CHAPEUZINHO VERMELHO NA VERSÃO DO LOBO

(Celso Antunes)

NARRADOR: Esta história será contada de uma maneira não tradicional.

CHAPEUZINHO VERMELHO: Mamãe, você poderia fazer algumas comidas

para eu levar no piquenique que irei fazer com a vovó?

MÃE DA CHAPEUZINHO: Claro, minha filha! Leve essa cesta de comida.

Já conhecemos muito bem essa parte da história. Agora vamos ver o lado do
lobo

Certa manhã, estava o lobo passeando pela sua casa – não sei se vocês
sabem, mas a floresta é a casa do lobo – e de repente, ele se deparou com
uma visão terrível.

LOBO: QUEM É ESSA MENINA VESTIDA COM ESSA ROUPA VERMELHA

HORROROSA, COM CHAPÉU VERMELHO IGUALMENTE HORROROSO,
CARREGANDO UMA CESTA CHEIA DE PRODUTOS EMBALADOS COM
MATERIAL PLÁSTICO.

interação do lobo com o público: vocês sabiam que material plástico leva
milhares de anos para se desintegrar na natureza?

LOBO: Acho que ela está querendo fazer um piquenique ou alguma coisa
parecida. Não posso permitir que ela deixe aquele material jogado pela mata.
Ela vai sujar minha casa e dos meus companheiros de floresta.

Vou tentar preveni-la dos cuidados ecológicos fundamentais. Por outro lado,
que descuidados são esses humanos: deixar uma menina tão pequena
passear pela floresta desse jeito, correndo o perigo de ser apanhada por
algum predador (dentre os quais eu me incluo).

NARRADOR: Como o Lobo estava com o apetite devidamente saciado

resolveu, sem segundas intenções, falar com a menina e induzi-la a sair da
floresta pelo mesmo caminho por onde entrou. Isto seria melhor para todos...
e assim fez, mas, assim que ele se deparou com a menina, ela foi logo
gritando feito uma louca e começou a bater no Lobo com a cesta que tinha na
mão; nem sequer deu ouvido ao lobo, não lhe deu oportunidade para falar o
que eu queria e explicar o motivo da conversa.

LOBO: Eu não quero te comer e nem quero comer esse lanche que você
preparou para sua vovozinha.

NARRADOR: O lobo viu que não conseguiu atingir o seu propósito. Mas, como
ela era só uma menina, resolveu perdoá-la.

NARRADOR: Apesar de ter ficado furioso com A Chapeuzinho Vermelho num

primeiro instante, ele resolveu procurar por uma velhinha que, algum tempo
antes, havia construído uma casinha de madeira perto do rio. Que na época,
todos os que moravam na floresta havia ficado furiosos com ela, pois
derrubou as árvores e, assim, destruiu a casa de muitos outros companheiros
do lobo, para construir aquela casa horrenda, mas, devido à avançada idade,
resolveram relevar e deixá-la ficar.

LOBO: Só podia ser ela a vovozinha daquela menina tão mal-educada. Vou
pegar um atalho para chegar mais rápido na casa da velhinha antes da sua
neta.

NARRADOR: O lobo seguiu um caminho muito longo para alertar a vovozinha

dos males que ela e a sua neta poderiam provocar ao ecossistema.

LOBO: Bom Dia, Senhora! Eu vi sua netinha no meio do caminho e creio que o
que vocês irão fazer, irá prejudicar a nossa floresta.

VOVOZINHA: Sai da minha casa seu lobo malucooo (DIZ GRITANDO)

NARRADOR: Mas ela também não lhe deu a menor oportunidade de se

pronunciar; foi logo batendo e fazendo um escândalo tremendo, muito
barulho, muita gritaria, a vovozinha virou-se e pegou uma velha espingarda,
certamente com a intenção de matar o Lobo. O lobo não teve outra
alternativa, senão comer a velha senhora.

NARRADOR: Minutos depois, a menina acabou chegando na casa da sua avó.

Sabendo que ela iria provocar novo escândalo, o lobo resolveu se disfarçar e,
assim, vestiu algumas roupas da tal velhinha e tentou se fazer passar por ela,
deitando em seu leito.
VOVOZINHA: Aí minha netinha, hoje não vai dar para fazermos o nosso
piquenique. Eu estou muuuuito doente. (tosse)

NARRADOR: Chapeuzinho Vermelho fica a olhar muito inquieta a sua

vovozinha.

CHAPEUZINHO VERMELHO: Vovó que nariz grande e horrível você tem.

LOBO: É para te cheirar melhor!

CHAPEUZINHO VERMELHO: Que orelhas estranhas você tem.

LOBO: É para te ouvir melhor!

CHAPEUZINHO VERMELHO: Que olhos grandes e remelentos você tem.

LOBO: É para te ver melhor!

CHAPEUZINHO VERMELHO: Que boca grande você tem!

NARRADOR: O Lobo procurou responder a todas as perguntas com ternura,

mas para tudo há um limite, e a paciência dele já estava a ponto de se
esgotar, quando tirou o disfarce.

CHAPEUZINHO VERMELHO: AAAAA! CADÊ MINHA VOVOZINHA? TRAZ

MINHA VOVOZINHA DE VOLTA SEU LOBO MAU!!

NARRADOR: Diante dos gritos da menina, e temendo a aproximação de

caçadores que sempre afluíam ao local, não tive alternativa senão comê-la
também.

NARRADOR: O temor do lobo, no entanto, se concretizou: um caçador o

encontrou e, antes mesmo que eu começasse a se explicar, atirou
impiedosamente e me acertou... agora, cá estou eu, com a barriga aberta,
moribundo, e vocês ainda estão vibrando com isto, ensinando suas crianças
que o malvado dessa história sou eu... isso é muito injusto, muito injusto.

FIM!