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ASSOCIAÇÃO DE ENSINO E CULTURA DE MATO GROSSO DO SUL

FACULDADES INTEGRADAS DE TRÊS LAGOAS


DIREITO

MELISSA ANGELO DUTRA

ANÁLISE DO ARTIGO 28 DA LEI 11.343/2006: Sua Relação Com As


Políticas Públicas De Redução De Danos

TRÊS LAGOAS/MS
2023
MELISSA ANGELO DUTRA

ANÁLISE DO ARTIGO 28 DA LEI 11.343/2006: Sua Relação Com As


Políticas Públicas De Redução De Danos

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Direito das Faculdades Integradas
de Três Lagoas – AEMS, como requisito parcial
para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Profª Daniela Borges Freitas

TRÊS LAGOAS/MS
2023
Dutra, Melissa Angelo.

Análise do artigo 28 da lei 11.343/2006: sua relação com as políticas


públicas de redução de danos. Melissa Angelo Dutra. Três Lagoas, 2023. 59
p.

Orientadora: Daniela Borges Freitas.

Trabalho de conclusão de curso – Graduação em Direito. Faculdades


Integradas de Três Lagoas – AEMS.

1. Descriminalização 1. 2. Maconha 2. 3. Políticas públicas 3. 4. Lei de


drogas 4. 5. Artigo 28 5.

I. Orientadora: Daniela Borges Freitas. II. Faculdades Integradas de Três


Lagoas – AEMS. III. Análise do artigo 28, da Lei 11.343/2006: sua relação
com as políticas públicas de redução de danos. Monografia.
MELISSA ANGELO DUTRA

ANÁLISE DO ARTIGO 28 DA LEI 11.343/2006: sua relação com as


políticas públicas de redução de danos

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Direito das Faculdades Integradas
de Três Lagoas – AEMS, como requisito parcial
para obtenção do título de Bacharel em Direito,
orientada pela Profª Daniela Borges Freitas

Comissão Examinadora
Prof.(a.) Daniela Borges Freitas ____________________
(Orientador) Assinatura

Prof.(a.) [título] Nome Sobrenome ____________________


(Arguidor 1)  Assinatura

Prof.(a.) [título] Nome Sobrenome ____________________


(Arguidor 2)  Assinatura

Aprovado em [dia] de [mês] de [ano].


Dedico este trabalho exclusivamente aos meus pais (avós) que nunca desistiram de
mim e sempre me incentivaram a seguir os meus sonhos!
AGRADECIMENTOS

É com profunda gratidão que dedico meus agradecimentos a todas as pessoas que
contribuíram de maneira essencial para a realização desta monografia. Seu apoio,
orientação e incentivo foram fundamentais para alcançar este importante marco em
minha jornada acadêmica.

Primeiramente, expresso minha imensa gratidão aos meus queridos pais. Seu amor
incondicional e apoio constante foram a força motriz por trás dos meus esforços.
Sem o amor e suporte de vocês, essa conquista não seria possível.

À minha família, que sempre esteve ao meu lado, agradeço por compreender as
minhas ausências e por incentivar os meus sonhos. Sua presença e encorajamento
foram fundamentais para superar os desafios ao longo deste caminho.

À minha orientadora, Daniela Borges Freitas, expresso minha mais sincera gratidão
pela dedicação, orientação e valiosos insights compartilhados ao longo deste
trabalho. Sua orientação foi fundamental para aprimorar este estudo e expandir
meus horizontes acadêmicos.

Aos meus professores e coordenadores, agradeço a orientação acadêmica e pelos


conhecimentos compartilhados. Suas aulas inspiradoras e sugestões valiosas
moldaram meu pensamento crítico e ampliaram meu conhecimento.

Não posso deixar de mencionar meus amigos, que estiveram ao meu lado durante
toda a jornada e agradecer a eles por cada momento vivido ao longo desses anos.
Compartilhamos risadas, desafios e momentos inesquecíveis, que tornaram essa
trajetória acadêmica mais significativa.

Esta jornada não foi trilhada sozinha. Cada um de vocês desempenhou um papel
fundamental e deixou uma marca indelével em minha trajetória. A todos os
mencionados e àqueles que de alguma forma participaram, meu mais sincero
obrigada.
“Aqueles que pretendem exercer profissão jurídica devem ter sobretudo a qualidade
da busca incessante pela justiça, a qual é o fim supremo do Direito. Toda norma
jurídica traz essencialmente esse anseio milenar da busca do alcance do justo.”
Advogado Darlan Batist
RESUMO

A monografia se propõe a abordar a questão das drogas de maneira abrangente,


explorando desde a definição das substâncias e sua presença histórica até as
implicações sociais e políticas. Ela examina a proibição global das drogas e a
legislação brasileira, com ênfase no artigo 28, que trata da posse para consumo
pessoal e as medidas alternativas à prisão. Além disso, a monografia discute a
transição de políticas de redução de danos para uma abordagem que combina
prevenção, tratamento, reintegração social e repressão ao tráfico, nomeada de Nova
Políticas Sobre Drogas. Um ponto crucial é o debate sobre o combate em massa
das drogas ou a descriminalização das drogas, destacando sua relevância na
promoção da saúde pública e equidade. O objetivo final da monografia é informar ao
leitor como está o mundo atual em relação as drogas, e quais serão os próximos
passos que serão tomados em relação aos entorpecentes.

Palavra-chave: 1. Descriminalização; 2. Maconha; 3. Políticas públicas; 4. Lei de


Drogas; 5. Artigo 28.
ABSTRACT

The monograph aims to comprehensively address the issue of drugs, exploring from
the definition of substances and their historical presence to social and political
implications. It examines the global prohibition of drugs and Brazilian legislation, with
an emphasis on Article 28, which deals with personal drug possession and
alternative measures to imprisonment. Furthermore, the monograph discusses the
transition from harm reduction policies to an approach that combines prevention,
treatment, social reintegration, and drug trafficking repression, known as the New
Drug Policies. A crucial point is the debate between mass drug control and drug
decriminalization, highlighting its relevance in promoting public health and equity.
The goal of the monograph is to inform the reader about the current state of the world
regarding drugs and what the next steps will be in relation to narcotics.

Keywords: 1. Decriminalization. 2. Marijuana. 3. Public policies. 4. Drug Law. 5.


Article 28.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................ 9
2 DROGAS ............................................................................................................... 11
2.1 O Que é Considerado Droga .............................................................................
11
2.2 Contexto Histórico E Social Das Drogas .........................................................
13
2.3 Dependência Química E Suas Consequências ...............................................
18
2.4 Proibição das Drogas ........................................................................................
21
3. LEI N° 11.343/2006 .............................................................................................. 26
3.1 Contexto Histórico E Objetivo Da Lei ...............................................................
27
3.2 Uso De Drogas Pela Lei N° 11.343/206 .............................................................
29
3.2.1 Consumo Pessoal, Tráfico E Ônus Da Prova ...................................................
33
3.2.2 Penas ...............................................................................................................
34
4 POLÍTICAS PÚBLICAS, COMBATE AS DROGAS E A POSSÍVEL
DESCRIMINALIZAÇÃO ........................................................................................... 39
4.1 Políticas Públicas De Redução De Danos .......................................................
39
4.1.1 Política De Redução De Danos No Brasil .........................................................
40
4.1.1.1 O fim das políticas públicas de redução de danos .........................................
41
4.2 Política Nacional Sobre Drogas ........................................................................
43
4.3 Combate Das Drogas No Brasil ........................................................................
46
4.4 A Possível Descriminalização ..........................................................................
49
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................
54
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 56
INTRODUÇÃO

A questão das políticas públicas relacionadas às drogas tem sido um tópico


de considerável debate e controvérsia em diversas sociedades ao redor do mundo.
No Brasil, a promulgação da Lei 11.343/2006, conhecida como Lei de Drogas,
representou um marco significativo no tratamento legal das substâncias
entorpecentes. Um dos pontos mais relevantes e frequentemente discutidos desta
legislação é o artigo 28, que trata do porte de drogas para consumo pessoal. Este
artigo, embora não preveja a criminalização do usuário, tampouco a pena privativa
de liberdade, tem gerado importantes reflexões quanto à sua efetividade e à sua
coerência com as políticas públicas de redução de danos.
Neste contexto, emerge a abordagem da redução de danos como uma
estratégia alternativa e progressista para lidar com as questões relacionadas ao uso
de substâncias psicoativas. A redução de danos se contrapõe à abordagem
tradicionalmente punitiva e repressiva, buscando minimizar os riscos e impactos
negativos associados ao consumo de drogas, ao invés de simplesmente focar na
erradicação do uso.
Esta monografia se propõe a analisar o artigo 28 da Lei 11.343/2006 em
relação às políticas públicas de redução de danos. Para tanto, é fundamental
compreender as bases conceituais da redução de danos e sua evolução ao longo do
tempo, assim como examinar em detalhes o conteúdo e o contexto do artigo 28,
investigando suas implicações práticas e suas possíveis conexões com as
estratégias de redução de danos preconizadas por diversos especialistas e
organizações. Além disso, será pertinente explorar o contexto das drogas bem como
os impactos sociais, de saúde pública e jurídicos.
A relevância deste estudo reside na oportunidade de avaliar de forma crítica
e imparcial a interseção entre a legislação vigente e as abordagens modernas e
humanitárias em relação ao consumo de drogas. A análise proposta poderá
contribuir para a compreensão dos desafios enfrentados pelo sistema legal brasileiro
e para a identificação de possíveis caminhos de harmonização entre os objetivos da
lei e as metas das políticas públicas de redução de danos.
Serão abordados os conceitos fundamentais das políticas de drogas, bem
como a evolução histórica das abordagens tradicionais de criminalização para a

9
emergência da perspectiva de redução de danos. Será realizada uma revisão
bibliográfica que permita compreender as bases teóricas e práticas dessa
abordagem, assim como seus princípios norteadores e as experiências
internacionais que a fundamentam.
Iremos abordar a Lei 11.343/2006 e, mais especificamente, para o artigo 28,
que trata do porte de drogas para consumo pessoal. Abordaremos o texto legal,
considerando sua redação, interpretações doutrinárias e jurisprudência relevante.
Será importante também contextualizar o surgimento dessa legislação e os objetivos
que motivaram sua elaboração, a fim de compreender melhor o contexto no qual o
artigo 28 está inserido.
Será realizada uma análise comparativa entre o artigo 28 e os princípios da
redução de danos. Será explorada a convergência ou divergência entre os objetivos
da lei e os princípios da abordagem de redução de danos, considerando aspectos
como saúde pública, direitos humanos e efetividade das políticas.
No quarto capítulo, serão discutidos os impactos sociais e de saúde pública
decorrentes da aplicação do artigo 28. Será realizada uma análise dos resultados
práticos da lei, considerando dados estatísticos, estudos de casos e experiências
concretas. A partir dessa análise, será possível avaliar se o artigo 28 tem contribuído
para a redução de danos efetivamente ou se, por outro lado, poderia ser aprimorado
para melhor atender aos objetivos de saúde e bem-estar da população.
Por fim, a conclusão consolidará as análises realizadas ao longo da
monografia, apresentando uma síntese das principais descobertas, conclusões e
recomendações advindas da investigação. Será destacada a importância de um
diálogo contínuo entre a legislação e as políticas públicas, buscando uma maior
coerência entre as abordagens legais e as estratégias de redução de danos.
Em suma, esta monografia se propõe a aprofundar o entendimento sobre a
relação entre o artigo 28 da Lei 11.343/2006 e as políticas públicas de redução de
danos. Ao analisar criticamente a legislação e sua implementação em relação aos
princípios da redução de danos, espera-se contribuir para a promoção de um debate
embasado e informado sobre as estratégias mais adequadas para lidar com a
questão das drogas, visando a proteção da saúde e dos direitos humanos da
população.

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2. DROGAS

Para que possamos entender a relação da Lei n°11.343/2006, seu artigo 28,
e as políticas públicas de redução de danos, é necessário termos um breve
entendimento do que é considerado droga no nosso contexto atual, seus pós e
contras na nossa sociedade, os efeitos que o uso destas substâncias pode causar
no nosso organismo, bem como entender a relação dos seres humanos com as
drogas ao decorrer do tempo.
De acordo com um artigo publicado pelo Biologia Net (2022, s.p.), a palavra
droga tem origem francesa (drogue) ou holandesa (droog), e seu significado está
ligado ao uso de folhas secas utilizadas nos tratamentos de doenças. Atualmente as
drogas podem ser substâncias naturais (extraídas da natureza), semissintéticas
(produzidas em laboratório, mas com substâncias naturais em sua composição),
sintéticas (produzidas em laboratório, não apresenta substância natural em sua
composição), podendo ser legais, quando a sua venda e consumo são liberados, ou
ilegais, quando seu consumo e venda são proibidos.

2.1 O Que é Considerado Droga


A ciência define como droga toda substância capaz de promover
modificações na estrutura e nas funções do organismo vivo, desencadeando
alterações fisiológicas ou comportamentais. A medicina classifica essas substâncias
como depressoras, perturbadoras ou estimulantes do Sistema Nervoso Central
(SNC). Essas mudanças podem ter impactos significativos na saúde física e mental
do indivíduo, desencadeando uma série de efeitos que variam conforme a natureza
e a quantidade da substância consumida. O estudo aprofundado dessas
características é fundamental para compreender os impactos e os desafios
associados ao uso de diferentes tipos de drogas na sociedade contemporânea
(CASTELÕES, 2002, s.p.).

11
As drogas consideradas depressoras são aquelas que diminuem a atividade
cerebral, e entre as drogas deste tipo estão o álcool, medicamentos que promovem
o sono, e os solventes (tais como colas, removedores e tintas). Já as consideradas
perturbadoras são as que modificam qualitativamente a atividade do cérebro,
fazendo com que nosso cérebro funcione fora do seu padrão normal, e entre elas
estão a maconha e os anticolinérgicos utilizado na medicina para tratamento de
algumas doenças, e alguns sintomas como as cólicas. E por fim, o terceiro grupo
são as estimulantes, estas estimulam a atividade cerebral, deixam o usuário
“elétrico”, “ligado”, e as principais drogas deste grupo são a cocaína, nicotina e
anfetaminas (CASTELÕES, 2002, s.p.).
A definição e classificação de drogas conforme a legislação brasileira é um
tema de importância fundamental no contexto social e jurídico do país. O Brasil
adota uma abordagem rigorosa em relação às drogas, regulamentando sua
produção, comercialização, uso e posse por meio da Lei de Drogas (Lei nº
11.343/2006). Essa legislação estabelece critérios específicos para a categorização
das substâncias, distinguindo entre drogas ilícitas e drogas lícitas (MASSON;
MARÇAL, 2022, p. 827).
De acordo com a legislação brasileira, droga é definida como "toda
substância ou produto capaz de causar dependência, assim especificado em lei ou
relacionado em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União"
(artigo 1º da Lei nº 11.343/2006). Essa definição abarca tanto substâncias químicas
quanto vegetais que possuam potencial para gerar dependência física ou psíquica
(MASSON; MARÇAL, 2022, p. 827).
As drogas são categorizadas em dois grupos: as drogas ilícitas e as drogas
lícitas. De acordo com o Capitão-Tenente Paulo Thiago Gonçalves (2018, s.p.), as
drogas ilícitas são aquelas consideradas proibidas para produção, comércio, posse e
uso, e incluem substâncias como maconha, cocaína, crack, ecstasy e heroína, entre
outras. Já as drogas lícitas são aquelas que, apesar de regulamentadas, podem ser
produzidas, comercializadas, possuídas e consumidas em determinadas condições,
como o álcool e o tabaco. O controle das substâncias é gerenciado por órgãos
competentes, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e a Polícia
Federal, que monitoram a produção, distribuição e uso dessas substâncias de
acordo com as diretrizes da legislação.

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É importante ressaltar que a classificação das drogas não é uma questão
estática e pode evoluir ao longo do tempo. A sociedade, a ciência e os aspectos
culturais desempenham um papel significativo na forma como as substâncias são
percebidas e regulamentadas. A legislação brasileira define drogas como
substâncias capazes de gerar dependência e estabelece uma abordagem
regulatória que distingue entre drogas ilícitas e lícitas. Essa categorização é
essencial para o controle e a gestão das substâncias no país, visando proteger a
sociedade e promover a saúde pública, embora essa abordagem esteja sujeita a
mudanças à medida que a compreensão e a percepção das drogas evoluem
(DANTAS, 2022, s.p.).

2.2 Contexto Histórico E Social Das Drogas


A relação entre as drogas e a humanidade é longa e complexa, abrangendo
uma ampla gama de usos, percepções culturais e impactos sociais ao longo da
história. As drogas, sejam elas naturais ou sintéticas, têm desempenhado papéis
variados nas sociedades, desde fins medicinais, em rituais e até mesmo recreativo.
Abordaremos os principais aspectos do contexto histórico e social das drogas,
destacando momentos importantes e padrões de uso ao longo do tempo (SAAD, p.
92, 2013).
De acordo com uma entrevista concedida a Adriana Magalhães, o
Pesquisador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativo, Henrique
Carneiro (2006), cita que o uso de drogas data a pré-história, e durante vários
milênios o consumo de drogas esteve intrinsicamente ligado o aspecto religioso a
medicina.
Ao longo da evolução da humanidade, a utilização de substâncias
psicoativas desempenhou um papel significativo em diversas culturas, muitas vezes
associado a rituais religiosos e práticas espirituais, não se limitando exclusivamente
aos efeitos psicoativos que proporcionam. Essa estreita ligação entre substâncias
psicoativas e a busca pela conexão com o divino ou o transcendente perdurou
através de várias civilizações, evidenciando a complexidade da interação entre a
psique humana, a espiritualidade e o domínio das substâncias. Essa relação
histórica tem sido objeto de estudo para compreender não somente os efeitos das

13
substâncias, mas também a intersecção entre as dimensões psicológicas, espirituais
e culturais da experiência humana (SAAD, 2013, p. 92).
Diversas sociedades antigas, realizavam rituais que envolviam o consumo
de substâncias psicoativas como uma forma de conectar o mundo material e o
mundo espiritual, buscando compreensão dos mistérios do universo, e conexão com
seus deuses. Também eram utilizadas para tratar doenças e promover o bem-estar
físico e mental. O uso ritualístico destas substâncias estava enraizado nas tradições
de culturas como os povos indígenas das Américas, as antigas civilizações do Egito,
Grécia, Índia e muitas outras, e eram passadas de geração em geração (SAAD,
2013, p. 92).
No Brasil não é diferente, algumas tribos indígenas utilizam plantas,
alucinógenas em rituais religiosos, denominadas por eles como “plantas divinas”. De
acordo com relatos indígenas, eles recebem mensagens divinas de seus deuses
após o consumo das plantas. Alguns autores chamam essas plantas de psicodélicas
que significa expansão da mente. Um exemplo desse tipo de “medicina”, assim
intitulado por eles, é a Ayahuasca, que significa “vinho dos espíritos”, chá
alucinógeno, feito de uma espécie de cipó, e foi ingerido originalmente por tribos
amazônicas há mais de 4 mil anos, e os rituais continuam acontecendo nos tempos
atuais, existido até mesmo pacotes de viagens (LOPES, 2006, s.p.).
Uma pesquisa detalhada, conforme indicado por Matyszak (2019, s.p.),
revelou que o ópio e a maconha eram as duas substâncias mais utilizadas pelas
civilizações do mundo Mediterrâneo. Há registros históricos do ópio presente na
Mesopotâmia, nas tumbas egípcias e no oeste da Líbia, evidenciando sua
disseminação e importância ao longo das antigas culturas mediterrâneas.
Um exemplo relatado por Henrique Carneiro é a deusa grega Nix, que é
ligada ao sono, existem relatos de que esta deusa dava a papoula para que seus
seguidores pudessem ter uma noite de sono tranquila e prazerosa. A papoula é uma
planta que produz o ópio, o qual possui efeitos anestésicos.
O uso da maconha ao longo da história acompanha os seres humanos
desde os tempos dos caçadores-coletores, estando muitas vezes ligado a rituais
religiosos e crenças espirituais. Diversas plantas que alteravam a consciência eram
consideradas "segredo divino", "profecia" ou possuidoras de características
semelhantes a "anjos", devido à crença de que elas permitiam conexões com o

14
divino e insights transcendentais. A maconha teve um papel significativo no
desenvolvimento de religiões e civilizações em várias partes do mundo, como na
Ásia, Europa, África e Oriente Médio (FURTADO, 2021, p. 319).
No início do século XX, no Brasil, tanto negros quanto indígenas das regiões
Norte e Nordeste utilizavam a maconha com propósitos fitoterápicos, lúdicos e
espirituais. Historicamente, a repressão contra a população negra muitas vezes usou
como justificativa a suposta necessidade de combater o "vício" do consumo de
cannabis. Antes a maconha era vendida em forma de cigarro, nas farmácias, de
forma lícita. Atualmente, a prática cerimonial do uso da maconha pode ser
observada em várias partes do mundo: na Índia, associada ao deus Shiva; em
contextos xamânicos indígenas no México, onde é conhecida como Santa Rosa; e
nos cultos rastafáris da Jamaica, onde é chamada de ganja. No Brasil, seu uso em
rituais é equiparado ao tráfico de drogas (FURTADO, 2021, p. 319).
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de
180 milhões de indivíduos, com idades compreendidas entre 15 e 64 anos, fazem
uso de drogas em nível global, dos quais estima-se que aproximadamente 13,1
milhões sejam dependentes. No contexto nacional, estudos realizados pela
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indicam que 7,7% dos brasileiros entre 12 e 65
anos já experimentaram maconha ao menos uma vez na vida (PREV ONE, 2023,
s.p.).
Drogas lícitas, como o vinho e a cerveja, também são utilizados a milhares
de anos. De acordo com o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA)
(2022, s.p.) as bebidas alcoólicas tiveram origem na Pré-história, durante o perídio
neolítico, a partir da fermentação natural. Foram encontrados também registros dos
celtas, gregos, romanos, babilônicos e dos egípcios de como eles consumiam e
fabricavam as bebidas alcoólicas.
As drogas sintéticas surgiram a partir do século XIX com os avanços na
química e na indústria farmacêutica. A capacidade de sintetizar compostos químicos
em laboratórios permitiu a criação de substâncias que não eram encontradas na
natureza. O desenvolvimento dessas substâncias sintéticas foi impulsionado por
uma combinação de fatores, incluindo a busca por novos medicamentos, a
curiosidade científica e, infelizmente, a exploração de substâncias psicoativas
recreativas (SOUZA; CALVETE, 2017, p. 3-5).

15
A cocaína, uma das primeiras drogas sintéticas notáveis, foi isolada pela
primeira vez em 1855 pelo químico Albert Niemann a partir da planta de coca.
Inicialmente utilizada como anestésico e estimulante, essa substância ganhou
destaque por seus efeitos medicinais. No entanto, ao longo do século XX, a cocaína
viu sua popularidade crescer rapidamente, sendo abusada em diversas formas. O
reconhecimento de seus riscos e seu potencial altamente viciante culminaram na
transição de seu papel medicinal para uma compreensão mais ampla de seus
efeitos nocivos. Isso levou a medidas regulatórias mais rigorosas e à
conscientização sobre os perigos do seu uso indevido, marcando uma mudança
significativa em sua percepção e aplicação (LOPES, 2006, s.p.).
De acordo com um artigo publicado pela BBC NEWS Brasil, Sigmund Freud,
criador da psicanálise e a personalidade mais influente da história no campo da
psicologia, fez o uso da cocaína para comprovar sua teoria de que essa substância
poderia ser usada para tratamento de algumas doenças mentais, Freud obteve uma
melhora em seu estado depressivo. Mesmo não sendo o objetivo principal de Freud,
ele acabou descobrindo que a cocaína era capaz de dessensibilizar algumas partes
do corpo, como a mucosa bucal e a gengiva, além de eliminar o desconforto gástrico
nervoso e aumentar a capacidade de rendimento físico e intelectual. Após Freud
analisar os efeitos indesejáveis da cocaína, como problemas cardíacos, convulsões
e danos cerebrais, abandonou a defesa da substância (MUÑOZ; GONZÁLEZ, 2020,
s.p.).
A heroína, inicialmente sintetizada em 1874 pelo químico inglês C.R. Wright,
foi introduzida no mercado como um medicamento destinado ao tratamento da
tosse. Contudo, sua utilização terapêutica foi prontamente abandonada devido aos
severos efeitos colaterais que apresentava, como por exemplo a depressão
respiratória, coma e overdose fatal. Porém, décadas mais tarde, ressurgiu como
uma droga de abuso devido à sua extraordinária potência e aos efeitos intensos que
provoca no sistema nervoso central, tornando-se atraente para usuários em busca
de experiências de elevada intensidade e alterações sensoriais profundas. A
natureza altamente viciante da substância contribuiu significativamente para esse
ressurgimento como uma droga amplamente consumida, gerando um aumento
exponencial no seu uso e abuso (MUÑOS; GONZALES, 2020, s.p.).

16
A síntese do LSD (ácido lisérgico) em 1938 pelo químico suíço Albert
Hofmann marcou um ponto crucial. Inicialmente, o LSD foi explorado como um
potencial medicamento psiquiátrico devido às suas propriedades psicodélicas. No
entanto, a sua complexidade e os efeitos imprevisíveis e intensos levaram à
interrupção de suas pesquisas como medicamento viável. A imprevisibilidade das
respostas individuais e a falta de controle sobre os efeitos do LSD em um ambiente
terapêutico contribuíram para sua rejeição como medicamento psiquiátrico (LOPES,
2006, s.p.).
Entretanto, nas décadas de 1960 e 1970, o LSD emergiu em meio à
contracultura, tornando-se popular devido à sua capacidade de induzir experiências
psicodélicas profundas. Sua associação com movimentos contraculturais, busca por
expansão da consciência e exploração espiritual fez com que ganhasse
popularidade entre os jovens. Contudo, devido ao seu uso recreativo generalizado e
à sua classificação como substância ilícita, o LSD foi proibido em várias jurisdições,
contribuindo assim para seu status como uma droga controlada e ilegal (LOPES,
2006, s.p.).
Na década de 1980, houve um notável aumento na síntese de drogas
sintéticas, impulsionado pelo avanço tecnológico na produção de substâncias
químicas e pela busca por novas experiências psicoativas. Esse período viu o
surgimento proeminente do ecstasy (MDMA), que ganhou popularidade em
ambientes recreativos e festivos devido aos efeitos estimulantes e eufóricos que
proporcionava aos usuários. A expansão do mercado de drogas ilícitas impulsionou
não apenas a produção do ecstasy, mas também incentivou o desenvolvimento de
outras substâncias sintéticas (SOUZA; CALVETE, 2017, p. 8-11).
À medida que as décadas avançaram, essa tendência evoluiu para a
diversificação da síntese de drogas sintéticas. Surgiram novas substâncias
psicoativas (NPS) projetadas para imitar os efeitos de drogas tradicionais, burlar
regulamentações existentes ou explorar lacunas legais. Entre essas novas
substâncias, destacam-se variantes de anfetaminas, canabinoides sintéticos,
catinonas sintéticas e uma variedade de outras formulações destinadas a replicar ou
modificar os efeitos de drogas já conhecidas, marcando uma era de rápida expansão
e diversificação no âmbito das drogas sintéticas (SOUZA; CALVETE, 2017, p. 8-11).

17
É importante ressaltar que as drogas sintéticas não são exclusivamente
destinadas ao uso recreativo ou ilícito. Muitos medicamentos, tanto os prescritos
quanto os de venda livre, resultam da síntese química em laboratórios. O avanço no
desenvolvimento de drogas sintéticas desempenhou um papel fundamental na
medicina, permitindo o tratamento eficaz de diversas doenças e condições médicas.
No entanto, o uso recreativo dessas substâncias também apresenta desafios
consideráveis para a saúde e a segurança. Frequentemente, essas substâncias não
foram completamente estudadas quanto aos seus efeitos e riscos, o que pode
acarretar consequências imprevisíveis e prejudiciais para aqueles que optam por
usá-las dessa maneira (GEHM, 2023, s.p.).
A rápida evolução na síntese de drogas sintéticas apresenta um desafio
contínuo para a legislação e regulamentação. O dinamismo do mercado clandestino
de drogas permite a criação e distribuição de novas substâncias de maneira mais
veloz do que a capacidade das leis em serem atualizadas para controlar ou proibir
essas substâncias emergentes. Frequentemente, quando uma substância é proibida,
variantes ligeiramente modificadas podem ser produzidas, contornando as leis
existentes e desencadeando uma corrida entre os fabricantes de drogas e os
legisladores para acompanhar e conter essa evolução. Esse cenário desafia a
capacidade regulatória, criando um ambiente no qual o surgimento constante de
novas drogas sintéticas coloca em xeque a eficácia das estratégias legais de
controle de substâncias psicoativas (GEHM, 2023, s.p.).
Antes de falarmos sobre a proibição das drogas no âmbito legal, é
necessário entendermos brevemente quais as consequências que as drogas trazem
para a vida do usuário, a principal delas é a dependência química e suas
consequências para a vida do usuário de drogas, abrangendo tanto a saúde física,
quanto a psicológica. Se faz necessário tratar desses assuntos para entendermos o
motivo pelo qual o legislador proibiu essas substâncias, bem como entender os bens
que seriam tutelados com a Lei n°11.343/2006.

2.3 Dependência Química E Suas Consequências


O uso inicial de drogas, para muitos, é influenciado por terceiros, e a
continuidade ocorre devido aos efeitos satisfatórios que experimentam. Alguns
recorrem às drogas como um escape da realidade, uma forma de lidar com o luto,

18
término de relacionamentos ou outros desafios diários. Momentaneamente, essas
substâncias oferecem uma pausa, permitindo que esqueçam temporariamente de
seus problemas. No entanto, ao passar o efeito do entorpecente, os problemas
ressurgem, não resolvidos, criando um ciclo onde o alívio temporário se contrapõe à
reaparição dos desafios que motivaram o uso inicial (RIVA, 2021, s.p.).
De acordo com o médico psiquiatra brasileiro Ronaldo Laranjeira em
entrevista com o médico Dráuzio Varella (2011, s.p.), a dependência química
acontece porque as drogas acionam quimicamente, e de forma ilusória, um sistema
de recompensa, que está presente no nosso cérebro, esse sistema é encarregado
de receber estímulos de prazer e transmitir para todo nosso corpo, gerando a
sensação de prazer, bem-estar e euforia. Causam dependência química pois o
usuário só se interessa pelo prazer imediato que a droga lhe proporciona, e
consequentemente as outras formas de prazer vindas de fontes naturais perdem o
seu significado.
Os avanços científicos revelam que além dos efeitos imediatamente
satisfatórios proporcionados pelos entorpecentes, fatores sociais, culturais,
educacionais e comportamentais desempenham um papel crucial no
desenvolvimento da síndrome da dependência. Esses elementos atuam como peças
fundamentais no quadro mais amplo da dependência química, influenciando a
vulnerabilidade individual e moldando as interações complexas entre a substância e
o indivíduo. Aspectos como ambiente social, padrões culturais, experiências
educacionais e fatores comportamentais contribuem para a predisposição, a
manutenção e a recorrência do quadro de dependência, demonstrando a natureza
multifacetada e interdisciplinar desse problema de saúde (CODEIRO; DIEHL;
LARANJEIRA, 2018, p. 618).
As consequências para os usuários de substâncias químicas, a longo e a
curto prazo podem ser irreversíveis, visto que causam mudanças ocasionais ou
permanentes no sistema de recompensa. Após o uso de qualquer quantidade de
substância, o indivíduo sente a necessidade de repetir as sensações prazerosas que
lhe são causadas, e como consequência busca doses maiores para que as
sensações sejam ainda mais intensas, as crises de abstinência e de fissura também
resultam no comportamento repetitivo do uso. Algumas substâncias podem inibir o
efeito euforizante associado ao seu uso, mas o organismo está tão “dependente”,

19
“acostumado” que continua buscando mais e mais (CODEIRO; DIEHL;
LARANJEIRA, 2018, p. 679).
Outras consequências ainda mais graves estão relacionadas aos padrões de
funcionamento do cérebro em reação a atividades cognitivas. Foram descobertas
com base em estudos médicos e exames de neuroimagem funcional e estrutural,
alterações neuro estruturais como, diminuição do tamanho dos neurônios e necrose
ou atrofia cerebral. Podem causar também alterações de comportamento e a
desorganização de processos cognitivos, pois estas substâncias alteram o
funcionamento do córtex pré-frontal, está é a área cerebral responsável pelo
processamento das áreas sensoriais, motoras e límbicas, que estão envolvidas no
funcionamento da memória, da motricidade e possivelmente das funções afetivas de
comportamento. Cada substância possui uma ação distinta em relação ao
funcionamento do nosso cérebro, foi observado que pessoas que fazem o uso do
álcool, da heroína e da maconha, por exemplo, possuem apatia e disfunção
executiva, já o uso da cocaína está mais associado a problemas relacionados ao
controle dos impulsos (CODEIRO; DIEHL; LARANJEIRA, 2018, p. 716-826).
É crucial compreender que a dependência química foi oficialmente
reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença crônica,
mental e progressiva. Esta condição não possui uma cura definitiva, sendo
caracterizada como uma enfermidade mental devido ao seu impacto no
comportamento, no pensamento e nas funções orgânicas do indivíduo. Mesmo
ciente das consequências danosas do consumo excessivo, o usuário continua a
utilizar a substância, evidenciando como o vício tem o poder de modificar
drasticamente nossas cognições, comportamentos e a fisiologia do corpo. Este
reconhecimento enfatiza a necessidade de abordagens terapêuticas contínuas e
suporte multidisciplinar para auxiliar aqueles que enfrentam esse desafio de saúde
pública (DALMAGRO, 2023, s.p.).
Os principais sintomas da dependência química é a ingestão elevada de
drogas por um grande período, falha ao tentar diminuir ou controlar o uso da
substância química, desejo incontrolável de usar droga ao ponto de ter as demais
áreas da sua vida afetada e até mesmo interrompida, e apresentar sintomas de
abstinência se não estiver usando nenhum tipo de droga. Os sintomas de
dependência química não se aplicam apenas ao uso de entorpecentes, mas também

20
de drogas lícitas, como álcool, cigarros, medicações, ou seja, qualquer substância
que lhe provoque o vício (DALMAGRO, 2023, s.p.)
Além de ser uma doença, a dependência química desencadeia diversas
doenças, como por exemplo, a depressão, problemas ao sistema imunológico e
infecções (hepatites e HIV, por exemplo), problemas respiratórios (como, por
exemplo, o enfisema pulmonar, doença crônica, que causa dificuldade respiratória,
no caso de drogas que tem ingestão pelas vias respiratórias), doenças cardíacas
(temos como exemplo a insuficiência cardíaca), gastrointestinais (ocasionados por
drogas de ingestão oral como medicamentos), problemas no fígado, rins, entre
outros. É necessário frisar que uma única droga pode causar inúmeras doenças
tanto físicas quanto psicológicas, sendo elas lícitas ou não (SELBMANN, 2022, s.p.).
O tratamento da dependência química é muito complexo, pois para que se
tenha sucesso é necessário que o indivíduo esteja realmente interessado e motivado
a mudar e parar com o uso das drogas. O tratamento é escolhido de acordo com
cada dependente, é feita uma avaliação por diversos profissionais da área da saúde,
e dependendo do quadro é indicado qual tratamento será mais eficaz. As
internações são aplicadas a casos específicos, somente quando necessárias, ou
seja, quando os demais tratamentos não obtiveram resultado, podem ser voluntárias
(a desejo do dependente) ou compulsória (o dependente não quer ser internado,
mas se torna necessário). Existe a possibilidade de realizar o tratamento pelo
Sistema Único de Saúde (SUS), através dos Centros de Atenção Psicossocial
(CAPs), que são especializados em atendimentos de pacientes com transtornos
mentais ou dependentes de álcool e drogas, e dos Núcleos de Apoio à Família
(NASFs), que auxiliam as equipes de Saúde da Família no atendimento aos
dependentes de álcool e drogas (DALMAGRO, 2023, s.p.).
A família e a sociedade desempenam papéis cruciais no tratamento de
pessoas com dependência química, contribuem para o processo de recuperação e
reintegração desses indivíduos à vida saudável e produtiva. São responsáveis por
oferecerem suporte emocional e psicológico, um ambiente seguro e confortável,
para que essa pessoa possa compartilhar seus sentimentos e desafios, devem dar
incentivo para o dependente enfrentar o seu vício, buscar tratamento e manter-se
focado na sua recuperação, a família e a sociedade devem estar sempre
monitorando o dependente para evitar recaídas de sua parte (D’URSO, 2020, s.p.).

21
2.4 Proibição das Drogas
O controle internacional sobre narcóticos e substâncias psicotrópicas teve
suas raízes no início do século XX. Diante das preocupações crescentes
relacionadas ao consumo generalizado de ópio e às implicações para a saúde
pública, vários países se uniram na Comissão do Ópio de Xangai em 1909. Essa
reunião foi um marco fundamental, marcando o início dos esforços globais para
abordar a questão das drogas por meio de regulamentações e acordos
internacionais. Esses esforços subsequentemente evoluíram para a criação de
convenções internacionais que buscavam controlar a produção, distribuição e uso de
substâncias psicoativas prejudiciais. Essas convenções, como a Convenção
Internacional do Ópio de 1912 e a Convenção Única sobre Entorpecentes de 1961,
estabeleceram a base para as políticas de controle de drogas em todo o mundo e
desempenharam um papel crucial na proibição e regulamentação de várias
substâncias (LANGER, 2014, s.p.).
De acordo com a United Nations Office Drugs and Crimes (UNODC) (2023,
s.p.), o cenário da evolução das estratégias de controle de substâncias psicoativas,
em consonância com a crescente complexidade das drogas e a expansão das
capacidades de sintetização de compostos narcóticos e psicotrópicos, diversas
nações, operando dentro do âmbito das Nações Unidas, formalizaram um marco de
notável importância: a adesão às três convenções internacionais sobre drogas, que
atualmente desempenham um papel fundamental como arcabouço legal para todas
as nações signatárias. Será feito um breve resumo sobre elas a seguir.
A Convenção Única sobre Entorpecentes de 1961, emendada em 1972,
representa a pedra angular do controle internacional de substâncias narcóticas. Seu
objetivo primordial é garantir o acesso restrito a narcóticos como ópio, morfina e
cocaína, reservando-os exclusivamente para uso médico e científico legítimo, ao
mesmo tempo em que visa impedir o abuso e a distribuição ilegal dessas
substâncias. Através de categorias de controle cuidadosamente estabelecidas, essa
convenção regula a produção e distribuição desses narcóticos, estabelecendo
medidas rígidas para assegurar sua utilização apenas em contextos médicos e
científicos autorizados, buscando manter um equilíbrio delicado entre acesso
terapêutico e prevenção do uso indevido (UNODC, 2023, s.p.).

22
A Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, concentra-se na
regulação de substâncias psicotrópicas, como estimulantes, depressores e
alucinógenos sintéticos. Seu propósito central é unificar o controle internacional
dessas substâncias, possibilitando sua utilização legítima para propósitos médicos e
científicos, ao mesmo tempo em que previne sua utilização indevida e o tráfico ilícito.
A convenção classifica essas substâncias em diferentes listas, cada uma com níveis
específicos de controle, baseados em seus riscos associados e nos usos
reconhecidos para a área médica. Essa abordagem visa equilibrar a disponibilidade
necessária para fins terapêuticos com medidas restritivas para desencorajar o abuso
e a distribuição ilegal (UNODC, 2023, s.p.).
Por último, a Convenção Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e
Substâncias Psicotrópicas de 1988 se concentra no combate específico ao tráfico
ilegal de drogas. Seu principal objetivo é prevenir e reprimir o comércio internacional
de narcóticos e substâncias psicotrópicas. Esta convenção estabelece medidas
direcionadas à cooperação internacional para investigações, incluindo a extradição
de criminosos envolvidos no tráfico, além do confisco de ativos associados a
atividades de tráfico de drogas. Além disso, aborda questões relacionadas ao tráfico
em embarcações e aeronaves, buscando fortalecer a legislação e as ações
conjuntas para reduzir significativamente essa forma de crime transnacional
(UNODC, 2023, s.p.).
Estas convenções, ao serem consideradas em conjunto, desempenham
funções interdependentes e harmonizadas. Especificamente, as duas primeiras
convenções possuem como objetivo primordial a organização e unificação das
medidas de controle em escala global, com a finalidade de garantir o suprimento
adequado de narcóticos e substâncias psicotrópicas para propósitos médicos e
científicos legítimos, ao mesmo tempo em que buscam coibir a disseminação ilegal
dessas substâncias. Adicionalmente, esses tratados incorporam disposições
abrangentes referentes à abordagem do tráfico ilícito e ao combate ao abuso de
drogas (UNODC, 2023, s.p.).
Na história legislativa brasileira, a criminalização das ações associadas à
produção, distribuição e uso de drogas ilícitas teve início com a Consolidação das
Leis Penais de 1932. Esse marco trouxe uma mudança significativa no
enquadramento legal dessas atividades, notável pela substituição da terminologia

23
"substâncias venenosas", presente no artigo 159 do Código Penal de 1890, por
"substâncias entorpecentes". Essa alteração representou uma ampliação no escopo
das atividades proibidas e introduziu penas de privação de liberdade. Estipulou-se
uma pena de 1 a 5 anos para aqueles que fornecessem tais substâncias, refletindo a
preocupação legal crescente com a questão das drogas ilícitas e suas
consequências (KARAM, 2021, s.p.).
A partir de 1968, o Brasil passou por uma mudança significativa na
diferenciação entre consumidores e traficantes de drogas. Antes desse período, o
entendimento mantido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) era de que as
penalidades deveriam ser direcionadas principalmente aos indivíduos envolvidos no
comércio ilegal de substâncias, oferecendo certa proteção aos consumidores contra
punições penais severas. No entanto, esse cenário se alterou com a promulgação
do Decreto-Lei 385/68, o qual trouxe uma modificação crucial ao artigo 281 do
Código Penal. Esse decreto estabeleceu uma nova abordagem, criando um critério
mais rígido de distinção entre o usuário e o traficante, impactando diretamente a
forma como esses indivíduos eram tratados perante a lei (MACHADO, 2022, p. 122-
123).
Esse decreto alterou o tratamento legal entre consumidores e traficantes de
drogas, equiparando-os no âmbito das punições penais. Conforme expresso, "nas
mesmas penas incorre quem ilegalmente: traz consigo, para uso próprio, substância
entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica". Essa mudança foi
um divisor de águas, ao estender a punição penal aos consumidores, colocando-os
em um patamar equivalente aos traficantes no que diz respeito às implicações
legais. A implementação dessa medida gerou debates consideráveis e teve
implicações significativas nas políticas de drogas do Brasil. Por um lado, buscou-se
coibir o uso de drogas, mas, por outro, suscitou questionamentos sobre os impactos
sociais, a lotação do sistema prisional e a abordagem de saúde pública em relação
ao consumo de substâncias. Essa alteração também representou uma mudança no
paradigma do tratamento das drogas e na percepção da distinção entre
consumidores e traficantes no contexto jurídico do país (MACHADO, 2022, p. 122-
123).
A Lei 5.726/71, promulgada três anos após o Decreto-Lei 385/68,
desempenhou um papel significativo na redefinição da abordagem legal em relação

24
às drogas. Embora tenha mantido as tipificações das condutas relacionadas à
produção, comércio e consumo, a lei introduziu uma série de mudanças, incluindo
um aumento da pena máxima para 6 anos e a introdução de disposições para tratar
especificamente das quadrilhas envolvidas no tráfico de drogas. Além disso, a
legislação trouxe a inovadora medida de trancamento da matrícula de estudantes
encontrados com substâncias proibidas e a perda de cargo de diretores de
instituições de ensino que não denunciassem casos de uso e tráfico de drogas no
ambiente escolar (KARAM, 2021, s.p.).
A evolução das leis de drogas no Brasil apresenta marcos importantes que
influenciaram a abordagem legal sobre consumo, tráfico e posse de substâncias
proibidas. A notória Lei 6.368/76 introduziu diferenciação entre penalidades para
posse pessoal e tráfico, porém tentativas de reforma, como a Lei 10.409/2002, não
prosperaram, mantendo a primeira em vigor. Outras leis, como a Lei 8.072/90
(hediondos) e a Lei 9.034/95 (criminalidade organizada), também influenciam o
cenário, embora enfrentem desafios em definir conceitos como "criminalidade
organizada". A abordagem de "guerra às drogas" no Brasil, intensificada após a
criação da Secretaria Nacional Antidrogas em 1998, reflete uma perspectiva
militarizada e se estende a órgãos estaduais, configurando um cenário complexo e
multifacetado (MACHADO, 2022, p. 123-125).
A promulgação da Lei 11.343/2006 marcou uma ruptura significativa ao
revogar legislações anteriores, introduzindo um novo paradigma legal nas políticas
de drogas no Brasil. Ao entrar em vigor, essa legislação propôs uma abordagem
renovada, mais focada na prevenção, no tratamento e na redução de danos
relacionados às substâncias entorpecentes. No entanto, é crucial destacar que,
apesar dessa mudança, essa lei não aboliu por completo a perspectiva repressiva
associada ao proibicionismo. Em alguns casos, e em certos aspectos, até reforçou
essa abordagem, mantendo uma postura punitiva em relação ao tráfico e ao uso de
drogas ilícitas, embora também tenha aberto espaço para alternativas de tratamento
e medidas de redução de danos (MACHADO, p.125-126, 2022).

25
3. LEI N° 11.343/2006

A Lei 11.343/2006, intitulada "Lei de Drogas", é uma legislação brasileira que


aborda questões relacionadas ao uso, tráfico, posse e repressão de drogas ilícitas.
Seu principal objetivo é estabelecer um conjunto de diretrizes para lidar tanto com a
prevenção, tratamento e reinserção de indivíduos dependentes de drogas, para isso
instituiu o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD), quanto
com a repressão ao tráfico e uso indevido dessas substâncias. Ao longo das
décadas, essa legislação passou por diversas transformações que refletem a
complexidade e a evolução das abordagens sociais, políticas e jurídicas em relação
ao consumo, posse e tráfico de substâncias ilícitas (MARCÃO, 2022, p. 474).
A promulgação da Lei de Drogas, aconteceu em 23 de agosto de 2006,
define o tráfico de drogas como crime, prevendo penas rigorosas para aqueles
envolvidos na produção, comércio e distribuição de drogas ilícitas. Ela também
considera a posse de drogas para uso pessoal como infração, mas busca diferenciar
entre usuários e traficantes, com o objetivo de direcionar esforços para combater o
tráfico organizado. Em particular, marcou um ponto de inflexão na maneira como o
Brasil lida com essa questão, buscando um equilíbrio entre medidas preventivas e
repressivas (MASSON; MARÇAL, 2022, p. 827).
A Lei de drogas em seu artigo 2°, dispõe: “ficam proibidas em todo território
nacional, as drogas, bem como o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de
vegetais e substratos dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas,
ressalvadas as hipóteses de autorização legal ou regulamentar, bem como
estabelece a Convenção de Viena, das Nações Unidas, sobre Substâncias
Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de uso estritamente ritualístico-
religioso”, e em seu parágrafo único a lei reforça que a União pode autorizar o
plantio, a cultura e a colheita dos vegetais referidos no caput deste artigo,
exclusivamente para fins medicinais ou científicos, em local e prazo
predeterminados, mediante fiscalização, respeitadas as ressalvas
supramencionadas (BRASIL, 2006, s.p.).
Como regra geral, o cenário nacional é marcado pela proibição das drogas,
abrangendo a vedação não apenas do consumo, mas também da prática do plantio,
cultivo, e colheita de vegetais e substratos que possam ser utilizados na produção

26
de entorpecentes. A legislação de drogas prevê a permissão para a erradicação de
plantações ilegais, um procedimento que pode ser considerado tráfico, dependendo
da quantidade encontrada no local, podendo se enquadrar no artigo 33 da lei, que
aborda o tráfico privilegiado, contanto que sejam atendidos os requisitos estipulados
pela legislação (MASSON; MARÇAL, 2022, p. 862).

3.1 Contexto Histórico E Objetivo Da Lei


O contexto histórico que levou à promulgação da Lei de Drogas de 2006
está profundamente entrelaçado com uma gama de fatores históricos, sociais e
internacionais que moldaram a visão e as estratégias em relação ao consumo e
tráfico de substâncias proibidas. Esses elementos incluem evoluções sociais, crises
de saúde pública, políticas internacionais de controle de drogas e a dinâmica das
interações entre países no que diz respeito ao tráfico e consumo de entorpecentes.
Essa legislação reflete, em grande medida, uma tentativa de responder aos desafios
e complexidades associados ao uso de drogas, buscando abordagens que
considerem não apenas questões legais, mas também aspectos sociais, de saúde
pública e de segurança (GRECO FILHO; RASSI 2020).
Na esteira das décadas de 1960 e 1970, marcadas pela ditadura militar no
Brasil, observou-se uma abordagem repressiva e punitiva em relação ao uso de
drogas. A Lei de Tóxicos de 1976, promulgada nesse contexto, representou a
cristalização dessa abordagem, impondo penas rigorosas para posse e tráfico de
substâncias ilícitas. A ditadura, em sua busca por controle social, empregou essa
legislação como parte de uma estratégia mais ampla de repressão, buscando
erradicar comportamentos considerados "desviantes" (GRECO FILHO; RASSI,
2020).
Já nas décadas de 1980 e 1990, um período marcado por transformações
significativas, a abordagem tradicional confrontou desafios contundentes. Com o
gradual retorno à democracia e a persistência de profundas desigualdades sociais e
econômicas, especialmente nas áreas urbanas e suas periferias, testemunhou-se
um notável e substancial aumento no consumo e tráfico de drogas. Esse fenômeno
complexo teve sua origem em um contexto de urbanização acelerada e na carência
significativa de investimentos em políticas sociais. A combinação desses elementos
gerou um vácuo socioeconômico, propiciando a expansão contínua e desenfreada

27
das atividades relacionadas ao tráfico e ao uso de substâncias ilícitas. Esse período
tumultuado foi marcado por um descompasso entre o crescimento demográfico
acelerado, a falta de políticas efetivas de inclusão social e o avanço contínuo do
comércio ilegal de drogas, evidenciando as complexidades intrínsecas desse cenário
(GRECO FILHO; RASSI, 2020).
A disseminação do crack durante a década de 1990 agravou ainda mais a
situação. As comunidades marginalizadas foram especialmente afetadas por essa
epidemia, gerando problemas complexos de saúde pública, segurança e
desestruturação social. Nesse contexto, tanto a pressão internacional quanto
movimentos sociais e de saúde pública no Brasil passaram a exigir uma abordagem
mais flexível e equilibrada em relação à política de drogas (LUZ, 2012; VARGAS,
2013).
As experiências internacionais também desempenharam um papel
fundamental nessa evolução. Ao perceberem as limitações das políticas repressivas
globais no combate às drogas, muitas nações passaram a explorar abordagens
alternativas. Essas estratégias incluem a descriminalização de pequenas
quantidades de drogas para uso pessoal e um foco mais acentuado na redução de
danos e tratamento em detrimento da punição. Essas mudanças refletem um
movimento em direção a políticas mais orientadas à saúde pública, reconhecendo a
complexidade do uso de drogas e buscando abordagens que priorizem a mitigação
dos danos associados ao consumo, ao invés da criminalização indiscriminada dos
usuários (KARAM, 2021, s.p.).
Diante desse cenário complexo, as discussões legislativas emergiram como
uma resposta imprescindível. A promulgação da Lei de Drogas em 2006 marcou um
esforço significativo para reformular a política de drogas no Brasil. Essa legislação
procurou integrar aspectos de saúde pública e direitos humanos, adotando uma
abordagem diferenciada entre usuários e traficantes. O objetivo principal foi
combater os altos índices de encarceramento, sobretudo entre grupos vulneráveis,
redirecionando o foco para questões de saúde e bem-estar, buscando equilibrar a
abordagem punitiva anterior com medidas mais orientadas à saúde e à inclusão
social (LUZ, 2012, s.p.).
Em síntese, a evolução da política de drogas no Brasil reflete uma interação
dinâmica entre fatores históricos, sociais e internacionais. A criação da Lei de

28
Drogas de 2006 foi uma resposta a desafios contemporâneos, representando uma
tentativa de encontrar um equilíbrio entre a repressão ao tráfico e o tratamento
humano das questões relacionadas ao uso de drogas, sujeita a revisões ao longo do
tempo, a lei viu a criação do Programa Nacional de Segurança com Ciência
(PRONASCI) em 2012 e a Política Nacional sobre Drogas em 2016, que realocou o
foco da repressão para a prevenção, tratamento e reintegração de dependentes. No
entanto, essa legislação continua sendo objeto de análise crítica e debate,
destacando a necessidade contínua de reflexão e ajuste nas políticas públicas
relacionadas às drogas (ALVES, 2023, s.p.).
Observando o texto legal podemos extrair os principais objetivos da lei, os
quais incluem prevenção ao uso indevido, tratamento e reintegração de
dependentes, repressão ao tráfico com diferenciação entre usuários e traficantes,
promoção da saúde, abordagem multidisciplinar, desincentivo ao uso, reintegração
social de dependentes, prevenção do tráfico em prisões e controle de substâncias. A
legislação busca equilibrar repressão com saúde, tratamento e reintegração,
priorizando a conscientização, saúde pública e enfrentamento das causas do
problema das drogas (ALVES, 2023, s.p.).

3.2 Uso De Drogas Pela Lei N° 11.343/206


O artigo 28 da Lei 11.343/2006, que aborda o uso pessoal de drogas, tem
sido objeto de discussões complexas no âmbito jurídico brasileiro. Este dispositivo
legal adota uma perspectiva mais branda em relação ao usuário de substâncias
entorpecentes, buscando estabelecer uma diferenciação entre o uso recreativo e o
tráfico. Ele estabelece limites claros para a criminalização do indivíduo que estiver
portando quantidade de droga considerada compatível com o consumo pessoal,
evitando, assim, a penalização severa de usuários que não estejam envolvidos com
atividades de comercialização ou tráfico de entorpecentes. Essa distinção visa
priorizar ações de prevenção, tratamento e reinserção social, em vez de adotar
medidas punitivas que possam agravar o quadro de vulnerabilidade dos usuários de
drogas (MARÇAL; MASSON, 2022, p. 995).

“Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer


consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes
penas:

29
I - Advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento à programa ou curso educativo.
§ 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal,
semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena
quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física
ou psíquica.
§ 2º Para determinar se a droga se destinava a consumo pessoal, o juiz
atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às
condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e
pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente.
§ 3º As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão
aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses.
§ 4º Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput
deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.
§ 5º A prestação de serviços à comunidade será cumprida em programas
comunitários, entidades educacionais ou assistenciais, hospitais,
estabelecimentos congêneres, públicos ou privados sem fins lucrativos, que
se ocupem, preferencialmente, da prevenção do consumo ou da
recuperação de usuários e dependentes de drogas.
§ 6º Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se refere
o caput, nos incisos I, II e III, a que injustificadamente se recuse o agente,
poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a:
I - admoestação verbal;
II - Multa.”

(BRASIL,2006, s.p.)

A doutrina jurídica tem se dedicado à interpretação desse artigo,


evidenciando o empenho legislativo em evitar a criminalização excessiva de
usuários não violentos e aliviar a sobrecarga do sistema penal. Nessa perspectiva, a
oportunidade de não aplicar penas de prisão de forma imediata para usuários tem
como objetivo desafogar o sistema carcerário. Isso permite a alocação mais eficiente
de recursos e esforços na abordagem de questões consideradas mais urgentes,
como o enfrentamento do tráfico organizado e outras atividades criminosas que
representam maiores ameaças à sociedade. Essa abordagem busca, portanto,
direcionar o foco da justiça criminal para aspectos mais relevantes e estratégicos,
visando uma atuação mais eficaz e equilibrada no âmbito das políticas de drogas
(MASSON; MARÇAL, 2022, p. 998).
O art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal estabelece um critério para
distinguir entre crime e contravenção penal. No entanto, a Lei nº 11.343/2006
quebrou essa regra ao não prever penas privativas de liberdade (reclusão, detenção
ou prisão simples) ou multa no preceito secundário do seu art. 28, que trata do delito
de consumo de drogas. Diante disso, é necessário fazer uma interpretação sistêmica

30
do artigo, considerando que ele está inserido no Capítulo III, que trata de crimes e
penas. Portanto, conclui-se que o consumo de drogas é considerado um crime, e
não uma contravenção penal (MASSON; MARÇAL, 2022, p. 998-1005).
É importante reforçar que apesar de ter um tratamento mais benevolente, as
condutas presentes no artigo 28, ainda se configuram como crime, pois houve a
despenalização do consumo pessoal. A caracterização do consumo pessoal deve
considerar a natureza e quantidade da substância apreendida, forma e local onde
ocorreu a apreensão, circunstâncias sociais e pessoais do autuado, bem como sua
conduta e antecedentes criminais (TRINDADE, 2022, s.p.).
A despenalização não implica na remoção do caráter ilícito de uma conduta,
mas sim na atenuação das penas associadas a ela, especialmente da privação de
liberdade. No caso do artigo 28 da Lei n. 11.343/06, que lida com o uso de drogas,
houve uma mudança na abordagem penal, introduzindo medidas alternativas em vez
de prisão para indivíduos que adquirem, possuem ou transportam drogas para
consumo pessoal (COLLI; FERRARI, 2012, p. 9-13).
O entendimento predominante é que o artigo 28 não deixou de ser
considerado crime nem perdeu sua natureza ilícita. Em vez disso, ocorreu uma
suavização das sanções penais, substituindo a privação de liberdade por medidas
como prestação de serviço à comunidade. Essa suavização não resulta em
descriminalização, pois a conduta ainda é regulamentada no capítulo das leis
criminais e requer a atuação de um juiz criminal no devido processo legal (COLLI;
FERRARI, 2012, p. 9-13).
Sendo assim, mesmo existindo a despenalização para aquele que adquire,
guarda, tem em depósito, traz consigo ou transporta droga para consumo pessoal,
partindo da premissa que a prisão de tal pessoa não gera nenhum benefício a
sociedade, e a proibição por parte do legislador para a imposição das penas
privativas de liberdade, a conduta ainda resulta em crime. É amparado pela
Constituição Federal de 1988 que em seu artigo 5°, inciso XLVI, permite ao
legislador estabelecer aos delitos penas que não são privativas de liberdade e multa
(MASSON; MARÇAL, 2022, p. 998).
Duas perspectivas contrastantes emergem sobre a constitucionalidade do
artigo 28 da Lei de Drogas. A primeira vertente argumenta que o referido artigo é
inconstitucional, violando direitos fundamentais como a intimidade,

31
autodeterminação e dignidade da pessoa humana. Defensores dessa visão, como
Luís Greco e Zaffaroni, alegam que a criminalização do porte de drogas para
consumo pessoal contradiz o princípio da lesividade, uma vez que tal conduta não
prejudica terceiros. Essa linha de pensamento salienta que proibir o consumo
aumenta o mercado ilegal e pode resultar em substâncias mais nocivas (MASSON;
MARÇAL, p.1029, 2022).
Por outro lado, a segunda perspectiva sustenta a constitucionalidade da
criminalização. Argumenta-se que a posse de drogas para uso pessoal representa
um perigo social, visto que mesmo o usuário, antes de consumir, pode disseminar os
entorpecentes, levando outros ao vício. A saúde pública é ameaçada pelo potencial
de difusão das drogas. Nesse sentido, a postura judicial é percebida como crucial,
destacando-se a admissão pelo Supremo Tribunal Federal do Recurso
Extraordinário 635.659/SP, que busca discutir a descriminalização. Até o presente
momento, o STF entende que o porte mesmo que para uso pessoal é ilegal, mas
existe um outro recurso que ainda está em votação sobre o mesmo assunto
(MASSON; MARÇAL, p.1029, 2022).
Neste artigo, temos como objeto jurídico a ser tutelado a saúde pública, pois
as drogas acabam atingindo toda a coletividade, como cita o Ministro Rogério Cruz:
“O objeto jurídico tutelado pela norma do artigo 28 da Lei n. 11.343/2006 é a saúde
pública, e não apenas a do usuário, visto que sua conduta atinge não somente a sua
esfera pessoal, mas toda a coletividade, diante da potencialidade ofensiva do delito
de porte de entorpecentes” (STJ, RHC 35.920/DF, 6ª T., rel. Min. Rogério Schietti
Cruz, j. 20-5-2014, DJe de 29-5-2014). E tem como objeto material as drogas
destinadas ao consumo pessoal, e as plantas destinadas a preparação de pequena
quantidade de drogas (MARCÃO, 2022, p. 592).
Os crimes de porte de droga para consumo pessoal consistem em tipos
mistos alternativos, englobando várias ações como adquirir (obter a propriedade
gratuitamente ou de forma onerosa), guardar (ocultar droga pertencente a terceiro),
ter em depósito (manter em depósito a droga pertencente ao próprio agente),
transportar (levar, por meio de um transporte de locomoção, a droga de um local
para o outro), ou trazer consigo (estar junto ao corpo) droga para uso próprio. O § 1º
do art. 28 também abrange a criminalização de semear (o ato de plantar), cultivar
(cuidados para o desenvolvimento da plantação) ou colher plantas voltadas para a

32
preparação de pequena quantidade de substância de efeito psicoativo. Entretanto,
se essas ações forem realizadas com permissão legal, elas se tornam atípicas, não
configurando crime. Quando praticadas para preparação de pequena quantidade,
demonstrado que o sujeito cultivava para utilizá-la futuramente, é enquadrado no
artigo 28, caso contrário, demonstrado que há uma quantidade significativa,
enquadra-se no artigo 33 da lei de drogas, e é equiparado ao tráfico de drogas
(MARCÃO, 2022, p. 633).

3.2.1 Consumo Pessoal, Tráfico E Ônus Da Prova


O ônus da prova no artigo 28 da Lei de Drogas é essencial para determinar
se a droga encontrada em posse de um indivíduo era destinada ao consumo pessoal
ou ao tráfico. Embora a acusação tenha a responsabilidade de provar que a
substância era destinada ao tráfico, o Ministério Público não precisa comprovar a
mercancia, pois o crime do artigo 33 não requer uma finalidade específica. Basta
demonstrar a prática de uma das condutas estabelecidas no tipo legal, desde que
não haja o propósito de consumo pessoal. A desclassificação do delito de tráfico
para o artigo 28 só pode ocorrer se ficar comprovado nos autos o propósito
exclusivo de uso próprio da substância (MASSON; MARÇAL, 2022, p. 1070-1151).
Para determinar se a droga era destinada ao consumo pessoal, o Ministério
Público deve utilizar o sistema da quantificação judicial, levando em consideração
critérios como a natureza e quantidade da substância apreendida, o local e as
condições em que ocorreu a ação, as circunstâncias sociais e pessoais, bem como a
conduta e os antecedentes do agente. As circunstâncias do caso concreto são de
suma importância para diferenciar os crimes de tráfico e posse de droga para
consumo pessoal. Além disso, as circunstâncias sociais e pessoais do agente
também devem ser consideradas, sendo razoável presumir o envolvimento com a
narco traficância quando uma considerável quantidade de droga é encontrada em
posse de alguém já condenado por tráfico (MASSON; MARÇAL, 2022, p. 1070-
1151).
No entanto, é crucial analisar todos esses critérios de forma conjunta para
evitar equívocos. Por exemplo, uma quantidade considerada relativamente pequena
de droga não necessariamente indica que o indivíduo a possui para consumo
pessoal. Nos dias atuais, é cada vez menos comum encontrar grandes estoques de

33
drogas, já que os traficantes tendem a operar com quantidades menores,
distribuídas entre diversas pessoas. Este cenário torna fundamental uma análise
criteriosa das circunstâncias para determinar adequadamente a finalidade da posse
da substância (MASSON; MARÇAL, 2022, p. 1070-1151).
Outro aspecto importante a ser considerado é a situação em que o agente é
flagrado com uma quantidade significativa de dinheiro junto com a droga. Isso pode
indicar, de forma contextualizada, a prática de tráfico de drogas. Além disso, se o
agente possui antecedentes criminais relacionados ao tráfico de drogas, isso pode
reforçar a presunção de que ele estava envolvido no tráfico, desde que outros
elementos de prova também apontem nessa direção. É preciso ter cuidado ao usar
os antecedentes criminais como critério determinante, pois apenas a existência de
registros policiais anteriores, ações penais em curso ou condenações por tráfico não
garantem automaticamente que o sujeito estava envolvido no tráfico ao ser flagrado
com drogas. Essa presunção baseada apenas no passado do acusado reflete o
malfadado direito penal do autor, que busca punir o modo de vida do agente,
independentemente de suas ações específicas (MASSON; MARÇAL, 2022, p. 1070-
1151).
Conclui-se, portanto, que os critérios legais, incluindo os antecedentes
criminais, devem ser avaliados em conjunto com outros elementos probatórios, em
consonância com os princípios do direito penal do fato. Essa abordagem visa
determinar se o caso se enquadra como tráfico ou posse de droga para consumo
pessoal. O propósito fundamental é garantir uma análise justa e adequada, evitando
equívocos na aplicação da lei e na classificação das condutas dos indivíduos como
criminosas, assegurando a devida aplicação da legislação e a preservação dos
direitos dos envolvidos (MASSON; MARÇAL, 2022, p. 1070-1151).

3.2.2 Penas
O preceito secundário dos crimes de posse de droga para consumo pessoal,
estabelecido no artigo 28 da Lei 11.343/2006, apresenta três modalidades de penas
a serem aplicadas de acordo com as circunstâncias previstas no artigo 42 da mesma
Lei. Essas penas são: (a) advertência sobre os efeitos das drogas; (b) prestação de
serviços à comunidade; e (c) medida educativa de comparecimento à programa ou
curso educativo. É importante notar que a legislação não permite a imposição de

34
pena privativa de liberdade para aqueles condenados por posse de droga para
consumo pessoal. Dessa forma, não apenas a prisão penal, mas também qualquer
tipo de prisão provisória (como preventiva, temporária ou em flagrante) não encontra
espaço na aplicação da lei, em consonância com o princípio da homogeneidade
(MASSON; MARÇAL, 2022, p. 1270).
As penas mencionadas anteriormente - advertência sobre os efeitos das
drogas, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de
comparecimento à programa ou curso educativo - podem ser aplicadas de forma
isolada ou cumulativa, além de poderem ser substituídas a qualquer momento,
desde que haja a participação do Ministério Público e do defensor. Essa substituição
deve ser feita respeitando os princípios constitucionais do devido processo legal e
da ampla defesa. Importante notar que essa substituição não pode resultar em uma
adição de pena, mas sim na substituição da pena original quando esta não atender
às suas finalidades (MASSON; MARÇAL, 2022, p. 1270).
A política de redução de danos, como descrita no livreto distribuído pelo
governo federal, é uma estratégia de saúde pública que busca mitigar possíveis
consequências adversas do consumo de substâncias psicoativas, sejam elas lícitas
ou ilícitas. Com enfoque na inclusão social e cidadania para os usuários de drogas,
essa abordagem se alinha com a atual política vigente. Uma das manifestações
dessa política é o abrandamento do rigor punitivo previsto na lei em relação às
condutas descritas no art. 28 (caput e § 1º). Nesse contexto, a imposição de penas,
como advertência sobre os efeitos das drogas, prestação de serviços à comunidade
e medida educativa de comparecimento a programas ou cursos educativos, visa
reforçar a conscientização sobre os danos associados ao uso de drogas (MARCÃO,
2022, p. 745).
A pena de advertência prevista para as condutas do artigo 28 da Lei
11.343/2006, visa despertar uma compreensão mais profunda e sensibilização
acerca das adversidades resultantes do uso de drogas. Seu propósito é reforçar,
revitalizar e, em alguns casos, incutir no indivíduo envolvido as consequências
prejudiciais que o consumo de substâncias pode acarretar sua própria saúde, status
social, harmonia familiar e integração com a sociedade em geral. A intenção é
cultivar valores que contrapõem o incentivo ao consumo de drogas de maneira não
autorizada ou em desacordo com regulamentos legais (MARCÃO, 2022, p. 745).

35
Em contrapartida, a prestação de serviços à comunidade ou a instituições
públicas é uma pena mais conhecida, especialmente após a promulgação da Lei n.
9.714/98. Essa medida envolve a atribuição de tarefas não remuneradas ao
condenado, conforme a definição do artigo 46, § 1º, do Código Penal. No contexto
do artigo 28 (caput e § 1º), essa pena é cumprida em programas comunitários,
entidades educacionais ou assistenciais, hospitais e estabelecimentos similares,
sejam públicos ou privados sem fins lucrativos. Preferencialmente, essas entidades
lidam com a prevenção do consumo ou a recuperação de usuários e dependentes
de drogas (MARCÃO, 2022, p. 745).
A pena de comparecimento a programas ou cursos educativos se alinha com
a abordagem de redução de danos. É evidente que esses programas ou cursos
abordam a questão das drogas. Portanto, eles se concentram na prevenção do uso
indevido, no cuidado e na reintegração social de usuários e dependentes de drogas.
É relevante ressaltar que, no que tange à criminalização do uso de entorpecentes, a
pena privativa de liberdade não é admitida, mesmo em casos de reincidência ou não
cumprimento de medidas prévias aplicadas. O Supremo Tribunal Federal e o
Superior Tribunal de Justiça afirmaram que as penalidades para o artigo 28 da Lei
11.343/2006 não podem ser convertidas em privação de liberdade em caso de
descumprimento. Portanto, as decisões judiciais corroboram a natureza não
carcerária da abordagem legal para esse tipo de infração (MARCÃO, 2022, p. 745).
As penas do artigo 28 da Lei 11.343/2006 (posse de drogas para consumo
pessoal) têm limites temporais de 5 meses, podendo ser estendidas a 10 meses em
caso de reincidência. A pena de advertência não tem prazo específico, pois é
formalizada de imediato. O juiz, seguindo as orientações do artigo 59 do Código
Penal, determina a pena conforme a conduta do infrator e o tipo de droga envolvida.
A individualização judicial considera se o envolvimento com drogas é de mero
experimentador, usuário ou dependente, ajustando a punição à realidade de cada
caso (MARCÃO, 2022, p. 745-788).
Em caso de ineficácia total da pena original, é possível promover a
substituição por outra. Contudo, não se permite a substituição de uma pena que já
tenha sido cumprida ou quando o Estado tenha perdido o direito de punir devido à
prescrição ou outras causas extintivas da punibilidade. Dado que os crimes de posse
de droga para consumo pessoal são considerados infrações penais de menor

36
potencial ofensivo, essas penas podem ser aplicadas tanto por meio de transação
penal quanto na própria sentença condenatória, respeitando os procedimentos e
princípios legais estabelecidos (MASSON; MARÇAL, 2022, p. 1270).
No âmbito da transação penal para crimes de posse de droga para consumo
pessoal, há divergência sobre a reincidência. Enquanto o artigo 76, § 4º, da Lei
9.099/1995 estabelece que a decisão não gera reincidência, o Enunciado 115 do
Fonaje argumenta que tal restrição não se aplica a esse crime. O Enunciado 124 do
Fonaje complementa que a reincidência de transação anterior não impede a
aplicação das medidas do artigo 28 da Lei 11.343/2006 (MASSON; MARÇAL, 2022,
p. 1270).
No que tange à questão da reincidência quando uma sentença condenatória
transitada em julgado aplica uma das sanções previstas no artigo 28 da Lei
11.343/2006, há duas perspectivas contrastantes (MASSON; MARÇAL, 2022, p.
1270):
Duas perspectivas contrastantes emergem no debate sobre a caracterização
da reincidência com base no artigo 63 do Código Penal. A primeira abordagem
argumenta que, para configurar a reincidência, o referido artigo exige unicamente a
prática de um novo delito pelo indivíduo, após ter alcançado trânsito em julgado a
sentença condenatória por um crime anterior, independentemente de essa
condenação ser de origem nacional ou estrangeira. Sob essa ótica, sustenta-se que
a condenação definitiva por infração ao artigo 28 da Lei de Drogas poderia ser
considerada para fins de reincidência. Esse entendimento encontra respaldo em
decisões anteriores proferidas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), reforçando a
interpretação defendida (MASSON; MARÇAL, 2022, p.1270-1310).
Já a segunda visão diverge ao sustentar que a condenação pelo crime
estabelecido no artigo 28 da Lei 11.343/2006 não deveria influenciar o critério de
reincidência. Essa posição recebe suporte do Enunciado 126 do Fonaje, bem como
das decisões das duas Turmas Criminais do Superior Tribunal de Justiça. Este
entendimento reflete uma interpretação que enfatiza a não inclusão da condenação
por posse de drogas leves como um fator determinante para a reincidência,
delineando uma visão mais restritiva quanto à definição dos critérios de reiteração
delitiva (MASSON; MARÇAL, 2022, p.1270-1310):

37
"[...] este Superior Tribunal de Justiça consolidou entendimento nosentido
de que se revela desproporcional o reconhecimento da reincidência em
virtude de anterior condenação pelo delito previsto no art. 28, da Lei n.
11.343/2006." "[...] revela-se desproporcional o reconhecimento da
reincidência em virtude de anterior condenação pelo delito previsto no art.
28 da Lei n. 11.343/2006, argumento que também se aplica para os maus
antecedentes."

A segunda linha de interpretação, respaldada pelo Enunciado 126 do Fonaje


e decisões das duas Turmas Criminais do Superior Tribunal de Justiça, possui duas
implicações cruciais:
a) A condenação pelo crime do artigo 28 da Lei 11.343/2006 não deve
automaticamente obstruir benefícios como a redução de pena prevista no § 4º do
artigo 33 da mesma Lei ou a substituição da pena privativa de liberdade por penas
restritivas de direitos (MASSON; MARÇAL, 2022, p.1270-1310).
b) O fato de alguém ser processado por violar o artigo 28 não deveria
automaticamente levar à anulação obrigatória da suspensão condicional do
processo (Lei 9.099/1995, artigo 89, § 3º). Assim como ocorre com processos por
contravenções, em que a anulação do benefício é opcional (Lei 9.099/1995, artigo
89, § 4º), faria mais sentido considerar o processamento pelo artigo 28 da Lei de
Drogas como um motivo opcional para anular a suspensão condicional do processo
(MASSON; MARÇAL, 2022, p.1270-1310).
Essas divergentes interpretações evidenciam a intrincada aplicação da lei
referente à posse de drogas para uso pessoal. A complexidade subjacente ressalta
a necessidade de uma análise minuciosa das abordagens legais e das decisões
judiciais a fim de compreender a natureza intricada e multifacetada desse tema.
Esse exame detalhado torna-se essencial para lidar adequadamente com as
nuances legais e as diferentes perspectivas envolvidas nesse contexto, permitindo
uma abordagem mais justa e fundamentada na aplicação da lei (MASSON;
MARÇAL, 2022, p.1270-1310).

38
4 POLÍTICAS PÚBLICAS, COMBATE AS DROGAS E A POSSÍVEL
DESCRIMINALIZAÇÃO

As políticas públicas englobam conjuntos de programas, ações e decisões


conduzidos pelos governos, muitas vezes em colaboração com entidades públicas
ou privadas. Seu objetivo principal é assegurar os direitos de cidadania a diversos
grupos sociais, conforme estabelecido na Constituição. Esses direitos abarcam
áreas fundamentais como educação, saúde, meio ambiente e outros aspectos
essenciais da vida em sociedade. O conceito de políticas públicas possui duas
abordagens distintas: a política, centrada no processo de decisão que
frequentemente envolve conflitos de interesse, e a administrativa, que abarca a
implementação de projetos e atividades do governo. Essas políticas podem ser de
Estado, fundamentadas na Constituição e mais duradouras, ou de governo,
suscetíveis a mudanças com a alternância de poder. Em síntese, representam os
esforços governamentais para promover o bem-estar social e atender às
necessidades da sociedade, moldando o cenário coletivo em busca de um
desenvolvimento mais equitativo e justo (ANDRADE, 2016, s.p.).
Este conceito é essencial para entender o panorama das intervenções
governamentais, incluindo a abordagem da redução de danos, que será discutida a
seguir.

4.1 Políticas Públicas De Redução De Danos


A abordagem da Redução de Danos compreende políticas e práticas
direcionadas à minimização dos danos associados ao consumo de drogas
psicoativas por parte de indivíduos que optam por não interromper seu uso. Em
contraposição à ênfase na prevenção do consumo de drogas, a Redução de Danos
concentra-se na mitigação dos danos decorrentes do uso continuado. Essa
abordagem se fundamenta no princípio de priorizar o indivíduo, centrando-se em
estratégias que buscam preservar a saúde e o bem-estar das pessoas envolvidas. O
objetivo primordial é a preservação da vida, considerando-se a realidade de que a
erradicação completa do uso de drogas se demonstrou impraticável, como
evidenciado pela ineficácia da chamada 'guerra às drogas' (DOMANICO, et al, 2019,
p. 05-06).

39
A Redução de Danos adota uma visão mais ampla e compreensiva acerca
do uso de drogas, buscando compreender a complexidade desse fenômeno e suas
nuances culturais e sociais. Parte do pressuposto de que a mera eliminação do
consumo é uma meta inatingível e, em vez disso, concentra esforços em fornecer
assistência adequada e suporte a quem procura ajuda. Sua abordagem considera a
diversidade de contextos nos quais o consumo ocorre, reconhecendo a necessidade
de estratégias flexíveis e adaptáveis que respeitem as diferenças individuais,
valorizando a dignidade e a saúde das pessoas envolvidas (DOMANICO, et al, 2019,
p. 05-06).
O Relatório Rolleston, publicado em 1926 no Reino Unido, marca o início da
Redução de Danos, ao recomendar que pacientes dependentes de substâncias
como a morfina e heroína recebessem a administração supervisionada dessas
drogas por médicos. Essa abordagem preconizava o acompanhamento dos usuários
que buscavam parar de usar, proporcionando alívio dos sintomas de abstinência, e
assistência na administração para aqueles que optavam por continuar. A partir de
1985, países como Austrália, Canadá, Estados Unidos e várias nações europeias
como França, Alemanha e Suíça, introduziram projetos de troca de seringas como
estratégia de prevenção para combater a propagação de doenças como o HIV/AIDS
(DOMANICO, et al, 2019, p. 06-07).

4.1.1 Política De Redução De Danos No Brasil


A política pública de redução de danos no Brasil começou a ganhar
destaque e ação a partir da década de 1990, especialmente em resposta à epidemia
de HIV/AIDS. No entanto, foi a partir de meados dos anos 2000 que a política de
redução de danos foi mais formalmente implementada em nível nacional. Em 2004,
o Ministério da Saúde lançou o "Plano Nacional de Redução de Danos", marcando
um esforço governamental mais estruturado e abrangente para lidar com os
impactos do uso de drogas e suas consequências à saúde pública. Desde então,
várias ações e programas foram desenvolvidas em parceria com governos locais,
organizações não governamentais e outros atores, visando à prevenção de doenças,
promoção da saúde e melhoria da qualidade de vida dos usuários de substâncias
psicoativas (DOMANICO, et al, 2019, p.10-11).

40
Entretanto, as estratégias adotadas, como a criação de espaços
supervisionados para consumo, encontraram resistência significativa da população,
muitas vezes interpretando essas medidas como uma forma de tolerar ou até
mesmo incentivar o uso de drogas. Essa visão, aliada à postura da sociedade
brasileira que apoia a proibição e o combate ao uso e tráfico de drogas, refletida no
artigo 28 da Lei de Drogas, gerou um conflito entre a abordagem de redução de
danos e as políticas de criminalização do uso (FIQUENE, 2011, p. 23-27).
O conflito é marcado pela visão das Políticas Púbicas de Redução de Danos
de que a melhor solução seria buscar medidas alternativas que não impediam o
usuário de consumir os entorpecentes, mas visava protegê-lo de possíveis doenças
causadas, e conscientizá-lo sobre o uso, enquanto o artigo 28 da Lei de Drogas
mantém a conduta como crime, e uma posição repreensiva em relação ao uso de
drogas, mesmo tendo uma abordagem menos severa em comparação com o tráfico,
por exemplo. Causando assim irritabilidade na maioria dos brasileiros (FIQUENE,
2011, p. 23-27).
A partir da consideração da opinião predominante entre os brasileiros sobre
a proibição das drogas e os esforços de combate ao seu uso e tráfico, respaldada
pelo disposto no artigo 28 da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas), que criminaliza o
uso de substâncias ilícitas, decide-se encerrar o programa de Políticas Públicas de
Redução de Danos. Este encerramento marca uma mudança significativa na
abordagem do Estado em relação às drogas, refletindo a direção adotada pela
sociedade e suas políticas legais vigentes (POLAKIEWICZ, 2019, s.p.).

4.1.1.1 O fim das políticas públicas de redução de danos


Em fevereiro de 2019, quando completava 30 anos no Brasil a primeira
iniciativa de Redução de Danos, a Política Nacional de Saúde Mental adotou a nota
técnica 11, buscando atenuar as consequências negativas do uso de drogas. No
entanto, ainda em 2019, o governo extinguiu essa política, direcionando o
tratamento para a abstinência, apesar de estudos indicarem que preservar a
autonomia do usuário poderia ajudar a reinterpretar a relação com as drogas. A
abordagem anterior visava minimizar diversos danos, enquanto a nova direção
enfatizava a abstinência, gerando preocupações entre especialistas
(POLAKIEWICZ, 2019, s.p.).

41
Mesmo com a ausência da política de redução de danos, a perspectiva de
saúde mental inerente ao Sistema Único de Saúde permanece, e o conceito de
redução de danos é reconhecido internacionalmente. Contudo, a imposição de
abstinência suscita preocupações, principalmente quando se trata da internação de
usuários de substâncias psicoativas. A abordagem de práticas asilares que buscam
eliminar radicalmente o uso não tem apresentado resultados eficazes em outros
países. Portanto, a política anterior de redução de danos, que demonstrava
resultados positivos no cuidado de dependentes químicos, merece uma análise mais
aprofundada. O uso de álcool e drogas já se transformou em um -desafio de saúde
pública há muitas décadas, e cenas de consumo de substâncias ilícitas em espaços
urbanos tornaram-se cada vez mais comuns em cidades tanto grandes quanto
pequenas (POLAKIEWICZ, 2019, s.p.).
O Decreto n° 9.761/2019, que revogou o anterior Decreto n° 4.345/2002,
aprovou a Nova Política Nacional sobre Drogas no Brasil. Essa medida gerou
preocupações entre especialistas e profissionais da saúde mental e de políticas
públicas. A Política Nacional sobre Drogas foca na abstinência como o principal
objetivo em relação ao uso de drogas, abandonando a abordagem de redução de
danos. A Redução de Danos visa minimizar os danos biológicos, psicossociais e
econômicos associados ao uso de drogas, reconhecendo que a abstinência nem
sempre é alcançável ou desejada para todos os usuários (CONSELHO FEDERAL
DE PSICOLOGIA, s.p.).
Críticos, incluindo o conselheiro do Conselho Federal de Psicologia (CFP),
Paulo Aguiar, argumentam que a Política Nacional sobre Drogas prejudica a
população, enfatizando apenas a abstinência. A abordagem da Redução de Danos
respeita a autonomia dos usuários e busca ressignificar a relação com as drogas,
não se opondo à abstinência, mas reconhecendo que nem todos estão prontos ou
capazes de atingi-la imediatamente.
Especialistas, como o sanitarista Paulo Amarante, sustentam que a Política
Nacional sobre Drogas serve aos interesses de entidades e instituições que se
beneficiam da abordagem tradicional. Por outro lado, a Redução de Danos é
aplicada com êxito em diversas nações, oferecendo resultados qualitativos
superiores em relação às tentativas rígidas de promover a abstinência. Essa
perspectiva ressalta a eficácia da Redução de Danos ao lidar com o uso de

42
substâncias, enfocando estratégias que visam minimizar os danos sociais, de saúde
e individuais associados ao consumo de drogas (CONSELHO FEDERAL DE
PSCIOLOGIA, 2023, s.p.).
Esse decreto é percebido como um retrocesso em relação às conquistas
estabelecidas pela Reforma Psiquiátrica (Lei nº 10.216 de 2001), a qual visava
respeitar a dignidade das pessoas com transtornos mentais. Tal medida parece se
distanciar da abordagem que enfatiza o tratamento da saúde e das doenças sem
torná-las mercadorias para fins lucrativos. A Reforma Psiquiátrica representou um
marco ao priorizar a humanização do cuidado, garantindo direitos e autonomia às
pessoas com transtornos mentais, algo que parece ser comprometido por esse
decreto (POLAKIEWICZ, 2019, s.p.).
Resumidamente, a Política Nacional sobre Drogas prioriza a abstinência em
relação ao consumo de drogas, deixando de lado a estratégia de redução de danos.
Esse direcionamento suscita preocupações entre especialistas e profissionais da
saúde mental, que temem possíveis retrocessos e impactos negativos na política de
drogas do Brasil. A mudança de foco levanta questionamentos sobre a eficácia das
medidas adotadas e levanta preocupações quanto aos efeitos adversos que essa
nova abordagem pode desencadear no contexto das políticas de drogas do país
(POLAKIEWICZ,2019, s.p.).

4.2 Política Nacional Sobre Drogas


De acordo com um artigo publicado pela ARTMED (2019, s.p.), em abril de
2019, o governo federal aprovou a nova Política Nacional sobre Drogas com
mudanças significativas em relação ao tratamento de dependentes químicos. A
abordagem preferencial passou de redução de danos para abstinência. Isso também
inclui o incentivo às comunidades terapêuticas.
A Política Públicas de Redução de Danos, influenciada por modelos de
Portugal e Canadá, priorizava a redução de danos para reduzir riscos
biopsicossociais e distribuía seringas individuais para prevenir a disseminação do
HIV. A abordagem atual se concentra na informação, atendimento mépdico e acesso
a políticas públicas para ajudar a superar o vício, levando em conta fatores
genéticos e ambientais. A terapia de abstinência suspende o uso da droga, com
medicamentos para aliviar os efeitos de abstinência (ARTMED, 2019, s.p.).

43
De acordo com o Ministério Público do Paraná (MPPR), a PNAD busca, em
primeiro plano, construir uma sociedade mais protegida dos riscos associados ao
uso de drogas. Esse objetivo revela uma intenção clara de salvaguardar a saúde e o
bem-estar da população, considerando tanto as substâncias lícitas quanto as ilícitas.
Essa transição da abordagem de redução de danos para a promoção da
abstinência, apesar de complexa, é delineada com a intenção de equilibrar as várias
vertentes que compõem a PNAD, tais como prevenção, promoção da saúde,
tratamento, acolhimento e redução de riscos.
Ainda de acordo com a ARTMED (2019, s.p.), a equipe médica trabalha nas
motivações e objetivos do paciente, criando um projeto terapêutico e reabilitação
cognitiva e social. A abordagem reflete a ideia de que o dependente químico não
pode controlar o uso de substâncias nocivas, tornando a abstinência a melhor
solução para evitar danos. Em resumo, a PNAD agora prioriza a terapia de
abstinência e estimula comunidades terapêuticas, buscando tratar o vício por meio
da retirada das substâncias, considerando a falta de controle dos dependentes sobre
o uso.
Ainda de acordo com o Ministério Público do Paraná (2023, s.p.), a Política
Nacional sobre Drogas também reconhece a importância de considerar aspectos
legais, culturais e científicos no delineamento da política. Especial atenção é dada à
posição majoritariamente contrária da população brasileira em relação à legalização
das drogas, respeitando os valores sociais e a sensibilidade da sociedade. Isso
denota uma tentativa de alinhar as políticas governamentais com as expectativas da
população, ao mesmo tempo em que incorpora elementos científicos para embasar
as decisões.
Uma inovação relevante é a diferenciação entre usuários, dependentes e
traficantes de drogas, levando em consideração suas situações únicas e tratando-os
de maneira diversa. Essa abordagem justa e proporcional reflete um compromisso
com a justiça e evita criminalizações desnecessárias, buscando uma abordagem
mais humanizada e individualizada (MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ, 2023,
s.p.).
Uma matéria publicada pela Federação Brasileira de Comunidades
Terapêuticas (FEBRACT) (2023, s.p.), informa que partir do dia 1º de janeiro de
2023, o cenário da política sobre drogas no Brasil sofreu uma significativa mudança,

44
passando a ser compartilhada entre os Ministérios da Justiça e Segurança Pública e
da Saúde. Essa alteração implica também na dissolução da Secretaria Nacional de
Cuidados e Prevenção às Drogas (SENAPRED). A Medida Provisória nº 1.154,
datada desse período, delineou as atribuições destas entidades ministeriais em
relação à condução das políticas sobre drogas.
A Medida Provisória nº 1.154/2023, em seu artigo 35, atribui ao Ministério da
Justiça e Segurança Pública, uma gama de competências. Estas incluem,
primordialmente, a articulação e coordenação das ações governamentais e do
Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas (Sisnad) no que tange a prevenção e
repressão de crimes, delitos e infrações vinculadas às drogas lícitas e ilícitas.
Adicionalmente, abraçam a responsabilidade pela prevenção, educação, informação
e capacitação, com a finalidade de reduzir o uso problemático de drogas legalmente
permitidas e ilegais. A reinserção social das pessoas que enfrentam adversidades
decorrentes do consumo de drogas e a manutenção do Observatório Brasileiro de
Informações sobre Drogas também se inserem nesse escopo (FEDERAÇÃO
BRASILEIRA DE COMUNIDADES TERAPÊUTICAS, 2023, s.p.).
Ainda de acordo com esta medida provisória, o Ministério da Saúde, por sua
vez, assume uma parte crucial da política sobre drogas. Suas competências
englobam a política nacional de saúde e a vigilância de saúde, com especial atenção
para drogas, medicamentos e alimentos. Essa inserção reforça a perspectiva de que
a questão das drogas não pode ser abordada de forma isolada, sendo
intrinsecamente vinculada à saúde pública (FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE
COMUNIDADES TERAPÊUTICAS, 2023, s.p.).
A estrutura do Ministério da Justiça e Segurança Pública reflete essa nova
orientação política. A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de
Ativos, que agora abarca as responsabilidades antes atribuídas à SENAPRED, está
organizada em diversos órgãos específicos e colegiados. A Diretoria de Gestão de
Ativos e Justiça, a Diretoria de Prevenção e Reinserção Social e a Diretoria de
Pesquisa, Avaliação e Gestão de Informações compõem essa estrutura (MEDIDA
PROVISÓRIA N° 1154, 2023, s.p.).
A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos assume
um papel multifacetado. Ela assessorará o Ministro de Estado nas diretrizes das
políticas sobre drogas, supervisionará capacitações, subsidiará e supervisionará

45
atividades relacionadas à formulação, implementação e avaliação das políticas
públicas sobre drogas. A gestão do Fundo Nacional Antidrogas e a fiscalização dos
recursos repassados pelo fundo também fazem parte de suas atribuições (MEDIDA
PROVISÓRIA N° 1154, 2023, s.p.).
O Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas, por sua vez, mantém seu
protagonismo no cenário. Exerce as competências estabelecidas no Decreto nº
9.926, datado de 19 de julho de 2019. Sua atuação é essencial para a governança e
coordenação das políticas sobre drogas, promovendo a integração de diferentes
atores e abordagens (MEDIDA PROVISÓRIA N° 1154, 2023, s.p.).
Contudo, a reformulação da política sobre drogas reflete uma abordagem
mais integrada, voltada para a redução dos impactos negativos do uso de drogas na
sociedade. Ao alocar competências em diferentes ministérios, a medida busca
reconhecer a complexidade do tema e a necessidade de abordagens
multidisciplinares para lidar com esse desafio persistente.

4.3 Combate Das Drogas No Brasil


As frequentes operações policiais de combate ao tráfico em morros e favelas
revelam uma realidade complexa. O Brasil não é apenas uma rota internacional de
drogas, mas também um mercado consumidor significativo dessas substâncias. No
entanto, essa transformação tem consequências alarmantes, como o aumento da
violência urbana e um sentimento crescente de insegurança nas cidades. Ao
analisarmos a Política Nacional sobre Drogas, torna-se claro que são necessários
ajustes. A crítica à forma como lidamos com a questão das substâncias ilícitas é
cada vez mais comum, não apenas no Brasil, mas globalmente (CECÍLIO, 2010, p.
273-275).
É importante frisar que os recursos destinados à política de drogas pelo
Ministério da Justiça alcançaram um marco histórico em 2019, ultrapassando R$ 420
milhões, o valor mais alto em 15 anos de análise. Isso corresponde a cerca de 3%
do orçamento total do ministério. Nessa área, o foco abrange o combate ao crime
organizado, ao tráfico internacional e ao suporte de vagas relacionadas a esses
crimes no sistema penitenciário federal (ALEGRETTI, 2021, s.p.).
Após a aprovação da Nova Política Nacional Sobre Drogas em 2019, o
Ministério da Justiça realinhou suas ações para a gestão da política, pesquisa e a

46
redução da oferta de drogas. Isso inclui estratégias como a descapitalização de
organizações criminosas por meio de leilões de bens apreendidos do crime.
Investimentos notáveis englobam o aprimoramento da comunicação por rádio na
fronteira Brasil-Paraguai, que resultou em um prejuízo significativo para os
criminosos e na apreensão de cerca de 900 toneladas de drogas desde 2019
(ALEGRETTI, 2021, s.p.).
Outros investimentos destacados são a iminente inauguração da Escola
Nacional de Cães de Faro, destinada a fortalecer a capacidade de detecção de
drogas por parte dos policiais, e a criação de uma nova unidade de pesquisa sobre o
mercado de drogas, conhecida como Centro de Excelência em Redução de Oferta
de Drogas Ilícitas. Essas ações refletem a busca por abordagens mais eficazes e
diversificadas na luta contra o tráfico e o uso de drogas no país (ALEGRETTI, 2021,
s.p.).
Embora todos esses esforços em combater as drogas, e principalmente
combater o consumo delas, o Brasil continua falhando nesta tarefa. Mas afinal, por
que é tão difícil combater as drogas no nosso País?
Ao abordar a questão da guerra contra as drogas segundo é fundamental
começar examinando a perspectiva mercadológica subjacente. Ao longo de mais de
um século de proibição, os esforços para erradicar ou mesmo reduzir
significativamente o suprimento de drogas ilícitas têm sido infrutíferos. Apesar do
rigoroso patrulhamento do exército nas fronteiras, da vigilância meticulosa da Polícia
Federal nos portos e aeroportos, do controle preciso da Polícia Rodoviária nas
estradas e do policiamento incansável das cidades pela Polícia Militar, as drogas
continuam a encontrar seu caminho até os consumidores finais, aumentando em
quantidade a cada ano que passa (TRINDADE, 2022, s.p.).
A proibição não alcançou êxito em eliminar a demanda por drogas. Mesmo
com esforços legítimos na prevenção e educação da população para evitar o contato
e o abuso dessas substâncias, a sociedade mantém um interesse persistente em
seu consumo. A antropologia nos ensina que a prática de consumir substâncias que
alteram a percepção da realidade é um costume enraizado há milênios. Portanto,
torna-se uma tarefa praticamente impraticável eliminar permanentemente o uso de
entorpecentes. Dentro desse contexto mercadológico, a guerra contra as drogas se
evidencia notoriamente como uma empreitada fracassada (TRINDADE, 2022, s.p.).

47
Esse enfoque nos leva a reconhecer a complexidade e a persistência do
problema. Apesar dos esforços das autoridades em controlar a distribuição e o
consumo de drogas, a realidade mostra uma resistência arraigada. A proibição,
apesar de sua intenção, não alcançou o resultado desejado, evidenciando uma
lacuna entre a abordagem institucional e a realidade social. A demanda por
substâncias psicoativas persiste, desafiando as fronteiras legais e éticas
estabelecidas (TRINDADE, 2022, s.p.).
Com base nas informações dadas ao longo deste artigo é possível criar uma
ideia do porquê o combate as guerras no Brasil é uma tarefa utópica. O primeiro
motivo que torna essa tarefa utópica, é o fato de as drogas ainda ser um assunto
que gera muita instabilidade jurídica, não sabem ao certo se devem manter um
combate “agressivo”, ou tender a descriminalização. Outro motivo, é o fato de o
usuário consumir tantos entorpecentes, que se torna dependente dessas
substâncias, e consequentemente gera lucros para o mundo do tráfico.
A matéria publicada por Justificando (2017, s.p.) destaca a corrupção como
o principal fator que contribui para o fracasso no combate às drogas. Um exemplo
marcante é o envolvimento de Luiz Carlos Rocha, também conhecido como Cabeça
Branca, que ganhou notoriedade como o principal traficante do Brasil e,
individualmente, um dos mais proeminentes a nível global. Até sua captura em 2017
na cidade de Sorriso, no Mato Grosso, ele supervisionou o envio de quantidades
entre 80 e 100 toneladas de drogas anualmente para fora do país. Essa operação
massiva ilustra não apenas a magnitude do tráfico de drogas, mas também ressalta
a sofisticação das redes de narcotráfico e sua capacidade de contornar esforços de
controle.
Além disso, a matéria do Justificando (2017, s.p.) destaca que Cabeça
Branca estava envolvido na lavagem de parte dos lucros por meio do doleiro Alberto
Youssef, que se tornou um dos principais colaboradores da investigação da
Operação Lava Jato, destinada a combater a corrupção no país. Essa conexão
direta entre o tráfico de drogas e esquemas de corrupção ilustra a complexa teia que
permeia essa questão, indo além do âmbito político e envolvendo até mesmo
agentes que deveriam combater ativamente o tráfico, como policiais, que são
subornados, contribuindo, inadvertidamente, para a perpetuação desse cenário
desafiador.

48
Atualmente, vivemos um período de revolução no cenário das drogas, onde
o Supremo Tribunal Federal (STF) volta a enfocar a descriminalização das drogas.
Essa discussão se torna crucial ao considerarmos as profundas nuances culturais e
antropológicas que permeiam o uso de substâncias psicoativas, enraizado em
práticas ancestrais ao redor do mundo. A abordagem da guerra contra as drogas,
diante desse contexto, emerge como um fracasso evidente, demandando uma
necessidade premente de explorar novos caminhos e abordagens mais
abrangentes. O retorno desse debate pelo STF ressalta uma possibilidade de
transformação nas políticas de drogas, destacando um tópico crucial que demanda
uma análise cuidadosa e uma abordagem mais progressista para lidar com os
desafios atuais (RICHTER, 2023, s.p.).

4.4 A Possível Descriminalização


Antes de darmos início a possível descriminalização é essencial
compreender a diferença entre descriminalização e legalização. Essa distinção
oferece bases sólidas para discutir políticas públicas e entender os impactos sociais
e legais de cada abordagem. Esse entendimento embasa decisões informadas,
considerando aspectos éticos, legais e práticos para explorar a eficácia de cada
estratégia em cenários específicos.
A descriminalização implica remover a classificação de certa ação ou
comportamento como crime, o que resulta na eliminação das penalidades legais
associadas a essa conduta. No contexto do debate sobre a descriminalização do
porte de drogas, o propósito central é cessar a imposição de sanções penais aos
indivíduos que utilizam essas substâncias para fins pessoais. Este movimento busca
alterar a abordagem legal, retirando a criminalização do consumo próprio e focando
mais em abordagens de saúde pública (HENRIQUE, 2023, s.p.).
Em diversos países, como Uruguai, Portugal, Holanda, Espanha e Canadá,
optou-se por adotar medidas de descriminalização do uso de drogas como parte de
uma estratégia mais ampla para reduzir o número de prisões relacionadas a drogas
e, ao mesmo tempo, promover abordagens mais orientadas para a prevenção e
tratamento dos usuários. O foco dessas iniciativas é, portanto, desviar o sistema de
justiça criminal dos usuários e concentrar esforços em medidas de saúde pública e
educação (HENRIQUE, 2023, s.p.).

49
É fundamental entender que descriminalizar não é equivalente a legalizar. A
legalização envolve a transformação de uma atividade anteriormente considerada
ilegal em algo permitido e regulamentado pela lei. Isso implica que a produção,
distribuição e consumo da substância são estabelecidos por regras legais. A
legalização também permite a imposição de limites e restrições, como a idade
mínima para compra e o controle de qualidade. Por exemplo, produtos legalizados,
como álcool e tabaco, estão sujeitos a restrições, como a proibição de venda para
menores de idade, regulamentos de publicidade e padrões de produção. Portanto, a
legalização não implica em ausência de regulação ou punições, mas sim em uma
abordagem controlada e regulamentada em relação à conduta em questão
(HENRIQUE, 2023, s.p.).
A retomada do julgamento relativo à descriminalização da posse pessoal de
drogas marca um passo concreto em direção à conclusão de um debate que se
prolonga no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) desde 2015. Em agosto, o
processo foi retomado com o voto do ministro Alexandre de Moraes em 2 de agosto
DE 2023, mas teve sua continuidade interrompida no mesmo dia por solicitação do
relator do caso, ministro Gilmar Mendes. Na fase inicial do julgamento, Mendes
havia sido o primeiro a proferir seu voto em 2015, sendo que dois votos adicionais
foram emitidos antes do processo ser suspenso devido a um pedido de revisão feito
pelo saudoso ministro Teori Zavascki (NOGUEIRA, 2023, s.p.).
O cerne desse debate reside na possibilidade de reinterpretar a legislação
vigente em relação ao uso e tráfico de drogas, estipulada pela Lei 11.343/2006.
Essa lei atualmente considera a posse de drogas como um crime, embora não seja
aplicada a pena de prisão (NOGUEIRA, 2023, s.p.).
O desencadeamento do julgamento tem origem em uma solicitação
apresentada pela Defensoria Pública de São Paulo, que foi motivada por um caso
específico: um indivíduo detido em 2009 com uma quantidade de 3g de maconha
alegou que a substância estava destinada para seu uso pessoal (NOGUEIRA, 2023,
s.p.).
Por um lado, a Defensoria Pública sustenta que a caracterização penal em
questão contraria princípios constitucionais e de privacidade. Segundo essa
perspectiva, o artigo 28 da Lei de Drogas, que estabelece penalidades para aqueles
que "adquirirem, guardarem, tiverem em depósito, transportarem ou trouxerem

50
consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com
determinação legal", representaria uma violação dos direitos individuais
(HENRIQUE, 2023, s.p.).
Por outro lado, a Procuradoria-Geral da República (PGR) argumenta pela
constitucionalidade desse artigo e se manifesta a favor da manutenção da
criminalização do porte de drogas para consumo próprio. A PGR sustenta que o uso
de substâncias entorpecentes afeta toda a sociedade, justificando assim a postura
de manter tal conduta como crime (HENRIQUE, 2023, s.p.).
O ponto levantado pela PGR é que a Lei de Drogas eliminou a pena de
prisão para usuários flagrados portando drogas, mas ressalta que o Congresso
Nacional optou por manter como crime a posse ou porte de drogas destinados ao
consumo próprio (HENRIQUE, 2023, s.p.).
A extensão temporal significativa do julgamento se deve às várias questões
controvertidas que cercam essa discussão. Uma das principais controvérsias reside
na acusação de que o Supremo Tribunal Federal. estaria ultrapassando suas
atribuições e invadindo as prerrogativas do Poder Legislativo. Em resposta a essa
preocupação, o Presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco, expressou de
forma enfática sua opinião de que a decisão sobre a descriminalização ou não da
posse de drogas deveria ser de competência exclusiva do Legislativo federal
(NOGUEIRA, 2023, s.p.).
Em suma os ministros julgam o Recurso Extraordinário (RE) 635.659, que
questiona a constitucionalidade do artigo 28 da Lei de Drogas (Lei 11.343/2006).
Ajuizada pela Defensoria de São Paulo, a ação argumenta que o dispositivo fere os
direitos à liberdade, privacidade e autolesão, garantidos pela Constituição
(CASTRO; INGIZA, 2023, s.p.).
No dia 24 de agosto, o Supremo Tribunal Federal (STF) registrou cinco votos
favoráveis à descriminalização do porte de maconha para uso pessoal. Ainda que
esses votos tenham sido emitidos, o andamento do julgamento foi interrompido
devido a um pedido de vista feito pelo ministro André Mendonça. No momento, não
há uma data definida para a retomada das deliberações. É importante ressaltar que
o plenário do STF é composto por 11 ministros (RICHTER, 2023, s.p.).
Nesse contexto, o placar atual do julgamento indica uma maioria de cinco
votos a favor da descriminalização do porte de maconha para uso pessoal, contra

51
um voto contrário. A matéria ainda aguarda a análise de mais ministros (RICHTER,
2023, s.p.).
Com relação à definição de uma quantidade específica de maconha, para
que dependendo da quantidade portada caracterize o uso pessoal e não o tráfico de
drogas, até o momento, há uma tendência de seis votos a favor. A proposta sugere
que essa quantidade esteja situada entre 25 e 60 gramas de maconha, ou ainda, o
cultivo de até seis plantas fêmeas de cannabis. A determinação exata da quantidade
será estabelecida quando o julgamento for concluído (RICHTER, 2023, s.p.).
Os ministros Gilmar Mendes, Edson Fachin, Luís Roberto Barroso,
Alexandre de Moraes e a presidente do STF, Rosa Weber, estão entre os votos
favoráveis à descriminalização. Em contrapartida, o ministro Cristiano Zanin votou
contra a descriminalização, embora tenha defendido a fixação de um limite máximo
de maconha para distinguir legalmente usuários de traficantes (RICHTER, 2023,
s.p.).
Os votos proferidos pela ministra Rosa Weber e pelo ministro Cristiano Zanin
destacaram-se durante a sessão. A ministra optou por adiantar sua opinião diante do
pedido de suspensão feito por Mendonça. Cabe mencionar que em setembro, Rosa
estará completando 75 anos e se aposentando, não participando da retomada do
julgamento (RICHTER, 2023, s.p.).
Durante as discussões, a ministra Rosa Weber ressaltou um ponto crucial ao
argumentar que a manutenção da criminalização do porte de drogas é
desproporcional e exerce um impacto significativo na esfera da vida privada dos
usuários. Ela apontou para as ramificações desse cenário ao evidenciar que a
criminalização resulta no encarceramento de indivíduos vulneráveis, uma
observação que ecoou entre os demais ministros. Esse destaque para a
desproporção das medidas punitivas revela uma preocupação latente com a
dimensão social e humanitária das políticas de drogas, especialmente quando se
trata da criminalização do porte, que frequentemente afeta de maneira
desproporcional grupos marginalizados e socialmente vulneráveis. Essa análise
crítica exposta pela ministra e corroborada por seus colegas deixa em evidência não
apenas a necessidade de reavaliar as abordagens punitivas, mas também de buscar
alternativas mais sensíveis e equitativas para lidar com a questão do uso e porte de
drogas (RICHTER, 2023, s.p.).

52
Ela ressaltou que a decisão do STF não tem a intenção de estimular o
consumo de drogas. Pelo contrário, acredita que o tribunal pode contribuir para uma
solução equilibrada, em paralelo à atuação do Congresso. A ministra apontou que,
em 2006, o Congresso despenalizou o uso de drogas para os usuários, mantendo
apenas a criminalização. A visão é de que o STF avançaria ao descriminalizar o uso
próprio de drogas (RICHTER, 2023, s.p.).
Em contrapartida, o ministro Cristiano Zanin se destacou ao expressar o
único voto divergente durante as deliberações. Embora tenha reconhecido as falhas
inerentes ao sistema penal atual, enfatizando a falta de aplicação justa da
despenalização, particularmente para pessoas de baixa renda, negras e com pouca
escolaridade, Zanin ressaltou suas preocupações em relação aos possíveis
"problemas jurídicos" que a descriminalização poderia acarretar, alegando que essa
medida poderia agravar a luta contra as drogas (RICHTER, 2023, s.p.).
Entretanto, o ministro também propôs uma abordagem alternativa ao
defender a fixação de um limite de 25 gramas de maconha ou o cultivo de até seis
plantas fêmeas de cannabis como critério para determinar o uso pessoal em
situações de apreensões policiais. Sua proposta busca estabelecer parâmetros mais
claros para a diferenciação entre o uso pessoal e o tráfico, visando mitigar as
injustiças cometidas pelo sistema penal e oferecer uma abordagem mais equilibrada
no tratamento dessa questão sensível. Essa posição do ministro Zanin demonstra
uma tentativa de conciliar preocupações legais com a necessidade de políticas mais
inclusivas e adaptáveis diante do desafio do uso de drogas no país (RICHTER,
2023, s.p.).
Por fim, caso o STF declare a inconstitucionalidade do artigo 28 da Lei
11.343/2006, o Brasil se unirá a outros países da América Latina que não
consideram mais o uso pessoal de drogas como crime. Atualmente, dentre os países
da região, o Brasil, juntamente com Suriname e as Guianas, ainda mantém a
postura de criminalizar a posse de drogas para uso próprio (RICHTER, 2023, s.p.).

53
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa aprofundada sobre a história das drogas, mergulhamos no


intricado e multifacetado panorama que envolve não apenas o consumo de
substâncias, mas também o contexto histórico e social que moldou as políticas e as
consequências das dependências químicas. Desde os primeiros registros de
utilização de substâncias psicoativas até a imposição da proibição no Brasil,
buscamos compreender os desdobramentos complexos desse fenômeno,
destacando particularmente as implicações do Artigo 28 da Lei 11.343/2006, que
aborda o uso de drogas para consumo pessoal.
Ao encerrar esta investigação, torna-se evidente que o desafio central
permanece complexo e multifacetado. A discussão em torno da política de
abstinência, que busca a completa cessação do consumo de drogas, enfrenta
barreiras substanciais em sua implementação prática. Surge, então, a grande
indagação sobre a real eficácia dessas políticas no controle do consumo e na efetiva
promoção da saúde dos usuários. Esse é um ponto crítico que demanda reflexão e
análise aprofundada.
Ao longo desta jornada acadêmica, novas problemáticas emergiram
naturalmente do contexto analisado. Uma das questões mais prementes reside na
tensão entre a criminalização do uso de drogas, expressa de forma contundente
pelo Artigo 28, e a abordagem que preconiza a abstinência como solução. Essa
dicotomia evidencia a necessidade premente de uma revisão criteriosa das políticas
em vigor. Propomos, assim, que abordagens futuras se voltem para um equilíbrio
mais sensato entre a busca pela interrupção do consumo e a priorização da saúde
física e mental dos usuários, buscando estratégias que sejam mais inclusivas e
promotoras do bem-estar.
Apesar de esta pesquisa não contemplar elementos gráficos ou análises
quantitativas, foi possível destacar a urgência de uma reformulação profunda das
políticas em questão. Esta reformulação deve ser mais holística e eficaz, alinhada
aos princípios fundamentais da saúde pública e do cuidado integral dos indivíduos
que enfrentam o desafio do uso de drogas.
Adentrando ainda mais nos desafios enfrentados pelo Brasil no combate às
drogas, é imprescindível enfatizar a complexidade estrutural desse contexto. O país

54
enfrenta uma série de dificuldades que vão além da mera interceptação das rotas do
tráfico. A corrupção, infelizmente, permeia os meandros das instituições, e essa
realidade muitas vezes facilita a manutenção das operações de tráfico. A corrupção
compromete e, por vezes, inviabiliza os esforços para desarticular as organizações
criminosas que operam no mercado das drogas, proporcionando uma relativa
impunidade a muitos traficantes.
Além disso, as políticas atuais de combate ao tráfico e ao consumo de
drogas se deparam com desafios significativos. A abordagem predominantemente
repressiva, focada na criminalização do uso pessoal, enfrenta obstáculos
consideráveis na prática. A dificuldade em controlar o acesso às substâncias ilícitas
e oferecer tratamentos adequados e apoio integral aos dependentes químicos é uma
realidade palpável. A aplicação dessas políticas muitas vezes ignora a complexidade
das razões subjacentes ao uso de drogas, deixando de lado soluções abrangentes
para lidar com as questões de saúde mental e física dos usuários.
Neste sentido, torna-se crucial repensar criticamente as políticas existentes.
É preciso um enfoque mais abrangente que considere não apenas a repressão ao
tráfico, mas também estratégias eficazes de prevenção, tratamento e integração
social dos usuários. A busca por políticas que promovam a saúde e o bem-estar, em
vez de focar unicamente na criminalização, pode representar um caminho mais
efetivo na abordagem do problema das drogas.
Em conclusão, a eficácia das políticas atuais de combate às drogas no
Brasil e a sua capacidade de controlar o consumo e promover a saúde dos usuários
se revela limitada diante de desafios estruturais, como a corrupção e a prevalência
do tráfico. Uma revisão profunda é imprescindível para uma abordagem mais
holística e efetiva que não apenas vise à interrupção do consumo, mas priorize a
saúde e o bem-estar das pessoas afetadas pelo uso de drogas.

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