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CARTAS

PORTUGUESAS

UCP - Prof. Aline de Rodrigues


O GÊNERO
ROMANCE
EPISTOLAR
TRADIÇÃO LATINA – POESIA E ELOQUÊNCIA
•Inicialmente, um poema (versos hexâmetros) dirigido a um
amigo, amante ou mecenas;
•Tom familiar – assuntos sentimentais, românticos, filosóficos
ou morais;
Ex: “Epístolas”, de Horácio = Destinadas a Lucius Calpurnius
Piso.
Ex²: “Heróides”, de Ovídio = Cartas escritas por heroínas da
antiguidade (Helena, Medéia, Dido),
CARACTERÍSTICAS
•Foco no interlocutor = romance com destinatário, possui
um leitor implícito.

•Complexidade de escrita:
→ Fronteira entre o público e o privado;
→Autobiográfico e encenação;
→Verdade e ficção;
→Histórico e literário.
A QUEM PERTENCE UMA CARTA?

“Uma vez na caixa [dos Correios], a carta passa a pertencer ao


destinatário. Uma vez postada, reavê-la significa roubar. [...] A partir do
momento em que é postada, torna-se fisicamente propriedade do
destinatário e quando este morre, de seus herdeiros. [...] Mesmo
postada, a carta continua sendo, intelectual e moralmente, propriedade
do seu autor – e, depois da sua morte, de seus herdeiros; mas o
exercício desse direito poderá ser limitado, de fato, se o autor não
estiver mais com a carta (salvo no caso de uma cópia ter sido
conservada).”
(LEJEUNE, 2008, p. 253)
•Verossimilhança = precisa de “veracidade” e autenticidade, o
texto desenvolve-se sempre em primeira pessoa.

•Voyeur = estratégia narrativa, jogo que propõe ao leitor um


vislumbre da intimidade alheia.

“E essa devassa dá fiança da veracidade dos episódios, conferindo


autenticidade às personagens, veracidade e autenticidade sem dúvida
muito atraentes como inovação em relação ao convencionalismo dos
pseudônimos e do gênero pastoril que dominavam a ficção
imediatamente anterior.” (LAJOLO, 2002, p. 64)
A CONFISSÃO
Escrita de si, testemunhal; informações
pessoais, reflexões e expressão de
sentimentos.
“Eu escrevo mais
para mim do que
para ti, e aquilo
Trata da intimidade do indivíduo, onde que procuro é
o mesmo conta a sua experiência. consolar-me”

(LP, 2004, p. 75).


Falar de si mesmo para um outro.
A presença do Outro,
singulariza o romance epistolar
UM EU QUE SE REVELA
de outros tipos de narrativas
PARA UM TU com ponto de vista similar, tais
como os diários íntimos, as
memórias e as confissões.
AS CARTAS DE
MARIANA
ANÁLISE DA OBRA
A PRIMEIRA
CARTA
RELATOS DE INTIMIDADE
• Conhece-se a intimidade de Mariana que
se rasga e mostra o seus sentimentos e
sofrimentos mais profundos;

• Localiza especificamente o narrado =


posição de Clausura do Convento da
Beja.
• Ânsia por liberdade = sente-se
aprisionada.

• Jogo de agudezas = dualidade que


caracteriza a relação com o amado.
ENTRE AMOR E RESSENTIMENTO
•O amado é caracterizado, barrocamente, de maneira
antitética;
•Meu amor (passado) x Desgraçado (presente);
•Conforme as cartas vão progredindo, o ressentimento de
Mariana aumenta e a imagem do amado fica cada vez mais
negativa.
•As cartas são escritas entre amor e ressentimento.
“POBRE MARIANA”
• Coitada = Mariana sofre a coita de amor;

• Falta-lhe o amor, sofre a ausência do


amado, enquanto recorda o passado ao
seu lado;

• Estado de espírito = desvario, abandono,


desgraça, agitação e culpa.
EXPRESSÕES SENTIMENTAIS
• O enunciado das cartas é marcado por interjeições e exclamações
– expressões que marcam o sentimentalismo exacerbado de
Mariana;
• O texto exclamativo é a marca textual de sua confissão lírica;

Ex: “Ai” = lamento;


“Adeus” = 3 vezes.
A SEGUNDA
CARTA
ABANDONO
• O descontentamento amoroso começa a se
intensificar;

• Mariana dá-se conta de seu abandono =


→ Perguntas retóricas;
→ Sabe que não terá as respostas que deseja.

• Luto pelo amor perdido = sofrimento intenso


de Mariana
• Indignação com a ingratidão do amado.
A CARTA DE AMOR -
BARTHES
• Toda carta de amor espera uma resposta
A
TERCEIRAC
ARTA
CONFISSÕES
• A terceira carta é a mais barroca das cartas;
• Tom analítico = menos dramático, exige que o amado tome uma
atitude correspondente ao que se espera de um “homem”.
• A ausência de correspondência gera do amor gera o conflito
barroco:
→ Incertezas;
→ Entre espiritualidade e sensualidade.
• Mariana assume o envolvimento físico com Chamilly = memória
erótica;
• Confessa o seu ciúme
A LINGUAGEM BARROCA DAS CARTAS
ESTADOS DE ALMA CONFLITANTES

“desespero”, “alegria”, “infeliz”, “agradáveis”, “cruéis”, etc.

FIGURAS DE LINGUAGEM

Uso de hipérboles e antíteses ao longo das cartas.

RITMO DAS CARTAS

Há uma progressão de ritmo nas cartas = a linguagem progride da loucura


(desequilíbrio emocional) à lucidez (reflexões incisivas da última carta).
A
QUARTA
CARTA
ARGUMENTAÇÃO
• Texto longo e lúcido = apresenta a
autoconsciência de seu processo de
escrita.
• Recebe notícias do amado por meio dos
outros;
• Argumentação = Mariana
contra-argumenta e desconstrói os
motivos que teriam levado o amado a
abandoná-la.
• Angústia = família e mundo tornam-se
insuportáveis.
• O sofrimento da freira é perceptível a
todos.
A
QUINTA
CARTA
ARGUMENTAÇÃO
A ÚLTIMA CARTA – “ESCREVER SOBRE
ALGUMA COISA É DESTRUÍ-LA.”
• A última carta é também a mais longa = despedida consciência;
• Não há mais esperança = Mariana sabe que o amado não retornará;
• Expressão máxima de seu ressentimento amoroso = amado agora é
o desgraçado;
• Arrependimento e vergonha = manifesta o arrependimento em ter
amado alguém que não a correspondeu;
• Sofrimento em vão = amor não correspondido;
• Mudança no discurso = contenção do transbordamento das
primeiras cartas.

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