como torres de
linhas de transmissão. Os cabos condutores são presos às estruturas por meio de
cadeias de isoladores, e são constituídos por fios encordoados que apresentam ca-
racterísticas elétricas e mecânicas. Do ponto de vista mecânico destacam-se como
variáveis o peso e a resistência à tração, assim como sua flexibilidade, fundamental
para a fabricação, transporte e montagem no campo. Do ponto de vista elétrico, são
importantes variáveis a condutividade e a seção condutora.
Nosso objetivo básico volta-se para os aspectos elétricos fundamentais do
cálculo dos parâmetros de uma linha de transmissão, correspondentes às caracterís-
ticas elétricas, dimensões e espaçamento dos condutores. Com o cálculo dos cam-
pos magnéticos e elétricos definiremos os parâmetros indutivos e capacitivos das
linhas de transmissão. Na avaliação elementar de parâmetros, desenvolvida a seguir,
desconsideramos o efeito do solo, mas dele nos ocuparemos em capítulo posterior
dedicado ao·tema.
6 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Nosso interesse no cálculo dos parâmetros elétricos justifica-se pela impor-


tância dessa tarefa, da qual são dependentes e alicerçadas as demais avaliações que
se façam de um sistema elétrico de potência.

1.2 Condutores Utilizados em Sistemas de Potência


Uma preocupação básica na seleção de um condutor, definido o material a ser
utilizado, cobre ou alumínio, é com a área de seção transversal, que está associada
ao volume de material a ser utilizado e portanto ao custo da transmissão. Os aspec-
tos de custo são tratados dentro de um tópico chamado de seleção do condutor eco-
nômico, que não será objeto de nossa análise.
Ao alterarmos o diâmetro do condutor, modificamos a densidade de corrente
I / S, e conseqüentemente as perdas. Os aspectos positivos em aumentar o diâmetro
são reduzir as perdas e também o gradiente elétrico na superficie do condutor, ate-
nuando o efeito corona. Em contrapartida, isso aumenta o custo da transmissão.

S = área da seção
condutora

Figura 1.1: Condutores com raios diferentes.

Quando comparamos condutores de cobre com os de alumínio, fixados um


mesmo comprimento e uma mesma resistência elétrica do circuito, o volume de
alumínio será maior, pois será necessária uma seção condutora maior para compen-
sar sua condutividade, inferior em relação à do cobre. Apesar disso, devido à maior
densidade do cobre, o peso em cobre será aproximadamente o dobro em relação ao
do alumínio. Isso confere uma vantagem adicional ao alumínio, que pode ser utili-
zado com estruturas de sustentação mais leves, além do seu custo mais baixo.
A dificuldade prática em se fabricar condutores com diâmetros elevados im-
plica o uso de cabos formados por diversos fios, denominados cabos encordoados.
Quando um só cabo encordoado não é suficiente para transmitir a corrente total, , .
adicionamos mais cabos em paralelo, separados por espaçadores, formando cabos
múltiplos. Existem diferentes tipos de condutores, e os mais usados em linhas de
transmissão são normalmente, por razões econômicas, condutores de alumínio:
Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 7

• CA: condutor de alumínio puro.


• AAÁC: condutor de liga de alumínio, de ali aluminium alloy conductor.
• CAA: condutor de alumínio com alma de aço, cuja denominação muito conhe-
cida em inglês é ACSR, de aluminium cable steel reinforced.
• ACAR: condutor de alumínio com alma de liga de alumínio, de aluminium
conductor alloy reinforced.

Seção
condutora em
forma de coroa

Suporte
mecânico de aço

Figura 1.2: Fonnação 24/7 de um cabo CAA que apresenta 24 fios de alumínio e 7 de aço.

No processo de encordoamento os fios descrevem uma trajetória helicoidal


em tomo do centro do condutor. Levando-se em conta ainda que os cabos sofrem
uma deformação provocada pelo seu peso, o comprimento real é um pouco maior
que a extensão da linha e.

flecha
'

\
/
~--_L_J-
____---------/\
\1
...

torre

Figura 1.3: Efeitos de encordoamento e flecha.

e: comprimento da linha,
ereal 1, 02f .
z
8 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Da mesma forma, a resistência total da linha pode ser estimada em um valor


um pouco acima dos obtidos nos cálculos.

1.2.1 Resistência de Condutores

As perdas nos condutores em corrente contínua, devidas ao efeito Joule, são


representadas por meio de resistências, com a seguinte expressão conhecida:

pe
R=- ( 1. 1)
s'

Figura l .4: Dimensões de um condutor.

São importantes as seguintes variáveis que definem um condutor cilíndrico:


e: comprimento do condutor ou da linha (pés, metros, km),
r: raio do condutor (centímetros, polegadas),
S: área da seção do condutor (mm 2 ou CM= circular mil),
p : resistividade do material utilizado,
(J": condutividade do material utilizado.

A área de 1 CM corresponde à área de um círculo com diâmetro de um milé-


simo de polegada. A área de 1 MCM corresponde a 1000 vezes a área de 1 CM.
Obtemos a seguinte correspondência entre áreas dadas em mm 2 e CM:

S mm 2 =ScM5,067xl0-4,
--- Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 9

ou aproximadamente em MCM:

smm 2 ==0,5SMCM·

A resistividade, ou condutividade (ppadrão ou O"padrão), padronizada para um


condutor, é a do cobre recozido. Dessa forma, para outros processos metalúrgicos,
podemos estabelecer uma correspondência entre suas resistividades com a padroni-
zada, conforme os exemplos a seguir para o cobre e o alumínio.
O cobre à têmpera dura tem 97% da condutividade do O"padrão, apresentando a
resistividade p =1, 77 x 10-8 nm ( 20 º C) .
O alumínio à têmpera dura tem 61 % da condutividade do O"padrão, com resis-
tividade p = 2,83x 10-8 nm (20 ºC).

1.2.2 Efeito da Temperatura na Resistência dos


Condutores em Corrente Contínua

Sem entrarmos em maiores detalhes, a figura abaixo ilustra o efeito conheci-


do da variação linear da resistência em função da temperatura, quando o condutor é
percorrido por corrente contínua.

Temperatura

Resistência

Figura 1.5: Gráfico temperaturax resistência.

R2 ITl+ 1
2
---'---'---
Ri ITl+t1 '
com:
1O Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

T = Temperatura de referência na qual a resistência seria teoricamente desprezível.


T = - 234,5 ºC para cobre recozido com 100% de condutividade do Clpadrão,
T = - 241,0 ºC para cobre à têmpera dura,
T = - 228,0 ºC para alumínio à têmpera dura.
Para a correção da resistência, em função de temperatura, utilizamos a seme-
lhança de triângulos, tomando a temperatura Tem módulo.
Vejamos alguns valores tabelados de resistência de condutores, utilizando o
cabo Grosbeak 636 MCM (636 mil circular mil ou 636.000 CM), com:

Rdc = O, 0268 O /1000 pés ( CC) .


Em corrente contínua, passando a unidade de comprimento para milhas, ob-
temos:

R . = 0,0 268 O/mi (20 ºC).


de O 1894
'
Muitos dados encontram-se tabelados em unidades inglesas e desse modo é
conveniente nos habituarmos a trabalhar com as conversões de unidades para o
sistema internacional. A conversão de I 000 pés para milhas é feita da seguinte forma:

I pé ➔ O, 3048 m ,

1000 pés ➔ 0,3048 km,

,
1000 pes 0,3048 .
➔ --- m1,
1,609

1000 pés ➔ 0,1894 mi.

Corrigindo essa resistência para 50 ºC, obtemos:

228+50 .
Rdc 50ºC = Rdc 20ºC - - - = 0, 1586 0/mt .
228+ 20
Nesse caso, t 1 =20 ºC, t2 =50 ºC e T =-228 ºC.
No entanto, cabe mencionar que, em corrente alternada, as resistências apre-
sentam um comportamento dependente do efeito pelicular, sendo mais conveniente
sua obtenção em tabelas fornecidas pelos fabricantes. Para o mesmo cabo Grosbeak,
extrairíamos os seguintes valores:

Rac 20ºC = O, 1454 O/mi , Rac50ºC = O, 1596 O/mi .


Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 11

1.3 Indutância de Linhas de Transmissão


Neste item introduziremos o cálculo de indutâncias de linhas de transmissão,
sem levar em conta a presença do solo. Antes porém, recordemos alguns conceitos
básicos de fluxo concatenado em espiras ou bobinas, assim como os conceitos de
fluxos interno e externo concatenados com condutores.

1.3.1 Generalidades

-
i

v(t) ( •

Figura 1.6: Indutância com núcleo ferromagnético.

Dada uma bobina, envolvendo um núcleo composto por material ferromagné-


tico, sabemos que para densidades de fluxo elevadas pode ocorrer a saturação do
núcleo e nessa situação obtemos indutâncias não lineares, que variam com a inten-
sidade da corrente.

l = linear

l = não linear, l = l (i)

i
Figura 1.7: Curva </)xi.

Nos meios com permeabilidade magnética constante, como por exemplo o ar,
encontramos uma relação linear entre o fluxo e a corrente i, </J = Li .
Nas li11:has de transmissão aéreas, assumimos a indutância L com um valor
12 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

constante, para qualquer nível de corrente, adotando µar =µ 0 , sendo µ 0 a permea-


bilidade do vácuo.
No caso linear, sabemos que:

v(t) = L di(t) .
dt

Analisaremos a relação entre a tensão e a corrente, em grandezas alternadas


no campo complexo, aplicando a transformada de Laplace:

V(s) = sLI(s).

Em regime permanente senoidal, calculando no ponto s = jOJ, sendo OJ a


freqüência de excitação, obtemos a relação fasorial entre tensão e corrente:
. .
V=jmlf,

com a corrente atrasada de 90º em relação à tensão, simplificamos a notação:

V= }XI. (1.2)

Definimos a reatância indutiva do bipolo por:

X=ml.

Quando ternos circuitos relativamente próximos, encontramos uma indutân-


cia mútua entre eles, definida pela relação entre fluxo concatenado com um circuito
devido à corrente no outro.

CD

Figura 1.8: Indutância mútua.

Sendo:
- Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 13

rp12 o fluxo concatenado com o circuito 1 devido à corrente no circuito 2. Observa-


mos que nesse exemplo o fluxo concatenado com o circuito 1 corresponde às linhas
de fluxo 2, 3 e 4 da figura 1.8.
</Ji2 = M12 12 ·
M 12 a indutância mútua entre os circuitos 1 e 2.
Vj = }0JM12f2 ·
X 12 = mM12 a reatância mútua entre os circuitos 1 e 2.
No cálculo de circuitos magnéticos, o fluxo rp(t) concatenado com uma espi-
ra está confinado no material ferromagnético, conforme a figura 1.9.

e(t) e(t) rp, B, H

fluxo concatenado

Figura 1.9: Fluxo magnético concatenado com uma espira.

As linhas fechadas de B e H, aqui também denominadas linhas de fluxo, en-


volvem completamente o condutor. Quando temos N espiras, o fluxo concatenado
com a bobina, colocando em série todas as espiras, é dado por À= N rp, sendo (jJ ,
como vimos, o fluxo concatenado com uma espira. A tensão nos terminais de cada
espira é obtida com a aplicação da Lei de Lenz, adotando a convenção do receptor.

em todas as espiras.
A tensão nos terminais da bobina é obtida por:

v ( t) = Nd:~ t) ,
ou:
n
v(t) = Le; = Ne(t),
i=I

que pode ser reescrita como:


14 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

e admitindo À como o fluxo concatenado com N espiras em série, definimos


À= Li, sendo L a indutância do enrolamento, que se comporta como um fator de
proporção entre a corrente e o fluxo, nos casos sem saturação.

-
i(t)

e, - i

v(t) (
e2
e3
e4 - l

espli& (vista superior)

Figura 1.1 O: Fluxo concatenado com N espiras.

Quando temos dois condutores longos de comprimento e, espaçados por uma


distância D, com f. »D, podemos analogamente aplicar o conceito de fluxo conca-
tenado com uma espira, definida pelo retângulo formado pelos dois condutores,
desprezando o efeito do fluxo nas duas extremidades. Novamente, as linhas de flu-
xo envolvem completamente o condutor.

e (t)
- I
1
1
1
1
1
1 X X
B

X X X X X X
1
1
1
1
X X X X X X X X
ID
-1

I B

C» D

Figura 1.11: Fluxo concatenado com a espira com dois condutores paralelos.

Do ponto de vista do circuito elétrico, podemos associar uma indutância ao


circuito formado pelos dois condutores.
Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas I5

J.3.2 Fluxo Concatenado com um Condutor

Um conceito importante, que se aplica ao cálculo de parâmetros de linhas de


transmissão, é o de fluxo concatenado com um condutor apenas. Para isso necessa-
riamente precisamos fazer uma abstração e supor que o outro condutor, de retorno,
encontra-se muito distante, a uma distância D tendendo ao infinito.

condutor 1
1 B

_j. X
J ) ) ) )
X X X X
,,,,.------ .......... ,
' \
\
'\
,.
1
1 \

e(t) condutor 1 (8) 1 ,


1
1

I
1 JJ,

-I
condutor 2
B

Figura 1.12: Fluxo concatenado com um condutor.

Nesse caso, podemos aceitar o conceito de fluxo concatenado com um


condutor.
Veremos a seguir, de modo bastante simplificado, como tratar o fluxo interno
em um condutor.

1.3.3 Indutância de um Condutor devida ao Fluxo Interno

Para uma precisão maior no cálculo, consideramos a indutância interna do


condutor. Vejamos como obter essa indutância, supondo um condutor sólido, com
raio R e seção S, percorrido por corrente contínua com intensidade /, que apresenta
densidade uniforme de corrente em toda a seção condutora:

(1.3)

Para isso, fazemos uma extensão do conceito de fluxo concatenado, definindo


o fluxo parcial concatenado em um condutor, ao calcularmos o fluxo interno, cor-
respondente a uma seção condutora com raio r < R .
16 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

' '
''
'
',, Bext r > R
\
\
\
\
\
\
1
1
1
1
1

Figura 1.13: Fluxo interno e externo.

Para r < R, calculemos a densidade de fluxo em uma linha fechada.


Na figura 1.14 Brt, B,. 2 e Br 3 são densidades de fluxo internas ao condutor,
a distâncias r1 < r2 < r3 < R , etc.

Figura 1.14: Densidades de fluxo internas ao condutor

O fluxo interno ao condutor, inserido em um elemento tubular de raio r < R e


espessura dr, é dado pela expressão dr/Jr = Brdr, a ser novamente examinada logo
mais adiante.
Definimos o fluxo parcial concatenado com a corrente !,. , envolvida por esse
elemento tubular, pela expressão:

Obtemos o vetor H,. em um ponto no interior do condutor, à uma distância r


do centro, utilizando a Lei Circuitai de Ampere.
Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 17

Hr

Figura 1.15: Fluxo em um elemento tubular.

Supondo a corrente contínua uniformemente distribuída pela seção transver-


sal, obtemos a corrente interna ao círculo de raio r, com r < R, dada pela relação de
áreas:
2
Ir = ,rr I
2 .
,rR

Fazendo a circuitação do vetor intensidade de campo magnético Hr em um


caminho fechado, obtemos:

(1 .4)

Como Hr é constante a uma distância r do centro do círculo:

ou:

r
H,. = 2 I.
2,rR
18 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Conseqüentemente, como Br = µHr, obtemos:

De posse da densidade de fluxo Br, calcularemos a indutância interna do


condutor segundo dois procedimentos distintos, o primeiro por meio da energia
eletromagnética interna e o segundo por meio do fluxo interno concatenado parcial-
mente.

• Energia eletromagnética interna do condutor


Podemos calcular a energia magnética interna ao condutor, considerando o
volume do condutor em um comprimento unitário,

Para isso consideremos um elemento tubular, de comprimento unitário, com


volume dvol = 2rcrdr, resultando em:

que corresponde à energia magnética em uma indutância Li , percorrida por uma


corrente/:

Considerando a permeabilidade do condutor próxima da permeabilidade do


vácuo:

obtemos:

µ I -7
L. =-=-xlO H/m. ( 1.5)
I 8JZ' 2

Ou seja, a indutância interna de um condutor, percorrido por corrente contínua, é


uma constante que independe das suas dimensões. Por sua vez, podemos obter o
fluxo interno do condutor por meio da relação:
Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 19

di.
'f/1
=L-1
I '

resultando em:

di.
'rt
= µI .
8Jr

Figura 1.16: Elemento tubular.

• Fluxo interno concatenado parcialmente


O fluxo incremental em um elemento tubular com raio r e espessura dr é da-
do pelo produto Brds, sendo ds = dr x 1 , no caso de comprimento unitário, resul-
tando em:

dr/Jr = Brdr Wb/m, ( 1.6)

µr
dr/Jr = 2 !dr Wblm.
2n-R

Este fluxo interno d r/Jr concatena somente a parcela Ir de corrente interna, já


obtida anteriormente.
Faremos a seguir o cálculo da indutância interna empregando o conceito de
fluxo parcialmente concatenado com um condutor, definido pela expressão:

resultando em:
20 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

µr3.
dÃ= 4 !dr.
21rR

O fluxo parcial envolve apenas uma parcela da corrente interna do condutor,


e desse modo, integrando-o no intervalo O:s; r :s; R , obtemos:
R 3 R 4
À= f µr !dr= µ! fr3 dr= µIR
o 21rR
4 2nR 4 o 2nR 4 4'

ou:

Observamos que a idéia de fluxo concatenado está relacionada com a corren-


te envolvida pelos enlaces de fluxo, que são linhas fechadas, e a indutância interna
do condutor é definida pela relação entre o fluxo concatenado interno total e a cor-
rente total do condutor, que se expressa por:

Li=µ.
8Jr

Admitindo-se µ =µ 0 =41r10-7 , obtemos:


L; = ~ 10-7 H/m.
2

Esse resultado, coincidente com o da expressão ( 1.5), demonstra a validade


do conceito de fluxo parcialmente concatenado com o condutor. Lembramos que os
resultados anteriormente obtidos para o fluxo concatenado só valem para condutores
cilíndricos percorridos por corrente contínua, sendo um conceito teórico importante
para o cálculo da indutância interna. Do ponto de vista prático, para os cabos encor-
doados, veremos posteriormente como abordar essa indutância.

1.3.4 Efeito Pelicular

Antes de prosseguir, faremos uma breve explanação sobre a distribuição de


correntes internas em um condutor, percorrido por corrente alternada.
A densidade de corrente em um condutor percorrido por corrente alternada
não é mais uniforme, diferentemente do caso de condução em corrente contínua,
como fizemos na hipótese adotada na expressão (1.3), obedecendo a uma distribui-
Capitulo 1. Introdução aos Parâmetros de linhas 21

ção que depende da permeabilidade e resistividade do material, assim como da fre-


qüência de excitação.

fo =0

Ro = pi
So

Figura 1.17: Distribuição de correntes com o efeito pelicular.

Esse efeito, conhecido como pelicular, altera a indutância interna do condutor


e tem implicações na avaliação das perdas, quando empregamos corrente alternada,
pois ocorre uma concentração de correntes do centro do condutor para sua periferia,
à medida que a freqüência aumenta, o que causa uma elevação da resistência, com
uma redução na área efetiva de condução.
Obviamente, o aumento da concentração de correntes é gradual, do centro do
condutor para a superficie externa, não ocorrendo as descontinuidades indicadas na
figura 1.17, apenas ilustrativas do fenômeno eletromagnético.
Não será o nosso propósito explorar detalhadamente o equacionamento do
efeito pelicular, neste texto introdutório. Com o objetivo de apresentar os passos do
equacionamento, mencionamos que na dedução a seguir são utilizadas formulações
básicas do eletromagnetismo, convenientemente elaboradas no campo complexo,
em valores fasoriais. Da mesma forma como empregamos grandezas fasoriais de
tensões e correntes, dada a linearidade das relações que utilizaremos, é equivalente
obter resultados instantâneos ou fasoriais em regime permanente. Por exemplo,
como lj/ =LI, sendo L linear, a associação de valores fasoriais aos fluxos, a partir
dos fasores de corrente alternada, é imediata.
Para isso, tomemos um condutor cilíndrico de raio R e comprimento unitário
e chamemos a densidade fasorial das correntes Jr, no sentido longitudinal do con-
dutor, à uma distância radial r ~ R do seu centro.
22 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

' '
' ''
__ ,---/...,-- '
' ', ' ' \
--,
1
- ,' / / I
\
1
1
1
1 1 1 1 1
1 / 1 1 1
1
1
1
1
1
\
1
1
1
• 1
1
1
1
1
1
1 \ 1 / 1
1 1 \ / I
1 1 \ I I
I /
1\ ' \ ' ' .... ,, / /
I
\ '
'' ' ',
'' -----
' ',,

Figura 1.18: Contornos para aplicação das equações de Maxwell.

a) Circuitação no contorno a, aplicando a Lei de Ampere, ao longo do círculo de


raio r que envolve a corrente contida no cilindro correspondente:

(1.8)

Com a equação ( 1.8), trabalhando nesse contorno a, sabemos que a corrente


interna do cilindro, com seção circular de raio r e área interna A, é função da densi-
dade de corrente J r :
r
1,. = f2JrrJ,.dr. (1.9)
o

Das fórmulas (1.8) e (1.9) concluímos que:


,.
2JrrH,. = f2JrrJ,.dr.
o

Diferenciando em relação à r, é imediato obter a seguinte expressão:

aH,. + _!_Hr =J
r. ( 1.1 O)
ar r
b) Circuitação no retângulo de espessura dr, Lei de Lenz:

f,B Ed1=- Jw f BdS 8 (1.11)


Capítulo !. Introdução aos Parâmetros de Linhas 23

No primeiro membro da equação ( 1.11 ), como o campo elétrico é longitudi-


nal e proporcional à densidade de corrente, Er = pJ,., calculamos a queda de ten-
são ao longo do contorno retangular /3, adotando o sentido horário. Com relação ao
segundo membro, obtemos o fluxo na superficie envolvida por esse contorno.

p,1J,. =-JmµH,.dr.

Exprimindo de forma incremental a alteração da densidade de corrente,

,1J,. = aJ,. dr'


ar

escrevemos:

paJ,.
- dr=-Jmµ
. H ,. d r.
ar
O que implica a relação entre J,. e H,.,

H
,. = -jp ê)J,.
mµ r
a ,
com a qual podemos eliminar H,. da expressão (1.1 O), resultando em uma equação
diferencial de segunda ordem, da densidade de corrente em relação à distância radial
r ao centro do condutor:

d 2 J r + _!_ dJr - j mµ J r = O. ( 1.12)


dr 2 r dr p

Tal equação diferencial apresenta solução em série bem conhecida, denomi-


nada série de Bessel de primeira espécie e ordem zero.
Chamando m = .JmµI p e conhecida a densidade de corrente na superfície
do condutor, J R , escrevemos a expressão da densidade de corrente interna ao con-
dutor J,., em variáveis complexas, na qual os termos ber e bei, relativos à parte real
e à imaginária das séries, estão definidos em expressões matemáticas, não explora-
das aqui.

J,. ber(mr)+ jbei(mr)


=
JR ber(mR) + j bei(mR)

A figura a seguir exemplifica um possível comportamento do módulo da va-


riável complexa J,., em função der, para uma dada freqüência de excitação em um
condutor cilíndrico.
24 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

J,.

r R

Figura 1.19: Densidade de corrente em função da distância r ao centro do condutor, em


corrente alternada.

Cabe comentar que a indutância interna corresponde a uma pequena parcela


da indutância total de um condutor. O efeito pelicular visto anteriormente reduz
ainda mais essa parcela, não sendo por isso um aspecto preponderante no cálculo de
indutâncias. O impacto mais significativo do efeito pelicular se manifesta na eleva-
ção da resistência e conseqüentemente nas perdas Joule.

1.3.5 Indutância de um Condutor devida ao Fluxo Externo

Neste item faremos o cálculo da parcela de indutâ_ncia correspondente ao flu-


xo externo ao condutor, o qual pode ser feito em valores instantâneos ou fasoriais,
indiferentemente. Como o cálculo anterior de indutâncias internas foi feito em cor-
rente contínua, voltaremos a empregar essa hipótese em nossa formulação.
Vejamos como obter uma expressão que forneça o fluxo confinado em duas
superfícies cilíndricas determinadas pelas distâncias D 1 e D2 ao centro do condutor.
que passam pelos pontos Pi e P2 mostrados na figura 1.20. Para isso, calcularemos
o fluxo na superfície S 2 , apoiada em um plano que passa pelo centro do condutor e
contém os pontos Pi e P2 , sendo ortogonal a todas as linhas do vetor densidade de
fluxo:

tjJ = fBdS = f BdS


S S2

Aplicando novamente a Lei de Ampere a um caminho fechado e circular com


raio r, r ~ R, do vetor intensidade de campo Hr, obtemos:
Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 25

''
'
', '\ \ \'.>o' ''
~"
'.>.\,
\
\
\
''" \
\1
elemento tubular

\
1
1
1
1
1
1
1
1 1
1
1
1
1
I 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1

/ Hr
I
I
I

Figura 1.20: Superfícies concêntricas de um elemento tubular.

Nessa linha circular, como o vetor Hr é constante, podemos fazerÇ

que resulta em:

ou:

Sendo o vetor densidade de fluxo dado por:

B = µ!
r 21rr

Observamos que o vetor H r internamente cresce de modo linear com a dis-


tância em relação ao centro do condutor (r ~ R) e externamente decresce com uma
função hiperbólica, em função da distância ao centro (r 2". R).
26 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

I
21rR

r< R R r>R r

ri I
H,. =--2 H,.=--
21rR 21rr

Figura 1.21: Curva Hx r.

O fluxo inserido em um elemento tubular com raio r e com espessura dr é


dado por:

µI
d(j),. =-dr,
2:rr

que, integrado, fornece o fluxo concatenado entre os pontos 1 e 2, ou Pi e P2 , ex-


ternos ao condutor:

(1.13)

Observamos que estamos impondo D2 > D 1 e que o fluxo externo concatena


a corrente uma vez, de tal modo que: d(j) = d2 (N=l).
=
Sabendo que µ µ 0 = 4:rxl0-7 , a expressão (1.13) também pode ser colo-
cada na forma:

(1 . 14)
Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 27

Esse fluxo, dividido pela corrente do condutor, fornece uma indutância parcial, que
chamaremos de Li 2 ,

ou ainda:

( 1.15)

Novamente, lembrando o conceito de energia armazenada em um volume,


aqui particularmente empregado na coroa, ou na região tubular externa ao condu-
tor, com comprimento unitário e compreendida entre os pontos Fj e P2 , podemos
escrever:

na qual dvol = 21rrdr é o incremento de volume do elemento tubular com raio r e


espessura dr.

Temos:

Que resulta nçt mesma expressão anteriormente obtida em ( 1.14 ).


28 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

1.3.6 Adição dos Fluxos Interno e Externo

Vejamos como calcular o fluxo total concatenado com um condutor, até um


ponto P externo ao mesmo, situado a uma distância D do centro.

1
1

8\ 2

p
D

Figura 1.22: Fluxo concatenado com um condutor desde o seu centro até um ponto externo P.

Calculemos o fluxo total concatenado em duas etapas:

O fluxo interno, como vimos, é dado por:

</J· =µ]
/ 8Jr .

Observamos que colocando o ponto 1 na superficie do condutor, a uma dis-


tância D 1 = r do centro, e o ponto 2 coincidente com P, a uma distância D2 = D do
centro, o fluxo externo, empregando a expressão ( 1.13 ), é dado por:

Somando as duas parcelas, interna e externa:

Usando o artificio de escrever:

1 1 l/4
-=-lne = lne
4 4 '

ficamos com a expressão:


Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 29

ou:

ou ainda:
µI D
(j) = -ln -t/4 .
2rc re

Chamando r' = re- 114 de raio corrigido, escrevemos a expressão modificada


para o fluxo concatenado:

( 1.16)

correspondente ao fluxo concatenado desde o seu centro até um ponto externo P.


Podemos calcular a indutância, incluindo todo o fluxo do condutor, do seu
centro até um ponto P externo, correspondente à energia magnética armazenada
nessa região do espaço. Tomando a expressão anterior, escrevemos:
µ D
L=-ln-, '
2TC r

L = 2xl0-7 In ~ H/m. ( 1.17)


r

1.3.7 Indutância de uma Linha a Dois Fios com Condutores Cilíndricos

r1

B

®
4?f!
B

b r, +
-
I

E carga
la= I /6 =/

S = Dxl -
I

Figura 1.23: Linha monofásica a dois fios.


30 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Consideremos os dois fios a e b da figura 1.23 compostos por condutores ci-


líndricos, com raios externos 'i e r2 , respectivamente.
Observamos que no plano transversal que corta o circuito, se convencionar-
mos como positivas as correntes que entram no plano, teremos 1ª =1 e 1h = -1,
portanto com uma soma de correntes nula penetrando no plano transversal.
Vejamos como calcular o fluxo total concatenado com o circuito formado pe-
los dois condutores espaçados por uma distância D. A área, associada a um com-
primento unitário dos fios, é dada por D x 1 .

e= 1

-
,
la B r1
a
a
X X X X X X

s z D

X X X X X X

.__ b
b ,
lb B r2

/ 0 +/b=O

Figura 1.24: Fluxo concatenado com dois condutores.

A contribuição do fluxo, dada pelo condutor a, utilizando a expressão (1.17) é:

A contribuição do condutor b é dada por:

Observamos que <Pa tem sentido horário e <Pb sentido anti-horário, de modo
que podemos somá-los na superfície apoiada entre as duas espiras, assim como as
indutâncias, obtendo a indutância total do circuito:
F Ca ítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 31

1:
1-:,,

Lembremos que essa expressão é válida para corrente contínua e condutor ci-
líndrico com seção circular de raio r, exercendo r' o papel de um raio equivalente.
Elaborando a expressão um pouco mais, obtemos:

L =4xl0-7 ln D . ( 1. 18)

2,
e no caso particular de condutores iguais, quando r' = r( = r

L = 4xl0---:7 In ~ H/m.
r

Observamos que o número quatro aparece apenas nas expressões de linhas a


dois fios, quando somamos as indutâncias individuais de cada fio.

1.3.8 Fluxo Concatenado com um Condutor por um Grupo de Condutores

Desenvolveremos, a seguir, um conceito fundamental no .cálculo de indutân-


cias, quando estão presentes vários condutores, retilíneos e paralelos, percorridos
por diferentes correntes. Precisamos então tratar o fluxo concatenado com um
condutor devido a um grupo de condutores convencionando como positivas as
correntes que penetram no corte transversal do circuito e supondo que a soma das
correntes nos condutores seja nula, o que de certa forma nos conduz novamente à
idéia de circuito elétrico, ou seja, que deve haver um retomo de corrente por parte
de alguns condutores.
Sejam n condutores separados espacialmente por distâncias Du , percorridos
por correntes I;, I ~ i ~ n , de tal modo que:

Assumindo um ponto P distante do grupo de condutores, calculemos inicial-


mente a parcela de fluxo concatenado com o condutor 1 utilizando a fórmula geral
do fluxo concatenado entre os pontos 1 e 2 genéricos no espaço.
Faremos o ponto P coincidir com o ponto 2 e o ponto l estará situado na su-
perficie do condutor 1. Incluindo o fluxo interno e utilizando o conceito de raio
corrigido, obtemos, utilizando a equação ( 1.16):
32 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

D
111 <1)
'f'l p
= 2 x 10-7 / 1 ln _!__e_
, ·
r1
B

2 p

Figura 1.25: Fluxo concatenado com um condutor por um grupo de condutores.

Empregando a equação (1.13), a parcela de fluxo concatenado com o condu-


tor 1, devida ao condutor 2 é:

D
111 <2 )
'f'lp
= 2 X 10-7 / 2 ln--2e._
D
12

Supomos ainda que o fluxo entre os pontos 1 e P, devido ao condutor 2, não altera
as linhas de fluxo já existentes do condutor 1. Estendendo esse resultado aos demais
condutores, fazemos a superposição dos fluxos, escrevendo genericamente:

que pode ser desmembrada na seguinte expressão:

Utilizando a restrição imposta de soma de correntes nula, escrevemos:


Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 33

que, substituída na equação anterior, fornece:

ou ainda:

Deslocando o ponto P a uma distância muito grande do condutor 1, tendendo ao


infinito, os quocientes D;p / Dnp tendem ao valor unitário e conseqüentemente os
limites:

são nulos, resultando em uma expressão mais simplificada do fluxo concatenado


com o condutor 1:

( 1.19)

A expressão ( 1.19) apresenta um resultado interessante, que será a base de


nossas avaliações de fluxos concatenados com condutores, na presença de outros,
percorridos por correntes submetidas à restrição de apresentarem uma soma nula.
Voltemos ao caso simplificado da linha a dois fios, com o intuito de avaliar
essa expressão, aplicando agora o conceito de fluxo concatenado com um condutor
por um grupo de condutores.
Para a fase a, escrevemos:

como Ih =-/ª, convencionando como positiva a corrente !ª que penetra no plano


transversal aos condutores.
34 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

resultando em:

Desse modo, associamos uma indutância ao condutor a, dada por:

e analogamente para o condutor b,

e desse modo obtemos a indutância total da linha a dois fios:

( 1.20)

Verificamos assim a equivalência dos procedimentos, ao compararmos as e-


quações (1.18) e (1.20). No cálculo de indutâncias de linhas de transmissão, com
vários condutores dispostos espacialmente, usaremos o conceito de fluxo concate-
nado com um condutor, por um grupo de condutores, que facilita o cálculo.

1.3.9 Linha Bifásica com Condutores Compostos ou em Feixe

Veremos a seguir como tratar o caso de uma linha bifásica, na qual cada fase
é composta por um conjunto de subcondutores, o que introduz algumas vantagens
na transmissão de energia elétrica. Uma primeira vantagem é aumentar a capacidade
de corrente de cada fase da linha de transmissão, pois cada condutor tem um limite
máximo de corrente admissível. Uma segunda vantagem, igualmente importante, é
diminuir a indutância equivalente de cada fase, conforme veremos· a seguir. Esse
conjunto de subcondutores é chamado de feixe, também conhecido como bundle, na
sua denominação original em inglês.
Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 35

Figura 1.26: Disposição espacial dos subcondutores.

• Cálculo da indutância da fase a, la


Tomemos o caso com n subcondutores na fase a em subcondutores na fase b,
conforme a figura a seguir.

fase a fase b
+I -!
!ln

-
I a

1/n
carga
1/m

-I b fim n sub-condutores m sub-condutores

Figura 1.27: Linha bifásica com n subcondutores na fase a em subcondutores na fase b.

O cálculo será desenvolvido em quatro etapas:


1ª etapa: Cálculo do fluxo concatenado r/)1 com o subcondutor 1 da fase a.
2ª etapa: Cálculo da indutância desse subcondutor, percorrido por uma corrente / 1 •

3ª etapa: Cálculo da indutância média dos subcondutores de uma mesma fase, es-
tendendo o resultado aos demais subcondutores.

[ = Li + L? + ... +Ln
n
36 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

4ª etapa: Cálculo da indutância equivalente dos n subcondutores em paralelo.

Calculamos inicialmente o fluxo concatenado com o subcondutor 1, devido à


contribuição do conjunto correspondente à fase a.
Faremos ainda uma hipótese adicional, admitindo também que os subcondu-
tores são aproximadamente iguais e que as correntes se distribuem igualmente por
todos os subcondutores. Desse modo:

Nesse caso, calculemos o fluxo concatenado com o condutor 1, devido ao conjunto


a, lembrando que nessa parcela contribuem apenas os subcondutores dessa fase:

<jJ10 1 1 ... + l n
=2X10 -7 -I ( ln---;+ln-+ 1 -).
n r1 D12 Din

Em seguida, obtemos o fluxo concatenado com o condutor 1 da fase a, devido ao


conjunto b, considerando a parcela do fluxo correspondente aos condutores da outra
fase, assumindo as mesmas hipóteses de subdivisão de correntes entre condutores
da fase b.

</)16 =-2xl0 -7 -I ( l n 1- + l n -
1 + .. . +ln--
1 ),
m D11' D12' Dim'

resultando no fluxo concatenado total com o condutor 1, colocado na fonna


compacta:

( 1.21)

No numerador, encontramos a média geométrica das distâncias do subcondutor 1,


da fase a, a todos os subcondutores da fase b. No denominador encontramos a mé-
dia geométrica do raio corrigido do subcondutor a com as distâncias a todos os sub-
condutores da própria fase a. Para o condutor 2, escrevemos analogamente:

</J? = 2xl0-7 !ln ~D2rD22'···D2m'


- ~D21r2. ... D2n
Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 37

Estendendo esse resultado aos demais subcondutores, obtemos as indutâncias


individuais de cada um, fazendo a divisão do fluxo pela parcela de corrente I / n :

L1 =_fl_=2xl0-7 nln ~Dl l'···Dlm',


I /n ~r(D12 ... D,n

Calculando a indutância média[ dos subcondutores da fase a (conjunto a),


fazendo a soma das expressões logarítmicas:

L = L1 +L2 + ... Ln
n

Como os n subcondutores estão ligados em paralelo, a indutância do conjunto a é


dada por:

La = 2 x l 0-1 _!_ ln m ( D11'D1t · · · Dim') (D2rD22, · · · D2m' ). · · ( Dnl'Dn2' ... Dn111') '

n ~(ri'D12 ••. Dln )( D21r2 · · · D2n) (Dnl · · .r;)

que pode ser recalculada da seguinte forma:

La= 2x 1o-7 ln nm (D1 rD1t ... D1,,.,') ( D2rD22' ... D2m') .. . ( Dn1'Dnt ... Dnm') . ( 1.22)
n✓(11'D1 2 · · · D1n )( D21r; · · ,D211) ( Dn1 · · .r;)
Introduzimos então o conceito de distância média geométrica mútua, entre os con-
juntos de subcondutores das fases a e' b. Observe que os conjuntos a e b não têm
correntes em fase, sendo que nesse caso particular, na realidade, as correntes estão
em oposição de fases.

DMG = n~(Di 1'D1t ... Dtm' )(D2rD22, ... D2m' ) ... ( Dn1'Dn2' ... Dnm'). ( 1.23)

Da mesma forma, apresentamos o conceito de raio equivalente do conjunto


de subcondutores a ou distância média geométrica própria do conjunto a. Lembra-
38 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

mos que todos os subcondutores do conjunto a apresentam a mesma parcela de


corrente em módulo e sinal I / n , subdividida igualmente por todos os subconduto-
res. Em corrente alternada admitimos uma hipótese semelhante, supondo as corren-
tes com o mesmo módulo e fase em todos os subcondutores.
Para evitar confusão de nomenclatura~ passaremos a chamar a distância mé-
dia geométrica própria de raio equivalente do conjunto de subcondutores (ou bun-
dle) de uma fase. A letra z tem a finalidade de especificar o cálculo voltado para
impedâncias ou reatâncias indutivas da linha de transmissão que, como veremos,
será um pouco diferente do cálculo de capacitâncias. Definimos o raio equivalente
da fase a:

( 1.24)

Finalmente, escrevemos a expressão da indutância da fase a na sua forma


compacta:

• Cálculo da indutância da fase b e total

Analogamente, obtemos a indutância do conjunto b:

Lb = 2 x 10-7 ln D MG ,
req=b

resultando para a indutância total da linha bifásica:

?
-7DMG-
L = La + Lb = 2 x 1O ln - - -

Colocando essa expressão na forma usual, obtemos:

( 1.25) ,.

Se as fases possuírem características idênticas, teremos req=a = req=b = req=, resultan-


do em uma expressão análoga à obtida anteriormente para a linha bifásica a dois fios.
Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 39

a b

t a
D r b
linha bifásica a dois fios

linha bifásica com feixe de


subcondutores

DMG

Figura 1.28: Cálculo da indutância.

Linha com a fase constituída por condutor cilíndrico:

Linha com um feixe de subcondutores em cada fase :

na qual reqzª é o raio equivalente da fase a.


Em vez de continuarmos usando o raio corrigido do condutor sólido r', váli-
do para corrente contínua, passaremos a utilizar o raio médio geométrico, rmg, váli-
do para cabos encordoados e corrente alternada, que leva em conta a média geomé-
trica das distâncias entre os fios que compõem um cabo encordoado, de forma se-
melhante ao conceito anterior de média geométrica própria dos subcondutores de
uma fase, além de levar em conta a disposição dos condutores em tomo do suporte
mecânico no caso de cabos CAA (ACSR). Em geral, não fazemos o cálculo do raio
médio geométrico, sendo o mesmo obtido de tabelas de condutores, assim como as
demais características elétricas ou mecânicas do cabo, fornecidas pelos fabricantes.
40 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Como exemplo, a linha com a fase constituída por um cabo encordoado apre-
sentaria a indutância:

• Resumo da nomenclatura para distâncias médias geométricas próprias

Faremos aqui um breve resumo da nomenclatura adotada para os subconduto-


res de uma fase.
a) Condutor sólido e o seu raio corrigido r', que é um conceito mais teórico, com a
finalidade de incluir o fluxo interno do condutor em corrente contínua.

r'

Figura 1.29: Condutor cilíndrico.

b) Cabo encordoado, para o qual usaremos uma extensão do conceito de distância


média geométrica própria, expressa pelo raio médio geométrico rmg. No caso práti-
co de feixes de cabos encordoados e corrente alternada, trocamos r' pelo raio mé-
dio geométrico rmg e as expressões se mantêm.

1 rmg

Figura 1.30: Cabo condutor encordoado.

c) Feixe de subcondutores cilíndricos e o seu raio equivalente:

req = n✓(r(D12 · · · Dtn )( D21r2. · · · D2n ) ... ( Dnt · · · Dnn-lr;)

Figura 1.31: Feixe de condutores cilíndricos.


Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 41

d) Cabos encordoados em feixe. A expressão a seguir é utilizada em casos práticos


em corrente alternada.

Figura 1.32: Feixe com n cabos encordoados.

Na realidade, os programas existentes de cálculo de parâmetros não utilizam


o conceito do raio médio geométrico, tratando os cabos encordoados como conduto-
res tubulares, utilizando fórmulas relativamente complexas para correções de con-
centrações de correntes em função da freqüência.
Nessa etapa do nosso curso, introdutória ao cálculo de parâmetros, continua-
remos utilizando o conceito de raio médio geométrico, que é suficientemente preci-
so para os nossos propósitos. Assim, substituímos o bundle percorrido pela corrente
1 por um condutor equivalente, dado pela distância média geométrica própria do
bundle, ou raio equivalente, o que facilita muito os cálculos.
Os casos práticos de cabos em feixe apresentam sempre subcondutores iguais
espaçados uniformemente, circunscritos em um círculo. A simetria dessas configu-
rações permite um cálculo mais simples, como veremos a seguir, nos casos mais
comuns de 2, 3 e 4 subcondutores em um mesmo feixe.
a) Caso de dois subcondutores:

,,, ... ----- ........ '


/
/
/
' \ e=2R
I \
I \

Q • R ~
\ I
\ I
\ I
' I
',.... ....✓/

Figura 1.33: Disposição espacial de dois subcondutores em feixe.

e: espaçamento entre subcondutores.


42 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

A distância média geométrica própria Ds, segundo a referência [2] ou raio


equivalente, reqz, é dada por:

( 1.26)

Para a resistência equivalente do feixe, adotamos:

R
eq
= Rac
2 ,

sendo Rac a resistência em corrente alternada para cada condutor, em uma dada
temperatura.
b) Caso de três subcondutores:

,, ,,
,,
/

I
,' e
''1
1

Figura 1.34: Disposição espacial de três subcondutores em feixe.

reqz = Ds = ~(rmg ·e· e)3 = ~ rmg •e 2 . ( 1.27)

Para a resistência equivalente:

R
eq
= Rac
3

c) Caso de quatro subcondutores:

------
,, ,,
/ e
\
I \
I \
I 1
I 1
I 1

' 1

'1' e
1
e 1
1 I
1 I
1 I
1 I
\ I
\ ,I
,,
''' e ,, ,,
------
Figura 1.35: Disposição espacial de quatro subcondutores, em feixe.
Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 43

( 1.28)

Par.a a resistência equivalente:

Req = Rac .
4

O raio equivalente também pode ser calculado, genericamente, pela expressão


a seguir, conhecido o número de subcondutores e o raio do círculo circunscrito R:

1
reqz =nRn-1 rmg.

Lembramos ainda que, na nomenclatura da referência [2], temos:

A distância DMG também é conhecida por distância equivalente, ou Deq.

1.3.10 Reatância Indutiva da Linha com Utilização de Tabelas

Apesar do menor uso de tabelas atualmente, vejamos como utilizar os valores


de reatâncias indutivas X; constantes destas tabelas [2,3] que se referem sempre a
um condutor por fase, nesse caso Ds = rmg e Dm = DMG, e apresentam normal-
mente valores em unidades inglesas.
Dada a reatância distribuída de um condutor, em .O/km, sabemos que:
X;= 2;rjL (2;r/ = m),

X;= 2;r/2x10-7 ln DMG = 4;r/10-7 ln DMG .0/m .


rmg rmg

Passando a unidade de comprimento para milhas:

X; (.O/mi)= X; (.O/km) x 1,609 ·.

Observamos que na referência [2] as expressões usam log (logaritmo na base


1O) em vez de ln (logaritmo na base e):

X;= 2, 022x 10-3 f ln DMG .O/mi.


rmg

Separando em duas parcelas:


44 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

X a é definida como a reatância do condutor para espaçamento de 1 pé:

Xª =2,022xl0-3 /ln-1- .
rmg

Observamos que, dispondo da reatância Xª, obtemos o raio médio geométri-


co em pés, ou seja, essa é uma maneira indireta de fornecer o raio médio geométrico
do condutor.
X d é o fator de espaçamento, também em pés:

Xd =2,022xl0-3 flnDMG .

EXEMPLO 1
Calcular a reatância da fase a de uma linha bifásica com cabo Grosbeak, com
a geometria indicada abaixo:

a b

Gl 25 pés

Figura 1.36: Disposição espacial de dois condutores com cabo Grosbeak.

Dm =DMG=25 pés.

Consultando uma tabela de cabos, obtemos:


Grosbeak 636 MCM; 26(Al)/7(aço),

D.1. = rmg = O, 0335 pés,


Xª = O, 412 O/mi para 1 pé de afastamento.

Sabemos também que a reatância de uma fase é dada por:

Xi= 2,022x 10-3 f ln DMG,


rmg

Xª= 0,412 O/mi,


Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 45

Xd = 0,391 Q/mi,
xi= 0,803 Q/mi.

No caso de linha bifásica a dois fios, multiplicamos o resultado por 2:


Xi= 2x0,803 =1,606 Q/mi.

1.3.11 Indutância de Linhas Trifásicas com Espaçamento Equilátero

Vejamos o cálculo da indutância de uma fase, em um sistema trifásico. Em


corrente alternada, no caso de um condutor, utilizamos o rmg e no caso de cabos em
feixe utilizamos o req=, substituindo os subcondutores de uma fase pelo condutor
com raio equivalente, concêntrico com o círculo que circunscreve o feixe.

a
la
reqz

D D
/e lb
reqz D reqz
e b

Figura 1.37: Linha trifásica com espaçamento equilátero D.

Novamente, admitiremos que a soma das correntes trifásicas é nula, conforme


as hipóteses adotadas para o cálculo do fluxo concatenado com um condutor por um
grupo de condutores. Esse artificio nos permitirá introduzir uma simplificação signifi-
cativa, com boa aproximação, no cálculo da distância média geométrica mútua (DMG).

Essa restrição corresponde a assumir que não temos corrente de seqüência ze-
ro na linha, ou seja, que os resultados serão razoáveis apenas para a seqüência posi-
tiva. Supondo as três fases idênticas, calculamos o fluxo concatenado com a fase a
aplicando a equação (1.19), trocando r' por reqz , obtemos:

<Pa 1 Ih ln-+
= 2x10 -7 ( la ln-+ 1 J.
1 lc ln-
r eq:::: D D

Sabendo que:
46 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

resultando em:

(j)0 =2X10-7 10 (ln-1--ln-


1 ),
reqz D

ou:

Obtemos a indutância da fase a:

L0 = 2xl0-7 ln!!__ H/m ( 1.29)


reqz

Figura 1.38: Sistema trifásico equilibrado.

Observamos que, nessa estrutura particular, o valor de DMG coincide com o


espaçamento entre fases D, pois:

DMG =ifn3 =D.


Verificamos também que a indutância (ou reatância) de uma fase relaciona ten-
sões e correntes que compõem um sistema trifásico simétrico e equilibrado e, portan-
to, as tensões e correntes de uma fase estão referidas a uma tensão de neutro nula.

EXEMPLO 2
Dada uma linha com espaçamento equilátero, com D = 25 pés e um cabo
Grosbeak por fase, calculamos a reatância de uma fase aplicando (1.29):
Consultando uma tabela sabemos que: rmg =0,0335 pés:
Capítulo !. Introdução aos Parâmetros de Linhas 47

25
X= wL =wx2x10-4 ln - - = 0,499 .Q/km,
0,0335

que corresponde a O, 803 .Q/mi, conforme o exemplo anterior. Observamos que


DMG e reqz devem estar na mesma unidade.

1.3.12 Linhas Trifásicas com Espaçamento Assimétrico

No caso de linhas trifásicas com espaçamento assimétrico, o cálculo da indutân-


cia de uma fase com as expressões anteriores só é possível em linhas com transposição.
Calculamos o fluxo médio, concatenado com o condutor da fase a (ou bundle),
supondo as fases a, b e e com a mesma composição de subcondutores. Introduzimos
a idéia de transposição dos condutores, tomando o fluxo médio concatenado nos
três trechos da linha de transmissão. Observamos que cada condutor ocupa, em cada
trecho, uma das três possíveis posições distintas, resultando em um fluxo médio
para cada condutor ao longo da linha de transmissão.
Desse modo, subdividimos a linha em três trechos I, II e III, com uma rotação
das posições ocupadas por cada condutor, conforme a figura a seguir.

trechos
I II III
1 a e b

b a e
b
e b a
e 3
e/3 e/ 3 C/ 3
Corte transversal dos
condutores no trecho I e

Posicão aérea dos


condutores
Figura 1.39: Linha trifásica com espaçamento assimétrico.

Consideremos uma linha com feixes de mesma característica reir::ª = req:h =


req=c= req: e assumiremos que os condutores sofrerão uma rotação no sentido anti-
horário. Os fluxos médios em cada fase serão obtidos pela média dos fluxos conca-
tenados em cada trecho da linha.
48 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

,1,
Ya
= r/Ja1 + r/Ja11 + r/Jam ,
3

/4
Yc
= r/Jc1 + <Pcl! + <Pcm
3

Obtemos o fluxo concatenado com a fase a no trecho I:

a 1

e 3
Figura 1.40: Trecho 1.

Para o trecho II:

b 3
Figura 1.41: Trecho II.

1 Jb ln-+
<Pai!= 2x10 -7 ( la ln-+ 1 lc l n1- . J
req: D23 D12
Capítulo !. Introdução aos Parâmetros de Linhas 49

E também para o trecho III:

a 3

Figura 1.42: Trecho III.

O fluxo médio concatenado, com o condutor da fase a, é dado pela média


aritmética:

Como Ib +!e= -/0 , escrevemos:

</>a= 2x10-7 Ia ln D12D2;D13 =2x10-7 Ia ln '1D12D23D13


3 req= reqz

Resultando na indutância da fase a:

~D D D
la=2x!0-7ln 12 23 13 H/m,
req=

La= 2xl0-7 ln DMG, ( 1.30)


req=

na qual a distância média geométrica mútua DMG é dada por:


50 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

1.4 Capacitância de Linhas de Transmissão

1.4.1 Generalidades

Neste item apresentaremos o cálculo de capacitâncias de linhas de transmis-


são, ainda sem levar em conta o efeito do solo.
Ao energizarmos condutores aéreos por meio de um gerador, mesmo sem
alimentar nenhuma carga, observaremos uma corrente capacitiva fornecida pelo
gerador. Tal efeito é semelhante ao de energizarmos um capacitor com duas placas
em paralelo, conforme o caso da linha bifásica da figura 1.43.

Figura 1.43: Linha bifásica com dois fios .

Aplicando-se uma tensão alternada, a cada semiciclo as polaridades se alternam.

+ + + + + + + + + + + +

v(t)
h 1
1
\ I
I
I ..

' /

v(t) /
~- '
I \
I \
1

+ + + + + + + + + + + +
Figura 1.44: Semiciclo positivo e semiciclo negativo.
Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 51

Ao associarmos uma capacitância C = Q / V aos condutores, obtemos uma


relação entre tensão e corrente, dada pela admitância (susceptância) capacitiva da
linha, sendo válida a equação em valores fasoriais:
l=jmCV.

1.4.2 Condutor Isolado

Suponhamos um condutor cilíndrico isolado no espaço, carregado com uma


densidade de carga Q por unidade de comprimento.

,..,.--- ....
,,. ''
,,. ,,. ,,. \
,,.,,. \
,,.,,. 1
,,.,,. 1
,,.,,. 1
,,. ,,. ,I

~
1 ..
\
\

' ',

/
l E,D

Figura 1.45: Campo elétrico de um condutor isolado.

R: raio do condutor.
r: raio da superfície cilíndrica, r > R.
A carga do condutor é obtida por meio do cálculo do fluxo do vetor desloca-
mento D, em uma superfície cilíndrica externa ao condutor, com raio r e compri-
mento unitário, o que corresponde à aplicação da Lei de Gauss:

ft>crs = Q. ( 1.31)

Sabemos que o vetor deslocamento D (densidade de fluxo) e o campo elétrico E


estão relacionados pela relação constitutiva:
-
D=eE,
- ( 1.32)

na qual E é a permissividade do dielétrico.


52 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Como as linhas do campo elétrico são radiais e portanto normais à superfície


cilíndrica que envolve o condutor, a densidade de fluxo é constante nessa superfí-
cie, simplificando o cálculo:

êE fds=Q. (1 .33)

A área de uma superfície cilíndrica com raio r e comprimento unitário é dada por:

J
S = ds = 2rcr (1.34)

Obtemos então o campo elétrico em uma linha radial, a uma distância r do


seu centro:

E=___JJ__. (1.35)
2TCêr

Observamos que, como não temos cargas internas no condutor, o cálculo do


campo elétrico só tem interesse a uma distância r do centro, tal que r ~ R . Desse
modo, considerando a distribuição de cargas na superfície do condutor, diferentemen-
te do cálculo de indutâncias, não há necessidade de considerarmos efeitos internos
como as correções do raio efetivo. Sendo assim, o raio do condutor, a ser utilizado nos
cálculos, será sempre o seu raio externo. Em contrapartida, para o cálculo do campo
externo, em vez de considerarmos a carga distribuída na superfície do condutor, resul-
ta em boa aproximação considerá-la concentrada no centro desse condutor.

1.4.3 Diferença de Potencial entre Dois Pontos no Espaço

Figura 1.46: Condutor e dois pontos do espaço.


Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 53

De posse da expressão do campo elétrico, calculamos a diferença de potencial


entre dois pontos quaisquer do espaço, 1 e 2, onde D 1 e D 2 são as distâncias entre o
centro do. condutor e os pontos 1 e 2 no espaço, que estão localizados em superfí-
cies concêntricas e equipotenciais.
Como a diferença de potencial entre os pontos 2 e 2' é nula, pois a superfície
cilíndrica é equipotencial, faremos o cálculo em uma linha radial que passa pelos
pontos 1 e 2'. Observamos que estamos utilizando o símbolo D para as distâncias,
que não deve ser confundido com o vetor deslocamento f5. Esta expressão será
fundamental para o cálculo de capacitâncias de linhas de transmissão, a ser utilizada
nos itens a seguir.

( 1.36)

1.4.4 Capacitância de uma Linha Bifásica

• Linha bifásica
De posse da expressão fundamental da diferença de potencial entre dois pon-
tos no espaço, externos ao condutor, podemos dar início ao cálculo de capacitâncias
de linhas de transmissão, começando pela linha bifásica.

''
Equipotencial que ''
'\
intercepta o condutor 2 \
----------..... \\\

1
1
2 \\
\
.,.J r2

(0º2
-i
,'I
,' 1
,' 1
D
I
I
I
I
I
I

,. ,.
I

.,,..,,.,,✓

Figura 1.47: Linha monofásica a dois fios.

A hipótese básica de cálculo utilizada é que a soma das cargas dos conduto-
res é nula.
54 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Q1 = Q , Q2 = -Q ·
Ou seja, admitiremos, por hipótese, que a soma das cargas é nula, mesmo no caso
de n condutores no espaço:

(1.37)

Calculemos inicialmente a diferença de potencial entre os condutores 1 e 2


devida apenas à carga do condutor 1.
O cálculo da diferença de potencial entre os dois condutores é feito entre o
ponto 1, localizado na superficie do condutor 1, e um ponto 2 no espaço, localizado
em uma linha equipotencial que intercepta o condutor 2 e passa pelo seu centro.
Embora o condutor 1 não tenha carga no seu interior, para efeito de cálculo assumi-
remos uma carga filiforme, localizada no seu centro. Como a distância D entre os
eixos é bem maior do que o raio dos condutores, D » r1 e D » r2 , assumiremos
que esta aproximação no cálculo do campo elétrico, nas proximidades da superficie
do condutor, não introduz uma variação significativa no cálculo da diferença de
potencial entre os pontos 1 e 2.
Com relação à fórmula (1.36), D 2 corresponde a D e D 1 corresponde a 'í .

A diferença de potencial devida à carga do condutor 2 é obtida com a mesma


expressão, considerando-se esta carga também como filiforme e localizada no cen-
tro do condutor.
Na aplicação da fórmula básica, isso corresponde a fazer D2 = r2 , pois o pon-
to 2 está localizado na superficie do condutor 2, e D 1 = D .

Superpondo o efeito dos dois condutores na diferença de potencial, encontramos:

17(1)+(2) -__
r,2 l_(QI
21rE r1 D
J
nD- - QI nr2- ,
Capitulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 55

ou:

(1.38)

que pode ser representada como:

No caso particular de maior interesse, quando r 1 = r 2 =r , obtemos:

( 1.39)

Desse modo, a capacitância entre os condutores 1 e 2 é dada por:

e12 -- 1CE FI m. (1 .40)


ln(DI r)

Nota: r será sempre o raio externo, mesmo no caso de cabos encordoados.


Normalmente, estamos interessados em uma capacitância fase-neutro e usa-
remos o artificio de considerar a capacitância entre os condutores l e 2 como a
composição série de duas capacitâncias iguais dos condutores para o neutro.
Observamos que na figura abaixo o ponto n é considerado no potencial zero.

+Q

2 -Q

Figura 1.48: Capacitância fase-neutro.


56 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Capacitância fase-neutro da linha bifásica:

2Jré
Cfn =C111 =C211 =2C12 =n· ( 1.41)
ln-
r

Ao alimentarmos uma linha bifásica com dois condutores, mesmo sem carga,
encontramos uma corrente capacitiva, dada por:

Figura 1.49: Energização da linha.

Essa corrente capacitiva ocorre em todas as linhas de transmissão, quando a-


plicamos tensão nos terminais da linha em vazio, sendo essa operação conhecida na
prática como energização da linha.
A admitância da linha, ou mais corretamente a susceptância, pois despreza-
mos a condutância, é dada pela expressão:

Aumentando o comprimento da linha JJ, , aumentamos a capacitância total e


conseqüentemente a admitância Yc, que são proporcionais ao comprimento da linha
e desse modo aumentamos também a corrente. Esta também aumenta se elevarmos
a tensão de alimentação.
Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 57

Podemos definir uma reatância capacitiva para a linha:

A reatância capacitiva é inversamente proporcional ao comprimento.


As tabelas contendo características elétricas de condutores podem apresentar
informações das reatâncias capacitivas fase-neutro . Vejamos como utilizá-las:

• Reatância por fase (fase-neutro)


Consideremos a permissividade do ar como igual à do vácuo:

t:0 =8,85xl0- 12 Fim .

Obtemos a expressão da reatância capacitiva fazendo:

X __ l__ 1 1 2,862xl0 9 1nD


e - mCfn - 2nfCJn f r'
2nf( 2Jrt: )
lnD/r

9 6
X = 2,862x10 ln D .Qm X _ l,779xl0 l D .Q .
e f r ou e - f n-;- m1.

Que pode ser desmembrada em:

X~ : Reatância capacitiva para afastamento de I pé, com o raio r dado em pés


(1 pé= 12 polegadas).
X~ : fator de afastamento (ou espaçamento) da reatância capacitiva em pés.

EXEMPL03
Vejamos o caso do cabo Grosbeak, com diâmetro externo Dext = 0,99" (lem-
bramos novamente que para o cálculo de capacitâncias usamos o raio externo, e não
o rmg do condutor). Consideramos nesse caso um afastamento D = 20 pés.
Da tabela, para o cabo Grosbeak, obtemos a reatância para espaçamento
de 1 pé:

X~ = O, 0946 M.Qmi .
58 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Calculamos o fator de espaçamento:

Xd' = l, 779 ln 20 = O 0888 MDmi .


60 '

Resultando em uma reatância de 183 .420 Dmi .


Obtemos o raio externo em pés, para trabalhar com a mesma unidade do es-
paçamento entre fases.

dext 0,99 ,
r =- ' =--=O 04125 pes.
2 2x12 '

E podemos aplicar a fórmula da reatância para uma fase:


6
X.= l, 779 x10 ln 20 = 183350 Dmi
l 60 0,04125 '

que praticamente coincide com o resultado anterior.


Para uma linha de 100 milhas, obteríamos a reatância total fase-neutro:

183350
xc,ota/ = - - - = 1833,5 D.
100

Neste ponto, é conveniente efetuar o mesmo cálculo, a partir da admitância


de uma fase para o neutro, utilizando a expressão (1.41):

C _ 2Jrê _2Jr8,85x10- 12
fn - D - 20 Fim,
ln- ln---
r 0,04125

C fn = 8,992 nF/km .

Nota: Conforme veremos no capítulo 2, podemos trabalhar com o inverso da capa-


citância:

1 D
Prn = - = l 7,98ln- km/µF.
. cfn r

Calculamos a admitância da linha:

Yc = 2Jr60x8,992x10-9 S/km,

Yc=3,39xl0-6 S/km.
Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 59

Para um comprimento de 100 mi, correspondente a 160,9 km, obtemos a ad-


mitância total da linha:
. -4
Yctotal = 5, 45 X 1O S,

que corresponde a uma reatância de:

1
Xctotal =y ,
ctotal

Xctotal =1833,3 n (reatância de uma fase para o neutro).

Verificada a equivalência dos dois procedimentos, comentamos que o cálculo


da capacitância tomou-se tão rotineiro, que não há necessidade de extrairmos os
valores de reatâncias das tabelas.
Podemos calcular a corrente capacitiva da linha monofásica a dois fios:

Para uma tensão entre condutores de 200 k V:

I = 200.000 = 54 5 A.
2x1833 '

1.4.5 Linha Trifásica com Espaçamento Equilátero

Vejamos como obter a capacitância fase-neutro de uma linha trifásica com


espaçamento equilátero.

D D

D
e b

Figura 1.50: Linha trifásica com espaçamento equilátero.


60 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Adotaremos a restrição de que a soma das cargas nas três fases é nula, ou se-
Ja, nesse desenvolvimento admitiremos apenas seqüência positiva para cargas e
tensões.

Em um caso genérico com n condutores, generalizaremos esta condição, para:

Admitiremos ainda que os condutores são iguais, com o mesmo raio externo.

Para obter a capacitância fase-neutro, necessitamos calcular inicialmente as


diferenças de potenciais fase-fase, lembrando que a diferença de potencial entre
dois pontos, I e 2, no espaço é dada pela equação básica (1.36),

Nesse caso, calculando as diferenças de potenciais entre fases, V06 e Vhc, super-
pondo a contribuição de todos os condutores, obtemos para V06 , posicionando o
ponto 1 na superfície do condutor da fase a e o ponto 2 na fase b:

vab I(
= -2~ ºª ln -D + Qb ln -r +
r D ºe DJ
ln -
D .
Observamos que o cálculo da diferença de potencial entre os condutores a e
b, com relação às cargas Q0 e Q6 , é similar ao realizado para a linha bifásica. A
contribuição da carga Qc é nula, pois estes condutores estão situados em uma super-
fície equipotencial em relação a esta carga.
Analogamente, a diferença de potencial V0 c é dada por:

Vac = - I ( Q0 ln -D + Q6 ln -D + Qc ln - . rJ
2~ r D D
Somando as diferenças de potencial:

Pela hipótese anteriormente adotada, sabemos que:


Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 61

então:

resultando na expressão:

Figura 1.51: Tensões de fase e de linha.

Porém, sabemos que em um sistema trifásico simétrico e equilibrado, conforme a


figura 1.51, podemos escrever as relações:

IVab 1= ✓3Jvan 1,

✓3
Jvab + voei = - 2 1vabl'
2

JVab + ~,cl = ✓3JVabl = 3JVanl ·


Como a soma vetorial Vah + Vac é um número real,

3van = 3Qª 1n D .
27rE r

Finalmente, obtemos a capacitância fase-neutro, que apresenta uma expressão idên-


tica à obtida para a capacitância fase-neutro da linha monofásica a dois fios ( 1.41 ):

ean = Van = 2rrê FI ( 1.42)


ºª D
ln-
m.
62 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

1.4.6 Linha Trifásica com Espaçamento Assimétrico

Para obtermos a capacitância fase-neutro, no caso de uma linha com espaça-


mento assimétrico, é necessário que a linha seja transposta.
A fim de explicitar o cálculo, adotaremos um procedimento semelhante ao
adotado para o cálculo de indutâncias no item 1.2.1 O, e também ao caso anterior de
espaçamento equilátero, calculando a tensão entre fases Vah nos três trechos de
transposição 1, II, III, com os condutores ocupando as possíveis posições espaciais.

trechos
I II III
a e b

b a e
c b a
e 3
f/3 .e/3 f.13
Corte transversal dos
condutores no trecho I e

Posicão aérea dos


condutores

Figura 1.52: Transposição da linha.

Novamente, lembrando da expressão para diferença de potencial entre dois


pontos,

aplicamos a fórmula para os trechos 1, II e III.


Para o trecho I:
Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de linhas 63

a 1

e 3
Figura 1.53: Trecho I.

Para o trecho II:

v;t!) =-I-(Qa ln
27rE
D23
r
+ Qb ln-r-+ Qc ln
D 23
D13
D12
J.
e 1

b 3
Figura 1.54: Trecho II.

E finalmente para o trecho III:

a 3
Figura 1.55: Trecho III.
64 Fundamentos de Sislemas Elétricos de Potência

(!t!) =-1-(Qa 1n D13 + Qb In _r_ + Qe In D12


Vab J·
21rE r D 13 D23

Calculando o valor médio das tensões entre fases ao longo da linha,

V _
v<n
ab
+ vun + vu11)
ah ab
ab - 3

Multiplicando por 3 e simultaneamente extraindo a raiz cúbica dos argumentos, a


expressão não se altera.
Conforme definição anterior de distância média geométrica, sabemos que:

DMG=~D12 D23 D13

é a distância média geométrica mútua entre fases. Desse modo, podemos escrever
uma expressão mais simples:

V0 b =-1-(Qa ln -D_M_G + Qb ln -
r -)
2TrE r DMG

Analogamente, escrevemos para a tensão entre as fases a e e:

V0 c =1- ( Q0 ln--+Qcln--.
DMG r )
21rE r DMG

Novamente, somando Vab com Vac, que como vimos anteriormente resulta em 3V0 n :

V0 b+V0 c =1- ( 2Q0 ln--+Qhln


DMG -r- +Qc:ln--
r ),
2 1rE r DMG DMG

Sabendo que:

Qb +Qc =-Qa,

3Van = - 1-(3Q ln DMG)


2TrE
0
r

e portanto:
Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 65

Van = _l_(Qa ln DMG ).


2Jré r

Resultando para a capacitância fase-neutro:


2Tré
Can = DMG (Fim) (1.43)
ln--
r

1.4. 7 Consideração de Condutores Compostos ou Bundle

A consideração de condutores compostos, no cálculo de capacitâncias de li-


nhas de transmissão, é semelhante ao cálculo de indutâncias, com a substituição dos
vários subcondutores por um condutor com raio equivalente.
Vejamos o caso de uma linha monofásica, com dois subcondutores por fase,
cadá subcondutor com metade da carga total da fase.

a b
D» e
1 1
1 1
Q/2 1
'
Q/2 -Q/2 ! -Q/2
Q Q Q Q 2
1
1
e 1
1
e
1( )1
'

Figura 1.56: Disposição espacial da linha.

Admitimos que a distância entre fases é bem maior do que o espaçamento en-
tre subcondutores D » e, assim como e» r .
D: distância entre eixos das fases a e b.
e: espaçamento entre os subcondutores de cada fase.
Calculemos a diferença de potencial entre os pontos 1 e 2 da figura, usando a
equação (1.36):

Vab =-1-(Q ln D+ Q ln D - Q ln_c__ Q ln_:_),


2Jré 2 e 2 r 2 D 2 D

D 1(
Vab = - Qln-+Qln- - l nD- .
=Q DJ 2

2JrE e r 2Jré re

A diferença de potencial, considerando a presença dos quatro subcondutores, é


dada por:
66 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Q D
vab =-ln , ·
trE -v re

a b
D

Figura 1.57: Linha monofásica com dois condutores por fase.

Chamando o raio equivalente para dois sub-condutores em uma mesma fase de:

na qual ré o raio externo do condutor, temos:

Observamos a semelhança de tratamento com o caso de indutâncias. Para os casos


com três e quatro subcondutores, dispostos em uma figura regular, usamos as mes-
mas expressões obtidas em (1.27) e (1.28), apenas trocando o raio médio geométri-
co pelo raio externo do condutor.

EXEMPLO 4
Dada uma linha trifásica com espaçamento equilátero de 107 m e raio equiva-
lente do feixe de condutores de 4,457 cm, alimentando o seu início com tensão no-
minal, obter a corrente e a potência fornecidas pelo gerador, considerando os se-
guintes dados:
Tensão nominal de linha: 500 kV.
Comprimento: 250 km.
• Cálculo da capacitância aplicando a expressão ( 1.42):

can = -2trê
- - - Fim
10
ê:::Eo =8,85xl0- 12 Fim'
ln---
0,04457

Cw, = 10,272 nFlkm.

Cálculo da corrente absorvida pela linha em vazio:

V, 10m = 500V;e = 250km.


Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 67

Uma primeira possibilidade de cálculo é trabalharmos em valores por unidade:

Sb = 100 MVA,

Vb =500 kV,

Ybase = 4 X 1O-4 S,

cltot = 1O, 272 x 10-9 x 250 nF,

y1 jwCltotal j377x10,272xl0-9 x250 = .2 4203


Y1 = - - = = 4 .! ' pu ,
Yhase Ybase 4xIO-

iva=io = yv = )2, 4203 X 1 = )2, 4203 pu ,

100
IIl=liva.::iollbase =2,4203x ✓3 x 5 00 =0,2795 kA,

III= 279,5 A,
Q=242 MVA.

Outra possibilidade é trabalharmos diretamente com os valores nominais:

y = Jwxl0,272x10-9 x250,

l=YV,

I= 5; x9,681xl0-4 =0,2795 kA

• Potência reativa trifásica

Q = 500 2 x377x10,272x 10-9 x 250 = 242 MVA .

Nesse exemplo, verificamos que a passagem para valores por unidade, quan-
do não temos transformadores, não é necessária ao cálculo.
68 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

EXEMPLOS
Calcular as reatâncias indutivas e capacitivas, por fase, da linha de transmis-
são, dadas as distâncias em metros, utilizando o cabo Drake.

~ 18

Figura 1.58: Disposição espacial dos condutores da linha de transmissão.

Das tabelas de cabos extraímos os dados:

rmg = 0,0373 pés , Xª= 0,399 .O/mi, dext = 1,108 polegadas.

Calculamos:

DMG =D= ~1 0x 1Ox18 = 12,164 m (admitindo a transposição da linha).

Sabendo que 1 pé = 0,3048 m, convertemos o rmg para metros:

rmg = 0,01137 m.

Calculemos a reatância por fase:

Lª = 2x10-7 ln 12 ' 164 , Lª = 1,395x10-6 H/m.


0,01137

Obtemos a reatância indutiva da linha:

Xi = 2,r fLa = O, 526 .O/km= O, 526 x I, 609 .O/mi= O, 846 .O/mi,


ou:

xi= Xa + xd espaçamento de 39,91 pés,

39 91 és= 12,164 m
' p O 3048
'
X;= 0,399 + 2,022x 10-3 x 60x ln 39,91 = 0,846 .O/mi,

que coincide com o resultado anterior.


Calculemos a capacitância convertendo o raio externo para metros:
Capítulo 1. Introdução aos Parâmetros de Linhas 69

1,108
r=--x0,0254=0,01407 m,
2

( observe que o raio externo tem valor diferente do rmg).

21rE J?
can = - - - - Fim é=:Eo =8,85x10- - Fim,
ln 12,164
0,01407

can =8,22xl0-IL Fim,

ou, na forma mais usual:

Can =8,22 nFlkm.


As fónnulas apresentadas nesse capítulo para linhas trifásicas, de indutâncias
e capacitâncias, contêm algumas limitações, conforme veremos no capítulo a seguir.
No entanto, dada a simplicidade desse tratamento, sua aplicação é interessante
quando necessitamos analisar alterações na geometria da cabeça de torre, ou mesmo
na configuração dos subcondutores. Propomos a seguir um exercício que condensa
os principais graus de liberdade nos parâmetros de uma linha de transmissão, com
relação às distâncias médias geométricas própria e mútua.

EXERCÍCIO PROPOSTO
Considerando os mesmos dados do exemplo 5, calcule os parâmetros induti-
vos e capacitivos da linha de transmissão:
a) Admita feixe com dois e quatro subcondutores por fase e espaçamento de 45 e
80 cm.
b) Altere as distâncias entre fases em mais 50% e menos 50%.
c) Compare os valores obtidos de indutâncias e capacitâncias da linha de transmis-
são.
d) Como podemos reduzir a indutância de uma linha? O que ocorre com a capaci-
tância?
70 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

EXEMPLO DE TABELA DE CABOS CAA (ACSR)

Rcat. 1n Reat. 1rt


Resistência Resistência Resistência
Area AI. N.Fios D. Ext. GMR 60Hz 601-Iz
Nome DC 20ºC AC 601-Iz AC 601-Iz
cmil AI/Aço pol. nng, n Indutiva Capacitiva
D./ 1OOOpes 20ºC D./mi 50"C D./mi
x,,D./mi X\,,MD./mi
Linnet 336.400 26/7 0,721 0,0507 0,2737 0,3006 0,0243 0,451 O, 1040
1-Iawk 477.000 26/7 0,858 0,0357 0,1931 0,2120 0,0289 0,430 0,0988
Grosbeak 636.000 26/7 0,990 0,0268 0,1454 0,1596 0,0335 0,412 0,0946
Drake 795.000 26/7 1,108 0,0215 0,1172 0,1284 0,0373 0,399 0,0912
Rail 954.000 45/7 1,165 0,0181 0,0997 0,1092 0,0386 0,395 0,0897
Bluejay 1.113.000 45/7 1.259 0,0155 0,0861 0,0941 0,0415 0,386 0,0874
Bobo link 1.431 .000 45/7 1.427 0,0121 0,0684 0,0746 0,0470 0,371 0,0837
Bluebird 2.156.000 84/19 1,762 0,0080 0,0476 0,0515 0,0586 0,344 0,0776
Dados de condutores extraídos de A!uminium Electrical Conductor Handbook, New York, September 1971.

1.5 Referências bibliográficas


( 1] Purcell, E. M. Eletricidade e Magnetismo. São Paulo, Edgar Blucher, 1973
(Curso de Física de Berkeley, 2).
[2] Stevenson Junior, W. D. Elementos de Análise de Sistemas de Potência. 2.ed.
McGraw-Hill, 1986.
(3] Electric Power Research Institute. Transmission Line Reference Book: 345 kV
and Above. 2. ed. Palo Alto, 1982.
CAPÍTULO 2

CÁLCULO MATRICIAL DE PARÂMETROS


DE LINHAS DE TRANSMISSÃO

2.1 Introdução
Estenderemos as análises efetuadas no capítulo 1, calculando os parâmetros
elétricos de uma linha de transmissão com a presença do solo, o que nos levará a
uma abordagem matricial das impedâncias e capacitâncias distribuídas da linha.
Nosso propósito é incluir a presença do solo ainda que de maneira elementar, de tal
modo que avaliações simplificadas do seu efeito possam ser realizadas. Considera-
mos inicialmente o solo como um condutor perfeito, com resistividade nula, o que
irá permitir a aplicação do método das imagens, viabilizando, desse modo, a exten-
são dos conceitos anteriormente desenvolvidos.
Poderemos, então, avaliar os efeitos de outros cabos aéreos nas proximidades
das linhas de transmissão, e assim dos efeitos dos cabos-guarda, também conheci-
dos por cabos pára-raios. Cabe mencionar que a consideração mais ampla do solo,
com resistividade não nula, só é possível através de formulações matemáticas mais
complexas, como por exemplo o desenvolvimento das expressões em séries na for-
mulação de Carson, que estão fora do escopo deste texto, e por isso aqui brevemen-
te mencionadas.
Apresentaremos a seguir os conceitos elementares do cálculo de parâmetros
de linhas de transmissão, com a presença simplificada do solo, o que permitirá ao
aluno o aprendizado dos elementos básicos, úteis como ponto de partida em estu-
dos mais aprofundados, que porventura sejam necessários em atividades mais
especializadas.

2.2 Cálculo de Parâmetros Incluindo o Efeito do Solo

Neste item, introduziremos o cálculo matricial de impedâncias série de linhas


de transmissão, incluindo o efeito da presença do solo, considerado como um con-
dutor perfeito, com resistividade p = O.
72 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

2.2.1 Matriz de Impedâncias Série

Inclusão da presença do solo:

- /1
Vii ,........,-------------------...

- f;

- fk

- ln

Inicio Fim

Figura 2.1 : Linha de transmissão polifásica.

Figura 2.2: Catenária.

No cálculo de parâmetros de cabos aéreos adotaremos as hipóteses descritas


a seguir.
a) Consideramos os cabos cilíndricos, retilíneos, paralelos ao plano do solo, uni-
formes e com comprimento suficientemente longo para desprezar o efeito de distor-
ções de campos nas extremidades.
Capítulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas 73

b) Consideramos a altura média do condutor, para levar em conta o efeito da defor-


mação do cabo, que descreve uma curva na forma de uma catenária.
Uma hipótese razoável para calcularmos a altura média é adotar:

considerando que:
h1 : altura do cabo na torre,
hmin: altura do cabo no meio do vão, supondo o terreno plano,
/: flecha no meio do vão,
f =h1 -hmin ·

e) A resistividade p do solo é admitida constante, com o terreno plano e homogê-


neo, com permeabilidade relativa magnética aproximadamente igual a µr = 1 ,
(µ=µo).

d) O campo eletromagnético produzido por um cabo individualmente não se altera


com a presença de campos causados pela passagem de corrente em outros cabos aéreos.
Iniciemos nossa consideração do efeito do solo, admitindo um solo perfeito,
com resistividade nula p = O.
Até aqui, para aplicarmos a fórmula do fluxo concatenado com um condutor
por um grupo de condutores, admitimos a hipótese de que a soma das correntes era
nula. Isto implica limitar o cálculo considerando apenas o efeito das correntes de
seqüência positiva ou negativa, desprezando o efeito da seqüência zero, em que:

A consideração do efeito do solo resolve este problema, quando aplicamos o mé-


todo das imagens, permitindo analisar casos em que a soma das correntes não é nula.

2.2.2 Aplicação do Método das Imagens

Na figura 2.3 temos:


h; : altura média do condutor i em relação ao solo,
diJ: distância entre os condutores aéreos i ej (escritas com letras minúsculas),
DiJ : distância entre condutor i e imagem do condutor j (escritas com letras maiús-
culas),
req:; : raio equivalente do i-ésimo condutor (ou feixe de subcondutores ).
74 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

1 eqz;
/11 o

D;;= 2h; DJJ =2hJ-

p=O

-/ .
J

Figura 2.3: Disposição espacial dos cabos condutores.

Sabemos que du =dJi e Du =DJi.


Para os cabos aéreos, podemos admitir uma somatória de correntes não nula:

No entanto, para as imagens encontramos a mesma somatória com o sinal trocado:


"-J.
~ I
=-1 '

de tal modo que para todo o conjunto de condutores, a soma total das correntes é
nula, permitindo então a aplicação da expressão do fluxo concatenado com um con-
dutor genérico i por um grupo de condutores. Calculemos o fluxo concatenado com
o condutor i, por unidade de comprimento do cabo, considerando o grupo de condu-
tores e incluindo as imagens:

1 1 1
/ 1 ln--•·•-/.Jn--···-1 ln-
D;1 ' 2hi n D;n

Resultando na expressão mais compacta, que será doravante utilizada:

Ai
'f'i = 2 X 1o-7 ( / I In-+•··+1;
Dil 1n--+···+1
2h; In--
D;n ]
11 . (2.1)
dil req::.; d;n
Capítulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas 75

Para esse condutor, incluindo a parcela resistiva, a queda de tensão série na


linha por unidade de comprimento pode ser escrita como:

. . d</Ji(t)
L1V (t)
,
= R .. z(t) + -dt- .
li

Aplicando a transformada de Laplace nesta equação, obtemos:

(2.2)

Incluindo a queda de tensão por efeito resistivo, escrevemos para o i-ésimo condu-
tor, com s = jw em regime permanente senoidal, a expressão da queda de tensão ao
longo da linha de transmissão, para uma dada unidade de comprimento:
L1V1 = R.I + 1·m,1,.
li 1 'f'1 '

Lembrando que d lj.. =dJI.. e D-lj· =D..


jl , ao multiplicar a expressão (2.1) por

Jm e somar o resultado com a queda resistiva, obtemos:

L1V1 =R11.. J-1 +1·2wx10-7 ( 11 In-+


Dli .. ·+1 - In--+
d I
2hi .. ·+1 -Dni
n d ·
J
li reqz; ni

Denominamos as reatâncias próprias:


_ _7 2h;
Xii -2mx10 ln-- .Q/m, (2.3)
req:::;

e as reatâncias mútuas:

D ..
X iJ = 2mx 1o-7 ln __!j_ n/m, para i 1:- J . (2.4)
d·-IJ

Escrevendo as expressões para as quedas de tensão em regime permanente,


em um grupo de condutores acoplados, obtemos:

Chamando as impedâncias por unidade de comprimento:


Zii = Ri; + JXu : impedância própria do i-ésimo condutor,
76 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Z iJ = JXiJ : impedância mútua entre os condutores i e j.


Obtemos a matriz de impedâncias série dos cabos acoplados, em regime per-
manente senoidal, para uma freqüência úJ = 2tr f rad/s

L1Vi 2 11 ZJi 2 1n 11

L1Vi ZiJ z li.. 2 in X J.I (2 .5)

L'.1Vn 2 nl 2 ni 2 nn ln

ou,

[L1V]=[Z][I],

na qual [ z] é a matriz de impedâncias série da linha de transmissão, que apresenta


estrutura simétrica.

2 11 ZJi 2 In

Z= zil zli.. 2 in z lj.. =zJi.


'

2 nl 2 ni 2 nn

Como:
J lj.. =d)1'
.. Dlj.. = DJI'
.. então zlj.. = z j..l '
Com o objetivo de facilitar o tratamento, no caso de feixes de condutores,
trabalharemos sempre com o conceito de raio equivalente do feixe, apresentado no
capítulo anterior. Os programas de cálculo de parâmetros inicialmente consideram
cada cabo do feixe, o que implica na formação de uma matriz de impedâncias de
ordem mais elevada. Em uma segunda etapa, como esses cabos estão submetidos à
mesma diferença de potencial, opera-se uma redução na matriz, obtendo-se os pa-
râmetros equivalentes de cada fase. No entanto, adotaremos o raio equivalente do
feixe, o que é suficientemente preciso para os propósitos do nosso texto.

2.2.3 Solo com Resistividade não Nula

Vimos até aqui a consideração do efeito do solo com resistividade nula. Na


realidade o solo não é um condutor perfeito, apresentando uma resistividade p e/:. O.
Capítulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas 77

Isto faz com que as correntes pelo solo se distribuam de modo diferente, de acordo
com a freqüência, ou seja, para freqüências mais elevadas as correntes tendem a se
concentrar na superfície, apresentando um efeito semelhante ao efeito pelicular em
um condutor, visto no capítulo 1. A formulação matemática deste tratamento é rela-
tivamente complexa, envolvendo uma decomposição em série de Bessel, sendo
muito aceita a proposição feita por Carson em 1926, que passou a ser denominada
correção de Carson.
Nessa correção, o efeito equivalente é o de se considerar, para diferentes fre-
qüências, as imagens com posições diferentes, não sendo objetivo do nosso curso
um aprofundamento deste tratamento matemático.
Consideramos, então, os parâmetros calculados admitindo o solo com resisti-
vidade nula, mais um termo de correção de Carson, para levar em conta p t:- O.

e:

Com resistividade nula, p = O, adotamos:

iJR--li = iJR--lj = O'


l1Xii = 2mx 1o-4 ln 2h;,

iJXiJ = 2mx 1o-4 ln DiJ .

Permanecendo válidas todas as expressões anteriormente apresentadas.


Com a finalidade de considerar o efeito de resistividade do solo não nula,
com p t:- O, aplicamos as correções de Carson abaixo indicadas (válidas na faixa de
Oa 100 Hz):

iJR-- =4m x 10-4(1,5708 - 0,0026492(h; +hi )JlTp


1J 4 4
+···]+--·,

,1x ..
2
=4m x 1o-4 ( - ln----==+
658,8 0,0026492( h; +hi
·
),Jf I p +.. ·J+·..
1J 4 -Jf! p 4
78 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Comentamos que os programas atuais de cálculo de parâmetros consideram


correções mais complexas, envolvendo um número bem maior de termos e de coe-
ficientes, que são apresentados no item 2.5.

2.2.4 Efeito dos Cabos-Guarda

autoportante estaiada

Figura 2.4: Torres de linhas de transmissão.

Em linhas de transmissão que atravessam regiões com nível elevado de des-


cargas atmosféricas para a terra é conveniente protegê-las com cabos-guarda, posi-
cionados de tal forma que os raios atinjam preferencialmente estes cabos e não os
condutores. Este assunto é tratado no estudo do desempenho atmosférico da linha
de transmissão a surtos atmosféricos (lightning performance).
Para considerar a influência dos cabos-guarda na matriz de impedâncias série
de uma linha de transmissão, esses são simplesmente incluídos na matriz de impe-
dâncias, de modo análogo aos demais condutores. Consideremos as quedas de ten-
são longitudinais (variações de tensão com a corrente) na linha, na forma compacta,
admitindo a possibilidade de mais de um cabo-guarda:

(2.6)

[Zcc]: matriz de impedâncias série dos cabos condutores,


[ Z gg] : matriz dos cabos-guarda,
Capítulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas 79

[Zcg] : matriz de impedâncias mútuas entre condutores e cabos-guarda.


No caso de apenas um cabo-guarda, exemplificamos:
1
L1Vj 2 11 2 12 Z13 1 2 14 11
1
1
L1V2 2 21 Z22 Z23 1 2 24 12
L1V3
= 1 X
/3
(2.7)
2 31 2 32 Z33 : Z34
-----------7---
L1V4 2 41 2 42 Z43 11 Z44 14

Como a matriz [Z] tem estrutura simétrica, [Zcg] =[Z1c].


Antes de introduzirmos a eliminação dos cabos-guarda, recordemos o proce-
dimento algébrico simples de eliminação de uma equação, na solução de um siste-
ma linear, com as características definidas a seguir.
Suponhamos um sistema linear de duas equações, tendo como incógnitas as
variáveis x e y e admitindo os coeficientes a, /3, r, ô e p conhecidos.

a= f]x+ YY'
O=ôx+py.
Tomando a segunda equação, a variável y pode ser colocada em função de x, na
forma:

ô
y=--x,
p

que substituída na primeira equação fornece:


a=/Jx--x,
p

e finalmente:

A obtenção das variáveis x e y é então imediata. O mesmo procedimento po-


de ser adotado quando temos um sistema de equações, escrito na forma matricial,
sendo [x] e [y] vetores de incógnitas e [a], [/JJ, [71, [b] e [p] matrizes e vetores:

[a]= [/3] [x] + [ r] [y],

[0]=[8][x]+[p][y].
80 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Novamente eliminando o vetor de variáveis [y], na segunda equação:

que substituído na primeira equação, resulta em:

e facilmente obtemos [x], com a solução do sistema linear de equações.


Aplicamos o mesmo procedimento no cálculo de parâmetros de linhas de
transmissão, quando temos sistemas de equações lineares com algumas condições
de contorno conhecidas, como no caso do uso de cabos-guarda. Tal procedimento é
conhecido como redução dos cabos-guarda.

Cabos-guarda aterrados
Vejamos inicialmente o uso de cabos-guarda conectados com a torre e por-
tanto aterrados. Quando o cabo-guarda for continuamente aterrado, ou seja, aterrado
em todas as torres, podemos admitir quedas de tensão longitudinais L1Vg =O , ao
longo do trecho examinado.

LlV, ~O(

Figura 2.5: Cabos-guarda aterrados.

Entre duas torres consecutivas, k e k -1 na faixa de freqüências do regime


permanente a 60 Hz, podemos admitir que as bases das torres se encontram prati-
camente no mesmo potencial de terra V7i = Vr2 , e que as quedas de tensão L1V, nas
estruturas sejam nulas. Desse modo, as quedas de tensão nos cabos-guarda
L1Vg = Vk - Vk-l também são nulas e tal resultado pode ser estendido ao longo de
todo o trecho de linha examinado.
Capítulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas 81

O sistema de equações (2.6) com L1Vg =O pode ser particionado na forma de


duas equações matriciais:

[ L1 Vc ] =[Z cc ] [ f e ] + [ Z cg ] [ f g ] ,

[O] = [ Z gc ] [ f e ] + [ Z gg ] [ f g ] .

Podemos então eliminar o vetor de corrente [ I g] nos pára-raios:

que substituído na equação de quedas de tensão fornece:

[ L'.1Vc ] = [Z cc ] [ f e ] - [ Z cg ] [ Z gg ]- I [ Z gc ] [ f e ] ,

e finalmente:

Desse modo, eliminamos as correntes nos cabos-guarda e ficamos com uma


matriz de impedâncias equivalente que inclui o seu efeito. Esta simples eliminação
de equações recebe o nome de redução de Kron,

(2.8)

Essa operação, de certa forma, nos leva a fazer uma analogia com os enrola-
mentos primário e secundário de um transformador, cujas tensões e correntes po-
dem ser relacionadas pela matriz:

Ví, 11 : tensão e corrente do primário,


V2 , 12 : tensão e corrente do secundário,
Z1, Z 2 : impedâncias próprias do primário e secundário,
Zm: impedância mútua entre primário e secundário.
82 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Quando temos o secundário em curto podemos obter uma impedância equiva-


lente vista do primário, fazendo V2 =O, portanto:

V, =( 1-:: ),1
2

'-------v-----'
Zcc

Vejamos o caso de eliminação de apenas um cabo-guarda e, sem perda de


generalidade, consideremos o caso de uma linha trifásica com um cabo-guarda ater-
rado. Para isso tomemos a expressão (2. 7), fazendo L1V4 = O :

L1Ví ZJJ ZJz Z13 2 14 11


L1Vz Z21 Zzz Zz3 2 24 12
X
L1V3 Z3J Z3z Z33 Z34 13
o Z4J 2 42 Z43 Z44 14

l l ll l
Aplicando a expressão (2.8), obtemos:

Z12
L1Vz
JV, =W1z211 Zz2
z13 z1,
2 24 Z:4 [ 2 41 Z4z
Zz3 -
Z431J{:l

l l l
L1V3 Z31 Z32 Z33 Z34

l l W1
L'.1Vz
JV,
L1V3
= z211
Z31
Z12

Z22

2 32
Z13
z23

Z33
- --
Z44
1 Z14Z4 t
2 24z41

Z34Z41
Z14Z4z

Zz4Z4z

Z34Z4z
Z14Z43
Zz4Z43

Z34Z43
j] j
JI
X 12

13
·

Voltando a um caso genérico, observamos que cada novo elemento da matriz


zú, após a eliminação das linhas e colunas n, será constituído por:

(2.9)

ZJJ Z1z
... zlj :
... zln
: :
: :
: :
--- ------ -------- ---· ·1 -----· -1---· -------·-

_:;! _____ :r: ____ ···_! _2 iJ __ ! _· ·_· ____ :;~-


. .. . . '' .. '' .. ..
.. . .: . .

No caso de eliminação de um cabo-guarda, essa operação é relativamente


simples de ser efetuada sem necessitarmos recorrer aos cálculos matriciais. No caso
Capítulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas 83

de eliminação de dois ou mais cabos-guarda é recomendável o uso de expressões


matriciais.

• Cabos-guarda isolados
A eliminação dos cabos-guarda nesse caso é mais simples, pois os mesmos
encontram-se isolados em todas as torres da linha de transmissão por meio de pe-
quenos isoladores, sem passagem de corrente a 60 Hz. Nesse caso, para o regime
permanente admitiremos I g = O:

Resultando em:

Ou seja, sob o ponto de vista das quedas de tensão nos condutores, a presença
dos cabos-guarda pode ser ignorada. Podemos, no entanto, calcular a tensão induzi-
da nos cabos-guarda, como em qualquer condutor paralelo à linha de transmissão:

Após a eliminação dos cabos-guarda, nos casos de cabos aterrados ou isola-


dos, obtemos uma matriz correspondente aos condutores das três fases, que chama-
remos de fases a, b e e , de forma a não confundir com as componentes simétricas O,
1 e 2. Neste caso escrevemos:

ou, na forma compacta:

[ Vabc ] =[zabc ] [ / abc ] ·


2.2.5 Aplicação de Componentes Simétricas

O fato de as equações de queda de tensão apresentarem acoplamento entre fa-


ses sugere a aplicação de transformações de componentes de fase para componentes
simétricas.
84 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Em um sistema de potência trabalhamos com tensões e correntes trifásicas


senoidais, chamadas de componentes de seqüências de fase, escritas em regime
permanente para um ponto da rede.

la
V,-
ª 1

!b
v'b 1 - rede
/e
v'-
c1

Figura 2.6: Grandezas de fase.

Definimos uma transformação de coordenadas [Vabc], [Iahc], para um novo


sistema de coordenadas ( V012 ] e (/ 012 ] e chamamos essas novas coordenadas de
componentes simétricas. Essa operação matemática, conhecida como uma mudança
de base de um sistema, é comum na da álgebra linear. A matriz de transformação
utilizada em sistemas trifásicos, em regime permanente senoidal, é dada por:

[Vabc ] ::: [T] [Vo 12 ] · (2.10)

Sendo:

[V012] =[Vo] [io]


~ ,[1ol2] = :: ,

[r]
[:
a2
a
1

!l
a2
[rr' =¾[:
1
a
a2 ~l
na qual definimos os números complexos:

a::: 1LI 20º ::: - O, 5 + JO, 866 ,


Capítulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas 85

a 2 = 1L -120º = - O, 5 - JO, 866 .

Desmembrando a expressão (2.1 O) temos:

Estabelecemos então que a tensão V0 está associada a uma seqüência de faso-


res em paralelo (alinhados no plano complexo), Jií está associada a uma seqüência
de fasores de seqüência direta, ou seja, com a rotação das componentes em sentido
anti-horário, e V2 está associada a uma seqüência de fasores de seqüência inversa,
ou seja, com rotação em sentido horário.

af!í a2V2

--Vo
+
Vi
) + ~,l
aV2
a2 v;
1

Figura 2.7: Decomposição em componentes simétricas.

Dado que a matriz [ r] é uma base, e portanto inversível, a transformação in-


versa é feita tomando-se simplesmente:

sendo, como vimos:

r-1=½[: a
a2 ~]
Quando trabalhamos com condições transitórias de redes, em detenninados
casos, temos a necessidade de aplicar as chamadas transformações modais, que não
86 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

serão objeto de nossa discussão, mas que podem ser encontradas em diversas refe-
rências. Com essas transformações conseguimos o desacoplamento das equações,
com vantagens introduzidas no cálculo dos transitórios em sistemas de potência.
Podemos entender a transformação em componentes simétricas como uma
operação semelhante no regime permanente, na qual efetuamos o mesmo desaco-
plamento das componentes de fase, através de matrizes de transformação, que dia-
gonalizam o sistema de equações em análise.
Desse modo, podemos estabelecer uma correspondência entre valores de fase
e de seqüências para as quedas de tensões longitudinais.

[ L1Vabc] =[Z abc] [ f abc] , (2 .11)

[ L1Vabc] = [T][ L1Vo12], (2 .12)

[1abc ] = [T] [lo 12 ] , (2 .13)

nas quais:

L1V0 , L1Vj e L1V2 são as quedas de tensão, em série da linha de transmissão, dadas
em componentes de seqüências zero, positiva e negativa, respectivamente. Da
mesma forma, 10 , 11e 12 são as correntes de seqüência na linha.
Vejamos agora como obter os parâmetros série da linha de transmissão em
componentes simétricas. Para isso, substituímos (2.12) e (2.13) em (2.11):

[T] [ L1Vo 12] = [Z abc] [T] [1o12] ·

A matriz [ Zabc] é simétrica, com cada termo dependente da posição geomé-


trica dos cabos.
Pré-multiplicando toda a expressão matricial por [TJ- 1 , encontramos:

Essa passagem resulta na matriz de impedâncias série em componentes simétricas:

[Zo12] =[r-I ][ Zabc ][T], (2.14)


Capítulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas 87

na qual:

[ zoo
2 01
zo,] (2.15)
[Zo12]= 2 10 2 11 2 12 ·
2 20 2 21 Z22

Para os termos da diagonal:


z00 ou z 0 é a impedância de seqüência zero,
z11 ou z 1 é a impedância de seqüência positiva,
z22 ou z2 é a impedância de seqüência negativa.
Os termos fora da diagonal correspondem às impedâncias mútuas entre se-
qüências.
Quando fazemos a transposição de uma linha de transmissão trifásica, obte-
mos para os termos próprios da diagonal principal:

(2 . 16)

e para as mútuas fora da diagonal:

(2 .17)

Isso ocorre porque todas as fases ocupam em média todas as possíveis posições no
espaço, como vimos anteriormente.
Observamos que esse é um procedimento semelhante ao adotado para trans-
posições no capítulo 1. Então, para linhas com transposição, obtemos uma matriz
com a seguinte composição:

zp zm zm

[Zabc]= 2 m 2p 2 m

Esta matriz tem uma estrutura particular, simétrica e balanceada, que favore-
ce a aplicação de componentes simétricas.
Aplicadas as transformações, obtemos um sistema de equações desacoplado,
com a matriz de impedâncias em componentes simétricas com elementos nulos fora
da diagonal.
88 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

o
º '
o
Z22
l
na qual:

Zoo= Zp + 2zm. (2 .18)

A impedância de seqüência zero z 0 , (z 00 ) é a soma dos elementos da primei-


ra linha de [ Zabc] transposta. As impedâncias de seqüência positiva e negativa
z1, (z 11 ) e z 2, (z 22 ) são iguais e dadas pela expressão:

(2.19)

Essas impedâncias de seqüência positiva e negativa são iguais à diferença en-


tre as impedâncias própria e a mútua.
No caso de linhas não transpostas, a matriz T não diagonaliza a matriz de im-
pedâncias de fase, sendo necessário obter uma matriz adequada a esta finalidade,
através do cálculo dos autovalores e autovetores. No caso de matrizes balanceadas,
a matriz T é sempre a mesma, tomando conveniente a aplicação de componentes
simétricas.
Embora possamos solucionar os problemas usando componentes de fase, no
caso de linhas transpostas é conveniente a aplicação de componentes simétricas.

2.3 Matriz de Capacitâncias

Vejamos como obter a matriz de capacitâncias de uma linha, admitindo o so-


lo como um condutor perfeito e aplicando o método das imagens. Ao incluirmos o
solo, permitimos uma generalização do nosso problema, pois podemos trabalhar
com a hipótese de somatório das cargas de n condutores não nulo:

Considerando inicialmente o caso de dois condutores aéreos e aplicando o


método das imagens, temos a representação da figura 2.8.
Capítulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas 89

\
\
\
\
\
\
\
\Y
\

Figura 2.8: Dois condutores aéreos.

Com a aplicação do método das imagens, temos para os condutores aéreos:

e para as imagens:

de tal modo que o somatório total de cargas é nulo.


Calculemos a diferença de potencial do condutor i em relação ao solo, consi-
derado com potencial nulo. Para isso, tomemos a equação básica de diferença de
potencial entre dois pontos (1.36) apresentada no capítulo 1,

Situando o ponto 2 sobre a superfície do solo e o ponto 1 na superfície do condutor,


e superpondo os resultados das quatro cargas de condutores e imagens, obtemos:

. V; =Vi 2 =- h-1 - l nh-1- J+-


Q·1- ( ln- Qj·- ( ln--ln-
X X , J
2nE r-
'
2h-
1
2nE d--IJ D--IJ
90 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

ou:

- -Qi- n2hi
Vi -
2nt:
-+-(1
QJ- nDu)
- .
r-I 2nt:
I d .. (2 .20)
I)

Observamos que podemos deslocar o ponto 2 ao longo da equipotencial do solo que


os resultados não se alteram, por exemplo, na posição 2' indicada na figura 2.8, a
contribuição da carga Q1 seria:

-
Q· n.
Q·1- ( l nY- - l nY- ) =-./-ln___!!_
2nt: d..IJ Dii
~
2Trt: d IJ.. '

mantendo o resultado obtido anteriormente com o ponto 2.

ln 0

hI

1
1
1 p=O
1
h-1
/ 1
1
1
1
1

ô
-!;

Figura 2.9: Linha com n condutores aéreos.

Para uma linha de transmissão genérica, com n condutores aéreos, estende-


mos o resultado da expressão (2.20), fazendo:

VÍ =(_ili_ ln 2h1 + ... + i:i_ ln Dli + ... + Qn ln D1 n J'


2Jrê r1 2Trê dli 2Jrê d1n
Capítulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas 9J

Essas expressões podem ser colocadas na forma matricial, fazendo :

ln 2h1 lnDli
- D1n
1n--
r1 dli d1n
Vi Q1

1 D-1 ln2hi 1nDin


V.I ln-1 - - X Qi
2rcE dil r-I din

vn Q/1
1n--
Dnl lnDni
- ln 2hn
dn1 dn; rn

ou:

Vi P11 P1i P!n Q1

V; Pi! Pu P;n X Q;

v,1 Pnl Pni ... Pnn Q/1

que pode ser colocada na forma compacta:

[V]= [ P][Q]. (2 .21)

E denominamos [ P] matriz dos coeficientes de potenciais de Maxwell, na qual


estes coeficientes são obtidos pelas expressões:

1 D ..
Pu = --ln___iL, i-::/- j, (2.22)
2TCE d lj..

1 2h-
p .. = - - l n -1 (2 .23)
li '
2TCE f;

r; será sempre o raio externo do condutor i, ou o raio equivalente quando os condu-


tores de uma fase formarem um feixe. Obviamente o raio equivalente deverá ser
calculado com o raio externo do condutor.
A matriz [ P] é simétrica, pois Du = DJi e du = dJi.
92 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Como:
1 1 1
= - - - - - - = - - - - - -1-0----:6-- - - =17,98 km/µF,
2JrE 2;rr8, 85 X 1o- 12 F/m
2;rrx8,85xI0- 12 - -
3 µF/km
10-

é aceitável trabalharmos com a expressão mais simplificada:


D ..
Pii
.
= 17, 98 ln ___iL
d ..
km/µF.
lj

Lembrando que:

i ( t) = dq ( t) .
dt

Ao considerarmos as três fases, essa expressão pode ser colocada na forma vetorial:

[ Íabc ( f)] =_E_ [ q abc ( f)] ·


dt

Para o regime permanente senoidal, obtemos a seguinte relação entre correntes e


cargas elétricas, em valores fasoriais:

[I]=Jco[Q].
Obtemos as cargas elétricas, a partir da expressão (2.21 ), fazendo:

Chamamos a matriz inversa dos coeficientes de potência de Maxwell de matriz de


capacitâncias [ e] ,

resultando em:

[Q] =[c][v] . (2.24)

Para o nosso sistema matricial de equações, escrevemos:

[I] =Jco[ c][v],


[I]=[Y][V], (2.25)

sendo:
Capítulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas 93

[1]: vetor de correntes fasoriais,


[V]: vetor de tensões fasoriais,
[Y] : matriz de admitâncias nodais,
[Y] =Jco[ e].
Nessa altura, comentamos que a matriz [Y] tem a estrutura de uma matriz de
admitâncias, sendo [J] as correntes injetadas nos nós e [V] as tensões nodais.

Figura 2.1 O: Rede capacitiva.

Observamos que estamos trabalhando com parâmetros distribuídos, e quando


falamos em corrente injetada nos nós, estamos nos referindo a uma parcela de cor-
rente transversal às linhas de transmissão.

Figura 2.11: Corrente nodal injetada na rede de capacitâncias para


linha com comprimento unitário.

Ou seja, ao aplicarmos tensão no condutor i, estamos nos referindo à corrente


li injetada transversalmente na linha, que atua no nó i da matriz de admitâncias no-
94 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

dais, formada pelos condutores com comprimento unitário e= 1 . Para avaliarmos a


corrente transversal total, evidentemente, somamos todas as parcelas unitárias que
compõem o comprimento total da linha. Observamos que estamos desprezando, até
aqui, o efeito de correntes longitudinais que alteram a distribuição de tensões ao longo
da linha, pois estamos analisando apenas a parcela eletrostática. A formulação com-
pleta, que leva em conta os efei~os longitudinais e transversais, será objeto do próximo
capítulo, no qual desenvolveremos modelos mais completos de linhas de transmissão.
A matriz de capacitâncias é dada por:

CI 1 C12 C]n .

C21 C22 C2n


[C]=
cnl cn2 cnn

Sendo cii a soma das capacitâncias incidentes no nó i e cu a capacitância entre os


nós i e j, com sinal trocado.
No caso de uma linha trifásica, exemplificamos:

e para as capacitâncias mútuas entre fases, temos em regime permanente senoidal


(valores eficazes):

(2.26)

e assim por diante.


Se os condutores aéreos 1, 2 e 3 corresponderem às fases a, b e e de uma li-
nha, teremos:

A obtenção das capacitâncias Cat, cbt, cct, Cab' chc• Cca' de uma linha
trifásica é feita no exemplo 1, figura 2.19.
Para o caso de uma linha trifásica, exemplificamos as matrizes mencionadas ,
até aqui:
Capítulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas 95

P12

lViJ
V2 = lPil P21 P22 p13J lº'J
p23 Q2 , X

V3 P31 P32 p33 Q3

lQ2Q,] =lC11
c,2

C21 C22 C13] X


C23 lV2Vi] .
Q3 C31 C32 C33 V3

2.3.1 Consideração dos Cabos-Guarda

A consideração da presença dos cabos-guarda é feita de modo semelhante ao


caso da matriz de impedâncias, admitindo-se os casos de cabos aterrados e cabos
isolados.

Figura 2.12: Torres com um e dois cabos-guarda.

Tomemos o caso de uma linha trifásica, com as fases a, b e e correspondentes


aos condutores 1, 2 e 3. A inclusão de um cabo-guarda é feita com a adição de mais
uma linha e uma coluna na matriz dos coeficientes de potenciais de Maxwell.

Vª Paa Pab Pac ! Pag ºª


Vb Pba Pbb Pbc ! Pbg Qb
vc Pca Pcb Pcc . Pcg
'
X
Qc
--· --·
-- -- -- -- -- -- ... -- ---- -- -- ------ -- --
vg Pga Pgb Pgc i Pgg Qg
96 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Analogamente, a matriz dos coeficientes de potenciais de Maxwell com dois cabos-


guarda é feita com a inclusão de duas linhas e duas colunas:
1
Vª Paa Pab Pac 1 Pagl Pag2
1 ºª
1
Vh Pba Pbh Phc 1 Pbgl Pbg2 Qb
1
1
vc Pca Pcb
_______________ Pcgl Pcg2 X
-Pcc T11 ___________ Qc
Vg l Qgl
Pgla Pglb Pglc : Pg!gl Pglg2
1
vg2 Qg2
Pg2a Pg2b Pg2c : Pg2gl Pg2g2

Ou na forma compacta, para um caso genérico:

Quando necessitamos efetuar cálculos, que dependem apenas dos condutores,


é conveniente eliminar os cabos-guarda, cujo procedimento será descrito a seguir.

• Cabos-guarda aterrados

a
b
e
Vg =0

Figura 2.13: Cabo-guarda aterrado.

Quando os cabos-guarda forem aterrados, para baixas freqüências, como a


freqüência nominal operativa, assumimos uma queda de potencial nula na torre,
estando o cabo-guarda no mesmo potencial do solo:

e assim:
Capitulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas 97

Essa equação pode ser particionada na forma de duas equações matriciais:

[ Vc ] = [ ~e ][ Qc ] + [ pcg ] [ Qg ],

[O ] =[ Pgc ] [ Qc ] + [ Pgg ] [ Qg].

Podemos então eliminar a carga Qg dos pára-raios, tomando a segunda equação


particionada:

que substituída na primeira equação fornece:

[ Vc ] =[ ~e ][ Qc ]- [ ~g] [Pgg r 1
[ Pgc] [ Qc ],

[ Vc ] =[ ~e - Pcg Pgg - IPgc] [ Qc ].

Desse modo eliminamos as cargas do cabo-guarda e ficamos com uma matriz


equivalente de coeficientes de potenciais, que inclui o efeito dos cabos-guarda:

(2.27)

• Cabos-guarda Isolados

1 / =o
' g
g
a
b
e

ff777

Figura 2.14: Cabo-guarda isolado.


98 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Nesse caso, a carga do cabo-guarda é nula, Qg =O:

Resultando em:

[vc ] = [Pcc ][ Qc ], (2.28)

[Vg] =[~g] [Qc ]. (2.29)

Para se obter a tensão induzida no cabo-guarda isolado, ou em qualquer con-


dutor paralelo à linha de transmissão, em vazio, reescrevemos a expressão (2.28):

(2.30)

que substituída na equação (2.29) fornece:

(2.31)

2.3.2 Aplicação das Componentes Simétricas no Cálculo de Capacitância

No caso de linha trifásica transposta, fazemos o baanceamento na matriz dos


deficientes de potenciais de Maxwell, conforme o procedimento anteriormente ado-
tado no cálculo de impedâncias.
Consideremos a linha trifásica com as fases a, b e e coincidentes com os con-
dutores 1, 2 e 3, respectivamente:

Pm
Pp (2.32)

Pm

onde:

P = P1 1 + P22 + P33
p 3 '

P = P12 + P13 + P23


111 3
Capítulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas 99

Após o balanceamento, efetuamos a inversão da matriz [ P] , obtendo a matriz


de capacitâncias da linha transposta:

Aplicando as componentes simétricas, obtemos:

Substituindo-se as relações anteriores em (2.32), obtemos:

Pré-multiplicando os dois membros da igualdade por r- 1 :

na qual:

(2.33)

(2.34)

Verificamos que, como cm tem sinal negativo na matriz de capacitâncias, as capa-


citâncias de seqüência positiva são maiores do que as capacitâncias de seqüência
zero, c 1 > c0 •
100 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

2.4 Linhas de Transmissão com Circuitos em


Paralelo e Cabos-guarda

Figura 2.15: Circuitos em paralelo.

Em uma mesma torre de uma linha de transmissão podemos encontrar até


dois circuitos. Além disso~ podem existir outras linhas na mesma faixa de passagem
ou mesmo nas proximidades. Há casos em que devemos levar em conta o acopla-
mento entre os condutores desses circuitos, construindo matrizes de impedâncias e
capacitâncias expandidas.
Examinaremos o tratamento de múltiplos condutores com a formação da ma-
triz de impedâncias série, sendo esse procedimento análogo ao que seria também
adotado para a matriz de capacitâncias.

Quedas de tensão nos condutores


Para cada circuito trifásico, escrevemos as quedas de tensão série nos condu-
tores:

L1Vª1 L1Va,,,
[ L1Vabc1] = L1Vb1 .. . [ L1Vabc·111 ] = L1Vibm
'
L1VC1 L1Vc Ili

e também para os cabos-guarda:


Capitulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas l OI

Assumimos a existência de q cabos-guarda em uma torre. Normalmente en-


contramos q $ 2 , no entanto, podem existir alguns projetos especiais com q = 3.
No caso de várias linhas na mesma faixa de passagem, com todos os circuitos aco-
plados, podemos encontrar q ~ 3 .
A obtenção da matriz de impedâncias série dos circuitos acoplados segue os
seguintes passos:
1º Passo: montagem da matriz de impedâncias série, com todos os condutores aé-
reos, incluindo os cabos-guarda.
:
L1Vabc1 zll zim : zlg Jabc 1
abc abc : abc
:
:
:
: X
L1Vabcm zml zmm : zmg
:
I ahc111
-- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- ·- -- -- --abc
--- abc -- -- --, -- -- abc
-- --- --- -- -- ---
zgl gm :
L1Vg zabc : zgg Ig
abc :

na qual:

20 i0 i Zaibi 2 a -c-
1 1 zªiªJ ZaibJ ZG1·C·
}

[ z;; ]
abc
= zbiai zbibi zb;ci '
[zü ]=
abc zbiªJ zbibJ 2 b-c .
1 } '
Zciai Zcibi ZC;Ci 2 c -a •
1 }
2 cb -
1 }
ZC1·C·
}

[zihc]: matriz de impedâncias série dos cabos abc do circuito i,


[Z¾hc] : matriz de impedâncias mútuas entre os condutores abc dos circuitos i e j,
[Z~~c]: impedâncias mútuas entre os condutores abc do circuito i com os cabos-
guarda,
[ Zgg]: matriz de impedâncias série considerando somente os cabos-guarda.

l
2° Passo: eliminação dos cabos-guarda, isolados ou aterrados.

[
L'.lV
abci
[z11ahc
LIV~bc,,, = Z;~

As matrizes reduzidas zJhc, nesse passo, apresentam elementos distintos da-


queles do passo 1, após a redução, no caso de cabos-guarda aterrados.
3º Passo: se houver transposição em k seções, obtemos uma média das impedâncias dos
condutores segundo suas posições espaciais ao longo de toda a linha de transmissão.
102 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

A seguir, analisaremos o caso mais comum de um circuito duplo, com dois


cabos-guarda, e nesse caso particular, aproveitamos para calcular os parâmetros
seqüenciais, sendo esse procedimento extensível ao caso de múltiplos circuitos.
Uma transposição que não introduza acoplamento entre seqüências não é usual,
sendo executada com um circuito transposto em três seções e outro em nove seções.
Consideremos o caso mais comum de circuitos com disposições simétricas na
mesma torre, com transposições em três trechos para cada circuito, segundo um
esquema de rotação de fases em direções opostas para os dois circuitos, denominada
de rotação anti-simétrica.

Figura 2.16: Rotação de fases anti-simétrica.

A matriz de impedâncias série para cada trecho teria a seguinte constituição,


respeitando a nomenclatura da figura anterior:

2 11 2 12 2 13 2 14 z,s z,6 Z17 z,s


2 21 Z22 Z23 2 24 2 25 2 26 Z27 z28
2 31 2 32 Z33 Z34 Z35 2 36 Z37 2 38

2 41 2 42 Z43 Z44 Z45 2 46 Z47 2 48


[Z]=
2 51 2 52 Z53 Z54 Z55 2 56 Z57 Z5g
2 61 2 62 2 63 Z64 2 65 2 66 2 67 2 68

Z71 Z72 Z73 Z74 Z75 2 76 Z77 Z78


2 81 2 82 Zg3 Zg4 Zg5 Zg6 Zg7 Zg8
Capítulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas J03

As fases a, b, e de cada circuito ocupariam as seguintes posições espaciais


nos trechos de transposição I, II, III:

Trecho
ª'1 b, e, ª2 b2 C2 g, g2
I 2 3 4 5 6 7 8
II 2 3 1 6 4 5 7 8
III 3 1 2 5 6 4 7 8

Com a eliminação dos cabos-guarda, temos a matriz reduzida, cujos elementos se-
rão diferentes daqueles da matriz completa original, se os cabos-guarda forem ater-
rados:

2 11 2 12 Z13 2 14 2 15 2 16

2 21 Z22 Z23 2 24 2 25 2 26

2 31 2 32 Z33 Z34 Z35 2 36


[Z]=
2 41 2 42 Z43 Z44 Z45 2 46

2 51 2 52 Z53 Z54 Z55 2 56

Z6J 2 62 2 63 2 64 2 65 2 66

Após a transposição proposta, temos uma matriz com a seguinte estrutura, adequada
para a aplicação de componentes simétricas:

Zpl 2 ml 2 ml : 2 pl2 2 ml2 2 ml2


:
:
2 ml zpl zml : 2 ml2 2 pl2 2 ml2
:
:
2 ml zml zpl : 2 m12 2 m12 2 p12
:
[Z] = :
2 ml2 :
2 pl2 2 ml2
: zp2 z,,.,2 2 m2
:
2 ml2 2 p12 2 m12 :: 2 m2 zp2 2 m2
:
:
2 ml2 2 ml2 2 pl2 2 m2 2 1112 zp2

na qual, cada sub-matriz apresenta os termos da diagonal iguais entre si e os fora da


diagonal também iguais entre si:
104 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Escrevemos o sistema de equações matricial na forma compacta:

L1Vlabc ] [zlahc
1 2 abc
12 ] X [ 1ahc
1 ]
[ ?? 2 .
L1V;bc - Z;,hc Z;bc 1 ahc

4° passo: Transformamos em componentes simétricas as tensões e correntes, segun-


do o tratamento matricial abaixo indicado.

z12
abc ] X
z22 o
[T
abc

Pré-multiplicando os dois membros por:

[r-o r-o1] ,
1

temos:

O]
r-1 x z21
[Z~bc
abc

ou:

[
L1V,1012 ] =[ r-1 zlabc1 T r-1 z12
abc T] X[/1012 ]
L1v:2 r-1 2 21 T r-1z22 T 1O212
O12 abc abc

Resultando na expressão transformada:

Nesse caso, com a transposição proposta, para 15 i,j 5 2, obtemos:

[Zt12l = i
[ z;;
zii
o
1 º
o
o Zf
' l
ziJ
o o o
[Z3°12l = o ziJ
1 o
o o ziJ
2
Capítulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas 105

Os circuitos duplos, em geral, apresentam zg


» Z{1 :::: zf.
Desse modo, em termos práticos, muitas vezes levamos em conta apenas o
acoplamento mútuo entre seqüências para a seqüência zero, principalmente no cál-
culo de correntes de curto-circuito envolvendo circuitos paralelos.

zll
circ. 1 °

2 22
circ. 2 °
Figura 2.17: Circuito equivalente de seqüência zero com mútua entre circuitos.

Os resultados anteriores, obtidos para o cálculo de indutâncias de linhas de


transmissão, podem ser estendidos ao cálculo de capacitâncias em linhas com cir-
cuitos múltiplos, sendo que normalmente desprezamos também as mútuas de se-
qüências zero.

EXEMPLO 1

!0m I0m

1 1 1 1 1 1
1 20 cm 1 20 cm 1
1 120 cm 1
~ ~ ~ ~ ~ ~
1 1 1
1 1 1

a b e
o o o o o o

hc: altura média


do condutor

Figura 2.18: Geometria da linha do exemplo 1.


106 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Uma linha de transmissão trifásica (a, b, e), com feixe de dois subcondutores
aéreos, utilizando cabo Drake, apresenta a geometria indicada na figura 2.18:

a) Calcular a matriz de impedâncias série em Q/km, sem a presença de cabo-guarda,


sendo fornecida a resistência a 70 ºC . Considerar a resistividade do solo p =O.
Dados:
Consultando uma tabela de cabos, obtemos para o cabo Drake rmg =O, 0373
pés e convertendo para cm, rmg = 1, 1369 cm .

Dext =1,108 pol,

Rac = 0,08751 E_, para o feixe R = Rac , temperatura a 70 ºC.


km 2

Calculemos o raio equivalente do feixe com dois subcondutores e espaça-


mento e= 20cm:

reqz = .Jrmg · e , reqz = 4,768 cm.

• Impedâncias

z
ªª
= R + 1·m2 x 10-4 ln 2hc '
req=

Z 00 = O, 04375 + JO, 50758 _g_,


km
Capítulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas 107

Zac
.
= J0,06067 -
n .
km

• Matriz de impedâncias

Z= l o, 04375 + J0, 50758


J0,10681
J0,06067
j0,10681
O, 04375 + J0,50758
J0, 10681
_j0,06067
jO, 10681
l
0,04375 + j0,50758
n
km

b) Impedâncias de seqüência positiva e seqüência zero considerando-se a transposi-


ção da linha:

z
2
=ab
-- + -ac-+-bc-
2 2
m 3

. n . n
zp =0,04375+ J0,50758 km, Zm =j0,09143 km,

zp zm zm

Z1 = Zm Zp Zm ,

, n
ZJ = 0,04375 + j0,41615 - ,
km
Zo = Zp + 2zm,

Zo
.
=0,04375+ ]Ü,69045 - .
n
km
Com o solo considerado ideal, obtemos resistências de seqüência positiva e
zero iguais, porém, sabemos que em casos reais essa igualdade não ocorre, quando
p-:t-0.

c) Supondo o condutor e aterrado nas extremidades e sabendo que foram medidas as


108 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

correntes nas fases a e b, I ª = 500L0º A e Ih = 800L -11 Oº A , calcular a queda de


tensão na fase a, admitindo-se a linha sem transposição e comprimento de 50 km.

1a = 500 A , I e = 800L - 110º A

Da terceira linha extraímos a corrente Ic:

0=R(zacla +zbJb +zcJc), C=50 km,

-(z xi +z6 xlb)


Je = ac ª e , ]e = -15 , 711 + J"156 , 836 A ,
Zcc

ou:
lc =157,621L95,72º A,

L1V0 =(z l +zablb +zaJc)R, L1V0 =4,633+ jl 1,181 kV,


00 0

resultando em:

L1V0 =12,102L6,493º kV.

Embora essa situação seja bem incomum, nesse caso mostramos a versatili-
dade do cálculo matricial para se obter informações em condições desequilibradas.
Além disso, é fácil obter as correntes e tensões induzidas em cabos paralelos à li-
nha, por exemplo, a corrente na fase e poderia indicar a corrente que circularia em
um condutor aterrado nas duas extremidades e paralelo à linha de transmissão.

d) Cálculo da matriz de capacitâncias sem o cabo-guarda

Pela tabela, Dext =1,108 pol:


reqc = 5,305 cm,
2h
p 11 = l 7,98ln-,
req
Capítulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas 109

✓(2h) 2 +d 2
p 12 =17,98ln----,
d

✓(2h) 2 +(2d) 2
p 13 =17,98ln-'------,
2d
p 11 =119,12km/µF,p,1 =p22=p33

p 12 = 25,471 km/µF,

p 13 = 14,469 km/µF,

l 19,12 25,471 14,4691


r
P= 25,471 119,12 25,471 km/µF.
14,469 25,471 119,12

Sabemos que:
C=P- 1 •

Resultando na matriz de capacitâncias, sem transposição:


8,852 -1,743
-0,7031
r
'~C= -1,743 9,140 -1,743 nF/km.
-0, 703 -1,743 8,852

Cac = O, 703

a Cab = 1,743 b Cbc = 1,743 c

C0 , =6,407

1 Cb, = 5,655

Capacitâncias em nF/km

Figura 2.19: Rede de capacitâncias para comprimento unitário.


11 O Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Fazendo a transposição, escrevemos:

2p,2 + p13
Pp = P11, Pm = 3 km/nF,

Pm = 21,803 km/nF,
Pp Pm Pm
P= Pm Pp Pm km/µF,

Pm Pm Pp

21,803 21,803]
P=[ll9,12
119,12 21,803 .
119,12

Obtemos a matriz de capacitâncias, com transposição:

8,899 -1,377 -1,377]


[
e= -1,377 s,899 -1,377 ,
-1,377 -1,377 8,899

C 1 =Cp-Cm =10,276 µF/km,

Co =Cp+2Cm =6,145 µF/km.

e) Desconsiderando o efeito do solo, calcularemos a impedância série e a capacitân-


cia da linha, comparando com os valores de seqüência positiva obtidos no item a.
Com os cálculos preliminares:

R ext = -Dext
2-, reqc = \J~
\exte,
1

1
DMG=(d2dd)3 ='efid3 =ifi.d,
reqz = .Jrmg ·e,

DMG = 12,599 m, reqz = 4,768 cm, reqc = 5,305 cm.


Aplicamos as expressões de impedâncias e capacitâncias:

Z=R+ Jcvx2xI0-4lnDMG,
Capítulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas 111

e= 2,r&o e= I
ln DMG , 17,981n DMG

Sem efeito do solo, obtemos os valores:


Z = 0,04375 +.J0,4204 Q/km, C = 10,165 nF/km.

Comparando com os resultados de parâmetros de seqüência positiva, obtidos


dos cálculos matriciais, e considerando o efeito do solo:
Z1 =0,04375+ J0,4162 Q/km, C1 =10,276 nF/km.

Observamos a proximidade dos resultados de impedâncias e capacitâncias,


em linhas transpostas, sem cabo-guarda, quando utilizamos os métodos dos capítu-
los 1 e 2, sem incluir, ou incluindo o efeito do solo, respectivamente, para o cálculo
de parâmetros de seqüência positiva.

EXEMPL02
Na mesma linha de transmissão do exemplo 1, verificou-se a necessidade de
dois cabos-guarda, simetricamente espaçados.

5m 5m 5m 5m

10m 10m

:20cm: :20cm:.,
~ ~
1 1
1 1
a b c
o , o o , o o o
8 8
N N
~ ~
N N h": altura média do condutor
s li
-s::~ s li
-s::~ s h1 : altura na torre do
o o o
N N N cabo guarda
li li li
...i-:1.) ...i-:1.) ...i-:1.) flecha do cabo guarda: 6 m

Figura 2.20: Geometria da linha com a inclusão de dois cabos-guarda.


112 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

A posição dos cabos, assim como suas conexões com as torres, são indicadas
na figura 2.21, sendo um aterrado e o outro isolado.

__-/
torre torre

dados do cabo - guarda


Rac = 5,43!1/km
X 0 (1 pé)=0,84!1/mi

Figura 2.21: Configuração dos cabos-guarda.

a) Obter a matriz de impedâncias série


Na matriz de impedâncias só se considera o cabo-guarda 2, pois o cabo-
guarda 1 não está conectado com a torre.
h1 = 29, 2 m , / = 6 m .

Altura média do cabo-guarda:

• Matriz de impedâncias série incluindo o cabo-guarda 2


A matriz de impedâncias dos cabos condutores permanece a mesma e acres-
centamos a linha e a coluna correspondentes ao cabo-guarda 2:

Zaa Zab Zac Zag

Zba 2 bb 2 bc Zbg
Z=
2 ca 2 cb 2 cc Zcg

Zga Zgb zgc Zgg

• Cálculo do rmg do cabo-guarda, conhecendo-se a reatância de um pé Xª

X a = 0,84 .O/mi.

Aplicando a fórmula de reatância de um cabo para afastamento de um pé:


f ___________C~ap._z_'tu_lo_ 2_._C_á_lc_u_lo_M.
_ at_rz_·c_ia_l _de_ _Pa_r_â_m_et_ro_s_d_e_L_in_h_a_s _ ! _!3
i
!

1
X 0 = 2,022xl0-3 x60ln-,
rmg

resultando em:

rmg=
expC,022x~~-3 x6o),

rmg = 0,000984 ft, ou


rmg = 0,03 cm.
Obtemos a complementação da matriz de impedâncias série:

_ . _7 2hg
zgg -rg + 1mx2xl0 ln--,
rmg

Zgg=5,43+j0,9071 - ,
n
km

n
Zag = }0,0828 km,

Zbg
.
=J0,1388 - ,
n
km

0,0438+ J0,5076 J0, 1068 J0,0607 J0,0828

Z=
J0, 1068 0,0438+ J0,5076 J0,1068 J0, 1388 n
J0,0607 J0, 1068 O, 0438 + J0, 5076 J0,1388 km
J0,0828 J0, 1388 J0,1388 5, 43 + J0, 9070
114 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

b) Considerando a linha sem transposição, determinar a mútua entre as fases a e b


após a eliminação dos cabos-guarda.
Para se obter a mútua deve-se eliminar o cabo-guarda, fazendo a redução de
Kron, mas apenas para o elemento z06 :

z~b = O, 0021 + JO, 1065 Q/km mútua entre fases a e b.

Observamos, após a eliminação do cabo-guarda, o surgimento de uma com-


ponente resistiva na impedância mútua entre fases.

2.5 Cálculo Computacional de Parâmetros


de Linhas de Transmissão

2.5.1 Cálculo da Impedância Série (Matriz de Impedâncias)

No cálculo da impedância série consideramos o efeito das variações de fre-


qüências na passagem da corrente pelos condutores, chamado de efeito pelicular, e
também no seu retomo pela terra. O estudo das correntes com retomo pela terra e
sua influência para o cálculo de parâmetros resulta nas correções de Carson [4].

i
.....Q ... d
1, ' , ,
= 2r-l
11 ,
1 \ ........ •
,, d ,, J
: \ ij ''(v-
i 1
1 1

+\
' u ,D hJ
: \ ij
1 1
1 1
1 1

1
I◄
1 1
xiJ '1 1'
\ 1
1 1
1 1
\1,,
6

Figura 2.22: Disposição espacial dos condutores e método das imagens.


Capítulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas 115

hi: altura do condutor i em relação ao solo,


dij : distância entre os condutores i e j,
Du : distância entre o condutor i e a imagem do condutor j,
ri : raio do condutor i,

</Ju: ângulo,
xu : distância horizontal entre os condutores i e j,
OJ = 2TC f
rad/s.
O cálculo da reatância série de uma linha de transmissão em uma primeira fa-
se supõe a terra como um condutor perfeito, de tal modo que podemos aplicar o
método das imagens. Em uma segunda fase são introduzidas as correções de Carson
e o efeito pelicular [3].
A matriz de impedâncias série é composta pelos seguintes elementos em Q/km.
Reatâncias próprias (elementos da diagonal):

µo = 2xl0-4 H/km.
2TC

Reatâncias mútuas:

zij
µ O D..lJ L'.txije J,
= L'.trije + J· [ úJ-ln-+
2,r d ..
lj

µ 0 : permeabilidade magnética do ar.


0-int. : resistência interna do condutor.
xi-int. : reatância interna do condutor.
Llre : correção de Carson da parcela resistiva.
Lixe : correção de Carson da parcela indutiva.
Llre e Lixe são as correções de Carson, que introduzem o efeito do retomo
pela terra. As correções são função do ângulo </Jij ( <jJ = O para termos próprios e
<jJ = <Pu para os termos mútuos). Essas correções são também função da variável a,
dada por:

a= 4tr✓5 xJ0-4 D{;;.


f freqüência (Hz).
116 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

p: resistividade do solo (.Qm).


D é igual a 2h; para as impedâncias próprias e igual a Dij para as impedâncias
mútuas.
As correções L1rc e Lixe são apresentadas na forma de séries infinitas, arran-
jadas para facilidade do cálculo computacional, e podem ser colocadas nas formas
abaixo, dependendo do valor do parâmetro a.
a) a::; 5 (freqüências não muito elevadas).

7r / 8-b1a cos </J+b2 [ ( c 2 -ln a) a 2 cos 2</J+<j}a 2 sen 2</J ]+b3a3 cos 3</J

Ltrc =4cvx1 o-4 -d4 a 4 cos 4<jJ-b5a5 cos 5<jJ+b6 [ ( c6 -ln a) a 6 cos 6</J+<j}a 6 sen 6</J ]+
+b7 a 7 cos 7</J-d8a8 cos 8</J+ ...

1
2(O, 6159315-ln a )+b1a cos<jJ-d2a 2 cos 2</J+b3a3 cos3</J
Lixe =4cvxl 0-4 -b4 [ ( C4 -ln a) a4 cos 4</J+<j}a 4 sen 4</J ]+b5 a5 cos 5<jJ-d6 a6 cos 6

+b7 a 7 cos 7 </J-b8 [ ( C8 -ln a) a 8 cos 8</J+</Ja 8 sen 8</J ]+ ...

Os coeficientes b;, e;, d; , são calculados com fórmulas recursivas e prepara-


dos previamente em tabelas.

{2 para m
b1 = V , d"ice impar,
,
6
b2 =-1 para m
, d"ice par,
16

b.
l
=b.1-2 i(i+2)
sinal com os valores iniciais:

sinal= ± 1 que muda de quatro em quatro termos i = 1, 2, 3, 4 sinal= l; i = 5, 6, 7,


8 sinal = -1, etc.

1 1
C· =C · 2 +-+--
1 /- i i+2 '

C2 = 1, 3659315 ,
Capítulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas 117

As funções trigonométricas são obtidas conforme a figura 2.22:


h-1 +h•J X··
cos</Ju = D- - e sen </Ju = - lj .
Dlj..
IJ

b) a> 5 (freqüências elevadas).

Para o caso de a> 5, a expansão em série melhor ajustada é:

L1rc =( cos </J _ ✓2 cos 2</J + cos 3</J + 3 cos 5</J _ 4 5 cos 7 </J) 4m x 1o-4 Q/km,
a a2 a3 as a7 ✓2

A
LJX
e =( cos </J _ cos33</J + 3 cos5 5</J _ 45 cos- 7 </J ) 4cv x{;;10-4 Q/k
m.
a a a a -v2

ri-int. e Xi-int. podem também levar em conta o efeito pelicular [3].


O cálculo da resistência interna é mais importante do que o cálculo da reatân-
cia interna, que representa uma pequena parcela da reatância total. A determinação
mais atual destes parâmetros é feita para os condutores com alma de aço (ACSR)
considerando uma coroa circular de alumínio em torno da alma de aço, sendo os
condutores circulares um caso particular destes condutores tubulares.

Figura 2.23: Condutor tubular.

q e r são respectivamente o raio interno e externo desta coroa.


A expressão para o cálculo dos parâmetros internos do condutor é dada por:

1i-int. + Jml;-int. = ._!_mr( 1-s 2 ) (ber mr + Jbei mr) + <p(ker mr + j kei mr)
r;c 12 (ber' mr + jbei' mr) + <p(ker' mr + jkei' mr) ·

na qual:

ber' mq + j bei' mq
<p = ker' mq + jkei' mq'

r;c: resistência em corrente contínua,


118 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

q 2 1 2 s2 8JrX 10-4 f
s =- ; (mr) = k - -2 ; ( mq) = k - -2 ; k = , µr .
r 1-s 1-s rCC

E no caso dos materiais não magnéticos, como os condutores de alumínio e


cobre, µr = 1 .
As funções de Bessel modificadas ·ber( ), ker( ), bei( ), kei( ), ber' ( ), etc ,
etc., são calculadas com aproximações polinomiais, havendo também os aplicativos
matemáticos que contêm estas funções.
Comentamos ainda que o efeito das correções de Carson pode ser aproxima-
damente calculado com as expressões da referência [5], que introduz a distância
complexap.

2 ;; = ri-int. + J·( OJ-ln


µ0 - p + Xi-int. J,
2h;-+-
2,r r-
'

A referência [3] comenta que em casos estudados os resultados obtidos com


esta fórmula aproximada e com as de Carson apresentam uma diferença máxima de
9% na faixa de freqüências de 100 Hz a 1OkHz, sendo inferior para outras freqüên-
cias, podendo ser considerada uma boa aproximação.

2.5.2 Cálculo da Matriz de Admitâncias Capacitiva

Desprezaremos no cálculo as condutâncias para a terra de uma linha de


transmissão e deste modo o problema é dirigido para a obtenção da matriz de capa-
citâncias.
Inicialmente montamos a matriz dos coeficientes de potenciais de Maxwell.
No cálculo destes coeficientes supomos a terra como um condutor perfeito e
com potencial nulo, e deste modo aplicamos diretamente o método das imagens.
Os termos da diagonal são expressos por:

1 2h-
P-11 = --ln-1 '
2Jrêo r;
Capítulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas 119

em que:

_l_ = 17,975109xI06 km/F [3], usando a velocidade da luz 299.792,5 km/s.


21CEo

Escrevemos para os termos fora da diagonal:

IJ1 D- -
PiJ=--ln-.
21CEo d lJ--

Sendo P a matriz dos coeficientes de potenciais de Maxwell,

P = [ fí,;], 1~ i, j ~ n.

n: número de condutores.
Obtemos a matriz de capacitâncias C pela inversão de P:

A matriz de capacitâncias C tem a estrutura de uma matriz de admitâncias, na


diagonal temos a soma das capacitâncias incidentes no nó e fora da diagonal as
capacitâncias entre os nós, com sinal trocado.

EXEMPL03
Faremos a seguir um exemplo de cálculo de parâmetros usando a rotina Line
Constants do programa ATP [7]. Os dados de condutores e a geometria da linha de
transmissão são apresentados a seguir:
• Frequência: 60 Hz.
• Cabo Condutor:
636 MCM, ACSR
Formação: 26/7, Grosbreak.
Diâmetro externo: 2,516 cm .
Diâmetro interno: 0,927 cm.
Relação T/D: 0,3156, ou seja, T/D= (r-r;)/(2r).
Resistência AC: 0,0922 Q/km.
Flecha: 17 m.
Cabos Pára-Raios:
Aço, EHS, 5/16", classe B.
Diâmetro: 0,794 cm.
Resistência AC: 4,9 Q/km.
Flecha: 15 m.
120 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

• Cabos Pára-raios Aterrados (através de operações matriciais podemos eli-


minar os cabos pára-raios aterrados).
Resistividade do solo: 1000 Qm.
Geometria:

Figura 2.24: Geometria da torre.

Considerando linha de transmissão não transposta temos a matriz de impe-


dâncias em Q/km (apresentamos apenas a parte triangular inferior, pela simetria):

[
0,21309+ J0,90263
[R+ jwL]= 0,12160+ J0,42877 0,21606+ J0,90126
l.
0,11990+ J0,37722 0,12160+ J0,42877 0,21309+ J0,90263

[
0,29596
J[wC]=J -0,047818 0,30446
-0,018609 -0,047818 0,29596
l
Matriz de susceptâncias em S/km (triangular inferior):

x10- 5 .

Considerando a linha perfeitamente transposta (tomamos a média dos ele-


mentos da diagonal e fora da diagonal, também a média dos seus elementos), obte-
mos os resultados a seguir, usando as expressões (2.19), (2.33) e (2.34):
Seqüência zero:

R0 + JX0 =0,45613+ jl,7253 Q/km.

jWCo = J0, 2263 x 1o-5 S / km .


C0 =5,9 nF/km.
-- Capítulo 2. Cálculo Matricial de Parâmetros de Linhas 121

Seqüência positiva:

R1 + JX 1 = O, 09304 + JO, 49057 Q/km.

jmC1 = J0,33687xl0- 5 S/km.

C 1 = 8, 94 nF /km.

2.6 Referências Bibliográficas

(1] Electric Power Research Institute. Transmission Line Reference Book: 345 kV
and Above. 2. ed. Palo Alto, 1982.
[2] El-Hawary, M. E. Electrical Power Systems. Piscataway, IEEE Press, 1995.
[3] Dommel, H. W. Electromagnetic Transients Program Reference Manual:
EMTP Theory Book. Portland, BP A, 1986.
[4] Carson, J. R. Wave Propagation in Overhead wires with Ground Return. Bell
System Technical Joumal, vol. 5, pp.539-54, 1926.
[5] Deri, A.; Tevan, G.; Semlyen, A.; Castanheira, A. The Complex Ground Re-
turn Plane - A Simplified Model for Homogeneous and Multi-layer Earth Re-
turn. IEEE Transactions on Power Apparatus and Systems, vol. 100, n. 8,
pp.3686-93, Aug. 1981.
[6] Zanetta, L. C. Transitórios Eletromagnéticos em Sistemas de Potência. São
Paulo, Edusp, 2002.
[7] ATP: Alternative Transients Program Rufe Book. Leuven, K.U. Leuven EMTP
Center, 1987.
CAPÍTULO 3

RELAÇÕES ENTRE TENSÕES E CORRENTES EM UMA


LINHA DE TRANSMISSÃO

3.1 Introdução
Neste capítulo serão estabelecidas as relações fundamentais entre tensões e
correntes em uma linha de transmissão. A formulação matemática mais completa,
baseada em parâmetros distribuídos, permite o equacionamento das ondas trafegan-
tes em uma linha de transmissão. A partir desta formulação são obtidos os modelos
mais precisos de representação da linha, considerados aqui no cálculo do regime
permanente senoidal de redes elétricas.
Com o conhecimento destas relações é possível estabelecer modelos na forma
de quadripolos, assim como modelos equivalentes na forma de circuitos n, exatos
ou aproximados, que são básicos na representação de linhas para avaliação de fe-
nômenos elétricos em regime permanente senoidal.
São ainda tratados neste capítulo aspectos como a compensação reativa, deri-
vada e série, assim como algumas limitações na transferência da potência elétrica
entre as extremidades de uma linha de transmissão. O assunto é bem amplo, ficando
o aluno ciente de que os conceitos fundamentais aqui desenvolvidos merecem um
aprimoramento, no caso de avaliações da compensação reativa em sistemas reais.

3.2 Propagação de Ondas Eletromagnéticas em urna


Linha de Transmissão

Consideremos uma linha de transmissão com parâmetros distribuídos R', L'


e C' por unidade de comprimento, representados na figura em segmentos de linha
com comprimento L1x . O equacionamento de propagação de ondas, aqui reproduzi-
do, encontra-se descrito em referências que tratam da teoria de ondas e linhas.
Para a variação de tensão longitudinal L1v ( x, t) em um trecho L'.1x , conside-
ramos os parâmetros R'L1x, L'L'.1x e C'L'.1x concentrados nesse trecho e escrevemos:
124 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

ai(x,t)
v( x,t)-v(x+ L1x,t) = R'L1xi(x,t) + L' L1x - d-t -

---
L1v (x, t)

R'L1x l'L1x

i -
i(x,t) -
i(x + L1x,t)

v(x,t)

L1x
C'Llxl} v(x+Llx,t)

L1x
r
x- x+L1x X +2L1x
Figura 3.1: Propagação de ondas em uma rede genérica.

Analogamente para variações de correntes i(x,t):

, dv ( x + L1x, t)
i ( x,t ) -i ( x+L1x,t ) =C L 1 x - - - -
ôt
Aplicando a transformada de Laplace, supondo condições iniciais quiescentes:

V ( x, s )- V ( x + L1x, s) = R' L1xl ( x, s) + sL' L1xl ( x, s) ,

J(x,s)-J(x + L1x,s) = sC'L1xV(x + L1x,s).

Reescrevemos as duas equações anteriores:

V(x+L1x,s)-V(x,s)
- -------- --( R , +sL ') I ( x,s ) ,
L1x

!(x+L1x,s) , ( )
- - - - = - s C V x+L1x,s .
L1x

Passando ao limite L1x ➔ O, obtemos as derivadas parciais em relação à va-


riável x:

ôV(x,s)
- --- --( R, +sL ') I ( x,s ) , (3 .1)
dx

é)J (x,s) __ , ( )
dx - sC V x,s . (3.2)
Capítulo 3. Relações entre Tensões e Correntes em uma Linha de Transmissão 125

Derivando novamente a fórmula (3 .1) em relação a x:

a v(x,s) ( , ') ªJ (x,s)


2
--a-x2- - = - R + sL _ a_x_ '
e usando a expressão (3.2), obtemos:

o2
-- V(x,s) (,
2 - = R +sL
- ')( sC ') V ( x,s ) . (3.3)
ax
Temos em (3.3) uma equação de propagação de ondas de tensão e seguindo
um procedimento análogo, obtemos uma expressão semelhante para propagação de
ondas de corrente,

021 (:,s) =( R' + sL')( sC')J ( x,s) (3.4)


ax
A solução geral da equação (3.3), ainda no domínio da freqüência, pode ser
proposta na forma:

V ( x,s) = v+ ( O,s )e-r(s)x + v- ( O,s )e+r(s)x, (3.5)

na qual Vcts) e Vco,s) são expressões transformadas de funções temporais, conheci-


das no ponto x = O , associadas às ondas progressivas e regressivas.
Definimos a constante de propagação r( s) :

y( s) = ✓( R + sL') sC' .
1
(3.6)

O mesmo procedimento anterior pode ser repetido para correntes, resultando em:

(3.7)

Uma interpretação mais simples da solução geral apresentada em (3.5) pode


ser feita no domínio do tempo e para isto desprezaremos as perdas, supondo R 1 = O .
Reescrevemos as equações (3.3), (3.4) e (3.6):

o2 V(x,s)_
- --
2 - -s
2 1 1
LCV x,s,
( )
(3.8)
ax
o
2 f ( X, S) _ 2 1 , (
- -2- -S L CJ
)
x,s ,
ax
126 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

y(s) =s✓L'C'.
Chamando a velocidade de propagação:
1
V=---
✓ L'C''

temos:
s
r(s)=-.
V

v+ (O, s) representa a transformada de Laplace F ( s) de uma função f ( t) , conhe-


cida na origem (no ponto x = O), a partir da qual obtemos a onda de tensão em um
ponto x qualquer da linha.
Obtemos a expressão (3.5) simplificada:

(3.9)

As duas parcelas da equação (3.9) são solução de (3.8). Para obtermos a solu-1
ção no tempo desta equação aplicamos a transformada inversa de Laplace, lembran- l
do da propriedade de translação no tempo: i

Antitransformando a expressão (3.9),

v(x,t)=v+( 0,1-:)+v-( O,t+ :), (3.10) 1


na qual v + é uma onda que se propaga no sentido positivo de x ( onda progressiva) e l
v- é uma onda que se propaga no sentido negativo de x (onda regressiva). A tensão
total é obtida pela superposição das duas componentes.
Analogamente para correntes, escrevemos:

Resultando na solução no domínio do tempo:


Capítulo 3. Relações entre Tensões e Correntes em uma Linha de Transmissão 127

Nesse caso particular de linha monofásica de transmissão aérea, sem perdas,


usando as expressões de indutâncias e capacitâncias monofásicas, obtidas nos capí-
tulos anteriores, temos a velocidade de propagação:

v= Wo:::::
1
µo&o
300.000 km/s,

que é a velocidade de propagação da luz. Detalhes adicionais sobre a propagação de


ondas eletromagnéticas no domínio do tempo em linhas de transmissão, assim como
de análises das componentes progressivas e regressivas, podem ser encontrados em
diversas referências sobre o assunto.

3.3 Impedância Característica de uma Linha de Transmissão

Estabeleceremos uma relação fundamental entre tensão e corrente em uma li-


nha de transmissão. Substituindo a solução geral da tensão (3 .5) em (3 .1) obtemos:

1 (x,s) =- R' ~ sL' (-r( s) v+ (O, s) e-r(s)x + r( s) v- (O, s) er(s)x)


ou:

(3 .12)

Lembrando da expressão (3.6), substituímos y(s) em (3.12):

I (x,s) = l (v+ (0,s )e-r(s)x -V- ( 0,s )er(s)x), (3 .13)


Zc(s)
na qual Zc(s) é a impedância característica da linha de transmissão, dada por:

R' + sL'
(3 .14)
sC'

Mais detalhes sobre propagação de ondas eletromagnéticas no domínio do


tempo podem ser encontrados na referência [7].

3 .4 Regime Permanente em Linhas de Transmissão

As equações de propagação de ondas, no domínio da freqüência, são formal-


mente as mesmas no domínio do tempo, bastando calcular as expressões com a
128 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

transformada de Laplace no ponto s = jOJ, para obtermos o regime permanente


senoidal. Para uma linha com comprimento infinito, fazendo s = jOJ na expressão
(3.3), obtemos no ponto x:

Simplificando a notação, definimos a constante de propagação y, em uma


dada freqüência s = jOJ, pela expressão:

r = ✓( R' + jOJL ') (JwC') . (3.15)

Temos ainda a impedância característica para s = jOJ:

(3 .16)

na qual Z' = R' + jwL' e Y' = jwC'.


Reescrevemos a expressão (3.5) apenas em função da variável x, em regime
permanente senoidal:

na qual V(x) é o fasor da tensão em um ponto x da linha de transmissão. Nessa


expressão, identificamos a parcela progressiva,

Ji+ ( x) = Ji+ (O) e-rx ,


assim como a parcela regressiva,

Em regime permanente senoidal, obtemos a expressão da tensão no tempo


pela equação:

V(X, t) = ✓2 Re ( JÍ (X) ejóJt ) .

Para o cálculo em regime permanente, com s = jOJ, separemos a constante de


propagação y em duas parcelas, uma real e outra imaginária:

r=a+ J/3, (3.17)

na qual:
Capítulo 3. Relações entre Tensões e Correntes em uma Linha de Transmissão 129

a: constante de atenuação,
/3 : constante de defasagem.
Com a finalidade de interpretarmos essas constantes, tomemos uma · compo-
nente da solução da equação de onda, por exemplo, a parcela progressiva, em uma
linha com comprimento semi-infinito. O fasor da tensão aplicado na origem, x = O ,
é dado por v+
(O), e assim:
V+ (X) = V+ (Ü) e-yx .
Tal expressão nos informa que, conhecido o fasor da tensão cossenoidal na
origem, v+ (O)L 0, podemos obter o fasor da tensão em qualquer ponto x da linha
de transmissão, por meio do operador complexo e-rx:

V(x) = v+ (O) L 0 e-rx .


Ou, chamando v+ (0)L 0 = Vei 8 :
V(x)=Ve 10 e-rx,

que é equivalente a:

v(x) = ve-ax e1(o-f3x)

No domínio do tempo, obtemos a tensão na origem:

v(O,t) = ✓2V cos( mt + 0).

No ponto x:

V ( x, t) = ✓2Ve -ax cos ( wt + 0 - /3 x) .


Para um observador que se desloca com uma velocidade:

(3.18)

o argumento do cosseno se mantém inalterado, pois mt = f)x e v l é chamada de


velocidade de fase. No caso particular de uma linha sem perdas temos:
w
a=O e /J=-.
vf
No estudo do regime permanente estaremos analisando ondas senoidais esta-
cionárias de tensão e corrente. À exceção de alguns casos especiais, nos quais real-
130 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

çaremos o módulo e a fase, as grandezas fasoriais de tensão V e corrente / estarão


simplificadamente representadas por V e / .

3.4.1 Modelo de Linhas de Transmissão com Comprimento Finito

Voltemos ao nosso objetivo inicial, que é o de formular um modelo para uma


linha de transmissão com comprimento finito, em regime permanente senoidal. Para
isso retomemos as equações (3.5) e (3.13), simplificando ainda um pouco mais a
notação fasorial de tensões e correntes:

(3.19)

/ (X) =_1 ( V+ e -yx - v- e +yx ) (3.20)


zc
Para a linha de comprimento finito, conhecemos as condições de contorno ,
nas extremidades, dadas pelos fasores de correntes e tensões.
Suponhamos uma linha com comprimento finito, na qual V,1. e /_1. são as ten-
sões e correntes no lado emissor, ou lado fonte e Vr e Ir são as tensões e correntes
no lado receptor.

emissor receptor

1 -

( vs
Is
-)
I,.

V,.

Figura 3.2: Linha com dois terminais.

No lado emissor, para x =O, temos as condições de contorno:

Então:

(3 .21)

1 =---
v+ v-
s ze ze '
Ca itulo 3. Rela ões entre Tensões e Correntes em uma Linha de Transmissão / 31

ou:

(3.22)

Somando-se (3 .21) com (3 .22), obtemos a componente progressiva v+ :


v+ = V:1• + ZJs .
2

A identificação da tensão v+ com ondas trafegantes é imediata, pois se con-


, siderarmos a linha com comprimento semi-infinito, ao aplicarmos uma onda pro-
gressiva Vs no início, obtemos:

vs = ZCIS'
: e portanto:

V += 2Vs
2
= V,\"

Supondo a linha com comprimento semi-infinito, temos V:1. se propagando


indefinidamente pela linha, com as atenuações de e-yx , como vimos anteriormente.
Tal formulação tem correspondência com o método das características, muito utili-
zado no estudo de propagação de ondas em linhas de transmissão.
Agora, subtraindo-se (3.22) de (3.21), obtemos:

v- = V:1• - ZJ.1·
2

Reescrevemos (3.19):

V ( x·) _
- 1 [( V:~ + ZJ .1. ) e-yx + ( V:1. - Z J.1. ) e+yx] .
2
Reagrupando os termos nas variáveis V:1• e /_1. , obtemos:

que pode ser reescrita como:

V (x) = cosh (rx) Vs - Zc senh (yx) /_1., (3.23)

pois sabemos que:


132 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

erx -e-yx eyx +e-yx


senh(yx)= - - - e cosh(yx)=-- - ,
2 2
em que a constante de propagação y , já definida anteriormente, é um número com-
plexo r=a+ J/J.
No lado receptor, para x = f. , temos outras condições de contorno:

que, substituídas em (3.23), fornecem:

(3.24)

Reescrevendo a fórmula (3.20):

I(x)= 2~ [U':1·+ZJ.1-)e-yx -(i,,:~ -ZJs)erx J'


e

ou:

senh(yx)
I(x)= - - - Vs +cosh(yx)Is.
zc
Desse modo, novamente no ponto x = e, escrevemos:
senh(yf.)
Ir = - z i,,:1. + cosh (yf. )ls. (3.25)
e

Colocando-se (3.24) e (3.25) na forma matricial, obtemos:

r
i,,:\.
/ _1.
l
Ou, na forma mais tradicional, invertendo-se a matriz:

j= cosh ( re)
senh(ye)
---
zc
zc senh ( yf )lr V,.
cosh(ye) Ir
j , (3.26)
Capítulo 3. Relações entre Tensões e Correntes em uma Linha de Transmissão 133

pois sabemos que:

[cosh(ye)] 2 -[senh(ye)J 2 =l

A expressão (3.26) condensa as relações fundamentais entre os fasores de


tensões e correntes no início e fim de linha, a serem empregadas no cálculo de ten-
sões e correntes em linhas de transmissão.

3.4.2 Quadripolo Equivalente

Com base na expressão (3.26), estabelecemos o modelo de um quadripolo


equivalente de uma linha de transmissão, definido pelas constantes A, B, C e D:

A= cosh(yf),

B = Zc senh(ye),

C = senh(ye)
ze '
D = cosh ( ye) .

Observamos que dadas as condições de simetria da linha de transmissão, ob-


temos A= D.
Temos as relações entre tensões e correntes em uma linha de transmissão
com comprimento finito e, na forma de um quadripolo:

[Vs] [A B] [Vr]
I,\' = e D Ir . X
(3.27)

Para linha em vazio, ou seJa, sem carga no lado receptor, portanto com
Ir= O, temos:

O termo A representa a relação de tensões entre início e fim de linha, ou o in-


verso do ganho de tensão em vazio:

A= V:1•.
V,.

A corrente no início da linha, para linha em vazio, é dada por:


134 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Para linha em curto-circuito no terminal receptor, com Vr =O, temos:


v_\. = Blr,
portanto:

B= Vs.
!,.

Finalmente, para a linha em curto, sabemos que:

ls=Dlr,

3.4.3 Modelo ,r Equivalente de uma Linha Genérica (Linha Longa)

Vejamos agora como estabelecer correspondências entre tensões e correntes


por meio de um modelo n composto por uma impedância série e duas admitâncias
para a terra, no caso de uma linha genérica. Esse modelo, normalmente, é emprega-
do para linhas longas, mas pela sua generalidade pode ser usado para qualquer linha
de transmissão. Nesse modelo, válido para uma dada freqüência, representam-se os
parâmetros indutivos e capacitivos de modo exato, sem qualquer aproximação, sen-
do também conhecido como modelo 1t exato.

JS Ze 1,.
~ ~

}í=Ye/2 J v, Y2 =Ye/2
J
Vr

Figura 3.3: Modelo 7C equivalente.

Chamemos:
Ze : impedância série exata,
}í : admitância para a terra do lado 1,
Capítulo 3. Relações entre Tensões e Correntes em uma Linha de Transmissão 135

Y2 : admitância para a terra do lado 2.


Para uma linha, sem compensação reativa, por razões de simetria, sabemos
que }í = Y2 = Ye /2 .
No entanto, trabalharemos inicialmente de modo genérico com
*
}í Y2 , que facilita o entendimento de linhas compensadas com reatores, que po-
dem apresentar esta assimetria em um modelo equivalente.
Da figura 3.3, equacionando para a tensão ~\-, podemos estabelecer a igual-
dade:

ou:

(3 .28)

Comparando com a primeira linha da equação (3.27), identificamos:


(3.29)

(3.30)

e desse modo obtemos:

A-I
Y2=-- (3 .31)
B

Equacionando para a corrente Is, temos:

(3 .32)

Substituindo Vs da expressão (3.28) em (3.32):

l.1· = }í [ (1 + Z e Y2 ) Vr + Z e!r ] + / r + Y2 Vr ,
/_1. =(}í + Z e}í Y2 + Y2 ) Vr + (1+ Z e}í ) / r .
Comparando com a segunda linha da equação (3.27):

(3.33)

(3.34)

Da equação (3.34) obtemos:

D-1
}í = - - (3.35)
B
136 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

As expressões genéricas (3.30), (3.31), (3.33), (3.34) e (3.35) serão úteis,


posteriormente, na análise de alguns casos particulares de quadripolos. Essas ex-
pressões são também muito interessantes para fazermos a conversão do modelo na
forma de quadripolos para a forma de matriz de admitâncias.
No caso de linhas de transmissão, concentramos metade da admitância em
cada extremidade, com a finalidade de obtermos o modelo n da linha. Desse modo,
chamemos:

(3.36)

Das relações anteriores, (3.31), (3.35) e (3.36), é imediato que:

A=D=l+ zeye. (3 .37)


2

Das expressões (3.33) e (3.36), escrevemos:

(3.38)

Das equações (3.30) e (3.37) temos:

Ye cosh ( yf) - 1 A - l
=-----= (3.39)

Como sabemos:

[ cosh (ye)] 2 -[senh(yR)] 2 =l,

então:

Lembrando que definimos:

C = _se_nh_ (_y _e)


zc '
multiplicando o numerador e denominador dessa expressão por senh ( ye), escre-
vemos:
Capítulo 3. Relações entre Tensões e Correntes em uma Linha de Transmissão 13 7

[senh
C=-=------
(rl)J2
B

Verificamos desse modo que:

(3.40)

Observamos que o modelo de quadripolos da linha de transmissão está com-


pletamente definido, com a obtenção das constantes A e B.

Com relação ao modelo 1t equivalente, podemos estabelecer algumas rela-


ções e para tanto chamemos os valores totais de impedâncias e admitâncias da linha
de transmissão por:

z =z'e, (3.41)

Y =Y'e. (3.42)

Sabemos que:

Multiplicando-se o numerador e o denominador por Z = z'e, obtemos:


z'e [Z'
Ze = z'e fysenh(ye).

Como:

escrevemos a expressão da impedância série do circuito ,r exato, em função da


impedância Z, multiplicada por um fator de correção:

senh (ye)
Ze=Z - - - - (3.43)
ye
138 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Da equação (3.39):

Ye = cosh ( re) - 1 1
2 senh ( ye) Z e

Usando a identidade:

~nh - (rf.)
2
cosh(ye)-1
= ----- ,
senh(ye)

verificamos que:

ye ~ tanh(1) _Jf,'
- , tanh
(re) .
2 Z 2
I

Multiplicando e dividindo essa expressão por fre , como:


Rfre r
Jz' Re- re'
obtemos:

ye =I._tanh(yP)
2 yP 2 '

tanh( ye)
Ye =Y 2 (3.4~
2 2 yf
2

Com as expressões (3.43) e (3.44), encontramos formas alternativas de se ol


ter o circuito 1t exato de uma linha de transmissão.
Como a impedância característica e a constante de propagação são númen
complexos, é interessante avaliarmos suas fases, quando estamos trabalhando co
linhas de transmissão na freqüência de 60 Hz.
Denominamos:

Y' = mC' L90º .


Capítulo 3. Relações entre Tensões e Correntes em uma Linha de Transmissão 139

Em linhas de alta tensão, como R' «X', observamos que o ângulo <p é ele-
vado, situado freqüentemente na região acima de 70° .
Desse modo, no cálculo da constante de propagação, normalmente encontramos:

que em condições normais apresenta fase próxima de 90º, ou seja, a« /3.


No cálculo da impedância característica,

Zc--✓ IZ'I, Lq,-90'


---,
me 2
com uma parte imaginária bem menor do que a parte real, ou seja, com a fase leve-
mente negativa.
Com o modelo de quadripolos, verificamos uma característica interessante,
quando a carga apresenta uma impedância igual à impedância característica Zc,
Nesse caso, conhecemos a relação entre a tensão e a corrente no lado receptor,

Vr =ZJr.

Calculemos a tensão V,", em um ponto x qualquer, ou até mesmo, sem perda


de generalidade, no ponto x = O, em que V," = V,1. ,

V,1. ] [cosh ( y.e) Zc senh ( yl!)l ZJr


[
Is
= senh ( y.e)
zc
cosh(ye) x[ l, ] ·

Calculando a relação entre Vs e I_1. no início da linha encontramos novamente


o valor de Zc , pois:

v_1. = Irzc[cosh(y.e)+senh(yt)] =Z
(3.45)
Is Ir[cosh(ye)+senh(yf)] e•

ou seja, temos a mesma relação entre tensão e corrente ao longo de toda a linha de
transmissão, pois o ponto x é genérico, resultando no início da linha:

Observamos que a igualdade V:1. = ercvr ou Vr = e-rcv:1. só é válida para uma


onda progressiva em uma linha de transmissão com comprimento infinito, sem re-
flexões.
140 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Como vimos, a impedância característica calculada na freqüência de 60 Hz,

R'+ JmL'
ze =
JmC'

é número complexo, com a fase levemente negativa, apresentando uma pequena


parcela reativa. No caso particular de linha ideal, sem perdas, a impedância caracte-
rística apresenta um comportamento puramente resistivo, dado por:

(3.46)

Nesta expressão, Z 0 é denominada de impedância de surto, caracterizada por


uma resistência, muito utilizada na interpretação de fenômenos de alta freqüência.
Percebemos que se admitirmos uma linha semi-infinita ideal, composta de indutores
e capacitores puros, ou uma linha ideal finita alimentando uma carga Z 0 ,a potência
absorvida por esta linha é puramente ativa. Das expressões (3.45) e (3.46), verifi-
camos que V 2 mC'L1x = J 2 mL'L1x, ou seja, a cada incremento L1x do comprimento
de linha a potência reativa capacitiva gerada é cancelada pela potência reativa indu-
tiva absorvida.

3.4.4 Modelo 1C Nominal

Podemos, com o modelo 7t exato, estabelecer algumas relações mais simplifi-


cadas, ainda com uma boa precisão, admitindo algumas restrições.
Para freqüências na faixa de 50 a 60 Hz, considerando linhas médias, com
comprimentos na faixa de 80 a 240 km, sabemos que:

Nessas condições, temos aproximadamente:

tanh ( ~R)
senh ( yf)
------'-~le----~1
rR re
2

e portanto:
Capítulo 3. Relações entre Tensões e Correntes em uma Linha de Transmissão 141

y y
_!!_ =- e ze = z .
2 2
Essa faixa de 80 a 240 km é apenas orientativa e não deve ser entendida co-
mo uma restrição muito rígida. Nesse caso, é fácil construir o quadripolo corres-
pondente ao modelo rr nominal:
ZY
A=D=l+- (3.47)
2 '

B=Z, (3 .48)

C= :(2+ zn (3 .49)

z
-----r--------;C]t-------r----

rl rl
21 21
Figura 3.4: Modelo 7t nominal.

3. 4. 5 Modelo para Linhas Curtas

~ (
- z
- )~
---,7777--,------------

Figura 3.5: Modelo para linha curta.

Para linhas com comprimentos inferiores a 80 km, a 60 Hz, é razoável des-


prezar as capacitâncias (admitâncias) para a terra, ficando o modelo apenas com
uma impedância em série. Nesse caso, fazendo Y =O e analisando as equações
(3.47), (3.48) e (3.49), é imediato que:
142 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

A=D=l, (3.50)

B=Z, (3 .51)
C=O. (3.52)

3.4. 6 Modelo T Nominal

-Is Z /2
c::::J
Z /2
c::::J -
!,.

( V,
y 1 V, )

/$ /
I
Figura 3.6: Modelo T de linha de transmissão.

Usando a figura 3.6, equacionamos:

Reagrupando os termos em tensões e correntes:

resultando em:

Escrevendo as expressões de ~1. e Is em função de V,. e I,., na forma matri-


cial, temos:
Capítulo 3. Relações entre Tensões e Correntes em uma Linha de Transmissão J43

(3.53)

Este modelo é menos utilizado do que o modelo 7t e o mesmo procedimento


poderia ser adotado na obtenção do modelo T exato.

3.5 Algumas Propriedades de Quadripolos

3.5.1 Associação em Cascata de Quadripolos

- ~---~ - J

} V
~---~ - 1,.

Figura 3.7: Associação em cascata de quadripolos.

Para o primeiro quadripolo:

(3.54)

Para o segundo quadripolo:

(3 .55)

Substituindo-se a expresão (3.55) em (3.54):

(3 .56)

Obtemos então um quadripolo equivalente, dado pelo produto das matrizes


dos quadripolos em cascata:
144 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

resultando nos parâmetros A, B, C e D equivalentes dessa associação:

A=A1A2 +B1C2 ,

B = A1B2 + B1D 2 ,
C = C 1A2 +D1C 2 ,

D= C1B2 +D1D 2 .

Usando as relações anteriores, (3 .30), (3.31) e (3.35), escrevemos os parâme-


tros do modelo 7t equivalente da associação em cascata:

Ze = B = A1B 2 + B1D 2 ,
Ye2 - A1 A2 + B1 C2 - 1
2 B

yel - c,B2 +D1D2 -1


2 B

3.5.2 Associação de Quadripolos em Paralelo

A1 B1

C1 D1

vs ( J
vr
A2 B2

C2 D2

Figura 3.8: Associação de quadripolos em paralelo.

Pelo fato de envolver várias operações matriciais, embora não seja uma ope-
ração muito complexa, é recomendável que a associação de quadripolos em paralelo
seja feita com rotinas em computador. No entanto, essa associação pode ser feita
facilmente por meio de um passo intermediário, convertendo suas representações
em forma de matrizes de admitâncias e somando as matrizes, ou convertendo-as em
forma de modelos rr, com impedância em série e admitâncias para a terra, associ-
ando em paralelo os componentes de ambos os modelos rr . Após o passo intenne-
diário, retornamos ao quadripolo equivalente da associação.
Capítulo 3. Relações entre Tensões e Correntes em uma Linha de Transmissão 145

Figura 3.9: Quadripolo equivalente com associação dos modelos rr.

No caso da figura 3.9, com modelos n, sabemos que:

As constantes A, B, C e D podem então ser calculadas usando as expressões


(3.29), (3.30), (3.33) e (3.34):

A=l+ZeYe21,
B=Ze ,
C = yel + zeyel Ye2 + Ye2,
D= l+ZeYe1·

3. 5. 3 Representação de Elementos Concentrados Através de Quadripolos

• Elementos Concentrados em Série


Em sistemas de potência encontramos os reatores limitadores de curto-
circuito em redes de média tensão, ou os bancos de capacitores série, esses mais
comuns de serem encontrados em vários níveis de tensão.
O modelo de quadripolo é idêntico ao de linha curta, ou mais genericamente,
podemos retornar às equações (3.29), (3.30), (3.33) e (3.34), fazendo }í = Y2 =O,
resultando em:
146 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

[Vs] [I
Is = O
Z]I X
[Vr]
1,. ·
(3.57)

Z: impedância do elemento em série.

• Elementos Concentrados em Derivação para a Terra

Esses elementos podem representar cargas, capacitares ou reatores de com-


pensação da potência reativa da linha. Simplificando o modelo T, encontramos fa-
cilmente o quadripolo de um elemento em derivação (shunt), fazendo Z = O na
expressão (3.53):

(3 .58)

3.6 Transmissão de Potência

A análise do fluxo de potência em uma linha de transmissão utiliza a matriz


de admitâncias nodais, empregando como modelo de linha o circuito rr, considerado
mais conveniente nesse caso.
O estudo do fluxo de potência por meio dos quadripolos não é usual, porém,
com essa formulação, estabelecemos algumas relações interessantes do ponto de
vista de transmissão de potência em uma linha de transmissão.

e
A B

D
- 1,.

i-----) V,

Figura 3 .1 O: Constantes de um quadripolo.

Vs e Vr são as tensões fase-terra em um circuito monofásico, ou tensões de seqüên-


cias em um circuito trifásico.
Como:

obtemos a corrente 1r :
Capítulo 3. Relações entre Tensões e Correntes em uma Linha de Transmissão 147

J =V..,.-AVr
r B

Trabalhando com os fasores de tensão na forma polar, representados em mó-


dulo e fase, escrevemos:

~\' =l~1-IL 8 '

vr = IVrlLOº.
Desse modo:

A=IAILa,

B=IBILb.

Reescrevemos a expressão da corrente:

A potência aparente transmitida por fase, entregue no ponto receptor, é dada por:

S,. = P,. + JQr =Vrfr* ·


Lembramos que Vr =Jv,. JLOº, ou seja, com fase nula, obtemos:

(3.59)

com as parcelas ativa e reativa:

(3 .60)

(3.61)

Estas parcelas podem ser analisadas por meio de uma representação chamada
diagrama de círculo, formada pela diferença dos dois vetores que compõem a ex-
pressão (3.59). Supondo os módulos das tensões constantes, assim como os parâme-
tros da linha, resta como variável o ângulo 8. Na figura 3.11, o primeiro vetor NO
tem o módulo constante e um ângulo variável b - 8, que descreve um círculo em
148 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

tomo do ponto O. O segundo vetor MO é fixo e a potência complexa Sr é dada pela


diferença entre esses vetores, NO - MO.

'
''
''
''
' \
\ N
\
\
\
\
\
\
M \
\
\
1
1
1
1
constante - 1
1
1
AV/ 1
1
1
B 1
ângulo variável 1
1
1
1

o 1

Figura 3.11: Diagrama de círculo.

Trabalhando com tensões de fase, Vs e Vr e considerando a potência monofá-


s1ca Pr + JQr, obtemos a expressão da máxima potência ativa transmitida pela li-
nha, para a condição de abertura angular correspondente a 8 = b , o que maximiza a
primeira parcela de (3.59), sendo a segunda parcela fixa.

(3.62)

Vejamos o caso particular de linha sem perdas, do qual será possível extrair
uma fórmula muito comum em análises de sistemas de potência, principalmente nos
estudos de estabilidade.
Ao desprezarmos as perdas, a constante de propagação toma-se um número
imaginário:

r= J✓XY',
e a constante A da linha:

e1-Jx"l'c +e- 1·Jx"l'e


cosh(yl)= - - - - - ,
2
Capítulo 3. Relações entre Tensões e Correntes em uma Linha de Transmissão 149

é a soma de dois números complexos conjugados, portanto, A é um número real


com fase a = 0° :
A= IAILOº.

Como nesse caso trabalhamos com a impedância de surto, que é um número


real, temos:
B = Z 0senh( yC) ,

·Jx'Y'e - 1·Jx'r'e
B =Z0 e1 -e = JZ0 sen ( -vr-;;,;;;
X'Y'e )
2

A constante B é um número imaginário puro, com fase b = 90°. Substituindo-


se esses valores de a e b na equação (3.60), obtemos:

Sabendo que:

cos ( ; - J) J,= sen

simplificamos para:

(3.63)

P,,,ax

1C /2 1C

Figura 3.12: Curva Px o.


Esta expressão apresenta uma relação senoidal entre a potência ativa transmi-
tida e a abertura angular das tensões de início e fim de linha.
150 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Observamos que uma expressão ainda mais simplificada é facilmente obtida,


se admitirmos a linha composta apenas pela sua reatância série (modelo de linha
curta), com A= 1 e B =}X, o que implica uma fórmula muito utilizada na descri-
ção da potência ativa em função do ângulo 8 :

(3.64)

3. 7 Compensação Reativa de Linhas de Transmissão

3. 7.1 Linha de Transmissão em Vazio

A potência reativa capacitiva, gerada pela presença das capacitâncias das li-
nhas de transmissão, é normalmente compensada com a instalação de reatores em
derivação nas extremidades da linha.
Dependendo dos requisitos operativos do sistema e do comprimento da linha,
podemos instalar reatores em apenas um terminal ou em ambos, sendo que nas li-
nhas curtas normalmente não há necessidade de reatores.
Como introdução ao assunto, vejamos um caso bem simples, analisando o e-
feito de instalar um reator em apenas uma extremidade da linha de transmissão em
vazio, no caso o lado receptor.
Calculemos inicialmente a tensão no final da linha, conhecendo a tensão de
alimentação do gerador, conectado no seu início. Com o circuito n equivalente da
figura 3.3, admitindo Ir = O, aplicamos o divisor de tensão, obtendo:
Capítulo 3. Relações entre Tensões e Correntes em uma Linha de Transmissão 151

Utilizando a expressão (3.37), obtemos:

V.1• = AVr.
Verificamos que, na linha em vazio, a constante A corresponde ao inverso de
um divisor de tensão. No caso particular de uma linha sem perdas, utilizando o
1t nominal, temos:

Y .mc'e .me
2= 1 -2-= 1 2'
Z=JmL l=1X. 1

Substituindo-se na expressão anteriormente obtida, temos:

Observamos que em uma linha de transmissão, a constante A tem módulo


menor do que um, sendo este fato mais facilmente observado nesse caso de linha
sem perdas, o que implica uma elevação da tensão no final da linha sem carga. Tal
elevação da tensão, também conhecida como efeito Ferranti, pode ser proibitiva no
i

'caso de linhas longas, ou mesmo quando conectamos linhas em série nas interliga-
ções à longa distância. A configuração de uma linha conectada a uma barra e em
· vazio na outra extremidade pode ser encontrada na operação de energização da li-
nha, ou mesmo em manobras de abertura de cargas, também conhecidas como re-
jeições de carga.
Vejamos agora o que acontece quando ligamos um reator no final da linha
:em vazio.
1

r-------------------,
1 1
,1 Ze ,
1

E Y,.

1L ___________________ 1) _________ _)

Figura 3 .13: Compensação reativa.

Yr é a admitância do reator.
152 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Normalmente o reator é fornecido com uma potência trifásica Q3</J e uma


tensão nominal de linha V. Se a potência for trifásica, obtemos admitância Y,., com a
tensão nominal de linha:

Com a potência monofásica, obtemos Y,. segundo a expressão:


2
Q1cp ::: YrVf'

Com o reator ligado no fim da linha, associamos os quadripolos em cascata:

Resultando no quadripolo equivalente da associação:

Novamente, para o conjunto linha em vazio com reator, ou seja, sem carga no\
terminal receptor, obtemos a constante A equivalente da associação em cascata: [

Ae ::: A + B yr . ~
Supondo a tensão fixa no início da linha, se quisermos impor a mesma tensão!
no final da linha em vazio, o que corresponderia a um perfil plano de tensão durantei
a energização, é necessária a condição Ae =1, ou seja:

A+ BY,. ::: 1.

Resultando na seguinte admitância do reator, necessária para impor tensões[


de início e fim de linha iguais: 1

1-A
y :::-
r B

Lembrando que o valor da admitância do n equivalente é dado por:

Ye A-1
- --
2 B '
Capítulo 3. Relações entre Tensões e Correntes em uma Linha de Transmissão 153

encontramos, nesse caso, a admitância do reator que cancela exatamente a admitân-


cia da linha de transmissão:

Y =-Ye
r 2 .

Voltando ao nosso divisor de tensão, teremos uma admitância, predominan-


temente indutiva, cancelando a admitância, predominantemente capacitiva, concen-
trada no circuito rc , o que corresponde a uma impedância infinita no fim da linha
(condição ressonante para o indutor e o capacitar) e deste modo obtemos a tensão
de início igual à tensão de fim de linha, pois não há corrente no circuito.
Quando a alimentação é feita pela extremidade oposta, pelo lado receptor, e o
início da linha está desconectado de qualquer fonte, tudo se processa da mesma
forma, sendo provavelmente necessário também instalar um reator de início de li-
nha. Nesse caso, alteramos a constante D da linha.

1,.

Figura 3.14: Quadripolo com reatores na entrada e saída.

Desse modo, os reatores podem ser utilizados no início e fim de linha, com a
finalidade de controlar as tensões quando temos a alimentação apenas por um dos
dois lados, como por exemplo nas energizações ou rejeições de carga, ou mesmo
nas condições de baixo carregamento, em carga leve, com a corrente Ir pequena.
As linhas de transmissão apresentam potências reativas também nas demais
condições operativas, sendo que equipamentos de potência reativa, indutivos e ca-
pacitivos, são empregados para controlar as tensões e a potência transmitida.
Em casos práticos, não é recomendável cancelarmos completamente a admi-
tância capacitiva da linha em 100% com reatores, limitando essa compensação na
faixa de 40% a 80%. A razão para isso está na possível ocorrência de ressonâncias,
com a linha desconectada da rede, estando próxima de outras linha de transmissão
operando em paralelo [7].
154 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

3.7.2 Linha de Transmissão em Carga

Levando em conta o modelo de linha longa, condensado na expressão (3.26),


é conveniente estabelecer alguns conceitos de transmissão de potência ativa, associados
ao seu correspondente consumo de potência reativa, de tal modo a viabilizar o
transporte de energia requerido.
Para isso simplifiquemos algumas expressões, trabalhando com linhas sem
perdas, no sentido de analisarmos os efeitos preponderantes mais significativos. A
seguir, veremos algumas definições adicionais.
Vx,Ix: ondas estacionárias de tensão e corrente em um ponto x da linha de
transmissão, em regime permanente senoidal.
8 : ângulo de transmissão.
Z 0 = -J L' / C' : impedância de surto.

/3 = m✓L'C' = 2trf = 2tr (3.65)


V À

À=VT ou À=vlf,
À : comprimento de onda,
/ : freqüência de excitação,
0 = f]e : comprimento elétrico da linha de transmissão.

P0 = VL : potência natural da linha. (3.66)


Zo

V : tensão nominal da linha.


Se V for tensão fase-terra, a potência natural é monofásica. Em caso contrá-
rio, se V for tensão de linha a potência natural será trifásica.
A linha de transmissão sem perdas, transportando potência natural, apresenta
um perfil plano de tensão ao longo de toda a sua extensão, (3.45) e (3.46).
É recomendável, por motivos práticos, operar transmitindo potência inferior à ·.
potência natural e dessa forma P0 será sempre uma referência importante na trans- ' :
missão de energia elétrica. l
Faremos a seguir um resumo de alguns aspectos mais elementares na trans-
missão de potência ativa.
Seja a linha de transmissão sem compensação, com os fasores de início e fim
de linha segundo a notação:
Capítulo 3. Relações entre Tensões e Correntes em uma Linha de Transmissão 155

emissor receptor
Is !,.

V,. )
-
P+ JQ

Figura 3 .15: Linha sem compensação.

Como desprezamos as perdas, o que facilita o equacionamento sem prejudi-


car a interpretação dos aspectos fundamentais, sabemos que as constantes do qua-
dripolo da linha ficam:

A= cos0,

B = JZ0 sen0,

e que a corrente no receptor pode ser escrita como:

I =-P_-_JQ_
,. V
r

Desse modo, obteremos uma expressão interessante para entendermos a rela-


ção entre as tensões de início e fim de linha com a potência entregue no sistema
receptor, assim como sua dependência do comprimento elétrico da linha de trans-
missão 0. Para isso, reescrevemos a primeira linha da expressão (3.26):

P- .Q
v'_1. ( cos 5 + j sen 5) = V,. cos 0 + JZ0 sen 0 VJ (3.67)
r

Separando as partes real e imaginária:

Q
v'_1. cos 5 = V,. cos 0 + Z0 sen 0 V , (3.68)
r

p
V.v sen 5 = Z 0 -sen 0. (3 .69)
V,.

Da expressão (3.68):
156 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Q = Vr (V.1. cos 8 -Vr cos0)


(3 .70)
Z0 sen0

Da expressão (3.69):

p = V.1.Vr sen 8. (3.71)


Z 0 sen0

A equação (3. 71) é equivalente à equação (3 .63 ). Com o propósito de inter-


pretarmos, de forma ainda mais simplificada, essa equação, para linhas não muito
longas, aproximamos 0 =sen 0.
Nesse caso, verificamos que o produto Z 0 f]e resulta na reatância série total
da linha de transmissão X,

~
z0 /3 f = ~[i:
2 w-v L e e=x e= x
I

Ficando a expressão (3. 72) coincidente com a (3.64):

v..,.v,. s:
P =--senu (3.72)
X '

na qual identificamos um primeiro indicador do máximo valor de potência ativa a


ser transmitido por uma linha de transmissão:

p = v..,.vr (3. 73)


max X
Se considerarmos módulos de tensões iguais no início e fim de linha, v_1. = Vr;
simplificamos a fórmula (3.71):

R
P=-º-sen8,
sen0

ou ainda,

P sen8
(3 .74~
P0 sen0

Para linhas pouco carregadas e não muito longas:

p 8
P0 0
Capítulo 3. Relações entre Tensões e Correntes em uma Linha de Transmissão 157

As expressões anteriores nos oferecem os elementos básicos para analisarmos


o comportamento das tensões e potências em uma linha de transmissão.
Não tem sido prática a utilização de linhas longas sem compensação reativa.
Linhas com comprimentos razoáveis apresentam um bom desempenho quando
compensadas. Os principais objetivos da compensação são modificar os parâmetros
Z0 e 0, com influência nas tensões e potências, viabilizando as operações em car-
ga e em vazio, com enfoque em aspectos de estabilidade da transmissão e controle
das tensões ao longo da linha.
À medida que aumentamos o comprimento e da linha de transmissão, ele-
vamos o comprimento elétrico 0. Uma análise mais cuidadosa da expressão (3.67)
revela ser proibitivo o transporte de níveis razoáveis de potência a grandes distân-
cias sem compensação, sendo um dos motivos os elevados valores requeridos de
tensão Vs , no início da linha, além da grande sensibilidade desses valores em relação
ao fator de potência da carga, para mantermos tensão nominal Vr no sistema receptor.
Na fase de projeto da geometria da torre e disposição espacial dos conduto-
res, já estamos visando características favoráveis ao transporte de energia. Esgota-
dos os graus de liberdade disponíveis no projeto da linha, adicionamos as compen-
sações que, em última instância, suprem as deficiências reativas que a linha apre-
sentaria isoladamente.
Condições estáveis para o transporte de potência também são fundamentais
em um projeto de transmissão de energia elétrica a longas distâncias. A expressão
(3.73) nos dá um primeiro indicador, muito simplificado, do limite máximo admis-
sível de transporte de potência ativa na linha de transmissão. Para comprimentos
elevados, verificamos o impacto da reatância série no limite de potência e conse-
qüentemente a necessidade de sua redução para se estender a capacidade de trans-
porte e elevar as condições de robustez do sistema, assunto que será um pouco mais
1 detalhado no capítulo 8, dedicado à estabilidade de sistemas elétricos.
1
1 Imaginemos uma situação ideal de compensação, com capacitares série e rea-
t
! tores em derivação incrementais, buscando uma compensação continuamente distri-
, buída ao longo da linha de transmissão. Ao adicionarmos capacitares fictícios em
série estamos reduzindo a reatância série, conseqüentemente diminuindo Z0 e 0 .
Ao adicionarmos reatores fictícios em paralelo, estamos reduzindo a capacitância
em derivação, conseqüentemente aumentando Z 0 e diminuindo 0 . As linhas lon-
gas, com comprimentos da ordem de 700 km a 1.000 km, de certa forma utilizam
essa combinação de recursos, ao distribuírem, mesmo que parcialmente, reatores em
derivação e capacitores em série, instalados em subestações de seccionamento, in-
158 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

termediárias, que permitem a adição desses equipamentos ao longo da rota da linha. l


Dessa forma, estamos adequando as indutâncias e capacitâncias da linha para uma ,
operação mais segura diante das várias condições de carregamento, ou até mesmo i
de linha em vazio.
Notamos ainda, embora alguma menção anterior já tenha sido feita, a conve-
niência da instalação de capacitores série, reduzindo o comprimento elétrico, sobre-
tudo nas linhas longas de alta tensão.

-JXc 1,.

Figura 3.16: Quadripolos de seções de linha ligadas por capacitor série.

Para finalizar, comentamos que a definição de compensação reativa shunt e


série, de um sistema de transmissão a longa distância, é uma tarefa relativamente
ampla, que deve abordar todas as condições operativas normais e de emergência.

EXEMPLO 1
São dadas duas linhas de transmissão de 500 kV (tensão nominal de linha)
com os parâmetros de seqüência positiva:
LTl: Zí
=0,4L80º Q/km, Cí
=11 nF/km, comprimento=270 km,
LT2: Z 2=0,3L76º Q/km, C2=12 nF/km, comprimento=350 km.
Obter para as duas linhas as constantes ABCD, o circuito n exato, e o reator
a ser instalado, no fim de linha, para tornar as tensões de início e fim de linha
iguais, na operação em vazio.
, . n
LTl: Z 1 = 0,0695 + J0,3939 km , Y{ = JC1m,
, Jí
,= }4, 1469x 10-6s
km,

f 1=270 km,

z -
cl
{I(
-VY(,
Zcl =309,3943- }27,0685 Q,

r= ✓ZíJí',
Capítulo 3. Relações entre Tensões e Correntes em uma Linha de Transmissão 159

y=l,1225x10-4 + J0,0013 1an- 1•

Analogamente, para a LT2:

LT2: z; =0,0726+ J0,2911 ! ,r;=Jxc;w, 2 Y =J4,5239x10-6 k~ ,

/!, 2 =350 km,

Zc 2 = 255, 5966- )31,3833 .Q,

r2 = ✓z;r;,
y2 =1,4197xl0-4 + J0,0012 km- 1

Parâmetros dos quadripolos:

A1 = cosh ( y1/!, 1) A1 = 0,941 + J0,0103

A2 = cosh ( y2 e2 ) A2 = O, 9204 + 0,0196

B1 = Zc1 sinh (y1f 1) B1 = 18,0161 + )104,3252 .Q

B2 = Zc 2 sinh ( y2 e2 ) B2 = 24,052 + )99,3301.Q

C1 = - 3, 87 x 10-6 + JO, 001 1S

C2 =-1,0444x 10-5 + j0,0015 S

Circuitos rc exatos:

LTI - Ramo série:

B1 = 18,0161 + )104,3252 .Q,

Ramo shunt:
160 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

LT2 - Ramo série:

B2 = 24,052+ j99,3301 .Q

Ramo shunt:

Ye 2 - A2 -l = 2 7412xl0-6 +1·8 0249x10-4 S.


2 B2 ' '

Quadripolo equivalente com reatores no fim da linha:

Impondo que a constante A tenha valor unitário, obtemos a admitância do reator:

1-A
Yr = - - ,
B

ou, para a impedância,

z =_!!_
r l-A'

Zrl =-3,1381+ jl,7685xl03 .Q,

Zr 2 =-4,2565+ jl,2461xl0j .Q .

Observamos que o cancelamento perfeito da admitância da Iinha, usando o


modelo n exato, exigiria um reator com resistência negativa, o que é impossível de
ser realizado com elementos passivos. Desse modo, fazemos uma aproximação,
tomando apenas a parte imaginária:

Xrl =1768,5 .Q,

X,. 2 = 1246, 1 .Q.

EXEMPL02
Neste exemplo adotaremos os dados da LTl, do exemplo 1.
Capítulo 3. Relações entre Tensões e Correntes em uma Linha de Transmissão 161

a) Para atender a uma carga trifásica de 800 MW, com fator de potência de 0,9,
instala-se um capacitor série no fim da linha (L Tl ), com reatância de 60 Q. Com
uma tensão fase-terra, medida no fim da linha de 1,039 L. -1 Oº pu, pede-se a tensão
e corrente no início da linha. Adotar tensão nominal de linha 500 kV.

Trabalharemos com potências monofásicas e tensões fase-neutro.

~= 8 ~0 MW, cos<p=0,9, Sr=~(l+jtan<p),

Sr = 266, 6667 + jl 29, 1526 MV A, vr = 1, 039.L... -10º,

zcs =-j60 Q.

Para obtermos os valores de tensão em kV, sabemos que:

Associação em cascata do quadripolo da linha e do capacitor:

Q,=[i ~H~ 2
tl
[A AZC.\' +B].
Qe = C CZcs + A

Obtemos a corrente no terminal receptor da linha:

- s*
r
1r --*'
vr
I,. = O, 8008 - j0, 5785 kA .

Com os parâmetros do quadripolo equivalente, calculemos os resultados no


início da linha:

V,Y =AVr +(AZcs +B)f,.,

JS =CV,.+ ( CZC.\' + A)I,..

Resultando nos valores:


V,1. = 321, 1022 - jl 8, 4206 kV, !_1. = 0,8684- J0, 2496 A,

JV,1.!=321,6302 kV, IJsJ=0,9036 kA.


162 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

b) Analisando o saldo de potência entre início e fim de linha, quais são as perdas,
ativa e reativa, na linha de transmissão?
Obtemos a potência monofásica no início da linha:
*
Ss = VJs , Ss = 283,4509+ }64,1518 MVA,

resultando na potência trifásica no início da linha: S3(f) = 850, 33 + }192, 45


Perdas trifásicas na linha de transmissão:
.dS = 3 ( S.1. - S,. ) ,

L'.1S = 50, 3527 -195, 0023 MVA .


As perdas ativas são de 50 MW, devido ao efeito resistivo dos cabos. As per-
das de potência reativa de 195 MV A, com valor negativo, indicam, na nossa con-
venção, uma potência capacitiva absorvida pela linha, fato que, no jargão tradicio-
nal, é conhecido como um fornecimento de reativos indutivos ao sistema externo à
linha de transmissão.

c) Qual é o circuito n exato do conjunto linha e capacitor?

Ramo série:
Beq =AZCS +B=18,6336+ }47,8636 n.

Ramo shunt:
A-1 4
Y') = - - - = - 2,2981 X 1o- +J0,0011 S,
- AXC +B
D-1 -6
Y, =--=1,0034x10
1 + j5,6545x10 -4s .
B
EXEMPL03
Um operador conecta em série as linhas de transmissão LTI e LT2 do exem-
plo 1, por meio de um banco de capacitores série. Com a linha em vazio, são encon-
tradas as tensões 1, 032L8º pu de tensão no início da linha e 1, 2 I 56L4, 144º pu no
fim da linha.

2 3 4
LT1 LT2
- - - l lo----+-----1
270km 350km

Figura 3.17: Rede elétrica.


Capítulo 3. Relações entre Tensões e Correntes em uma Linha de Transmissão J63

a) Qual o valor da reatância do banco de capacitores?


Tensões em coordenadas polares,

v_1. :::::l,032L8º pu, vr :::::l,2156L4,144º pu .

Tensões em coordenadas cartesianas,

v_1. :::::l,022+0,1436 pu, vr :::::1,2124+ J0,0878 pu.

Tensões fase-terra em kV:

Temos os quadripolos:

Associando os quadripolos em cascata:

obtemos:

A1B2 + A2 A1Zc.i· + A2 B1] .


C1B2 + A2 C1Zcs + A1A2

Como a linha está em vazio, Ir ::::: O, temos ~1. ::::: AeVr,

z c.i· :::::o,oos- J98,0121 n.


A parcela resistiva se deve a uma pequena imprecisão na medição dos faso-
res, com o capacitor apresentando uma reatância de 98 n .
b) Mantida essa tensão em módulo no início da linha e considerando tensão nominal
no fim da linha, qual a potência ativa máxima que pode ser transferida para uma
carga no fim da linha?
164 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Tomemos os parâmetros do quadripolo equivalente:

Acq = A1A2 +C2A1Zc.1· +C2B1,

Chamemos a a fase de Aeq e b a fase de Beq. Aplicando a expressão (3.62),

_
P,,max - 3
[IV:1-IIV,-I
1 1
_ IAeql(IV,-l) 2
( _
COS b a
)J ,
Beq 1Beq 1

P,-max =1526,21 MW.

V:
1., Vr : valores de tensão fase-terra.

3 .8 Referências Bibliográficas
[l] Stevenson Junior, W. D. Elementos de Análise de Sistemas de Potência 2.ed. 1

McGraw-Hill, 1986.
[2] Miller, T. J. E. Reactive Power Contra! in Electric Systems. New York, John
Wiley, 1988.
[3] Westinghouse Electric Corporation. Electrical Transmission and Distribution
Reference Book 4. ed. East Pittsburgh, 1964.
[4] Johnson, W. C. Transmission Lines and Networks. New York, McGraw-Hill,
1950.
[5] Mariotto, P. A. Ondas e Linhas. Rio de Janeiro, Guanabara Dois, 1981.
[6] Orsini, L. Q. Curso de Circuitos Elétricos. São Paulo, Edgard Blucher, 1993, 2v.
[7] Zanetta, L. C. Transitórios Eletromagnéticos em Sistemas de Potência São
Paulo, Edusp, 2002.
CAPÍTULO4

CURTO-CIRCUITO

4.1 Introdução

O cálculo da corrente de curto-circuito é necessário para a especificação dos


equipamentos de um sistema elétrico. Durante o curto-circuito, altas correntes são
estabelecidas, com a elevação de temperaturas e solicitações térmicas, além dos
esforços mecânicos e deformações de materiais.
Os sistemas de proteção de sistemas elétricos são ajustados para operar o
mais rápido possível, porém a atuação coordenada de relés de proteção e disjuntores
pode levar à permanência do curto-circuito por alguns ciclos. Além disso, como os
sistemas de proteção estão sujeitos a falhas, os equipamentos que compõem a rede
devem ser dimensionados para suportar essas correntes elevadas, até que algum
dispositivo de proteção de retaguarda acione o disjuntor.
Desse modo, equipamentos e disjuntores devem ser especificados para os ní-
veis de corrente de curto e durações correspondentes, o que é fundamental para uma
operação segura e sem danos ao sistema elétrico.
Em uma abordagem mais avançada, o tratamento do curto-circuito é feito
matricialmente, inclusive por meio de matrizes trifásicas, que representam os
acoplamentos entre fases quando necessário. No entanto, neste capítulo não
empregaremos o cálculo matricial e seguiremos a metodologia convencional,
com a aplicação das componentes simétricas, que é ferramenta essencial ao en-
genheiro eletricista da área de sistemas de potência.
Com exceção dos geradores, todos os modelos necessários ao cálculo preten-
dido já devem estar suficientemente amadurecidos pelo estudante. Embora a
compreensão mais aprofundada do comportamento transitório da máquina síncrona
faça parte de um curso específico de máquinas elétricas, faremos aqui uma introdu-
ção resumida aos modelos de geradores, dirigida ao estudo de curto-circuito em
regime permanente senoidal.
166 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

4.2 Modelos de Geradores


O equacionamento de fenômenos transitórios em geradores é feito sob a for-
mulação da teoria geral das máquinas elétricas e transformação de Park,
compreendendo um determinado número de equações diferenciais que envolvem
fluxos, correntes e tensões nos eixos diretos e de quadratura. Desse modo, os fenô-
menos transitórios são estudados por meio de funções de transferências, que
condensam os efeitos dos enrolamentos representados em ambos os eixos.
Sem entrarmos em detalhes dessa teoria, o cálculo do curto-circuito pode ser
simplificado, tomando como base o modelo do gerador composto por uma tensão
interna e uma reatância, também conhecido como modelo de tensão atrás de uma
reatância.

----+-
1

Figura 4.1: Modelo de gerador.

Nesse modelo, as tensões internas têm estreita correspondência com o com-


portamento dos fluxos nos enrolamentos, pois tensão e fluxo, em um enrolamento
qualquer, estão relacionados pela expressão:

e= d</J = L di . ( 4.1)
dt dt

Em variáveis complexas, E= jwLI ou E= Jw'P.


Supondo a freqüência constante, com w na freqüência nominal, adotando ba-
ses de tensões e fluxos relacionadas pela expressão Vh = wh'Ph, verificamos que
tensões e fluxos apresentam nesse caso valores percentuais, ou mesmo valores por
unidade, idênticos.
Quando aplicamos um curto-circuito trifásico nos terminais de um gerador
síncrono, a corrente em uma fase apresenta uma componente oscilatória, superposta
com uma componente de corrente contínua, que depende do instante de aplicação
do curto.
Capítulo 4. Curto-circuito 167

l(t)

III

....... . .............. -·--· . t


e.e.: componente contínua

Figura 4.2: Corrente de curto-circuito assimétrica.

Analisando mais detalhadamente a componente oscilatória, observamos um


comportamento delimitado por três regiões distintas, conforme a figura 4.3. As cor-
rentes de curto nas regiões/, II e III são chamadas de subtransitória, transitória e de
regime permanente, respectivamente.
Desse modo, o modelo proposto para as máquinas elétricas, em estudos de
curto-circuito, simplifica as equações de Park e está focado essencialmente no eixo
direto, dada a natureza preponderantemente desmagnetizante do curto-circuito. Esse
modelo admite que durante o curto a força eletromotriz, pela sua correspondência
com fluxos, permanece razoavelmente constante, de acordo com a Lei de Lenz.
Essa tensão, atrás de uma reatância variável, resulta nas correntes de curto subtran-
sitórias, transitórias e em regime permanente senoidal.
O modelo de reatância variável é relativamente simples e presta-se ao cálculo
de diferentes níveis de corrente de curto, supondo uma tensão interna constante. Des-
se modo, na operação do gerador em vazio, a tensão interna E terá o mesmo valor da
tensão no terminal v; , pois não há quedas de tensão pela passagem da corrente.

J" = _!::_ corrente subtransitória de curto-circuito (/),


}Xd

] , =-E- corrente trans1tona


. , . de curto-c1rcmto
. . (f'T\
. ,. 1,
}Xd

1,. = ____§__ corrente de curto-circuito em regime permanente (III).


}Xd
168 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

A condição de maior interesse para os nossos propósitos, no cálculo da cor-


rente de curto-circuito, é a subtransitória, que envolve os níveis de corrente mais
elevados.

/(t)
I subtransitória

II
III
1:
transitória
1 1 regime
:1 -------- - - - - - i- 1 - - - -
, 1
1

Figura 4.3: Períodos da corrente de falta.

Os modelos dinâmicos de geradores, utilizados em programas de estabilida-


de, são baseados nas equações de Park e permitem o cálculo da evolução dos
fasores durante fenômenos transitórios como por exemplo um curto-circuito na
rede. Alguns modelos são ainda mais complexos, como os utilizados em programas
de transitórios eletromagnéticos. O modelo simplificado, composto por uma tensão
atrás de uma reatância, permite o cálculo fasorial da corrente em cada uma das eta-
pas predominantes do curto-circuito, mencionadas anteriormente, viabilizando o
cálculo por meio de uma metodologia simplificada e suficientemente precisa na
avaliação dessas correntes em valores eficazes.
Com o gerador operando em carga, no sentido de adequar a precisão do mo-
delo, é necessário ajustar a tensão interna, correspondente ao período analisado do
curto. Para esse modelo existem as possíveis condições internas de excitação:
E": tensão atrás de uma reatância subtransitória Xj .
E' : tensão atrás de uma reatância transitória Xd .
E : tensão atrás de uma reatância síncrona X d .
Esse artificio permite melhorar a precisão da corrente obtida em cada um dos
períodos selecionados. Supondo um determinado período do curto-circuito, calcu-
lamos as tensões internas que estão relacionadas com as tensões terminais pelas
reatâncias e corrente de carga:

(4.2)
......
Capítulo 4. Curto-circuito 169

Vr : tensão no terminal.
J : corrente de carga.

sobreexcitado subexcitado

Figura 4.4: Diagramas fasoriais da tensão interna no período subtransitório.

Com a finalidade de esclarecer um pouco melhor esse aspecto, suponhamos o


cálculo da corrente subtransitória de curto-circuito, admitindo o gerador alimentan-
do uma carga com impedância Z . Aproveitaremos também para dar início à uma de
nossas tarefas, que é a de apresentar o cálculo do curto-circuito levando em conta as
condições pré-operativas dos geradores e recursos de cálculo empregando o teorema
de Thevenin. Para isso, suponhamos o gerador operando com tensão TI; no terminal.
Aplicando o teorema de Thevenin, calculamos a corrente de curto-circuito tri-
fásico no terminal do gerador, no período subtransitório:

~h =~,

Resultando na corrente subtransitória:

J" = V. JX~ + Z
JX"Z
1
d

-I
z

Figura 4.5: Gerador em carga e corrente de curto subtransitória.


170 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Com base nesse modelo, a corrente de curto-circuito trifásico no terminal do


gerador, ao fecharmos a chave S, também é dada pela expressão:

Para que a corrente de curto-circuito seja a mesma, igualamos as duas equações


anteriores e obtemos uma expressão familiar, dada pelo divisor de tensão:

ZE"
V.=----
( Z + JXj

Sabemos ainda que na condição pré-falta temos as relações:

E"
1=----
z + JXd'
V,= ZI.
Verificamos então a necessidade de que a tensão interna E" esteja relaciona-
da com a tensão terminal V, pela expressão (4.2), para que o cálculo das correntes
esteja coerente.
Para os demais períodos o raciodnio é análogo, como por exemplo o transitó-
rio, no qual obtemos a tensão interna E':
E'= V,+ JXdl.

4. 2.1 Motor Síncrono

Admitimos que durante o curto-circuito o comportamento do gerador e do


motor síncronos, como máquinas elétricas, são similares. Para um motor síncrono,
estabelecemos como positiva a corrente absorvida e nesse caso apenas trocamos o
sinal da corrente para obter a tensão interna:
E"= V, - JXjl,
(4.3)
E'= V, - JXdl.

4.2.2 Motor de Indução

Devido à inércia do rotor e ao fluxo interno, os motores de indução durante a


falta atuam como geradores, contribuindo para a corrente de curto, embora em um
Capítulo 4. Curto-circuito 171

período de tempo relativamente menor. Conhecendo a impedância de curto-circuito


do motor de indução, ou utilizando valores típicos [5], trabalhamos de modo análo-
go ao anteriormente exposto, obtendo uma tensão interna:

Em=~-JXml,
e a corrente de curto-circuito correspondente:

4.3 Curto-circuito Considerando as Condições Pré-falta


Vejamos a seguir os passos necessários ao cálculo da corrente de curto-
circuito levando em conta as condições pré-falta. Utilizaremos uma rede elétrica
simples, composta por dois geradores ideais e duas impedâncias, conforme a liga-
ção da figura 4.6. Essa rede pode representar desde a conexão singela de um
gerador com um motor, até o paralelismo de dois sistemas complexos, representa-
dos pelos seus equivalentes de Thevenin, no ponto P.

-I pf p
-
Figura 4.6: Circuito a ser analisado (rede A pré-falta).

Tensões: E1 =1Eil Lô1 e E2 = 2 1Lô2 • IE


Impedâncias: Z 1 e Z 2 •
Trabalharemos com o princípio da superposição, excitando a rede em duas si-
tuações, uma denominada de pré-falta e outra de falta. É portanto conveniente
introduzir a nomenclatura a ser utilizada e que nos acompanhará ao longo do texto:
I Pf : corrente pré-falta (ou corrente de carga).
If : corrente de falta.

I ( e I { : contribuições de falta.
172 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

I: corrente de curto com superposição.


11 e I 2 :contribuições de curto com superposição.
Na condição pré-falta temos os sistemas operando interligados, sendo possí-
vel obter as tensões e correntes ao longo da rede.
Calculamos a corrente:

No ponto P, em regime permanente, escrevemos a tensão pré-falta:

Ef?/ = E1Z 1 +E1Z 2 -E1Z 1 +E2Z 1


P Z1 + Z2 '

EPI = E1Z2 + E2Z1


P Z1 +Z2

Observamos que, aplicando o princípio da superposição quando somente a


fonte E 1 está ligada, encontramos a tensão em P dada pelo divisor de tensão:

Quando somente a fonte E 2 está ligada obtemos:

- E2Z1
E 2-
p Z1 +Z2

- p

Figura 4.7: Falta no ponto P.

Ao superpor, no ponto P, o efeito das duas tensões, encontramos


EJ1 = E pi+ E P 2 , que coincide com o valor obtido anteriormente.
Capitulo 4. Curto-circuito 173

Na figura 4.7 apresentamos a rede quando ocorre um curto-circuito no ponto


P, com tensão operativa pré-falta E'f.
Veremos a seguir duas possibilidades de cálculo da corrente de curto I .
a) Resolução do circuito elétrico por análise de malhas (método 1).
Neste caso particular, como as malhas são independentes, calculamos a cor-
rente de curto no ponto P, assim como as contribuições das duas ligações adjacentes
a esse ponto, de um modo muito simples:
1=11 +!2 ,

f1 = E1 e I2 = E2 .
Z1 Z2

Portanto:

I =§_+ E2.
Z1 Z2

As correntes obtidas já são os valores finais do cálculo, também denominadas


em nossa nomenclatura de valores superpostos.
Circuitos mais complexos podem necessitar do uso de equacionamento ma-
tricial, como as matrizes de impedâncias de malhas, matrizes de impedâncias nodais
ou de admitâncias nodais, a serem estudadas no capítulo 6. Com esse procedimento,
é necessário conhecer as tensões internas em todos os geradores da rede, nesse caso
representadas pelas fontes E 1 e E 2 •
b) Resolução pelo equivalente de Thevenin (método 2).
Utilizando o teorema de Thevenin, a corrente de curto I também pode ser
obtida pelo cálculo:

I = t.:,h
z,h '
na qual E,11 = Eff, ou seja, a tensão pré-falta em P.

-I p

Figura 4.8: Equivalente de Thevenin.


174 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

A impedância de Thevenin, vista do ponto P, é dada por:

Z1Z2
z,h = Z1 // Z2=---
Z1 +Z2

Desse modo, a corrente / é obtida pela expressão:

I = ( E1 Z2 + E2 Z1 J(Z1 + Z2 J= _§_ + E2 . (4.4)


Z1 + Z2 z,z2 z, Z2

Verificamos que a solução é idêntica à do caso anterior, o que demonstra a u-


tilidade do uso do equivalente de Thevenin, principalmente no estudo de redes mais
complexas. Nesse caso, precisamos conhecer a tensão apenas no ponto de falta, sem
a necessidade de calcular as tensões internas de todos os geradores
da rede.
Vejamos a seguir a resolução da rede da figura 4.7 com a utilização do prin-
cípio da superposição. Introduziremos a nomenclatura de rede em falta, em
concordância com uma vasta literatura sobre o tema. Para isso calculamos a corren-
te de curto I = E,h / Zrh .
A rede pré-falta opera inicialmente em regime permanente, na condição da
figura 4.6, e com a falta encontra-se conforme a figura 4.7. Com a finalidade de
explicar a solução passo a passo, substituiremos a ligação representativa do curto
por um gerador de corrente, cuja intensidade é igual à corrente de curto, conforme a
figura 4.9.

Figura 4.9: Representação do curto-circuito com um gerador de corrente.

Observamos que, com esse artificio, a distribuição de tensões e correntes ao


longo da rede em falta não se modifica.
Podemos aplicar o princípio da superposição, supondo em uma primeira eta-
pa a rede apenas com os geradores de tensão, que se encontra solucionada segundo
considerações anteriores, denominada rede pré-falta.
Capitulo 4. Curto-circuito 175

Em uma segunda etapa obtemos o efeito do gerador de corrente 1, que passa-


remos a chamar de I f em uma rede denominada de falta, conforme a figura 4.1 O.

p
-11
2

11 = I

Figura 4.1 O: Rede em falta, apenas com o gerador de corrente de curto.

Resolvemos então a rede apenas com o gerador de corrente, obtendo as com-


ponentes 1( e I { pelo divisor de corrente:

If _ L2 Jf
1 - '
Z1 +Z2

substituindo-se o valor de / = 11 da expressão (4.4), vem:

1f - E1Z2 + E2Z1
1 - Z1( Z1+ Z2 ) '

que pode ser reescrita como:

Analogamente para / { :

No circuito da figura 4.1 O, considerando apenas o gerador de corrente, obte-


mos a tensão no ponto P, na rede em falta:

E pf -- - 1.lz
1 1 -- - Jf
2 Z 2 -- - Eth ·
176 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

• Superposição
A etapa final consiste em aplicar o princípio da superposição e para isso so-
mamos as correntes e tensões obtidas com as soluções das redes pré-falta (figura
4.7) e de falta (figura 4.10).
Para a contribuição oriunda da fonte 1, correspondente à ligação adjacente
Z 1, superpomos / PI e I ( :

Da mesma forma, para a contribuição da fonte 2:

Figura 4.11: Superposição de correntes.

Vejamos o cálculo de / 1 :

~=~-~+~~+~~=~~-~~+~~+~~=~
Z1 + Z2 Z1 ( Z1 + Z2) Z1 ( Z1 + Z2) Z1

Analogamente, encontramos:

12 = E1 -E2 + E1Z2 +E2Z1 = E2.


Z 1 +Z2 Z 2 (Z 1 +Z 2 ) Z 2

A superposição de tensões no ponto P sob curto-circuito:

obviamente resulta em uma tensão nula:


Capítulo 4. Curto-circuito 177

Na superposição da corrente de curto para a terra, como a corrente para a ter-


ra na rede pré-falta é nula, escrevemos:

Ou seja, a corrente de falta para a terra e a corrente superposta se equivalem.


Essa coincidência nos favorece, pois a corrente de curto-circuito recebe a denomi-
nação por norma de corrente de falta, sem associá-la à rede de falta, como fizemos
de acordo com uma extensa literatura. De qualquer forma, como os valores são os
mesmos, esse aspecto não apresenta maiores complicações de denominação.
No caso dessa rede simples, vimos que é equivalente resolver a rede tanto pe-
lo método 1 como pelo método 2, no entanto, em redes mais complexas,
envolvendo cálculos matriciais, é conveniente seguirmos o método 2, pois é mais
imediato dispor da informação do equivalente de Thevenin na barra de curto, sendo
a tensão de Thevenin extraída de um programa de fluxo de potência, a ser estudado
no capítulo 7.
O artificio utilizado, na substituição do curto por um gerador de corrente, é
equivalente ao de substituirmos o curto por dois geradores de tensão, no ponto P,
em oposição de fases e com valor EP = Erh . Desse modo, o circuito da figura 4. 7 é
equivalente ao da figura 4.12.

Figura 4.12: Representação do curto com geradores de tensão.

Esse circuito pode ser resolvido em duas etapas, aplicando-se o princípio da


superposição aos geradores conectados ao ponto P.
Na resolução do circuito da figura 4.13, observamos que a ligação ou não do
gerador EP = E,h no ponto P em nada modifica a distribuição de tensões e corren-
tes na rede pré-falta, e tal gerador pode ser omitido, com os resultados idênticos aos
obtidos anteriormente na solução da rede da figura 4.6.
178 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

p
-
]PI

Circuito (a)

Figura 4.13: Rede pré-falta

Circuito (b)

Figura 4.14: Rede de falta.

A resolução do circuito da figura 4.14 é idêntica àquela obtida anteriormente


para a figura 4.1 O, que resulta na corrente de curto:

Concluímos portanto que os procedimentos são equivalentes, ao substituir-


mos o curto por um gerador de corrente ou por dois geradores de tensão em
oposição de fases.
Comentamos ainda que, em boa parte dos estudos a parcela da corrente de
carga é bem inferior à corrente de curto e além disso algumas configurações da rede
não apresentam as suas condições de carregamento bem definidas, como análises de
evoluções da rede. Desse modo, é comum desprezarmos o efeito das condições pré-
falta, utilizando a rede sem carga e adotando o valor de tensão nominal de 1,0 pu
em todas as barras, o que implica uma sensível simplificação do cálculo, sem gran-
de impacto nos resultados.
Capítulo 4. Curto-circuito 179

4.4 Modelo de Carga e Análise Pré-falta

4. 4.1 Modelo de Carga

Quanto aos modelos de carga, esta é uma questão relativamente complexa, e


trabalhamos genericamente com três modelos:

~P+jQ

Impedância constante Corrente constante Potência constante


Figura 4.15: Modelos de carga.

Ao considerarmos os carregamentos da rede em condições pré-falta, no cál-


culo do curto-circuito, estamos extrapolando o comportamento de modelos mais
adequados para outros estudos, como fluxo de potência ou estabilidade. Fica portan-
to uma dúvida sobre o real comportamento da carga nos breves períodos transitórios
ou subtransitórios do curto, muitas vezes em condições desequilibradas.
Os modelos de corrente constante, ou de potência constante, ou mesmo uma
composição de ambos, são mais adequados para estudos de fluxo de potência ou de
'estabilidade.
Pelo fato de estarmos aplicando o princípio da superposição, podemos utilizar
apenas os modelos lineares, ficando descartado o modelo de carga com potência
constante, que envolve o produto da tensão pela corrente. Nessa mesma categoria
encontram-se as cargas não lineares de circuitos retificadores, muito comuns em
processos industriais, cujo comportamento é dependente da malha de controle utili-
zada. A representação detalhada desses equipamentos só é possível em programas
de transitórios eletromagnéticos.
Cabe salientar que algumas aproximações no modelo de carga não apresen-
tam uma grande imprecisão no cálculo, pois em geral a parcela correspondente à
corrente pré-falta é relativamente pequena em relação à corrente total de curto. Por
essa razão, muitas vezes a contribuição da corrente pré-falta não é considerada, o
que simplifica todo o procedimento de cálculo.
As cargas constituídas por motores têm tratamento semelhante ao de gerado-
res, conforme discussão do item 4.2. Determinados componentes da rede como
reatores ou bancos de capacitores, ou mesmo cargas resistivas, como as de ilumina-
180 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

ção, apresentam um comportamento de impedância constante, devendo-se tomar um


cuidado especial com transitórios causados por descarga de bancos de capacitores.

4.4.2 Estudo das Condições Pré-Falta

Normalmente as condições pré-falta são estabelecidas em um estudo de fluxo


de potência, como veremos no capítulo 7, do qual são extraídas as tensões nas bar-
ras, correntes e fluxos de potência nos ramos de ligações.
Faremos aqui um breve resumo, do ponto de vista das informações pré-falta
básicas:

Figura 4.16: Representação da carga numa barrai.

Para cada barra i são definidas as variáveis P;, Q;, V;, 0; .


Nesse caso, P; e Q; são potências absorvidas por cargas ligadas para a terra.
Em uma ligação temos um fluxo de potência da barrai em direção à barra}.

i sij flj..
j

V;L.0; 1,---------------------1
Figura 4.17: Fluxo de potência.

Com as tensões V; e v1 obtemos a corrente na ligação i - j, dada por:

/ .. = v.-v.J
1 (4.5)
lj zlj..

O fluxo de potência por fase e o trifásico são calculados pelas expressões:


*
S--=V.f.-
lJ I IJ'

slj.. =3V.J *..


li).
Capítulo 4. Curto-circuito 181

Vejamos como obter a impedância de uma carga, do tipo impedância cons-


tante, conhecendo a potência absorvida e a tensão na barra. Admitiremos os dados
em valores por unidade.

• Modelo RL série
*
s = P; + Jq;' V; = Z; .i;' P; + Jq; = V;Í; '

(4.6)

No caso de tensão nominal (1 pu):

1 1 *
Z; =-* ou Yi =-=S;'
S; Z;

z;: impedância para a terra (pu),


Y;: admitância para a terra (pu).

• Modelo RL paralelo

(4.7)

4.5 Curto Trifásico Equilibrado

rede
k
-
ia

-
ib
b

c
-
ic

Zg zg

Figura 4.18: Curto trifásico.


182 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Consideremos uma rede trifásica equilibrada, da qual são acessíveis as três


fases em uma barra k do sistema.
Ao aplicarmos uma falta trifásica, considerando iguais as impedâncias de fal-
ta Zg, nas três fases, estamos diante de um caso semelhante ao de uma carga
equilibrada, ligada em estrela aterrada ou não, com o envolvimento apenas da se-
qüência positiva, resultando no circuito equivalente de seqüência positiva:

Vi

Figura 4.19: Curto trifásico com envolvimento da seqüência positiva.

Dadas as condições equilibradas, concluímos que o curto trifásico pode ser


aterrado ou isolado, sendo indiferente a presença ou não do aterramento do centro
estrela, com correntes idênticas de fase em ambos os casos, resultando na soma
i0 + ib + ic = O no ponto N de neutro.
Supondo as grandezas (E, I, Z) em valores por unidade (e, i, z), escrevemos:

Com exceção de alguns casos especiais para calibragem de proteções, é co-


mum desprezarmos a impedância de falta zg, em relação às demais impedâncias da
rede, resultando em um cálculo levemente conservativo, com z g = O:

. e1
li=-,
Zt

que chamaremos de corrente de curto-circuito trifásica:

(4.8)
Capítulo 4. Curto-circuito 183

Da mesma forma, conhecidas a tensão pré-falta e a corrente de curto-circuito


trifásica, sabemos o valor da impedância de seqüência positiva Z 1, do equivalente
de Thevenin da barra.

4.6 Curto-circuito Fase-terra


Consideremos o curto fase-terra ocorrendo por meio de uma impedância de
falta Zg.

rede
k

-'ª
a

-
ib = 0

c
-
ie =0

Figura 4.20: Curto fase-terra.

As condições de contorno em um nó genérico k, para curto através de impe-


dância, são apresentadas a seguir, em valores por unidade:

(4.9)

(4.1 O)

Essas condições de contorno serão utilizadas na obtenção dos modelos em


componentes simétricas e para isso escrevemos genericamente:

(4.11)

(4.12)
184 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

l::l= : ~ ;, +1
l::J=½ : ;, : 2
f:l (4.14) !

Da expressão (4.12), sabemos que:

(4.15)

ou,

(4.16)

Da primeira linha da fórmula (4.13) e com as equações (4.10) e (4.16), escre-


vemos:

Como as correntes nos três diagramas são iguais, conforme a expressão


(4.15) e a tensão na fase a é igual a 3zgio, ou nula no caso de zg = O, podemos pro-
por a conexão em série dos diagramas de impedâncias: de seqüência positiva, de
seqüência negativa e de seqüência zero, apresentada na figura 4.21. Lembramos que
as impedâncias de seqüência positiva e negativa são iguais.
A partir do circuito obtemos:

(4.17)

Observamos que e1 = vthl corresponde à tensão de seqüência positiva, dada


pela tensão do equivalente de Thevenin no ponto de falta. As impedâncias equiva-
lentes de Thevenin, de seqüência positiva e seqüência zero, são z 1 = z,h 1 e
zo = ztho , respectivamente.
No caso particular de curto franco, adotamos zg = O e a dedução do equacio-
namento passa a ser mais imediata, pois v0 + v1 + v2 = O.
Sabendo que:
Capitulo 4. Curto-circuito 185

seq. 1

seq. 2

seq. O

Figura 4.21: Conexão dos diagramas de seqüências no curto fase-terra.

e como z 1 =z 2 , obtemos:
186 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Isso corresponde a colocar os três diagramas de seqüências em série e poste-


riormente em curto.
No ponto de curto encontramos:
. 3e1
l =---
a Zo + 2zl

Ao longo do texto, chamaremos a corrente de curto monofásica de i1</>, sendo:

i1<1> = 3e1 ( 4.18)


z 0 +2z 1

É interessante obter as tensões v0 , v1 e v2 nos diagramas de seqüências:

(4.19)

(4.20)

Sabendo que v0 + v1 + v2 =O, obtemos:

v, = (zz +zi)e
+ 2z
0

0 1
1
(4.21)

Observamos que também podemos obter v1 do divisor de tensão, em relação


à tensão aplicada ao circuito e1 • Para v0 e v2 encontramos divisores análogos, po-
rém com polaridade trocada.
Em componentes de fase, obtemos as tensões vb e ve :

Lembrando que:

calculemos as tensões nas fases b e e:


Capitulo 4. Curto-circuito 187

(4.22)

(4.23)

Observamos que se desprezarmos as resistências da rede, ou seja, trabalhando


apenas com reatâncias z = jx, obtemos valores iguais em módulo para as tensões
vb e vc nas fases sãs b e e.
Neste ponto é conveniente definirmos o fator de sobretensão como a relação
mais elevada entre a tensão em uma fase sã, vb ou vc, durante o curto, pela tensão
preexistente, antes do curto, correspondente à tensão do equivalente de Thevenin e1 •
Fator de sobretensão, calculado para a fase b:

(4.24)

Repetimos o cálculo para a fase e e tomamos o pior caso.


Com a finalidade de obtermos uma expressão mais simples, adotaremos
k = z 0 / z 1 na equação (4.22) e aproximaremos este número complexo k por um
número real, admitindo que as impedâncias de seqüência positiva e zero apresentem
fases aproximadamente iguais, obtendo:
k e-}150° -1. r::;
vb =-----'\,13e1 • (4.25)
k+2
Desenvolvendo o número complexo:
k e-}150° - 1,
k+2 '.

e lembrando que k passa a ser um número real, obtemos:

k(-~-1½)-1 -k ✓23 1·(1 + k)2 _ -k 2✓3 - 1 -2-


- . k+ 2 = -k✓3- J(k+2)
k+2 k+2 k+2 2(k+2)
188 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Em módulo:

✓3k 2 + k 2 + 4k + 4 =✓ k-2 -
+ k +1
--
2(k+2) k+2

Resultando no módulo do fator de sobretensão para o curto fase-terra:

(4.26)

Para sistemas com z 0 = z 1, portanto com k = 1, o fator de sobretensão é unitá-


rio, pois não havendo mútuas, a tensão em uma fase não depende do que ocorre
com a outra.
Conhecidas a tensão do equivalente de Thevenin e da corrente de curto fase-
terra, temos informações sobre as impedâncias de seqüências positiva e zero, a se-
rem exploradas no item 4.9.

4.7 Curto Dupla-fase

A figura 4.22 mostra a representação do curto dupla-fase através de impedância.

rede k Í0 =O
--.
a

-
ib

c
-
ic zf

Figura 4.22: Curto dupla-fase com impedância entre fases.

Estabelecemos as condições de contorno para esse tipo de falta, escrevendo:


(4.27)

(4.28)

(4.29)
Capitulo 4. Curto-circuito 189

Das equações de correntes, (4.27) e (4.28), concluímos que:

o que implica uma corrente de seqüência zero nula, ou seja, sem o envolvimento
dessa seqüência no curto dupla-fase, pois i0 = O.
Como ia =O, tem-se:
i0 + i1 + i2 = O,
o que implica:
(4.30)

A expressão de tensão (4.29), reescrita em componentes simétricas, apresenta:

(v 0 +a2 v1 +av2 )-(v0 +av1 +a2 v2 )=z1 (io +a 2 i1 +ai2 ),

que pode ser rearranjada em:

(a 2 - a) v1 - ( a 2 - a) v2 =(a 2 - a) zI i1 • (4.3 1)

Cancelando o termo a 2 - a, r~sulta em:


(4.32)

Das expressões (4.30) a (4.32), obtemos o circuito em componentes simétri-


cas para o cálculo do curto dupla-fase:

seq. 1 seq. 2

Figura 4.23: Conexão dos diagramas de seqüências positiva e negativa no curto dupla-fase.
190 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Calculando a corrente no circuito:

. e1
l1=-----
Zt +z2 +z f

e como:

temos:

Calculemos as correntes nas fases b e e:

que satisfaz a condição de contorno ic =-ib .


• Cálculo da tensão na fase a
Escrevemos a tensão de seqüência positiva, obtida do divisor de tensão:

Esta tensão também poderia ser obtida pelo cálculo da queda de tensão no diaf
grama de seqüência positiva:

A tensão v2 é dada por:

Como i1 =-i2 , escrevemos v2 =z2i1 •


A tensão na fase a, como v0 =O , é dada pela soma de v1 + v2 das duas ex~
j

pressões anteriores, resultando em vª = e1 • Concluímos que, independentemente de


valor de z f, não há sobretensão na fase a.
Em geral, adotamos z f = O e simplificamos as equações:
Capítulo 4. Curto-circuito 191

Quando z 1 =O , a simplificação permite uma dedução rápida da ligação dos


diagramas de seqüências, pois i 1 = -i2 e como vb = vc é imediato que v1 = v2 , tor-
nando-se óbvia a ligação em paralelo dos diagramas de seqüências.
Calculemos as correntes em componentes de fase, adotando z 1 =O :
,- o

o
.✓3 e1
= -1--
2 ZJ
.✓3 e1
1--
2 Zt

Lembrando que:

obtemos em módulo da corrente de curto dupla-fase:

(4.33)

: que é inferior ao módulo da corrente de curto trifásico.


i
'
14.8 Curto Dupla-fase-terra
1
1
t• Condições de contorno
1
192 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

rede k
-
ia =o

-
ib zf
b

c
-
ic

Zg

Figura 4.24: Curto dupla-fase-terra.

Como a corrente na fase a é nula, ia= O, temos:


i0 + i1 + i2 =o,
sugerindo a conexão dos três diagramas de seqüências em um mesmo ponto, de tal
forma que a soma das correntes seja nula.
Da expressão (4.12), sabemos que ( ia + ib + ic) = 3i0 e como ia = O, temos:

Reescrevendo as equações de tensões em componentes simétricas:

(4.34)

(4)5)

Subtraindo-se a equação (4.35) da (4.34):

ou:

(4.36)

Da expressão (4.34), isolando os termos de seqüência zero:

Usando (4.36) e sabendo que:


Capítulo 4. Curto-circuito 193

resulta o diagrama de impedâncias visto na figura 4.25. Desse diagrama, a corrente


de seqüência positiva é dada pela expressão:

As correntes i2 e i0 são obtidas pelo divisor de corrente, composto pelas im-


pedâncias de seqüência negativa e seqüência zero.

seq. 1

e1
zf
-i1

- io

3zg
i2 t seq. O
zf
Z1
VI

seq.2

Zz

Figura 4.25: Conexão dos diagramas seqüenciais para o curto dupla-fase-terra.

Em geral adotamos z f = z g = O, e nesse caso a dedução é imediata, pois co-


mo i0 = O, obtemos: i0 + i1 + i2 = O.
Como: vb = O e vc =O, obtemos:

Essas equações resultam em condições duais do curto fase-terra, que impli-


cam uma ligação em paralelo dos diagramas de seqüências.
194 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Curto dupla-fase-terra: v0 = v1 = v2 e i0 + i1 + i2 =O.


Curto fase-terra: i0 = i1 = i 2 e v0 + v1 + v2 =O.
A corrente i1 é obtida pela expressão mais simplificada:

. e1
lt = ,
z 1 + z0 li z 2
Lembrando que z 2 = z 1 , temos:

As correntes i2 e i0 são extraídas pelo divisor de corrente, conforme menção


anterior, lembrando que nos casos de interesse z 1 = z 2 =I= z 0 .

Zo
i2 =-ii--'---=
z2 +zo

Das expressões anteriores são extraídas as correntes de fase i0 , ih, (. :

Para calcularmos ih, a expressão é semelhante à (4.23), para o cálculo de ten-


sões durante o curto fase-terra, trocando z 0 por z 1, e dividindo por z 1 :

.
zb =( z 1e- jl 50° - JZo
. ) ✓3 e1
2z0 +z 1 z 1

Cálculo da tensão na fase a


Sabemos que v0 = v1 = v2 = v0 I 3, e como v0 = -i0 z 0 , das expressões anterio-
res obtemos:
Capítulo 4. Curto-circuito J95

Observamos que, fazendo z 0 ➔ ou seja, impedindo a circulação de cor-


00 ,

rente de seqüência zero, recaímos no mesmo resultado do curto dupla-fase, com


v1 = e1 I 2 e v1 = v0 , nesse caso:

Analogamente ao curto fase-terra, definimos um fator de sobretensão para a


fase a, adotando k = z 0 / z 1 como um número real:

3kz1 3k
---'---=--
( 2k + 1) ZJ 2k + 1 '

na qual k = z 0 / z 1•

4.9 Potência de Curto-circuito

4.9.1 Potência de Curto-circuito Trifásica

Em um circuito trifásico, simétrico e equilibrado, trabalhamos com tensões


nominais de fase e de linha.

Tensão nominal de linha: V.

Tensão nominal de fase:

V = ~ L'.Oº
f ✓3

Para a seqüência positiva, conhecidas as tensões:

obtemos V6 , Vc e Vbc e Vca pelos correspondentes defasamentos de 120º .


Conhecida a corrente ÍJrp de curto trifásico em uma barra, definimos a potên-
cia de curto-circuito trifásico nesse local da rede pela seguinte expressão,
considerando a tensão nominal da barra:
196 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Essa expressão fornece a potência aparente de curto-circuito trifásico, em mó-


dulo. Podemos estender um pouco mais o conceito, definindo em valor complexo:

V = V1 = ~LOº
a ✓3

Figura 4.26: Tensões de linha e de fase.

Adotando a potência de base trifásica,

sb = ✓3Vbaseh,
*
na qual Vbase = V é a tensão de linha, em valores por unidade obtemos s = vi .
Como na tensão nominal v = 1, O pu, temos o valor da potência dado pelo complexo
conjugado da corrente:
*
s =i .

Com tensão nominal, sabemos que a corrente é igual ao valor da admitância, em pu,
pois i =y.
Conseqüentemente, verificamos que o conjugado da potência complexa é i-
gual ao valor da admitância de Thevenin, no local do curto:
*
y=s.

Ou seja, a informação da potência de curto-circuito trifásica nada mais é do que a


informação da impedância ou admitância do equivalente de Thevenin nesse ponto
da rede elétrica, o que será útil na exposição a seguir.
Consideremos um sistema com as possíveis configurações:
Capítulo 4. Curto-circuito 197

A B
,----t------i Y, ... b ...~ Yi

y,,

série paralelo

Figura 4.27: Elementos em série e paralelo, ligados ao barramento infinito.

A barra A é chamada de barramento infinito, considerada com freqüência e


tensão constantes, independentemente de qualquer alteração na rede. Em termos de
circuitos elétricos a tensão nesse ponto é imposta por uma fonte ideal de tensão
senoidal. Obviamente a potência de curto-circuito da barra A é infinita.
Para elementos conectados em paralelo entre as barras A e B, a potência de
curto-circuito na barra B, admitindo-se a presença apenas do i-ésimo elemento e
supondo condições nominais, é dada por:

S; = Y;* .
Isso ocorre pois, em vazio, o equivalente de Thevenin nessa barra apresenta a
mesma tensão nominal da barra A, de 1,0 pu e com a barra A aterrada a admitância
deste equivalente tem valor igual a Y;.
A potência de curto-circuito trifásica total na barra B, quando todos os ele-
mentos estão conectados simultaneamente, é dada pela soma:
n n
s, = LY/ e Y, = LY;,
i=I i=l

ou:

ou seja, a potência de curto-circuito total na barra B, com todos os elementos liga-


dos em paralelo, corresponde à soma das potências de curto-circuito de cada
elemento ligado individualmente.
Para elementos conectados em série, sabemos que a impedância do equiva-
lente de Thevenin é dada pela soma dos componentes individuais:
198 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Essa expressão pode ser escrita na forma:


1 1 1 1
-=-+-+ ... +-,
Yt Yt Y2 Yn
ou:
1 1 1 1
-;;-=-* +-* + ... +-*.
St St S2 Sn

Ou seja, a soma dos inversos das admitâncias corresponde ao paralelo desses


elementos:

Em termos de potências de curto-circuito, analogamente:

A potência de curto-circuito resultante da barra, com n elementos em série, é dada


pelo paralelo das potências de curto-circuito de cada elemento conectado indivi-
dualmente ao barramento infinito.
Como no curto-circuito trifásico temos o envolvimento apenas da seqüência
positiva, 2 1 = Z 1h , também podemos calcular a potência trifásica pela expressão:

4.9.2 Potência de Curto-circuito Monofásica

Cabe ainda definir a potência de curto-circuito monofásica aparente:

ou em valor complexo:

assumindo tensão de fase v1 LO .


Os equivalentes de Thevenin de seqüência positiva e zero podem ser forneci-
dos indiretamente através das potências de curto-circuito monofásica e trifásica.
Com a potência de curto-circuito trifásica s 3</J , obtemos:
Capítulo 4. Curto-circu ilo 199

Com a potência de curto-circuito monofásica s 11 , sabendo que s~1 =i11 , es-


crevemos:

que pode ser reescrita como:

Porém, como:

resulta em valores por unidade:

3 2
Zo = - *- - ---;- .
S(9) S39'

ou ainda:

EXEMPLO 1
Um conjunto de dez motores síncronos, de 5 MV A cada um, representado pe-
la sua potência equivalente, é conectado a um sistema elétrico por meio de uma
linha de transmissão de 69 kV, com 60 km de comprimento, e as respectivas trans-
formações de tensão no início e fim da linha. O sistema elétrico de alimentação
apresenta as potências de curto-circuito trifásica e monofásica, indicadas na figura.
São fornecidos os parâmetros de seqüência positiva e zero da linha de transmissão,
valores nominais e reatâncias dos transformadores e motores.
Sabemos que o conjunto de motores opera com tensão nominal na barra 4,
i absorvendo a potência de 46,5 MW com fator de potência unitário.
l..~
200 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

f}J
conjunto de
sistema
equivalente 1 72 linha
60km
3 }1~ 4
motores
síncronos

0 @! x 1 = j0,4388 O/km
@ 1
0
S3 rp = 500 MV A 13,8/69 kV 69/13,8 kV xj = J0,18 pu
x 0 = jl,1053 O/km
60MVA 50MVA !0 x 5 MVA
S 1rp = 600 MV A
x= 12% x= 10%

Figura 4.28: Sistema de alimentação dos motores.

a) Curto trifásico
Considerando-se um curto trifásico na barra 2, calcular as correntes de fase
no primário e no secundário do transformador 7i , admitindo a superposição com as
correntes pré-falta.
A potência de base adotada é Sh = 100 MV A .
Iniciamos a solução obtendo o diagrama de impedâncias de seqüência positi-
va e zero em valores por unidade.

30º 30º

1 2 3 4
seqüência positiva

1 2 3 4
seqüência zero
J0,1 jl ,393 J0,36
J0,2

Figura 4.29: Redes de seqüência positiva e zero, em valores por unidade.

• Impedância de base

69 2
Z6 =-=47 61 n.
100 '
Capítulo 4. Curto-circuito 201

• Reatâncias da linha em valores por unidade

_ . 0,4388x60 _ .0 553
Xi-} zb -} ' '

_ . l,1053x60 _ .1 393
Xo - j - j ' .
zb

• Reatâncias dos transformadores em pu

100
x,i = 0,12- = J0,20,
60

x 12 = O, 1 1OO = JO, 20 .
50

• Reatâncias do equivalente de Thevenin do sistema de alimentação

S 39 = 500 MV A em pu s39 = j :~~ = JS ,


1
Xi =-=J·0 2
* ' '
S39

x = ·(3xl00 _ 2xlOO) = .0 1 _
o J 600 500 J '

• Condição pré-falta
Examinemos as condições pré-falta, a partir das informações operativas
do motor.
*
A carga total tem o fator de potência unitário e como s = vi , obtemos
i = 0,465 pu.
Como a tensão na barra 4 é unitária em pu, obtemos a tensão na barra 2 com as
respectivas rotações angulares de seqüência positiva que ocorrem no transformador.

vff =(l+ J0,753x0,465)x1L30º ,

vff =1,06L19,3 ºx 1L30º =1,06L49,3 º .

As correntes no primário e secundário do transformador Ti são:


202 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Barra 1

i{f = 0,465LOº.
Barra 2

i;f = O, 465L30º.

I PI = O 465L0º 30º I PI = O465L30º 30º I PI = O 465L0º


~ 1 ,.......--... 2 ~ 3 ----.. 4 ----·

Figura 4.30: Rede pré-falta.

• Condição de falta trifásica na barra 2

• Equivalente de Thevenin
Impedância equivalente de Thevenin de seqüência positiva:

z,hl = j0,4/lj1,l 13 = J0,294.

Figura 4.31: Rede de falta.

• Cálculo de correntes

/ = l,06L49,3º =3 60L-40 7º.


J·o ' 294 ' '
Capítulo 4. Curto-circuito 203

Figura 4.32: Equivalente de Thevenin.

Com relação à corrente de curto-circuito trifásica total, este já é o valor final,


não havendo corrente pré-falta da barra para a terra em regime permanente.
Até aqui obtivemos a corrente de curto-circuito trifásica total. Vejamos as
contribuições de cada lado do circuito e para isso montemos o circuito equivalente.

-
jl, 113
.J
l

J0,4

Figura 4.33: Divisor de corrente.

Aplicando o divisor de corrente, obtemos a contribuição vinda do secundário


do transfonnador Ti :

/ = jl, 113 3 6L - 40 7º .
s J·1 , 5 13 ' '

A corrente !{ corresponde à corrente / ( no circuito de falta da figura 4.1 O:

i[ = 2,648L-40, 7°.
Analogamente, obtemos a contribuição do lado da linha de transmissão, 1{'
da figura 4.1 O:

12 = ~3,6L-40, 7º = 0,952L-40, 7º .
1,513

Calculemos a contribuição para a corrente de curto (~ do lado do secundário


do transformador Ti , aplicando o princípio da superposição. Como todas as rotações
204 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

já foram efetuadas, basta somar as correntes de falta e pré-falta:

i_1. =i_ff +i[ =0,465L30º+2,648L-40,7º=2,836L-31,80º pu.


Resultando finalmente nos valores em kA, para a corrente na fase a:

Is
(secundário)
=2,836 jºº
3 X 69
=2,373,

la =2,373L-31,80ºkA.

As correntes nas fases b e e são obtidas com as respectivas rotações de fase:

Obtemos também a corrente no primário:

ip = if + i{ xIL-30º= 0,465 + 2,648L-70, 7º= 2,836L-61,80º.


Observamos que bastava rodar 30º a corrente is do secundário,
100
IP = 2,836 r;; = 11,865,
(primário) '\,/ 3 Xl3,8

Iª = 11,87 L-61,80º kA.

As correntes nas fases b e e são obtidas com as respectivas rotações de fase:


Ih =laL-120º, lc =laL120º.

Cálculo de tensões

30º
3------..

Figura 4.34: Rede de falta.


Capítulo 4. Curto-circuito 205

Como vimos, podemos resolver a rede em falta usando um gerador de tensão ou


um gerador de corrente. Calculemos, por exemplo, a tensão na barra 4, durante O curto.

Com o gerador de tensão


Obtemos a tensão na barra 4, na rede de falta, simplesmente com o divisor de
tensão:

v{ =- 0, 36 xl,06L'.49,3ºxlL-30º =-0,343Ll9,3º =0,343L -l 60,7º pu


1,113 .

Com o gerador de corrente


Com o gerador de corrente, conhecemos a contribuição da corrente do lado
da linha de transmissão, chamada de 1{ , que precisa ter o defasamento correspon-
dente, para utilização na barra 4 da rede:

I{ ~x3,6L-40,7,
1,513

v{ = - j0,361{L-30º = - J0,36 x 0,952L- 70, 7º = 0,343L-160, 7º

Apresentando o mesmo resultado anterior.


Obtemos o valor final da tensão na barra 4 superpondo os resultados das ten-
sões pré-falta e de falta:

v4 = vff + v{ = 1,0 + 0,343L-160, 7º = 0,686L-9,52º .

b) Curto fase-terra
Para o curto fase-terra, calcular as correntes de fase no primário e no secun-
dário do transformador Ti .
Vejamos agora como seria a solução, quando admitimos um curto monofási-
co no ponto 2.
Iniciamos o cálculo da corrente de falta com a ligação em série dos diagramas
de seqüências, compostos pelos equivalentes de Thevenin no ponto de falta.

Impedância equivalente de seqüência positiva

zthl = J0, 294.

• Impedância equivalente de seqüência zero

ZrhO = J0, 2// jl, 593 ⇒ ZrhO = J0, 178.


206 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Figura 4.35: Ligação dos diagramas de seqüências.

Sabendo que e1h é a tensão do equivalente de Thevenin no ponto 2, obtemos


as correntes de seqüências:

i =i =i = I,0 6L 49 , 3 º =1384L-40 7º u
0 1 2 J(2x0,294+0,178) ' ' P '

Jf = 3xl,384L-40, 7º = 4,152L-40, 7º pu.

A corrente de falta fase-terra já é o valor final, pois a corrente pré-falta é nula


para a terra.

b 1) Contribuição do lado secundário do transformador Ti (69 kV).

• Contribuição da seqüência positiva


Novamente, usando o mesmo divisor de corrente de seqüência positiva:

/(1) = l,l l 3 l 384L-40 7º


.\ 1,513 ' ' '

obtemos a contribuição da corrente de falta existente no lado 69 kV do transforma-


dor Ti:

i{(I) = 1, 02L - 40, 7º .


Capitulo 4. Curto-circuito 207

Superpondo com a corrente de pré-falta, obtemos o valor total da contribui-


ção de corrente de seqüência positiva do lado secundário do transformador 7i :

l,(I) = z·Pf(I) + /(1) = 0 465L30º+ 1 02L-40 7º= 1 253L-20 2º


s s s ' ' ' ' '.

• Contribuição da seqüência negativa


A contribuição de seqüência negativa é idêntica à de seqüência positiva, pois
o divisor de corrente é o mesmo:

ii 2 > = 1, 02L - 40, 7º .

Como não há corrente pré-falta de seqüência negativa, essa já é a contribui-


ção total.

• Contribuição da seqüência zero


Tomando-se o divisor de corrente de seqüência zero:

i~O) = l,S 93 1,384L-40,7º=1,230L-40,7º.


· 1, 793

• Correntes de fase
Obtemos as contribuições de correntes de fase, do lado secundário do trans-
formador 7i, que também já são valores superpostos:

[Í.m] 1 1 [ l, 230L - 40, 7º] [3, 45L - 33, 40º]


~sb = 1 a2 a x l,253L-20,2 º = 0,62L-75,18º .
z,\'C 1 a a2 1,02L-40,7º 0,26Ll58,58º

Finalmente, em valores reais, basta multiplicar pela corrente de base em 69 kV:

Isa] [Í.rn] lOO [2,89L-'-33,40º ]


[lsb = ~sb ✓3x 69 = 0,52L-75,18 º 0
kA.
fsc lsc O, 22Ll 58, 58

b2) Contribuição do primário (13,8 kV) do transformador 7i.


As correntes existentes no lado de 13,8 kV desse transformador podem ser
calculadas com os correspondentes defasamentos das correntes de seqüências posi-
tiva e negativa, lembrando que não existe componente de seqüência zero:
208 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

ipa 1 1 1
O ] l2,141L-32,56º]
lpb = 1 ª2 a x l l,253L-20,2ºx1L-30º = l,741L154,51º pu,
lpc 1 a ª2 1,02L-40,7ºx1L+30º 0,465L120º

ou, em valores reais:

I _ 100
b-
✓3 x13,8'

fpa l8,956L-32,56º]
Ipb = 7,285Ll54,51º kA.
J pc 1,945Ll20º

b3) Cálculo das tensões na barra 2 para o curto fase-terra.

V2 = - JO, 294 x 1, 384L - 40, 7 = O, 407 L -130, 7º,

v0 = -J0,1778xl,384L-40, 7 = 0,246L-130, 7º,

v1 =-(v0 +v2 )=0,653L49,3º,

Podemos ainda obter o módulo da tensão na fase b, utilizando a fórmula sim-


plificada:

f. = ✓3 ✓k 2 +k+l
st 2+ k ,

k = O, 178 = O 605
O 294 ' '
'
fst = 0,934.

Como fs, = v6 / e1 e lembrando da tensão de Thevenin nesse ponto:


e1 = 1,06 pu,
Capítulo 4. Curto-circuito 209

69
vb =l,06x0,934x ✓3 =39,44 kV

b4) Cálculo da corrente de curto e a tensão na barra 2, considerando um reator de


neutro de 20 Q no transformador 7i .
A instalação de um reator no neutro do transformador 7i altera o diagrama de
seqüência zero.

xneutro = 20 n,
Xn =1 - - = J·o, 42
· 20 pu.
47,61

2 }1,26 3

3 X }0,42

Figura 4.36: Diagrama de seqüência zero, com reator de neutro.

ZthO = jl,46// }, 1593 = JO, 762,

i = I,0 6 L 49 , 3º =0785L-407º
1 J(2x0,294+0,762) ' ' '

i1</J = 2,356 pu,

v2 = -J0,294x0, 785L-40, 7 = 0,23 lL-130, 7º,

v0 =- JO, 762x O, 785L-40, 7 = 0,598L-130, 7º ,

V1 = -( Vo + V2) = Ü,829L49,3 º ,

~
a2
x[º•i,:~:~~:,; 1 ~
070 6
:
0,231L-130,7º j-v 3
l
[ 51, 13L ~85,04º kV.
51,13L-176,36º
21 O Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

EXEMPLO 2
Considere o sistema descrito a seguir:

1 DJl-2 350km
3

0 1
QD 1 1

230/500 kV
800MVA
x=8%

Figura 4.37 : Rede do exemplo 2.

As potências de curto-circuito trifásica e monofásica na barra 1 são, respecti-


vamente, 5000 MV A e 6000 MV A.

• Parâmetros da linha de transmissão


z1 = 0,04 +J0,35 Q/km, c 1 = 13 nF/km,
zo= 0,14 +J0,65 .Q/km, co= 9 nF/km.

Utilizando o modelo de linha longa, pede-se calcular a corrente de curto fase-


terra no fim da linha, sabendo que a mesma possui tensão nominal no início e en-
contra-se em vazio.
Adotando:

S b = 1000 MV A , Vb = 500 kV ,

obtemos:

Xsl = J0, 2' Xso = J0, 1, X1 = J0, 1 .

Solução com modelo de linha longa


Calculemos os parâmetros A e B de linha longa, para as seqüências positiva e
zero, usando as expressões do capítulo 3.

A= cosh (ye), B = Zc senh (yR).

Seqüência positiva Seqüência zero


A1 = 0,897 + J0,0116 Ao = O, 868 + J0, 028
B1 = 13, 03 + Jl 18, 3 1 n B0 = 44,675 + }217,85 n
Capítulo 4. Curto-circuito 211

Com a linha em vazio, obtemos a tensão no final da linha, que é a tensão


pré-falta:

• Equivalente de Thevenin de seqüência positiva, visto no fim da linha

Figura 4.38: Equivalente de Thevenin de seqüência positiva.

Zl =~=0,0521+ }0,4732 pu,


zb
zc1 =__!!i__l_=0,0094- }4,581 pu,
A1 -1 Zb

zthl = O, 0768 + JO, 960 pu .

• Equivalente de Thevenin de seqüência zero

J z,ho

Figura 4.39: Equivalente de Thevenin de seqüência zero.

Bo .
z 0 =-=0,179+ ;0,871 pu,
zb
212 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

B0 I .
ZcO =-- =0,033- J6,589,
A0 -1 zb

z,ho = ( zo + zco) li zco = O, 0678 - j3, 0597 pu ,

. 3e,h .
zr/Jt =-------'-"----=O, 585 + J2,82 pu,
22,hI + 2 thO ·

1= lOOO =11547kA
b ✓3x500 , ,

Ir/Jt = 3,325L78,28 kA.

4.1 O Referências Bibliográficas


[1] Stevenson Junior, W. D. Elementos de Análise de Sistemas de Potência. 2.ed.
McGraw-Hill, 1986.
[2] Stagg, G. H. & EL-Abiad, A. H. Computer Methods in Power System Analysis.
New York, McGraw-Hill, 1968.
[3] Anderson, P. M. Analysis of Faulted Power Systems. Ames, Iowa State Uni-
versity Press, 1973 .
[4] Ramos, D. S. & Dias, E. M. Sistemas Elétricos de Potência: Regime Perma-
nente. Rio de Janeiro, Guanabara Dois, 1982 2 vols.
[5] IEEE Std 141-93 Recommended Practice for Electric Power Distribution for
Industrial Plants.
CAPÍTULO 5

TRATAMENTO MATRICIAL DE REDES

5.1 Introdução
O tratamento matricial de redes é objeto de uma extensa literatura que explo-
ra suas propriedades fundamentais.
Recordaremos os aspectos básicos na formação da matriz de admitâncias que
exprime propriedades nodais da teoria de circuitos, mencionando de passagem a
formação da matriz de impedâncias nodais. Para uma abordagem mais detalhada do
assunto, quanto ao aspecto de eficiência computacional, que não é o objetivo deste
texto, o aluno pode contar com várias publicações dedicadas ao tema.

5.2 Matrizes para Redes de Seqüências

O estudo de uma rede equilibrada, em regime permanente, utiliza a representa-


ção apenas da seqüência positiva. No caso de desequilíbrios, ou mesmo em alguns
tipos de curto-circuitos, necessitamos também da rede de seqüência zero, ou até
mesmo da rede trifásica.

5.2.1 Formação da Matriz Y Considerando os Elementos


Indutivos sem Mútuas

Façamos uma breve recordação da técnica de formação da matriz de admi-


tâncias nodais Y, que requer o conceito de matriz primitiva dos elementos.
Consideremos inicialmente o caso básico de rede monofásica, constituída por
bipolos puramente passivos, sem a existência de geradores de corrente ou de tensão
nesses elementos.

Figura 5 .1: Elementos de rede.


214 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Temos então:
(5.1)

ou:
(5 .2)

Por meio da análise da estrutura da rede obtemos a equação básica para a


formação da matriz de admitâncias nodais [2,3]:

(5.3)

A matriz de incidência nodal A (ou de conexão nodal), contém as informa-


ções topológicas, e a matriz primitiva de admitâncias [Y P] fornece os elementos da
rede.
Com as matrizes primitivas escrevemos as equações:

[ Vpq ] =[ Z P ] [ Jpq ] , (5.4) 1

[ Jpq ] = [ y P ] [ Vpq ] . (5.5) 1

[vpq]: vetor de diferenças de potenciais entre os nós dos elementos da rede,

[ J pq] : vetor de correntes nos elementos da rede.


Portanto [Y P] pode ser obtida pela inversão de [ZP], fazendo:

(5.6)

A formação da matriz Y, a partir da expressão (5.3), não é eficiente em ter-


mos computacionais, sendo mais prático aplicarmos a regra de colocar na diagonal
a soma das admitâncias incidentes nos nós e fora da diagonal as admitâncias de
ligações entre nós com sinal trocado.
As linhas da matriz de admitâncias nodais podem ser obtidas aplicando a pri-
meira lei de Kirchhoff, o que faremos a seguir para um nó genérico i.
A soma de todas as correntes injetadas no nó i, incluindo a parcela do gerador
de tensão ( ou um eventual gerador de corrente), deve ser nula:

Desse modo:
Capítulo 5. Tratamento Matricial de Redes 215

V;
-
Í;1

- -
I; Y;1
f;2

Figura 5.2: Elementos conectados nó genérico i.

n
l-=~Y-(v-v-)+Y
/ ~ lj / j V
I 0 I'
(5.7)
J=l

Desenvolvendo:
n
li =-JíiJíí -Jí2V2 + .. ·+V; L(YíJ + Jío) + .. · -JínVn · (5.8)
}=I

Escrevendo essa equação para todos os nós da rede, obtemos:

[I] = [Y][V], (5.9)

[/]: vetor de correntes injetadas nos nós,


[V] : vetor de tensões nodais,
[Y] : matriz de admitâncias nodais.
Os termos da matriz Y , indicados por letras minúsculas, são dados por:

Yu =-Yu, (5.10)

n
Y li.. =~
~Y-
lj
+Y/0' (5.11)
J=l

Nos termos fora da diagonal temos as admitâncias da rede com o sinal troca-
do. Nos termos da diagonal temos o somatório de todas as admitâncias que incidem
no nó, inclusive as admitâncias para a terra, representadas por Jío na figura 5.2.
Obviamente, a matriz Y tem uma série de propriedades que não são discuti-
das em detalhes neste texto. Em sua formação, ou em modificações de sua estrutura
nos sistemas de ordem elevada, empregamos técnicas de compactação, devido à
216 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

elevada esparsidade das redes elétricas, assim como de ordenação ótima, o que leva
a um tratamento computacional eficiente. Para efeito prático, consideraremos que o
nó de referência é a terra, fazendo portanto parte da rede.
Uma confusão comum que fazemos é na consideração da corrente injetada no
nó i. Na figura 5.2, se não houver o gerador de tensão, a corrente injetada I; , com-
ponente do vetor [I], será nula. Por outro lado, se o termo Yi·o não for incluído na
matriz de admitâncias, uma parcela da corrente injetada na rede seria -f;o.

5.2.2 Formação da Matriz Y Considerando Elementos


Indutivos com Mútuas

Esses elementos indutivos referem-se a circuitos com um acoplamento mútuo


de seqüência positiva ou de seqüência zero, sendo este último caso o mais significa- . 1

tivo, principalmente em condições de falta com circuitos em paralelo.


O caso mais importante de inclusão de mútuas é o de linhas de transmissão,
normalmente na rede de seqüência zero. Nesse caso, verificamos que a submatriz de
admitâncias primitiva entra com o mesmo sinal nos blocos matriciais alinhados com .
a diagonal principal e com sinal trocado nos blocos fora dessa diagonal. Tal proprie- .
dade facilita a adição de elementos com mútuas na matriz de admitâncias nodais e ,
pode ser deduzida a partir de uma simples extensão da equação (5.7) escrita matri- 1
cialmente, ou seja, subdividiremos a barra i em subnós, correspondentes aos circui- :
tos em paralelo, ou acoplados, incidentes nesse nó original. Como exemplo, tome- l
mos os subnós ia, ib e ic trifásicos, se estivermos utilizando componentes de fase
para uma dada linha de transmissão, ou i1, i2 e i3 se estivermos representando três ;
circuitos acoplados em paralelo, em uma dada seqüência.
Escrevendo de forma vetorial a primeira lei de Kirchhoff em cada barra i, su- \
pondo circuitos acoplados para as demais barras} da rede, j i= i, temos:

[1; ] = I [Jíf ] ([v;] - [v


J=I
1] ) + [ r;g ][V; ] , (5.12) 1

na qual:
[!;] : vetor cujos elementos são as correntes injetadas nos subnós da barra i,
[V;], [Vj]: vetores cujos elementos são as tensões nos subnós da barrai e j,
[Y;f]: matriz primitiva de elementos conectados aos conjuntos de subnós existentes '
na barrai e na barra}, incluindo os acoplamentos existentes.
Desenvolvendo:
Capítulo 5. Tratamento Matricial de Redes 217

É imediato verificar que nos blocos da diagonal principal, correspondentes à


barra i, as submatrizes entram com o mesmo sinal e nas demais barras, fora da dia-
gonal principal, as submatrizes entram com o sinal trocado.

Figura 5.3: Inserção das sub-matrizes dos elementos com mútuas.

Para curto-circuitar dois ou mais nós ( ou subnós em circuitos acoplados) em


uma determinada barra da rede, por exemplo, dois ou mais circuitos conectados na
mesma barra, i1 = i2 = i3 , a modificação na matriz é muito simples, bastando reter
um determinado nó ( ou subnó ), adicionando-se as linhas e colunas correspondentes
aos nós (ou subnós) a serem eliminados à linha e à coluna desse nó retido.
Na matriz de admitâncias nodais a seguir, exemplifiquemos a operação de
curto-circuitar os nós k e m, supondo mantido o nó k e extinto o nó m. Nesse nó k,
isso corresponde a somar as correntes injetadas Ik + Im e igualar as tensões
Vk = Vm, cuja operação corresponde a uma soma das linhas e colunas k e m, man-
tendo-se a linha e coluna k.

Y11 Ylk Ylm Yin Vj

Ykl Ykk Ykm Ykn Vk


X

Yml Ymk Ymm Ymn vm

YnI Ynk Ynm Ynn vn

Com o curto-circuito dos nós k em:


218 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Y11 Yik + Yim Yln

Ykl + Yml Ykk + 2Ykm + Ymm Ykn + Ymn X Vk

Ynt Ynk + Ynm . Ynn

5.2.3 Obtenção da Matriz de Impedâncias Nodais

Existem algoritmos para a formação direta da matriz Zbus, porém, o modo


mais conveniente de obtê-la, para os nossos propósitos, é por meio da inversão da
matriz Y, usando a fórmula (5.9):

(5.14)

sendo:

(5.15)

Verificamos que injetando numa dada rede uma corrente de valor unitário
I k , no nó k, podemos construir uma coluna da matriz Zbus, medindo as tensões nos
nós da rede. Nesse caso devemos tornar inativos os geradores da rede, como por
exemplo curto-circuitando os nós de todos os geradores de tensão.

k r

ref.

Figura 5.4: Rede genérica com n nós .

Vj
Capítulo 5. Tratamento Matricial de Redes 2 J9

Desse modo obtemos a impedância equivalente de Thevenin da rede no nó k,


zkk, p01s:

(5.16)

Obtemos também as impedâncias z;k, pois:

Observamos que a partir da matriz Y, é conveniente calcular a coluna k da


matriz Zbus, simplesmente pela solução do sistema linear:

o
Fazendo h = 1, calculamos o vetor de incógnitas [ x] com métodos de trian-
gularização e retro-substituição.
Desse modo, operando em uma coluna k da matriz de impedâncias, referente
a um nó de entrada k, injetada uma determinada corrente neste nó, obtemos as ten-
sões ao longo de toda a rede.
Na obtenção da impedância equivalente de Thevenin, vista dos nós k em, uti-
lizamos a expressão ( 5 .15),

A inversão é obtida com a tabela de fatores previamente montada, seguida da


retro-substituição [3].
Aplicamos o vetor de correntes a seguir no sistema de equações:

ou seja, injetando um gerador de corrente unitário ( + 1) no nó k e um gerador com


sinal trocado (-1) no nó m. O vetor [V] é numericamente igual à diferença das co-
lunas k e m da matriz.
Lembramos ainda que ao utilizarmos a matriz Y para obter o equivalente de
Thevenin, aterramos os nós internos de geradores de tensão da rede E O = O.
220 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Obtemos então:

na qual [zk] e [zm] são as colunas k em da matriz.


Senão vejamos:

k m

2 km 1
X '
v,11 2 mm -1

Vm =2 mk -zmm ·
Como zkm = zmk, temos a impedância de Thevenin entre os nós k em.
(5. 17)

Para obtermos a impedância equivalente de Thevenin, vista apenas do nó k,


tornamos nulos os elementos da linha e coluna m, na expressão (5.17), resultando
em Z1 = zkk, que é um resultado coincidente com a expressão (5.16).
Desse modo, observamos que a impedância equivalente de Thevenin, vista de
uma determinada barra, encontra-se no elemento da diagonal da matriz de impedân-
cias nodais, correspondente ao nó dessa barra. Essa propriedade será útil na extra-
ção das impedâncias equivalentes de Thevenin, a partir da matriz de impedâncias
nodais de uma determinada rede elétrica, tomando-se uma simples operação de
consulta aos elementos da diagonal.

5.3 Matrizes Trifásicas


Veremos a seguir um método simples de formação da matriz de admitâncias
nodais trifásica.
Capítulo 5. Tratamento Matricial de Redes 221

No estudo de algumas condições de desequilíbrio em uma rede, como é oca-


so de linhas não transpostas, ou quando ocorrem simultaneamente duas ou mais
condições de desequilíbrio, como por exemplo uma fase aberta e um curto-circuito,
não convém a aplicação das componentes simétricas. Nessas ocasiões, é mais indi-
cado analisar a rede por meio da sua estrutura trifásica.
O tratamento das indutâncias mútuas entre fases é idêntico ao de mútuas en-
tre circuitos, de redes monofásicas, conforme descrição anterior.

5.3.1 Formação da Matriz Y Trifásica

Para a formação da matriz Y trifásica utilizamos os conceitos anteriores, ob-


servando que a matriz [Y P] mantém o sinal quando inserida nos elementos que
compõem os blocos da diagonal principal (submatrizes) e troca de sinal ao ser inse-
rida nos elementos fora dessa diagonal. A matriz é convenientemente expandida
para comportar os subnós trifásicos de cada barra.
Os componentes indutivos série da linha de transmissão apresentam ligações
entre barras trifásicas da rede. Vejamos então como inserir na matriz de admitâncias
estes elementos.

• CJ
"'a
ma

2 ac zb
} Zab 2 ab = 21
kb
• mb 2 ac = 22
} Zbc
2 bc = Z3
Zc
kc
• CJ me

Figura 5.5: Elementos indutivos com indutâncias mútuas.

z: impedância própria, considerada a mesma nas três fases.

l ll l l
z 1 , z 2 e z3 : impedâncias mútuas.

z,
lVw
Vkb - lVma
Vmb = 2z1 z
Z2
Z3 X
[lw,ma
J kb,mb ' ou:
v,1/C

ll l l
vkc 22 Z3 z Jkc me
'

z,
[VW,ma Z Z2 [lw,ma
Vkb mb = 21 z 23 X Jkb mb . ,

Vkc:mc 22 Z3 Z Íkc,mc
222 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

obtendo a matriz [Y P] primitiva temos:

r
Y1 ZJ Z2

[rPJ=[; y
Y2]
Y3 =
y
[z 21

Z2
z
Z3
Z3
z
Y2 Y3

Aplicando as regras anteriores obtém-se:

kª kb ke ma mh me
kª y Y1 Y2 -y -yl -y2
kb Y1 y Y3 -y, -y -y3
kc Y2 Y3 y -y2 -y3 -y

ma -y -yl -y2 y Y1
mb -yl -y -y3 Y1 y
me -y2 -y3 -y Y2 Y3

ou seja, chamando G =[Y P], temos para o caso de uma linha de transmissão:

1 1 1 1
-~----------~---4----------~-
I 1 , I 1
kª 1 1 1 1
1 1 I 1
1 1 1 1
kb : +[ G]
1
:
1
: -[ G]
1
:
1
1 1 1 1
kc 1
1
1
1
1
1
1
1
-,----------,---7----------,-
1 1 1 1
Y= 1 1 1 1
_L1 __________ 1L __ J1__________ L_
1

1 1 1 1
ma 1 1 1
1 1 1
1 1 1
mb -[G] :
1
: +[G]
1
:
1
1 1 1
1 1 1 1
me 1 1 1 1
-~----------~---4----------~-
I 1 1 1

Figura 5.6: Introdução de G na matriz de admitâncias nodais.

Uma dada matriz G1 , que descreva as admitâncias de um componente ligadc


a uma barra trifásica da rede elétrica, com ligações entre os seus nós e a terra, sem
transferências para outros barramentos da rede, é inserida simplesmente com sua
adição ao bloco trifásico correspondente da diagonal principal.
Capítulo 5. Tratamento Matricial de Redes 223

Como exemplo desse caso temos as matrizes de admitâncias capacitivas de


linhas trifásicas, que são concentradas nas extremidades da linha e inseridas na ma-
triz de admitâncias conforme o procedimento descrito.
No exemplo a seguir veremos como tratar as capacitâncias e indutâncias de
uma linha de transmissão trifásica, elucidando os aspectos discutidos até aqui.

EXEMPLO 1
Para uma linha de transmissão com tensão nominal de 230 kV são fornecidas
as matrizes de capacitâncias, concentradas nas extremidades para formação do cir-
cuito rc trifásico, e a matriz de impedâncias série dos elementos. Montar a matriz de
admitâncias trifásica da linha de transmissão.
Essa linha tem elementos diferentes fora da diagonal, significando que não é
'transposta, correspondendo a um perfil de torre com configuração plana, z 1 == z3 ,
1 Za == zb == Zc == z.
' Matriz de impedâncias série e matriz de capacitâncias em cada extremidade:

)50 )25
j20J
[Z P] == [ )25 )50 j25 Q,
)20 )25 )50

j: [ jl,5
C] == J [ - JO, 25
-J0,1
-J0,25
Jl,54
- J0,25
-JO,l J
-J0,25 xl0-4 S.
jl,5

!Solução:
Montagem da matriz Y de admitâncias da linha de transmissão.
a) Montagem da matriz Y com nós que apresentam ligações para a tetTa.
Chamemos:

A submatriz [G1], que é igual nas duas extremidades e não apresenta mútuas
; indutivas, entra com o mesmo sinal nos blocos alinhados com a diagonal principal.

b) Obtenção das admitâncias primitivas dos elementos série da linha:


224 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Calculando a matriz inversa:

02 =[zPr',
det =- }67500,
e também a matriz dos cofatores:

l l875
-750
-375
-750
2100
-750
-375]
-750 .
1875

A matriz inversa é o resultado da divisão da matriz dos cofatores, transposta,


pelo determinante:

l
-0, 027778
G2 = j O, O1111 1
O, 005555
O, 011111
-0, 03 1111
O, 011111
O, 005555 ]
O, O111 11 .
-0, 027778

e) Introdução dos elementos série na matriz de admitâncias:

A submatriz [G2 ] entra com o mesmo sinal nos blocos alinhados com a dia-
gonal principal e com sinal trocado fora dessa diagonal.

5 .4 Referências Bibliográficas

[1] Orsini, L. Q. Curso de Circuitos Elétricos. São Paulo, Edgard Blucher, 1993 2
vols.
[2] Stagg, G. H. & EL-Abiad, A. H. Computer Methods in Power System Analysis.
New York, McGraw-Hill, 1968.
[3] Ramos, D. S. & Dias, E. M. Sistemas Elétricos de Potência: Regime Perma-
nente. Rio de Janeiro, Guanabara Dois, 1982 2vols.
[4] Dommel, H. W. Electromagnetic Transients Program Reference Manual:
EMTP Theory Book. Portland, BP A, 1986.
CAPÍTULO 6

CÁLCULO MATRICIAL DO CURTO-CIRCUITO

6.1 Introdução
Veremos a seguir o cálculo matricial das correntes de falta e contribuições,
ocorrendo os curtos trifásico, fase-terra, dupla-fase e dupla-fase-terra. Fundamen-
talmente, o procedimento é o mesmo descrito no capítulo 4, com exceção da técnica
de extração de informações contidas nas matrizes de admitâncias ou de impedâncias
nodais, que apresentam a forma organizada para trabalharmos com redes elétricas. A
impedância de seqüência, necessária ao cálculo do curto-circuito em uma detenninada
barra k, é a impedância equivalente de Thevenin nessa barra, dada pelo elemento zkk
da diagonal da matriz Zbus. Dessa forma, os equivalentes de Thevenin, para a barra
em curto, são obtidos das matrizes de impedâncias nodais, de seqüências positiva,
negativa e zero.
Estudos detalhados de curto-circuito podem necessitar de uma representação
das condições pré-falta, modelo rc equivalente da linha de transmissão, perdas em
geradores e transformadores, etc. Em determinados casos, como em análises de
planejamento, nem sempre são necessárias análises muito rigorosas e muitas vezes
simplificamos a representação dos componentes, assim como desprezamos as con-
dições pré-falta, considerando 1,0 pu em todas as barras do sistema.
Nas redes elétricas de grande porte, o estudo do curto-circuito só é viável
com a utilização dos métodos computacionais. Desse modo, necessitamos de ferra-
mentas que tracem um panorama das correntes de curto ao longo de toda a rede e
apresentem as medidas corretivas mais indicadas, causando o menor impacto possí-
vel na operação em regime permanente, além de não comprometer outras restrições
como limites de tensão e sobretensões.

6.2 Informações da Rede Pré-falta

As informações da rede pré-falta são obtidas de programas de fluxo de potên-


cia, que apresentam as tensões e correntes, de seqüência positiva, em uma rede elé-
226 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

trica. Em todos os tipos de curto utilizaremos essas informações de modo semelhan-


te, superpostas com os valores calculados de seqüência positiva da rede
em falta.
Conhecidas as tensões pré-falta ao longo da rede, v/f, 1 ~ i ~ n, as correntes
pré-falta em cada ligação são calculadas da seguinte forma:

J?.f =(v.Pf -VPI)y~I) ( 6.1)


lj / J lj '

na qual:
1cf: corrente pré-falta da barrai para a barra},
~pf: tensão pré-falta na barrai,
Vff: tensão pré-falta na barra},
Yi;'): admitância de seqüência positiva da ligação entre a barrai e a barra}.
Nos casos de ligações com componentes para a terra, cálculos adicionais de-
vem ser convenientemente realizados. Os estudos de curto-circuito podem envolver
diferentes modelos de componentes da rede, principalmente da linha de transmis-
são, cujo modelo mais completo considera a impedância série da linha e a capaci-
tância, além de realizar correções hiperbólicas no cálculo do circuito 7t equivalente.

6.3 Informações da Rede em Falta

Aplicando o teorema de Thevenin, com as impedâncias equivalentes calcula-


das para as seqüências zero, positiva e negativa, obtemos as correntes de seqüências
no local de curto, seguindo o mesmo procedimento do capítulo 4. Apresentamos a
seguir a notação a ser utilizada nos cálculos, para as variáveis de seqüências.

I {(s): corrente seqüencial de falta na barra k, s ={O, 1, 2} ,


V{1 : tensão do equivalente de Thevenin (tensão pré-falta de seqüência positiva na
barra k ),
V[(s): tensão seqüencial de falta na barra k, s ={O, 1, 2},
(s) :
zkk e lementas da dºiagona l da matnz
. Z bus de seqüência zero, positiva
. ou negativa,

s={0,1,2}.

De posse das correntes de falta, calculadas na para diferentes tipos de curto, obte-
mos as tensões em cada barra da rede nas seqüências correspondentes.
Capítulo 6. Cálculo Matricial do Curto-circuito 227

seq. 1 seq.2

seq. 2 seq. 1
s
3</J
3rp-T seq. O 2rp S-aberto seq. O

l<j;-T série 2rp- T S-fechado

Figura 6.1: Ligação dos diagramas de seqüências.

No cálculo dessas tensões de falta V/(s) utilizamos informações da matriz


Zbus, para todas as barras 1::; i ~ n de cada seqüência s ={O, 1, 2} :
f (s) _ (s) f (s)
VI --z.k lk
/ '
i1:-k,I::;i::;n.

(s) (s)
v,f(s)
l
(s)
Zl l 2 1k 2 1n o

vf(s) (s) (s) (s)


k
= 2 k! 2 kk 2 kn X -Jf,s
k
(6.2)

vf(s)
n
(s)
2 nl
(s)
2 nk
(s)
2 nn
o
z1l : elemento ik da matriz de impedâncias nodais, na seqüências, s ={O, 1, 2} ,
I (< sl = O, i 1:- k ,
Iflsl : obtida da solução dos diagramas de seqüências.
O procedimento, empregando a matriz de impedâncias Zbus , é praticamente
equivalente à utilização da matriz de admitâncias nodais Y, pois o sistema linear de
equações é o mesmo. Colocando o sistema de equações na forma da matriz de ad-
mitâncias, escrevemos:

(s) (s) (s)


o Y11 Y1k Y1n
v,f(s)
r

(s) (s) (s)


-Jf(s) = X vf(s)
k Yk1 Ykk Ykn k

o (s)
Yn1
(s)
Ynk
(s)
Ynn
vf(s)
n
228 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Y&s) : elemento ij da matriz de admitâncias nodais, de seqüência s ={O, 1, 2}, rela-


cionado com a admitância da ligação por Yt =-YJs).
Esse sistema linear de equações pode ser resolvido de diferentes formas, sendo
conveniente a triangularização de Gauss com retro-substituição, juntamente com téc-
nicas de compactação e de eliminação ótima de nós, não apresentadas neste texto.
Eventualmente, quando se pretende analisar alterações na rede, o método de
formação da matriz Zbu.i· pela definição pode ser mais eficiente.
Em seguida, obtemos as correntes nas ligações.
I [<sl corrente na ligação ij, na rede em falta, de seqüência zero, positiva ou
negativa, s ={O, 1, 2}.
Um cálculo importante é o da contribuição da corrente de uma ligação contí-
gua à barra de curto k, em uma dada seqüência. A contribuição é definida pela cor-
rente que percorre a ligação em direção ao ponto de curto, bastando fazer j = k.

6.4 Superposições

Obtemos as tensões superpostas de seqüência positiva, nas barras i, adicio-


nando a tensão pré-falta à tensão de seqüência positiva de falta.

V.(1) = v.Pf + vf(I) (6.3)


I 1 1 '

~(!): tensão superposta na barrai, de seqüência positiva, para curto na barra k,

1&1) : corrente superposta na ligação ij, de seqüência positiva, para curto na barra k.
Calculamos as correntes superpostas de seqüência positiva, nas ligações ij,
adicionando a corrente pré-falta à corrente de seqüência positiva de falta.

/_1)
1/
= Jljpf + J/(1)
lj . (6.4)

Nos casos mais simplificados, sem o estudo pré-falta, adotamos ~PI= I,O pu
em todas as barras e ignoramos o passo de superposição.

6.5 Componentes de Fase

v,(a) v.(ü)

~ ]x
1 1 1
v,(b) ª2 v.(1)
/
v,(c)
1
=l: a ª2
1

v.(2)
1
Capítulo 6. Cálculo Matricial do Curto-circuito 229

Calculamos as componentes de fase, de correntes e tensões, aplicando as ma-


trizes de transformação às componentes superpostas de seqüências:

!~a) J~O)
I I

J~b)
I

J~c)
I

6.6 Cálculos de Curto-circuito

Analisaremos a seguir o curto trifásico e o curto dupla-fase, que não envol-


vem a seqüência zero.

6. 6.1 Curto Trifásico

O cálculo do curto trifásico equilibrado, aterrado ou não, tem o envolvimento


apenas da seqüência positiva, pois não há retorno de corrente pela terra.

• Corrente de curto na barra em falta

vpf
Jf(I) _ _k_
k - (1) . (6.5)
2 kk

• Tensões e correntes de seqüência positiva nas ligações


Obtemos as tensões de falta nas barras da rede de seqüência positiva:
vf(I) __ (1) J f,1
i - 2 ik k · (6.6)

De posse das tensões de falta em cada barra da rede, calculamos as correntes


de falta nas ligações:

1f(I) =(v/(1) _v/(l))y~l) (6.7)


lj 1 .f lj "

• Superposição
A corrente de curto é obtida da solução da rede de falta, não necessitando de
superposição. A corrente de contribuição de cada ligação é obtida com a superposi-
ção da corrente pré-falta com a cmTente de falta:
230 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

/_l)
IJ
= JIJpf + JIJf(I) •

Da mesma forma, calculamos a tensão em uma dada barra i, I :s; i :s; n, super-
pondo a tensão pré-falta com a tensão de falta:
V;(l) = V;pf + V;f(I).
A corrente de contribuição pode igualmente ser obtida com a superposição das
tensões pré-falta e de falta e em seguida calculamos as correntes de contribuição:

l1)
IJ
=[(v.rif +vfCt))-(vPf +vfCI))]Y~1)
I I IJ• ./ )

Essa alternativa de cálculo poderá ser aplicada em todos os tipos de curto e


desse modo não repetiremos mais este comentário.

• Componentes de fase
Obtemos a componente da fase a coincidente com a seqüência positiva e a-
plicamos as respectivas defasagens de 120 graus para as fases b e e.

6. 6. 2 Curto Dupla-fase

• Cálculo das correntes de seqüências


No curto dupla-fase há envolvimento apenas das seqüências positiva e negativa:

1c1) - vff (6.8)


lk - (1) (2) '
2 kk + 2 kk
1k/(1) -_ -1/(2)
k · (6.9)

Tensões e correntes de seqüências nas ligações


O cálculo das contribuições é análogo ao do caso do curto trifásico, podendo
existir correntes pré-falta apenas de seqüência positiva. No curto dupla-fase deve-
mos considerar a seqüência negativa nos cálculos de tensão e corrente.
v,f(s)
1
= _2 1k~s) 1kf(s) , s = {I , 2} ,

1 f (s)
IJ
=(v/ (s) _ V f (s)) y~s)
I IJ. )

• Superposição
A corrente de curto-circuito fase-fase já é a corrente de curto fase-fase de fal-
Capitulo 6. Cálculo Matricial do Curto-circuito 23 J

ta obtida. Finalmente, as tensões e correntes de contribuição, de seqüência positiva,


são obtidas superpondo os valores pré-falta com os de falta:
J(l) = / pf + 1f(I)
lj lj lj '

• Componentes de fase
Obtemos as componentes de fase com as matrizes de transformação utilizan-
do as componentes de seqüências positiva e negativa, impondo componente de se-
qüência zero nula em todas as operações.
Vejamos a seguir os curtos com envolvimento da te1Ta, e portanto da seqüên-
cia zero, que são o curto fase-terra e o curto dupla-fase-terra.

6.6.3 Curto Fase-terra

• Cálculo das correntes de seqüências


vpf
f(s) _ k
Jk - (O) (1) (2) ' (6.1 O)
2 kk + 2 kk + 2 kk

/ /(O) _ Jf(I) _ Jf(2) (6.11)


k - k - k •

• Tensões e correntes de seqüências nas ligações


Obtemos as tensões de falta nas barras i:

V,f(s) = - 2 ik(s)Jf(s)
k , -~
·= {O , ], 2} ·

O cálculo das correntes nas ligações é análogo aos casos anteriores, podendo
existir correntes pré-falta, mas apenas de seqüência positiva. A principal diferença é
que, devido ao envolvimento da terra, devem ser consideradas as três seqüências
nos cálculos de tensão e corrente. Em particular, na seqüência zero levamos em
conta as mútuas de circuitos em paralelo, entre as ligações mn e ij.
Por exemplo, para um circuito duplo ij - mn, calculamos as correntes nas li-

ll l
gações usando a matriz primitiva de admitâncias:

f(_O)
lj -
lyP(_O)
l),lj yeco)
1),11111 J lv.Cº) - vco)
/ j
(6.12)
X '
(O) y p(O) yP(O) (O)_ (O)
f mn mn,ij mn,mn V, 11 V,.1
232 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

YJ,~;: admitância da matriz primitiva dos elementos, mútua entre as ligações ij e mn,
Y/1;.ºl: admitância da matriz primitiva dos elementos, própria da ligação ij.
Nas demais seqüências desprezamos as mútuas de circuitos em paralelo:

J f(s) = (vf(s) -V f(s)) y~s) s ={l 2}


1J 1 .J lJ' '

• Superposição
A corrente de curto fase-terra na rede de falta já é a corrente de curto na barra.
As correntes nas ligações, de seqüência positiva, são obtidas superpondo-se a
corrente pré-falta com a corrente de falta:

l')
1J
= JP.f
1J
+ 1f(l)
1J •

Da mesma forma, calculamos a tensão de seqüência positiva, em uma dada


barrai, I::;; i::;; n, superpondo a tensão pré-falta com a tensão de falta:

v<') = v.P1 + v..r< 1)


1 1 1 •

• Componentes de fase
Obtemos as componentes de fase com as matrizes de transformação utilizan-
do as componentes de seqüências positiva, negativa e zero, em todas as operações.

6.6.4 Curto Dupla-fase-terra

• Cálculo das correntes de seqüências

(6.13)

(6.14)

(6.15)

• Tensões e correntes de seqüências nas ligações

vf (s) = -is) 1f(s) s= {O 1 2}


1 1k k ' ' ' '
Capitulo 6. Cálculo Matricial do Curto-circuito 233

I f(s)
lj
= (vf(s) -VJf(s)) y~s)
I lj

O cálculo das correntes nas ligações é análogo ao caso do curto fase-terra.

• Superposição
A corrente de curto-circuito dupla-fase-terra de falta já é a corrente de curto
na barra.
O cálculo das contribuições é análogo ao do caso do curto fase-terra, podendo
existir correntes pré-falta, mas apenas de seqüência positiva.

Componentes de fase
Obtemos as componentes de fase com as matrizes de transformação utilizan-
do as componentes de seqüências positiva, negativa e zero, em todas as operações.

EXEMPLO!
Para o exemplo a seguir, serão calculados os valores de curto trifásico, curto
fase-terra, curto dupla-fase e curto dupla-fase-terra, além dos fatores de sobretensão
para curto fase-terra e curto dupla-fase-terra.
A rede será a mesma do exemplo 1 do capítulo 4, exceto que analisaremos
também a possibilidade de um segundo circuito na linha de transmissão.

sistema conjunto de
equivalente motores sincronos
4

13,8/69 kV 69/13,8 kV
Figura 6.2: Rede exemplo para cálculo de curto-circuito.

Os valores dos parâmetros da rede são:


ligação parâmetro em pu
2-3a e 2-3b XI= 0,553 XQ = 1,393
2-3a/2-3b Xm = 0,378
1-0 x1 = 0,2 xo = O, 1
4-0 X]= 0,36 XQ = 0,36
1-2 x, = 0,2 xo = 0,2
3-4 x, = 0,2 xo = 0,2
234 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Os cálculos são realizados considerando o valor de tensão nominal em todas as


barras da rede, desprezando portanto as correntes pré-falta. A potência de base adota-
da é de 100 MVA e os valores de base para a tensão são de 13,8 kV e de 69 kV.
Os cálculos foram feitos usando-se um programa didático de curto-circuito.

• Cálculo com os dois circuitos (2-3a e 2-3b)


*** Curto circuito franco na barra (1) ***
Vbase= 13.80 kV I Sbase= 100.00 MVA j Ibase= 4.184 kA i Zbase= 1.90 Ohms
---EQUIVALENTE DE THEVENIN DA BARRA---
Vthl= 1.000 fase o (pu) = 13.80 fase O (kV)
Zthl= 0+j0.1677 (pu) = 0+j0.3193 (Ohms)
Zth0= 0+j0.l (pu) = 0+j0.1904 (Ohms)

corrente de CURTO TRIFASICO na barra (1)


5.9648 fase -90 (pu) = 24.9549 fase -90 (kA)

corrente de CURTO FASE-TERRA na barra (1)


6.8918 fase -90 (pu) = 28.8331 fase -90 (kA)

fator de sobretensao na fase B (pu): FstB= 0.932


fator de sobretensao na fase C (pu): FstC= 0.932

corrente de CURTO DUPLA FASE na barra (1)


5.1657 fase 180 (pu) = 21.6116 fase 180 (kA)

corrente de CURTO DUPLA FASE-TERRA na barra (1)


6.5826 fase 1.4E+02 (pu) = 27.5394 fase 141.6975 (kA)
fator de sobretensao na fase A (pu): FstA= 0.816

------------------=========================================================~=
*** Curto circuito franco na barra (2) ***
Vbase= 69.00 kV j Sbase= 100.00 MVA j Ibase= 0.837 kA j Zbase= 47.61 Ohms
---EQUIVALENTE DE THEVENIN DA BARRA---
Vthl= 1.000 fase O (pu) = 69.00 fase O (kV)
Zthl= 0+j0.2706 (pu) = 0+jl2.8834 (Ohms)
Zth0= 0+j0.1689 (pu) = 0+j8.0406 (Ohms)

corrente de CURTO TRIFASICO na barra (2)


3.6955 fase -90 (pu) = 3.0921 fase -90 (kA)

corrente de CURTO FASE-TERRA na barra (2)


4.2248 fase -90 (pu) = 3.5351 fase -90 (kA)

fator de sobretensao na fase B (pu): FstB= 0.937


fator de sobretensao na fase e (pu): FstC= 0.937

corrente de CURTO DUPLA FASE na barra (2)


3.2004 fase 180 (pu) = 2.6779 fase 180 (kA)
Capítulo 6. Cálculo Matricial do Curto-circuito 235

corrente de CURTO DUPLA FASE-TERRA na barra (2)


4.0400 fase 1.4E+02 (pu) = 3.3804 fase 142.3888 (kA)
fator de sobretensao na fase A (pu): FstA= 0.833

===-=========-===--======-=---------=----=-----============================~=
*** Curto circuito franco na barra (3) ***
Vbase= 69.00 kV I Sbase= 100.00 MVA I Ibase= 0.837 kA I Zbase= 47.61 Ohms
---EQUIVALENTE DE THEVENIN DA BARRA---
Vthl= 1.000 fase O (pu) = 69.00 fase O (kV)
Zthl= 0+j0.3064 (pu) 0+j14.5868 (Ohms)
Zth0= 0+j0.1689 (pu) = 0+j8.0406 (Ohms)

corrente de CURTO TRIFASICO na barra (3)


3.2639 fase -90 (pu) = 2.7310 fase -90 (kA)

corrente de CURTO FASE-TERRA na barra (3)


3.8381 fase -90 (pu) = 3.2115 fase -90 (kA)

fator de sobretensao na fase B (pu): FstB= 0.925


fator de sobret·ensao na fase C (pu) : FstC= O. 925

corrente de CURTO DUPLA FASE na barra (3)


2.8266 fase 180 (pu) = 2.3652 fase 180 (kA)

corrente de CURTO DUPLA FASE-TERRA na barra (3)


3.6623 fase 1.4E+02 (pu) = 3.0644 fase 140.5174 (kA)
fator de sobretensao na fase A (pu): FstA= 0.787

*** Curto circuito franco na barra (4) ***


Vbase= 13.80 kV j Sbase= 100.00 MVA I Ibase= 4.184 kA i Zbase= 1. 90 Ohms
---EQUIVALENTE DE THEVENIN DA BARRA---
Vthl= 1.000 fase O (pu) = 13.80 fase O (kV)
Zthl= 0+j0.2552 (pu) 0+j0.4860 (Ohms)
Zth0= 0+j0.3600 (pu) = 0+j0.6856 (Ohms)

corrente de CURTO TRIFASICO na barra (4)


3.9187 fase -90 (pu) = 16.3946 fase -90 (kA)

corrente de CURTO FASE-TERRA na barra (4)


3.4468 fase -90 (pu) = 14.4203 fase -90 {kA)

fator de sobretensao na fase B (pu): FstB= 1.065


fator de sobretensao na fase C (pu) =· FstC= 1.065

corrente de CURTO DUPLA FASE na barra (4)


3.3937 fase 180 {pu) = 14.1981 fase 180 (kA)

corrente de CURTO DUPLA FASE-TERRA na barra (4)


3.7260 fase l.6E+02 (pu) = 15.5884 fase 155.6179 {kA)
fator de sobretensao na fase A {pu): FstA= 1.107
236 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Matriz Ybusl (valores em pu)


1 2 3 4
1 0-jl0.000 O+j5 . 000 O+jO O+jO
2 O+j5 . 000 0-j8.617 O+j3.617 O+jO
3 O+jO O+j3.617 0-j8.617 O+j5.000
4 O+jO O+jO O+j5.000 0-j7.778

Matriz YbusO (valores em pu)


1 2 3 4
1 [ 0-jl0.000 O+jO O+jO O+jO
2 [ O+jO 0-j6.129 O+jl.129 O+jO
3 [ O+jO O+jl.129 0-j6.129 O+jO
4 [ O+jO O+jO O+jO 0-j2.778

Cálculo com um circuito 2-3a


*** Curto circuito franco na barra (1) ***
Vbase= 13.80 kV I Sbase= 100.00 MVA j Ibase= 4.184 kA I Zbase= 1.90 Ohms
---EQUIVALENTE DE THEVENIN DA BARRA---
Vthl= 1.000 fase O (pu) = 13.80 fase O (kV)
Zthl= O+j0.1736 (pu) = O+j0.3305 (Ohms)
ZthO= O+j0.1 (pu) = O+j0.1904 (Ohms)

corrente de CURTO TRIFASICO na barra (1)


5.7616 fase -90 (pu) = 24.1049 fase -90 (kA)

corrente de CURTO FASE-TERRA na barra (1)


6 . 7095 fase -90 (pu) = 28.0707 fase -90 (kA)

fator de sobretensao na fase B (pu): FstB= 0.929


fator de sobretensao na fase C (pu): FstC= 0.929

corrente de CURTO DUPLA FASE na barra (1)


4.9897 fase 180 (pu) = 20.8754 fase 180 (kA)

corrente de CURTO DUPLA FASE-TERRA na barra (1)


6.4047 fase 1.4E+02 (pu) = 26.7955 fase 141.1751 (kA)
fator de sobretensao na fase A (pu): FstA= 0.803

----------============================================-======----------------
*** Curto circuito franco na barra (2) ***
Vbase= 69.00 kV I Sbase= 100 . 00 MVA I Ibase= 0.837 kA I Zbase= 47.61 Ohms
---EQUIVALENTE DE THEVENIN DA BARRA---
Vthl = 1.000 fase O (pu) = 69.00 fase O (kV)
Zthl= O+j0.2942 (pu) O+j14 . 0092 (Ohms)
ZthO= O+j0.1777 (pu) = O+j8.4598 (Ohms)

corrente de CURTO TRIFASICO na barra (2)


3.3985 fase -90 (pu) = 2.8436 fase -90 (kA)

corrente de CURTO FASE-TERRA na barra (2)


3.9155 fase -90 (pu) = 3.2762 fase -90 (kA)

fator de sobretensao na fase B (pu): FstB= 0.933


Capítulo 6. Cálculo Matricial do Curto-circuito 237

fator de sobretensao na fase C (pu): FstC= 0.933


corrente de CURTO DUPLA FASE na barra (2)
2.9432 fase 180 (pu) = 2.4627 fase 180 (kA)

corrente de CURTO DUPLA FASE-TERRA na barra (2)


3.7408 fase l.4E+02 (pu) = 3.1301 fase 141.8847 (kA)
fator de sobretensao na fase A (pu): FstA= 0.821

=-----------------------------------------------------------------==========-
*** Curto circuito franco na barra (3) ***
Vbase= 69.00 kV I Sbase= 100.00 MVA I Ibase= 0.837 kA I Zbase= 47.61 Ohms
---EQUIVALENTE DE THEVENIN DA BARRA---
Vthl= 1.000 fase O (pu) = 69.00 fase O (kV)
Zthl= O+j0.3527 (pu) O+jl6.7934 (Ohms)
ZthO= O+j0.1777 (pu) = O+jS.4598 (Ohms)

corrente de CURTO TRIFASICO na barra (3)


2.8350 fase -90 (pu) = 2.3722 fase -90 (kA)

corrente de CURTO FASE-TERRA na barra (3)


3.3969 fase -90 (pu) = 2.8424 fase -90 (kA)

fator de sobretensao na fase B (pu): FstB- 0.917


fator de sobretensao na fase C (pu): FstC= 0.917

corrente de CURTO DUPLA FASE na barra (3)


2.4552 fase 180 (pu) = 2.0544 fase 180 (kA)

corrente de CURTO DUPLA FASE-TERRA na barra (3)


3.2427 fase 1.4E+02 (pu) = 2.7133 fase 139.2130 (kA)
fator de sobretensao na fase A (pu) : FstA= O. 753

*** Curto circuito franco na barra (4) ***


Vbase= 13.80 kV I Sbase= 100.00 MVA i Ibase= 4.184 kA I Zbase= 1.90 Ohms
---EQUIVALENTE DF. THEVENIN DA BARRA---
Vthl= 1.000 fase O (pu) = 13.80 fase O (kV)
Zthl= O+j0.2743 (pu) O+j0.5225 (Ohms)
ZthO= O+j0.3600 (pu) = O+j0.6856 (Ohms)

corrente de CURTO TRIFASICO na barra (4)


3.6451 fase -90 (pu) = 15.2499 fase -90 (kA)

corrente de CURTO FASE-TERRA na barra (4)


3.3015 fase -90 (pu) = 13.8124 fase -90 (kA)

fator de sobretensao na fase B (pu): FstB= 1.050


fator de sobretensao na fase C (pu): FstC= 1.050

corrente de CURTO DUPLA FASE na barra (1)


3.1567 fase 180 (pu) = 13.2068 fase 180 (kA)

corrente de CURTO DUPLA FASE-TERRA na barra (4)


3.4987 fase 1.5E+02 (pu) = 14.6374 fase 154.4579 (kA)
238 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

fator de sobretensao na fase A (pu): FstA= 1.086


Matriz Ybusl (valores em pu)
1 2 3 4
1 [ O-jl0.000 O+jS.000 O+jO O+jO
2 [ O+jS.000 o-j6.sos O+jl . 808 O+jO
3 [ O+jO O+jl.808 0-j6 . 808 O+jS.00 0
4 [ O+jO O+jO O+jS.000 O-j7.778

Matriz Ybuso (valores em pu)


1 2 3 4
1 O-jl0 . 000 O+jO O+jO O+jO
2 O+jO O-jS .7 1 8 O+j0. 7 18 O+jO
3 [ O+jO O+j0.718 0-jS.718 O+jO
4 [ O+jO O+jO O+jO 0-j2.778

A tabela 6.1 mostra a influência do segundo circuito nas correntes de falta:

corrente de falta trifásica (kA) corrente de falta fase-terra (kA)


barra
1 circuito 2 circuitos dif. (%) 1 circuito 2 circuitos dif. (%)
1 24,10 24,95 3,52 28,07 28,83 2,71
2 2,84 3,09 8,80 3,28 3,54 7,93
3 2,37 2,73 15, 19 2,84 3,21 13,03
4 15,24 16,39 7,55 13,81 14,42 4,42
Tabela 6.1 - Influência do segundo circuito nas correntes de falta.

No caso com 2 circmtos, para curto fase-terra nas barras 2 ou 3, quando a


mútua de seqüência zero é desconsiderada nos cálculos, ocorre um pequeno aumen-
to nos valores de corrente de falta. Para linhas mais longas o efeito da mútua pode-
ria ser um pouco maior do que nesse caso, em que a linha tem somente 60 km.

barra com mútua sem mútua diferença


2 3,54 kA 3,56 kA 0,56 %
3 3,21 kA 3,23 kA 0,62 %
Tabela 6.2 - Influência da mútua nas correntes de falta fase-terra.

6.7 Referências Bibliográficas


[I] Stagg, G. H. & EL-Abiad, A. H. Computer Methodr;; in Power System Analysis.
New York, McGraw-Hill, 1968.
[2] Anderson, P. M. Analysis of Faulted Power Systems. Ames, Iowa State Uni-
versity Press, 1973.
[3] Ramos, D. S. & Dias, E. M. Sistemas Elétricos de Potência: Regime Perma-
nente. Rio de Janeiro, Guanabara Dois, 1982 2vols.
CAPÍTULO 7

FLUXO DE POTÊNCIA EM UMA REDE ELÉTRICA

7 .1 Introdução
O planejamento e a operação de sistemas de energia elétrica têm como finali-
dade atender ao contínuo crescimento da carga assim como suas variações diárias e
sazonais. Uma indústria de grande porte, uma rede de distribuição de energia elétrica
ou mesmo todo o sistema elétrico integrado nacional (SIN) são exemplos de sistemas
de potência. O atendimento da carga, representando os consumidores de energia elé-
trica residenciais, comerciais e industriais, é uma tarefa que requer a previsão de ins-
talação de novos equipamentos e reforços nos sistemas de transmissão e distribuição,
assim como sua adequada utilização nos procedimentos operativos.
A análise do fluxo de potência no atendimento das cargas pressupõe a dispo-
nibilidade de ferramentas adequadas e confiáveis, principalmente quando o sistema
envolvido é de grande porte. Para o correto dimensionamento da rede elétrica, den-
tro dos critérios vigentes e normas de projeto, é necessário comparar alternativas de
transmissão e construção de novas linhas, programar investimentos de geração,
assim como adequar a compensação reativa necessária.
Na solução de circuitos elétricos, em regime permanente, estamos habituados
a tratar com redes com impedâncias fixas e conhecidas, formando um sistema linear
de equações. Na solução de uma rede elétrica, colocada na forma de um problema
de fluxo de potência, a formulação é um pouco diferente, pois algumas impedâncias
para a terra, principalmente aquelas conectadas a determinados pontos de entrega de
energia, como subestações, também conhecidas como barras de carga, não são co-
nhecidas a priori. Como exemplo, não se pode afamar que uma barra, representan-
do uma cidade ou uma indústria, tenha uma impedância para a terra determinada e
que a mesma seja constante para diferentes condições operativas da rede. A forma
usual encontrada como mais adequada é admitir que a potência complexa, absorvi-
da por algumas barras de carga, tenha uma potência determinada e admitida cons-
tante dentro de certas flutuações da rede. Sendo a potência complexa o resultado do
produto fasorial de tensões e correntes, surge essa característica de não linearidade
das equações envolvidas, objeto de nossas considerações neste capítulo .
240 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

7 .2 Análise de uma Rede Elementar

Com a finalidade de estabelecermos as noções fundamentais do fluxo de po-


tência, será necessário desenvolver o equacionamento básico a ser empregado em
nossa análise.
As potências absorvidas por cargas ligadas para a terra, ativa P e reativa Q,
fonnam a potência complexa na fonna retangular:
S=P+ JQ. (7.1)

Além disso, sabemos que a potência complexa, em função das grandezas fa-
soriais de tensão e corrente, é definida pela expressão :
*
S=VI . (7 .2)

A associação das expressões (7 .1) e (7 .2) pode ser escrita em uma forma mais con-
veniente:

P-JQ
1= * '
V

na qual o fasor da tensão é definido por um módulo e uma fase V L. 0 .


Iniciemos a interpretação da distribuição de fluxos de potência em uma rede
elétrica, tomando uma rede simples, constituída por uma barra de geração e uma
barra de carga, interligadas por meio de uma linha de transmissão, representada
apenas pela sua impedância série Z = R + }X .

V2L..02 v,L..0 1

R+ JX
(S)
E 2 1
1
i
Pi+ JQ,

Figura 7 .1: Rede elementar.

Conforme a figura 7. 1, a barra 1 é uma barra de carga, e a barra 2 é uma barra


de geração. Admitiremos conhecido o fasor da tensão na barra de geração, com os
valores do módulo da tensão V2 e da fase 0 2 especificados:
Tensão na barra 2: V2 L.02 .
Caso a impedância para a terra da barra 1 fosse conhecida, a solução do pro-
Capítulo 7. Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica 241

blema seria trivial. No entanto, estamos admitindo como fixas, ou especificadas, as


componentes .fj e Q1 da potência complexa absorvida pela carga da barra 1, restan-
do determinar Vi e 01 .
Da rede elétrica extraímos a equação:

I = V2 L02 -ViL.01
R+ JX

Na carga, aplicamos a expressão (7.3):

Para simplificar a solução, adotaremos 02 =Oº.


Como o circuito é radial, impomos a condição de igualdade das COlTentes na
linha e na carga, 1 = 11 , fazendo:

V2 -ViL.01 _ Pi - JQ1
R+j X Ví L - 01
ou:

Observamos que no primeiro membro Vi e 01 são incógnitas e que no segundo


membro todos os termos são conhecidos. Escrevemos:

na qual:

A equação com variáveis complexas pode ser decomposta em duas equações, rela-
tivas às componentes real e imaginária.
Igualando-se a parte real dos dois membros, obtemos:

e portanto:
242 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Para a parte imaginária, analogamente:

ou:

Nesse caso simples, sabemos que:


2 2
sen 0 1 + cos 01 = 1 .

Chamando o módulo da tensão Vj = x, que é a nossa incógnita, com a expressão


anterior eliminamos o ângulo 0 1 e obtemos uma equação em função apenas do mó-
dulo da tensão:

Resultando na equação do quarto grau com os coeficientes determinados, que apre-


senta a possibilidade de obtermos as raízes com expressões conhecidas:

(7.4)

EXEMPLO 1
Com tensão nominal na barra de geração, obter a tensão na barra de carga 1,
para a rede da figura 7 .1, conhecendo a potência complexa nessa barra.
Dados da rede:
Tensão nominal de linha: 69 kV,

e=30 km,
X'= 0,555 Q/km,

R'= O
'
Pi =lOMW,

º! =0 .
Capítulo 7. Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica 243

Adotando os valores de base Sb = 10 MVA e Vb = 69 kV, obtemos os valores


empu:
10
x=0,555x30x-2 =0,035 pu,
69
r = O,
P1 =1 pu,
ql =0.

Com os valores numéricos do nosso exemplo, calculamos as constantes A e B:

A = O e B = 0,035.
Montamos a equação (7.4):

x 4 -x 2 + 1,225x10-3 =O, chamando y = x 2 ,

y 2 - y + 1,225 X 10-3 = O ,

I ± ,JI-0,0049 I ± 0,9975
y= =
2 2
Obtemos duas soluções:

Y1 = O, 9988 ou y 2 = O, 0012
Considerando como solução viável apenas y 1, temos:
x = O, 999 ou v 1 =:: 0,999 pu.

Como:

-VjV2 sen01 = B,

sen 01 = -0, 035,


e portanto:

0 1 = -0, 035 rad,


01 =:: - 2°.
Observamos que nesse caso bem simples, quando fixamos as potências e não
as impedâncias, obtemos um polinômio do quarto grau, que ainda apresenta método
conhecido para obter as raízes. Quando aumentamos o número de barras de carga e
geração, obtemos polinômios com graus mais elevados que requerem métodos nu-
méricos iterativos para obtenção das raízes.
244 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

7 .3 Variáveis e Análises de Interesse

7.3.1 Barras

Normalmente, um estudo de fluxo de potência envolve o cálculo das tensões


nas barras, potências injetadas ou absorvidas em determinados pontos da rede, as-
sim como fluxos de potência nos ramos de ligações.
A potência absorvida por uma determinada barra de carga é caracterizada pe-
las variáveis indicadas na figura 7 .2:

P; + }Q;

Figura 7.2: Barra de carga i.

De certa forma, para cada barra i, as correntes absorvidas pelas cargas são de-
finidas pelas quatro variáveis básicas P;, Q;, V;, 0;, com os fasores de tensões escri-
tos na forma polar, como na equação (7.3).

(7.5)

Considerando o circuito a seguir, exemplificamos:

Vi V2 V3
z,2 Z23

-
1,2 -/23
i !3
~ + .JQ3

Figura 7.3: Circuito em estudo.

Na barra 2, como não temos carga, especificamos P2 = Q2 =O. Na barra 3


especificamos os valores de~ e Q3 , que compõem a potência complexa drenada
pela carga.
Capitulo 7. Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica 245

Os dados de barras definem as potências injetadas ou extraídas da rede elétri-


ca, nas barras de geração ou de carga.
No sentido de caracterizarmos os diferentes tipos de barras de uma rede elé-
trica, convencionamos três diferentes possibilidades: barras de carga, barras de ge-
ração e uma única barra de geração denominada de barra oscilante, também conhe-
cida como swing.
a) Barras de carga, do tipo 1, também conhecidas como do tipo PQ, nas quais
conhecemos P e Q, restando determinar V e 0. Lembramos que no nosso exem-
plo simples, anteriormente apresentado, trabalhamos com uma barra na qual conhe-
cíamos as potências especificadas.
b) Barras de geração, ou do tipo 2, também conhecidas como do tipo P V,
nas quais fixamos as grandezas P e V , dado que em uma usina hidrelétrica o ope-
rador dispõe de recursos para controlar a potência ativa, por meio de controles na
turbina, e também da tensão, por meio do sistema de excitação dos geradores sín-
cronos. Nessas barras resta determinar Q e 0.
c) Barra oscilante do tipo V0, ou do tipo 3. Definimos uma única barra de
geração como barra oscilante, na qual conhecemos V e 0, restando determi-
nar P e Q. Essa necessidade pode ser vista no exemplo 1, anteriormente apresenta-
do, ao fixarmos a tensão e o ângulo da barra de geração.

Os dados de ligações definem a topologia da rede e fornecem os elementos


para a formação da matriz de adrnitâncias nodais, caracterizando-se por: parâmetros
de seqüência positiva das linhas de transmissão, tensão e potência nominal de equi-
pamentos, reatância de dispersão, taps de transformadores, reatância de equipamen-
tos série como reatores e capacitares, etc.

• Ligações sem elementos para a terra

Figura 7.4: Fluxo de potência na ligação ij.


246 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Em uma dada ligação estamos interessados em obter o fluxo de potência da


barra i em direção à barra j. Adicionalmente queremos avaliar a potência que sai
da barrai e a potência que efetivamente chega na barra). Observamos que a corren-
te na ligação, caso não existam caminhos para a terra, é a mesma, porém a potência
se altera em função das perdas na transmissão.
Nesse caso, a ligação ij tem o comportamento de um bipolo. Com as tensões
~ e v1 obtemos a corrente, dada por:

J .. = V.L.0. -V-L.0.
1 J1 J
lj z.
lj

~L~ ~L~

~ ~1-----~~~------------11 ~~
Figura 7.5: Correntes na ligação ij.

Exemplificamos a seguir alguns casos de fluxo de potência em ligações.


O fluxo de potência por fase, entrando na barra i e dirigindo-se à barra j, é
dado por:

slj.. = V.Jlj*..
I
(7 .6)

O fluxo de potência por fase, entrando na barra} e dirigindo-se à barrai, é dado por:
*
S.JI.. =V-f
j
..
jl

O fluxo de potência por fase, chegando na barra}, proveniente da barrai, é dado por:
*
S--c
ljj
.) = V.f..
J IJ'
(7.7)

ou:

S.JI.. = Vj .JJI*.. = -S--c .)


lj j ,

Sabemos ainda que a soma das potências em uma barra é nula, o que decorre da
primeira lei de Kirchhoff, portanto SiJU) = ~ S1;.
Capítulo 7. Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica 247

• Perdas na transmissão
Como vimos, a corrente é a mesma, porém as tensões são diferentes, o que
explica a alteração no fluxo de potência calculado nas extremidades da linha de
transmissão, cuja diferença é responsável pelas perdas na transmissão, dada pela
expressão:
LtSlj.. =slj.. -sIJJ'
.. < ·)
L1S-- = V.J.*. -V.J.-* = L1V.-f *.. (7 .8)
IJ IIJ jlj IJIJ'

• Queda de tensão e abertura angular


Em uma ligação, é interessante observar as relações de fluxos de potência
com quedas de tensão e aberturas angulares, pois essas são as variáveis normalmen-
te utilizadas quando analisamos os resultados dos cálculos e processamentos em
computadores digitais. Para isso, tomemos uma ligação bem simples, constituída
por uma impedância complexa, desprezando eventuais conexões com a terra. Com a
finalidade de simplificar ainda mais a análise, adotaremos a tensão na barra de iní-
cio do ramo considerado com fase nula. Desse modo, temos:

L1V
j

p + JQ - 11-----'VVv~~~~----i
R+ JX
VJ L0J

Figura 7.6: Queda da tensão no ramo R+JX

A queda de tensão nesse ramo é dada pelo produto:

L1V= -RP_+_XQ_+j--_RQ_+_X_P
V. l
V. I

Em uma boa parte das linhas de EAT e nos transformadores, em uma primei-
ra análise, podemos desprezar o efeito da resistência em relação ao da reatância
indutiva. Fazendo R ~ O, resulta na queda de tensão:
248 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

L1V = XQ + j XP . (7.9)
V.1 V.1
A tensão no final da linha é igual à tensão de início menos a queda de tensão na
ligação, ou seja:

(7.1 O)

Em geral, com os valores mais usuais para essas variáveis, a parcela imaginá-
ria tem um efeito preponderante na abertura angular entre as tensões e dessa forma
o fluxo de potência ativa atua principalmente no atraso do ângulo da tensão da batTa
final} em relação à barra inicial i.
Considerando Q = O:

XP
L1V=-J-.
~
Outro conceito igualmente importante refere-se ao impacto da potência reati-
va no módulo da tensão, com uma redução no valor da tensão da barra j em relação
ao da barra i, segundo o sentido adotado para o fluxo de potência reativa, conside-
rado positivo da barrai para a barra}.
Considerando P = O:

Figura 7.7: Diagrama fasorial da equação (7.10).

Um conceito prático empregado usualmente é o de que o fluxo de reativos em


uma ligação está orientado do nó com tensão mais elevada para o nó com tensão
mais baixa, válido obviamente nos casos de ligações em que se pode desprezar o
efeito de fugas de correntes para a terra.
Capítulo 7. Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica 249

• Ligações com elementos para a terra


As ligações podem ser compostas por quadripolos, também representados por
circuitos n, como no caso de modelos mais completos de linha de transmissão ou de
transformadores fora do tap nominal. A presença de elementos para a terra obviamen-
te altera a corrente na ligação e o cálculo do fluxo de potência deve considerar este
fato.

-
sIJ.. o
V;L.0;

-
Iu z IJ V1 L.01

-
sIJ'(J )
1

i I;, y
.I

Figura 7.8: Ligação com circuito n.

Os elementos Zu, ií e Y1 compõem o circuito 1r da ligação ij.


Zu : impedância série,
ií : elemento em derivação na barra i,
Y1 : elemento em derivação na barra).
Nas ligações com circuitos n, precisamos levar em conta o efeito dos ramos
para a terra nas extremidades. Tais ramos têm influência na corrente, que agora não
pode mais ser considerada a mesma no início e fim de linha. Esse fato pode ainda
apresentar algumas surpresas na aplicação das fórmulas simplificadas, apres entadas
anteriormente de queda de tensão.
Nesse caso, complementamos a expressão (7.7) do fluxo de potência, acres-
cendo a parcela direcionada para a terra:

Suu) = vi (1; + 1i:) , (7 .1 1)

na qual Jit é a corrente para a terra no elemento e Jj, é a corrente para a terra no
elemento Yi .
A expressão (7 .11) pode ser reescrita como:
250 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

7.4 Considerações sobre os Métodos Iterativos de


Gauss e Gauss-Seidel

7. 4.1 Método de Gauss

Podemos obter a solução de uma equação transcendental segundo diferentes


métodos iterativos. O algoritmo do ponto fixo, cujo princípio está apoiado em subs-
tituições sucessivas, é um dos métodos possíveis de serem aplicados, ao escrever-
mos o equacionamento da seguinte forma, calculando a variável x na iteração k+ 1:

Caso fosse necessário obter a solução de um polinômio, por exemplo,


x5 + x = 7, no qual é possível isolar a variável x, escrevemos:

Desse modo, é simples obter a solução do polinômio sem maiores recursos ma-
temáticos. Obviamente o número de iterações irá depender do valor inicialmente adota-
do x(O), ou seja, de quão próximo esteja esse valor da solução final da variável x.
A solução de um problema de fluxo de potência em uma rede elétrica, por
meio do algoritmo de Gauss, tem estreita correspondência com o algoritmo do pon-
to fixo.
Vejamos como seria a solução do fluxo de potência da mesma rede elementar
do exemplo 1, anteriormente apresentado, com o método iterativo de Gauss.

carga

E 2
rede

-
' v t - - - - - + - - - - - - - - - - - t ---,

l
P+JQ

Figura 7.9: Rede elementar para o estudo do método iterativo de Gauss.

Para calcularmos a corrente na barra 1, precisamos conhecer a tensão nessa


barra, visto que a potência complexa é um dado do problema. Se essa tensão for
conhecida, a obtenção da corrente é imediata; em caso contrário precisamos desco-
brir a tensão, por meio de um procedimento iterativo. Uma formulação possível é
subdividir a solução iterativa do problema em duas etapas, na forma de duas equa-
Capítulo 7. Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica 251

ções, uma para a corrente equacionada sob o ponto de vista das restrições da carga e
outra sob o ponto de vista das restrições da rede elétrica, conforme o encaminha-
mento a seguir:
i) Equação da carga no passo k segundo a equação (7 .3):

1(k) = P- JQ
v(k)* .

ii) Equação da rede no passo k visando obter a tensão para o passo k+ 1.


Nesse caso, equacionamos a corrente saindo da barra de geração para a barra
de carga pela expressão:
E v,(k+I)
J1(k) _
-
- 1

Z21

ou:

Vj(k+l) =E - Z2if?).

1. Na primeira iteração, adotamos um valor inicial de partida para a tensão na barra


de carga, Vj(O) .

2. Em qualquer iteração k, conhecido o valor da tensão vCk) , obtemos a corrente


1(k) usando a expressão contida em i), equacionada sob o ponto de vista da potência
fixada para a carga.
3. Com a corrente 1(k) calculamos a tensão da próxima iteração V(k+I) utilizando a
expressão contida em ii).
4. Obtemos o módulo das diferenças entre duas iterações consecutivas para módulo
e fase da tensão.

,1vCk+1) =lv<k+1) -v<k) 1,

,1e<k+1) = le<k+I) _ e<k) 1 ·

5. Testamos o erro com um critério de parada, dado por uma precisão a ser adotada
no cálculo:

Se o erro não for admissível fazemos k = k + 1 e voltamos ao passo 2.


252 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

EXEMPLO 2
Aplicar o algoritmo de Gauss ao exemplo 1, adotando um erro de
Ev = ée = O, 005 .

lª Iteração
Como em princípio todas as barras da rede devem operar com um valor pró-
ximo da tensão nominal, seria razoável adotar como ponto de partida de qualquer
solução iterativa o valor inicial de 1,0 pu.
Adotaremos um valor inicial na primeira iteração, k = O, para módulo e fase
da tensão na barra de carga, como uma primeira tentativa v} 0 ) = O, 9L0º, proposi-
talmente diferente do valor de 1,0 pu.
Para a solução na carga, aplicando i), observando que os índices superiores,
entre parênteses, referem-se ao número da iteração, encontramos:

/O) = l - jO = l IL0º
1 O 9L0 ' '
'
sendo fixados Pi = 1 e q 1 = O.
Para a solução na rede, aplicando ii), usando a corrente obtida com a equação
na carga irº)' tem-se:

/l)
l
=lLOº-l ' lx1·0 ' 035 ,

ou sep:

vf) = 1L- O, 03848.


Comparamos o valor da tensão, obtido com o equacionamento na rede, com o ante-
riormente proposto para o equacionamento na carga, que devem ser iguais. Encon-
tramos a solução se o erro estiver dentro de uma determinada precisão.
Erro no ângulo da tensão:

/L10/ = 0,0385
Erro no módulo da tensão:

Como o erro no valor angular está acima do critério de parada, repetimos o proce-
dimento numa segunda iteração, tomando agora o valor previamente obtido na rede
e impondo na carga vf 1) = 1L - O, 03 848 , reiniciando o processo.
Capítulo 7. Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica 253

2ª Iteração

k = 1.

i) /1) = l- JO =lL-0 03848.


1 lL0,03848 '

Recalculamos a tensão na rede com ii):

vfl) = 1- J0, 035 x lL - O, 03848 = 1-0, 035Ll, 532 ,

vfl) = O, 9987 - J0, 035 = O, 9993L - O, 035

Comparamos o valor de v1 , proposto inicialmente na carga, com o calculado na rede,

jL1vj = jv?) - V~]) 1 =jO, 9993 - lj = 0, 0007,


jL1BI = 0,00348, L10:=l0- 3 .

Com o erro dentro da precisão desejada. Para uma precisão maior damos continui-
dade ao procedimento iterativo.

7.4. 2 Fluxo de Potência com o Método Iterativo de Gauss-Se ide!

Conhecidos os fundamentos do procedimento iterativo do método de Gauss,


vejamos uma introdução ao algoritmo de Gauss-Seidel, que apresenta maior eficiên-
cia de cálculo, sendo a versão mais difundida do método.
Em uma rede elétrica mais complexa, organizamos as equações com a matriz
de admitâncias nodais:

[I] = [Y][V], (7 .14)

na qual [/] é o vetor coluna das correntes fasoriais injetadas nas barras, [V] é vetor
coluna das tensões fasoriais nas barras e [Y] é a matriz de admitâncias nodais.
Reescrevendo a equação da potência complexa (7.3), para uma determinada
barra de carga i:

PI -;·Q·I = V * xf.
I I '
(7 .15)

associada à equação nodal de corrente, extraída da matriz de admitâncias:


n
f 1. = '°'Y
~IJJ'
-V-
J=I
254 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

obtemos:
11

P' -1·Q·I = v*'°' Y-V-)


I ~ lj '
(7 .16)
j=I

Essa equação, escrita na forma iterativa do método de Gauss, supondo tensões de


barras como incógnitas, se apresenta como:

v,(k+I) =-1
Y--11
[P; - }Qi _ ~ y,vk J
~
(7 .17)
VI (k)*
I lj J '
1=1
jtc-i

com a qual podemos introduzir o método aprimorado, denominado de Gauss-Seidel.


Esse método, no cálculo da tensão de uma determinada barra i, na iteração k+ 1 a-
póia-se na atualização dos valores de tensão obtidos, previamente calculados até a
barra i-1, nesta mesma iteração k+ 1 , conforme a expressão a seguir:

v,(k+I) = _l ( P; - }Qi _ ~
Y-V~k+I) _ ~ Y-V~) (7 .18)
I y. v(k)* ~ IJ J -~ IJ J
11 i J=l 1=1+l

Essa formulação proporciona ao algoritmo maior eficiência computacional,


que pode ser complementada por medidas que evitem cálculos repetidos ao longo
das iterações.
Exceto algumas situações muito especiais, os algoritmos iterativos baseados
no método de Gauss não se apresentam com a solução mais indicada na solução de
um problema de fluxo de potência em uma rede elétrica, portanto não entraremos
em maiores detalhes de sua aplicação.
Para essa finalidade, algoritmos baseados no método de Newton-Raphson a-
presentam um desempenho superior, que passaremos a descrever a seguir.

7 .5 Fluxo de Potência com o Método


Iterativo de N ewton-Raphson

7.5.1 Método Iterativo de Newton-Raphson

Vejamos como obter a solução de uma equação não linear com o método ite-
rativo de Newton-Raphson, também conhecido como método das tangentes. Tal
método enquadra-se em uma proposição que busca levar em conta o gradiente da
função a cada passo de execução.
Capítulo 7. Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica 255

A figura 7 .1 O lustra a aplicação progressiva do método para obtermos a solu-


ção da equação transcendental f ( x) = y , de um ponto de partida ( x 0 , f ( x 0 )) , co-
nhecida a derivada da função em qualquer ponto.
Escrevendo a expressão da derivada da função f (x) no ponto x0 .

df (X) . f (X) - f ( Xo )
= hmx--)xo
dx x=xo x-xo

Os valores incrementais em tomo do ponto x 0 podem ser obtidos com a de-


rivada:

df(x)
L1f(x) =--L1x.
dx

O ponto x1 da figura pode ser escrito como:


-1
( df(x) ]
x1-Xo= dx x=xo [y-f(xo)],

ou:
-1
( df(x) ]
x1 =xo + - - , [y-f(xo)]
dx x----o
v

Analogamente escrevemos o ponto x 2 :

E assim sucessivamente, até encontrarmos a solução numérica da equação, dentro


de uma precisão desejada.

O critério de parada é definido por um erro máximo E:

Obviamente, quanto mais perto estiver a estimativa inicial x 0 da solução, menor


será o número de iterações necessárias durante o cálculo.
256 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

f(xo)
1
1

y-f(xo) :
-----------~-----
'
1
y

o
X

Figura 7 .1 O: Método iterativo de Newton-Raphson.

Quando temos um sistema de equações, podemos generalizar construindo a


matriz Jacobiana, formada pela derivada primeira de todas as equações, em relação
a todas as variáveis do sistema, ou seja:

Ji (x,, · · ·, Xn) = YI,


/2 ( x,, · · ·, Xn) = Y2,
(7.19)

Efetuando a expansão em série de Taylor, em torno de um ponto conhecido:

[x[º), x~~), ... , x~O)],

obtemos:

.r,n (x,
(O) (O)
,X2
(O))
, ... ,xn
ªln
+- L1x,
a.rn
+ ... + - L1xn ==cYn·
ax] x(O)
1
axn (0)
XII
'
Capítulo 7. Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica 257

O sistema de equações pode ser convenientemente colocado na forma matricial:

ª.liO
- 1 (0)
x 11
xn
=
ôJ;,
-;-- x(Ol
1

oxn li

Escrevemos:

[ L'.1 f] = [J ][ L'.lx] . (7 .20)

[J] é a matriz Jacobiana de primeira ordem, calculada em um ponto [x(O)] conhecido.


A aplicação desse método numérico de solução de sistemas não lineares con-
siste, então, nos seguintes passos:
1) Sugerimos um valor de partida como solução do problema: [x(º)J, ou seja,
[L'.1/] resolvida em função de [x( 0)].
Em qualquer iteração, executamos os passos a seguir:
2) Calculamos o valor de diferenças [L'.1/] e a matriz Jacobiana [J] no ponto
determinado.
3) Verificamos se os [L'.1/] estão dentro da precisão.
4) Se a precisão for satisfatória encerramos o cálculo. Em caso contrário, se a
precisão for insuficiente, damos andamento ao procedimento iterativo, resolvendo o
sistema de equações (7 .20) obtendo o vetor de incógnitas [L'.lx] .
5) Calculamos o novo ponto de solução:

e voltamos ao passo 2.

7. 5. 2 Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica com o


Método de Newton-Raphson

Apresentaremos a seguir um método de solução muito eficiente no cálculo do


fluxo de potência em uma rede elétrica, conhecido como o método de Newton-
Raphson, utilizando a matriz de admitâncias nodais da rede elétrica.
Para o cálculo do fluxo de potência, o sistema de equações não lineares a ser
resolvido, com variáveis complexas, é análogo à expressão (7.19), constituído pelas
expressões:
258 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

fi (Vj, V2, V3, · · ·, V,1) = Pi - JQ,,


/2 (Vj , V2 , V3 , · · · , V,1 ) = P2 - J Q2 ,
(7 .21)

Esse sistema, colocado em função das equações nodais, apresentadas em


(7.17), é rearranjado da seguinte fomrn:
11

Pi - JQ1 = J/i*2)í;V;,
J=I
11

P2 - JQ2 = vtLY2;V;,
j=I (7 .22)

11

P,1 - JQ11 = v,; L J';lj V;.


)=l

Prosseguindo de forma análoga à indicada anteriormente, tem-se:

que pode ser explicitado em termos das incógnitas, correspondentes às variações de


tensão [L1V] a cada passo de iteração k, ainda em variáveis complexas:

Detalhando um pouco mais a expressão (7 .22), para uma barra genérica i na


qual a admitância entre os nós i e j está colocada na forma retangular,
Yú = Gu + JBu, e os fasores de tensão estão escritos na forma polar V;L 0i = VíeJ 6;,
temos:

P1 -1·Q-1 = Ln V.V-e J( 0 -0-) ( G.. +JB .. )


1 }
1 1
1J 1J '
J=l

ou:
11

P-1·Q-
1 I
="'vv.[cos(0-
~ 1 .J -0-)+
/} / 1J + .1B--)
.;·sen(0-.J -0.)](G- l)
}=1
Capítulo 7. Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica 259

Resultando em:

n
P1 ="V.V-
~ I j
[e . cos(0• -0-)-B .. sen(0- -0•)]
lj j I lj J I '
(7 .23)
J=I

º.=-"v.v.[s. cos(0• -0-)+G.. sen(0- -0•)]


n

/ ~ 1 j lj j I lj j I '
(7.24)
J=I

Considerando a= 01 - 0;, podemos reescrever as equações de potência ativa


e reativa da seguinte forma:

P/ = V. 2 G ..
1 11
+" V.V. (e. cosa-E ..
~
j=I
n

1 J 1J lj
sena) '
(7.25)

}'t-i

º.=
n
I
-V. 2 I
s . - "vv. (e1J. sena+ s . cosa)
11 ~ 1 j 1j • (7.26)
j=l
j:t-i

7.5.3 Montagem da Matriz Jacobiana

• Barras de carga
Para uma barra de carga, supondo P; e Q; conhecidos, as equações acima se
enquadram na fonnulação anterior para o método de Newton-Raphson, sendo o
vetor de incógnitas composto por ângulos 0; e módulos V; .
Construímos as derivadas parciais, por meio de uma formulação bem difun-
dida, proposta inicialmente por Van Nesse Griffin:

na qual exemplificamos os vetores componentes do vetor de incógnitas:


260 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Sendo necessária a preparação adequada das submatrizes H, N, J e L :

d}j dfj
a01 a011
H=
cJP,1 aP,1
a01 a011

V, aFj V dFj
!ªVi 11
av11
N= )

V, ê)P,1 V cJPn
!ªVi 11
av11

ªº1 cJQ1
a01 a0n
J=
ªº/1 ªº/1
a01 ê)Bn

V, dQ1 V cJQ1
ldVj 11 av
11
L=
V, ªº11 V âQ11
1 âVj 11
av11

Construção da submatriz [H]


a) Elementos fora da diagonal:

b) Elementos da diagonal:

na qual:

da =-l.
a0.l
Capítulo 7. Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica 261

Lembrando da equação de potência reativa, reescrevemos o somatório:

2
H 11.. =-Q--V
/ I
E--li '

• Elementos da submatriz [N]

a) Fora da diagonal:

ôPi
Nu-- = v.1 --
av. = VV-(G
1 1
-- cosa-E .. sena)
lj lj ·
J

b) Na diagonal:

ôP n
N ,,-- =V
, a-v = V.2V.G ~ v.c
, , -- + V"°' 1 lj. (cosa-E lj-- sena) ,
1
li ,
I j=I
J,t.i

ôP1 2
N 11-- =V-
lav
=P+V
/ /
G--
11 ·
I

Elementos da submatriz [J]

a) Fora da diagonal:

1J ªº· (
J .. = - -1 =VV.
d0. 1
./
E .. sena-G--cosa
1 1J // )

b) Na diagonal:

n
J.11. = - "°'(E
L,. -- sena- G--1/ cos a) VV
lj
-
'}'
j =I
j ct-i
262 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

2
J.11. =P-V
I / G-li- •

• Elementos da submatriz [L]

a) Fora da diagonal:

u 1 ªºiav .
L-- =V---=-VV-
1
B--cosa+G-- sena
J
' ( lj lj
)
·

b) Na diagonal:

dQi n
L--li = V - =-V2VB---V'°' V- (s lj. cosa+ G--1j sena) ·
l'.'lv. I Ili/~}
O / j=J
j::f.i

Obtemos:

L-11- =Q·I -VI 2 B--li •

Observamos ainda que:

H--1/ =L--
lj
eJIJ.. =-Nlj.
..

Algoritmo:

1) Entrada de dados de barras e ligações e proposição de um valor inicial para


as incógnitas:

[ Ví(O)

2) Cálculo das potências e do vetor de diferenças, entre potências especifica-


das e calculadas, em cada iteração:
Capítulo 7. Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica 263

na qual Pt é a potência ativa especificada na barra i e Qt é a potência reativa espe-


cificada na barra i.
Se todos os componentes do vetor de diferenças [D] estiverem dentro da
precisão desejada encerramos o processamento. Em caso contrário, passamos ao
passo 3.
3) Calculamos o vetor de incógnitas resolvendo o sistema linear, montando a
matriz Jacobiana.

[ LlX] =l~:1 vetor de incógnitas.

Quanto ao método de solução desse sistema de equações linearizado, como a


matriz Jacobiana é não-simétrica, a sua ordem pode ser muito elevada, a técnica
apropriada consiste na triangularização de Gauss e retro-substituição, conhecidas do
curso de cálculo numérico e portanto não reproduzidas neste texto.
As derivadas parciais, necessárias ao cálculo das quatro submatrizes H, N, J e
L, são obtidas com as expressões:

Elementos
Submatriz
Fora da diagonal (i,j) Da diagonal (U)

cJP =-V.V - (s . cosa+ G.. sena ) cJP; - 2


H
1
ae.J
--
1 1 1J 1J
ae. --Qi - V; sií
1

v.--
ôP =V.V - (G.. cosa-B .. sena ) cJP; -
V--P+V 2
Gli
I av
1
N 1 av. 1 1
1J 1J I I
./ I

J ªª , ( .
--=V.V - B.. sena-G--cosa
ae.J 1 1J lj ) àQ;
-=P-V
I
2
ae. , , G-li

L ªº'=-vv, .(s ..
v../ __
av.
I

./
1 1J
COSa+ e . Sena
1J ) ªº'=
V; à ~
1
Qi - V; 2 Bii

Tabela 7 .1: Elementos das submatrizes componentes da matriz .Jacobiana.

Lembramos que:
264 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

fl .. =
lj
L-IJ' J lj.. = -Nlj'
..

4) Atualizamos o vetor de incógnitas e voltamos ao passo 2, para a próxima iteração.

Até aqui abordamos o equacionamento básico nas barras de carga do ti-


po PQ , cabendo ainda destacar que, ao utilizarmos equações nodais, adotamos a
convenção de correntes positivas injetadas nos nós. Como nas equações de potên-
cias nas cargas adotamos a convenção de bipolos passivos, ou seja, correntes positi-
vas entrando no bipolo, necessitamos adequar as convenções, o que é solucionado
por meio de um artifício muito simples, trocando o sinal das potências especificadas
nas barras de carga.

• Barras de geração
Apresentado o tratamento das barras de carga, resta portanto comentar a in-
clusão das barras de geração, do tipo PV, no equacionamento.
Essas barras de tensão controlada, na formulação em coordenadas polares,
são levadas em conta de modo trivial, pois como a potência reativa desse tipo de
barra não é especificada, a equação correspondente a Qi não é necessária. Além
disso, sendo o módulo da tensão nesse tipo de barra constante, as derivadas parciais
em relação a V; são nulas, e portanto desnecessário o cálculo de .Ll~ . Desse modo,
ao considerarmos essas barras, simplesmente descartamos a linha e coluna corres-
pondentes a Qi, do sistema de equações .
Para a barra de geração selecionada como swing, ou do tipo V0, simples-
mente eliminamos as equações correspondentes de potência ativa e reativa, por
razões análogas. Como não conhecemos a priori as perdas do sistema, antes de
resolvê-lo, é óbvio que não podemos trabalhar apenas com barras do tipo PV e do
tipo PQ, dada a impossibilidade de fixarmos a potência ativa em todas as barras de
geração, ficando assim clara a necessidade de pelo menos uma barra do tipo V0.
Dado um sistema com n barras, composto por nc barras de carga do tipo 1,
ng barras de geração do tipo 2 e uma barra de geração oscilante, n = nc + ng + 1, a
ordem do sistema de equações a ser resolvido iterativamente será 2nc + ng.

EXEMPL03
Vejamos a solução do nosso exemplo elementar com a aplicação do método
de Newton-Raphson.
Capítulo 7. Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica 265

Em valores por unidades, construímos a matriz Y e chamamos:

[Y]=[Y11
Y21

Desenvolvimento das equações de potências nos nós.

Temos:

Jb 11 =-}28,57, Jb 12 =}28,57.

Adotamos o valor inicial para a tensão na barra de carga:

Calculamos as potências injetadas nas barras, usando as expressões:


266 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

p 1 = -v128, 57 sen ( 02 - 01) = 28, 57v1sen ( 01 ) ,

ql = 28, 57 [ v? - VI COS ( 02 - 01)] = 28, 57 ( vf - V1 COS 01) .


As potências calculadas para a estimativa inicial são:

pfº) =o'
qfº) =o.
Obtemos as diferenças entre valores calculados e especificados:

L1 P
(0)
= P1e - P1 = -1 ,

em que pf e qf são valores especificados.


Considerando que o critério de parada seja:

L1p 1(O)I < 0,01 e 1L1q 1(O)I < 0,01,


1

corno L1p[ 0 ) = -1, continuamos os cálculos.

1ª Iteração
Definimos o vetor de diferenças das incógnitas:

e também o vetor de diferenças das potências:

Corno a barra 2 é urna barra de referência, as expressões se simplificam, restando


apenas os primeiros elementos das diagonais das subrnatrizes H, N, J e L:
Capítulo 7. Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica 267

Substituindo os valores numéricos, resulta em:

[.1X]=[28,57 O ]-I x [-l]=[-0,035]


O 28,57 O O '

P 1(I) = v<1
1) 28 57sen
'
(0<11)) = l x 28 ' 57 sen (-0 ' 035) ⇒ p(I)1 = -O , 9998 ,

qfil = 28, 57 [( vf l) 2 -v['l cos (e?>) ]=28,57 [ l-cos(-0,035) ]⇒ q[ t) =0, OJ75,

Lipl = pf - pf I) = -1 + O, 9998 = -0, 0002,


Liq/ =qf-qf1) =0-0,0175=-0,0175.

Como j.1q} 1) 1 > O, O1 passamos para a 2ª Iteração.

2ª Iteração

(1) _ ( (1) ) 2
f-1 11 --q 1(!) - v1 b11 _--0,0175-1 2 _
x -28,57-28,5525 ,
268 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Jn) = pfl) _(vfl)) 2 gll =-0,9998-1 2 x0=-0,9998,


( (1) ) 2
L(1) _ (1)
11 -q 1 - v1 B11 _-0,0175+1 2 x28,57-28,5875,
_

substituindo nas matrizes,

[ L'.lX ] = [ 28, 5525 -0, 9998]-I x [-0, 0002] = [-0, 0285] xlO -3
-0,9998 28,5875 -0,0175 -0,6132 '

0( 2 ) = -0 0285 x 10-3 - 0 035 ⇒ 0( 2 ) = -0 035


1 ' ' 1 ' '

/ 2) -1 =-0 6132x10-3 / 2) ⇒ / 12) =0 ' 9994 '


1 ' 1

pf 2) = O, 9994x 28,57 sen (-0, 035) = -0, 9991,

q[ 2 ) = 28,57[ O, 99942 - O, 9994cos(-O, 035)] = O, 0004,

L'.lp( 2 ) = -1 + O 9991 = -O 0009


1 ' ' '

L'.tqfl) = 0-0, 0004 = -0, 0004.

Como:

não há necessidade de se fazer novas iterações, convergindo a solução para:


VI= 0,9994,
01 =-0,035.

EXEMPLO 5
Aplicaremos o método de Newton-Raphson a um sistema de quatro barras,
conforme a figura 7.12, na qual apresentamos os dados de barras e admitâncias de
ligações em valores por unidades.
Desenvolvimento das equações de potências nos nós, considerando as ex-
pressões:

PI = fiv.v.[c
~ I ) . cos(0•j -0-)-B
lj /
.. sen(0j - -0•)]
lj / '
J=I
Capítulo 7. Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica 269

Pi =0,6 VI =],05 P2 = -0,5 q2 = -0,2


~
pv 2 pq
0,5 - )5

0,5- j5 1- )3

0,2- j3
3 pq

PJ = -0, 6 q3 = - 0, 1

Figura 7.11: Dados e configuração do sistema de quatro barras.

º.
n
/ ~ vv.
=- L_i I )
[s..cos(0. -0.) + e .. sen(0 . -0.)]
lj J I lj .J I '
J=I

Temos os valores especificados:


Vt = 1, 05 ,

E como valores iniciais:

Calculamos as potências com os valores anteriores para uma estimativa inicial:

P(O) = 0 105
1 ' '

P (O) = -0 025
2 ' '

P(O) =-0 05
3 ' '

q 2(O) = -0 ' 25 ,

Obtemos as diferenças entre valores calculados e especificados:


270 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Llp[ O) = pf - pf O) = 0, 495 ,
Llpiº) = p~ - Pio) = -0, 475,

Llpio) = p{ - Pjü) = -0, 55,

Llqiü) = q! - q~O) = O, 05,

LlqjO) = q{ - q~O) = 0, 05 .

Considerando que o critério de parada seja:

jLlP(º)j<0,001 e jLlQ(O)j<0,001,

e como este não é satisfeito, continuamos os cálculos.


Definimos o vetor de diferenças das incógnitas:

E também o vetor de diferenças das potências:

l :1 Iteração

[ LlD(O)] = [ l(O)] [LlX], 1<º) =


[ H(OJ
1<º)
NCº1
L(O)

13,650 -5, 250 -3,150 -0,525 -1, 050


-5,250 8,250 -3,000 1,475 -1,000
1<º) = -3, 150 -3, 000 9,150 -1,000 2, 15 O ,
0,525 -1,525 1,000 7,750 -3,000
1,050 1,000 -2,250 -3,000 8,850

0,495
-0,475
[ LlD(º)]= -0,550 ,
0,050
0,050
Capítulo 7. Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica 27 J

-0, 0370

[ L1X] = [ J(O) r' [ -0, 1219


L1D(O)] = -0, 1118
-0, 0028
-0,0055

Sabendo-se que:

Temos:

v(I) = Ü 9972 /l) = O 9945


2 ' ' 3 ' '

g(I) = -0 0370 g(I) = -0 1219 0jl) = -0, 1118.


1 ' ' 2 ' '

Calculamos os novos valores de potência para as tensões e ângulos obtidos na


iteração anterior:

P (I) = O 6019
1 ' '

P 2(l) = -O 4960
' '

P 3(I) = -O 5919
' '

q (l) =-0 1812


2 ' '

Obtemos as diferenças entre os valores calculados e especificados :

L1pf') = pr - p~') =-0,0019,

L1pf) = p~ - Pil) =-0,0040,

L1pf) = pf - pf) = -0, 0081,

L1qil) =q!-q~l) =-0,0188,

L1qf) = qf -qf) = -0, 0272,


272 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

como o critério de parada não é satisfeito, continuamos os cálculos.

2ª Iteração

[ L'.ID(I)] = [ l(I)] [ L'.IX]

13,6899 -5,2611 -3,2018 -0,0773 -0,8070


-5,1722 8, 13 71 -2,9649 0,9957 -1,0218
[1(1)]= -3,0457 -2,9850 8, 9732 -0,9615 1, 5838 ,
0,9660 -1, 9878 1, 0218 7, 7747 -2,9649
1, 2755 O, 9615 -2, 7676 -2, 9850 8, 8276

-0,0019
-0,0040
[ L'.ID(l)] = -0,0081 ,
-0,0188
-0,0272

-0, 0018

[ L'.IX] = [ l(I) ri [ -0,0024


L'.ID(I)] = -0, 0020
-0,0043
-0,0046

Sabendo-se que:

L'.IV (2)
=----
V

temos:

v<22) = O' 9929 ' v< 2) = O 9898


3 ' '
0< 2 ) = -O 0388
1 ' '
e<22) =-0 , 1244' ef)=-0,1138.

Calculamos os novos valores de potência para as tensões e ângulos obtidos na


iteração anterior:
Capitulo 7. Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica 273

P 1(2 ) =o 6
' '

P (2 ) =-0 5
2 ' '

P 3<2 ) = -O ' 6 '


q <2 ) = -O 1999
2 ' '

Obtemos as diferenças entre os valores calculados e especificados.

L1p} 2) = pf- pf) =0,0143xl0-3

L1p?) = p; - P?) = -0, 0327 X 10-3

L'.lp?) = p 3-pf) =-0,0456xl0-3

L1q?) = q; - q?) = -0, 0836 X 10-3

L1q?) =q3-q?) =-0,1353xl0-3

Como o critério de parada é satisfeito, não há necessidade de fazermos novas


iterações, convergindo a solução para:

v< 2) = O 9929
2 ' '
i32) = O' 9898 '
0< 2 ) = -O 0388
1 ' '
0< 2 ) = -O 1244
2 ' '
ef) = -o, 1138.

7 .6 Fluxo de Potência com o Método


Newton-Raphson Desacoplado-rápido

O método desacoplado-rápido introduz simplificações na formulação anterior-


mente descrita, fundamentadas em hipóteses válidas para sistemas de EAT e UAT,
apresentando facilidades de implementação e eficiência computacional.
Para isso, reescrevemos a equação básica, com a finalidade de introduzir alte-
rações na matriz Jacobiana, da seguinte forma:

n
~I
P1 -1·Q·1 = ~ VV-e-Ja
J
(elj. + JB l.. j)'
274 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Na qual redefinimos a variável a, agora escrita como:

A primeira hipótese admite que nas ligações temos a relação Ru « X ij . Sendo as-
sim, o método trabalha apenas com as susceptâncias extraídas da matriz de admi-
tâncias, compostas pelos elementos Bu . Os elementos da matriz de admitâncias são
calculados da seguinte forma:

Z--u = R-IJ-+JX--IJ'

y 1 R--IJ '
X--IJ
i/ = R
·
·x = -2--2 - J 2
··IJ + J IJ·· R--IJ + X--IJ R--IJ +X.IJ
2

Desprezando a condutância, temos:


x IJ..
Eu=- 2 2
R--+X--
u IJ

Nesse caso, o equacionamento obtido das relações nodais resulta em:


n n
P1 -1·Q·1 ="1·B--V.V-(cosa-1·sena) =" V.V- (B .. sena+JB .. cosa)
~ IJ I j ~ 1 j IJ //
j=I j=I

Considerando ainda as aproximações: sena~ a e cosa~ 1, obtemos:


n
P1 = "V.V-B--(0-
~ljlj l -0}
-)' (7.27)
J=I
jof.i

n
Q'-=-"VV-B--
~ 1 J IJ'
(7.28)
j=I

Com as condutâncias desprezadas, a potência reativa apresenta uma influência


pequena na abertura angular das tensões de barras, conforme análise do item 1.3.
Para a equação (7 .27), que relaciona potência ativa e abertura angular, é con-
veniente reescrevê-la como:
p n n
V; f : r j l j l f : r j l.je.
=
- 1 "v-s .. e. - "v-s j'
jof.i jof.i
Capítulo 7. Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica 275

Nessa formulação são omitidos os elementos que afetam o fluxo de potência


reativo, como elementos em derivação capacitivos ou indutivos, assim como as
capacitâncias de linhas de transmissão.
Como nessa equação a potência nodal é principalmente afetada pelos ângu-
los, com as quedas de tensão desempenhando um papel secundário, assumimos

Supondo L:1V « V , assumimos que para valores incrementais que:

L:1( PJ::::: L:1P


V V '

e escrevemos:

L:1P n n
- 1 = L.IJ
~ B .. L:10. -
I
~ B .. L:10 .
L.IJ }'
~ j =l j=l
j'l'i j'l'i

Porém, das equações nodais, como desprezamos os elementos reativos para a terra,
sabemos que:
n
B .. =-~B ..
li L.IJ'
j =l
j,ti

e portanto:

L:1P n
-
V
1 = -B .. L:10--
li I
~ B .. L:10.j
L_. IJ
1 J=l
j 'l' i

Agrupamos os dois termos do segundo membro, escrevendo:

L:1P n
-
V
1 =L.
~ B .. L:10 ·
iJ J'
1 J=I

compondo as linhas do equacionamento matricial:

Chamando [B'] =-[B], ou seja, trocando o sinal da matriz de susceptâncias, mon-


tada com o procedimento anteriormente sugerido, obtemos:
276 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

[ Li;]=[B'][L10].

Para a equação (7 .28), relativa à potência reativa e tensões de barras, temos:


..

º·=-'°'VV-B ..
1 L...J
J=I
I j lj '

Rearranjando essa equação :

Assumindo as mesmas hipóteses anteriores, podemos admitir que:

escrevendo:

L1Q- n
-
v 1 =-'°'B
L...J lj.. L1V-} '
1 j=I

ou ainda:

[ LIVQ]=-[B ][ LIV].

Da mesma forma, chamando -[B] =[B"], temos:

[LI;] = [B'] [LIV]

Para a formação de [ B"] omitimos os transformadores de rotação de fase, que


afetam o fluxo de potência ativo. Consideramos as capacitâncias de LT's, reatâncias
em derivação, incluindo os elementos reativos oriundos de transformadores fora do
tap nominal.
O sistema iterativo de equações fica:

[ L1: (k)] = [B'][ L10], (7.29)


Capitulo 7. Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica 277

(7.30)

A seqüência de cálculo está condicionada aos seguintes passos:


1) Calculamos L10 da equação:

[L1: (k)] = [B'][ L10].


2) Atualizamos e(k+I) =e(k) + L10.
3) Utilizamos os novos e(k+I) no cálculo de [LlQ / V] e obtemos [L1V] da
expressão a seguir:

[L1VQ (k)] = [B"][ L1V].


A vantagem do método desacoplado-rápido é acelerar o cálculo, evitando a
atualização do Jacobiano a cada iteração, o que implica uma elevação do número de
iterações, porém com ganho no tempo total de solução. O exemplo a seguir é eluci-
dativo da aplicação do método.

EXEMPL06
Fluxo de potência com o método Newton-Raphson desacoplado.
A rede a seguir é composta por um gerador, uma linha de transmissão de 69
kV, um transformador abaixador 69/13,8 kV e duas cargas, uma na tensão de 69 kV
e outra na tensão de 13,8 kV. Obter as tensões nas barras de carga.

3 2
69 kV 13, 8 kV

LT

Sz

Figura 7.12: Circuito exemplo utilizando o método Newton-Raphson desacoplado.

Dados:
LT: X'=0,055 .Q/km, €=30 km,
T: s =8 MV A,
11 x = s, 5% ,
278 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Pi =lOMW, Q1 =0MVAr,

P2 =5 MW, Q2 =3,75 MVAr.

Precisão adotada:

IL1PI < O, 002, IL1QI < O, 002.


Convertendo os dados para valores em pu e tomando 1O MV A como potência
de base, temos:
Linha de transmissão:

x = J0,055x30xl0/69 2 = J0,035 pu,


y 13 = - )28,57.

Transformador:

x = j0,055x10/8 = J0,06875 pu,

Yi2 =-)14,54.

PIe = 1, O pu , qle = O pu ,

P2 =-0,5 pu, qÍ =-0,375 pu,


O quadro abaixo apresenta um resumo dos dados de barras:

nº da barra tipo dados(pu) incógnitas


P1 =-1
1 carga V1, 01
ql =0
P2 =-0,5
2 carga V2, 02
q2 =-0,375

V3 = 1, Ü
3 swing p3, q3
03 =0°

[B] = j [ 14,54
28,57
14,54
-14,54
o
28,57
o
-28,57
l
A matriz de susceptâncias, com as resistências desprezadas, é dada por:
-43,11
.
Capítulo 7. Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica 279

Nesse caso particular, sem ramos reativos para terra e transformadores defasadores,
temos para as barras 1 e 2:

I 43,11 -14,54]
li [

[B]=[B ]= -14 54 14 54
' '
Escrevendo as equações de potências ativas (7 .25) para as barras de carga:

p 1 = -v1 [ 14,54v2 sen( 02 -01 ) + 28,57v3 sen ( 03 -01)], (a)

p 2 =-14,54v1v2 sen(01 -02 ). (b)

Aplicando a equação (7.26):

q, =vf x 43, 11-v, V2 x 14, 54 x cos ( 02 - 0, )- v, V3 x 28, 57 cos ( 03 - 01 ) , (c)

q2 = -v1v2 x 14,54cos( 01 -02 ) + v? x14,54. (d)

Vamos adotar a precisão de 0,005 e os seguintes valores iniciais:

/º)
1
= 1' O '

Início dos cálculos:

ia Iteração
Cálculo de [L'lP(O)].
Substituindo-se os valores iniciais em (a) e (b ), obtemos:

p~O) = 0,

L'lpf O) = pr - pf O) = -1, 0 - Ü =-1, 0,


280 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Que são valores superiores, em módulo, à precisão adotada.

Cálculo de [,,1p I v(O)].

L'.1pf O) = -1, 0 =-1 0


(O) 10 ' ,
vi '

L'.1 (O) 05
P2
(O)
=-=----.:____
10
=-O ' 5 .
V2 '

Cálculo de [0(l)] .

[ L'.1: (O)] = [E'][ L'.10],

[ -1,0] =[ 43,11 -14,54]x[L'.101 ] ➔ {L'.101 =-0,0525,


-0, 5 -14, 54 14, 54 L'.102 L'.102 = -0, 0869

0?) = 0 1CO) + L'.101 =O-O, 0525 = -0, 0525,

0f) = 0i°) + L'.102 =O-O, 0869 = -0, 0869.

Cálculo de [ L'.1Q(O)] .
No cálculo de q~ºl já utilizaremos os valores de 01 calculados nesta iteração,
usando as equações da barra de carga da rede:

q}º) = 0,048

q2(O) = Ü' 0086 '

L'.lq[ O) = qf - qf O) =-0, 048,


L1q1º) = qÍ - q1º) = -0, 3 836'
que são valores superiores, em módulos, à precisão adotada.

L'.1Q(º)]
Cálculo de [ V :
Capítulo 7. Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica 281

(O)
Llql = -0, 048 = -O 048
(O)
vi
1, 0 ' '

(O)
Llq2 = -0,3836 = -O 3836.
(O) 10 '
V2 '

Cálculo de [v< 1>]:


(O)]
[ L1VQ = [B"][ L1V],

O ] [ 43, 11 -14, 54] [ L1v1] {L1v1 = -0, O151


[
-0,375 = -14,54 14,54 x L1v2 ➔ L'.1v2 =-0,0415'

/ I 1) I + LlvI = 1, 0- O, O151 = O, 9849 ,


= v(O)

ia Iteração
Repetindo o processo, utilizamos agora os valores do 0i e ~ calculados na
iteração anterior.
Cálculo de [,1p(I)] :

P1(I) = -1 ' 0045 ,

P2(I) =-0 ' 4721 '

Llp(I)
I = peI - p(I)
I = -1 , 0 + 1, 0045 = 0, 0045 ,

Llp(I)
2 = pe2 - 2 = -0 •5 + 0•4721 = -0 •0279 ,
p(I)

que são valores, em módulo, superiores à precisão adotada.

Cálculo de [,1p I v< 1>]:

(1)
L1p 1 = O, 0045 = O 0046
(I) O 9849 '
VI '
282 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Llp~I) = -0, 0279 = -0 0291.


(I)
V2
O' 9585 '

Cálculo de [é 2)] :
[Ll: (1)] =[B'][ L10],

[ 0,0046] =[ 43,11 -14,54]x[L10 ]


1
-0,0291 -14,54 14,54 L'.102

,1e(I) = -0 0009
1 ' '
,10<2 1) = -O ' 0029 ,

0<1 2) = 0(I)
1 + L'.101 = -O , 0525 - O, 0009 = -0 , 0534 ,

2 + L'.102 = -0 , 0869-0 , 0029 = -O , 0898 ·


e(2 2 ) = 0(!)

Cálculo de [L1Q(I)]:

q 1(I) = 0' 0024 ,


q 2(I) = -O ' 3588 ,

Llq(I) = 0-0 0024 = -0 0024


1 ' ' ,

Llqi1) =-0,375 + 0,3588 =-0,0162,

que são valores superiores, em módulo, à precisão adotada.


LlQ(l)]
Cálculo de [ V :

Llqf') = -0, 0024 = -O 0024


(I) O 9849 ' '
vi '

Llq~I) = -0,0162 =-0 0169.


V2(I) O, 9585 '

Cálculo de [vC 2 )]:


Capítulo 7. Fluxo de Potência em uma Rede Elétrica 283

-0,0024] =[-43,11 -14,54]x[L1v1 ] ,


[
-0,0169 -14,54 14,54 L1v2

L1v1 = -0, 0007,


L1v2 = -0, 0018,

/ 12) = / 11) + L1v1 = O• 9849 - O, 0007 = O, 9842 ,

v<22) = v(I)
2 + L1v2=O
, 9585 - O, 0018 = O, 9567 ·

3ª Iteração

Cálculo de [,1p< 2)] :

P ( 2 ) = -1 0026
1 ' '

P2<2 ) = -O 4982
' '

L1p( 2) = -1 + 1 0026 = O 0026


1 ' ' '
L1pf) = -0, 5 + O, 4982 = -0, 0018,

que são valores inferiores em módulo à precisão adotada.


,1p(2)]
Cálculo de [ V :

L1pf2) = -0,0026 = o 0026


vi(
2) O, 9842 '

L1pf) = -0,0018 =-0 0019.


2
V2( ) O, 9567 '

Cálculo de [e( 3)]:

[: (2)] =[B'][L10],
284 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

[ 0,0026]=[ 43,11 -14,54]x[L101 ],


-0, 0019 -14,54 14,54 L'.102

L'.101 = -0, 245 X 10-3 ,


L'.102 =-0,1062x10- 3 ,

e(13) = e(12) + L'.101 = -O , 0534-0 , 0001245 =-0 , 0532 ,


e(23) = e(22 ) + L'.102 = -O , 0898-0 , 0001062 = -O , 0899 ·

Cálculo de [ L1Q( 2 )] :

q (2 ) = O 0017
1 ' '
q (2) = -O 3733
2 ' '

L1qC 2 ) =O+ O 0017 = +O 0017


1 ' ' '
Ltqf) = -0,375 + O, 3733 = -0, 0017,

que são valores, em módulo, inferiores à precisão adotada. Dessa forma, encerra-
mos os cálculos, obtendo os seguintes valores como solução para o problema:
VI= 0,9842, 01 = -0, 0532,
V2 = 0,9567, 02 =-0,0899.

7. 7 Referências Bibliográficas

[l] Stevenson Junior, W. D. Elementos de Análise de Sistemas de Potência 2.ed.


McGraw-Hill, 1986.
[2] Ramos, D. S. & Dias, E. M. Sistemas Elétricos de Potência: Regime Perma-
nente. Rio de Janeiro, Guanabara Dois, 1982 2 vols.
[3] El-Hawary, M. E. Electrical Power Systems. Piscataway, IEEE Press, 1995.
[4] Monticelli, A. Fluxo de Carga em Redes de Energia Elétrica. São Paulo, Edgar
Blücher, 1983.
CAPÍTULO 8
ESTABILIDADE

8 .1 Introdução

Os conceitos de estabilidade são amplos, com diversos tipos de problemas a


serem avaliados, como a estabilidade a grandes e pequenas perturbações, análises
estáticas e dinâmicas, estabilidade da tensão, etc.
No estudo da estabilidade dinâmica a pequenas perturbações verificamos se
as oscilações de pequena intensidade são bem amortecidas, ou seja, estudamos o
amortecimento das oscilações com base nas equações linearizadas da rede elétrica.
A estabilidade estática é voltada para o conhecimento dos limites operativos
em condições de regime permanente.
Ao analisar a estabilidade a grandes perturbações interessa investigar a capa-
cidade do sistema elétrico de absorver os grandes impactos causados por modifica-
ções estruturais sensíveis, como curto-circuito, saídas de linhas, efeitos em cascata,
etc., que dão origem a desligamentos temporários, também conhecidos como ble-
cautes. Essa análise se concentra basicamente na capacidade do sistema em desen-
volver torques sincronizantes para que a operação síncrona não se desfaça.
O propósito deste capítulo é introduzir as idéias fundamentais sobre operação
estável de máquinas rotativas, corno os. geradores e motores, operando em urna rede
interligada. Nesta análise inicial tornaremos como base o caso simplificado da ope-
ração de um gerador conectado a um barramento infinito, que é o caminho mais
indicado para a apresentação dos princípios elementares. Consideraremos então um
gerador ligado a um barramento capaz de manter a tensão e a freqüência constantes,
ficando as oscilações angulares por conta do gerador estudado. Análises mais com-
plexas da estabilidade elétrica podem ser encontradas em textos específicos e mais
detalhados sobre o tema.
286 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

8.2 Modelo Elementar

8.2.1 Modelo Clássico

Nesta análise elementar da estabilidade de sistemas elétricos de potência lan-


çaremos mão de um equacionamento baseado no modelo clássico de uma máquina
síncrona acoplada a um barramento infinito por meio de uma reatância. Esse mode-
lo de gerador considera a tensão interna constante E, supondo que os fluxos perma-
neçam inalterados durante o período considerado de oscilações eletromecânicas,
desprezando as saliências rotóricas da máquina.

Figura 8.1: Modelo clássico de uma máquina síncrona conectada a um barramento infinito.

Sendo:
V LOº : tensão do barramento infinito,
ELt5: tensão interna do gerador, com E fixo e t5 variável,
X: reatância total do sistema entre o barramento infinito e a tensão do gerador.
Desse modo, a máquina síncrona é representada por uma força eletromotriz
atrás de uma reatância transitória denominada Xd . A reatância X da figura pode
englobar a linha, o transformador e a reatância transitória da máquina.

8.2.2 Obtenção da Curva Pxô

Construiremos a seguir a curva P x t5 que apresenta a potência elétrica forne-


cida pelo gerador em função do ângulo, de conjugado ou de potência, em nosso
sistema simples composto por um gerador ligado a um barramento infinito, por
meio de uma impedância constituída apenas pela sua parcela reativa.
Trabalharemos com valores por unidade, adotando a potência nominal igual à
potência de base da máquina síncrona Sbase = Sn.
Calculamos o valor da corrente no circuito da figura 8.1:

(8.1)
Capítulo 8. Estabilidade 287

EV
P,,,ax =X

Figura 8.2: Curva da potência transmitida P em função do ângulo S .

cujo valor conjugado é dado por:

* .(EL-S)-(VLOº)
I =1 - - - - - - - -
X

Obtemos a potência complexa fornecida pelo gerador, a partir da tensão in-


terna ELS:

S=El , (8.2)

.(EL.-S)-(V LOº))
S=ELS ( 1 - - - - - - ,
X

S=JE 2 -JEVLS
X X

E2
S=1·--1· (EV EV
-cosS+ j-senS
. X
J.
X . X
(8.3)

Como estamos interessados na potência ativa, tomemos a parte real de S,


P = Re(S),
resultando na potência ativa transmitida em função do ângulo 8 :
EV
P=-senS. (8.4)
X

É interessante notar que, como não há perdas nesse modelo elementar, a po-
tência ativa transferida será a mesma em qualquer ponto da rede.
288 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

A curva da potência ativa transmitida, em função do ângulo 5, é uma função


senoidal, cujo valor máximo depende de E, V e X
Em uma condição operativa de equilíbrio sabemos que a potência mecânica no
eixo é igual à potência elétrica transmitida P, resultando em dois pontos de equilíbrio,
com apenas um deles estável, conforme análise a ser feita no próximo item.
Pm : potência mecânica constante, sem regulação.

p
3
1
1
1
1
1
1
1 : 2
P,,, ----------y--------- -
1
1
1
1
1
1
1

n/2 o
Figura 8.3: Curva da potência ativa transmitida em função do ângulo 5 numa condição
operativa de equilíbrio.

Ponto 1: ponto de equilíbrio operativo (estável).


Ponto 2: ponto de equilíbrio instável.
Ponto 3: condição limite de estabilidade 5 = Jr / 2

EXEMPLO 1
Obter a curva Px 5 e o ponto de operação de urna máquina ligada direta-
mente ao barramento infinito. Os dados são fornecidos em valores por unidade:
Reatância transitória do gerador: xd = O, 3 pu.
Tensão do barramento infinito: v = lL0º pu .
Potência entregue ao barramento infinito:

p = 0,9 pu; cos<p = 0,9; <p = 25,84°.

Solução:
Obtemos a tensão interna E, calculando a queda de tensão a partir do valor da
corrente e da potência complexa. Com v = I pu , ternos s = / .

s=p+ jq=0,9+ J0,436,


Capitulo 8. Estabilidade 289

e=l+ J0,3(0,9-J0,436),

e= 1, 163L'.13, 43º, tensão interna do modelo clássico em pu.


Obtemos a curva Px o utilizando a equação (8.4):

ev
p =-,seno'
xd

p = 3,877 sen ô

P(pu)
3,877

0,9

8 = 13, 43°

Figura 8.4: Curva Px ô do gerador ligado ao barramento infinito.

8.3 Análise da Estabilidade

Para analisarmos a estabilidade da máquina síncrona em relação ao barramen-


to infinito, admitiremos inicialmente que o sistema está operando em uma condição
de equilíbrio, ou seja, que a potência mecânica transmitida ao gerador pela turbina é
igual à potência elétrica produzida pelo gerador e, conseqüentemente, que a máqui-
na síncrona opera com velocidade constante.
A posição angular do rotor é expressa pelo ângulo ô , escrito corno:

(8.5)

cor : velocidade angular do rotor,


co_\. : velocidade síncrona de referência,
50 : ângulo inicial.
Desse modo, o representa mudanças angulares em relação à referência sín-
crona. A velocidade co = d ô/ dt representa uma velocidade relativa em relação à
velocidade síncrona.
290 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

(8.6)

P,11 p

ú)
fl gerador 1- _1ª
-/h
- 1 ,·

P,111 1
1

p = P,,, ~ r- --~--- ---------- ----


1
1
1
1
1
1
1
1

o
Figura 8.5: Gerador com potências mecânicas no eixo, P,11 e P,111 •

Em um gerador síncrono de pólos salientes, segundo o modelo de Park, não


explorado neste texto, o ângulo ô indica a posição angular do eixo de quadratura
em relação a uma referência da rede. Conforme menção anterior, trabalharemos
com o modelo clássico de geradores, sem considerar a saliência rotórica ou o núme-
ro de pólos do rotor, simplificando o tratamento de variáveis mecânicas e elétricas.
Desse modo, em regime permanente, para um observador localizado em uma refe-
rência com rotação angular síncrona, denominada de referência síncrona, o ângulo
ô será constante e eventualmente nulo se porventura essa referência for coinciden-
te com a posição angular do rotor, o que geralmente não ocorre, como por exemplo
no circuito da figura 8.1, com a referência angular posicionada na tensão síncrona
do barramento infinito.
Em nosso modelo suporemos ainda que os fenômenos a serem estudados têm
curta duração e desse modo podemos admitir que P,11 é constante, não havendo
tempo para os controladores da potência mecânica atuarem. Assim, iremos assumir
como constantes a potência mecânica Pm e o módulo de tensão interna E . Obser-
vamos então que, quando ocorrem distúrbios elétricos na rede, temos variações na
potência elétrica transmitida, que podem acelerar ou frear a máquina síncrona.
Capitulo 8. Estabilidade 29 l

Na figura 8.5 observamos que na condição de equilíbrio, P,n = P, obtemos


duas soluções para o ângulo do gerador em relação ao barramento infinito, 50 e
n-oo.
No gerador, sabemos que quando P,11 > P a rotação aumenta e conseqüente-
mente o ângulo o. Em caso contrário, quando P, < P, a rotação diminui, assim
77

como o ângulo o . Desse modo, verificamos que somente o ângulo 50 corresponde


a um ponto de operação estável, pois se admitirmos uma pequena perturbação nas
condições operativas, com aumento da velocidade e conseqüentemente do ângulo
o, a potência elétrica passa a ser maior do que a potência mecânica, causando en-
tão o retomo à operação no valor do ângulo 50 . Por outro lado, se a velocidade
reduzir, com a diminuição do ângulo o, a potência mecânica passa a superar a po-
tência elétrica desenvolvida, ocorrendo uma aceleração e novamente o retorno ao
ângulo operativo 50 .
De modo análogo, verificamos que o ponto Tl - 50 não corresponde a uma
condição operativa estável, pois, dada uma perturbação, que aumente a velocidade
assim como o ângulo o, a potência mecânica supera a potência elétrica, com uma
aceleração e elevação ainda maior do ângulo J. Da mesma forma, com uma redu-
ção da velocidade e do ângulo J, a potência elétrica é maior do que a potência
mecânica, o que causa uma redução desse ângulo até que o mesmo se estabilize no
valor 50 .

Analisemos inicialmente o caso de uma elevação na potência mecânica de


P,11 para P, 111 , conforme a figura 8.5. O gerador que inicialmente opera com o ângu-
lo 50 deverá se estabilizar na nova condição de equilíbrio 51 • Para isso, ocorre uma
aceleração positiva na velocidade, com P,111 > P, com o aumento do ângulo J até
atingir o ângulo 51 , porém, ao atingir o ângulo 51 , embora nesse ponto a aceleração
seja nula, o rotor tem velocidade suficiente para que este ângulo seja ultrapassado.
Após ultrapassar o ângulo 51 a aceleração passa a ser negativa, agora com P,111 < P,
com uma redução na velocidade, passando o rotor a ser submetido a urna condição
de freio eletromecânico. A velocidade se reduz até atingir um valor nulo na máxima
excursão do ângulo J, aqui chamado de J/. Nesse ponto, apesar da velocidade
nula, existe uma aceleração negativa que promove a redução do ângulo J. Após
algumas oscifações, o ângulo deverá se estabilizar no seu novo ponto de equilíbrio,
com valor J = 51 , se considerarmos as componentes ele torque que causam o amor-
tecimento das oscilações.
292 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Sabemos que os torques são proporcionais às acelerações angulares e como


estamos trabalhando com torques iguais às potências em valores por unidade, co-
nhecemos as acelerações através da diferença P,11 - P, conhecida como potência
acelerante.

8.3.2 Ocorrência de Curto-circuito

Analisemos agora uma condição igualmente simplificada, de um curto-


circuito trifásico aplicado no terminal da máquina síncrona, durante um certo perío-
do de tempo, dado pelo tempo de eliminação do defeito pelo disjuntor, que supore-
mos ocorrer quando o ângulo atingir o valor o=ºª (ºªé o ângulo no qual ocorre
a abertura do disjuntor).

-
disjuntor
curto 3~

Figura 8.6: Curto-circuito no terminal da máquina síncrona.

A reatância X 1 representa a reatância interna do gerador e X 2 a reatância da


linha que conecta o gerador ao barramento infinito. Durante o período do curto,
podemos supor que a potência elétrica transmitida é nula, pois a tensão no terminal
do gerador também é nula. Nesse caso, a potência mecânica fica maior do que a
potência elétrica (conjugado resistente) e a máquina começa a acelerar, com a velo-
cidade superando a velocidade síncrona. Com a elevação da velocidade ocorre um
aumento do ângulo o do rotor, confonne indicado na figura 8. 7.
O ângulo inicial o=
<50 aumenta até ºª,
durante o período de tempo ta, da-
do pela eliminação do curto-circuito. Durante esse tempo ta a máquina é acelerada
pela potência acelerante Pª = Pm - P , pois Pm é maior do que P, sendo P, neste
caso particular, igual a zero. Com a eliminação do defeito em ta, correspondente ao
ângulo ºª,
a potência elétrica desenvolvida passa a ser a da curva original, sendo
que agora a potência elétrica volta a ser transferida para o barramento infinito e
nessa condição P é maior do que Pm, começando a máquina a frear com acelera-
ção negativa crescente, até atingir a velocidade síncrona, conforme indicado na
figura 8.8 pelo ponto.f
Capítulo 8. Estabilidade 293

p
P antes do curto

p = P,/1

Potência acelerante

óo t Óa

P durante o curto

Figura 8.7: Curva Px 5 para curto-circuito no terminal da máquina síncrona.

No ponto f ternos urna velocidade relativa nula em relação à velocidade angu-


lar síncrona de referência OJr. Nesse ponto, correspondente à máxima excursão
angular do ângulo 5 = 5f encontramos a máxima aceleração negativa.

P após o curto

p = P,,,

Figura 8.8 : Curva P X 5 com a abertura do disjuntor em 5ª , eliminando o curto.

Nessa figura as setas indicam seqüencialmente a potência elétrica P desen-


volvida pelo gerador:
1: curto,
2: aceleração durante o curto, com o aumento de 5,
3: eliminação do curto,
4: acel eração negativa, com o aumento de 5 e redução da velocidade,
5: redução do ângulo 5 e oscilação em torno do ponto de equilíbrio.
Ao atingir o ponto_/, como ternos P maior do que P, 11 , como indicado na fí gu-
294 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

ra, obtemos uma aceleração negativa tendendo a diminuir o ângulo e assim por diante.
O novo ponto de equilíbrio final depende da curva Px 5 e da potência me-
cânica P,11 , para a condição final do sistema. Neste caso particular, a curva P x 5
final coincide com a inicial, assim como a potência mecânica P,,,, retornando o
sistema ao seu ponto de equilíbrio original 50 . Em um caso geral, se ocorrer uma
modificação permanente no sistema, a sua curva Px 5 deverá se alterar na condi-
ção final, assim como o novo ponto de equilíbrio.
Um critério que pode ser empregado, para análise da estabilidade, é o critério
das áreas iguais, com o qual podemos demonstrar que a condição de estabilidade é
dada por uma área de aceieração A1 menor ou igual à área de freio A2 .
Para a estabilidade, vemos então que alguns aspectos são básicos, como as
condições de operação do sistema ( P,11 , P, E, 5, X) antes da ocorrência e o tipo de
defeito. Nesse caso, vimos um defeito muito grave, que leva a potência elétrica a
zero, no entanto, existem outros nos quais parte da potência ainda é transmitida.
Podemos incluir outros aspectos como o tempo de eliminação do curto, seqüência
de atuação da proteção, etc.
Devemos ainda lembrar que os fenômenos elétricos reais são mais complexos
que os exemplos simplificados expostos anteriormente, sendo necessário representar
a existência de outros torques elétricos, dados por representações mais detalhadas
de enrolamentos da máquina e da atuação de reguladores de tensão e velocidade,
etc. Nos sistemas reais existem ainda outros fatores que introduzem amortecimento
nessas oscilações, que não estão incluídos em nosso modelo.

8.4 Equação Eletromecânica

A seguir, introduziremos a equação fundamental que relaciona grandezas elé-


tricas e mecânicas para o nosso estudo de estabilidade de geradores em uma rede
elétrica, que será útil na construção de um modelo eletromecânico do sistema.

8.4.1 Equação de Oscilação (Swing)

A equação dinâmica do movimento angular do gerador é chamada de equa-


ção de swing ou de oscilação, relacionando o torque de aceleração com o produto
do momento de inércia pela aceleração angular:

(8.7)
Capítulo 8. Estabilidade 295

O primeiro membro da equação é dado pelo produto do momento de inércia


J, de todas as massas rotativas ligadas ao eixo do rotor pela aceleração angular. O
torque de aceleração pode ser expresso por:

(8.8)

na qual:
0n: torque mecânico,
Te: torque eletromagnético.
Vimos anteriormente que a posição angular do rotor o é expressa pela equa-
ção (8.5):

o= (m,. - m1. ) t+ o0
O ângulo 0_1. = m,J é o resultado do movimento angular do rotor na velocida-
de nominal que chamaremos mn ( mn =m,1.) • O ângulo o é variável no tempo e
representa desvios do deslocamento angular do rotor em relação à posição angular
síncrona 0_1.•
Com as equações (8 .7) e (8.8), escrevemos:

(8.9)

Uma forma bem interessante de tratarmos a equação (8.9) é dividi-la pelo


torque nominal 01 , aqui tomado como um valor de base, ou de referência, com a
finalidade de encontrarmos uma expressão em valores por unidade:

(8. 1O)

Relembrando a definição de energia cinética de um corpo em rotação na ve-


locidade nominal, escrevemos:

Então :

(8. 11)
296 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Sabendo que a potência nominal é dada por P,1 = m11 T, 1 , reescrevemos a ex-
pressão (8.11) acima da seguinte forma:

(8.12)

Denominamos a razão entre a energia cinética na velocidade angular m11 e a


potência nominal P,1 como a constante de inércia H da máquina:

(8.13)

A constante de inércia H é útil para o nosso propósito de relacionar as grande-


zas elétricas e mecânicas de uma maneira simples, sendo uma grandeza dada em se-
gundos. A equação de oscilação, com os torques em valores por unidade, é dada por:

(8 .14)

Introduzindo ainda uma consideração adicional, normalmente adotada, admi-


tiremos que Tpu = PP11 , ou seja, os valores de potências e torques em valores por
unidade são aproximadamente iguais, quando a velocidade não se altera substanci-
almente em relação à velocidade síncrona.
Sendo P = m,.T e P,1 = m11 T, 1 , obtemos em valores por unidades:

Com Ppu =Tpu quando m,. =OJ 11

Rearranjando a equação (8.14), temos a equação de oscilação ou de swing,


em valores por unidade:

2H ··
-ô=pm-P (8.15)
ú)n

8.4.2 Critério das Áreas Iguais

Definimos a potência acelerante, em valores por unidade, pela expressão:

Pa = Pm - P·
Capítulo 8. Estabilidade 297

Nas regiões 1 e 2 indicadas na figura 8.9, sabemos que:


em 1: Pa > O, região de aceleração,
em 2: Pa < O, região de freio.

Pm

o
Figura 8.9: Curva Px O: regiões de aceleração e freio.

O critério das áreas iguais estabelece as bases conceituais para o entendimen-


to dos fenômenos que envolvem a estabilidade de máquinas elétricas.
Chamando:

(8.16)

a equação de oscilação (8.15) pode ser reescrita como:

dm
-
Pa
-
dt a
do
na qual úJ =-
e Pa é a potência acelerante.
dt
Podemos escrever a derivada parcial a seguir, utilizando a regra da cadeia:

do do dm
dt dm dt

Nessa expressão, substituindo-se:

do dm p
- por m e - por _q_ ,
dt dt a
298 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

obtemos a expressão incremental:

(8.17)

Entendemos úJ como uma velocidade relativa, com base na velocidade angu-


lar síncrona w_1., ou seja, com úJ = úJ11 - OJ_1. : Integrando a equação a partir de uma
condição de equilíbrio, inicialmente na velocidade síncrona, com m0 =O, obtemos:

ou ainda:

(8.18)

Essa expressão fornece os elementos básicos para a proposição do critério das


áreas iguais e para isso analisemos a figura (8.1 O).

Pe

Figura 8.1 O: Critério das áreas iguais.

A partir de um ângulo inicial S0 , como Pm > p e portanto Pa >O, a veloci-


dade do rotor aumenta com o conseqüente aumento do ângulo S e portanto a área
A1 é uma área de aceleração. Ao atingir o ponto de equilíbrio Se temos uma acele-
ração nula, porém a velocidade é máxima após um período de aceleração positiva.
Após Se, a aceleração passa a ser negativa, dando início à redução da veloci-
dade. Para que a velocidade se anule no ângulo ~l é necessário que a área sob ace-
leração negativa, A 2 , seja igual em módulo à área sob aceleração positiva, A1 • Co-
Capítulo 8. Estabilidade 299

locado de outra forma, podemos entender o critério das áreas iguais tomando como
base a equação (8.18), ou seja, para que a velocidade, inicialmente nula em o0 ,
torne-se novamente nula em o1 , é necessário que a integral da potência acelerante
o o
seja nula no intervalo 0 - 1 , o que de fato ocorre quando A1 = A2 .
Esse critério das área iguais é útil no entendimento de diversos fenômenos
em sistemas elétricos de potência. Um caso bem interessante é o da análise de uma
perturbação iniciada por um curto-circuito, seguido da abertura de linha, confonne
indicado na figura 8.11.

p operação normal, LT., e LT2 presentes

eli minação do curto com a saída de LT2


Pm
1
1
1

ace:leração
1

o o

Figura 8.11: Curto-circuito seguido de abertura da linha.

Uma das avaliações é saber se, após a eliminação da falta, o sistema será ca-
paz de desenvolver torques sincronizantes que o conduzam a uma situação de equi-
líbrio, o que em suma se traduz em uma avaliação das áreas de aceleração e freio.
Há ainda uma questão relativa aos tempos críticos de atuação da proteção, que estão
associados aos ângulos críticos de abertura de faltas.
O ângulo crítico de eliminação da falta océ definido pela condição de igual-
dade das áreas A1 e A2 , estabelecendo o limite angular de permanência da falta para
que o sistema seja estável após a eliminação do curto com a abertura da linha.
Em termos elementares, essas áreas têm correspondência com uma energia
acrescentada ou retirada do sistema pois a integral do torque, em um intervalo de
ângulo 5, corresponde a um trabalho executado e o torque é considerado igual à
300 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

potência elétrica em valores por unidade.


Nesse caso, para que o sistema seja estável é necessário que a soma de todas
as áreas que acrescentem energia cinética, com p 0 >O, seja inferior ou igual à soma
de todas as áreas que possam retirar energia cinética do sistema, com Pa <O.

8.4.3 Modelo Eletromecânico Simples

Vejamos como construir um modelo que leva em conta as equações elétricas


e mecânicas simultaneamente. A parte elétrica será dada pela curva P x o, associa-
da à potência que o gerador consegue transmitir através de uma rede elétrica, repre-
sentada pela reatância de transferência X. A parte mecânica é obtida através de uma
equação do tipo torque igual ao momento de inércia vezes a aceleração angular.
Não entraremos em detalhes deste equacionamento, levando em conta aspec-
tos de número de pólos e conversão de variáveis mecânicas em elétricas. Apresenta-
remos apenas a constante de inércia H do gerador que condensa este tratamento,
conforme formulação do item 8.4.1.
A constante de inércia é dada em segundos, na base do gerador em MV A. Se
todas as variáveis estiverem na base do gerador, simplesmente tomamos a constante
de inércia. Ao trabalharmos em outra base, precisamos corrigir a constante de inér-
cia adequadamente. No sentido de diferenciarmos os valores por unidade, usaremos,
preferencialmente, letras minúsculas para essas grandezas.
A equação do movimento angular mecânico é expressa por:

na qual OJ,. é a velocidade angular de referência, síncrona.


Como vimos, originalmente essas equações referem-se a torques, porém em
valores por unidade os torques podem ser aproximados por potências elétricas, sen-
do essa uma forma mais conveniente para se abordar este equacionamento.
A velocidade angular é dada por:

do
-=úJ rad/s
dt

e a aceleração:

dOJ 2H 2
-=-(pm - p) rad/s
dt OJ11
Capítulo 8. Estabilidade 301

Lembrando da equação (8.4), que relaciona a potência elétrica com o ângulo


<5 , podemos colocar essas equações em um modelo realimentado, dando origem a
um oscilador de segunda ordem, que descreve a dinâmica do sistema eletromecânico.

Pm Pa úJn úJ 5( rad)
+ -- 1/s
.. - 2Hs ( rad/s)
p
EV
-sen5
X

Figura 8.12: Modelo eletromecânico simples.

EXEMPL02
Neste exemplo aplicaremos o critério das áreas iguais a um caso bem simples
de curto-circuito em uma barra, suposta como um barramento infinito, à qual se
conecta um gerador. Observamos que estamos trabalhando com um caso idealizado
de barramento infinito, que apresenta uma contribuição infinita para a corrente de
curto, a qual não será objeto de nossa análise.
A reatância total entre a tensão interna e a barra é de O, 4 pu e a tensão interna
do gerador é fixada em e= l, 1 pu . A potência elétrica fornecida ao barramento é de
l pu . Vamos determinar o ângulo crítico de abertura do curto, ou de eliminação do
curto, para que o sistema permaneça estável.

X= Ü,4

Figura 8 .13: Circuito do exemplo 2.

Determinação do ângulo crítico de abertura <Se.


Corno vimos, entendemos o ângulo crítico como aquele a partir do qual o sis-
tema perderá a estabilidade. Desse modo, delimitaremos a curva Px <5 em duas
regiões: uma de aceleração A1 , compreendida entre <51 e <Se e outra de freio A2 ,
compreendida entre <Se e 1[- <51 , de tal modo que A1 = A2 . Para qualquer ângulo
de abertura maior que <Se o sistema será instável.
302 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

Obtenção do ângulo operativo o1 usando a equação (8.4):


l,lxl
1 =--senus:
1,
0,4

o1 = 0,372 rad,
o2 = rc - o1 = 2, 77 rad.
A curva P x o é dada pela expressão em valores por unidade:
p = 2, 7 5 sen o ,

Pmax =2,75 ·

A potência mecânica é fixada em:

Pm =l .

p (pu)

Pmax = 2, 75

Pm = 1,0

Figura 8.14: Curva P X o do exemplo 2.

A área de aceleração é estabelecida pela área do retângulo:

A área A2 é calculada como a área sob a função senoidal menos a área do re-
tângulo.
A área sob a função senoidal, em um intervalo o o1 é dada por:
1-

A-
- J,ºr
0 _ Pmax sen o -
- (- Pmax coso )lºr
0_ -
- Pmax (cos oi - cos ol ) .
/ I
Capítulo 8. Estabilidade 303

P ( cos ô; - cos 5 f )

Figura 8.15: Área sob um trecho de função senoidal.

A área A2 é dada por:

A2 = Pmax ( COS e\ - COS 82 )- Pm ( 82 - 8c) .

Impomos a condição de estabilidade com A1 = A2 :


Pm ( 8c - 81) = PI ( COS 8c - COS 62 )- Pm ( 62 - 8c),

Substituindo-se os valores numéricos:

1(2, 77 -0,372) + 2, 75cos(2, 77) = 2, 75cos 8c,

-0, 164 = 2, 7 5 cos 8c ⇒ 8c = I, 63 rad .


O ângulo crítico para eliminação do curto é 1,63 rad.

EXEMPL03
O sistema a seguir apresenta um gerador fornecendo potência ativa, p = 1 pu,
para um barramento infinito, por meio de um transformador e dois circuitos com
reatâncias iguais. Verificaremos a máxima excursão angular que ocorre quando os
disjuntores d 1 e d2 fazem a abertura de um circuito.

X= 0,4
X= 0,4 X= 0,2

1, IL'.o

Figura 8.16: Circuito antes da abertura dos disjuntores.


304 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

• Operação em regime permanente:


Observamos que, coincidentemente, a operação em regime permanente, antes
da abertura, é exatamente a mesma do exemplo anterior.
Determinação do ângulo operativo na condição de pré-abertura:
1, 1X 1
1 =--sen 81 ⇒ 81 = 0,372 rad.
0,4

Determinamos a curva Px ô durante a operação em regime permanente:

p = 2, 75sen 8.
Após a abertura de um circuito, obtemos a nova condição operativa:

X= 0,2 X= 0,4

Figura 8.17: Circuito após a abertura dos disjuntores .

Temos a nova curva de transferência de potência ativa, com o sistema bus-


cando uma nova condição de equilíbrio em ôe :

1, 1X 1
p = --sen 8 = l,83sen ó.
0,6

p (pu) antes
p 1 =2,75

p 2 = 1,83

Pm = 1,0

Figura 8.18: Curvas P X ô antes e após a abertura dos disjuntores.


Capítulo 8. Estabilidade 305

Aplicando o critério das áreas iguais, obtemos as áreas A1 e A2 pelas diferen-


ças indicadas na figura 8.18.

Óe

A1 = f(Pm-P2sent5)dt5= Pm(Se-S1)-(-p2cosS)1~~
º1

Obtemos o ângulo Se :

1, 83 sen Se = 1 ,

<Se =arcsen(-1-)=0,577 rad


1,83

Substituindo-se os valores numéricos, determinamos a área de aceleração:

A1 = 1( O, 577 - 0,372)-1,83[ cos( 0,372 )- cos( O, 577)],

A1 = 0,0339.

A área de freio A2 é dada pela expressão:

Impondo a condição de áreas iguais A1 = A2 , obtemos:

O, 0339 = O, 577 - s1 + 1,83 cos( O, 577)-1,83 cos s1 ,

2,077 =Sr+ 1,83cost51 .

Nesse caso, resolvendo por tentativas, encontramos t51 = O, 794 rad, embora
possamos também aplicar um algoritmo de solução mais elaborado, como por e-
xemplo o método iterativo de Newton-Raphson.

EXEMPL04
Um gerador síncrono, conectado à barra A, está fornecendo a potência indi-
cada na figura 8.19 a um grande sistema B, que pode ser representado como um
306 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

barramento infinito. A linha A-C, que está operando em vazio, sofre um curto-
circuito no terminal C. Determinar o ângulo máximo de abertura do disjuntor d para
que o sistema permaneça estável.
Dados em pu:
Gerador: xd = 0,3pu.
Transformador: x, = O, 1pu.
Linhas: x = 0,4pu.
TensãonabarraA: vA=l,019L24,33º.
Potência entrando na barra A: s = 1, 0496 + J0, 275 pu .

ILOº
s
X= 0,4
d

B
X =Ü,4

e
Figura 8.19: Circuito referente ao exemplo 4.

Solução:
Conhecidas a tensão e a potência na barra A, calculamos a corrente:

s =vi*,

. 1, 0496- J0, 275


z=------
l,019L-24,33º'

i = 1, 065L9, 646º.

Obtemos a tensão interna do gerador, sabendo que a reatância entre essa ten-
são e a barra A é dada por x~ + x1 :

e= j0,4x 1, 065L9, 646º + 1, 019L24,33º,


e= l,20L44,427º.

Como desconsideramos as perdas do gerador, conhecida sua potência ativa


fornecida, determinamos a potência mecânica:

Pm = 1, 0496 pu.
Capítulo 8. Estabilidade 307

Na situação pré-falta temos uma reatância total entre o gerador e o sistema de


x = O, 8 pu e conseqüentemente a potência máxima da curva P x o , de acordo com
a equação (8.4) é:

1, 2x 1
Pi = 0,8 = 1, 5 pu.

Na situação de falta ainda há possibilidade de transferência de potência,


mesmo com o curto-circuito na barra C. Para calcular a curva Px o durante o cur-
to-circuito, montamos o diagrama de seqüência positiva:

A B
1 J0,4 3 j0,4 2 1 jl,2 2

-
i jl,i }1,21 <..ilti.,

Figura 8.20: Redução do nó 3.

Para obtermos a reatância entre os nós 1 e 2, fazemos a transformação da es-


trela em delta, conforme a figura 8.20, aqui facilitada pela igualdade das reatâncias.
Observamos que o curto-circuito poderia ter ocorrido nas proximidades da barra A,
e nesse caso a reatância para a terra assumiria um valor menor. A transformação
estrela-delta é equivalente à redução do nó 3, da matriz de admitâncias, conforme
descrição no capítulo 2, item 2.2.4.
Na matriz de admitâncias nodais, temos corrente nodal nula no nó 3.

1 2 3

[-}2,5 o }2,5]
Y= O -)2,5 )2,5 .
)2,5 )2,5 -)7,5

Com a redução do nó 3, obtemos o novo elemento de ligação entre os nós 1 e 2.

Yi 2
= ·(o-
J
2,5x2,5)= ._l
- 7, 5 J 1, 2 .

Trocando o sinal para obtermos a admitância do elemento de transferência:


308 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

V • 1
1 12 =-112'
'
correspondendo a uma reatância x12 = jl, 2 pu .
Na situação 2, com o curto-circuito, obtemos a potência máxima da curva
P x 8, com essa reatância equivalente calculada.

p2 = l,2x 1 = l
1, 2

Obtemos então a figura ilustrativa das duas condições:

p (pu)

Pm = 1, 0496

o
Figura 8.21: Curvas Px 8 do exemplo 4.

Temos as áreas:

Ai = Pm ( 8c - 61 ) - P2 ( COS 61 - COS (>c, ),

A2 = P1 ( COS 8c - COS 82) - Pm ( 82 - 8c),

Pm ( 8c - 61 ) - P2 ( COS 61 - COS 8c ) = Pi ( COS 8c - COS 62 ) - p m ( 82 - <\. ),

( Pi - P2 ) cos 8c = Pm ( 82 - 8, ) + Pi cos 82 - P2 cos 81,

cos 8 = Pm ( 82 -81) + p 1 cos82 _- p 2 cos81


e
P1-P2
Substituindo-se os valores numéricos:

1,0496 = l,5sen 8 1,
Capítulo 8. Estabilidade 309

51 =0,775 rad,
5 2 =;r-51 =2,366 rad.

Obtemos:

cos ôc = -0, 2311 ⇒ ôc = I, 804 rad ,


correspondendo a 103,36°.

EXEMPLOS
O sistema está operando em regime permanente, conectado a um barramento
infinito, quando ocorre a abertura de uma linha através da operação dos disjuntores
d 1 ed2 .
Dados:
Gerador xd = 0,3 pu,
Transformador x1 = O, 1 pu ,
Linha x1 = 0,8 pu,
Tensão interna do gerador e= 1, 2L39, 30º.
Determinar o ângulo máximo de religamento da linha, com o fechamento de
d 1 e d 2 , para que o sistema permaneça estável.

!LOº
Xt = Ü,8

Figura 8.22: Circuito do exemplo 5.

Solução:
Com o sistema em regime permanente, temos a reatância total entre o gerador
e o barramento infinito:

Obtemos as curvas P x 8.
1) Em regime permanente, temos a potência máxima:
31 O Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

=I,2xl=IS
P1 O8 ' .
'
Com o ângulo de operação 81 = O, 686 rad conhecido, obtemos a potência a-
tiva transmitida, que coincide com a potência mecânica fornecida pelo gerador:
p = I, 5sen ( O, 686),
p = 0,95 pu,
Prn=0,95 pu.

2) Com a abertura da linha temos a segunda situação da curva P x 8, com


x = I, 2 , sendo a potência máxima dada por:

l,2xl
P2 =--=1 pu.
1,2

Obtemos o ângulo de equilíbrio nessa condição:


0,95=lsen82 ,

82 = 1,253 rad.

Obtemos as representações das curvas P x o .

p (pu)
p 1 = 1,5

P2 = 1,0
Pm = 0,95

Figura 8.23: Curva Px 8 do exemplo 5.

81 = O, 686 rad,
82 =1,253 rad,
83 =tr- 82 = 1,889 rad,
84 =tr-81 = 2,456 rad.
Capítulo 8. Estabilidade 311

Análise das áreas:

A1 = Pm ( 82 -8i)-1( cos81 -cos82 ) = 0,0774,

A2 = 1( cos 82 - cos 83)- Pm ( 83 - 82 ) = O, 021 O.

Como A2 < A1, concluímos que com a abertura da linha, o sistema não é es-
tável, e desse modo, temos um saldo de área de aceleração de A1 - A? = l!A até o
ângulo 8 3 :

l!A = O, 0564 .

Se o religamento ocorrer em 83 , temos uma área de freio A3 + A4 :

Como A3 + A4 > l!A, verificamos que está sobrando área de freio e portanto
o ângulo crítico de religamento está entre 83 e 8 4 . Desse modo, calculamos as á-
reas:

A5 = p m ( 8c - ô3 ) - P2 ( COS 83 - COS 8c ) ,

Â4 = Pt ( COS 8c - COS Ô4 ) - Pm ( 84 - 8c).

Obtemos o seguinte balanço de áreas:

Substituindo-se as equações anteriores, escrevemos:

Pm ( 84 -83 )+ Pt cos84 - P2 cos83 + l!A


COS 8c = ----'------'------------
Pt -p2

Finalmente:

cos8c =-0,506 ou ôc = 2,101 rad.


312 Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência

8.5 Referências Bibliográficas


[1] Stevenson Junior, W. D. Elementos de Análise de Sistemas de Potência 2.ed.
McGraw-Hill, 1986.
[2] Kimbark, E. W. Power System Stability. Vol. 1- Elements of Stability Calcula-
tions. New York, John Wiley & Sons, 1947.
[3] EI-Hawary, M. E. Electrical Power Systems. Piscataway, IEEE Press, 1995.
[4] Anderson, P. M. & Fouad, A. A. Power System Contrai and Stability. Piscata-
way, IEEE Press 1993.
[5] Kundur, P. Power System Stability and Control. New York, McGraw-Hill,
1994.

I Prof. Manoel Afonso de 0Miho j~i,~


Coordenador do LOSP
DEE / CTG 1UFPE

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