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Museu de Topografia Prof.

Laureano Ibrahim Chaffe


Departamento de Geodésia – IG/UFRGS

Eipsóide de referência
Iran Carlos Stalliviere Corrêa – Departamento de Geodésia-UFRGS maio/2009

Em geodésia, um elipsóide de referência é uma superfície


matematicamente definida que se aproxima do geóide, a verdadeira
forma da Terra ou qualquer outro corpo planetário. Devido à sua
relativa simplicidade, os elipsóides de referência são usados como uma
superfície preferida na qual são efetuados os cálculos da rede geodésica
e são definidas as coordenadas de pontos tais como latitude, longitude
e elevação.

Propriedades do Elipsóide

Matematicamente, o elipsóide de referência é um esferóide


achatado com dois eixos diferentes: um raio equatorial (o semi-eixo
maior a ), e o raio polar (o semi-eixo menor b ). Mais raramente, é
usado o elipsóide escaleno com três eixos (triaxial - a x , a y ,b ),
normalmente usado para modelar corpos não-terra. O eixo polar aqui é
o mesmo do eixo de rotação, e não o pólo magnético ou orbital. O
centro geométrico do elipsóide é colocado no centro de massa do corpo
a ser modelado, e não o baricentro de um sistema de múltiplos corpos.

Ao se trabalhar com geometria elíptica são usados geralmente


vários parâmetros, sendo todos funções trigonométricas da
excentricidade angular de uma elipse  :

b  a −b 
 = arccos   = 2arctag  
;
a  a + b 

Devido às forças de rotação, o raio equatorial é normalmente


maior que o raio polar. Esta elipticidade (ou achatamento, f ,
determina o quanto está próximo o esferóide achatado da esfera
verdadeira, sendo definido por:

  a−b
2

f = ver( ) = 2sen  = 1 − cos( ) =


2 a
que está relacionada com a excentricidade matemática, e de uma
elipse seccionada por:

a2 − b2
e = f (2 − f ) = sen( ) =
2 2

a2
Para a Terra, f está próxima de 1/300, e está a diminuir ao longo
das escalas de tempo geológicas. Em comparação, a Lua é
praticamente esférica com um achatamento 0, enquanto que Júpiter
tem um achatamento visível de cerca de 1/15.

Tradicionalmente define-se um elipsóide de referência para


especificar o raio do semi-eixo equatorial (normalmente em metros) e
a relação do inverso do achatamento 1 / f . O raio do semi-eixo polar é
então facilmente calculado.

Coordenadas

O principal uso dos elipsóides de referência é servir de base


para um sistema de coordenadas de latitude (norte/sul), longitude
(este/oeste) e elevação (altura). Por este motivo é necessário
identificar o meridiano zero, que para a Terra é normalmente o
primeiro meridiano. É possível que diferentes sistemas de coordenadas
sejam definidos sobre o mesmo elipsóide de referência.

A longitude é medida pelo ângulo de rotação entre o meridiano


zero e o ponto medido. Por convenção na Terra, Lua e Sol são
expressas em graus, variando de -180º até +180º. Para outros corpos
é utilizado o intervalo de 0 a 360º.

A latitude é medida pelo quanto se está próximo do pólo ou


equador ao longo de um meridiano, e é representado por um ângulo de
-90º até +90º, onde 0º é o equador. A latitude geográfica é o ângulo
entre o plano equatorial e a linha que é a normal ao elipsóide de
referência. Dependento do achatamento, pode ser ligeiramente
diferente da latitude geocêntrica, que é o ângulo entre o plano
equatorial e a linha que passa no centro do elipsóide. Para corpos não-
Terra são utilizados de preferência os termos planetográfico e
planetocêntrico.

As coordenadas de um ponto geodésico costumam ser


denominadas como latitude geodésica e longitude, i.e., a direcção no
espaço da normal geodésica contendo o ponto, e a altura h do ponto
sobre o elipsóide de referência. Se estas coordenadas, i.e.,forem
dadas a latitude  , longitude  e altura h, pode-se calcular as
coordenadas rectangulares geocêntricas do ponto da seguinte forma:

x = (N + h)cos  cos 

y = (N + h)cos sen

z = (N (1 − e 2 ) + h)sen

onde:
N = N ( ) =
a
1 − e 2 sen 2

é o chamado raio da curvatura na primeira vertical.

A curvatura de raio do meridiano de um elipsóide é dado pela seguinte


fórmula:

M ( ) =
(
a 1 − e2)
(1 − e sen  )
2 2 3/ 2

Estas formulas têm a sua forma inversa, apesar de se envolver a


álgebra. Pode-se mostrar que:

y
 = arctag
x

z + e' 2 bsen 3
 = arctag
p − e 2 a cos 3 

p
h= −N
cos 

onde p , e' 2 e  são definidas por:

p = x2 + y2

a2 − b2
e' =
2

b2
az
 = arctag
bp

Devido à complexidade destas expressões, a inversão é


normalmente alcançada através de um processo iterativo conhecido
como método de Bowring.

Elipsóides de Referência comuns da Terra

Atualmente o elipsóides de referência mais usado, e que é


usados num contexto de Sistema de Posicionamento Global é o WGS84.

Os elipsóides de referência tradicionais ou data (plural do latim


datum) estão definidos regionalmente, e desse modo não são
geocêntricos, como por exêmplo o ED50. Os data geodésicos modernos
são establecidos com ajuda do GPS e assim são geocêntricos, como por
exêmplo o WGS84.

A seguinte tabela mostra os elipsóides mais comuns:

Inversa do
Nome Eixo Equatorial a(m) Eixo Polar b(m) Achatamento,
1/f
Delambre,
6.376.985,000 308,6465
Frankr.1810
Schmidt, 1828 6.376.804,370 302,02
G.B. Airy 1830 6.377.563,400 6.356.256,910 299,3249646
Airy 1830 modificada 6.377.340,189 6.356.034,447 299,3249514
Everest (Índia) 1830 6.377.276,345 300,8017
Bessel 1841 6.377.397,155 6.356.078,965 299,1528128
Clarke 1880 /IGN 6.378.249,150 293,465 (466)
(próxima do
Helmert 1906 6.378.200,000 298,3
GRS80!)
Australian Nat. 6.378.160,000 298,25
Modif. Fischer 1960 6.378.155,000 (Astro/ Mercury) 298,3
Clarke 1866 6.378.206,400 6.356.583,800 294,9786982
Internacional 1924 6.378.388,000 6.356.911,900 297,0
GRS 1980 6.378.137,000 6.356.752,3141 298,257222101
WGS 1984 6.378.137,000 6.356.752,3142 298,257223563
Esfera (6371 km) 6.371.000,000 6.371.000,000 0

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