Você está na página 1de 40

Um outro olhar sobre o

caso Israel Damman

Ellen G. White

Copyright © 2018
Ellen G. White Estate, Inc.
Information about this Book

Overview
This eBook is provided by the Ellen G. White Estate. It is
included in the larger free Online Books collection on the Ellen
G. White Estate Web site.

About the Author


Ellen G. White (1827-1915) is considered the most widely translated
American author, her works having been published in more than 160
languages. She wrote more than 100,000 pages on a wide variety of
spiritual and practical topics. Guided by the Holy Spirit, she exalted
Jesus and pointed to the Scriptures as the basis of one’s faith.

Further Links
A Brief Biography of Ellen G. White
About the Ellen G. White Estate

End User License Agreement


The viewing, printing or downloading of this book grants you only
a limited, nonexclusive and nontransferable license for use solely
by you for your own personal use. This license does not permit
republication, distribution, assignment, sublicense, sale, preparation
of derivative works, or other use. Any unauthorized use of this book
terminates the license granted hereby.

Further Information
For more information about the author, publishers, or how you
can support this service, please contact the Ellen G. White Estate
atmail@whiteestate.org. We are thankful for your interest and
feedback and wish you God’s blessing as you read.
i
ii
Contents
Information about this Book ........................................................... i

iii
iv Um outro olhar sobre o caso Israel Damman
por Tiago R. Nix
Uma palestra proferida durante a Cúpula de Ellen G. White
realizada no Avondale College, Cooranbong, N.S.W., Austrália, de
2 a 5 de fevereiro de 2004.
Eu ainda lembro da minha surpresa quando li a notícia da prisão
de Israel Damman (Dammon, ou Damon)1 em Atkinson, Maine,
reportada no jornal Piscataquis Farmer do dia 7 de marco de 1845 e
reimpressa na revista Spectrum em agosto de 1987.2 Eu relembro
indagando-me sobre o significado de tudo isso. Não me importei
muito a respeito de Israel Damman, a pessoa em questão, nem tão
pouco sobre Dorinda Baker, alguém que eu nunca tinha ouvido falar
antes. Meus questionamentos giraram em torno de Ellen Harmon
(White), e em menor grau, Tiago White. O que eles estavam
fazendo lá no meio daquela confusão terrível? E porque Ellen estava
deitada no chão durante uma visão? – certamente, esta não é a forma
que eu tenho visto ela ser retratada nas pinturas artísticas de várias
publicações da nossa denominação. As discussões que se seguiram
entre diversos historiadores adventistas após o relato do caso na
revista Spectrum responderam algumas das minhas questões,3
entretanto, hoje tenho uma visão radicalmente diferente da que
eu tinha, pelo menos em parte, do começo do ministério de Ellen
White e que não se encaixa na minha zona de conforto.
Embora eu não possa lhes dizer que eu tenho resolvidas todas as
questões que alguém possa levantar acerca de Damman e o que
aconteceu em Atkinson, Maine, eu posso dizer que após ter gastado
um tempo considerável lendo e relendo o relato do jornal sobre este
caso, bem como analisando outras informações pertinentes ao
período da notícia, eu acredito que agora tenho um entendimento
bem melhor das circunstâncias envolvendo os eventos ocorridos há
muito tempo atrás.
Antes de olhar em detalhes alguns pontos levantados acerca do
evento em questão, deixe me dar uma visão breve da vida de
Damman. Ele nasceu em 18114 e morreu em 1886.5 Um batista de
livre arbítrio que se tornou pregador milerita,6 Damman associou-se
brevemente, depois de 1844, com Ellen Harmon e Tiago White no
1Endnotes Spelled variously: Damman, Dammon, or Damon.
2Spectrum, vol.17, no. 5, [Aug. 1987], 29-36.
3Ibid., 37-50.
4Ancestry.Com: “Israel Damon.”
5The World’s Crisis, Nov. 24, 1886, 90.
6Ibid., Dec. 15, 1886, 102.
Contents v

Maine. Mais tarde, se tornou um ministro cristão adventista (não


Adventista do Sétimo Dia).7 De acordo com Isaac Wellcome,
Damman era lembrado como “um dos mais barulhentos e
inconsequente dos homens” cujas pregações eram “especialmente
marcadas por gritos e pulos”8 Em 1838 ele casou-se com Lydia
Rich; 9 eles tiveram pelo menos três filhos. 10
O primeiro contato registrado de Damman com Ellen e Tiago
ocorreu em Exeter, Maine, no início de fevereiro no ano de 1845.11
Aparentemente, com base na visão de Ellen do “Noivo” dado a
ela lá, Damman aceitou o desdobramento do entendimento da
Porta Fechada.12
De Exeter, Tiago e Ellen viajaram com Damman para
Atkinson.13 Lá, no sábado à noite do dia 15 de fevereiro de 1845
Damman foi preso quando se encontrava em uma reunião na casa de
Tiago Ayer Jr,.14 Um artigo de jornal relatou as atividades de várias
pessoas presentes na reunião daquela tarde incluindo Tiago e
Ellen,15 embora Damman tenha sido a única pessoa a ser julgada.
7Wellcome, Isaac, History of the Second Advent Message and Mission, Doctrine and

People, Yarmouth, ME, 1874, p. 350; The World’s Crisis, December 15, 1886, 102.
8Wellcome, Ibid.; See also G. H. Wallace, “Memories of Israel Damman,” The

World’s Crisis, January 24, 1904, 14; and Ellen G. White to J. N. Loughborough, August
24, 1874,Letter 2, 1874, p. 7.
9Ancestry.Com: “Israel Damon.”
10U.S. Federal Census; 1850, Penobscot County, Corinna Township, Maine, 65; U. S.

Federal Census, 1860, Piscataquis County, Sangerville, Maine, 929.


11Israel Dammon, “Letter from Bro. Dammon,” The Jubilee Standard, June 5, 1844,

104.
12
Israel Dammon, “Letter from Bro. Dammon,” The Jubilee Standard, June 5, 1844,
104; Ellen G. White to Joseph Bates, July 13, 1847,Letter 3, 1847; Merlin Burt, The
Historical Background, Interconnected Development, and Integration of the Doctrines
of the Sanctuary, the Sabbath, and Ellen G. White’s Role in Sabbatarian Adventism
from 1844 to 1849, Ph.D. diss, Andrews University Seventh-day Adventist Theological
Seminary, December 2002, 131.
13Burt, Ibid.
14
“Trial of Elder I. Dammon: Reported for the Piscataquis Farmer,” Piscataquis
Farmer [Dover, Maine], March 7, 1845, 1; Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860,2:40, 41.
15“Trial of Elder I. Dammon: Reported for the Piscataquis Farmer,” Piscataquis

Farmer, March 7, 1845, 1, 2 (all citations to the report by the newspaper reporter for the
Piscataquis Famer will be from the reprint edited by Frederick Hoyt, “Trial of I. Dammon
Reported for the Piscataquis Farmer,” Spectrum, vol. 17, no. 5 [August 1987], 29-36.)
For this reference, See Hoyt 32, testimony of Tiago Ayer, Jr., starting toward bottom of
col. 1; “The Horrors of Millerism: Trial of Israel Dammon,” Eastern Argus [Portland],
March 13, 1845; “The Fruits of Millerism,” New-York Observer, March 22, 1845, 47.
vi Um outro olhar sobre o caso Israel Damman

Apesar das tentativas de localizar as transcrições originais do


tribunal, o único relato encontrado da época encontra-se no Jornal
Piscatacquis Farmer datado do dia 7 de março de 1845. O relator
afirma que ele tinha “resumido... [o] testemunho” tendo “omitido...
as partes menos importantes, [...] mas [tinha] se esforçado para que
de forma alguma deturpasse” nenhuma das testemunhas.16
Damman foi indiciado por ser “uma pessoa vadia e ociosa, [...]
indo para... as cidades... pedindo: ... nas ferrovias, ou
(brigando/gritando), negligenciando suas obrigações, ou emprego,
gastando mal os seus ganhos, e... não provendo o sustento para si
mesmo [ou] para a família.” 17 Conforme todos os relatos a reunião
daquele sábado à noite foi muito barulhenta.18 O propósito
declarado da reunião era para que Ellen Harmon e Dorinda Baker,
uma outra visionária, pudessem compartilhar suas visões.19
Apesar de não estarem em julgamento, as atividades de
Ellen, Tiago e Dorinda geraram uma discussão considerável,
tanto por testemunhas de acusação, quanto de defesa.20
Damman, durante a sua própria defesa, conforme resumido no
jornal, não mencionou nenhum dos três. 21
Dorinda era conhecida de várias testemunhas de defesa, embora
nenhuma conhecesse Ellen anteriormente. 22 Apesar disso, várias
16Hoyt, op cit., 29. See opening comments in bottom of col. 1 and top of col. 2..
17Ibid., See comments in bottom of col. 2 and top of col. 3.
18Ibid., 30. See testimony of prosecution witness William C. Crosby, Esq. at top of

col. 2; Ibid., 31. See testimony of prosecution withnesss Dea. Tiago Rowe in middle of
col. 2; Ibid., 31. See testimony of prosecution witness Joseph Mou2lton [arresting sheriff]
toward bottom of col. 3; testemunha de defesa Joel Doore lembrou “naquele sábado à
noite não havia um décimo do barulho que geralmente há nas reuniões que eu
frequento.” Ibid., 33. See testimony of Joel Doore about three fifths way down col. 2.
19Ibid., 30. See testimony of prosecution witness Loton Lambert toward top of col
3;
Ibid., 32. See testimony of Tiago Ayer, Jr., about four-fifths way down col. 2; Ibid., 34.
See testimony of Joshua Burnham about halfway down col. 2.
20
Ibid., embora nem sempre concordando, várias testemunhas de acusação e defesa
discutem as atividades de Ellen Harmon e Dorinda Baker ao longo de todo relatório do
julgamento. 21Ibid., 35. See comments of Prisoner [Israel Damman] in bottom of col. 2
and top of col. 3.
22Ibid., 32. See testimony of Tiago Ayer, Jr. under cross examination in lower half

of col. 2; Ibid., 33. See testimony of Jacob Mason about one-third down col. 1; Ibid.,
See testimony of Joshua Burnham in middle of col. 2. Não é surpresa que algumas
testemunhas conhecessem Dorinda Baker, mas nenhuma conhecia Ellen Harmon.
Atkinson fica a apenas 56 km de Orrington, Maine, onde Dorinda morava, mas, a 264
km de Portland Maine, cidade natal de Ellen.
Contents vii

afirmaram acreditar nas visões de ambas as mulheres.23 Uma das


testemunhas de acusação pareceu particularmente hostil a Ellen,
afirmando que ela era chamada de “imitação de Cristo,” algo
negado por todas as testemunhas de defesa que falaram sobre o
caso.24
Também ocorreram diferenças em relação as descrições das
atividades de Dorinda naquela tarde. Durante parte do tempo ela
estava nos cômodos do fundo fazendo “barulho”. Alguns
afirmaram que homens estavam no quarto com ela, incluindo
Tiago White, embora tais acusações foram fortemente negadas
pelas testemunhas de defesa. Foi confirmado depois que outros
homens, em vez de Tiago, foram para o quarto para ajudar
Dorinda durante seu “exercício”.25 O único acordo entre as
testemunhas dizia respeito ao que Ellen fez naquela noite. Todos
afirmaram que, durante a visão, ela ficou deitada quieta no chão,
exceto quando ela se sentou para relatar a visão.26
A principal mensagem de Dorinda foi para um homem que ela
afirmava estar pensando mal dela.27 Em contraste, todos os
23Ibid., 33. See testimony of Joel Doore cross examined toward bottom of col. 2;
Ibid., 33. See testimony of George S. Woodbury about four fifths down col. 3.
24Ibid., 30. See testimony of prosecution witness Loton Lambert about one third

down col. 3; Ibid., 32. See testimony by Tiago Ayer, Jr. at bottom of col. 1 refuting
Lambert. Ibid., 32. See cross examination testimony of Tiago Ayer, Jr. in middle of col.
2; Ibid., 32. Also See testimony of defense witness Isley Osborn toward middle of col.
3; Ibid., 34. See testimony of defense witness John Gallison in middle of col. 1.
25Ibid., 30, 31. See testimony of Loton Lambert at bottom of col. 3 on p. 30, and top

of col. 1 on p. 31; Ibid., 32. See testimony of Tiago Ayer, Jr. top of col. 2; Ibid., 33. See
testimony of Jacob Mason in col. 1; Ibid., 33. See testimony of George S. Woodbury
toward bottom half of col. 3; Ibid., 34. V See eja testimony of Abel S. Boobar starting at
bottom of col. 1 and continuing at top of col. 2; Ibid., 34. See Loton Lambert re-
examined at bottom of col. 3; Ibid., 34, 35. See testimony of Leonard Downes re-
examined at bottom of col. 3 on p. 34, and top of col. 1 on p. 35; Ibid., 35. See
testimony of Thomas Proctor re-examined toward top of col. 1; Ibid., 35. See testimony
of A. S. Bartlett, Esq. re-examined about middle of col. 1; Ibid., 35. See testimony of
Levi M. Moore about middle of col. 2; Ibid., 35. See testimony of Joel Doore, Jr. about
middle of col. 2; Ibid. 35 See testimony of J. Boobar just over half-way down col. 2.
26
Ibid., 30. See several places in testimony of Loton Lambert in col. 3; Ibid., 31. See
cross examination of Loton Lambert in middle of col. 1; Ibid., 32. See testimony of Job
Moody at bottom of col. 2; Ibid., 32. See testimony of Isley Osborn about middle of col.
3; Ibid., 33. See testimony of Jacob Mason in middle of col. 1; Ibid., 33. See testimony of
Joel Doore top of col. 2; Ibid., 34. See testimony of John Gallison about one-third down
col. 1; Ibid.,
27Ibid., 31. See testimony of Loton Lambert at top of col. 1; Ibid., 32. See testimony

of Tiago Ayer, Jr/in top third of col. 3; Ibid., 33. See testimony of Joel Doore in col. 2.
viii Um outro olhar sobre o caso Israel Damman

comentários de Ellen tinham um senso de urgência para eles.28


Devido à crença do grupo de que Jesus voltaria dentro de dias,29 foi
relatado que Ellen instou vários a serem batizados naquela noite, em
vez de arriscarem ir para o “inferno”,30 uma palavra possivelmente
usada pelo repórter para resumir os comentários de Ellen, já que em
nenhum outro lugar de seus escritos ela usa uma linguagem tão
forte.31 Curiosamente, apesar de estar em meio de todas as
atividades extremamente fanáticas naquela tarde, nem uma vez
Ellen ou Tiago demonstraram estar envolvidos.
Os relatos contrastantes dados pelo repórter do jornal e por
Ellen White sobre a prisão de Damman naquela noite são
interessantes. O jornal reportou que o xerife pediu reforços duas
vezes para remover Damman da reunião.32 Em contraste, Ellen
White mais tarde relembrou que apesar de doze reforços, o xerife
não pôde remover Damman até que o poder de DEUS o liberasse.33
Apesar dessas diferenças não resolvidas no livro Spiritual Gifts
número dois, cinco testemunhas atestam a exatidão do relato de
Ellen White sobre a prisão de Damman. 34 No tribunal,
aparentemente sua condenação acabou sendo anulada. 35
28Ibid.,31. See testimony of Loton Lambert several places in col. 1; Ibid., 33. See
testimony of Isley Osborn cross examined about two thirds down col. 3; Ibid., 33. See
testimony of George S. Woodbury toward bottom of col. 3; Ibid., 34. See testimony of
John Gallison cross examined about two thirds down col. 1.
29
Ibid., 30. See testimony of prosecution witness J. W. E. Harvey about half way
down col. 1; Ibid., 31. Ver comentário de Ebenezer Trundy no topo da coluna. 3
descrevendo a declaração de Damman de que o Sr. Boobar “deve viver daqueles que
tem propriedades e se Deus não vier, todos devemos trabalhar juntos”;: Ibid., 33. See
testimony of George S. Woodbury about three fifths down col. 3; Ibid., 35. See
testimony of Prisoner [Israel Damman] toward top of col. 3.
30Ibid., 30. See testimony of Loton Lambert about half way down col. 3; and at

bottom of col. 3; Ibid., 32. Veja o exame cruzado do testemunho de Isley Osborn
apenas um pouco mais abaixo.; Ibid., 33. See testimony of George S. Woodbury toward
bottom of col. 3.
31
“Hell,” The Complete Published Writings of Ellen G. White, See also Ellen G.
White to J. N. Loughborough, August 24, 1874, Letter 2, 1874, p. 1; and Robert W. Olson
to “The White Estate Board of Trustees, White Estate Staff, Research Center Directors,”
October 5, 1987, revised, October 21, 1987, 3, 4.
32Hoyt, op cit., 31. See testimony of Joseph Moulton [arresting sheriff] in middle of

col. 3.
33Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860,2:40, 41; Ellen G. White, “Notes from a Talk

with Mrs. E. G. White, Dec. 12, 1906,” EGWE-GC, DF 733-c, 2 (3).


34Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860, 2:302.
35Israel Dammon, “Letter from Bro. Dammon,” The Jubilee Standard, June 5, 1845,

104.
Contents ix

Logo após retornarem para Portland, Tiago e Ellen, junto com Israel
Damman e outros, reuniram-se na casa de Stockbridge Howland em
Topsham. Lá, Damman esteve envolvido com a cura de Frances, filha de
Howland, que sofria de febre reumática.36
A edição de 3 de abril de 1845 de The Morning Watch, um jornal
milerita, alertou os adventistas contra “Israel Dammon e John Moody,
dois homens casados, e a Srta. DORINDA BAKER” que viajavam juntos
para lugares diferentes “ensinando extravagâncias repugnantes”. Foi feita
referência ao fato de que “o julgamento de Dammon... no Maine, foi
relatado em todos os jornais.”37
Mais ou menos na mesma época, Damman foi novamente preso por
causa de duas outras reuniões barulhentas realizadas em Garland.
Aparentemente, nem Ellen nem Tiago estavam presentes, embora Dorinda
tenha sido mencionada em um mandado. No entanto, ela não foi listada
para comparecer perante o juiz de paz no dia seguinte.38
Mais tarde, naquele ano, Ellen e Tiago encontraram Damman em
Garland. Ellen se lembraria que lá ela teve que se opor ao fanatismo de
Damman. Como resultado, ele rejeitou os testemunhos dela e se tornou
seu “inimigo”. Entre outras coisas, Damman acreditava que Jesus já tinha
retornado e os mortos já haviam ressuscitado espiritualmente.39 Damman
também, de acordo com rumores, guardou rancor por anos em relação a
Tiago White por causa de uma carta que White o escreveu e ele
considerou o conteúdo muito forte. Também envolvido no mal-entendido
estava a carta subsequente de White.40
A última vez que Ellen e Tiago, aparentemente, viajaram com
Damman, José Bates estava presente. Miraculosamente, o emprestado
“potro parcialmente domado” que Tiago estava dirigindo ficou
completamente parado durante todo o tempo em que Ellen estava em
visão, apesar de Tiago ter tentado fazê-lo prosseguir por diversas vezes.41
36Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860,2:42, 43.
37“Warning to Adventists,” The Morning Watch, April 3, 1845, 111.
38“State vs Damon,” Penobscot County Court Records, April 8, 1845, April 25, 1845, and

April 26, 1845. Damon states that he been in court five times. See Israel Dammon, “Letter
from Bro. Dammon,” The Jubilee Standard, June 5, 1845, 104.
39Ellen G. White to J. N. Loughborough, August 24, 1874,Letter 2, 1874, pp. 6, 7, 9.
40Defense of Elder Tiago White and Wife. Vindications of their Moral and Christian

Character, 1870, 109-111.


41J. N. Loughborough, Rise and Progress of the Seventh-day Adventists, Battle

Creek, Mich.: General Conference of Seventh-day Adventists, 1892, 129, 130; W. C. White to
Mrs. Mabel Workman, July 23, 1937, 1, 2.
x Um outro olhar sobre o caso Israel Damman
A data precisa dessa história é desconhecida, embora
aparentemente tenha ocorrido depois que os Whites estavam casados.
Isso aparece mais tarde, no entanto, dados os próprios comentários de
Ellen sobre suas interações com Damman.
Em meados da década de 1870 os adventistas guardadores do
domingo lançaram diversos ataques contra Ellen White. Em um
deles, Damman afirmou que em visão, anos antes, ela tinha visto ele
“coroado no reino de Deus”, mas depois ela o viu “perdido.” 42
Embora reconhecendo tendo visto ele e outros no caminho em
direção ao reino, Ellen White relembra advertindo-os “...[para não] se
tornarem exaltados, afim de não perderem as coroas que fora um
privilégio ganhar”.43
Deste modo, encerro a minha breve biografia sobre Israel Damman.
Vamos agora examinar cuidadosamente alguns detalhes envolvidos nos
eventos daquela noite de sábado em Atkinson ocorridos muito tempo
atrás, e o julgamento que se seguiu dois dias depois. O contexto daquela
noite incluía a passagem do tempo em 22 de outubro de 1844, quando
Cristo não voltou como esperado pelos adventistas mileritas, seguido
algumas semanas depois pela primeira visão de Ellen Harmon-White em
algum momento de dezembro de 1844. Depois de compartilhar sua visão
com o grupo do Advento em Portland,44 um pouco mais tarde - no final
de janeiro de 1845, Ellen cavalgou em um trenó aberto com seu
cunhado, Samuel Foss, aproximadamente 30 milhas (45 km) para a casa
de sua irmã em Portland Maine. Estando em Portland, Ellen levou quase
duas horas para compartilhar sua visão,45 provavelmente na casa de John
Megquier. 46
Voltando a Portland, em poucos dias ela entrou em visão outra vez,
sendo instruída a compartilhar o que lhe foi mostrado.47 A primeira
oportunidade que se apresentou foi quando William Jordan e sua irmã
convidaram Ellen para viajar com eles para Orrington, no leste do
Maine. O Sr. Jordan precisava devolver um cavalo ao seu dono, um
42Miles Grant, The True Sabbath. Which Day Shall We Keep? An Explanation of Mrs.
Ellen G. White’s Visions, Boston: Advent Christian Publication Society, 1874, 70.
43Ellen G. White, “Statement Regarding Israel Dammon,” circa 1876,Manuscript 7,

1876.
44Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860,2:35.
45Ellen G. White, Life Sketches, 1915, 72; Arthur L. White, Ellen G. White: the Early

Years 1827-1862, 65.


46Letter from John Megquier quoted by Miles Grant in “Visions and Prophecies,” The

World’s Crisis, July 1, 1874. Megquier’s name is variously spelled Megquier, McGuire, and
Macguire.
47Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860,2:35.
Contents xi
jovem ministro adventista chamado James White.48 Aparentemente, Ellen
juntou-se a James e alguns outros que viajaram de Orrington para Garland
e depois para Exeter, realizando reuniões em cada lugar enquanto
viajavam. Como observado anteriormente, foi em Exeter que Damman
viveu,49 e que Ellen Harmon e Tiago White o encontraram pela primeira
vez.50
Ellen teve sua segunda grande visão quando estavam em Exeter; Essa
foi a visão do Noivo.51 Como já mencionado, foi essa visão que
confirmou Damman, assim como James e Ellen em sua crescente
compreensão do significado do que havia acontecido em 1844.52 Foi
também aqui em Exeter que Ellen lembrou de ter pela primeira vez
denunciado alguns fanáticos.53
Que tipo de fanatismo Ellen e Tiago enfrentaram, não apenas em
Exeter, mas também em outros lugares em Maine durante os meses que se
seguiram? Uma vez que este não é um artigo sobre fanatismo per se, eu
não irei desviar muito. Mas, da perspectiva de Ellen, “fanatismo” incluiria
não trabalhar, rastejar e engatinhar, familiaridade indevida entre homens e
mulheres, mesmerismo, lava-pés misturados entre homens e mulheres,
beijar os pês, falsos visionários, tocar em fogões quentes para provar que
não seria queimado, etc. Diversas testemunhas de acusação no julgamento
de Damman também incluíram como parte do fanatismo toda lavagem de
pés, o beijo santo, rebatismo e gritos como parte da adoração.
48Arthur L. White, Ellen G. White: the Early Years 1827-1862, 69; mais tarde, Ellen White
se recordaria que esta foi a primeira vez que ela viu James White. See Spiritual Gifts,
1860,2:38; Life Sketches. Ancestry, Early Life, Christian Experience, and Extensive Labors,
of Elder Tiago White, and His Wife, Mrs. Ellen G. White, 1880, 197; Life Sketches, 1915, 73.
Entretanto, James White se recorda encontrando Ellen White dois anos antes quando ele estava em
Portland, Maine. See Life Sketches, 1880, 126; Arthur L. White, Ibid., 71. Perto do fim de sua
vida, em uma entrevista datada de 12 de dezembro de 1906, Ellen White relembrou: “Fui
apresentada a Tiago White pelos Pearsons em Portland”. White Estate Document File 733-c.
49Frederick Hoyt, ed., “Trial of Elder I Dammon Reported for the Piscataquis Farmer,”

Spectrum, vol. 17, no. 5 [Aug. 1987], p. 33, col 1. See testimony of witnesses Abraham Pease
and Gardner Farmer.
50Israel Dammon, “Letter from Bro. Dammon,” The Jubilee Standard, June 5, 1844,

104.
51Burt, op cit., 130; See also Arthur L. White, op cit., 78.
52
Israel Dammon, “Letter from Bro. Dammon,” The Jubilee Standard, June 5, 1844, 104;
Ellen G. White to Joseph Bates, July 13, 1847,Letter 3, 1847; Burt, op cit., 131.
53Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860,2:39, 40; Arthur L. White, op cit., 77.
xii Um outro olhar sobre o caso Israel Damman
Visto que rastejar e engatinhar foram mencionados por várias
testemunhas, deixe-me descrevê-los brevemente. Como parte de
uma tentativa sincera de seguir as instruções de Cristo de que Seus
seguidores deveriam se tornar como criancinhas,54 após a decepção
de 22 de outubro, vários adventistas mileritas no Maine, em vez de
caminhar, começaram a engatinhar por onde quer que fossem.
Relatos chegaram até nós um pouco mais tarde, em 1845, a respeito
de alguns em Paris, Maine, que participaram dessa forma de
fanatismo. Cyprian Stevens rastejou na frente de uma carruagem
cheia de passageiros. Os cavalos ficaram assustados, quase
derrubando a carruagem. O motorista ficou tão zangado que
“entregou as rédeas a um homem que estava sentado ao lado dele,
pulou com o seu chicote e deu no irmão Stevens todo o benefício
disso. Um olho muito inchado, rosto inteiro roxo como também o
seu corpo”.55
Em outra ocasião, um irmão, Lunt, estava engatinhando na
ponte na mesma cidadezinha. “Um homem chamado Townsend
agarrou-o pelos cabelos da cabeça, jogou-o por cima do parapeito da
ponte intencionando jogá-lo nas rochas nas águas mais profundas.
Ele foi salvo pelo escritor da carta, um adolescente na época, que
“pegou Townsend, pela cauda do casaco, dizendo: Deixe-o em paz,
ele pensa que está certo, e não é da sua conta se ele anda ou rasteja”.
Ao visitar Paris durante o verão de 1845, perguntaram a Ellen
se ela achava que era seu dever rastejar. Ela disse-lhes com toda a
certeza que não era. Assim que ela parou de falar, um irmão idoso
que estava presente disse,

Se o homem foi feito para andar ereto, a serpente foi feita para
rastejar. Por que imitar a coisa odiosa que introduziu a queda?56

Além de rastejar, havia também falsos visionários. Deixe-me


compartilhar apenas um incidente desta época sobre a maneira
prática que Ellen tratou de fazer com que um falsa visionária saísse
da visão. Muitos anos depois do evento, ela relembrou seu conselho:

54Matthew 18:1-6.
55M.C. Stowell Crawford, “Extracts from Letter of M S Crawford to WCW,” attached
at end of her letter to Ellen G. White, dated October 9, 1908, DF 439.
56Fragment of interview with Ellen G. White, ca. 1906, DF 733-c.
Contents xiii
“Pegue uma jarra de água fria, uma boa água fria, e
jogue bem no rosto dela, isso a trará fora disso mais
rápido do que qualquer coisa que você possa fazer.”
Antes mesmo que a água tivesse sido trazida a visionária57 já
tinha saído da visão!58
A questão que naturalmente surge é porque Ellen e Tiago
estariam se encontrando e tentando ministrar para pessoas com
visões tão estranhas e fanáticas. O fato é que eles eram os únicos no
meio dos pioneiros Mileritas que ainda colocavam alguma
validação na data de 22 de outubro de 1844.59 Adicionalmente, estes
fatos ocorreram em algum momento mais tarde em 1845 antes de
DEUS realmente enviar Ellen a um local para confrontar
fanatismo.60
De Exeter, o grupo se moveu para Atkinson, a reunião e
subsequente prisão de Israel Damman ocorreu no final da noite de
sábado ou no início da manhã de domingo, entre 15 e 16 de
fevereiro de 1845.
A esta altura, existem diversos caminhos que alguém poderia
tomar para analisar os eventos daquela noite incluindo a
subsequente prisão de Damman. Nós poderíamos revisar as
descrições daqueles eventos dadas pelos críticos de Ellen White.
Com todo carinho, existem bastantes websites por aí que já fazem
isso, considero que fazer a mesma coisa seria apenas perda de
tempo!
Da mesma forma, achei fascinante um estudo das comparações
entre Ellen Harmon e Dorinda Baker naquela noite, incluindo as
suas ações e visões. Várias testemunhas disseram que aceitaram as
visões de ambas as mulheres como sendo de Deus. No entanto,
57Probably either Dorinda Baker or Mary Hamlin, See M. C. Stowell Crawford
letter to Ellen G. White, October 9, 1908, 5, DF 439; See also Merlin Burt, op cit.,
2002, 148.
58
Portion of Ellen White interview, ca. 1906, 5, DF 733-c.
59Herbert E. Douglass, Messenger of the Lord, 1998, 474. See top half of col. 1.
60 Embora Ellen White relembre especificamente tendo que lidar com uns poucos

fanáticos em Exeter Maine, no início de fevereiro, 1845 [see Spiritual Gifts, 1860,
2:39,40], e outra vez em curto período de tempo mais tarde com um pequeno grupo de
fanáticos em Claremont, New Hampshiire [Ibid.,46-48], parece que foi em Springfield,
New Hampshire, que foi dada a ela a primeira visão instruindo-a, especificamente,
acerca do opróbio que o fanatismo estava trazendo para a causa de DEUS, e que ela
deveria retornar para Maine para dar o seu testemunho contra isso. [See Ellen G.
White, unpublished Life Sketches Manuscript, 126, 127].
xiv Um outro olhar sobre o caso Israel Damman
parece-me haver algumas diferenças muito óbvias entre elas
naquela noite; eu poderia ser tentado a resumir o que vejo como
sendo esses paralelos e diferenças.61 No entanto, não acho que seja
exatamente isso que se espera de mim nesta apresentação.
Ao invés disso, eu quero dar um ponto de vista alternativo
sobre os acontecimentos daquela noite acerca de Israel Damman
dando um outro olhar sobre o que a reportagem do jornal diz e o
que não diz no relato desse caso. É lamentável que a transcrição
completa da (corte, tribunal, justiça) não tenha sido encontrada.
Sem isso, nós nunca saberemos com certeza o que foi realmente
dito pelas várias testemunhas. Eu digo isso porque quanto mais se lê
e relê o que está atestado no Piscataquis Farmer, mais intrigado e
frustrado você fica ao perceber o tanto que está faltando. Por
61
Paralelos óbvios incluem: 1. Diversas testemunhas atestaram que a reunião de
sábado à noite foi realizada para que ambas, Ellen Harmor e Dorinda Baker pudessem
relatar as suas visões [Loton Lambert 30, col. 3; James Ayer, Jr., 32, col. 2; Joshua
Burnham, 34, col. 2]. 2. Diversas testemunhas de defesa acreditaram que a visão das
duas mulheres era genuínas [Joel Doore, 33, col. 2; George S. Woodbury, 33, col. 3].
3. O conteúdo das mensagens das duas mulheres foi descrito por vários receptores
como sendo preciso [James Ayer, Jr., 32, col. 2; Joel Doore, 32, col. 2; Isley Osborn,
32, col. 3; Jacob Mason, 33, col. 1; George S. Woodbury, 33, col. 3]. 4. As duas
mulheres caíram no chão ao entrar em visão [Isley Osborn, 32, col. 3]. 5. Pelo menos
durante parte da noite as duas mulheres estavam deitadas no chão [James Ayer, 32,
cols. 1 and 2; Joel Doore, 33, col. 2; todas as testemunhas que disseram alguma coisa
sobre isso, concordaram que Ellen Harmon se deitou no chão naquela noite].
Diferenças óbvias incluem: 1. O local onde as duas mulheres passaram aquela noite.
Todos concordam que Ellen se deitou no chão, enquanto Dorinda gastou parte da noite
no quarto dos fundos, embora mais cedo ela também tenha deitado no chão. 2. A
descrição do comportamento das duas mulheres enquanto estavam em visão também
diferem. Ellen se deitou no chão silenciosamente onde poderia ser observada por
todos; Dorinda por outro lado esteve parte do tempo nos quartos do fundo onde ela
fazia algum tipo de “exercício”. 3. Embora várias testemunhas de defesa tenham
declarado a sua crença acerca da genuinidade da visão de ambas as mulheres, somente
quando descrevem especificamente as visões de Ellen que elas atribuem as visões dela
a DEUS. Reconhecidamente, este é um argumento do silêncio, mas eu acho curioso o
fato de que ninguém fez observação semelhante quando falando especificamente sobre
as visões(s) de Dorinda. 4. Aparentemente, naquela noite, Dorinda Baker teve apenas
uma mensagem visionária. Era para Joel Doore. Por outro lado, Ellen Harmon,
reportadamente, teve várias. Também, o propósito das mensagens das visões parece ter
sido de alguma maneira diferente. Pode-se sentir uma urgência nas visões de Ellen que
parece não estar presente na única mensagem de Dorinda para Doore. Da mesma
forma, quando olhamos para o conteúdo das mensagens, todas as de Ellen envolviam
alguns aspectos da salvação eterna de uma pessoa, não é assim com Dorinda. Ela
parecia estar preocupada porque Doore pensava “mal” dela. 5. Embora Dorinda foi
descrita como estando envolvida tanto em barulho como em beijo entre os sexos, com
a única exceção do apelo de Ellen para o rebatismo de alguns, nenhuma das
testemunhas descrevem ela como estando envolvida em qualquer uma das atividades
fanáticas acontecendo naquela noite: rastejar, engatinhar, lava pés misturados, beijo
nos pês, beijos entre os sexos, etc..
Contents xv
exemplo, pelo menos um website crítico cita um artigo de William
F. Sprague que cita uma carta escrita por James D. Brown
relembrando James Stuart Holmes, o primeiro advogado do no
distrito de Piscataquis, e o advogado que representou Israel
Damman durante o julgamento dele. De acordo com as lembranças
de Brown, no julgamento de Damman, Holmes argumentou
“eloquentemente... pela liberdade religiosa, tolerância e o direito de
cada pessoa de adorar a DEUS de acordo com os ditames da sua
própria consciência...’ 62 Na reportagem do jornal sobre o caso, não
há um único indício sequer de que tal argumento tenha sido feita
por Holmes.
Uma outra razão para expressar minha preocupação em relação ao
registro da reportagem do jornal acerca do julgamento de Damman
é que, se minha experiência reconhecidamente muito limitada com
repórteres é um indicador do que acontece no mundo do jornalismo,
o que todos nós lemos nos jornais ou ouvimos no rádio e televisão,
é na melhor das hipóteses uma aproximação do que realmente
ocorreu. Tendo dito isto, não estou de forma alguma impugnando
ou contestando a honestidade ou integridade do relato do jornal
escrito há muito tempo atrás. Mas é importante lembrar os
comentários iniciais do repórter para qualquer uma das testemunhas
que lessem a reportagem: “Eu tenho abreviado o seu testemunho ao
máximo possível e omiti muito das partes menos importantes... mas
[Eu] me esforcei para que de forma alguma eu deturpasse você.”
Ele continuou dizendo aos leitores “A maioria dos testemunhos foi
extraída do interrogatório e eu omiti as perguntas em todos os casos
em que poderiam ser dispensadas para encurtar o trabalho. Para
todos, eu ofereço esta matéria como um relatório imperfeito e
imparcial. Em consequência da minha total inexperiência, sendo
apenas eu um trabalhador dedicado...” Ele concluiu dizendo que a
única razão para elaboração do relatório foram as inúmeras
solicitações que recebeu para fazê-lo.63
Relembrar o motivo do julgamento poderá também ajudar-nos a
entender melhor porque certas questões foram feitas, e outras
aparentemente não foram. Damman foi preso porque foi acusado de
não trabalhar, desta forma, arriscando o governo local de ter a
responsabilidade de sustentá-lo. De acordo com as leis do Maine da
época, cada cidade era responsável pelos seus indigentes, e alguns
62John Francis Sprague, Sprague’s Journal of Maine History, X, January 1922 to
January 1923, 4.
63Hoyt, op cit.., 29. See cols. 1 and 2.
xvi Um outro olhar sobre o caso Israel Damman
dos cidadãos de Atkinson não queriam arriscar ter que sustentar
Damman.64 O fato de testemunhas de acusação e defesa afirmarem
que Damman exortava as pessoas a não trabalharem agravou
bastante o seu caso. Com certeza Damman acreditava que o Senhor
estava retornando dentro de dias ou semanas,65 na melhor das
hipóteses, então, na sua visão eles tinham o bastante para viver até o
fim do mundo.66 De fato, uma testemunha de acusação até afirmou
que Damman havia dito que “Se DEUS não retornou então nós
todos devemos ir para o trabalho juntos.” 67 Mas, esse tipo de
pequeno detalhe foi negligenciado pela corte.
E necessário também lembrar que foi Israel Damman quem
estava sendo julgado, não Ellen Harmon, Tiago White, ou Dorinda
Baker. De fato, não existe evidência alguma de que Ellen, Tiago ou
Dorinda estivessem presentes durante o julgamento.
Com esse pano de fundo geral, vamos começar analisando
várias situações naquela noite. Para começar, reconheço que sou
um apologista de Ellen White. Entretanto, tendo dito isto, eu penso
existir motivos suficientes baseados uma interpretação razoável
das evidências disponíveis, para se chegar a conclusões
alternativas e confiáveis a despeito das reiteradas acusações dos
críticos de Ellen White contra ela.
Minha primeira observação tem a ver com a impressão geral
que alguém recebe quando inicialmente ler no relato do jornal
que tudo naquela noite foi uma confusão geral. O leitor
adventista de hoje não pode deixar de se perguntar como Ellen e
Tiago devem ter se sentido cercados de tanto barulho e comoção.
Com todo carinho, o que aconteceu naquela noite provavelmente
não soou tão estranho para Ellen. Sua família era metodista, e as
vezes chamada de “metodistas gritantes.” Mais tarde, ela se
lembraria de um incidente dessa época que envolveu sua mãe em
Portland.
“[Em] uma tarde um policial foi enviado para nos
visitar, enquanto alguns dos nossos vizinhos levantaram as
suas janelas para ouvir o resultado. Meu pai estava fora
64Ibid.,
32. See testimony of Benjamin Smith, Esq., Selectman of Atkinson, in col. 1.
65Ibid.,
30, 33, 35. See testimony of J. W. E. Harvey in col. 1 of p.30; George S.
Woodbury in col. 3 of p. 33; and of Israel Damman in col. 3 of p. 35. Damman testified
to his belief that the end of the world would come within a week.
66Ibid., 31, 33, 34. See testimony of Ebenezer Trundy at top of col. 3 on p. 31; and of

George S. Woodbury at bottom of col 3 on p. 33 and top of col. 1 on p. 34.


67Ibid., 31. See testimony of Ebenezer Trundy at top of col. 3.
Contents xvii
trabalhando, e minha mãe atendeu a porta. O policial disse a
ela que havia recebido reclamações de que as nossas orações
barulhentas perturbavam a paz da vizinhança e as vezes
durante a noite, e ele foi requisitado para cuidar do assunto.
Minha mãe respondeu que nos orávamos de manhã, a noite e
as vezes ao meio-dia, e deveríamos continuar a fazê-lo... Ele
disse que não fazia objeções a oração e que se houvesse mais
orações na vizinhança, isso os faria melhor. ‘Mas’, disse ele,
‘eles reclamam de você orando à noite.’ Foi dito a ele que se
alguém da família estivesse doente ou com stress mental à
noite, era o nosso costume chamar por DEUS por ajuda, e nós
achávamos alívio. Ele foi direcionado para o nosso vizinho
que usava bebida alcoólica forte, e sua voz era
frequentemente ouvida xingando e amaldiçoando DEUS.
Porque os vizinhos não mandaram você para ele, para
acalmar a confusão que ele causa na vizinhança? Ele serve o
seu mestre e nós servimos o SENHOR nosso DEUS. Os
xingamentos e blasfêmias dele parecem não perturbar os
vizinhos enquanto a voz de orações os incomoda
grandemente. ‘Bem,’ disse o policial, ‘o que eu devo dizer a
eles acerca do que você irá fazer?’ Minha mãe respondeu,
‘Sirva a DEUS, sejam quais forem as consequências.’ O
policial foi embora, e nós não tivemos mais problemas
naquele quarteirão.” 68

Relatos enfatizando o barulho daquela noite, obviamente


favoreceram aqueles que no julgamento eram contra Damman. E
segundo todas as narrativas, aparentemente, foi uma reunião muito
barulhenta,69 embora, pelo menos uma testemunha tenha afirmado
que a maioria das reuniões que ele/ela frequenta são mais
barulhentas do que a de Damman naquele sábado à noite!70

O que é facilmente ignorado é que, aparentemente, a


reunião não foi barulhenta o tempo todo. A testemunha de
acusação William C. Crosby, afirmou que as vezes todos eles
estariam conversando ao mesmo tempo e gritando o mais alto
que podiam... Depois que o barulho cessou, Dammon
68Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860,2:80, 81.
69Hoyt, op cit., 31. See testimony of Wm. C. Crosby, toward middle of col. 2; and
Joseph Moulton, toward bottom of col. 3.
70Ibid., 33. See testimony of Joel Doore about two thirds of the way down col. 2.
xviii Um outro olhar sobre o caso Israel Damman
levantou-se e ficou mais coerente. 71 (Ênfase adicionada)
Uma outra testemunha de acusação afirmou que com todo
mundo deitado no chão recostado um sobre o outro “Isso não tinha a
aparência de uma reunião religiosa.” No entanto, sob interrogatório,
a mesma testemunha admitiu que não viu “nada semelhante a
licenciosidade – havia exortação e oração...”72
E Loton Lambert, de longe o mais hostil das testemunhas de
acusação, afirmou:
Eles estavam cantando quando eu cheguei – depois de cantarem
dentaram-se no chão – Damman disse que uma irmã tinha uma
visão para relatar – A mulher no chão então relatou a visão dela.73
Embora Ellen não esteja nominada aqui, pelo contexto parece
mais provável que ela seja a pessoa que Lambert estava
descrevendo. Outras testemunhas expressamente afirmaram que a
reunião realizada naquela noite era para que Ellen pudesse relatar a
visão dela.74
Este é um dos momentos em que eu poderia desejar um relato
mais completo da reunião daquela noite. Embora ninguém jamais
possa adivinhar isso a partir dos relatórios abreviados que nós temos
que ler, Ellen pode muito bem ter tomado um tempo considerável
contando a sua primeira visão recebida em dezembro. Conforme
observado, quando estava em Portland no final de janeiro, ela levou
duas horas para relatar a visão. Agora em Atkinson, se ela adicionou
alguma coisa relacionada com a recente visão do noivo dada a ela
apenas alguns dias antes em Exeter, ela poderia ter levado mais
tempo ainda. É claro que eu percebo que este é o argumento do
silêncio. Mas, a razão pela qual ela empreendeu essa viajem foi para
71Ibid., 30. See testimony of Wm. C. Crosby, about one third way down in col. 2.
72Ibid., 30. See testimony of Ebenezer Blethen, about one-third to halfway down in
col. 1.
73Ibid., 30. See testimony of Loton Lambert near the top of col. 3.
74Ibid., 32, 34. Veja o testemunho de Tiago Ayer, Jr. próximo ao final da col. 2 na

pág. 32. Além disso, embora Dorinda Baker seja especificamente mencionada por
Joshua Burnham, e Ellen não, ainda no contexto de todas as descrições dadas por
testemunhas no julgamento, parece provável que Burnham esteja se referindo a Ellen e
não a Dorinda em seu depoimento. Veja os comentários de Burnham perto do meio da
p. 34, col. 2.
Contents xix

compartilhar a visão dela. E pelo menos duas das testemunhas


afirmaram que o propósito da reunião daquele sábado à noite foi para
dar a ela oportunidade de compartilhar a sua visão.75
Se alguém permitir a possibilidade de Ellen ter gastado um
tempo considerável ou mesmo algum tempo – naquela noite –
compartilhando a sua primeira visão – assegurando-lhes que a
luz brilhante do clamor da meia noite era ainda válida, e brilharia
no trajeto enquanto o povo de DEUS estivesse viajando no
caminho estreito em direção a cidade santa de DEUS, então
algumas outras coisas que também aconteceram naquela reunião
se tornam mais compreensíveis.
Após a passagem de 1844, relutantemente, aqueles terrivelmente
desapontados Adventistas Mileritas desistiram da sua fé de que
alguma coisa significante tinha acontecido em 22 de outubro. Foi a
sua primeira visão que reconfirmou para ela a validade da
experiência deles no clamor da meia noite.76
Dado este plano de fundo, nós podemos agora entender duas
afirmações feitas pelas testemunhas que do contrário seria obscura.
Testemunha de acusação William C. Crosby declarou, “Depois que
a vidente chamou a atenção deles, ela disse que eles tinham
duvidado. O seu conteúdo parecia ser convencê-los que eles não
devem duvidar.” 77 Da mesma forma, Loton Lambert, o mais hostil
das testemunhas de acusação, afirmou, “a mulher da visão chamou
Joel Doore e disse que ele tinha duvidado.” 78
Visto que nenhum outro contexto é dado, nós só podemos
imaginar qual era a preocupação de Ellen em relação a dúvida deles.
Parece estar claro que não foi a respeito da validade das visões dela,
quando se leva em conta as declarações das várias testemunhas, que
afirmaram acreditar inequivocamente que as visões dela eram de
DEUS.79 De fato, Joel Doore foi um dos que especificamente
declarou acreditar que as visões de Ellen eram “genuínas.”80
75
Ibid.
76Ellen G. White, “Suppression and the Shut Door,”Manuscript 4, 1883.
77Hoyt, op cit., 31. See testimony of Wm. C. Crosby, re-examined, top of col. 2.
78Ibid., 30. See testimony of Loton Lambert, bottom of col. 3.
79Ibid., 33, See testimony of Jacob Mason about two-thirds down col. 1; Ibid., 33.

See testimony of Joel Doore about four-fifths down col. 2; Ibid., 33. See testimony of
George S. Woodbury about two thirds down col. 3; Ibid., 34. See testimony of John
Gallison, bottom of col. 1; Ibid., 32. See testimony of Isley Osborn middle of col. 3;
80Ibid., 33. See testimony of Joel Doore, cross-examined, toward bottom of col. 2.

Doore is the one who arranged for the attorney, J. S. Holmes, to represent Damman at the
trial.
xx Um outro olhar sobre o caso Israel Damman
Uma vez que Doore já acreditava no retorno imediato de Cristo e nas
visões de Ellen, então a possibilidade de ele estar duvidando da
continuação do significado do dia 22 de outubro faz perfeito sentido. Essa
foi a razão pela qual Ellen estava viajando por toda parte tentando
encorajar as pessoas a manterem sua crença em que algo realmente
aconteceu em 22 de outubro.
A crença de que DEUS ainda estava guiando o Seu movimento e que
Cristo ainda retornaria a qualquer momento, possivelmente explica o senso
de urgência deles para o batismo. Afinal se houvesse qualquer chance de
perder a vida eterna, isso certamente não deveria acontecer. Embora não
tenhamos algum conselho escrito nesta época por Ellen White sobre o seu
ponto de vista acerca do rebatismo, mais tarde ela proveu o seu parecer a
respeito dessa questão.81 Entretanto, nós sabemos que Tiago White
menciona em algum lugar que ele rebatizou a sua esposa,82 embora a
circunstância em que ele o fez seja desconhecida. Especula-se que isto
ocorreu depois que ambos aceitaram o sábado do sétimo dia em 1846.83
Não obstante, esteja especificamente declarado que Ellen não participou
em nenhum dos dois batismos que aconteceram naquele sábado à noite em
Atkinson,84 pode ser muito bem que o rebatismo dela aconteceu nessa
mesma época como um testemunho da sua própria fé na validade do evento
de 22 de outubro. Eu digo isso porque eu não estou ciente de nenhum
rebatismo registrado em torno da época em que Ellen e Tiago aceitou o
sábado. Mais se este relatório acerca do julgamento é para ser acreditado,
ela instou vários naquela noite em Atkinson a se batizarem. Tiago White
diz que quando ele a rebatizou, “isso ocorreu no período inicial da
experiência dela.”85 Isso seria o mais cedo possível em sua experiência.

81See Ellen G. White, Evangelism, 372-375, 1946; aparentemente, esta noite em


Atkinson, uma das duas meninas batizadas já havia sido batizada, mas a outra
provavelmente não. Parece que em nenhum dos casos essas instâncias de vários
rebatismos múltiplos, como aconteceu em outros lugares entre alguns ex-mileritas.
82Tiago White, Life Incidents, in Connection with the Great Advent Movement, as

Illustrated by the Three Angels of Revelation XIV, 1868, 273.


83Arthur L. White, Ellen G. White: The Early Years 1827-1862, 1985, 121, 122.
84
Hoyt, op cit., 31. See testimony of prosecution witness Loton Lambert about half
way down col. 1.
85
Tiago White, Life Incidents, 1868, 273.
Contents xxi
Na medida em que se lê a reportagem do jornal sobre o
julgamento, você fica impressionado com o fato de que diversas
vezes as testemunhas são citadas como afirmando que Ellen instou as
pessoas para não “irem para o inferno”, ou disse que se elas não se
batizassem naquela noite, “iriam para o inferno.”86 Uma vez que não
encontramos Ellen usando semelhante linguagem em nenhuma outro
lugar dos seus escritos,87 é curioso se ela realmente o fez naquela
noite. De fato, isto é altamente improvável dado que já nessa época
ela havia desistido da crença do inferno queimando eternamente.88
Que nem todos os mileritas acreditavam como ela, está claro nos
registros. O mais certo é que muitas das testemunhas, incluindo
provavelmente o próprio repórter do jornal, acreditavam no inferno
queimando eternamente. Interessantemente, o repórter cita uma
testemunha que declarou que ela instou um outro homem a não se
perder. A testemunha de defesa James Ayer Jr., lembrou de Ellen
dizendo para Joel Doore “que ela estava angustiada em relação a ele –
estava com medo de que ele iria perder a sua alma” (ambos sic.).89
Dado este único exemplo de outras palavras mais brandas usada por
Ellen naquela noite, é fácil ver como declarações semelhantes de outras
testemunhas podem ter sido mal interpretadas pelo repórter como
significando que ela pensava que eles iriam direto para o inferno.
Provavelmente, nós nunca saberemos com certeza o que Ellen disse
naquela noite, mas, as suas pesadas declarações de acordo com o
relatado do jornal são inconsistentes com tudo o mais que sabemos da
sua vida. A preocupação acerca de pessoas perdendo suas almas é mais
consistente com tudo o que sabemos sobre Ellen White.
Uma outra coisa que provavelmente choca a maioria dos
Adventistas que leem o relatório do jornal sobre a reunião em
Atkinson pela primeira vez é que Ellen White foi descrita como
estando deitada no chão enquanto em visão. Pelo menos uma das
86Hoyt, op cit., 30. See testimony of prosecution witness Loton Lambert about half
way down col. 3; Hoyt, Ibid., 32. See testimony of defense witness Isley Osborn about
three-fifths way down col. 3; Hoyt, Ibid., 33. See testimony of George S. Woodbury
about two-thirds down col. 3.
87“Hell,” The Complete Published Writings of Ellen G. White on CD-ROM; See also

Ellen G. White to J. N. Loughborough, August 24, 1874,Letter 2, 1874, and Robert


W. Olson to “The White Estate Board of Trustees, White Estate Staff, Research Center
Directors,” October 5, 1987, revised, October 21, 1987, 3, 4.
88Douglass, op cit., 474. See bottom of col. 1 and top of col. 2; See also Ellen G.

White, “The Doctrine of Eternal Punishment,” Life Sketches, 1915, 29, 30; and White,
“The Immortality Question,” Ibid., 48-50.
89Hoyt, op cit., 32. See testimony of Tiago Ayer, Jr. about one-third down col. 2.
xxii Um outro olhar sobre o caso Israel Damman

testemunhas lembrou que parte do tempo Tiago White estava sentado


segurando a cabeça dela enquanto ela estava em visão. Eu sei que quando eu
li essa reportagem pela primeira vez, eu achei a descrição da posição de Ellen
completamente em oposição ao que eu imaginava. Graças aos artistas que tem
retratado ela, ocasionalmente em visão, na minha imaginação eu a via em pé
caminhando ao redor, ou possivelmente segurando uma bíblia, etc. – Todas as
coisas que ela fazia enquanto em visão. Mas, certamente eu nunca idealizei
ela sentada em uma cadeira 90 ou deitada no chão de uma casa,91 ou na
plataforma de uma igreja.92 Entretanto, quanto mais leio, mais percebo que na
maioria das vezes ela provavelmente estava deitada quando em visão. De fato,
Martha Amadon, filha de Jhon Byington, (nosso primeiro presidente da
Conferência Geral, e nosso primeiro professor da igreja adventista)
provavelmente a pessoa que mais viu Ellen em visão, além de Tiago White,
especificamente recordou que a senhora White, “quando em visão ficava na
posição reclinada”.93
Uma outra coisa que eu assumo também chocar a maioria dos
adventistas é o fato de que alguns testificaram que Ellen tinha sido chamada
de “imitação de Cristo.” Lembro-me de quando li o relato pela primeira vez
anos atrás. Embora várias das testemunhas de defesa afirmassem jamais ter
ouvido Ellen ter sido chamada “imitação de Cristo” e certamente não o foi,
somente quando dediquei tempo para ler cuidadosamente a reportagem do
jornal que eu percebi que foi apenas uma testemunha – Loton Lambert, a
mais hostil das testemunhas de acusação, que alegou que ela foi chamada de
“imitação de Cristo”. Como o nome de todas as testemunhas são novos para
o leitor de hoje, é muito fácil confundi-los se não forem analisados
cuidadosamente. Também pode ser útil lembrar que Lambert foi a única
90Vision of January 12, 1861, Parkville, MI, Church. See Arthur L. White, op. cit., 463;
Vision of January 3, 1875, at home in Battle Creek, Michigan. W. C.. White,The Review and
Herald, February 10, 1983, quoted in Arthur L. White, Ellen G. White, the Progressive
Years, 1862-1876, 459, 460.
91Hoyt, op cit., 30, 31. See testimony of Loton Lambert in top of col. 3 on p. 30, and

middle of col. 1 on p. 31; Ibid., 32. See testimony of Job Moody at bottom of col. 2; Ibid.,
32. See testimony of Isley Osborn in middle of col. 3; Ibid., 33. See testimony of Jacob
Mason about middle of col. 1; Ibid., 33. See testimony of Joel Doore toward top of col. 2;
Ibid., 34. See testimony of John Gallison about one-third down col. 1; Rochester, NY, June
26, 1854. See also testimony of D. H. Lamson quoted in J. N. Loughborough, The Great
Second Advent, 1905, 207.
92Vision of June 12, 1868, “Camp Meeting Talks,” Nellie Sisley Boyd, quoted in

Arthur L. White, Ellen G. White, the Progressive Years, 1862-1876, 1986, 233, 235.
93Martha D. Amadon, Mrs. E. G. White in Vision, undated pamphlet, 1.
Contents xxiii

testemunha a quem James Ayer, o dono da casa na qual foi realizada a


reunião daquela noite, disse que se ele perturbasse a reunião ele teria que
se retirar.94 É óbvio que tanto pela declaração de Ayres como pela de
Lambert ele (Lambert) era visto como um perturbador potencial daquela
reunião. De fato, Lambert até testificou que ele não tinha vindo para
atrapalhar a reunião.95 Eu penso que mesmo Lambert concordaria que
ele, enquanto testemunha de acusação, poderia ser considerado hostil a
Damman e outros presentes naquela tarde.96
Ao ler e reler a reportagem do jornal sobre o julgamento, eu tenho
me perguntado se com todo o barulho reportado daquela reunião,
Lambert provavelmente possa ter ouvido Damman ou outra pessoa se
referir a “visão de Cristo” de Ellen. Ou talvez Lambert pensou que
Damman disse que Ellen instou às pessoas para “imitar Cristo.”97 O que
eu estou sugerindo é que Lambert, possa ter honestamente se enganado
pensando que ele tinha ouvido Ellen ser chamada “imitação de Cristo”.
Obviamente, nós nunca saberemos o que o levou a dizer o que disse, mas
sabemos que todos os citados especificamente como falando sobre o
tópico negaram que Ellen tenha sido chamada “imitação de Cristo” em
algum momento naquela noite. Ao invés de afirmar que Lambert estava
mentindo, como os críticos de Ellen White se apressam a fazer em
relação a ela, eu prefiro pensar que ele ouviu mal o que foi dito.98
94Hoyt, op cit., 32. See testimony of Tiago Ayer, Jr. in col. 2 about two-thirds of the
way down.
95
Ibid., 30. See testimony of Loton Lambert near bottom of col. 3.
96Há uma possível exceção em relação à alegação de “Imitação de Cristo” que
precisa ser apontada. Uma outra testemunha de acusação, Leonard Downes, um amigo
de Lambert que foi à reunião naquela noite com Lambert, pode ter concordado com ele
sobre Ellen ser chamada de “Imitação de Cristo”. Realmente não podemos ter certeza,
já que o repórter do jornal não copiou os comentários completos de Downes porque
“seu testemunho foi tão próximo de uma repetição do Sr. Lamberts, que é por mim
considerado inútil copiá-lo”. [Hoyt., op cit., 31. Veja o testemunho de Leonard
Downes no final da col. 1, e topo da col. 2.]. Como mencionado, todas as outras
testemunhas que falaram sobre o assunto discordaram da afirmação de Lambert. E
como Lambert disse várias outras coisas em seu testemunho, possivelmente até mesmo
Downes não concordou com Lambert neste ponto particular; nós realmente não
sabemos.
97 Ainda mais improvável é que Lambert tivesse ouvido falar do livro de Thomas a
Kempis (1380-1471), A Imitação de Cristo (ca. 1425), e pensou que Ellen estava
sendo chamada pelo mesmo nome.
98
Reconhecidamente, Lambert diz que Damman repetidamente a chamou de
“Imitação de Cristo”, assim como outros (Hoyt, Ibid., 31: Veja o testemunho do
interrogatório de Lambert cerca de dois terços abaixo da col. 1).
xxiv Um outro olhar sobre o caso Israel Damman

Antes de passar para as considerações acerca das diferenças mais


óbvias entre o relato do jornal e as lembranças de Ellen sobre a prisão de
Damman, deixe-me comentar brevemente acerca de algo interessante
que aparece na declaração de quatro outras testemunhas de defesa. Eu
estou especificamente me referindo ao entendimento das testemunhas
acerca da “porta da fechada”. Nesta época muitos ex-mileritas, incluindo
Guilherme Miller, acreditavam que a porta estava totalmente fechada
para a conversão dos pecadores (Miller mudaria de ideia no mês
seguinte).99 Como e bem conhecido, Ellen White negou categoricamente
que alguma vez lhe fora mostrado em visão que a porta da misericórdia
estava totalmente fechada, impedindo desta forma a conversão de mais
pecadores.100 Os críticos gostam de atacar a negação dela tentando
provar que foi mostrado a ela em visão a porta completamente fechada.
Qual sinal, se é que há algum, nós encontramos disso entre as afirmações
das diversas testemunhas?
Enquanto a maioria das testemunhas concordaram que Damman
fazia oposição às igrejas, é interessante que muitas faziam diferença
entre as igrejas e os membros individuais dentro das igrejas. James Ayer,
em cuja casa a reunião foi realizada, afirmou que Damman acreditava
que “havia membros das igrejas aos quais ele estava se referindo ao
invés de estar se referindo a igreja como um todo.”101 Isley Osborne
testificou em relação ao ponto de vista de Damman: “Ele acredita que
existem os bons, os maus e os indiferentes em todas as igrejas...”102 Joel
Doore testificou: “Dammon disse que haviam [sic.] maus-caracteres nas
igrejas; eu não entendi que ele disse todos.”103 Jacob Mason reconheceu
que “o irmão Dammon disse que as igrejas estavam fora daquela
descrição – eles eram mentirosos [sic.], bandidos, etc. Eu não entendi
que ele estava incluindo todos, mas estava falando dos indivíduos”.104
Portanto, é possível, dado o fato de que todas as testemunhas de defesa que abordaram
o assunto negaram a alegação de Lambert, que ele apenas tenha feito sua alegação, em
vez de ter se enganado sobre o que pensava que Damman e outros haviam dito naquela
noite. Mas, prefiro pensar que ele apenas ouviu mal.
99
Miller changed his Shut-Door views on March 8 or 9, 1845. See Burt, op cit., 89.
100Ellen G. White to J. N. Loughborough, August 26, 1874,Letter 2, 1874, p. 1.
101Hoyt, op cit., 32. See testimony of Tiago Ayer, Jr. at bottom of col. 1.
102Ibid., 32. See testimony of Isley Osborne in about middle of col. 3.
103Ibid., 33. See testimony of Joel Doore at top of col. 2.
104Ibid., 33. See testimony of Jacob Mason about halfway down col. 1. See also

testimony of Job Moody, Ibid., 32, at the bottom of col. 2. Moody testificou: “O irmão
Dammon disse que em relação a outras igrejas elas eram ruins o suficiente; disseram
que eram corruptos. Ele disse que eram ladrões (sic) etc.
Contents xxv

Se o entendimento deles acerca da posição de Damman é


totalmente preciso, não está claro. Eu digo isso porque
reexaminando a síntese de duas sentenças dos depoimentos de Joel
Doore, consta que ele disse: “Eu tenho ouvido o irmão Dammon
pregar que o dia graça acabou para os pecadores. O réu disse ‘essa é
minha crença.’”105 Também, o resumo muito abreviado da
autodefesa de Israel Damman afirma: “Ele argumentou que o dia da
graça havia passado, e que os crentes estavam reduzidos; mais que
ainda havia muitos, e o fim do mundo viria em uma semana”106
Embora seja possível que Damman tenha acreditado no radical
fechamento da porta da graça, muitas das testemunhas não
entenderam ser esta a posição dele. E desde que os dois relatos (Joel
Doore, Jr., e a autodefesa do pastor Damman) estão tão abreviados,
é muito possível que as nuances relacionadas com a porta da graça
não estar fechada para aqueles que não tinham rejeitado a luz,
tenham sido perdidas ou pelo menos mal-entendidas pelo jornal. O
ponto significante é que no depoimento de todas as testemunhas de
defesa que falaram sobre o assunto, nenhuma delas entenderam que
Damman acreditava que a porta da graça estava totalmente fechada.
Isto é, apenas nas duas declarações muito abreviadas que você
encontra algo mais sendo sugerido, e pelo menos no caso de Joel
Doore, o seu testemunho breve quando submetido a reexame
contradiz o seu testemunho anterior que é mais expansivo sobre o
que ele entendia ser a crença de Damman.
Dado que Ellen Harmon estava lá para compartilhar sua visão,
aparentemente nada do que ela disse naquela noite os convenceu de
que a porta da graça também estava totalmente fechada. De fato, ao
olhar para o que foi realmente testificado a respeito dela, você a
encontra exortando as pessoas a não duvidarem, para serem
batizadas naquela noite - em suma, havia um senso de urgência em
suas mensagens que dificilmente pareceria provável se ela tivesse
sido mostrada em visão de que a porta da graça havia sido
totalmente fechada.

Não tenho certeza, mas acho que ele disse naquela noite que havia exceções.”
105Ibid., 35. See testimony of Joel Doore, Jr. about one third way down col. 2.
106Ibid., 35. See testimony of Prisoner [Israel Dammon] at top of col. 3.
xxvi Um outro olhar sobre o caso Israel Damman

Ou para deixar ainda mais claro, se a primeira visão de Ellen White


ensinou que a porta da graça estava totalmente fechada, como os seus
críticos afirmam, então ela própria deve ter entendido mal a visão. Ela
não teria estado presente na reunião daquele sábado à noite em Atkinson
com pessoas não crentes se a visão dela tivesse ensinado que a porta da
graça estava completamente fechada. É óbvio que a sua primeira visão
não ensinou que a porta da graça estava fechada, que é exatamente o que
ela sempre afirmou ser o caso.107
Uma outra percepção interessante emerge dos testemunhos. Pouco
tempo depois desse acontecimento, os críticos de Ellen começariam criar
um grande problema sob a alegação de que Tiago White manipulava as
suas visões, e a menos que ele estivesse presente, ela não poderia ter uma
visão (apesar do fato de que ele não estava presente no momento da sua
primeira visão em dezembro de 1844.) Eu acho que é de interesse uma
declaração feita por Joel Doore; sob investigação, ele afirmou: “Eu
nunca disse para pessoa alguma ontem que era necessário ter uma pessoa
na sala com ela para retirá-la dos seus transes.”108 Uma vez que
nenhuma outra testemunha é citada como tendo abordado o assunto, nós
não sabemos quais eram as crenças delas acerca do tema. Mas, pelo
menos Doore não pensava que as visões de Ellen Harmon resultavam das
manipulações de outras pessoas.
Agora vamos nos voltar para a contradição mais aparente entre as
lembranças de Ellen White e o testemunho do xerife conforme resumido
brevemente no relato do jornal: A prisão de Damman pelo xerife. No
mais completo relatório dela escrito em 1860 no Spiritual Gifts, 2, 40-41,
ela diz que enquanto ela estava falando, dois homens olharam pela janela
e vendo Damman passaram por ela e se apressaram para ele. Ela passou
a recordar

“O Espírito do Senhor repousou sobre ele, a sua


força foi retirada e ele caiu no chão desamparado. O
oficial gritou alto: ‘em nome do estado do Maine
prendam este homem.’ Dois agarraram seus braços e
dois seus pés e tentaram arrastá-lo para for a da sala.
107Ellen G. White to J. N. Loughborough, August 24, 1874,Letter 2, 1874, p. 1; See
also Ellen G. White, “Suppression and the Shut Door,”Manuscript 4, 1883, p. 4.
108Hoyt, op. cit., 33. Veja o testemunho de Joel Doore no final da col. 2.
Reconhecidamente, em seu depoimento no interrogatório, Doore se refere tanto a
Dorinda Baker quanto a Ellen Harmon. No entanto, como a frase citada segue
imediatamente após um comentário sobre “Miss Hammond” (sic.), presumivelmente
ele está se referindo a ela. Se ele se referisse às duas mulheres, presumivelmente teria
usado “elas” em vez de “ela” em sua declaração.
Contents xxvii
Eles o moveriam apenas poucos centímetros, e então
correriam para for a da casa. O poder de DEUS estava
na sala, e os servos de DEUS com os seus semblantes
iluminados com a glória Dele, não ofereceram
resistência. Os esforços para retirar o ancião D. eram
frequentemente repetidos com o mesmo efeito. Os
homens não podiam suportar o poder de DEUS, e isso
foi um alívio para eles correrem para fora da casa. O
número deles aumentou para doze, mas o ancião D.
ainda estava seguro pelo poder de DEUS por
aproximadamente quarenta minutos, e nem toda a força
daqueles homens poderia movê-lo do chão onde jazia
indefeso. No mesmo momento nós sentimos que o
ancião D. deveria ir; que DEUS havia manifestado o
Seu poder para a SUA GLÓRIA... e aqueles homens o
levaram facilmente como se estivessem levando a uma
criança.” 109
Em contraste, a leitura das lembranças obviamente resumidas
do xerife é muito diferente:
“Quando eu fui capturar o prisioneiro, eles
fecharam a porta contra mim. Vendo que eu não
poderia ter acesso a ele, eu arrombei a porta. Eu fui até
o prisioneiro, tomei pela mão e disse a ele qual era a
minha missão ali. Um número de mulheres pulou sobre
ele – ele se agarrou a elas e elas a ele. Tão grande foi a
resistência, que eu e mais três assistentes, não pudemos
trazê-lo para fora. Eu permaneci na casa e solicitei por
ajuda; após eles chegarem, nós fizemos uma segunda
tentativa com o mesmo resultado – eu, outra vez,
solicitei mais ajuda e depois que chegaram nós
vencemos a resistência e o trouxemos para fora em
custódia. Nós fomos resistidos por homens e mulheres.
Não posso descrever o lugar – foi uma gritaria
contínua.”110
Estas são duas descrições, obviamente muito diferentes, sobre o
mesmo evento. Eu disse anteriormente em minha conversação que
eu não tenho respostas completas pertinentes a cada situação que
aconteceu no incidente de Israel Damman.
109Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860,2:40, 41.
110Hoyt, op cit., 32. See testimony of Joseph Moulton in the bottom half of col. 2.
xxviii Um outro olhar sobre o caso Israel Damman
Esta é, sem dúvida, a minha maior contradição não resolvida. Mas, tendo
admitido isso, vejamos alguns detalhes que podem ser de interesse.
Começaremos listando algumas similaridades entre as duas declarações:
1. Ambos concordam que somente Damman e ninguém mais foi preso
naquela noite.
2. Ambos concordam que inicialmente foram quatro que tentaram sem
sucesso remover Damman.
3. Ambos concordam que houve múltiplos esforços para remover Damman.
(Ellen White diz que ele não poderia ser removido devido ao poder de
DEUS; O Xerife, porque muitos estavam segurando Damman.)
4. Ambos concordam que todo o processo de prisão de Damman levou um
tempo considerável (Ellen White diz quarenta minutos; Moulton diz ele
solicitou reforço duas vezes – O que pode ter levado algum tempo para
eles responderem naquela era pré-celular.
5. Embora por motivos diferentes, ambos concordam que aquelas pessoas
no grupo dos que foram prendê-lo tiveram que deixar a sala durante o
momento da prisão (Ellen White afirmou que isso foi devido ao poder de
DEUS, embora, alguém possa assumir que, uma vez que ela concorda
que reforços vieram, dado que não havia celulares na época, ela
presumivelmente teria concordado que aquele grupo tivesse sido enviado
a buscar reforço; o xerife apenas descreve ter que enviar reforços.)
As aparentes diferenças são, penso eu, apenas aparentes, mas elas
poderiam ser sumarizadas como se segue:
1. EGW: “Enquanto eu estava falando, dois homens olharam pela Janela”;
Xerife: “Eles fecharam a porta contra mim... Eu arrombei a porta.” (Uma
dissimilaridade, embora não necessariamente uma contradição.)
2. EGW: “Dois [policiais]... tentaram arrastá-lo [Damman] apenas poucos
centímetros, e então, correram para fora da casa.”; Xerife: “Eu fui até o
prisioneiro e o peguei pela mão e disse a ele a minha missão.”
3. EGW: “O poder de DEUS estava na sala, e os servos de DEUS com seus
semblantes iluminados pela Sua glória, não ofereceram resistência.”; Xerife:
“Várias mulheres se jogaram sobre ele [Damman], e ele se agarrou a elas e
elas a ele.”
4. EGW: “Os homens não puderam suportar o poder de DEUS, e foi um alívio
para eles correrem para fora da casa. O número deles aumentou para doze, e o
ancião D. ainda estava seguro pelo poder de DEUS por aproximadamente
quarenta minutos, e nem toda a forca daqueles homens poderia movê-lo do
chão onde ele jazia indefeso.”; Xerife: “Tão grande foi a resistência que eu não
pude trazê-lo para fora.”
Contents xxix
EGW: “No mesmo momento todos nós sentimos que o ancião D. deveria
ir; que o poder de DEUS tinha sido manifesto para a sua glória, e que o
nome do SENHOR seria glorificado ainda mais ao permitir que ele fosse
retirado do nosso meio. E aqueles homens o levaram facilmente como se
estivesse levando uma criança.”; Xerife: “Eu, de novo, solicitei por mais
ajuda – depois que eles chegaram nós vencemos a resistência e o levamos
[Damman] em custódia para fora da casa.”111 Para Ellen White, DEUS
estava claramente trabalhando de forma sobrenatural durante todo o
processo da prisão. Obviamente, nada, mesmo remotamente, se aproxima
da descrição dada pelo oficial. Novamente, e em momentos como esse
que poderíamos desejar a transcrição completa do tribunal! O xerife foi
interrogado pelo advogado de defesa? Se foi, nada foi incluído na
reportagem do jornal. Como as outras testemunhas viram a prisão de
Damman? Nenhum outro comentário sobre a prisão foi adicionado em
todo o relatório publicado do julgamento. Mesmo se alguém negou algum
elemento sobrenatural, o fato de que o xerife teve que enviar solicitação
por reforços duas vezes, penso eu que seria, mesmo para o leitor casual,
razão suficiente para pensar que na transcrição real do tribunal alguém
deve ter dito alguma coisa sobre a prisão. O que nós temos do Xerife não
é apenas excepcionalmente breve, mas, como eu acabei de dizer, o que ele
descreve é de suficiente interesse para fazer alguém imaginar se pelo
menos uma ou duas testemunhas poderiam ter falado sobre a prisão.
Claro, há sempre a possibilidade de que mesmo que se algumas
testemunhas quisessem falar sobre o assunto, a menos que solicitado
diretamente por um dos advogados, a pessoa poderia ter sido suprimida.
Sem a transcrição complete do tribunal, nós nunca saberemos o
depoimento completo do Xerife, incluindo se ele foi interrogado, ou se
alguma outra testemunha foi solicitada a abordar a questão.
Uma razão que me leva a questionar se outras testemunhas poderiam
ter falado sobre a prisão e porque está incluído em um dos depoimentos
uma declaração curiosa. Nenhum contexto é dado para essa declaração na
reportagem resumida do jornal. Mas, seria possível que estivesse se
referindo as circunstâncias que cercaram a prisão de Damman? Nós nunca
111Ellen G. White, Ibid.; Hoyt, Ibid.
xxx Um outro olhar sobre o caso Israel Damman
saberemos conclusivamente, mas, isso nos remete a uma questão
tentadora. Aqui está a declaração feita por Deacon James que me
intrigou:
“Damman ficou em pé e disse, vou ficar aqui - e
enquanto eu ficar aqui, eles não podem machucar você,
nem homens nem demônios podem machucá-lo.”112

Será que esta breve declaração atribuída por Rowe a Damman


refere-se ao momento em que Damman e o grupo perceberam que o
xerife tinha vindo para prendê-lo? Ou ainda mais direto ao ponto,
poderia estar se referindo à quando o xerife diz que arrombou a
porta para entrar e Damman então fez essa declaração? E se assim
for, a declaração de Damman reflete que, em sua opinião também,
algo sobrenatural estava acontecendo naquela noite? Foi mera
bravata, ou havia algo mais por trás da declaração, algo que Ellen
White também refletiu em suas lembranças sobre a prisão? Outra
vez, provavelmente nunca saberemos. Mas, é intrigante ponderar já
que a declaração não parece se encaixar com mais nada do
testemunho de James Rowe.
Uma coisa, entretanto, é absolutamente certa, Ellen White nunca
oscilou na sua crença de que alguma coisa sobrenatural esteve
envolvida na prisão de Damman. Muitos anos mais tarde, em 1906,
em uma entrevista com a sua secretária, Clarence Crisler, a senhora
White ainda recordou basicamente as mesmas circunstâncias
relacionadas com a prisão de Damman da mesma forma que ela
tinha descrito em 1860. 113

“Eles tentaram pegar esse Damman, mas, não


conseguiram. Lá ele ficou no chão por 45 min. ‘Em
nome do estado do Maine, nós pedimos que segurem
este homem.’ Então eles correram e agarraram-no, e
todos começaram a cantar: ‘Nós deixamos a velha
Babilônia mística, para soar o jubileu.’ E as suas mãos
escorregavam e eles recomeçam. Agora, disse eu, eles
se aproximaram dele e começaram a segurá-lo; eles não
me queriam na sala, queriam que eu saísse; disseram
que eu estava impedindo-o de ir. Eu saí da sala e disse
112Hoyt, Ibid., 31. See testimony of Dea. Tiago Rowe in middle of col. 2.
113Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860,2:40-42.
Contents xxxi

ancião Damman, o Senhor quer que você vá com esses


homens para esse julgamento, (sic.) e ele foi. Ele foi
para o julgamento.”114

Em uma outra entrevista mais ou menos na mesma época,


Ellen White relembrou:

“Quando eles entraram na reunião para levá-lo, ele


estava ajoelhado. Eles pegaram-no pelas suas mãos e
pelos seus pés e tentaram levantá-lo para o tirar da sala.
Mas eles [não] puderam. ... Eles o arrastariam poucos
passos (sic.), mas, tão logo eles retiravam as mãos dele,
ele deslizava de volta para o mesmo lugar. Eles
tentaram retirá-lo da sala por duas horas, mais sem
sucesso. Então nós todos sentimos que seria para a
glória de DEUS que ele fosse levado.”
“Eram ao todo doze homens que vieram levá-lo.”115

Então, existe alguma maneira de conciliar essas duas


descrições? Provavelmente não completamente. Como então nós
devemos olhar para esses dois relatos? Algumas sugestões vêm à
mente:
Primeiro nós devemos tentar entender as coisas da possível
perspectiva de Ellen White. Mesmo que nós admitíssemos para os
críticos que tudo aconteceu exatamente como sumarizado pelo
xerife, isso significaria necessariamente, como os críticos costumam
alegar, que Ellen White estava mentindo, ou tentando dizer mais
coisas além do que a situação garante? Eu penso que não. Dado o
estado mental/espiritual de Ellen White na época, tendo ela acabado
de passar pelo tempo que a levou a expectar a volta de Jesus – o ano
mais feliz da sua vida, como ela costuma recorder,116 e mais
recentemente tendo recebido uma visão de DEUS, sem dúvida, as
perspectivas dela sobre os eventos seriam muito diferentes das do
xerife ou qualquer outra testemunha.
Por eu que digo isso? Deixe-me dar apenas alguns exemplos de
incidentes que Ellen White relembrou de sua vida antes de 1845. A
114Ellen G. White, “Portion of narrative related by E.G.W.” 7. DF 733-c.
115Ellen G. White, “Notes from a talk with Mrs. E. G. White, Dec. 12, 1906,” 2. DF
733-c.
116Ellen G. White, Life Sketches, 1915, 59.
xxxii Um outro olhar sobre o caso Israel Damman

jovem Ellen foi convertida na reunião campal metodista realizada em Buxton,


Maine,117 provavelmente em 1841. Para ela aquele evento mudou tudo. Ela
lembraria:

“Durante a reunião, nuvens e chuvas prevaleceram em


grande parte do tempo e meus sentimentos estavam em
harmonia com o clima. Agora o sol brilhou forte e claro e
inundou a terra com luz e calor...
“Pareceu-me que todos devem estar em paz com Deus e
animados pelo Seu Espírito. Todas as coisas em que meus
olhos repousaram pareciam ter passado por uma mudança. As
árvores estavam mais bonitas, e os pássaros cantavam uma
canção mais doce do que nunca; eles pareciam estar louvando
o Criador em suas canções. Eu nem queria falar, por medo de
que essa felicidade fosse embora e eu perdesse a evidência
anterior do amor de Jesus por mim.
“Na medida em que nos aproximávamos da nossa casa em
Portland, nós passamos por homens trabalhando na rua. Eles
estavam conversando sobre coisas triviais, mas os meus
ouvidos estavam surdos para todas as coisas exceto para o
louvor a Deus, e as palavras deles vieram para mim como
gratidão e agradecimentos e alegres hosanas. Voltando-me
para minha mãe, eu disse: ‘Por que esses homens estão todos
louvando a Deus se eles não estavam na reunião campal?’ Eu
então não entendi o porquê as lágrimas vieram aos olhos da
minha mãe e um sorriso terno iluminou o seu rosto, enquanto
ouvia as minhas simples palavras, que a relembraram da sua
própria experiência semelhante à minha.”118

Da mesma forma, uma vez quando ela e o seu irmão mais velho Robert
eram jovens mileritas, Ellen relembrou a face do seu irmão sendo iluminada
quando ele falou.119 Outros também viram isso? Não há nenhuma forma de
saber. Mesmo em seu relato sobre a prisão de Damman, ela relembrou que
“os semblantes dos servos de Deus iluminaram-se com a glória Dele.”120
117Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860,2:12.
118Tiago White and Ellen G. White, Ancestry, Early Life, Christian Experience, and
Extensive Labors, of Elder Tiago White, and His Wife, Mrs. Ellen G. White,The Ellen
G. White 1888 Materials, 143, 144.
119Ibid., 164; See also Ellen G. White, unpublished Life Sketches Manuscript, 48.
120Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860,2:40.
Contents xxxiii

Outra vez, viram outros o que ela viu? Uma vez que ninguém
testemunhou sobre o assunto, pelo menos de acordo com os
registros do resumo do jornal, nós nunca saberemos. Entretanto, é
interessante que muitos anos mais tarde, quando J. N. Andrews foi
chamado para ser o nosso primeiro missionário oficial, a face dele
foi também relembrada por J. O. Corliss como tendo brilhado com
brilho intenso:

“Uma reunião campal foi marcada para acontecer


em uma curta distância de Battle Creeck, no verão de
1874, pouco antes da partida do nosso primeiro
missionário para um campo estrangeiro, e o pastor
estava presente. Quando se discorreu sobre a expansão
da mensagem e foi noticiado que ele deveria partir para
Europa em breve, uma mudança ocorreu na reunião, e o
pastor Andrews, que nunca tinha parecido tão solene,
imediatamente, pareceu mudar de aparência. Sua face
brilhou com... pronunciado brilho....
“Eu nunca tinha testemunhado uma visão tão
celestial, nem tenho eu visto nada igual desde aquela
época.”121

Estariam Ellen White ou J. O. Corliss mentindo sobre o que eles


disseram? Não. Alguém mais viu o que eles disseram? Nós nunca
saberemos. Mas, ver a prisão pelos olhos de Ellen White é uma
possibilidade válida. Tudo o que aconteceu naquela noite ela viu de
uma perspectiva espiritual.
Uma outra forma de olhar as diferenças entre os dois relatos é
não tentar oferecer explicação alguma, ao invés disso, simplesmente
reconhecer que ocorrências sobrenaturais serão vistas de forma
diferente por crentes e não-crentes. A bíblia oferece exemplos
numerosos de eventos que os crentes consideram sobrenatural,
enquanto outros, ou negam a historicidade, ou pelo menos oferecem
outras explicações. Todas as coisas desde o relato bíblico da criação
até o diluvio universal, e a ressurreição de Cristo, sem mencionar
todos os milagres menores na bíblia, são aceitos em fé pelos crentes,
121J.
O. Corliss, “The Message and Its Friends—No. 5,”The Review and Herald,
September 6, 1923, p. 7; quoted in Tiago R. Nix, Sacrifice and Commitment, 2000, 107,
108.
xxxiv Um outro olhar sobre o caso Israel Damman

mas são minimizados ou negados por outros. Josué e o Sol parado,


as muralhas de Jerico caindo, Ezequias e seu relógio de Sol
movendo-se para trás, Jonas e o seu grande peixe, e assim por
diante. Todas essas são histórias que os cristãos comprometidos
aceitam como verdade porque os profetas registraram-nas como
fatos, enquanto outros veem os mesmos eventos de forma
completamente diferente, providenciando explicações naturalistas
para eles, ou negando completamente os relatos. Mas, não são
apenas os eventos bíblicos que têm diferentes pontos de vista em
relação a eles. Na vida e experiência de Ellen White vem à mente
um exemplo de um histórico evento que ela viu como sendo
sobrenatural, mais nem o comitê congressional, nem as testemunhas
oculares, puderam explicar totalmente o que realmente causou o
evento. Eu estou me referindo ao fim da primeira grande batalha da
Guerra Civil Americana, a batalha de Manassas. Na tarde de 21 de
julho de 1861 ocorreu uma derrota total das forças da união. Cerca
de duas semanas mais tarde, em 3 de agosto de 1861, em Roosevelt,
NY, foi mostrado a Ellen White a razão da derrota:

“Eu tive uma visão da desastrosa batalha de


Manassas, Virginia. ... O exército do sul tinha tudo ao
seu favor e estava preparado para um terrível combate.
O exército do norte avançava com triunfo, sem duvidar
de que seriam vitoriosos. Muitos foram imprudentes e
marcharam vangloriosamente, como se a vitória já
fosse deles... Eles não esperavam um encontro tão
violento. ... Os mortos e moribundos estavam dos dois
lados. Ambos, norte e sul, sofreram severamente... Em
um instante um anjo desceu e moveu a sua mão para
trás e imediatamente houve confusão nas fileiras.
Pareceu aos homens do norte que suas tropas estavam
recuando, quando na verdade não estavam, e uma
precipitada retirada começou...
“A súbita retirada do exército do norte é um
mistério para todos. Eles não sabem que a mão de Deus
estava no assunto.”122

Vamos primeiro olhar o relatório de uma testemunha ocular


confederada sobre o que ele viu naquela tarde:
122Ellen G. White,Testimonies for the Church 1:266, 267.
Contents xxxv

“Agora aconteceu o mais extraordinário espetáculo que


eu já testemunhei. Eu estava contemplando as bem formadas
numerosas fileiras enquanto elas se moviam avante para o
ataque, umas quinze ou vinte mil pessoas a vista, e por
alguma razão virei a minha cabeça para outra direção por
um momento, quando alguém exclamou, apontando para o
campo de batalha: Olhe! Olhe! Eu olhei, e que mudança
ocorreu em poucos instantes. Onde aquelas fileiras bem-
vestidas e bem alinhadas com espaços bem definidos entre
elas estavam avançando firme e continuamente, de repente,
todo o campo era um enxame confuso de homens, fugindo
como abelhas, o mais rápido que suas pernas podiam levá-
los, toda a ordem e organização foram abandonadas.”123

Quando pessoas visitam o campo de batalha hoje, a seguinte descrição é


encontrada próxima a última placa explicativa no circuito do turismo:
“Charge on Griffin’s Guns—Raw Recruits: The 33rd VA Infantry
“Os Virginianos estavam esperando, tensos aqui no Wood’s edge
(entre as árvores) – era a primeira vez deles debaixo de bombardeios.
Projéteis da bateria Rickett explodiram nos galhos acima e abriram
caminho no terreno à frente. Quando dois canhões da união rolaram
para a posição no topo da elevação apenas 100 jardas
(aproximadamente 100 m) de distância, o coronel A. C. Cummings
deu ordem de ataque. Melhor colocar os seus homens em
movimento, concluiu o coronel, antes que eles entrem em pânico e
antes que os canhões da união possam causar mais danos.”
Continuando em direção a última placa explicativa no circuito do
turismo, você passa por uma pequena placa no campo de batalha que diz:

“Você está próximo a seguir os passos do ataque dos


Confederados. Se os dois canhões tivessem virados e
metralhado a esta distância, eles teriam destruído o
regimento. Por alguma razão a artilharia não abriu fogo,
como se os Virginianos fossem invisíveis.”

Finalmente você vem para a última placa descritiva no campo de


batalha. Ele afirma:
123W. W. Blackford, War Years with Jeb Stuart, 1946, 32-35.
xxxvi Um outro olhar sobre o caso Israel Damman

“Point Blank Volley—An Officer’s Error?


“Com uma visão clara da artilharia, os
confederados alinharam-se seguindo a cerca e as
árvores através do campo aberto. Estes dois canhões
e a infantaria de suporte poderia ter parado os
rebeldes, ainda assim os quatrocentos virginianos no
ataque foram capazes de disparar uma rajada de
mosquetes tão próxima (quase a queima roupa) que
praticamente eliminaram as tripulações de armas da
União. Inquéritos do Congresso não conseguiram
esclarecer o mistério: Como os confederados
administraram tamanha proximidade?...”124

E o processo completo, já descrito, apenas começaria. Isso


resume muito bem as diferenças: Ellen White disse que foi um anjo
que causou toda a confusão; a melhor explicação que nosso serviço
nacional do parque pode oferecer diz que parecia “como se os
Virginianos estivessem invisíveis.” Resumindo, existem certos
eventos que os crentes verão de uma maneira, apesar das afirmações
contrárias dos não crentes.
Seja como for, o relato daquela longa noite em Atkinson
continua sendo de grande interesse para os adventistas. Como
disse no início, sem dúvidas, nem todas as questões referentes ao
que aconteceu naquela noite serão resolvidas. De fato, quase trinta
anos depois, Ellen White lembrou-se do impacto que o fanatismo
teve no incipiente movimento adventista,

“Nós reconhecemos, para a nossa dor, que havia


fanatismo no Estado do Maine, e que esse fanatismo
surgiu também em diferentes lugares e estados. ... Uma
terrível mancha foi lançada sobre a causa de Deus que
se apegaria ao nome Adventista como uma lepra.
Satanás triunfou, pois esta reprovação faria com que
muitas preciosas almas temessem ter qualquer conexão
com os Adventistas.”125

124Wording of explanatory signs on the walking tour of the Manassas National

Historical Park was copied during a visit to the battlefield on September 3,


2001.
125Ellen G. White to J. N. Loughborough, August 24, 1874,Letter 2, 1874, pp. 2, 7.
Contents xxxvii

Mas, eu penso que o Dr. Herbert E. Douglass em seu livro tem


sumarizado o evento Damman muito bem,

“A igreja Adventista começou em meio a gritos,


rastejamentos, abraços, alegorizações do segundo
advento? Definitivamente não. Ninguém em Atkinson
era guardador do sábado, nem mesmo Ellen Harmon.
Ninguém naquela noite entendia o papel de Jesus como
Sumo Sacerdote. Ninguém no círculo de Dammon tinha
a menor ideia do tema do grande conflito e as suas
implicações para eles. A reunião de Dammon foi
composta de mileritas desapontados que não tinham
abandonado a doutrina bíblica do advento, embora
estivessem tateando em meio a nevoa teológica.
“Usando o plano que Ele seguiu desde que os
nossos primeiros pais deixaram o jardim do Éden,
DEUS gentilmente começou com os poucos que não
tinham descartado a experiência de 1844. Tão
pacientemente Ele guiou os poucos que ouviriam e
abandonariam seus muitos erros, como a santidade do
domingo, o fechamento completo da porta da graça,
‘não trabalhar’, os excessos emocionais na adoração.
Sem os ensinamentos, e a intervenção condutora do
Espírito de Profecia operando por meio de Ellen White,
claramente o testemunho Adventista da década de 1840
teria sido muito diferente.” 126

126Douglass, op cit., 474, 475.

Você também pode gostar