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INSTITUTO DE ECONOMIA
MONOGRAFIA DE BACHRELADO
ABRIL 2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE ECONOMIA
MONOGRAFIA DE BACHARELADO
______________________________________________________
ANTÔNIO AUGUSTO MARANHÃO FERNANDES
Matrícula nº: 112128352
ABRIL 2018
As opiniões expressas neste trabalho são de exclusiva responsabilidade do autor.
AGRADECIMENTOS
Dedico esse trabalho a minha Mãe, Marília Maranhão; ao meu irmão, Jader; a
minha tia, Terezinha; minha avó, Rosa; ao Miguel; à Mia; e a todos os demais familiares e
amigos que têm me acompanhado ao longo da minha jornada pelo Instituto de Economia
da UFRJ.
RESUMO
Com o advento da Guerra-Fria, a politica externa dos EUA mudou muito. A fim de fortalecer
o capitalismo frente à ameaça do comunismo, eles passaram a reconstruir e a desenvolver
países que tinham risco de se associar ao último. O estado americano começou a ser usado
para gerar progresso econômico e social nestas nações de localização estratégica, a saber, a
Europa e, em seguida, a Ásia. O presente trabalho tem como objetivo mostrar que o processo
de desenvolvimento de tais regiões à luz dos acordos de Bretton Woods. A ideia central é que
o rápido progresso conquistado pelas mesmas se deu a partir de políticas estatais
estadunidenses, gerando condições externas muito favoráveis, demasiadamente diferentes das
demais regiões do mundo. Tal política só foi possível visto que os EUA tinham a moeda
mundial e também porque podiam ter déficits constantes no seu Balanço de Pagamentos, o
que permitia a enorme saída de recursos necessária.
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 5
CONCLUSÕES........................................................................................................................... 48
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................ 52
INTRODUÇÃO
Devemos começar estudando o caso dos Estados Unidos. No século XX, ele já era o
pais com maior produtividade, tinha a moeda mundial. Isso permitiu que, com o fim da
Primeira Guerra, ele se consolidasse como a maior potencia do globo, já que a batalha não foi
em seu território, não sofrendo destruições, e ainda recebeu grandes indenizações. As guerras
e o New Deal trouxeram grande dinamismo e demanda agregada para a sua indústria. O
último foi um projeto de combate à grande crise de 1929, via aumento do gasto público,
criação de infraestrutura, fortalecimento do poder de compra e das condições trabalhistas.
Com o fim da Guerra, os estadunidenses temiam a queda no seu nível industrial, criaram
então os Acordos De Bretton Woods.
5
O objetivo desse trabalho de pesquisa é analisar a o processo de ―desenvolvimento à
convite‖ à luz dos acordos de Bretton Woods. Primeiramente, no Capítulo 1, como os
mesmos foram criados. Em segundo lugar, no Capítulo 2, como a Europa, Japão e demais
países asiáticos se desenvolveram. Em terceiro, no Capitulo 3, é realizado um comparativo
entre tais países e a América Latina. Em seguida, no Capitulo 4, há a explicação sobre os
aspectos incomuns do sistema de inovação dos Estados Unidos, assim como uma análise da
sua política industrial pela ótica da oferta e da demanda. Finalmente, no Capitulo 5, mostro
como se deu o processo de declínio dos acordos, assim como o fim da era do
desenvolvimentismo na Europa e, posteriormente, na Ásia - ainda que, no caso da última, o
progresso tenha durado até regime financeiro posterior: o sistema de dólar flexível.
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CAPÍTULO 1 - O PADRÃO OURO-DÓLAR
Apresentação
Anos depois, para sanar a Grande Crise de 1929, o governo de Roosevelt tornou-se
mais interventor, concebendo uma série de programas, chamados de New Deal, que
transformou o estado em um motor do crescimento e desenvolvimento. Houve a criação de
grandes obras de infraestrutura, empregos, sindicatos, direitos trabalhistas e a previdência
social.
1
O conceito de desenvolvimento diz respeito a grandes mudanças na estrutura produtiva, econômica e social de um
país. É diferente de um simples crescimento. O Segundo pode ocorrer sem o primeiro.
7
Entretanto, sua politica expansionista foi parcialmente revertida mais tarde, gerando a
volta do baixo crescimento. Foi só no final dos anos 30, com a eclosão da Segunda Guerra
Mundial, que a economia americana se recupera, fortalecendo sua posição de fornecedora para
os países em guerra. Posteriormente, a partir a sua entrada no confronto em 1941, consolidou-se
– especialmente, como produtora para suas forças armadas, promovendo ainda mais demanda
efetiva em sua economia. Neste período, eles crescem a taxas muito elevadas e tem um altíssimo
grau de intervenção estatal e planejamento.
Ainda durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e seus aliados começaram
a discutir como organizar uma Nova Ordem Mundial, depois do evento da derrota das Potências
do Eixo, visando criar um mecanismo que gerasse maior cooperação entre os países capitalistas,
a fim de promover um maior crescimento entre os mesmos, particularmente nos EUA.
O período anterior aos anos 30 foi marcado pela rejeição às políticas que visavam
estimular a economia. Entretanto, surgiu a necessidade de se criar instrumentos internacionais
que possibilitaram políticas expansionistas por parte dos governos dos países, gerando o um
cenário que permitisse a manutenção da expansão econômico dos EUA. Eles estavam
insatisfeitos com o sistema vigente até então: o padrão-ouro e os câmbios livres (Carvalho,
2004).
Acreditava-se que a guerra tinha interrompido a depressão — em virtude da
mobilização de recursos que impunha [...] o fim da guerra poderia ter um efeito
perverso: a paz nos campos de batalha traria de volta o desemprego e os conflitos
sociais. Medidas domésticas, no entanto, poderiam não ser suficientes para evitar a
volta da depressão. (CARVALHO, 2004).
Para Moffit, os EUA estavam assumindo o papel de potência hegemonia. Para ele, foi
a guerra, mais que o New Deal, que curou a grande depressão. O planejamento estatal
intensivo possibilitou a melhora na indústria e gerou muitos empregos. Após a Segunda
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Guerra, os estadunidenses se tornaram o grande credor do mundo, além de um poder militar
muito forte, com destaque para a bomba atômica. (Moffit, 1984).
Além disso, era preciso criar instituições que promovessem o aumento do poder e do
domínio estadunidense sobre as demais nações, além de gerar um mercado de consumo para o
mesmo, já que o interno geraria pouca demanda efetiva. (Cini, 2001). Isso era necessário
pois, com o fim da Guerra, o mercado interno dos EUA naturalmente deixaria de crescer
tanto. Havia a preocupação de achar fontes adicionais de demanda efetiva para a sua
economia através da exportação.
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concordaram que deveria haver uma coordenação dos esforços principais economias
internacionais, visando maior prosperidade e Pleno Emprego. A mazelas da Grande
Depressão de 1929, fizeram com que as políticas econômicas da época fossem baseadas na
manutenção do último. (Carvalho, 2004). Assim como também eram baseadas no papel do
estado como motor do desenvolvimento.
Keynes era o maior crítico ao Padrão-Ouro, seus principais pontos eram: 1. Havia o
risco de falta de ouro para sustentar o comércio, já que ele é escasso. Essa situação acabaria
gerando uma queda de preços. Ofertas de moeda só seriam possíveis com o aumento nos
juros, a fim de atrair ouro de outros países; 2. O problema do ―ajuste assimétrico‖: Quando
uma economia cresce mais que todas as outras, há um aumento da renda interna e do poder de
compra - consequentemente há um maior crescimento das importações. Em consequência, há
a tendência de problemas no BP. A nação que passa por essa situação, acaba tendo que
diminuir sua renda interna, a fim de controlar tal déficit, gerando desaquecimento no mercado
internacional. Esta ação caracteriza um ―ajuste assimétrico‖, já que a responsabilidade de
melhorar o balanço de pagamentos recai somente sobre o país deficitário. (Carvalho, 2004).
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Por conseguinte, seu plano tem três consequências positivas. Em primeiro lugar, a
Bancor poderia ser criada, garantindo o crescimento internacional, já que não haveria o risco
de falta, ao contrário do ouro. Em segundo, os países em desenvolvimento obter a moeda
internacional diretamente em troca de suas commodities, o que evitaria a instabilidade de
preços e a demanda por commodities da periferia. Em terceiro, déficits no BP poderiam ser
resolvidos. Para tal, seria necessária a participação ativa de outros países. O deficitário
deveria aumentar suas exportações, e o superavitário teria que absorvê-las; caso contrário,
pagaria multa. Dessa forma, seu plano era caracterizado pela liquidez automática e ajuste
expansivo do BP. (Carvalho, 2004).
White, por sua vez, defendia um sistema mais tradicional, baseado no câmbio fixo -
que não permitia desvalorizações competitivas no mercado internacional, que votariam em
risco o crescimento dos EUA e o mundial. Para ele, não deveria haver barreiras de capital e o
dólar conversível em ouro seria a moeda internacional. Também idealizou um Fundo de
Compensação, chamado de Fundo Monetário Internacional (FMI). Ao contrário da Câmara de
Compensação de Keynes, este não criaria dinheiro - na verdade, armazenaria as moedas de
diferentes países, a fim de que problemas no BP de curto prazo fossem resolvidos com
simples empréstimos. Também idealizou um banco que financiava o desenvolvimento de
outras nações, especialmente através de investimento em infraestrutura - a saber, o Banco
Mundial. (Carvalho, 2004).
11
1.3 O Bretton Woods Vencedor
Em razão do grande poder dos EUA, o mecanismo de White foi o escolhido. Foi
criado o regime de câmbio semifixo, que permite ajustes para controlar os problemas de
Balanço de Pagamentos, já que os recursos disponíveis no Fundo eram limitados. Acreditava-
se que esse sistema garantiria a continuidade do seu crescimento e eliminaria o risco da volta
da crise de 29. No pós-guerra, os estadunidenses eram quem mais poderiam lucrar com o
livre-comércio, através de um aumento nas exportações. (Carvalho, 2004).
Havia o entendimento de que a nação mais poderosa seria aquela que não tivesse
restrições do Balanço de Pagamentos, uma vez que poderiam financiar seus déficits em sua
própria moeda e não em dívida externa. Dessa forma, não ficaram presos a ter que exportar
para gerar superávit e, consequentemente, recursos para o próprio desenvolvimento.
Segundo Moffitt, o sucesso dos acordos era baseado no em grande déficit no BP dos
EUA, uma vez que sustentavam muitos financiamentos, transferências militares e de ajuda
estratégica, assim como empréstimos a governos e bancos estrangeiros. Essa política expandia
a oferta de moeda internacional. Estabelecer o dólar com paridade em ouro, os EUA puderam
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criar políticas de expansão monetária, que promoveram um grande aumento do comércio
internacional. (Moffit, 1984).
O Fundo acabava agindo bem mais sobre os países deficitários, pois - na prática, os
superavitários ignoravam as recomendações de absorver exportações, gerando necessidade de
ajustes recessivos frequentes nos primeiros; característica marcante do FMI. Esse problema
também acontecia pela falta de controle sobre as reservas dos países membros. Por seguinte, o
sistema adotado não era eficaz controlando a capacidade de absorver exportações dos
deficitários pelo superavitário. (Carvalho, 2004).
No pós-guerra, era evidente que a nação que mais teria a lucrar com a liberdade de
comércio seria os EUA. Barreiras ao comércio, por sua vez, certamente teriam como
alvo as exportações americanas. A eventual restauração do sistema de
desvalorizações competitivas causaria muito mais danos aos Estados Unidos que a
qualquer outro país. A construção de um sistema de pagamentos internacionais teria
como meta, do ponto de vista daquele país, eliminar a possibilidade de adoção desse
regime cambial. (CARVALHO, 2004).
13
1.4 O Bretton Woods Na Prática
Os acordos acabaram sendo essenciais para promover o aumento da paz mundial que
se sucederia. A Guerra-fria, que surgiu com o advento do comunismo e da União Soviética,
foi um conflito bem menos violento que as duas grandes guerras. O afloramento da mesma
marcou uma grande mudança no padrão que o sistema funcionava.
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As condições externas eram muito favoráveis, gerando ―milagres‖ nacionais de
reconstrução e/ou crescimento. A forma como o sistema ouro-dólar foi na prática, permitiram
que o Keynesianismo expansivo de pleno emprego dos Estados Unidos fosse levado aos
demais países capitalistas. Essas condições externas favoráveis permitiram uma
industrialização muito acelerada, liderada pelo estado, voltada para o desenvolvimento, com a
característica de conglomerados nacionais. O ―desenvolvimento a convite‖ foi a estratégia dos
EUA de atuar diretamente no desenvolvimento de países aliados. (Medeiros e Serrano, 1999).
O poder dos EUA era muito grande, ―a hegemonia deles é subestimada‖. (Serrano, 1999).
Havia uma necessidade de exportar muito grande na Europa e no Japão; em razão das
guerras e de grande dependência de importações, respectivamente, além da falta generalizada
de dólares no velho continente. Os Estados Unidos geraram tais reservas internacionais para
os aliados, com doações e empréstimos, montando uma nova ordem económica internacional
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- a partir do dólar. Para tal, foi preciso garantir acesso dos países capitalistas ao dólar. Caso
contrário, haveria uma desaceleração por falta de liquidez. (Medeiros e Serrano, 1999).
De acordo com De Cecco, havia um conflito entre os EUA e a Inglaterra, no que diz
respeito à afirmação do dólar como moeda internacional, mas a última já encontrava-se sem
condições de competir com o dólar, em razão do seu déficit de atenção. No ano de 1949, os
estadunidenses obrigaram a mesma a desvalorizar a libra em 30%, assim como muitos outros
países, transformando-os em uma economia voltada para a exportação. Entretanto, os ingleses
não queriam essa depreciação pois ainda acreditavam na libra como uma moeda mundial e,
para isso, queriam manter seu valor e ouro constante. (De Cecco, 1979).
Havia uma grande assimetria em relação aos outros países. A guerra fria foi um
período peculiar: os americanos agiram de forma desenvolvimentista no mundo,
reconstruindo vários países, enquanto respondiam enormes quantias de dinheiro para a manter
o domínio militar sobre outros países.
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CAPÍTULO 2 - CONVIDADOS VS. NÃO-CONVIDADOS
Apresentação
Este capítulo mostra que os condicionantes externos eram bem diferentes entre os
países que foram convidados a se desenvolver e as demais nações, onde não havia interesse
estratégico por parte dos Estados Unidos. É tratado, em primeiro lugar, o desenvolvimento da
Europa, que se deu através do Plano Marshall. Em segundo, o do Japão e do sudeste asiático,
via modelo dos Gansos Voadores. Em seguida, há um panorama das condições da América
Latina e, por fim, uma comparação entre ambos.
17
introdução da conversibilidade em 1959. Dessa forma, tais déficits não eram um entrave ao
desenvolvimento da região. (Medeiros e Serrano, 1999).
Tabela 1
2
O Tratado de Versalhes foi impôs várias restrições importantes à Alemanha, que foi proibida de fabricar tanques e
armamentos pesados, de manter sua aeronáutica em funcionamento – a Luftwaffe, teve que reduzir seu exercito,
perdeu territórios e teve que pagar uma enorme indenização aos vencedores, especialmente, para os EUA. Tais
condições ampliaram profundamente sua crise economia, que se iniciou com a guerra.
18
Dessa forma, o papel expansivo do estado foi de suma importância não só para a mudança de
paradigma que a Europa estava vivendo no pós-guerra, mas também para gerar crescimento
nos Estados Unidos, assim como mundial.
A Doutrina Truman 3 – que se deu durante a Guerra Fria, foi uma estratégia de
combate ao socialismo através do fortalecimento e da criação de novos mercados capitalistas.
Os EUA fizeram um esforço de desenvolver outras nações, mesmo sabendo que estavam
criando um mercado concorrente – ao contrário do déficit de atenção da Inglaterra, em seu
processo de declínio.
3
O início da Doutrina Truman foi marcado pelo discurso do então presidente Harry S. Truman em 1947, que
alertava seus conterrâneos sobre a propagação do comunismo.
19
Já o Plano Marshall, por sua vez, levou o ideário da Doutrina Truman e do New Deal
para à Europa; a partir de 1947. Em razão da ameaça do comunismo e da necessidade de criar
um mercado consumidor para suas exportações. A Guerra-Fria tornou o Bretton-Woods mais
Keynesiano.
Os EUA conseguiram manter o nível de produção alcançado com a guerra. Para tal,
foi muito importante conquistar aliados, que em troca de financiamento a taxas reduzidas,
tomariam medidas liberais em favor dos americanos. As nações europeias deveriam demandar
produtos dos EUA, assim como se tornar fornecedores de importações. A elite exportadora
estadunidense apoiou tais políticas, já que elas geram demanda efetiva. (Mcglade, 2001)
O Bretton Woods Keynesiano trouxe benefícios, uma vez que garantia os mercados
europeus e criava fortes aliados políticos para os Estados Unidos, contendo o avanço do
comunismo e da União Soviética. Entretanto, ele por restringir a capacidade de manobra da
política externa dos Estados Unidos, já que as demais nações participantes tinham cotas e
direito a participação na tomada de decisões. (Simon, 2011, p.34).
20
gerou um aumento na industrialização e nos investimentos privados europeus e das
multinacionais estadunidenses. Além disso, gerava muita estabilidade financeira e cambial.
Em segundo lugar, houve muito investimento público, que também foi pró-cíclico, e a
explosão econômica aumentou mais a capacidade de arrecadar tributos. (Mattos, 2005).
Para Wall, conforme citado por Simon (2001), as políticas impostas pelos EUA - a
saber, o livre comércio, a estabilização monetária e inflacionária, além do incentivo à
integração; foram mais importantes que a própria transferência de recursos. Em outras
palavras, o fator decisivo foi a criação de um novo eixo de comércio com a Europa. Dessa
forma, o plano foi o fator mais importante do projeto de domínio americano, consolidando sua
hegemonia mundial. (Wall, 2001).
21
Tabela 2
Taxas médias anuais de crescimento do Produto Interno Bruto em %
Tabela 3
22
Tal politica gerou uma mudança na estrutura produtiva com investimentos cada vez
maiores no setor terciário e secundário europeu. O trabalho passou se concentrar no setor de
serviços, deixando gradativamente o primário. A indústria aumentou sua participação, exceto
nos EUA e Inglaterra, mas não tanto quanto o setor de serviços. Vide tabela 4:
Tabela 4
23
O plano para o sudeste asiático consistia em fortalecer o Japão a fim de torná-lo um
elemento dinamizador na região, puxando os outros países. Tal feito só seria possível com a
criação de um mercado externo para as exportações japonesas, assim como acesso ao
financiamento internacional. (Medeiros e Serrano, 1999).
Com isso, o Japão cresceu muito, tornando-se um líder na sua região que, baseada no
Modelo dos Gansos Voadores, gerou uma industrialização acelerada na Ásia. Após os anos
80, nenhuma região cresceu tanto como a mesma. A forma de crescimento é sequencial: Os
EUA se desenvolveram e o Japão foi puxado, o último foi passando parte de sua
industrialização e demanda aos demais países asiáticos. (MEDEIROS, 1997).
No Modelo dos Gansos Voadores4, o líder da região puxa os demais países com quem
faz comércio. Primeiramente, o Japão gerou uma demanda local por commodities. Este tipo
de bem é mais fácil de produzir, num primeiro momento, em razão da baixa capacidade
tecnológica, que os demais se encontravam. Entretanto, à medida que os custos trabalhistas
japoneses foram aumentando, ele transferiu as indústrias de menor geração de valor para os
seus parceiros mais atrasados. Dessa forma, o ganso líder puxou o resto, levando a uma
explosão nas exportações dos outros. Em outras palavras, o Japão fez Investimento Externo
Direto nos outros países da Ásia, que passaram a produzir produto relativamente simples, que
já não eram mais foco do líder, que estava dando prioridade para bens de maior valor. (Palma,
2004).
4
O Japão se tornou o ganso líder na Região, puxando os demais. Seu papel era análogo ao da Alemanha na Europa
e semelhante ao dos EUA, que eram – em ultima instância, o grande ganso mundial.
24
A hipótese básica é a de que as manufaturas com menor densidade tecnológica vêm
sendo reproduzidas sequencialmente em países com menor grau de industrialização
aproveitando espaços anteriormente ocupados pelos países mais desenvolvidos. A
dinâmica deste movimento pode ser atribuída a: no ganso líder: - substituição de
exportações decorrente da penetração em novos setores com maiores taxas de
crescimento nos mercados mundiais e com maiores efeitos expansivos sobre a
economia e as pressões do balanço de pagamentos; aumento do protecionismo nos
mercados consumidores (EUA); no ganso retardatário: aproveitamento dos espaços
abertos pelo ganso líder em grandes mercados consumidores e introdução de
técnicas anteriormente desenvolvidas por aquele. (MEDEIROS, 1997, pg. 37).
A força motriz desse modelo só poderia vir dos EUA. Como os eles estavam em
padrão ouro-dólar, não importava o déficit externo não era de grande importância, permitindo
uma grande quantidade de importações. Após meados dos anos 60, dada a proximidade, a
Coreia do Sul e Taiwan conseguiram seguir bem o caminho do mesmo, em razão da sua
política industrial agressiva. Inicialmente, eram exportados produtos industriais de baixo
valor. Como já havia uma demanda efetiva por tais produtos, estes países cresceram muito
rapidamente, o que é mostrado pela Tabela 5, abaixo:
Tabela 5
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sendo convidados a desenvolvolver-se. O ganso a ser copiado era o Japão, os EUA não era
um ganso copiavel. Os países asiáticos que passaram a ser fornecedores dos EUA precisaram
ter qualidade e logística maior.
Tabela 6
Distribuição da força de trabalho
japonesa, 1980-85
5
Foi só no final dos anos 70, que a China passou a ser aliada dos EUA.
26
Em suma, as condições externas foram muito favoráveis, puxando o desenvolvimento
da região, em um modelo que gera superávit comercial, dada às exportações. Sendo assim,
conseguiram dólares o suficiente para comprar bens de capital importados, que deviam ser
pagos em dólar, sem gerar dívida externa - exceto a China, num primeiro momento
Segundo Medeiros e Serrano, a América Latina estava bem longe do centro da Guerra-
Fria. As condições externas da região eram bem diferentes, não sendo tão favoráveis ao
crescimento industrial. Ela não contou com um Plano Marshall, nem com a construção de
uma economia regional baseada no acesso privilegiado ao mercado americano, ficamos muito
dependentes do investimento externo direto das multinacionais dos EUA e da Europa. Além
disso, a ―ajuda externa‖, que além de ser insuficiente para as maiores nações, veio
tardiamente. Foi somente após a crise da revolução cubana que recebemos tais recursos, mas
em pequeno montante. (Medeiros e Serrano, 1999).
Como o IED das multinacionais eram feitos em setores voltados para o mercado
interno, havia o problema das pioras dos termos de divisas, como foi apontado por Prebisch6
(1964) e Kalecki (1972). Tal propriedade acabou por gerar uma economia dependente da
performance exportadora. A capacidade de importar era limitada pela de exportar. Medeiros e
Serrano (1999).
6
Prebisch (1964) acredita que os termos de troca das economias primário-exportadoras vão se deteriorando, pois –
para tal autor, há uma tendência de desvalorização perene das commodities exportadas, em comparação ao preço
dos bens industrializados.
27
Nos anos 50, os termos de troca do Brasil eram mais favoráveis que os da Argentina.
Ele apresentou taxas de crescimento maiores que o da ultima, nos anos 50 e 60, gerando uma
menor necessidade de importados. Além disso, havia mais diversificação industrial, maior
mercado interno e uma rápida evolução na fase de substituição de importações, resultando em
um processo mais planejado e diversificado, que promovia bem mais as exportações. Dessa
forma, nos anos 60, o Brasil começou a fase de diversificação de importações, ao mesmo
tempo que Coreia do Sul e Taiwan, só que em contextos regionais diferentes. Medeiros e
Serrano (1999)
28
pela política do Japão, no modelo dos gansos voadores e pelos Estados Unidos, de uma
maneira geral, gerando uma enorme demanda por seus produtos industriais. (Palma, 2004).
Em razão dos seus interesses para que a região se tornasse exportadora, a OCDE
sustentava uma política de criar superávits constantes na Ásia, gerando grande crescimento de
exportações manufatureiras. Isso permitiu que saldos deficitários entre o Japão e seus
vizinhos existissem, gerando uma dupla inserção para os últimos, a de exportadores de
manufaturas mais baratas para a OCDE e a de mercado para investimento de exportações
japonesas de bens de capital. Isso ajuda a explicar o alto crescimento regional. Esse superávit
constante com a OCDE foi uma das grandes diferenças que tiveram. Já a América Latina, ao
contrário da Ásia, voltou a se especializar em bens primários. Além disso, entrou em
crescentes déficits de transações correntes e tornou-se muito dependente do financiamento
externo para o seu desenvolvimento. (Medeiros, 1997).
A América Latina não teve tanta dinamização quanto o sudeste asiático. Após as
reformas, aí mesmo é que não tiveram tantos benefícios, com crescimento baixo ou nulo da
produtividade. Nos casos em que houve um grande aumento da ultima, há evidencias de que
eles provavelmente não se sustentaram ao longo do tempo, pois não têm efeitos de
encadeamento tão grandes. Foi um erro voltar a se especializar em produtos primários,
baseado em vantagens comparativas questionáveis, levando à deterioração dos termos de
troca. O ganho de produtividade no modelo exportador da América Latina é mais difícil do
que os baseados na produção de bens mais complexos. (Palma, 2004).
Como podemos ver na Tabela 7, essas condições tão diferentes geraram um menor
crescimento na América Latina, em comparação com os países do Sudeste Asiático e do Leste
Europeu. Tal fato é demostrado na comparação entre as taxas de crescimento do PIB por hora
29
trabalhada entre tais países, assim como a diferença entre o período de 1950 a 1973 e e o
anterior.
Tabela 7
A conjuntura externa foi muito importante para explicar o rápido desenvolvimento dos
países do sudeste asiático. Essa questão foi mais importante do as politicas pro-ciclicas internas
de cada pais da região. Além disso, o capitalismo se desenvolveu a partir do Estado, que se dizia
liberal, mas que fazia políticas keynesianas de demanda efetiva.
30
CAPÍTULO 3 – KEYNESIANISMO E DESENVOLVIMENTISMO
BÉLICO
Apresentação
Dessa forma, o fortalecimento da União Soviética acabou por criar condições onde
uma maior integração entre o setor industrial, o militar, o científico e o estado era necessária;
o que criou condições muito peculiares para o progresso dos Estados Unidos e do mundo do
pós-guerra.
31
Nos centros de pesquisa, estão presentes representantes do setor militar, que demanda
tais tecnologias e também das empresas. Dessa maneira, tal processo de P&D engloba
simultaneamente esses quatro agentes; a saber, as universidades, o governo, os militares e as
empresas - que estão intimamente interligados, como não ocorre em nenhum outro lugar,
permitindo muito mais eficiência de pesquisa que as demais nações. (Medeiros, 2004).
Segundo Misa (1985), para fazer a política de pesquisa tecnológica, que iniciou-se
nos anos 40, o governo precisou garantir uma maior proximidade entre ele mesmo, o setor de
pesquisa e o setor militar. Os últimos promovem, nesse contexto, a formação de uma indústria
inicial - subsidiada pelo estado, para produzir nova tecnologia em questão; além de criar
padrões de produção, o que ajuda a difundi-la. Essa característica acaba por reduzir custos de
produção. As principais grandes inovações tecnológicas surgiram através dessa grande
ligação entre os militares, o governo, as empresas e as universidades. Misa (1985)
Conforme colocado por Misa (1985), a criação de novas tecnologias importantes leva
a um ciclo vicioso. O surgimento de uma tecnologia primária leva a gênese de outras grandes
tecnologias como, por exemplo, o transistor levou a uma melhora no campo da comunicação e
da aviação; que - por sua vez, geraram suas próprias inovações importantes e assim por
diante. (Misa,1985).
32
Além da criação de muitas inovações, a capacidade de difusão da mesma, ao longo da
cadeia econômica, é de suma importância. Nesse sentido, os estadunidenses são os melhores
em difundir as suas novas tecnologias para as empresas, o que acontece rapidamente, já que a
elas são produzidas nas universidades de altíssimo nível, com recursos federais. Isto é, os
EUA tem a maior integração entre as empresas, os militares e universidades já vista.
Para Dosi, Pavitt e Soete; o país que produz e oferta tecnologia de maneira mais
eficiente é aquele que tem maior integração entre os setores. Em sua visão, as instituições têm
um grau de suma importância no processo de desenvolvimento. (Dosi, Pavitt, Soete; 1990). A
URSS7 não tinha tanta integração entre militares, universidades e - tampouco, empresas. Sua
economia não gerava o encadeamento necessário para tal nível de progresso.
De acordo com Dosi, Pavitt e Soete; a política que sustenta o maior nível de progresso
tecnológico do mundo é também uma geração de demanda efetiva. Não basta ter somente
integração. Quanto maior for a última e a demanda efetiva, mais eficiente será o processo de
inovação. (Dosi, Pavitt, Soete; 1990).
Nos EUA, a segurança nacional é mais importante que a do valor despendido pelo
governo. Os militares têm orçamento quase que irrestrito, é muito mais que um simples
subsídio. Em razão dessas características, a velocidade da inovação é muito maior que os nos
7
Como a URSS era socialista, suas demandas bélicas não geravam tanto fator de crescimento quando os EUA, já
que havia um estimulo menor para pesquisa, inovação, investimentos etc. Dessa forma, não há um complexo
cientifico-industrial-militar tão eficiente e integrado, no que diz respeito à criação e difusão de tecnologias, assim
como no seu impacto na melhora da economia.
33
outros países. Formam, então, um complexo industrial peculiar, com uma política industrial
distinta. (Medeiros, 2004).
8
A expansão do estado via setor militar era facilmente justificada com a guerra e por questões patrióticas.
34
Tabela 8
Na Tabela 8, acima, podemos ver que os gastos militares no exterior dos EUA sobem
vertiginosamente, desde o inicio da Guerra-Fria, assim como os recursos enviados ao exterior
e os IEDs. Tudo isso, criando uma tendência de déficit no BP. Isso é um sinal de que o estado
se expandiu, e o fez fortemente baseado no setor militar.
35
e desenvolvimento dos países aliados‖. A busca pelo crescimento e alto nível de emprego
continuou mesmo com a presença da inflação rastejante, nos EUA. (Serrano, 2004).
Segundo Mattos (2005), a politica dos Estados Unidos visava estimular o crescimento
econômico e a demanda agregada. O estado investiu muito em industrialização, gastou muito
em infraestrutura, gerou um aumento na industrialização e nos investimentos privados, na
forma do Plano Marshall e das demais politicas de desenvolvimento dos aliados, da criação
do Welfare State9 e da transferência de renda para os desempregados – que, juntamente com
as politicas de pleno emprego, levaram ainda mais pessoas ao mercado de trabalho. Isso tudo,
que ocorreu baseado nos Acordos de Bretton Woods, acabou gerando um enorme boom na
indústria americana. (Mattos, 2005). Isso tudo para manter a continuidade do crescimento
alcançado com a Primeira e a Segunda Guerra.
A demanda efetiva pode crescer de maneira muito forte, mesmo no inicio da fase de
compressão das margens de lucro, graças ao aumento do conflito distributivo. Na verdade, a
9
O Estado de Bem-Estar Social foi uma ideia da direita, assim como a criação das leis trabalhistas por Vargas, no
brasil. Ele não é anticapitalista, na verdade, foi essencial para que a economia chegasse no nível de crescimento
alcançado na Golden Age.
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no inicio desse processo houve ate um aumento do consumo, mas com inflação. Apesar da
compressão, o ritmo de investimento e crescimento se manteve, pois a demanda efetiva ainda
estava em expansão. Apesar da inflação, Nixon, inicialmente, entre 68 e 71 não adotou a
política contracionista, comum nesses casos. Na verdade, manteve a politicas fiscal
expansionista, em razão dos gastos militares e sociais, com destaque para o programa de
moradia e de bens de consumo duráveis; assim como a monetária, que manteve juros baixos.
A prioridade ainda era evitar o desemprego. (Serrano, 2004). A politica foi expansionista até
1979. Veremos essas ultimas questões mais detalhadamente no capitulo a seguir.
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CAPÍTULO 4 - FIM DOS ACORDOS DE BW
Apresentação
Esta performance econômica e social dos países capitalistas regulados pelo Estado
no contexto geopolítico da Guerra Fria, segundo Kalecki, afastou simultaneamente a
possibilidade de colapso econômico, de guerras entre os principais países
capitalistas e também da revolução socialista nos países avançados, onde a
prosperidade dos trabalhadores era crescente. Segundo o autor, os países capitalistas
haviam ―aprendido o truque‖ de evitar as crises e a desordem do capitalismo
desregulado através da intervenção estatal. (SERRANO, 2004).
A ―reforma crucial‖ que Kalecki argumenta ser necessária, de fato aconteceu nos
países capitalistas. A melhora na distribuição de renda, que aconteceu foi a partir do estado.
Ela exigia alto grau de ―conformismo social‖ para funcionar. Entretanto, nos anos 60, uma
nova geração - que cresceu naquelas ótimas condições econômicas e sociais, chegou ao
mercado de trabalho, levando a uma redução no ―conformismo social‖ Isto é, houve um
aumento no grau de militância sindical, por direito civis e estudantis. A consequência foi o
aumento do conflito distributivo de todos os países centrais. Nos EUA, a população se opôs à
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Guerra do Vietnã e exigiu ainda mais direitos, exigindo mais gastos sociais financiados com
maior taxação progressiva de impostos de renda. (Serrano, 2004).
Tal explosão no poder de consumo levou a uma inflação, já que os aumentos dos
custos do reajuste salarial iam sendo repassados aos preços. A margem de lucros não
acompanhou o crescimento dos custos e os rendimentos financeiros caíram. Apesar da
compressão dos lucros, o ritmo de investimento e o de crescimento se manteve, porque a
queda do primeiro aconteceu na mesma proporção que a queda das taxas de juros reais. Além
disso, a decisão de investir não é de acordo com sua proporção em relação à taxa de lucro. Na
verdade, é em função do tamanho do mercado. Isto acontece porque os empresários não
―investem enquanto classe‖, mas sim em razão das oportunidades. Se a demanda efetiva se
expandir, então os investimentos também farão o mesmo. (Serrano, 2004). Isto é, eles
investem apenas pensando no custo de oportunidade.
A política de desenvolvimento a convite passou a ser cada vez mais questionada pelas
elites a medida que ela começou a apresentar um grande problema para os empresários, a
saber, a queda da parcela da produção destinada aos lucros em favor do aumento dos salários
conquistado pelos movimentos sociais da época.
A compressão das margens de lucros no final dos anos sessenta teve o efeito, não só
de aumentar o conflito social e distributivo e a inflação, como também de,
inicialmente, acelerar ainda mais o crescimento econômico dos principais países
industrializados. (SERRANO, 2004).
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Apesar da queda da parcela dos lucros estar aumentando o conflito social, a política
econômica, fiscal e monetária dos EUA se manteve expansionista no primeiro mandato do
governo de Nixon, entre 1968 e 1971. O foco do governo era manter o desemprego em níveis
baixíssimos, assim como manter um alto nível de bem estar social, além de enormes gastos
militares. Havia o estímulo à construção civil e bens duráveis. Num segundo momento, em
1971, foi iniciada uma política de controle inflacionário baseada na restrição da renda, que
gerou queda dos salários. Serrano (2004).
Serrano argumenta que, segundo Cavalieri, Garegnani e Lucii (2004), a economia dos
EUA teve uma inflação maior e um crescimento de salários reais bem menor que os demais
países capitalistas. Diante dessa situação, mediante o regime de câmbio fixo, a
competitividade dos EUA foi relativamente piorando, mesmo com o aumento do valor de
algumas moedas importantes, como o Yen e o Marco. Dessa forma, surgiu uma pressão de
grande parte do empresariado estadunidense, especialmente daqueles ligados à exportação,
para gerar uma desvalorização cambial generalizada. (Serrano, 2004).
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população acostumada uma ótima situação económica e social, de grande estabilidade, que
exigia muito dos empresários.
À medida que os trabalhadores conseguiram absorver uma maior parte do lucro, e que
união soviética foi dando sinais de enfraquecimento, e que capitalismo o estava cada vez mais
consolidado; promover o aumento de salários e a garantir a estabilidade dos trabalhadores
deixou de ser interessante. Dessa forma, no inicio dos anos 70, a elite tomou medidas a fim de
diminuir o poder de barganha e o salário dos trabalhadores. Foi o fim da era de ouro do
trabalhador nos países capitalistas. A partir dessa época, de uma maneira geral, o salário real
entrou em trajetória decrescente e as leis trabalhistas, em um segundo momento, foram se
enfraquecendo. Tal trajetória pode ser vista hoje, no Brasil, com a redução dos direitos
trabalhistas. Vários autores contribuíram com suas visões sobre o fim do sistema financeiro
baseado no lastro do dólar em ouro, como veremos a seguir.
Uma das visões mais famosas acerca do fim do sistema de Bretton Woods é a de
Triffin. Para tal autor, havia um grande dilema, pois não seria possível conciliar o crescimento
internacional com demanda por dólar lastreado em ouro sem levar à ruína da paridade ou sem
recorre a medidas restritivas, que desacelerariam a economia mundial.
Gold has long ceased to provide an adequate supply of international liquidity for an
expanding world economy[...] The process, however, is bounded to come to and end
41
at some point. The the key currency countries cannot afford to let their net reserve
position deteriorate indefinitely. If they did, their currency would stop in any case,
to considered as the safest, and other countries would cease accumulation it [...] The
protectionist groups would find in such a situation powerful arguments to in favor of
a curtailment of foreign aid programs and of a reversal in the liberal trading policies
previously pursued. (TRIFFIN, 1960, p.88)
Tabela 9
Reservas de Ouro dos EUA e a Participações em Dólar de Outros Países.
42
O Dilema de Triffin foi muito discutido. Para Kindleberger, ele nunca se verificou,
mesmo com o aumento cada vez maior dos déficits no BP concomitantes com o crescimento
do comércio internacional. Para o mesmo, Triffin cometeu um eerro monetarista em sua
análise, quando assume que a velocidade de circulação do ouro é constante. Entretanto, ela
pode aumentar. Além disso, tal metal precioso continua em posse dos EUA. Para o outrora
presidente da França, Charles de Gaulle, os EUA tinham um ―privilégio exorbitante‖, já que
podiam financiar seus déficits no BP emitindo sua própria moeda sem lastro, ganhando com
senhoriagem internacional. (Serrano, 2002).
No final dos anos 60, o circuito offshore de eurodólares cresceu. Os bancos que
negociavam os dólares também eram fonte de sua emissão, amplificando a política monetária
americana. Então, os ganhos de senhoriagem passaram a se dividir entre os EUA e estes
banqueiros. Kindleberger deu à luz à política americana. Para ele, não havia ganho de
senhoriagem pois os bancos centrais dos aliados não retinham grandes quantidades de dólares
em dinheiro, mas sim títulos públicos de alta liquidez dos EUA, que eram remunerados. Dessa
forma, o último funcionava como um banco comercial mundial, fornecendo liquidez,
emprestando a curto e pegando a longo - ganhando apenas com os juros e não com senhoriagem.
Também não havia ―privilégio exorbitante, mas sim uma divisão do trabalho entre os EUA e o
resto do mundo. Para Serrano, o pensamento de Kindleberger e de Solomon estava certo,
enquanto DeGaulle cometeu um erro monetarista, assim como o Triffin. (Serrano, 2002).
43
Para Serrano o Dilema de Triffin não se verificou, pois a velocidade de circulação do
ouro não era fixa, em razão dos fluxos de capitais, e porque os Estados Unidos empresta a
longo prazo mas recebe a curto prazo. Tal autor erroneamente assume que a velocidade de
circulação do ouro é 1. Kindleberger e Solomon estavam corretos. Serrano (2002). Dessa
forma, para Serrano, há a existência do Dilema de Nixon, que é tratado a seguir.
Dessa forma, em razão das características desse sistema, os Estados Unidos poderiam
agir de maneira pro-cíclica, concedendo financiamento para vários e criando políticas de
reconstrução e pleno emprego em outros países, além de manter os juros baixos e permitir que
estes desvalorizassem suas moedas.
Para Serrano, não havia dilema de Triffin. Para o autor, o que existe é o dilema de
Nixon. Nos anos 60, apesar do superávit comercial e de conta corrente, os EUA apresentaram
déficits crescente no BP; em razão dos gastos militares no exterior e da política de
desenvolvimento a convite - que demandava a transferência de enormes quantias,
empréstimos, investimentos diretos etc. Como o dólar era a moeda mundial, então os
americanos financiaram a maior parte dos tais déficits em sua própria moeda, ou seja, o ouro
se mantinha nos EUA. Serrano (2004).
Os passivos de curto prazo dos EUA não se ampliam pois, a saída de dólar no longo
prazo, era compensada pela entrada do mesmo no curto. Ao receber os dólares, os demais
países os trocam por títulos de curto prazo do tesouro americano, a fim de receber juros, já
que os BC mundiais preferiam acumular reservas em tais títulos. Então, há uma entrada de
44
volta de dólares nos EUA. Não há, então, déficit em Conta Corrente e, consequentemente,
nem um aumento do passivo externo líquido. Assim sendo, apesar do déficit no BP, não há
saída de ouro. Nesse caso, a saída de dólar dos EUA era cada vez maior, o que diminui a
proporção entre tais títulos e o ouro. Serrano (2004).
Esse mecanismo monetário gerava uma assimetria muito grande pois, na medida em
que os países aceitaram o dólar como moeda de reserva internacional, os EUA
podiam financiar um déficit global na balança de pagamentos de qualquer tamanho.‖
(SERRANO, 2004)
45
O aumento crescente na mobilidade de capital que caracterizou o pós-guerra, criou
uma tendência para taxas de câmbios cada vez mais flexíveis serem usadas, o que acabou
criando pressões para o fim do Sistema de Bretton Woods. Para ele, a combinação de políticas
de livre comércio e de restrições financeiras era pouco estável. (Eichengreen, 2000).
As negociações dos anos 60 não foram interessantes para os EUA, seja o uso do ouro
como moeda internacional que tornaria o seu BP comum, ou os Direitos especiais de Saque.
,
Os EUA deixaram o ouro para não ter restrição externa e poder continuar crescendo,
haja vista que estavam perdendo competitividade relativa com os países que vinham
ajudando, uma vez que eles estavam em processo de catching up10, tendo um aumento de
produtividade mais rápido que os estadunidenses e também porque, ao contrário dos últimos,
poderiam fazer desvalorizações cambiais competitivas.
O dólar é uma afirmação do verdadeiro desenvolvimento dos EUA, tão grande que
conseguiu reconstruir a Europa, o Japão e os Tigres Asiáticos. Os outros países desenvolvidos
não têm a moeda mundial, então o seu desenvolvimento não é tão especial quanto o dos
Estados Unidos. Foi a contradição financeira, não a globalização e o eurodólar, que fizeram
os EUA a abandonar a conversibilidade. A visão tradicional foca que o dólar estava numa
situação difícil, mas na verdade estavam muito bem, já que estavam reconstruindo e
financiando tantos países. Problemas no fechamento do BP causaram a interrupção no
desenvolvimento de vários países, inclusive os periféricos e a URSS.
10
A política de desenvolvimento a convite gerou um grande nível de crescimento econômico e de produtividade nos
países aliados, mais rápido que o do próprio EUA, alcançando o mesmo em diversos aspectos econômicos e sociais,
inclusive fazendo melhor em alguns setores.
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Grande parte do aumento da inflação dos bens primários no mercado internacional
ocorreu graças a existência da demanda agregada gerada nos EUA nas nações aliadas com as
políticas de desenvolvimento a convite. Veremos, em seguida, as conclusões gerais sobre o
sistema financeiro criado com o Bretton Woods.
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CONCLUSÕES
O choque de Juros de Volker marcou o início de uma nova era na estratégia política
estadunidense, marcada pelo fim da política de ―desenvolvimento a convite‖ na Europa. O
Japão e, posteriormente, os Tigres Asiáticos e China, continuaram a receber os benefícios
dessa política, mesmo no próximo padrão que se seguiu, o Dólar Flexível. Entretanto, a
Europa Ocidental já estava bem reconstruída, com o capitalismo bem consolidado, não sendo
mais uma ameaça para o capitalismo. Na verdade, a região tornou-se muito competitiva, e
seus cidadãos, muito exigentes do ponto de vista das condições sociais.
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do capitalismo foi em razão estado atuando como motor do desenvolvimento, o que não foi
automático. Ainda que o maior grau de liberalismo comercial entre os países tenha ajudado,
esse componente está longe de ser o grande condicionante do desenvolvimento.
O progresso também não se deu em razão de demandas sociais, como protestos - por
exemplo. Não foi a população que se tornou mais exigente, mais educada e menos corrupta
para depois exigir melhores condições e desenvolvimento. Na verdade, ocorreu o contrário, o
desenvolvimento veio primeiro e tornou as pessoas mais éticas, educadas e exigentes. Na
verdade, tão exigentes que se criaram um fator muito importante para o fim da era do
―desenvolvimento a convite‖, a saber, a queda dos lucros normais em relação aos salários
reais.
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para si mesmo, criando uma eterna necessidade de conflitos, a fim de manter tal demanda
agregada. Consequentemente, apesar dessa estratégia ter levado a certa paz entre as potencias,
reduzindo as chances de uma nova guerra mundial, ela criou um padrão que perdura até hoje
em dia, que nunca gerará totalmente a paz; já que sua politica industrial é – em última
instancia, a própria fonte dos conflitos.
O fato dos Estados Unidos estarem reconstruindo o mundo inteiro e ainda sustentando
algumas guerras ao mesmo tempo, mostra que ele é mais forte do o defendido pela literatura
tradicional. O verdadeiro poder dele é não precisar gerar reservas internacionais e poder
financiar déficits no Balanço de Pagamentos a partir da sua própria moeda. Afinal, todos
aceitam dólares no comércio internacional.
Essa política externa criou, não só nações concorrentes, com produtividade que se
acelerava mais rapidamente que a dos EUA, mas também gerou uma população mais
acostumada a políticas de bem estar, mais exigente, que demandaram um aumento dos
salários e geraram redistribuição de renda em seu favor. Além disso, ele gerava um
fortalecimento do capitalismo e enfraquecimento do comunismo. Em razão dessas
características, ela era insustentável no longo prazo.
50
reconstruíram tantos países destruídos pela guerra, e desenvolveram outros, também
estratégicos.
Todos os países que tiveram grande progresso o fizeram se industrializando - cada vez
mais, em bens de maior complexidade e valor, assim como foram criando uma maior
produtividade. Mas isso não bastou, foi essencial conseguir que as inovações gerassem novos
setores na economia, uma nova cadeia produtiva. Também foi decisivo ter um país mais
desenvolvido puxando suas exportações e gerando superávit comercial. O desenvolvimento
de nenhum se deu vendendo commodities, como é o atual caso do Brasil, que - nas palavras
de Celso Furtado, ―está se perpetuando no subdesenvolvimento‖.
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