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Contação

de

Histórias
Formando Leitores no Ensino Fundamental II
1ª EDIÇÃO

Irley da Penha Guijansque


Antônio Carlos Gomes
INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
JADIR JOSÉ PELA
Reitor

ANDRE ROMERO DA SILVA


Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação

RENATO TANNURE ROTTA DE ALMEIDA


Pró-Reitor de Extensão

ADRIANA PIONTTKOVSKY BARCELLOS


Pró-Reitora de Ensino

LEZI JOSÉ FERREIRA


Pró-Reitor de Administração e Orçamento

LUCIANO DE OLIVEIRA TOLEDO


Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional

IFES - CAMPOS VITÓRIA


HUDSON LUIZ COGO
Diretor Geral

MÁRCIO ALMEIDA CÓ
Diretor de Ensino

CHRISTIAN MARIANI
Diretor de Extensão

ROSENI DA COSTA SILVA PRATTI


Diretora de Administração

MÁRCIA REGINA PEREIRA LIMA


Diretora de Pesquisa e Pós-Graduação

LETÍCIA QUEIROZ DE CARVALHO


Coordenador do Profletras

Mestrado Profissional em Letras 1ª EDIÇÃO


Irley da Penha Guijansque VITÓRIA
Antônio Carlos Gomes 2019
EDITORA IFES
Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do
Espírito Santo Pró-reitora de Extensão e Pesquisa
Av. Rio Branco, 50 - Santa Lúcia
Vitória – ES - CEP 29056-255
Tel.: (27) 3227-5564
E-mail: editoraifes@ifes.edu.br

PROGRAMA MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS


PROFLETRAS
Av. Vitória, 1729 – Jucutuquara
Vitória - ES
CEP 29040-780

COMISSÃO CIENTÍFICA
Antônio Carlos Gomes
Lucas dos Passos e Silva
Dilza Côco

EDITORAÇÃO
Aline Pereira da Silva Antonio

PRODUÇÃO E
DIVULGAÇÃO
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
(Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo)

Programa G952c Guijansque, Irley da Penha.


PROFLETRAS IFES Contação de histórias [recurso eletrônico] : formando leitores no
ensino fundamental II / Irley da Penha Guijansque, Antônio Carlos
Gomes . – 1. ed. - Vitória : Instituto Federal do Espírito Santo, 2019.
64 p. : il. ; 30 cm.

ISBN: 978-85-8263-434-9 (Ebook)

1. Leitura – Estudo e ensino. 2. Literatura – Estudo e ensino. 3.


Oralidade e comunicação. 4. Arte de contar histórias. 5. Língua
portuguesa (Ensino Fundamental). I. Gomes, Antônio Carlos. II. Instituto
Federal do Espírito Santo. III. Título.

CDD 21 – 372.4

Elaborada por Marcileia Seibert de Barcellos – CRB-6/ES - 656

ILUSTRAÇÕES
As imagens aproveitadas neste material foram retiradas do acesso público Google.
Em respeito a seus autores, citamos os links para as fontes dos textos ou imagens, pois nossa finalidade,
com essa publicação, é tão somente educativa.
ELABORAÇÃO DAS ATIVIDADES
IRLEY DA PENHA GUIJANSQUE

Possui graduação em Letras - Português


pela Universidade Federal do Espírito
Santo (2001). Atualmente é Professora de
Língua Portuguesa da Secretaria de Edu-
cação do Estado do Espírito Santo e Pro-
fessora do Ensino Fundamental II da Pre-
feitura Municipal de Vila Velha.

ORIENTAÇÃO E REVISÃO
ANTÔNIO CARLOS GOMES

Possui graduação em Letras pela Universidade


Federal do Espírito Santo (1986). Mestre e doutor
em Linguística e Língua Portuguesa pela Universi-
dade Estadual Paulista - UNESP. É professor do
IFES - Instituto Federal do Espírito Santo, lecio-
nando no Ensino Médio, na Graduação e Pós-gra-
duação. É docente permanente do Mestrado Pro-
fissional em Humanidades e do Mestrado Profis-

04
sional em Letras - Profletras, além de coordenar O
curso de Letras à Distância.
Sumário
Apresentação O incentivo à leitura
pag. 06 Era uma vez em sala de aula
pag. 07 pag. 09

A arte de contação Primeiro módulo:


de histórias Sondagem
pag. 08 pag. 12
Segundo Módulo:
Filme: “Narrado-
res de Javé
pag 14
Terceiro Módulo: Quarto Módulo:
Contar e encantar: Conhecendo o gênero
o contador em ação entrevista
pag 16 pag. 18

Quinto Módulo:
Conhecendo as
histórias que circulam
na comunidade
pag. 20
Sexto Módulo: Sétimo Módulo:
Apreciação de videos Pesquisando os
de contação de história gêneros narrativos
pag. 22 pag. 24
Oitavo Módulo:
Trabalhando o gênero
Narrativo
Nono Módulo: pag. 26
Décimo Módulo:
Momento do contotra- Apresentação do
balhando a oficina: uso Produt e avaliação
de dinâmicas pag. 44
pag. 29
Apresentação
Caro(a) leitor(a),

Este produto é parte da pesquisa “contação de histórias:


formação de leitores no Ensino Fundamental II, feita por Irley da
Penha Guijansque, orientada pelo Dr. Antônio Carlos Gomes,
no Programa de Mestrado Profissional em Letras – Profletras –
Unidade do Instituto Federal do Espírito Santo (Campus
Vitória), apoiado pela CAPES, sob a coordenação nacional da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

O trabalho é uma reflexão sobre o desinteresse pela leitura


observado em parte significativa dos estudantes diante de
um mundo cada vez mais exigente de leitores proficientes. Em
vista disso, este material educativo reúne sugestões de
atividades que mesclam desafios lúdicos envolvendo contação
de histórias e formação de leitores.

Nossa expectativa é que as propostas de intervenção


possam colaborar com docentes e estudantes com práticas
de leitura, oralidade e escrita na escola. Sabemos que o
domínio da leitura de textos e sua compreensão circulam em
todos os âmbitos do conhecimento e em todas as esferas
sociais e por isso todo tra-balho que busca colaborar com o
processo de apropriação dos usos da leitura em contextos
específicos ganha uma importante dimensão.

Boa leitura!

06
Era uma vez...
Por que a contação de histórias para o Ensino
Fundamental II?

Contar e ouvir histórias, mais do que produzir prazer e educar, pro-


move o resgate da memória cultural de uma sociedade, além de au-
xiliar na transmissão de valores e de conhecimento. Por isso, seu
papel na escola é muito importante, pois pode participar no desen-
volvimento cognitivo do aluno, além de ajudá-lo a organizar sua fala
ao compartilhar experiências com o outro.

Assim, é importante que a escola ofereça aos alunos a oportunidade


de interagir com os seus pares, pois, enquanto sujeitos sociais, mais
do que ouvintes, precisam ser enunciadores com voz. Isso possibili-
ta a troca de experiências, exercita a oralidade e estimula a leitura.
Freire (2003 p. 52) afirma que “ensinar não é transferir conhecimen-
to, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua
construção”. Ao trabalhar os conteúdos, precisamos elaborar ativi-
dades que proporcionem ao aluno práticas linguísticas em diferen-
tes situações de uso. Sob essa perspectiva, o ato de contar história
é uma importante ferramenta pedagógica, pois quanto maior for o
contato dos alunos com textos, mais capacitados eles estarão para
se expressarem com clareza.

Como prática pedagógica, a contação de histórias pode colaborar


de modo significativo para o incentivo à leitura na educação infantil
e no ensino fundamental. Escutar histórias estimula a imaginação,
desenvolve a criatividade e, consequentemente, dinamiza o proces-
so de aprendizagem, pois proporciona ao aluno a tomada de consci-
ência dos fatos significativos da vida. Colabora também, para o de-
senvolvimento da concentração, a socialização e o aumento da ca-
pacidade cognitiva, além de levá-lo a valorizar o repertório linguísti-
co da sua comunidade.

07
A arte de Contação
de História
O termo contação de histórias é uma expressão que até pouco
tempo não existia e que apareceu para denominar a arte de contar
histórias, uma das formas mais antigas de se registrar, por meio da
oralidade, os fatos ocorridos e a transmissão de experiências a
outros. Pois somos constituídos de várias histórias que entrelaçadas
a outras nos fazem ser o que somos. Como numa colcha de reta-
lhos, essas histórias se cruzam e se unem, tornando-se imprescindí-
veis para a construção da identidade de uma pessoa ou até mesmo
de uma geração inteira. Essa identidade se estabelece na relação
entre os “retalhos” que formam o sujeito, por meio da consciência de
si, do outro e da compreensão do mundo que o rodeia, além das va-
riadas vivências com a cultura e a arte que o ato de contar histórias
proporciona.

Assim, notamos a importância de proporcionar subsídios que


mudem o cotidiano da sala de aula, tornando esse ambiente propí-
cio para o estímulo à leitura de livros, pois, segundo Petit (2008),
“um mediador pode influenciar um destino” ao que se acrescenta “o
gosto pela leitura não pode surgir da simples proximidade material
com os livros. Um conhecimento, um patrimônio cultural, uma biblio-
teca podem se tornar letra morta se ninguém lhe der vida” (PETIT,
2008, p. 158). Isso demonstra a necessidade de propostas de traba-
lho que auxiliem na formação de mediadores para a leitura. Dessa
maneira, esperamos que as atividades aqui apresentadas possam
ser utilizadas e até mesmo adaptadas de acordo com a realidade de

08
O incentivo à leitura em
sala de aula
Sabemos que todo texto possui uma função social. Quando lemos uma
notícia de jornal, a intenção é de nos informar; quando lemos um
manual de instrução, procuramos compreender o funcionamento de
algo; e quando se conta uma história, o que se objetiva? O principal
objetivo da contação de histórias sempre foi a necessidade do ser
humano em transmitir suas experiências e divulgar os valores sociais
para as gerações mais novas. E hoje tem se mostrado um importante
recurso pedagógico, capaz de ser utilizada em variadas atividades es-
colares.

Por isso, ao propor a contação de histórias como estratégia de ensino,


buscamos trazer para a sala de aula momentos de troca de experiên-
cias, de cooperação mútua, de interação entre os alunos e do desen-
volvimento da expressão oral e escrita, possibilitando a eles subsídios
para seu desenvolvimento cognitivo e social. Segundo Lerner (2002),
o objeto de ensino, ao ser apresentado, deve ser fiel ao saber ou à prá-
tica social que se pretende comunicar, devendo-se partir do pressu-
posto de que o aprendiz se constitui num participante ativo e capaz de
atribuir, ao saber, um sentido pessoal.

09
Assim, apresentamos a seguir uma sequência de atividades que
destacam aspectos relevantes ao ato de contar histórias, aspiran-
do não somente à formação de contadores de histórias, mas o de-
senvolvimento do hábito de leitura. Por ser organizado em módu-
los o conteúdo é trabalhado de maneira sistemática, em que cada
parte pode ser definida como uma etapa de execução do projeto
com a intenção de despertar o “contador de histórias” presente em
cada um deles, além de estimular a exposição oral dos alunos de
forma criativa.

10
Módulos da
Sequência de
atividades
Primeiro Módulo:
Sondagem

Planejamento
Apresentação do projeto e sondagem do conhecimento
Atividade prévio dos alunos

Duração 2 aulas

- Sensibilizar os alunos para a importância da participação


no projeto;
Objetivos - Criar um ambiente propício para a execução do trabalho.
- Verificar o conhecimento dos alunos sobre contação de
histórias e as lembranças que trazem delas.

- Estimular as lembranças sobre contação de histórias por


meio de uma conversa informal;
Procedimentos
metodológicos - Distribuir questionários para a sondagem sobre o hábito
de leitura dos alunos e de seus familiares.

Considerar a participação do aluno, tanto em relação as


Avaliação respostas dadas oralmente, quanto as respondidas nos
questionários.

12
Como Fazer?

Inicie a sequência com uma roda de conversa, nela apresente


aos alunos a proposta de trabalho, o objetivo e a importância da
contação de histórias para a partilha de experiências entre as
pessoas. Aproveite o momento para explanar a forma como irão
ser realizadas as atividades. Logo após, distribua um questioná-
rio aos alunos e peça que leiam com atenção, respondam e
apresentem oralmente, partilhando as respostas com a turma.
(colocar o ponto)

Questionário para sondagem dos alunos:

a) Você ouve histórias fora do ambiente escolar? Se sim,


quem as conta?
b) Já contou as histórias que ouviu para outros? Conte
como aconteceu.
c) Que tipo (s) de histórias gosta?
d) Sua família tem o hábito de contar histórias? Em que
momento isso acontece?
e) Quando estava na educação infantil a professora cos-
tumava contar histórias?
f) Você se lembra de alguma história que ouviu na
escola? Poderia contá-las?
g) Consegue se recordar dos gestos, das entonações?

13
Segundo Módulo:
Filme: “Narradores
de Javé”

Planejamento
Atividade Apresentação e análise do filme: Narradores de Javé

Duração 2 aulas

- Motivar a participação dos alunos para a execução do


projeto
Objetivos - Levá-los a reconhecer a função de um contador de histó-
rias e sua importância para a fixação da memória da cultura
local.

- Apresentar o filme aos alunos;


- Solicitar aos alunos que prestem atenção a detalhes
referentes aos aspectos formais do filme;
Procedimentos - Pedir que observem os aspectos relativos à contação
metodológicos de histórias e sua importância para a fixação da memória
local;
- Organizar uma roda de conversa e pedir aos alunos que
compartilhem oralmente com os colegas o que mais
chamou atenção no filme.

Observar a participação dos alunos e sua desenvoltura ao


Avaliação relatar os aspectos formais do filme e seu enredo.

14
Como Fazer? Ficha Técnica
Direção:
Eliane Caffé

Roteiro:
Elina Caffé
Luís Alberto de Abreu

Elenco:
José Dumont
Gero Camilo
Rui Resende
Antes da exibição do filme, faça uma breve Luci Pereira
apresentação da obra e oriente os alunos a Nélson Dantas
observarem os aspectos formais do filme, Nélson Xavier
tais como: personagens, enredo, espaço, e
principalmente o papel da contação de his- Gênero:
tórias para a manutenção da memória e da Drama
cultura local. Após o filme, faça uma roda de
conversa e peça aos alunos que teçam co- Companhia(s)
mentários sobre o que observaram no filme, produtora(s):
respondendo, oralmente, as questões a Bananeira Filmes
seguir: Gullane Filmes
Laterit Productions
Riofilme
a) Qual o tema do filme?
b) O que a história quis transmitir? Distribuição:
Riofilme
c) Como são abordadas às questões
referentes à memória?
Lançamento:
d) O que você conseguiu aprender 16 de maio de
com a história? 2003 (Cannes)
e) Do que mais gostou?
23 de janeiro de
f) Por que para os moradores de Javé,
2004
era importante resgatar a memória do
lugar?
g) Conhece algum fato parecido com o
assunto abordado no filme?
15
Terceiro Módulo:
Contar e encantar:
o contador em ação

Planejamento

Atividade Apresentação de uma contadora de histórias às turmas

Duração 2 aulas

- Proporcionar aos alunos contato com uma contadora de


histórias;
Objetivos - Levar os alunos a observarem os recursos utilizados pela
contadora para tornar a história mais interessante para os
ouvintes.

- Organizar um espaço em que seja propício à contação


de histórias;
- Combinar com os alunos o que deverão observar duran-
Procedimentos te a contação;
metodológicos
- Formar um círculo com os alunos após o retorno à sala
de aula, para que compartilhem suas impressões.

Avaliação Observar a participação e o envolvimento do aluno na


atividade.

16
Como Fazer?
Convide um contador de histórias para conversar com os alunos sobre
seu ofício e contar uma ou mais histórias bem interessantes para eles.
Antes, organize um espaço na escola (é interessante que não seja a sala
de aula), para a apresentação, pois quanto mais agradável ficar o am-
biente, mais envolvidos e empolgados ficarão os alunos. Antecipada-
mente, peça a eles que observem a performance do contador, analisan-
do o uso dos elementos típicos da linguagem oral: os gestos, a forma
como o contador usa a voz, sua qualidade e entonação; a seguir que ob-
servem para onde ele dirige o olhar; seus movimentos; a troca de olha-
res; as mímicas faciais; os gestos; as hesitações; as interrupções e as
pausas, ou seja tudo o que compõe o processo de contação.

No retorno à sala de aula, faça uma roda de conversa com os alunos e


peça que avaliem a atividade e se expressem, oralmente, sobre suas
impressões, tanto da história narrada, quanto da performance da conta-
dora. Para isso, faça as perguntas a seguir:

1 - O que mais chamou sua mais chamaram sua atenção? Explique


o porquê.
2 - Durante a contação, a expressão do contador se modificou? Em
que momento isso ficou mais expressivo?
3 - E a voz do contador, houve alguma modificação em sua entona-
ção ou em seu timbre? Em que momento isso ocorreu?
4 - Houve repetição de palavras pelo contador? Qual poderia ser o
motivo para essa repetição?
5 - Houve uso das palavras aí, daí, né, e então, por parte do conta-
dor? O que ocorre quando se usa repetidamente essas palavras?
Você também as usa quando conta alguma história? Qual seria o
motivo
6 - O os gestos do contador, ajudaram ou atrapalharam a histórias?
Explique

Obs. Podem ser acrescentadas outras perguntas que se


mostrarem relevantes para o momento. 17
Quarto Módulo:
Conhecendo o
gênero entrevista

Planejamento

Atividade Conhecer como se elabora e se realiza uma entrevista

Duração 3 aulas e pesquisa extraclasse

1 - Levar os alunos a conhecerem o gênero oral entrevista;


2 - Oportunizar a transposição do relato oral para o relato
Objetivos escrito, ou seja, a retextualização;
3 – Selecionar os dados mais importantes da entrevista e
apresentá-los com clareza aos colegas.

1 - Dividir os alunos em grupos;


2 - Explicar os procedimentos necessários para a realiza-
Procedimentos ção de uma entrevista;
metodológicos 3 - Explicar como ocorre uma retextualização, auxiliando-
-os a transpor o oral para o escrito.

Avaliação Observar o empenho dos grupos, a participação e o


interesse demonstrado durante a atividade.

18
Como Fazer?
Para esse módulo é importante explicar aos alunos as condições de pro-
dução do gênero entrevista, sua relevância e importância social. Para
isso, comece a atividade apresentando o gênero a ser produzido, qual
seu objetivo e o público destinado a ele. Essas etapas são necessárias
para esclarecer as possíveis dúvidas que possam surgir durante o pro-
cesso.

Em seguida, traga para a sala de aula trechos de entrevistas para serem


lidos e comentados e depois peça aos alunos que respondem alguns
exercícios referentes aos textos, objetivando o reconhecimento das ca-
racterísticas básicas do gênero. A seguir, destaque que para realizar
uma entrevista são necessárias uma organização prévia e uma retextua-
lização, que de acordo com Marchuschi (2004) é a passagem do texto
oral para o escrito. Sobre isso o autor afirma que:

Esse processo não é mecânico "já que a passagem da fala para a escri-
ta não se dá naturalmente no plano dos processos de textualização.
Trata-se de um processo que envolve operações complexas que interfe-
rem tanto no código como no sentido e evidenciam uma série de aspec-
tos nem sempre bem compreendidos da relação oralidade-escrita
(MARCUSCHI, 2001, p. 46).

É necessário a atividade de retextualização, por se mostrar pertinente


para a realização da atividade posterior constituída de audição e da
transposição para a produção escrita da entrevista, que irá proporcionar
a oportunidade para a reflexão sobre as particularidades desse gênero e
uma interessante atividade. A seguir, peça que realizassem uma entre-
vista oral com um colega e depois a transforme em uma entrevista escri-
ta. Essa atividade oferece a oportunidade aos alunos de exercitarem o
processo de retextualização.

É interessante nesse momento que o aluno perceba as


diferenças entre o texto oral e o escrito e a validade da
retextualização.
19
Quinto Módulo:
Conhecendo as
histórias que circulam na
comunidade

Planejamento
Pesquisar sobre histórias que fazem parte da memória da
Atividade comunidade local.

Duração 2 aulas

- Resgatar a memória;
- Valorizar a identidade local, promovendo a reflexão;
Objetivos - Ajudar a desenvolver a produção oral e escrita, além de estimu-
lar a leitura.
- Auxiliar o aluno a escrever de modo mais adequado em uma
situação de comunicação.

- Recolher junto aos moradores, histórias contadas sobre o bairro;


- Rodas de conversa para o compartilhamento das histórias;
- Explorar o conhecimento dos alunos em relação às histórias
Procedimentos narradas;
metodológicos
- Pedir aos alunos que recontem as histórias e relatem o que senti-
ram quando as escutaram.

- Resgatar a memória;
- Valorizar a identidade local;
- Promover a reflexão;
Avaliação - Ajudar a desenvolver a produção oral e escrita,
além de estimular a leitura.
- Auxiliar o aluno a escrever de modo mais adequado
em uma situação de comunicação.
20
Como Fazer?
Para o desenvolvimento dessa atividade, os alunos podem usar as per-
guntas abaixo ou adaptá-las:

a) Qual sua idade:


b) Grau de escolaridade?
c) Qual sua ocupação/profissão?
c) Há quanto tempo vive no bairro?
e) O que sabe sobre a origem do bairro?
d) Conhece fatos importantes ocorridos no bairro?
e) Ouvia histórias quando era criança?
f) Se sim quem as contava?
g) Que emoções a recordação dessas histórias, ainda causam
nele(a)?
h) Que memórias são despertadas ao se lembrar dessas histórias?
i) O entrevistado conhece alguma história que envolve o bairro e
seus moradores?

Ao término da atividade organize os alunos em círculo, a fim compartilha-


rem as entrevistas e as histórias recolhidas. Isso é importante, pois opor-
tuniza a todos conhecerem as histórias que fazem parte de seu bairro.
Após as leituras das histórias, acrescente-as ao mural da sala, juntamen-
te com as entrevistas.

Esta atividade estimula a escuta e o compartilhamento das his-


tórias, além de possibilitar o resgate das histórias que fazem
parte da memória local, permitindo a construção de uma identi-
dade própria do bairro, além de gerar uma sensação de perten-
cimento, demonstrando que o ato de contar histórias vai além do
divertimento e da recreação.
21
Sexto Módulo:
Apreciação de
videos de contação
de história

Planejamento
Apresentação de dois vídeos do canal You tube: “O pesca-
Atividade dor, o anel e o rei” e “A história do grande livro de histórias”.

Duração 2 aulas

- Levar o aluno a perceber a importância de se conhecer as


técnicas de contação de histórias para o bom desempenho
do contador;
Objetivos
- Estabelecer relações entre os dois vídeos, de modo que
analisem as semelhanças e diferenças entre eles.
- Estimular o respeito pela opinião do outro;
- Trabalhar oralidade e a escuta.

- Apresentar os vídeos;
- Dividir da turma em grupo;
Procedimentos
- Propor a análise do desempenho das duas contadoras;
metodológicos
- Escolher um aluno de cada grupo para socializar a respos-
ta com os outros grupos.

Observar a participação e o envolvimento dos grupos na


Avaliação atividade e o desempenho por meio da oralidade do aluno
escolhido para partilhar o que foi observado.

22
Como Fazer?

Para essa atividade, os alunos devem ser levados à sala de multimeios


para a apresentação de dois pequenos vídeos do canal You tube: “O
pescador, o anel e o rei”, da escritora e contadora de histórias Bia
Bedran e a “A história do grande livro de histórias”. Esses dois contos se
diferenciam pela forma de narrar. Na primeira, percebe-se todo um tra-
balho para a apresentação, como o uso de instrumentos musicais e
interpretação primorosa da contadora, enquanto que na segunda, a nar-
radora conta sua história, sentada, o que torna a primeira muito mais
agradável para quem assiste. Essa aula serve para demonstrar o quão
importante é a performance do contador para prender a atenção do ou-
vinte.
Após assistirem aos vídeos, os alunos deverão ser divididos em grupos
a fim de analisarem a forma como as narrativas são construídas nos
vídeos; os gestos, o uso da voz, as expressões faciais, etc.

23
Sétimo Módulo:
Pesquisando os
gêneros narrativos

Planejamento
Atividade Pesquisa sobre gêneros narrativos

Duração 2 aulas

- Enriquecer por meio dos diferentes gêneros narrativos, o


Objetivos desempenho linguístico dos alunos;
- Reconhecer alguns gêneros textuais.

- Levar os alunos ao laboratório de informática para que


pesquisem em diferentes sites, alguns gêneros narrativos,
como, fábulas, mitos, contos e os apólogos.
Procedimentos
- Solicitar que entreguem por escrito a pesquisa;
metodológicos
- Sortear entre os grupos um gênero específico que depois
será apresentado juntamente com uma história que faça
parte desse gênero.

Observar o empenho do grupo no momento da pesquisa,


Avaliação
a desenvoltura e a participação dos alunos.

24
Como Fazer?

Para essa tarefa, os alunos devem ser levados à sala de informática para
que, divididos em grupos, pesquisem os seguintes gêneros: mitos, fábu-
las, crônicas, contos, apólogos, lendas, entre outros. É necessário orien-
tá-los a buscarem em diferentes sites, os aspectos que particularizam
cada gênero, além de um texto que exemplifique cada gênero pesquisa-
do, para depois contá-lo para os colegas. Busca-se aqui, trabalhar a
leitura e a oralidade dos alunos.

Roteiro para a pesquisa que os alunos devem realizar:

• Estrutura de um texto narrativo: apresentação, complicação e des-


fecho.
• Elementos da narrativa: foco narrativo, espaço, tempo e enredo

25
Oitavo Módulo:
Trabalhando o texto
Narrativo

Planejamento

Atividade Identificando os elementos da narrativa

Duração 2 aulas

- Levar os alunos a identificarem os elementos que consti-


Objetivos tuem uma narrativa;
- Incentivar a leitura de textos narrativos e instigar a curiosi-
dade;
- Fazer relações entre os textos e construir conhecimentos
- Trabalhar a oralidade

1- Dividir a turma em grupos;


2- Distribuir textos;
Procedimentos 3- Pedir que busquem no texto que receberam, os elemen-
metodológicos tos da narrativa e depois de anotado, compartilhem com os
colegas;
4- Solicitar aos alunos que façam a leitura do texto e esco-
lham um integrante a fim de contar a história sem ler.

Observar o desempenho do grupo no momento do traba-


Avaliação lho e a desenvoltura do componente escolhido para com-
partilhar a história.

26
Como Fazer?

Para essa atividade os alunos devem ser divididos em grupos, receben-


do um conto cada um. Após a leitura, orientá-los a buscar no texto os ele-
mentos da narrativa, tais como: personagens, tempo, foco narrativo,
espaço, clímax, enredo, etc. A seguir, cada grupo deve escolher um
representante para apresentar o texto à turma. Para auxiliá-los é impor-
tante que sejam explicadas algumas técnicas que poderão ajudá-los no
momento da leitura/contação, como: a forma de narrar, os gestos, o
olhar, o uso das mãos, como se deslocar pela sala, os vícios de lingua-
gem e a clareza da voz. Pois segundo Rossoni (2013),

O educador precisa ter clareza nos objetivos educacionais que pretende


com cada história, a fim de facilitar seu planejamento curricular. Isso
acontece mediante o estudo da narrativa e das formas de reforço dos
elementos, os quais se pretende trabalhar com os alunos (ROSSONI,
2013, p.31).

Ao final, é importante que os alunos sejam orientados a avaliarem a de-


senvoltura dos colegas de cada grupo, traçando comentários sobre a ex-
plicação dos elementos pesquisados no texto, a participação e a desen-
voltura na apresentação da história. Essa atividade é importante, pois
permite aos alunos visualizar no outro, aspectos que podem ser melho-
rados em si mesmos.

27
Abaixo segue como sugestão uma lista de textos que podem
ser utilizados para o desenvolvimento das atividades:

• Os três companheiros
• A velha contrabandista
• O caso do espelho
• A vendedora de fósforos
• Os sete corvos
• A cigarra e a formiga
• Felicidade clandestina
• A moça tecelã
• As mil e uma noite
• A história do grande livro de histórias
• A mulher e a cozinheira;
• O pescador, o anel e o rei;
• A moça tecelã

Mais uma vez ressaltamos a importância da mediação do


professor nesse tipo de proposta, que tem como finalidade
estimular o trabalho em grupo e a procura de informações,
possibilitando ao aluno ser protagonista na construção de
seu próprio conhecimento. “As práticas de leituras promo-
vem confronto e contraposição de saberes pelo comparti-
lhamento de significados construídos no pensamento da
criança através de diferentes vivências (RAMOS, 2011,
p.25)”. Então, compartilhar as vivências por meio de ativida-
des que envolvam leitura e contação de histórias enrique-
cem a prática educativa, não apenas das crianças, mas
também dos adolescentes.

28
Nono Módulo:
Preparando o aluno
Narrador

Planejamento

Atividade Aplicação das técnicas de contação de histórias

Duração 2 aulas

- Incentivar a leitura;
- Estimular a criatividade;
Objetivos - Promover o hábito de escuta;
- Praticar a oralidade;
- Desenvolver a escrita.

- Sugerir a leitura dramática de alguns textos, com


entoação apropriada;
Procedimentos
metodológicos - Solicitar aos alunos que fiquem atentos às particulari-
dades de cada personagem.

Analisar a performance dos alunos no momento da aplica-


Avaliação
ção das técnicas de contação.

29
Como Fazer?
Para esse módulo, além de uma explicação mais detalhada sobre a
atividade que será desenvolvida, é importante enfatizar a importância
de se contar histórias. Salientamos a necessidade de se conhecer as
técnicas de contação, para que a atividade possa ocorrer da maneira
mais eficiente. Para trabalhá-las, propomos algumas dinâmicas que
podem auxiliar no estímulo à imaginação e à criatividade, no trabalho
com a oralidade, na expressão corporal, entre outros.

A seguir, selecionamos técnicas básicas de contação de histórias,


que podem ser adaptadas de acordo com quem irá aprender, poden-
do ainda ser acrescentados outros elementos ou ainda ser retiradas
partes que se mostrem irrelevantes.

TÉCNICAS DE CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS

1º – Conhecer a história, pesquisando suas características e particu-


laridades. Sendo importante interpretá-la, prestando atenção na se-
quência dos fatos narrados para transmitir com apuro as emoções,
levando o ouvinte a se interessar pela narrativa.
2º –Quem conta deve se encantar pela história, sem isso não afetará
o ouvinte.
3º – Estar seguro sobre o que irá narrar, pois de outra forma, não con-
seguirá atingir seu objetivo, que é levar o ouvinte a “viajar” na história.
4º – O contador de histórias deve levar o ouvinte a crer no que está
ouvindo, por mais fictício que pareça, tem que passar credibilidade.
5º – Olhar para a plateia. O olhar é fundamental para a ligação entre
o narrador e o ouvinte, fazendo que o mesmo passe a creditar no que
é contado.
6º - Falar de forma clara e agradável. Contar a história com naturali-
dade de maneira audível e agradável, sem afetação.
7º -Os gestos deverão aparecer no momento adequado, não deven-
do ser exagerados, pois quando precisar fazer um para melhor en-
tender a história, tal gesto não será notado.

Observação: A seguir trazemos sugestões de dinâmicas


que foram retiradas de sites e blogs da Internet e adaptadas
para o desenvolvimento das técnicas de contação.
30
Dinâmicas para aplicação
das técnicas de contação
de histórias
Dinâmicas 1:
Quem conta um conto aumenta
um ponto.

Para a realização dessa dinâmica deve-se fazer uma dobradura


de papel em forma de leque. Em cada dobra serão escritas as se-
guintes perguntas:

a) Quem era?
b) De onde veio?
c) O que pretendia?
d) Com quem se encontrou?
e) Em que se transformou?
f) Por quem foi transformado?
g) Por que foi transformado?
h) Que rumo tomou?

Como Fazer?
Esse leque vai ser passado de mão em mão e ao pegá-lo o partici-
pante deve responder a pergunta destinada a ele sem ler o que foi
respondido anteriormente. Isso irá ocorrer sucessivamente, até
que todas as perguntas sejam respondidas. Por fim, o leque será
desdobrado e serão lidas as respostas montando, assim, uma his-
tória.
Essa técnica possibilita ao aluno demonstrar sua criatividade e
sua capacidade de improvisação. É uma atividade que os alunos
consideram muito engraçada e por isso a adoram, tornando esse
momento muito especial.

32
Dinâmicas 2:
Analisando atitudes

Nesta dinâmica, entregue aos alunos, que estarão em círculo,


uma cópia do conto “Felicidade clandestina” de Clarice Lispector.
Essa história gira em torno de uma menina cujo sonho é ler o livro
“Reinações de Narizinho” e todas as suas tentativas para que
uma colega, filha do dono da livraria, o empreste a ela.

Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente


crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme; enquanto
nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse,
enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas.
Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias
gostaria de ter: um pai dono de livraria [...] (http://pagina-de-vi-
da.blogspot.com.br/2007/05/felicidade-clandestinaclarice.html.

Comece a atividade comentando sobre a autora e suas obras.


Depois peça aos alunos que leiam silenciosamente o conto e que
prestem atenção nas partes importantes de sua construção,
aquelas que são essenciais para a sequência lógica dele, tais
como: personagens, enredo, espaço, clímax, entre outras para
ser partilhadas entre eles. Após esse momento, pedir aos alunos
que partilhem as impressões sobre o texto. Para isso, deverão ser
feitas as seguintes perguntas:

a) Você acha que a filha do dono da livraria era


realmente má?
b) E a atitude da mãe da menina? Você acha
que ela agiu certo?
c) Você já passou por uma experiência parecida
como a da menina do conto? Já quis muito ler
um livro, mas encontrou dificuldades em conse-
gui-lo?
d) Caso fosse a protagonista da história, como
você reagiria em uma situação como
essa?
33
A leitura e a atividade propostas possibilitam aos alunos respon-
der de acordo com sua vivência e para isso é necessário abrir
espaço para que se expressem oralmente, possibilitando que par-
ticipem de uma situação de comunicação e favorecendo a com-
preensão do gênero trabalhado.
Após essa etapa, convide um aluno a contar a história sem olhar
o texto. Terminada a apresentação, sugira, no quadro, algumas
técnicas de contação de histórias, tais como: a forma de narrar, os
gestos, o olhar (deve olhar para o(s) ouvinte(s)), o modo de usar
as mãos, o comportamento do contador (se anda pela sala), etc.
Pedir, também, que preste atenção nos vícios de linguagens,
como o uso excessivo do aí; do né e a clareza da voz.
Em seguida, solicitar ao mesmo aluno, que retorne ao centro do
círculo e conte novamente a história, desta vez observando as
técnicas sugeridas. Finalizada a atividade, o aluno deverá parti-
lhar suas impressões sobre o antes e o depois de cada momento
de contação. Essa dinâmica permite aos alunos notarem o quão
importante é o conhecimento das técnicas para o bom andamento
da atividade.

34
Dinâmicas 3:
Qual é a cor?

Essa atividade é dividida em dois momentos. No primeiro, os


alunos, em círculo, escutarão a leitura feita pelo professor ou por
um dos alunos o conto “A Moça Tecelã” de Marina Colassanti. Em
seguida, explique que as cores, em determinados momentos,
podem remeter a sensações e também provocar emoções. Logo
após, solicitar aos alunos que respondam oralmente as seguintes
perguntas:

a) Qual pode ser o cheiro da chuva?


b) O calor tem cor? Qual seria essa cor?
c) E a cor da alegria?
d) Qual a cor do som?
e) Qual a cor do amor?
f) Qual seria a cor da saudade?
g) E a cor da tristeza?

No segundo momento, orientar os alunos a registrarem, por meio


da escrita, alguma passagem de suas vidas que seja associada a
uma cor, podendo ser memórias positivas ou negativas. Essas
produções podem ser partilhadas pelos alunos por meio de leitu-
ras feitas por eles e depois coladas no mural da sala para a apre-
ciação de todos.
Essas atividades têm como finalidade enfatizar os efeitos senso-
riais e os das imagens provocados por meio de uma cor. Segundo
Bosi, “A experiência da imagem, anterior à da palavra, vem enrai-
zada no corpo. A imagem é afim à sensação visual. O ser vivo tem
a partir do olho, as formas do sol, do mar, do céu. O perfil, a
dimensão, a cor.” (BOSI,1977, p.13).

35
Dinâmicas 4:
História Compartilhada

Os alunos formarão uma roda, no meio estará o professor segu-


rando um objeto na mão (pode ser uma bolinha), que será entre-
gue a um aluno que dará início a uma história usando apenas uma
frase. Na sequência, esse objeto será passado a outro colega,
que dará continuação a história com outra frase, e assim sucessi-
vamente. O final da história ocorrerá no momento em que o último
aluno da roda receber o objeto.
No decorrer dessa atividade, o professor observará as dificulda-
des dos alunos referentes à oralidade, à criatividade, ao uso da
voz e à postura corporal. Fazendo assim uma sondagem sobre os
aspectos que deverão ser trabalhados durante a oficina.

Observações:

Para a realização dessas dinâmicas recomenda-se que os


alunos estudem as histórias lidas e até mesmo as produzidas
por eles, a fim de contá-las com conhecimento e emoção aos
ouvintes. Devendo, para isso, destacar o suspense, observar
as pausas, marcar o silêncio, ser claro ao narrar, buscar olhar
para todos os presentes e por fim, usar um gestual que enri-
queça sua narrativa.

36
Dinâmicas 5:
Caixa história

Nessa atividade, cada aluno separadamente, deve retirar um


objeto de dentro de uma caixa e, em seguida dar sequência, oral-
mente, a uma história iniciada pelo professor citando, obrigatoria-
mente, esse objeto. Essa dinâmica é uma boa atividade para tra-
balhar a oralidade, além de contribuir para o desenvolvimento da
criatividade.

37
Dinâmicas 6:
Criando personagens

Para essa atividade os alunos devem ser colocados em círculo e


no meio dele colocar papéis de diferentes cores. Cada um deve
escolher duas cores e criar uma personagem para elas, a cor
preta e a roxa pode ser, por exemplo, para alguém que está de
luto. A cor vermelha e a amarela pode ser o pôr do sol, o azul e o
branco pode ser o mar e suas espumas, etc. Após criar suas per-
sonagens, o aluno deve criar sua própria história, usando obriga-
toriamente as cores escolhidas durante a contação da história.

38
Dinâmicas 7:
Treinando os alunos.

Para essa atividade, o aluno precisa escolher um texto, ocupar


um espaço e lê-lo andando e dramatizando. Para isso deve-se
aplicar seguintes técnicas:

• andar devagar fazendo uma leitura rápida;


• expressar alegria mudando de direção;
• agir como se tivesse recebido uma notícia triste;
• demonstrar alegria por haver recebido o texto
• agir como um vendedor;
• tentar imitar alguém conhecido, entre outros.
• agir como se estivesse fazendo uma fofoca.
• cantar;
• ler o texto como se ele fosse uma poesia.

Essa oficina trabalha a expressão corporal, a entonação da voz e


a percepção da intenção da história contada.

39
Dinâmicas 8:
Trava-línguas e expressão oral

Consiste em fazer a leitura de uma frase em voz alta observando


o ritmo, as pausas, o silêncio, entre outros. Para isso serão utiliza-
dos trava línguas, que são tipos de textos da cultura popular. O
professor deve explicar que se trata de um jogo de palavras, em
que as frases são formadas a partir da junção de sílabas difíceis
de expressar ou que tem sons muito parecidos e que devem ser
pronunciados rapidamente.

Exemplos de trava-línguas que podem ser trabalhados com os


alunos:

[1] No morro chato, tem uma moça chata, com um tacho


chato, no chato da cabeça. Moça chata, esse tacho chato é
seu?
[2] A aranha arranha a rã. A rã arranha a aranha. Nem a
aranha arranha a rã. Nem a rã arranha a aranha.
[3] O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo
tem, o tempo respondeu ao tempo que o tempo tem o
tempo que o tempo tem.
[4] O Rato roeu a rica roupa do rei de Roma! A rainha raivo-
sa rasgou o resto e depois resolveu remendar!
[5] Em rápido rapto, um rápido rato raptou três ratos sem
deixar rastro.

Esse tipo de atividade serve para divertir, pois se pode fazer uma
disputa entre os alunos, além de aprimorar a dicção.

40
Dinâmicas 9:
Cores e emoções

Nesta dinâmica os alunos devem atribuir sensações, sentimentos


e ações para as cores, os formatos dos cartões e alguns objetos
que serão apresentados pela professora. Exemplos:

Cores:
azul – tranquilo;
vermelho – violento;
amarelo - atenção
laranja- alegre
preto – triste

Formas:
quadrado – sério;
semicírculo – esquisito
círculo - divertido
triângulo – pensativo

Por fim, será mostrado um objeto e pedido aos alunos que criem
uma função mágica para ele. Após essa atividade, formam-se
grupos que deverão produzir uma história com as ideias. Ao final,
cada grupo apresentará, oralmente a história produzida.

41
Dinâmicas 10:
Exercitando a leitura

Para essa dinâmica os alunos devem ser divididos em dois


grupos. Depois distribui-se a cada grupo uma mesma história que
deve ser lida por eles, simultaneamente, em voz alta. O mesmo
trecho deve ser lido duas vezes para que a turma perceba a forma
como cada um lê a mesma história. Depois, os grupos, escolhem
objetos ou instrumentos musicais para promover sons para as his-
tórias que serão contadas por um membro de cada grupo. Ao
final, os alunos sentam-se em círculo para dialogar sobre as ativi-
dades apresentadas, contando sobre o que aprenderam, se as
técnicas foram válidas e de como elas podem contribuir para a
contação de histórias e o que compreenderam.

42
Dinâmicas 11:
Recontando a história

Para esta atividade, os alunos, em círculo, recebem um pequeno


conto cada, depois, alguém é escolhido para contar a história que
recebeu e, a seguir, por meio de um sorteio é escolhido um outro
aluno que deve discordar da primeira versão da história e recontá-
-la com uma nova versão. É interessante que todos participem,
um contando e outro discordando até que a última história tenha
sido apresentada. Com essa estratégia, trabalha-se a criatividade
e a capacidade de argumentação do aluno, levando-o a perceber
que para uma mesma história pode haver outro ponto de vista.

43
Décimo Módulo:
Concurso de contadores
de histórias

Planejamento

Atividade Montar um concurso para a escolha do melhor contador de


histórias de cada turma.
Duração 4 aulas

- Desenvolver a oralidade;
- Estimular a criatividade;
Objetivos - Trabalhar a capacidade de memorização;
- Estimular a leitura;
- Aplicar as técnicas de contação.

1- Propor um concurso de contação de histórias entre os


alunos;
2- Preparar o espaço e os recursos que serão utilizados nas
atividades;
Procedimentos
metodológicos 3-Orientar os alunos sobre os critérios usados para a vota-
ção do melhor contador;
4- Convidar professores de outras turmas para assistirem,
avaliarem as atividades e colaborarem com o professor;
5-Registrar as apresentações;

Analisar o desempenho do aluno-contador, sua perfor-


Avaliação
mance e se foram observadas as técnicas aplicadas.

44
Como Fazer?

Essa etapa finaliza o trabalho e consiste em um concurso de contação


de histórias, nela os alunos colocarão em prática tudo o que aprenderam
durante todo o processo. Para sua execução é necessário expor a eles
o que deve ser realizado. A princípio, oriente-os a escolher uma história
para ser contada, podendo ser conhecida ou autoral, e o principal, que
observem as técnicas que foram trabalhadas durante a aplicação da SD.
Essa atividade pode ser realizada individualmente ou em grupo, ficando
a cargo dos alunos a melhor forma de apresentá-la.
Por fim, o melhor contador de cada turma, escolhido por eles e por outros
professores, receberá um prêmio e contará a história para uma das
turmas do sexto ano.
Sabemos que esse tipo de trabalho pode causar uma certa apreensão
nos alunos, pois a maioria não gosta de falar em público, por isso é ne-
cessário incentivá-los a participar ativamente dessa atividade, mostran-
do o quanto é importante para eles, perder a timidez de se expressar pu-
blicamente.
Proponha também para a realização dessa tarefa que eles usem a criati-
vidade, podendo utilizar recursos que colaborem para tornar a história
mais interessante para os ouvintes.

45
Textos para o
desenvolvimento
das atividades
Os três
companheiros
Conto folclórico, texto de Luís da
Câmara Cascudo

Um bombeiro, um soldador e um ladrão eram


muito amigos e resolveram viajar por esse Luís da Câmara Cascudo (nasceu
em Natal, 30 de dezembro de 1898
mundo para melhorar a vida. Tinham eles um — e morreu em, 30 de julho de 1986)
cavalo encantado que respondia todas as per- foi um historiador, antropólogo, advo-
guntas. Chegaram a um reinado onde toda gente gado e jornalista brasileiro. Câmara
estava triste porque a princesa fora furtada por Cascudo passou toda a sua vida em
Natal e dedicou-se ao estudo da
uma serpente que morava no fundo do mar. Os cultura brasileira. Foi professor da
três companheiros acharam que podiam fazer Faculdade de Direito de Natal, hoje
essa façanha e consultaram o cavalo. Este Curso de Direito da Universidade
mandou o soldador fazer um bote de folhas de Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN), cujo Instituto de Antropolo-
Flandres. Meteram-se nele e fizeram-se de vela. gia leva seu nome.
Depois de muito navegar deram num ponto que Pesquisador das manifestações
era o palácio da serpente. Quem ia descer? O culturais brasileiras, deixou uma
bombeiro não quis nem o soldador. O ladrão extensa obra, inclusive o Dicionário
do Folclore Brasileiro (1952). Entre
agarrou-se na corda que os outros seguravam e seus muitos títulos destacam-se:
lá se foi para baixo. Pisando chão, viu um palácio Alma patrícia (1921), obra de estreia,
enorme guardado por uma serpente que estava e Contos tradicionais do Brasil
de boca aberta. O ladrão subiu depressa, mor- (1946). Estudioso do período das
invasões holandesas, publicou Geo-
rendo de medo. Depois de muito navegar deram grafia do Brasil holandês (1956).
num ponto que era o palácio da serpente. Quem Suas memórias, O tempo e eu
ia descer? O bombeiro não quis nem o soldador. (1971), foram editadas postumamen-
O ladrão agarrou-se na corda que os outros se- te.
guravam e lá se foi para baixo. Pisando chão, viu
um palácio enorme guardado por uma serpente
que estava de boca aberta. O ladrão subiu de-
pressa,morrendo de medo. Voltaram para casa e
foram perguntar ao cavalo o que era possível
fazer. O cavalo ensinou que a serpente dormia de
boca aberta e quando estava acordada ficava
com a boca fechada. Debaixo da cauda tinha a
chave do palácio. Quem tirasse a chave, abrisse
a porta, encontrava logo a princesa. Os três
amigos tomaram o bote de folha de Flandres e lá
se foram para o mar.
47
Chegando no ponto os dois não queriam descer. O ladrão desceu
e, como estava habituado, furtou a chave tão de mansinho que a
serpente não acordou. Abriu a porta, entrou, foi ao salão, encon-
trou a princesa, disse que vinha buscá-la e saíram os dois até a
corda. Agarraram-se e os dois puxaram para cima. Largaram
vela e o bote navegou para terra.
Quando estavam no meio dos mares a serpente apareceu em
cima d’água, que vinha feroz.

Que se faz? Era a morte certa. – Deixa vir, disse o bombeiro.


Quando a serpente chegou mais para perto, o bombeiro tirou
uma bomba e jogou em cima da serpente. A bomba estourou e a
serpente virou bagaço. Na luta, o bote fura-se e a água estava
entrando de mais a mais, ameaçando ir tudo para o fundo do mar.
Que se faz? Morte certa! Deixe comigo – disse o soldador. Tirou
seus ferros e soldou todos os buracos e o bote navegou a salva-
mento até a praia.
Chegaram no reinado recebidos com muitas festas pelo rei e pelo
povo. O rei deu muito dinheiro aos três mas o ladrão, o bombeiro
e o soldador queriam casar com a princesa.
— Se não fosse eu a princesa estava com a serpente! Dizia o
ladrão.
— Se não fosse eu, a serpente devorava todos, dizia o bombeiro.
— Se não fosse eu, iam todos para o fundo do mar! Disse o sol-
dador.

Discute, discute, briga e briga, finalmente a princesa escolheu o


ladrão, que era seu salvador e este pagou muito dinheiro aos
dois companheiros. O ladrão casou e mudou de vida e todos
viveram satisfeitos.
Em: Contos Tradicionais do Brasil (folclore) de Luís da Câmara
Cascudo, Rio de Janeiro, Ediouro:1967

48
A Velha
Contrabandista
Stanislaw Ponte Preta

Diz que era uma velhinha que sabia andar de lam-


breta. Todo dia ela passava pela fronteira monta-
da na lambreta, com um bruto saco atrás da lam-
breta. O pessoal da Alfândega - tudo malandro Stanislaw Ponte Preta (1923-1968),
velho - começou a desconfiar da velhinha. pseudônimo de Sérgio Porto, foi um escritor,
Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco cronista, jornalista e radialista brasileiro.
Marcou presença na literatura nacional com
atrás, o fiscal da Alfândega mandou ela parar. A a publicação de livros de paródia e humor,
velhinha parou e então o fiscal perguntou assim com crônicas satíricas e corrosivas, e com a
pra ela: criação de diversos personagens, entre eles,
- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por “A Velha Contrabandista” e “Tia Zulmira”.
Dentre as obras destacam-se: Tia Zulmira e
aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo Eu (1961), Primo Altamirando e Elas (1962),
a senhora leva nesse saco? Rosamundo e os Outros (1963), Garoto
A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe Linha Dura (1964), Febeapá - Festival de
restavam e mais outros, que ela adquirira no Besteiras Que Assola o País (1966), Febea-
pá 2 (Segundo Festival de Besteiras Que
odontólogo, e respondeu: Assola o Pais) (1967), Na Terra do Crioulo
Diz que era uma velhinha que sabia andar de lam- Doido (1968), Febeapá 3 (1968),A Máquina
breta. Todo dia ela passava pela fronteira monta- de Fazer Doido (1968), Gol de Padre
da na lambreta, com um bruto saco atrás da lam-
breta. O pessoal da Alfândega - tudo malandro
velho - começou a desconfiar da velhinha.
Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco
atrás, o fiscal da Alfândega mandou ela parar. A
velhinha parou e então o fiscal perguntou assim
pra ela:
- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por
aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo
a senhora leva nesse saco?
Diz que era uma velhinha que sabia andar de lam-
breta. Todo dia ela passava pela fronteira monta-
da na lambreta, com um bruto saco atrás da lam-
breta. O pessoal da Alfândega - tudo malandro
velho - começou a desconfiar da velhinha.
49
Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal
da Alfândega mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal
perguntou assim pra ela:
- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com
esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?
A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais
outros, que ela adquirira no odontólogo, e respondeu:
- É areia!
Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e
mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A
velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha areia.
Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em frente.
Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.
Mas o fiscal desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um
dia com areia e no outro com muamba, dentro daquele maldito
saco. No dia seguinte, quando ela passou na lambreta com o
saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez. Perguntou o que é
que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O
fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o fiscal
interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no
saco era areia. Diz que foi aí que o fiscal se chateou:
- Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 anos de
serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém
me tira da cabeça que a senhora é contrabandista.
- Mas no saco só tem areia! - insistiu a velhinha. E já ia tocar a
lambreta, quando o fiscal propôs:
- Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou
parte, não apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora
vai me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando
por aqui todos os dias?
- O senhor promete que não "espáia"? - quis saber a velhinha.
- Juro - respondeu o fiscal.
- É lambreta.

50
O Caso do Espelho
Ricardo Azevedo

Era um homem que não sabia quase nada.


Morava longe, numa casinha de sapé esquecida
nos cafundós da mata.
Um dia, precisando ir à cidade, passou em frente
Ricardo Azevedo, escritor e ilustrador
a uma loja e viu um espelho pendurado do lado paulista nascido em 1949, é autor de muitos
de fora. livros para crianças e jovens. Bacharel em
O homem quase caiu de costas. Abriu a boca. Comunicação Visual pela Faculdade de
Apertou os olhos. Depois gritou espantado com o Artes Plásticas da Fundação Armando Álva-
res Penteado e doutor em Letras pela
espelho nas mãos: Universidade de São Paulo Professor convi-
–– Mas o que é que o retrato do meu pai está dado em cursos de especialização em
fazendo aqui? Arte-Educação e Literatura. Tem dado pales-
–– Isso é um espelho –– explicou o dono da loja. tras e escrito artigos, publicados em livros e
revistas, abordando problemas do uso da
–– Não sei se é espelho ou se não é, só sei que é literatura de ficção na escola.
o retrato do meu pai.
Os olhos do homem ficaram molhados.
–– O senhor... conheceu meu falecido pai? ––
perguntou ele ao comerciante.
O dono da loja sorriu. Explicou de novo. Aquilo
era só um espelho comum, desses de vidro e
moldura de madeira.
–– É não! –– respondeu o outro. –– Isso é o retra-
to do meu pai. É ele sim! Olha esse rosto. Olha a
testa. E o cabelo? E o nariz? E aquele sorriso
meio sem jeito?
O homem quis saber o preço. O comerciante sa-
cudiu os ombros, embrulhou e vendeu o espelho,
baratinho.
Naquele dia, o homem que não sabia quase nada
entrou em casa todo contente. Guardou, cuidado-
so, o espelho embrulhado na gaveta da pentea-
deira.
A mulher ficou só olhando.
51
No outro dia, esperou o marido sair para o trabalho e correu até o quarto.
Abrindo a penteadeira, desembrulhou o espelho, olhou e deu um passo
para trás. Fez o sinal-da-cruz tapando a boca com as mãos. Em seguida,
guardou o espelho na gaveta e saiu andando e chorando.
–– Ah, meu Deus! –– gritava ela, desnorteada. –– É o retrato de outra
mulher! Meu marido não gosta mais de mim! A outra é linda demais! Que
olhos bonitos! Que cabeleira solta! Que pele macia! A diaba é mil vezes
mais bonita e mais moça do que eu!
Quando o homem voltou no fim do dia, encontrou a casa toda desarruma-
da. A mulher, chorando sentada no chão, não tinha feito nem comida.
–– Que foi isso, mulher?
–– Ah, seu traidor desgramado de uma figa! Quem é aquela jararaca do
retrato?
–– Retrato?
–– Aquele mesmo que você, seu safado, escondeu na gaveta da pentea-
deira!
O homem não estava entendendo nada.
–– Mas aquilo é o retrato do meu pai!
Indignada, a mulher colocou as mãos no peito:
–– Cachorro nojento miserável! Pensa que eu não sei a diferença entre um
velho lazarento e uma jabiraca sem-vergonha horrorosa?
A discussão fervia feito água na chaleira.
–– Velho lazarento coisa nenhuma! –– gritou o homem ofendido.
A mãe da moça morava perto. Escutando a gritaria, veio ver o que estava
acontecendo. Encontrou a filha soluçando feito criança que se perdeu e
não consegue mais voltar.
–– Que é isso, menina?
–– Aquele cachorro cafajeste arranjou outra!
–– Ela ficou maluca –– berrou o homem –– e ainda chamou meu pai de
velho lazarento!
–– Ontem vi ele escondendo um pacote na gaveta lá no quarto, mãe! Hoje,
depois que ele saiu, fui ver. Tá lá! É o retrato de outra mulher!
A boa senhora resolveu, ela mesmo, verificar o tal retrato.
Entrando no quarto, abriu a gaveta, desembrulhou o pacote e espiou. Arre-
galou os olhos. Olhou de novo. No fim, soltou uma sonora gargalhada:
–– Só se for o retrato da tataravó dele! A tal fulana é a coisa mais enruga-
da, feia, velha, encardida, cacarenta, murcha, arruinada, capenga, careca,
caduca, torta e desdentada que eu já vi até hoje!
E foi feliz abraçar a filha:
– Fica tranquila. Essa bruaca do retrato é tão velha que parece até que
morreu e esqueceram de enterrar!

52
A pequena
vendedora
de fósforos
Hans Christian Andersen

Fazia um frio terrível; caía a neve e estava quase


escuro; a noite descia: a última noite do ano.
Em meio ao frio e à escuridão uma pobre menini-
nha, de pés no chão e cabeça descoberta, cami-
Hans Christian Andersen (1805-
nhava pelas ruas. -1875) nasceu em Odense, Dinamarca, no
Quando saiu de casa trazia chinelos; mas de dia 2 de abril de 1805. Filho de um humilde
nada adiantavam, eram chinelos tão grandes sapateiro, que lutou nas guerras napoleôni-
para seus pequenos pezinhos, eram os antigos cas e voltou gravemente doente à sua terra
natal morrendo pouco depois. Ficou órfão de
chinelos de sua mãe. pai com apenas 11 anos. Precisou abando-
A menininha os perdera quando escorregara na nar os estudos e começou a escrever contos
estrada, onde duas carruagens passaram terri- e pequenas peças teatrais. autor dos contos
velmente depressa, sacolejando. infantis, “Soldadinho de Chumbo”, “Patinho
Feio”, “A Pequena Sereia”, “A Roupa Nova
Um dos chinelos não mais foi encontrado, e um do Rei”.
menino se apoderara do outro e fugira correndo.
Depois disso a menininha caminhou de pés nus -
já vermelhos e roxos de frio.
Dentro de um velho avental carregava alguns fós-
foros, e um feixinho deles na mão.
Ninguém lhe comprara nenhum naquele dia, e ela
não ganhara sequer um níquel.
Tremendo de frio e fome, lá ia quase de rastos a
pobre menina, verdadeira imagem da miséria!
Os flocos de neve lhe cobriam os longos cabelos,
que lhe caíam sobre o pescoço em lindos cachos;
mas agora ela não pensava nisso.
Luzes brilhavam em todas as janelas, e enchia o
ar um delicioso cheiro de ganso assado, pois era
véspera de Ano-Novo.
Sim: nisso ela pensava!
Numa esquina formada por duas casas, uma das
quais avançava mais que a outra, a menininha
ficou sentada; levantara os pés, mas sentia um
frio ainda maior.
53
Não ousava voltar para casa sem vender sequer um fósforo e, portanto
sem levar um único tostão.
O pai naturalmente a espancaria e, além disso, em casa fazia frio, pois
nada tinham como abrigo, exceto um telhado onde o vento assobiava atra-
vés das frinchas maiores, tapadas com palha e trapos. Suas mãozinhas
estavam duras de frio.
Ah! bem que um fósforo lhe faria bem, se ela pudesse tirar só um do em-
brulho, riscá-lo na parede e aquecer as mãos à sua luz!
Tirou um: trec! O fósforo lançou faíscas, acendeu-se.
Era uma cálida chama luminosa; parecia uma vela pequenina quando ela
o abrigou na mão em concha...
Que luz maravilhosa!
Com aquela chama acesa a menininha imaginava que estava sentada
diante de um grande fogão polido, com lustrosa base de cobre, assim
como a coifa.
Como o fogo ardia! Como era confortável!
Mas a pequenina chama se apagou, o fogão desapareceu, e ficaram-lhe
na mão apenas os restos do fósforo queimado.
Riscou um segundo fósforo.
Ele ardeu, e quando a sua luz caiu em cheio na parede ela se tornou trans-
parente como um véu de gaze, e a menininha pôde enxergar a sala do
outro lado. Na mesa se estendia uma toalha branca como a neve e sobre
ela havia um brilhante serviço de jantar. O ganso assado fumegava mara-
vilhosamente, recheado de maçãs e ameixas pretas. Ainda mais maravi-
lhoso era ver o ganso saltar da travessa e sair bamboleando em sua dire-
ção, com a faca e o garfo espetados no peito!
Então o fósforo se apagou, deixando à sua frente apenas a parede áspera,
úmida e fria.
Acendeu outro fósforo, e se viu sentada debaixo de uma linda árvore de
Natal. Era maior e mais enfeitada do que a árvore que tinha visto pela
porta de vidro do rico negociante. Milhares de velas ardiam nos verdes
ramos, e cartões coloridos, iguais aos que se veem nas papelarias, esta-
vam voltados para ela. A menininha espichou a mão para os cartões, mas
nisso o fósforo apagou-se. As luzes do Natal subiam mais altas. Ela as via
como se fossem estrelas no céu: uma delas caiu, formando um longo rasti-
lho de fogo.
"Alguém está morrendo", pensou a menininha, pois sua vovozinha, a única
pessoa que amara e que agora estava morta, lhe dissera que quando uma
estrela cala, uma alma subia para Deus.
Ela riscou outro fósforo na parede; ele se acendeu e, à sua luz, a avozinha
da menina apareceu clara e luminosa, muito linda e terna.
- Vovó! - exclamou a criança.
- Oh! leva-me contigo! Sei que desaparecerás quando o
fósforo se apagar!
54
Dissipar-te-ás, como as cálidas chamas do fogo, a comida fumegante e a
grande e maravilhosa árvore de Natal!
E rapidamente acendeu todo o feixe de fósforos, pois queria reter diante
da vista sua querida vovó. E os fósforos brilhavam com tanto fulgor que
iluminavam mais que a luz do dia. Sua avó nunca lhe parecera grande e
tão bela. Tornou a menininha nos braços, e ambas voaram em luminosida-
de e alegria acima da terra, subindo cada vez mais alto para onde não
havia frio nem fome nem preocupações - subindo para Deus.
Mas na esquina das duas casas, encostada na parede, ficou sentada a
pobre menininha de rosadas faces e boca sorridente, que a morte enrege-
lara na derradeira noite do ano velho.
O sol do novo ano se levantou sobre um pequeno cadáver.
A criança lá ficou, paralisada, um feixe inteiro de fósforos queimados. -
Queria aquecer-se - diziam os passantes.
Porém, ninguém imaginava como era belo o que estavam vendo, nem a
glória para onde ela se fora com a avó e a felicidade que sentia no dia do
Ano ¬Novo.

55
Os sete corvos
Um conto de fadas dos Irmãos
Grimm

Irmãos Grimm são dois irmãos alemães


que entraram para a história como folcloris-
Um homem tinha sete filhos e nunca tinha uma tas e também por suas coletâneas de contos
filha, por mais que desejasse. Até que, finalmen- infantis. Jacob Ludwing Carl Grimm (1785-
-1863) nasceu em Hanau, no Grão-ducado
te, sua mulher lhe deu esperanças de novo e, de Hesse, na Alemanha, no dia 14 de janeiro
quando a criança veio ao mundo, era uma de 1785. Wilhelm Carl Grimm (1786-1859)
menina. A alegria foi enorme, mas a criança era também nasceu em Hanau, no dia 24 de
franzina e miúda e, por causa dessa fraqueza, foi fevereiro de 1786..Entre os principais contos
estão: “Chapeuzinho Vermelho”, “A Bela
preciso que lhe dessem logo os sacramentos. O Adormecida”, “A Gata Borralheira”, “Branca
pai mandou um dos filhos ir correndo até a fonte, de Neve”, “Rapunzel” Pastora de Gansos”,
buscar água para o batismo. Os outros seis “João e Maria”, “A Mão Com a Faca” e “A
foram atrás do irmão e, como cada um queria ser Chave Dourada”.
o primeiro a puxar a água para cima, acabaram
deixando o balde cair no fundo do poço. Aí eles
ficaram assustados, sem saber o que deviam
fazer, e nenhum dos sete tinha coragem de voltar
para casa. Foram ficando por lá, sem sair do
lugar.
Como estavam demorando muito, o pai foi fican-
do cada vez mais impaciente e disse: - Na certa
ficaram brincando e se esqueceram de voltar,
aqueles moleques levados...
Começou a ficar com medo de que a menininha
morresse sem ser batizada e, com raiva, gritou:
- Tomara que eles todos virem corvos!
Mal o pai acabou de dizer essas palavras, ouviu
um barulho de asas batendo no ar, por cima da
cabeça. Levantou os olhos e viu sete corvos
negros como carvão. voando de um lado para
outro.
Os pais ficaram tristíssimos, mas não consegui-
ram fazer nada para quebrar o encanto.
56
Felizmente, puderam se consolar um pouco com sua filhinha querida,
que logo recuperou as forças e cada dia ia ficando mais bonita. Durante
muito tempo, ela ficou sem saber que tinha tido irmãos, porque os pais
tinham o maior cuidado de nunca falar nisso. Mas um dia, ela ouviu por
acaso umas pessoas comentando que era uma pena que uma menina
assim tão bonita como ela fosse a responsável pela infelicidade dos
irmãos.
A menina ficou muito aflita e foi logo perguntar aos pais se era verdade
que ela já tinha tido irmãos, e o que tinha acontecido com eles. Os pais
não puderam continuar guardando segredo. Mas explicaram que o que
aconteceu tinha sido um desígnio do céu, e que o nascimento dela não
tinha culpa de nada. Só que a menina começou a ter remorsos todos os
dias e resolveu que precisava dar um jeito de livrar os irmãos do encanto.
Não sossegou enquanto não saiu escondida, tentando encontrar algum
sinal deles em algum lugar, custasse o que custasse. Não levou quase
nada: só um anelzinho como lembrança dos pais, uma garrafinha d'água
para matar a sede e uma cadeirinha para descansar.
Andou, andou, andou, cada vez para mais longe, até o fim do mundo. Aí,
ela chegou junto do sol. Mas ele era quente demais e muito terrível,
porque comia os próprios filhos. Ela saiu correndo, fugindo, para bem
longe, até que chegou junto da lua. Mas a lua era fria demais e muito mal-
vada e cruel. Assim que viu a menina, disse:
- Huuummm sinto cheiro de carne humana...
A menina saiu correndo bem depressa, fugindo para bem longe, até que
chegou junto das estrelas.
As estrelas foram muito amáveis e boazinhas com ela, cada uma senta-
da em uma cadeirinha separada. Então, a estrela da manhã se levantou,
deu um ossinho de galinha à menina e disse:
- Sem este ossinho, você não vai conseguir abrir a montanha de vidro. E
é na montanha de vidro que estão os seus irmãos.
A menina pegou no ossinho, embrulhou-o com todo cuidado num lenço e
continuou seu caminho, até que chegou à montanha de vidro. A porta
estava bem fechada, trancada com chave, e ela resolveu pegar o ossi-
nho de galinha que estava guardado no lenço. Mas quando desembru-
lhou, viu que não tinha nada dentro do pano e que ela tinha perdido o pre-
sente que as boas estrelas tinham dado. Ficou sem saber o que fazer.
Queria muito salvar os irmãos, mas não tinha mais a chave da montanha
de vidro. Então, a boa irmãzinha pegou uma faca, cortou um dedo mindi-
nho, enfiou na fechadura e deu um jeito de abrir a porta. Assim que
entrou, um gnomo veio ao seu encontro e lhe perguntou:

57
- Minha filha, o que é que você está procurando?
- Procuro meus irmãos, os sete corvos - respondeu ela. O gnomo então
disse:
- Os senhores Corvos não estão em casa, mas se quiser esperar até que
eles cheguem, entre e fique à vontade.
Lá em cima, o gnomo pôs a mesa para o jantar dos corvos, com sete pra-
tinhos e sete copinhos. A irmã então comeu um pouco da comida de cada
prato e bebeu um gole de cada copo. Mas no último, deixou cair o anelzi-
nho que tinha trazido.
De repente, ouviu-se nos ares um barulho de gritos e batidas de asas.
Então o gnomo disse:
- São os senhores Corvos que estão chegando.
Eram eles mesmos, com fome e com sede. Foram logo em direção aos
pratos e copos. E, um por um, foram gritando:
- Quem comeu no meu prato? Quem bebeu no meu copo? Foi boca de
gente, foi boca de gente...
Mas quando o sétimo corvo acabou de esvaziar seu copo, o anel caiu lá
de dentro. Ele olhou bem e reconheceu que era um anel do pai e da mãe
deles, e disse:
- Quem dera que fosse a nossa irmãzinha, porque aí a gente ficava livre.
Quando a menina, que estava escondida atrás da porta, ouviu esse
desejo, apareceu de repente e todos os corvos viraram gente outra vez.
Começaram todos a se abraçar e se beijar e a se fazer mil carinhos e
depois voltaram para casa muito felizes.

58
A Moça Tecelã
Por Marina Colasanti

Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o


sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo
sentava-se ao tear. Marina Colasanti (1937) é uma escrito-
ra, jornalista e tradutora brasileira. Autora de
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço poesias, contos, literatura infantil e infanto-ju-
cor da luz, que ela ia passando entre os fios es- venil recebeu diversos prêmios, entre eles, o
tendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã Prêmio Jabuti e o Prêmio Portugal Telecom
desenhava o horizonte. Depois lãs mais vivas, de Literatura. Seu primeiro livro data de
1968, hoje são mais de cinquenta títulos
quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo publicados no Brasil e no exterior, entre os
tapete que nunca acabava. quais livros de poesia, contos, crônicas,
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam livros para crianças e jovens e ensaios.
as pétalas, a moça colocava na lançadeira gros-
sos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em
breve, na penumbra trazida pelas nuvens, esco-
lhia um fio de prata, que em pontos longos rebor-
dava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumpri-
mentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio bri-
gavam com as folhas e espantavam os pássa-
ros, bastava a moça tecer com seus belos fios
dourados, para que o sol voltasse a acalmar a
natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para
outro e batendo os grandes pentes do tear para
frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de es-
camas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede
vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois
de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozi-
nha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma
coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as
cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi apa-
recendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado,
59
sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear
o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu
de pluma, e foi entrando em sua vida.
Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos
que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em
filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em
nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo,
agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de
tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.
— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer
resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em
prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas,
e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha
tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para
arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os
pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu
para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palá-
cio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o
que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer. E tecendo, ela própria trouxe
o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos
os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar
sozinha de novo. Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido
dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer ba-
rulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear. Desta vez não
precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e
jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido.

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Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois
desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E
novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da
janela. A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acor-
dou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já
desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecen-
do, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o
peito aprumado, o emplumado chapéu. Então, como se ouvisse a chega-
da do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar
entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do hori-
zonte.

Texto extraído do livro “Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento”, Global Editora , Rio
de Janeiro, 2000, uma colaboração da amiga Janaina Pietroluongo, da longínqua Oxford.

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Considerações Finais

Esperamos que incentivar a leitura por meio da contação de histórias


possa ter trazido motivação para se constituir mais sujeitos leitores em
cada sala de aula, o desafio não para aqui, este é apenas um passo de
uma infinita caminhada. Por precisamos continuamente nos identificar com
trabalhos que, adaptados a realidades e perfis dos alunos, envolvam a ora-
lidade, a escrita, e a leitura de textos literários e a formação de um leitor
autônomo.

Este produto se propôs a refletir sobre as diferentes situações comunicati-


vas e suas particularidades, além de oferecer uma oportunidade de lidar
com os elementos da narrativa e a maneira como os gêneros narrativos se
organizam.

Acreditamos que sempre é possível refazer um percurso, visitar nossas


experiências e construir novas perspectivas para fazer a diferença em sala
de aula. Apesar de vivermos um tempo atribulado por afazeres diários, na
essência, estamos sempre aprendendo e por isso vale a pena insistir em
buscar práticas, às vezes nem tão inovadoras, mas carregadas de signifi-
cados. E o nosso desafio continua...

62
REFERÊNCIAS
BAKTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1979.

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1980

BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Cultrix; Esp, 1977.

BUSATTO, Cléo. Contar & encantar: pequenos segredos da narrativa. Petrópolis, RJ: Vozes,
2003.

COELHO, Beth. Contar histórias: uma arte sem idade. São Paulo: Ática, 1998.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia - saberes necessários à prática educativa. São Paulo:


Paz e Terra, 2003

GAZOLA, A. Contação de histórias: guia definitivo. disponível em : https://www.lendo.org/-


guia-definitivo-contacao-historias/ Acesso em 15 jan. 2019

LERNER, Délia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre:
Artmed, 2005.

LISPECTOR, Clarice. Felicidade clandestina. Disponível em: http://pagina-de-vida.blogspot.-


com.br/2007/05/felicidade-clandestinaclarice.html Acesso em: 14 jan. 2019.

MARCUSCHI, L.A. – Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez,
2001.

PORTAL EDUCAÇÃO. Técnicas para contar histórias. Disponível em: https://www.portale-


ducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/tecnicas-para-contar-historias/26048 . Acesso: 14 jan.
2019.

ROSSONI, Janaína Cé. A contação de histórias como possibilidade educativa:


análise de dissertações e teses produzidas no contexto brasileiro. 2013. 161 f. (Mestrado em Educa-
ção) – Centro Universitário La Salle – UNILASALLE – Canoas – RS

SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Gêneros orais e escritos na escola. Tradução


de Roxane Rojo e Glaís Cordeiro. Campinas – SP. Mercado das Letras, 2004.

SISTO, Celso. Textos e pretextos da arte de contar histórias. Chapecó: Argos, 2001.

TAHAN, Malba, A arte de ler e contar histórias. 5. ed. Conquista, 1966.

ZUMTHOR, P. Performance, recepção e leitura. São Paulo: Cosac Naify, 2005.

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