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...Era chegada a hora de partir, montei meu tordilho e saí a galope.

Os
compridos cabelos castanhos balançavam ao vento e a brisa da noite roçava
meu rosto. O sangue fervia em minhas veias a cada trote e por cada metro que
percorria, sabia que estava cada vez mais perto...

Amélia Amaral Terra, filha de Maria Amaral e José Terra, um fazendeiro


do sul do Rio grande, era uma prenda respeitável e conhecida por sua
personalidade marcante, extrovertida, corajosa e determinada. Desde
pequenina, montava a cavalo e ajudava seu pai na lida de gado. E se havia
algo que Amélia gostasse mais que cavalgar pelos pampas em um final de
tarde, era dançar. Rodopiar nos braços de um peão, ao toque da música
gauchesca, fazia-a sentir-se viva e livre.

Foi então que sua vida mudou, num dia frio do inverno gaúcho, ao
adentrar o salão onde acontecia o baile anual de comemoração as colheitas,
que Amélia perdeu-se nos olhos verdes de um homem bagual, de cabelos
negros e bem arrumado. E ao roncar da gaita, no balanço da vaneira, sabia ou
ao menos sentia, que este homem, Tomás Gonçalves seria seu peão pelo
resto de sua vida.

Após o baile, Tomás escrevia cartas a Amélia quase todos os dias, e


procurava vê-la sempre que podia. Mas em uma manhã, aos primeiros raios do
sol, quando saíra para trotear a cavalo e tocar o gado de seu pai, recebera uma
notícia que por pouco não a fez perder o equilíbrio e cair do cavalo. Segundo o
capitão Rodrigo, Tomás foi convocado para lutar por seu povo e teria de ir para
a Revolução Farroupilha que havia começado a alguns meses.

Amélia voltou para a casa atordoada pensado no porque Tomás não


escrevera sobre isso, porque não contará a ela? Ele poderia morrer na guerra,
por Deus que isso nunca acontecesse, mas tinha chance. Precisa fazer algo.

Então, ao cair da noite, montou seu tordilho, e seguiu caminho até a


casa de Tomás, mas quando chegou lá não encontrou ninguém, não seria
possível ele ter partido já, não podia, não podia deixa-la.

Mas, lembrou-se da conversa que ouviu entre o Capitão Rodrigo e seu


pai, de que a tropa de soldados dos farrapos estaria acampada ali por perto.
Então seguiu caminho, troteando rapidamente noite a dentro, quando por fim
chegou ao acampamento.

Amélia avistou Tomás e saltou do cavalo, correndo para seus braços.


Por um instante, esqueceu de tudo, de onde estava, do que estava ao seu
redor, a única coisa que queria era estar em seu abraço e em sua companhia.

Alguns instantes depois Tomás explicou a Amélia que não teve tempo de
se despedir, pois simplesmente fora arrastado para a guerra. Disse que não
parou de pensar nela nem por um segundo desde que deixou sua casa, dois
dias atrás.

-Você precisa ir mesmo?

- Sim, minha prenda, mas prometo que vou voltar ou pelo menos vou
tentar.

-Posso lhe pedir uma última coisa antes de você partir? – pediu Amélia
quase como uma súplica.-Dance comigo uma última dança.

-Aqui? -Tomas olhou confuso para Amélia, que estava a beira de


lágrimas e disse -É claro, minha prenda.

Então puseram-se a dançar ali mesmo, um nos braços do outro e


quando a dança acabou e Tomás teve de partir, Amélia simplesmente ficou ali
parada sob o céu estrelado de nossa querência, com a única certeza que tinha,
de que Tomás a amava e ela o amava imensamente de volta. E sabia que este
momento se tornaria uma lembrança e uma grande saudade.

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