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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE

PERNAMBUCO

Marina Christopoulos Albuquerque

RELATÓRIO REFERENTE AO PRIMEIRO PERÍODO DA

LICENCIATURA EM LETRAS

Disciplina: Leitura e produção

textual acadêmica

Docente: Inaldo Soares

Recife, fevereiro de 2024


RELATÓRIO:

O processo do ensino médio, para mim, foi bastante difícil. Logo quando ingressei no 1º
ano, os colégios cancelaram as atividades devido à pandemia da Covid-19, o que atrapalhou
bastante as didáticas impostas pela instituição em que eu estudava, pois passamos bastante
tempo sem aulas remotas. Por muitos anos tive dúvidas em relação a carreira em que iria seguir,
tinha algumas ideias em mente, mas ainda assim, não sabia definir o que eu realmente
escolheria. Pensava em cursos diversos, inseridos em áreas completamente distintas. Um dos
cursos em que eu cogitava fazer era direito, mas era por total influência de outras pessoas; não
entendo o porquê, mas eu ouvia desde pequena que pelo meu temperamento, eu seria uma boa
advogada. Porém, para a decepção de quem me apoiava a seguir este curso, eu já sentia que não
era pelo direito que o meu coração batia forte. Também cheguei a pensar durante certo tempo
que faria Psicologia. Eu já enxergava muita força e determinação nos profissionais da
educação, mas sempre fui repleta de dúvidas e inseguranças, então não conseguia me sentir
estimulada e confiante o suficiente para seguir por esta área.
Em 2021, passei a me dedicar aos estudos referentes ao ENEM (Exame Nacional do
Ensino Médio) e ao SSA (Sistema Seriado de Avaliação). Através da prova em forma de seriado
(realizada nos respectivos anos do ensino médio), os estudantes conseguem ingressar na UPE
(Universidade de Pernambuco). Mas, admito que eu fazia as provas do SSA com bem menos
seriedade, pois os cursos ofertados pela universidade no Campus Recife não eram do meu
interesse; e os que me interessavam estavam disponíveis apenas no Campus Agreste. E perante
a minha realidade, sei que seria inviável me dispor para cursar uma graduação no interior do
Estado de Pernambuco; hoje, vejo que com a rotina entre a conciliação de trabalho, faculdade e
os demais afazeres e compromissos seria uma missão quase impossível. Então, mesmo sem ter
um determinado estímulo e sem a certeza da graduação em que eu iria seguir, eu realizava as
provas dos vestibulares. Como ainda estávamos no período de pandemia, eu assistia as aulas
que os professores passavam remotamente; e no tempo restante, me dedicava aos conteúdos
que os vestibulares citados cobravam. As madrugadas eram baseadas em assistir videoaulas e
fazer resumos sobre as temáticas de suma importância em determinadas disciplinas.
No final do ano de 2021, recebi o convite de uma amiga para conhecer um curso pré-
vestibular na Zona Norte do Recife e assistir a duas aulas experimentais referentes às provas da
UPE (Universidade de Pernambuco) e fiquei encantada com a didática em que a professora de
português utilizava com os alunos. Ali, tinha decidido que assim que eu ingressasse no 3º ano
do ensino médio, me matricularia naquele curso que tinha prendido tanto a minha atenção.
Como prometido a mim mesma, assim que comecei o processo do meu último ano escolar, me
matriculei no respectivo curso pré-vestibular; o qual me trouxe para minha vida pessoas muito
especiais, que jamais esquecerei. Após o ingresso no 3º ano, a ansiedade, o medo e a
insegurança tomaram conta de mim. Mas eu não tinha outra opção além de levantar a cabeça.
Lembro que logo no início das aulas, as professoras de língua portuguesa e matemática
divulgaram um projeto de monitoria (remuneradas e não remuneradas) na sala de aula e eu me
propus a participar (apenas na de português, já que eu não entendia bem as matérias de exatas).
A partir daí, abri a minha mente para a possibilidade de fazer uma licenciatura, pois, além das
monitorias e correções de redação que ocorriam na biblioteca da escola, sempre que alguns
colegas de sala precisavam de ajuda nas atividades, na produção e correção de textos, eu era
chamada para ajudá-los; e os comentários de que eu deveria ser professora sempre eram
citados. Sendo assim, eu passei a me interessar de fato, por esta ideia, mas não me sentia
confiante o bastante para afirmar que faria uma licenciatura. Após as situações ocorridas, surgiu
em mim a dúvida entre a Licenciatura em Letras e a Pedagogia. Para mim, a pedagogia
apareceu após ser presenteada pela minha professora de português, Josimeire – que me
presenteou com o livro “Pedagogia do Oprimido”, de Paulo Freire, e disponibilizou uma bolsa
gratuita em seu curso de redação, mesmo sabendo que eu já era matriculada em outro
preparatório. Recordo bem que, quando ela me avisou, eu até a questionei e pedi para que essa
bolsa fosse passada para algum colega que não tinha a oportunidade de fazer um curso focado
nos vestibulares, lembro dela me dizendo que conhecimento nunca seria demais; e por isso,
tinha disponibilizado o seu curso.
Perante as problemáticas abordadas pelo mestre Paulo Freire no livro, partindo daqueles
questionamentos, eu sabia – e sentia – que a educação seria o caminho a ser seguido por mim.
Atualmente, reconheço que o livro em que a professora me presenteou tem um papel
importante na decisão em que eu tomei; mas sei que o desejo de ser professora também nasceu
graças aos professores em que eu tive a honra de ser aluna durante todo o percurso escolar.
Acabei o terceiro ano, optei por iniciar a minha caminhada na educação pelo curso de
Letras, e no último dia de SISU (Sistema de Seleção Unificada) descobri que realmente tinha
sido aprovada na UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco). Depois de muito
esforço, dúvidas, crises de ansiedade e noites mal dormidas – muitas vezes, nem dormidas –
custei acreditar que todo o esforço estava valendo a pena; não sabia se eu me sentia mais
realizada, talvez até recompensada de algum bem que eu tivesse feito.
Na espera para o início das aulas pensei em desistir inúmeras vezes, achei que eu não
quisesse mais seguir por este caminho, as dificuldades chegaram, o medo de dar errado e a
insegurança acabaram “batendo na porta”, e mais uma vez eu não tive opção e apenas me
joguei nesta oportunidade mesmo com as adversidades que a vida nos apresenta. Porque muitas
vezes, só precisamos estar frente a frente de uma situação difícil para tomarmos coragem. E
conseguir chegar na universidade pública, perante as dificuldades que meus pais já passaram e
todo o esforço obtido para que eu tivesse uma educação de qualidade parecia ter valido a pena,
como uma recompensa ao ser a primeira pessoa da família ao ser aprovada em uma
universidade pública. E eu entendo a minha atitude – de me arriscar no novo – perante os meus
medos e anseios como um ato de coragem. Assim como acredito que educar também seja.
Quando eu soube a data de início das aulas me batia uma ansiedade gigantesca, a qual
nem eu entendia bem. Porque eu só teria a certeza de que realmente tinha sido aprovada na
Rural quando eu sentisse os meus pés pisarem nela. No primeiro dia em que ocorreram as
apresentações no salão nobre foi tudo muito tranquilo, acabei reencontrando pessoas bastante
especiais que fizeram parte de uma determinada fase da minha vida. Ali eu já estava me
sentindo bastante feliz e realizada; a semana de introdução de cada disciplina também foi
extremamente importante e serviu para nos familiarizarmos um pouco com o que iríamos
começar a estudar.
Nesta mesma semana, nos apresentaram projetos como o PIBIC (Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação Científica), nele, o aluno se dedica completamente às atividades
acadêmicas; o programa serve também como um incentivo para o estudante se iniciar em
pesquisas científicas (disponíveis em todas as áreas do conhecimento) e o PIBID (Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à docência) que consta em oferecer aos licenciandos a
inserção no cotidiano escolar de uma escola pública.
O período mal tinha começado e o desespero em dar conta de todas as disciplinas já era
gigantesco, mas consegui fazer bom proveito de tudo que foi repassado pelos professores. Na
cadeira de Produção de textos acadêmicos obtivemos uma riqueza de conteúdos, muito desses
conteúdos foram introdutórios, mas ainda assim, sei que servirão para nos guiar durante toda a
trajetória no curso de Letras. A disciplina nos apresentou as práticas da leitura e da escrita nos
gêneros acadêmicos, nos mostrando uma perspectiva crítica, trazendo reflexões com
objetividade e clareza, que são fatores essenciais em uma pesquisa acadêmica. É uma disciplina
indispensável para a evolução no curso, nela aprendemos a fazer resumos, conhecemos os tipos
de resenha, referências bibliográficas e temáticas gerais que contribuem para a construção de
um texto acadêmico. Na disciplina de Fundamentos da Língua Espanhola também tivemos um
conteúdo introdutório, mas bastante interessante, o qual serviu para nos familiarizar com alguns
fonemas da língua espanhola e suas devidas pronúncias. Em Linguística, estudamos diversas
características do estudo abrangente da linguagem humana (e animal), disciplina
importantíssima para o proceder do curso, já que é através da linguagem – e dos seus estudos –
que nós, seres humanos, expressamos nossos afetos, construímos pensamentos, ideais e valores,
criando assim os tipos de interações com os demais indivíduos em que convivemos. Pela
linguística ser o estudo da linguagem verbal humana, aprendemos sobre os aspectos essenciais
da língua, sua diversidade, as origens e sobre o preconceito linguístico. A cadeira de Teoria da
Literatura/Estudos Literários, ministrada pelo Professor João Batista, por mais que seja uma
disciplina bastante complexa e abrangente, os conteúdos apresentados em sala nos convidam a
viajar no universo literário, tornando-se assim, uma aula dinâmica e leve junto ao professor.
Nela, obtivemos conhecimentos sobre o surgimento da literatura, desde Aristóteles e sua Arte
Poética. Foi um processo muito interessante, passamos pelos estudos dos gêneros literários e
observamos os aspectos da arte de escrever. Sempre me interessei bastante pela literatura, e até
o presente momento, a disciplina me surpreende de maneiras muito positivas. E por fim, a
cadeira de Fundamentos da Educação, a qual eu acredito que seja a minha favorita neste
período; nela podemos desenvolver nossas perspectivas crítico sociais, entender os conceitos e
concepções pedagógicas que predominam nas práticas educativas. A disciplina elimina alguns
preconceitos enraizados sobre algumas ideologias. O professor nos sugeriu discussões e debates
bastante ricos sobre os muitos aspectos que fomentam nossa sociedade e que podem influenciar
na nossa didática como futuros professores. Nela, estudamos sobre assuntos bem amplos, desde
Durkheim, Marx e Weber, até as tendências pedagógicas.
Pelo meu interesse no âmbito da pedagogia, as temáticas abordadas na disciplina de
Fundamentos da Educação despertaram bastante a minha atenção, principalmente as questões
ligadas ao comportamento e práticas fundamentais para nós, futuros professores, dentro de sala
de aula. Cada perspectiva apresentada me encanta bastante, e me faz criar uma certa
expectativa para o futuro. Inclusive, assim como Paulo Freire, eu também acredito que a
educação seja, acima de tudo, um ato de coragem. Pois é através dela que refletimos,
compreendemos e interagimos com o mundo ao nosso redor. Pois, por meio da educação somos
capazes de desenvolver o diálogo e pensar criticamente.
Após este semestre, as expectativas criadas sobre o curso tendem a aumentar bastante a
cada dia que passa. Sigo ansiosa – desta vez, uma ansiedade mais saudável. Pois sigo me
identificando com os aspectos tratados em cada aula. Por mais que as adversidades e
dificuldades ocorram e muitas vezes, nos façam ter a vontade de tomar uma atitude precipitada
e desistir. Se deparar com o cansaço que o dia de trabalho nos causa, e durante a noite ir para a
faculdade, chegar em um horário tarde em casa, sabe-se que não é fácil. Mas a vida é de quem
se dispõe e se arrisca, e nessa jornada, optei por não me acomodar e me arriscar.
Não posso dizer que está sendo fácil, na verdade, eu já imaginava que não seria – nada
na vida é –, mas, até o momento me sinto realizada com a decisão tomada e de futuramente,
cursar também pedagogia, pois, como citei no início do relatório, era – e ainda é – um curso
que desperta bastante curiosidade em mim. Ambas as áreas inseridas na educação, acredito que
todos que se interessam por elas (e as demais licenciaturas) carregam em mente e coração o
desejo de modificar o mundo e fazer diferença na vida de cada ser que passa por nós –
pedagogicamente falando. Acredito também que este desejo nasce da vontade de contribuir
para a educação em nosso país. Sabendo que muitas instituições – e até alguns professores
utilizam de uma didática que serve apenas para fraudar o conhecimento dos estudantes. Como
citei anteriormente, muito do desejo de ser professora surgiu graças aos professores mais que
especiais que passaram na minha vida, os quais eu carrego um misto de sentimentos
acompanhados de muito carinho e gratidão. E espero, que futuramente, meus alunos possam
compartilhar desde mesmo sentimento comigo.
No geral, este primeiro período serviu para que eu tivesse mais um pouco de certeza
sobre o caminho a ser seguido. Me trouxe algumas dúvidas também, eu admito. Mas nada que
eu não conseguisse dar conta. A cada atividade e trabalho realizado me causava um sentimento
diferente. Hoje, me sinto mais segura em relação ao que quero. Mesmo com as exigências e
dificuldades, acabou sendo um semestre leve e produtivo, repleto de muita evolução e
aprendizagens sólidas.
Apesar da nostalgia em que sinto ao olhar para trás e ver todo o esforço obtido por mim,
todas as disciplinas se mostraram bastante importantes e o aprendizado gerado por elas
também. Acredito, mesmo em pouco tempo de curso, que por mais que seja uma licenciatura
apaixonante, também é desafiadora. Pois no percurso, escutamos alguns comentários que não
são de um tom tão agradável, que servem apenas para nos desencorajar. Mas cabe também a
nós decidirmos se vamos absorver os comentários, ou seguirmos os nossos desejos. Até porque,
em qualquer área, nos depararemos com a amargura e decepção de alguns profissionais; mas
quando seguimos as nossas escolhas e vontades interiores, já sabemos o que nos espera no fim
do caminho. E nos sentimos realizados em ter seguido o nosso desejo.
No mais, posso afirmar que este primeiro período foi digno de uma trajetória fascinante
e muita rica em aprendizados.

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