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o seu Coração
Título original
AGAINST THE ODDS
Copyright © 2003 by Lisa Kleypas
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parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim
exclusivo de compra futura.
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conteúdo
Digitalização
Prólogo
Se algum homem sabia aguentar bem a bebida, esse era Jake Linley. Deus sabia que tinha muita prática
nisso; e era uma boa qualidade, por certo, de outro modo estaria cambaleando bêbado nesse momento.
Infelizmente, não importava o quanto bebesse esta tarde, não ia acalmar a amarga consciência do que nunca
poderia ter.
Jake estava cansado, e ardente, seu irônico ressentimento parecia aumentar com cada momento que
passava no luxuoso e abarrotado salão de baile. Separando-se de um grupo de amigos, perambulou por uma
galeria que beirava o salão, olhando ao céu que estava escuro e tranquilo além de uma fileira de brilhantes
janelas. No final da galeria, Robert, Lorde Wray, estava rodeado por uma sorridente multidão de amigos e
pessoas que o felicitava, todos eles dando os parabéns pelo compromisso que tinha sido anunciado fazia uma
hora.
Jake sempre gostou de Wray, um tipo bastante agradável cuja combinação de inteligência e inofensivo
engenho o fazia bem-vindo em qualquer companhia. Entretanto, neste particular momento, um sentimento
de desprezo se retorcia dentro do estômago de Jake quando olhava o homem. Invejava Wray, quem não
chegava a compreender o alcance de sua boa fortuna tendo ganhado a mão de Lydia Craven. Dizia-se já que
o enlace beneficiava mais à senhorita Craven que Wray, que a posição social dele progrediria enormemente
quando sua fortuna se unisse a um título respeitável. Jake sabia mais. Lydia era o verdadeiro prêmio, a pesar
da origem vulgar de sua família.
Lydia não era uma beleza convencional. Tinha os cabelos negros de seu pai sua boca, e seu queixo que era
muito firme para uma mulher. Sua figura era magra e de seios pequenos, ficando no tamanho padrão que se
considerava tão desejável. Mas havia algo irresistível nela, possivelmente a encantadora distração que fazia
com que um homem quisesse cuidar dela, ou o fascinante toque de provocação que pulsava sob sua triste
fachada. E é óbvio estavam seus olhos… olhos de um verde exótico que pareciam tão doce e infantil rosto.
Suspirando forçadamente, Jake abandonou a calorosa galeria, saindo para a fria noite de primavera. O ar
era úmido e fértil, impregnado com a fragrância de rosas de Jericó que floresciam nos quintais dos jardins do
andar térreo. O longo, pavimentado atalho se estendia ao longo de uma série de estreitos leitos retangulares
cheios de gerânios e uma densa bruma de brancos botões de prata. Jake passeou sem rumo ao longo atalho,
quase até o final, onde serpenteava brandamente para um conjunto de degraus de pedra que desciam aos
jardins.
Deteve-se de repente ao ver uma mulher sentada em um banco. Seu perfil estava inclinado já que se
inclinava sobre algo que sustentava em seu colo.
Sendo um veterano nas noites e bailes de Londres, a primeira hipótese de Jake foi que a mulher estivesse
provavelmente esperando para encontrar-se com seu amante por alguns momentos roubados. Entretanto,
experimentou uma instantânea sensação de reconhecimento vendo a escura seda de seu cabelo e as firmes
linhas de seu perfil.
Lydia, pensou, fixando os olhos nela avidamente. Em nome de Deus, o que estava fazendo aqui fora
sozinha, pouco depois de que seu compromisso fora anunciado?
Embora não tivesse feito som algum, Lydia levantou a cabeça e o contemplou com uma falta de
entusiasmo.
—Doutor Linley.
Aproximando-se, Jake viu que o objeto sobre seu colo era algumas anotações, as quais tinham rabiscado
com uma parte do lápis quebrado. Equação matemática supôs. A obsessão de Lydia Craven por atividades
tão masculinas como as matemática ou ciências tinha sido objeto de falatórios durante anos. Embora alguns
amigos bem-intencionados tivessem aconselhado aos Craven desanimarem de tão convencionais interesses,
eles tinham feito justo ao contrário, orgulhando-se da ágil inteligência de sua filha.
Colocando os objetos apressadamente dentro de sua bolsa, Lydia lhe dirigiu um olhar aborrecido.
— Não deveria estar lá dentro com seu prometido? —perguntou Jake em um tom ligeiramente
zombador.
—Queria ficar sozinha.
Sentou-se ainda mais erguida, as sombras jogando brandamente sobre as elegantes linhas de seu corpo e a
moldada seda branca de seu sutiã. O espaço entre suas sublimes sobrancelhas negras e a mal-humorada
postura de sua boca era tão contrária à imagem de uma triste futura noiva que Jake não pôde conter um
repentino sorriso zombador.
— Wray não sabe que está aqui fora, verdade?
—Ninguém sabe, e agradeceria que seguisse sendo assim. Se tivesse a bondade de partir…
—Não antes de oferecer minhas felicitações. —aproximou-se dela lentamente, os batimentos de seu
coração aceleraram a um ritmo forte e veloz, como sempre sua proximidade lhe excitava, acelerando o
sangue e enviando frenéticas mensagens a seus nervos. —Bem feito, Senhorita Craven, pescou um conde, e
um rico além disso. Suponho que não há maior êxito que esse para uma moça em sua posição.
Lydia o olhou.
—Somente você pode fazer com que uma felicitação soe ofensiva, Linley.
—O asseguro, minha felicitação é sincera. –—Jake olhou o espaço vazio no banco ao lado dela. — Posso?
—Perguntou-lhe, e se sentou antes que ela recusasse.
Ambos se estudaram atentamente, seus olhares apanhados em um desafio.
— Esteve bebendo. —Disse Lydia, captando o aroma de brandy em seu fôlego.
—Sim. —Sua voz se engrossou levemente. —estive brindando por você e seu noivo. Repetidamente.
—Aprecio seu entusiasmo por meu compromisso. —Disse Lydia docemente, detendo-se oportunamente
antes de acrescentar: — Ou é entusiasmo pelo brandy de meu pai?
Jake riu bruscamente.
—Seu compromisso com o Wray, é obvio. Reconforta meu cínico coração ser testemunha da ardente
devoção que se dispensam um ao outro.
Sua brincadeira fez com que o rosto dela avermelhasse com a irritação. Lydia e o conde não eram
precisamente os mais efusivos dos casais. Não tinha olhares íntimos, nem um roçar aparentemente acidental
de seus dedos, nada que indicasse nem sequer uma consciência física entre eles.
—Lorde Wray e eu nos gostamos e nos respeitamos mutuamente. —Disse Lydia à defensiva. —É uma
excelente base para um matrimônio.
— E a paixão?
Lydia se deu de ombros e tratou de soar sofisticada:
—Conforme dizem, isso é somente efêmero.
Jake torceu a boca com impaciência.
— Como pode saber? Nunca sentiu um momento de verdadeira paixão em sua vida.
— Por que diz isso?
—Por que sim, se não teria envolvido em um matrimônio que contém todo o calor das sobras da noite
passada.
—Sua caracterização de minha relação com Lorde Wray é completamente errônea. Ele e eu nos
desejamos muito um ao outro, se você quer saber.
—Não sabe do que está falando.
— OH, sei sim! Mas me nego a divulgar detalhes de minha vida particular simplesmente para provar que
está equivocado.
Olhando fixamente Lydia, Jake sentiu que seu corpo era invadido por um veemente desejo. Parecia
impossível que fosse ser desperdiçada com um homem tão frio como Wray. Deixou que seu olhar descesse
sobre sua boca, os suaves, expressivos lábios que o tinham tentado e atormentado durante anos. E estendeu
as mãos para fechá-las em torno de seus braços, sua carne era cálida e suave sob a capa de seda. Não pôde
evitar, tinha que tocá-la. Seus dedos se moveram em um lento e ascendente deslizamento, saboreando seu
tato.
—Permitiu que a beijasse, suponho. E o que mais?
Lydia aspirou profundamente, seus ombros suaves e tensos em suas mãos.
—Como se fosse responder uma pergunta como essa. —Disse ela vacilante. —Provavelmente não foi
muito além dos beijos. Há uma determinada expressão em uma mulher que foi despertada à paixão. E você
não a tem.
Nos quatro anos de sua relação, Jake raramente a havia tocado. Somente em ocasiões de obrigada cortesia,
tais como lhe ajudar a cruzar uma zona acidentada do terreno, ou quando tinham trocado de par durante
um baile campestre. Inclusive durante esses superficiais momentos, sua reação com ela tinha sido impossível
de ignorar.
Com o olhar perdido em seus escurecidos olhos verdes, Jake disse a si mesmo que ela pertencia a outro
homem. E se amaldiçoou por desejá-la, entretanto seu corpo se endureceu de desejo e todo pensamento
racional começou a dissolver-se em um redemoinho de calor. Enfrentou-se uma vida de noites sem ela, de
beijos que nunca compartilhariam, de palavras que nunca poderiam ser mencionadas.
Tal como estavam às coisas, os próximos e escassos momentos não importariam a ninguém exceto a ele.
Merecia ter ao menos isso dela, tinha pago por isso com anos de saudade.
Sua voz ficou rouca e vacilante ao falar:
—Possivelmente deveria lhe fazer um favor, Lydia. Se você se casar com um homem como Wray, deveria
ao menos saber com o que se parece o desejo.
— O que? — pergunto francamente, olhando-o perplexa.
Jake sabia que era um engano. Inclinou sua cabeça e tocou os lábios dela com os seus, roçando-os
brandamente, seu corpo tremendo pelo esforço de ser delicado. A boca dela era tenra e doce, sua pele
sutilmente suave quando ele estendeu as pontas de seus dedos passando em seu queixo. Percebendo seu
sabor ligeiro e esquivo, procurou mais, intensificando a pressão de sua boca. As mãos de Lydia se agitaram
contra seu peito… ele sentiu sua indecisão, sua surpresa diante da cortesia de seu abraço. Agarrando seus
braços cuidadosamente, Jake as arrastou ao redor de seu pescoço. Sua língua procurando as quentes e
sedosas profundidades de sua boca, a leve penetração brindando um infinito prazer. Queria satisfazê-la de
todas as maneiras possíveis, afundar-se nela até encontrar o prazer que tinha desejado durante tanto tempo.
A indefesa resposta de Lydia destruiu o que restava de seu autocontrole. Ela se apoiou com força contra
seu peito, uma de suas magras mãos deslizando-se sob sua jaqueta para encontrar o calor corporal que estava
entre as capas de suas roupas. Seu contato excitou Jake além do suportável, além da prudência, e se deu conta
com incredulidade de que não faria falta muito mais que isso para explorar. Seu corpo estava tenso e duro
por inteiro, suas veias vibravam de desejo. O esforço de obrigar-se a deixá-la ir provocou um gemido e
trincou os dentes. Afastou sua boca da dela, respirando violentamente enquanto lutava por seu autodomínio.
Sarcasticamente admitiu, com toda sua experiência, nunca havia sentido tão aniquilado por um simples
beijo… e de uma virgem, além disso.
Levantando-se com dificuldade, Lydia arrumou seu vestido, enquanto o ar noturno a fazia estremecer-se.
Depois de um longo momento, ela falou com o rosto afastado.
—Isso foi bastante instrutivo, Linley. —conseguiu dizer entrecortadamente. —Mas de agora em diante,
não necessitarei mais de lições que venham de você.
E o abandonou com passos precipitados, como se pudesse evitar tornar-se a correr.
Capítulo Um
Havia duas formas de escolher um marido: com a cabeça ou com o coração. Sendo uma jovem sensata,
Lydia Craven escolheria naturalmente o primeiro. O qual não queria dizer que não importasse seu futuro
marido. Na realidade, gostava muito de Robert, Lorde Wray, o qual era bom e afável, com um encanto
tranquilo que nunca ficava nervoso. Era bonito de uma maneira acessível, seus traços refinados
proporcionavam um par de inteligentes olhos azuis e um sorriso que era empregado em certo modo com
diplomacia.
Não havia dúvida na mente de Lydia de que Wray nunca se oporia a seu trabalho. De fato, compartilhava
com seu interesse pela matemática e a ciência. E se dava bem com sua família; sua pouco convencional e
unida família, que tinha sido abençoada com uma enorme riqueza, mas que possuía uma medíocre linhagem.
Iam muito a favor de Wray para que pudesse passar por cima tão facilmente a ascendência desprezível de
Lydia, era como ela pensava ironicamente, um possível dote de cem mil libras poderia ser um saboroso
condimento incluso para o mais plebeu dos pratos.
Desde que Lydia completou dezoito anos, e dois anos antes, tinha sido perseguida por uma legião de
caçadores de fortunas. Entretanto, tinha herdado sua própria e considerável herança, Wray não tinha
necessidade do dinheiro de Lydia; outro ponto a seu favor.
Todos aprovavam a união, inclusive o super protetor pai de Lydia. A única objeção tinha vindo de sua
mãe, Sara, que tinha parecido vagamente perturbada por sua determinação de casar-se com Wray.
—O conde parece ser um homem bom e honorável— havia dito Sara enquanto ela e Lydia caminhavam
pelos jardins da propriedade Craven em Herefordshire. —E se ele for o único no qual puseste seu coração,
diria que tem feito uma boa escolha…
— Mas… - tinha insistido Lydia.
Sara ficou olhando pensativamente a abundante e fértil plantação de dourados botões de ouro e lírios
amarelos que cobriam o cuidadoso passeio. Tinha sido um dia quente de primavera, o pálido céu azul
realçado com pequenas nuvens.
—As virtudes de Lorde Wray são indiscutíveis —havia dito Sara— Entretanto, não é a classe de homem
com quem imaginava que te casaria.
—Mas Lorde Wray e eu somos muito parecidos —tinha protestado Lydia— Para começar, ele é o único
homem que conheço que gosta de ler meu artigo sobre geometria multidimensional.
—É obvio, ele deve ser admirado por isso. —havia dito Sara, seus olhos azuis brilhando com uma
repentina e irônica diversão. Embora Sara fosse uma mulher inteligente por direito próprio, ela tinha
admitido livremente que os avançados raciocínios matemáticos de sua filha estavam fora de seu próprio
entendimento. —Entretanto, eu esperava que algum dia encontrasse um homem que pudesse equilibrar sua
natureza com um pouco mais de calor e irreverência do que Lorde Wray parecia possuir. É uma garota tão
séria, minha querida Lydia.
—Não sou tão séria. —tinha protestado.
Sara tinha sorrido.
—Quando era pequena, tentei em vão que fizesse desenhos de árvores e flores, e em troca você insistia
em desenhar linhas para demonstrar a diferença entre os ângulos obtusos e os ortogonais. Quando
brincávamos com blocos e começava a construir casas e cidades com eles, você me mostrava como construir
uma pirâmide diedra.
—Está bem, de acordo. —tinha resmungado Lydia com um relutante sorriso— Mas isso só serve para
demonstrar porque Lorde Wray é perfeito para mim. Ele adora as máquinas, a física e a matemática. De fato,
estamos pensando em escrever junto um artigo sobre a possibilidade de que os veículos funcionem com
propulsão atmosférica. Sem necessidade de cavalos!
—Fascinante –tinha remarcado Sara vagamente, afastando Lydia do atalho pavimentado e caminhando
para um prado de flores silvestres que se estendia além de um arvoredo frutífero.
Sara tinha levantado a saia à altura do tornozelo e caminhava entre o espesso tapete de violetas e narcíseo
brancos, o sol brilhava sobre seu cabelo castanho, parecendo muito jovem para ser uma mulher de quarenta e
cinco anos. Parou para recolher um ramo de violetas e inalar seu forte perfume. Seus especulativos olhos
azuis tinham olhado para Lydia sobre o brilhante punhado de flores.
—Entre todas essas conversas sobre máquinas e matemática, beijou-te Lorde Wray alguma vez?
Lydia riu diante da pergunta.
—Não tinha que perguntar a sua filha coisas como essa.
—Bem, fez?
Na realidade, Wray tinha beijado Lydia em várias ocasiões, e Lydia tinha achado agradável. É obvio, ela
tinha levado uma vida extremamente protegida, e não tinha bases para comparar, exceto…
De repente a imagem de Jake Linley tinha aparecido em sua mente, com seu cabelo escuro inclinando-se
sobre o seu… o doce fogo de seu beijo, o prazer de suas mãos sobre seu corpo… e Lydia tinha afastado esse
pensamento imediatamente, igual tinha feito milhares de vezes antes. Aquela noite tinha sido uma anomalia
que ela faria bem em esquecer. Linley tinha somente brincado com ela, o beijo não tinha sido nada mais que
uma travessura alimentada por um copo com brandy de mais. Não havia tornado a ver Linley durante os três
meses que tinham transcorrido o beijo, e quando eles se encontrassem de novo, ela simularia ter esquecido
todo o episódio.
—Sim, —tinha admitido a sua mãe— o conde me beijou, e foi muito agradável.
—Me alegro em ouvir. —Sara tinha deixado que as violetas se derramassem de seus dedos em uma
vibrante ducha de pétalas voando. Tinha esfregado as pontas de seus dedos perfumados atrás de suas orelhas
e lançou um ligeiro olhar travesso para Lydia. —Não desejaria que seu matrimônio fosse principalmente de
natureza cerebral. Pode encontrar muitos prazeres nos braços de um marido, se for o homem correto.
Lydia logo sabia como replicar. De repente havia sentido o calor agrupando-se no topo de suas
bochechas e na ponta de suas orelhas. Embora Sara fosse discreta sobre tais assuntos, tinha sido sempre
óbvio que os pais de Lydia eram um casal apaixonado. Havia vezes que seu pai fazia um comentário indireto
no café da manhã que fazia com que Sara cuspisse sobre seu chá…, vezes nas quais a porta de seu quarto
permanecia inexplicavelmente fechada durante a metade do dia… e também trocavam olhares privados nos
quais seu pai enviava para sua mãe, de uma maneira travessa e tenra ao mesmo tempo. Lydia tinha que
admitir que Wray nunca a olhava desse modo. Entretanto, pouca gente experimentava a classe de amor que
seus pais compartilhavam.
—Mamãe, sei o que desejas —Lydia havia dito com um suspiro compungido— quer que todos seus
filhos encontrem o amor verdadeiro, como o que têm papai e você. Mas as probabilidades de que isso me
ocorra são aproximadamente uma entre quatrocentos mil.
Muito acostumada ao hábito de sua filha de traduzir tudo a números, Sara tinha sorrido.
—Como decidiste isso?
—Comecei com o número de homens elegíveis na Inglaterra, e estimei quantos deles podiam ser
apropriados para mim em termos de idade, saúde, e assim sucessivamente. Depois calculei o número de
resultados possíveis de encontrar a cada um deles, observando uma amostra aleatória dos matrimônios que
conhecemos. Ao menos a metade deles tinham cansado com a indiferença, um terço tinham sido separados
pela morte ou o adultério, e o resto estavam satisfeitos, mas não eram o que alguém poderia chamar almas
gêmeas. De acordo com meus cálculos, a possibilidade de encontrar o amor verdadeiro comparado com o
número total de resultados possíveis no processo da caça de marido é de um entre quatrocentos mil. E com
uns prognósticos como esses, farei melhor me casando com alguém como Lorde Wray, que esperar por uma
sorte que possivelmente não ocorra nunca.
—Meu deus, —Sara tinha exclamado, claramente esmagada— Lydia, não posso acreditar que minha filha
tenha chegado a ser tão cínica.
Lydia tinha sorrido zombadoramente.
—Não sou cínica, mamãe. Só realista. E herdei de papai.
—Isso que temia, —Sara havia dito, elevando brevemente seu olhar ao céu, como uma súplica a alguma
ideia desatenta—Carinho, Lorde Wray já disse alguma vez que te ama?
—Não, mas isso virá com o tempo.
—Hummm. —sua mãe havia dito, olhando-a cuidadosamente.
—E se não for assim —Lydia havia dito alegremente— terei todo o tempo que quero para meus estudos
matemáticos.
Vendo que Sara parecia afligida por sua irreverência, Lydia a tinha abraçado impulsivamente.
—Mamãe, não se preocupe. —Disse contra o cabelo perfumado de sua mãe —Serei muito, muito feliz
com Lorde Wray. Prometo-lhe isso.
Sara se inundou em uma enorme banheira de porcelana, esperando que a água fumegante a ajudasse a
aliviar a tensão de seus ombros e costas. O ladrilhado quarto de banho estava iluminado por um único
abajur, a suave chama brilhando fracamente através do globo de vidro. Suspirando, apoiou sua cabeça sobre
a beirada de mogno da banheira enquanto considerava o que fazer com Lydia. Seus outros filhos, Nicholas,
Ash, Harry e Daisy estavam sempre se metendo em confusões e utilizando seus encantos para sair dos
problemas. Lydia, por outra parte, era responsável, intelectual e serena, e possuía uma mente para os
números que rivalizava com a de seu pai.
Desde sua apresentação na sociedade dois anos antes, Lydia tinha mantido seus pretendentes com uma
distante simpatia que tinha levado a muitos jovens decepcionados que afirmavam que era feita de gelo. O
qual estava longe da verdade. Lydia era uma garota cálida e carinhosa, com uma reserva de profunda paixão
que estava esperando ser despertada pelo homem correto.
Desgraçadamente, Lorde Wray não era esse homem. Inclusive depois de seis meses de noivado, ele e Lydia
não mostravam haverem se apaixonado. Para Sara, sua amistosa relação parecia mais a de um irmão e irmã
que a de dois noivos. Mas se Lydia estava satisfeita com o acerto, e ela certamente parecia estar, era justo
oferecer alguma objeção? Quando era jovem, Sara tinha tido a liberdade de encontrar seu próprio marido, e
sua escolha tinha sido pouco convencional no ponto de vista de qualquer pessoa. Lydia certamente merecia a
mesma oportunidade.
Recordando os dias de seu noivado com o Derek Craven, Sara se deslizou um pouco mais abaixo dentro
da água, enquanto os dedos de seus pés empurravam ociosamente a espuma de um lado a outro da banheira.
Naquela época Derek tinha sido o proprietário do clube de jogo mais notório da Inglaterra, fazendo uma
fortuna explorando a avareza de seus clientes aristocráticos. Quando Sara o tinha conhecido, Derek era já um
personagem legendário, um bastardo sem dinheiro que finalmente se converteu no homem mais rico de
Londres. Ninguém, e menos ainda o próprio Derek, teria afirmado que ele era um partido possível para uma
jovem tão ingênua como Sara. E então eles se atraíram irresistivelmente, muito desesperados para tomar
qualquer outra decisão.
Isso era o que a incomodava em Lydia e Lorde Wray, compreendeu Sara. Todos tínhamos a sensação de
que sua relação sempre se manteria em um nível morno e seguro. É obvio, Sara era consciente de que na
classe alta, as bodas por amor se consideravam ordinárias e provincianas. Entretanto, ela procedia do campo,
tinha sido criada sob a tenra direção de dois pais que se amaram profundamente. Quando era jovem gostaria
de ter encontrado isso para si mesmo, e como mãe, certamente, não queria menos para seus filhos.
Sara estava tão absorta em seus pensamentos que não ouviu o som de alguém entrando no quarto de
banho. De repente se sobressaltou pela visão de um colete deslizando-se pela cadeira de madeira… seguido
imediatamente por uma escura gravata de seda. Quando ela começava a sentar-se, um par de musculosos
braço se deslizou a seu redor por trás. Lentamente ele empurrou suas costas contra a cálida parede de
porcelana da banheira.
—Senti sua falta, anjo. —sussurrou ele.
Sorrindo, Sara se relaxou apoiando-se contra ele e brincou com sua arregaçada camisa. Derek tinha
estado fora, em Londres, durante três dias, negociando um trato entre sua companhia de telégrafos e a
ferrovia South Western para colocar novas linhas telegráficas ao longo das vias de trem. Embora ela se
mantivesse ocupada em sua ausência, os dias —e as noites— lhe tinham parecido realmente muito longos.
—Chegou tarde— disse ela, sua voz afetada— Esperava que voltasse para o jantar. Perdeste-te um
delicioso esturjão.
—Terei que jantar você, então.
Suas largas mãos se inundaram sob a água.
Renda-se, Sara virou seu rosto para ele, e sua boca foi instantaneamente capturada em um beijo abrasador
que alterou sua respiração e levou seu coração a pulsar com um novo e urgente ritmo. Seus dedos apertaram
seus duros e planos ombros até que o tecido de sua camisa esteve salpicado com água. Quando seus lábios se
separaram, um ligeiro e pequeno suspiro saiu de sua garganta, e levantou as pestanas para olhar nos
magníficos olhos verdes de Derek. Tinha vivido com ele durante mais de vinte anos, e esse vibrante e audaz
olhar nunca falhava em fazer com que seus sentidos saltassem excitados de prazer. Derek embalou seu rosto,
seu polegar alisando as gotas de água salpicadas ao longo de sua bochecha brilhante. Era um homem alto e
moreno, com uma cicatriz na testa que dava uma agradável dureza a seu atrativo rosto. Aparentemente o
passar dos anos tinha tido poucas mudanças nele, exceto uns fios brancos no cabelo de suas têmporas. E
como sempre, possuía um diabólico encanto que com frequência fazia com que as pessoas esquecessem a
natureza depredadora que se escondia sob sua elegante fachada.
O olhar alerta de Derek se moveu sobre seu rosto.
— Qual é o problema? —perguntou, atento a cada expressão.
—Nada, serio. É só que… —Sara se calou e embalou sua bochecha no quente oco de sua mão. — Falei
com Lydia enquanto esteve fora. Foi primeira em admitir que não esta apaixonada por Lorde Wray; e está
decidida a casar-se com ele de todas as formas.
— Por quê?
—Lydia decidiu que provavelmente nunca encontre uma alma gêmea, portanto deveria escolher um
marido apoiando-se em fatores práticos. Afirma que as probabilidades de encontrar o amor verdadeiro são
insignificantes.
—Provavelmente tenha razão nisso. —comentou Derek.
Separando-se dele, Sara franziu o cenho.
—Quer dizer que não espera que nossos filhos sejam tão felizes em seus matrimônios como nós somos?
—Não desejo nada menos, para cada um deles. Mas não, não espero necessariamente que todos
encontrem o amor verdadeiro.
—Não espera?
—Um homem ou uma mulher podem passar uma vida procurando uma alma gêmea e nunca encontrar
uma. Em minha opinião, Lydia é sábia ao escolher uma mercadoria de primeira como Wray, em lugar de
esperar até que os melhores candidatos tenham desaparecido. Estarei condenado se meu neto for gerado por
algum caçador de fortunas de terceira.
—OH, Meu Deus, — exclamou Sara com uma risada afogada. —Entre Lydia e você, não sei qual dos
dois é mais cabeça dura. O que tem a ver com a esperança, o romance, e a magia? Algumas coisas não podem
ser explicadas pela ciência, nem medidas em cálculos matemáticos. —Estirando-se sobre a borda da banheira,
brincou com o cabelo escuro que revelava a gola aberta de sua camisa. —Eu esperei por meu amor
verdadeiro, e olhe o que consegui.
Deslizando a mão atrás de seu pescoço, Derek atraiu seu rosto mais perto da dele.
—Conseguiu vinte anos de matrimônio com um implacável descarado que não pode afastar suas mãos de
você.
A respiração dela se entrecortou com uma gargalhada.
—aprendi a viver com isso.
A boca de Derek se deslizou com suavidade atrás de sua orelha, enquanto seus dedos percorriam seus
ombros úmidos.
—Me diga que quer que faça com Lydia. —lhe disse ele contra sua pele.
Sara negou com a cabeça e suspirou.
—Não há nada a fazer. Lydia tomou sua decisão, e dificilmente se pode mudar sua escolha. Agora
suponho que devo deixar tudo nas mãos do destino.
Ela notou que Derek sorria contra seu pescoço.
—Não há nada de mau em lhe dar um empurrão ao destino na direção correta. Se a oportunidade se
apresentar.
—Hmmm.
Considerando várias possibilidades, Sara agarrou o sabão e o fez rodar entre suas mãos.
Derek ficou de pé e desabotoou a camisa. Deixou que sua roupa caísse ao chão, revelando um magro e
profundo músculo e um peludo peito. Seu quente olhar se deslizou pela figura imprecisa de seu corpo na
água.
—acabou seu banho?
—Não
Sara sorriu provocadoramente, deslizando o sabão em sua mão sobre sua perna.
As mãos dele se moveram para abrir suas calças.
—Então é melhor que te prepare para receber companhia, —disse, e o tom de sua voz fez com que Sara
se estremecesse de antecipação.
Capítulo Dois
Em dois dias, Lydia se converteria em Lady Wray. A longa semana de celebrações tinha começado na
propriedade de Craven, com noturnas, danças de etiqueta e esplêndidos jantares. No domingo, as celebrações
concluiriam com uma cerimônia na capela familiar. Os convidados tinham chegado de todas as partes da
Inglaterra e o Continente, até que cada casa particular, pensão e botequim em Herefordshire estivessem
cheia. Os vinte salões de convidados da maior casa de Craven estavam ocupadas e os serventes dos
convidados andavam acima e abaixo como abelhas em uma colmeia.
Para Lydia parecia que ultimamente cada pergunta dirigida a ela ia enfocada ao tema de seus nervos, com
a expectativa geral de que toda jovem e correta dama deve sofrer de ataques de agitação nupcial.
Infelizmente, Lydia se sentia bastante tranquila, declaração que pareceu perturbar a todo aquele que a
escutou. Percebendo que essa calma poderia repercutir negativamente sobre Lorde Wray, Lydia tentou
estimular alguma pontada de ansiedade, algum tremor ou contração nervosa, tudo inutilmente.
O problema era que casar-se com Lorde Wray era tão sensato que ela não via nenhuma razão para estar
nervosa por nada. Não estava preocupada com a noite de bodas, já que sua mãe tinha explicado essas coisas
de tal forma que lhe tinha tirado qualquer rastro de temeroso mistério. E se Wray demonstrasse ser tão
aceitável amante como tinha sido beijando, Lydia esperava desfrutar bastante da experiência.
A única coisa que constituía um problema para Lydia era todo aquele infernal entretenimento.
Normalmente ela estava acostumada a dias de tranquilidade nos quais ela podia pensar e fazer cálculos,
quanto tempo como ela desejasse.
Agora, depois de aproximadamente cento e vinte horas de intermináveis festividades, brinde, conversas,
risadas e bailes, para Lydia tinha sido suficiente. Sua mente estava com ideias que nada tinha a ver com o
romance e o matrimônio. Queria terminar com as bodas e ser livre para trabalhar em seu novo projeto.
—Lydia— chamou Wray entre risadas, enquanto a interrompia em seu furtivo intento de escrever
algumas anotações durante a grande noite de sexta-feira.
— Trabalhando em suas fórmulas, verdade?
Com ar de culpa, Lydia tirou uma parte do papel e o lápis na pequena bolsa de seda que pendia de seu
braço.
Elevou os olhos para Wray, cuja alta silhueta ponderava sobre ela.
Como sempre, sua aparência era imaculada. Seu liso e negro cabelo brilhava sob uma fina capa de seu
traje de noite que se adaptava a ele com precisão e o nó de sua gravata de seda negra estava perfeitamente
atado.
—Sinto muito —disse ela com um envergonhado sorriso— mas milorde, tive uma ideia das mais
interessantes sobre a máquina de análise de probabilidade...
—Isto é uma festa —disse ele com um brincalhão movimento de seus dedos— Você, como supõe,
deveria dançar, mexericar, ou estar junto à mesa de refrescos. Não vê todas essas jovens damas desfrutar com
isso? Isso é o que deveria estar fazendo.
Lydia deu um mal-humorado suspiro.
—Estive fazendo isso durante as últimas duas horas, e me faltam menos de quatro horas para que a festa
termine. Mantive a mesma conversa com dez pessoas distintas, e estou farta de falar do tempo e do estado de
meus nervos.
Wray sorriu.
—Se vai ser condessa, que vá acostumando com isso. Como casal de recém casados, relacionaremos
bastante com a sociedade quando começar a temporada.
—Maravilhoso —disse ela e ele soltou um sorriso sufocado—Veem dar uma volta comigo.
Pendurando-se em seu braço, Lydia acompanhou Wray para dar um passeio pelos distintos salões de
entretenimento. Por onde passavam eram recebidos com sorrisos de aprovação e frases de felicitação. Lydia
sabia que formavam um casal atrativo, ambos magros e com cabelo escuro. Era óbvio que Wray era um
homem de eruditas inquietações, de bom caráter, aristocráticas e belas cuidadas mãos. Não havia nada que
lhe gostasse mais que uma longa e intrigada conversa a respeito de uma extensa variedade de temas. Ele era
um convidado solicitado para o jantar de qualquer festa, já que entretinha à mesa com uma perfeita mistura
de inteligência e cultura. Seus conhecimentos acadêmicos eram vistos com aprovação geral, já que um
cavalheiro podia seguir tais inquietações, sempre quando não trabalhasse e não pretendesse ganhar dinheiro
com isso.
Deixaram de falar com um grupo de amigos e Lydia sorriu com pesar quando viu que Wray ia embarcar
se em uma longa conversa. Usando seu leque como tela, ficou nas pontas dos pés e sussurrou:
—Milorde... Vamos escapulir juntos e encontrar algum lugar privado? A estufa ou ao roseiral.
—Definitivamente não. Seu pai poderia ficar sabendo.
—Não tem medo, verdade? — perguntou com um incrédulo sorriso.
—Ele me aterroriza —admitiu Wray. — De fato, de todos os pontos que Linley me deu quando me
aconselhou a não te propor matrimônio, esse foi o mais difícil de contestar.
—O que? — Lydia o olhou com a boca aberta pelo assombro.
— Qual Doutor Linley, o pai ou o filho?
—O filho —disse ele com uma careta. —Maldição, não queria que me escapasse isto. Possivelmente seria
tão amável de passar por cima deste último comentário...
—Pode estar seguro que não! —Ela franziu o cenho diante da revelação—Quando te aconselhou Linley
que não me propusesse matrimônio e quais foram seus motivos? Esse asno intolerável, eu gostaria de lhe
dizer...
—Lydia, se acalme — aconselhou Wray brandamente— Alguém pode te escutar. Não foi nada, só
mantivemos um pequeno bate-papo antes que me aproximasse de seu pai para pedir sua mão. Mencionei a
Linley que ia declarar me e ele me deu sua opinião sobre o assunto.
—Uma opinião negativa deduzo. —Lydia lutava por controlar seu caráter, mas sentia uma onda de calor
que percorria seu rosto e pescoço—Quais foram suas objeções?
—Não me recordo.
A chateação quase a asfixiou.
—Sim o recorda. Ah, deixa de ser um cavalheiro por uma vez e me diga isso.
Wray sacudiu a cabeça e respondeu firmemente:
—Não deveria ter sido tão descuidado com minhas palavras. Não importam quais tenham sido as
objeções de Linley ou as de qualquer outro. Decidi tomar você como esposa e isso é tudo.
—Decidiu? – repetiu Lydia com um rosto cômico.
Wray a tomou pelo cotovelo.
—vamos unir nós com os outros —disse ele— teremos tempo para conversa privadas quando estivermos
casados.
—Mas milorde...
Ele a conduziu para um grupo de amigos, e todos começaram a conversar relaxadamente. Lydia
encontrou impossível manter sua atenção na conversa. Em silêncio, ardia e tentava esquecer, sua ira que se
incrementava por momentos. Inclusive antes disto, Lydia considerava Jake Linley o homem mais irritante que
conhecia. Como tinha se atrevido a tentar dissuadir o conde para que não se casasse com ela! Assombrava
que tivesse falado com Wray, não cabia dúvida que ele tinha feito com que parecesse que casar-se com ela
fosse um mau negócio na realidade.
Linley não tinha feito outra coisa mais que zombar-se e incomodar Lydia desde que eles se conheceram
quatro anos antes, quando ela torceu o tornozelo enquanto jogava tênis sobre a grama. Tinha sido durante
uma celebração de fim de semana na propriedade de um amigo, o qual tinha convidado às famílias mais
importantes de Herefordshire. Depois que Lydia torceu o tornozelo durante uma enérgica jogada de bola,
seu irmão mais novo Nicholas a tinha ajudado a caminhar com dificuldade para a sombra de uma frondosa
árvore.
—Acredito que os Linley estavam aqui — havia dito Nicholas, deixando-a com cuidado sobre uma toalha
que estava sobre a erva, junto com os restos de um piquenique que haviam desfrutado anteriormente—
Sente-se aqui enquanto vou chamar o médico. —O ancião Dr. Linley era um homem amável e de confiança,
que tinha ajudado a trazer para o mundo às duas últimas filhas de Craven.
—Se apresse — havia dito Lydia, esboçando um afligido sorriso zombador quando viu aproximar-se de
três impacientes jovens— Estou a ponto de ser sitiada.
Nicholas tinha sorrido abertamente, parecendo der repente igual a seu pai.
—Se algum deles tenta examinar seu tornozelo fica enjoada e ameaça com seus vômitos por toda parte.
Quando seu irmão desapareceu correndo colina acima para principal casa,
Lydia realmente se encontrou sob o assédio de seus entusiasmados pretendentes.
Havia sentido sem poder fazer nada mais que estar sentada ali, enquanto os jovens a atendiam, uns lhe
servindo um copo de água, outro lhe pondo um pano úmido sobre a testa, outro mantendo seu braço atrás
de suas costas, se por acaso sofresse um desvanecimento.
—Estou perfeitamente bem. —tinha protestado ela, sufocada por tantos cuidados—. Só foi uma torção
no tornozelo; não, senhor. Gilbert, não é necessário que a examine, por favor, todos vocês...
De repente, os três ardentes jovens se sobressaltaram por uma enérgica voz masculina.
—Vão-se, todos vocês. Eu examinarei à senhorita Craven.
A contra gosto eles se viraram e partiram. O recém-chegado se ajoelhou junto a ela.
Por um momento, ela na realidade tinha esquecido a dor palpitante de seu tornozelo, enquanto olhava
esses olhos cinza com escuras pestanas. Embora ele estivesse muito bem vestido, seu traje estava um pouco
enrugado, sua gravata um pouco frouxa e seu casaco mal colocado. Parecia ter uns dez anos mais que ela,
possuindo um vigor masculino que ela tinha encontrado muito atraente. Às vezes, os homens muito bonitos
pareciam um pouco vazio, possivelmente até um pouco efeminados por sua perfeição física. Mas este era
todo masculino, com audazes e fortes feições, o cabelo da cor do trigo, caindo até o pescoço.
Tinha-lhe sorrido, seus brancos dentes cintilaram contrastando com sua bronzeada pele.
—Você não é o Doutor Linley? —lhe havia dito ela.
—Sim, sou— tinha estendido sua mão, ainda sorrindo—. Doutor Jake Linley. Meu pai me enviou em seu
lugar, já que neste momento se encontra desfrutando de um copo de porto e não imagina a si mesmo
caminhando colina abaixo.
Os dedos de Lydia se perderam dentro de sua forte mão, enquanto uma agradável corrente tinha
percorrido todo seu braço.
Por Deus! Ela tinha ouvido os falatórios sobre o galhardo filho mais velho do Doutor Linley, mas nunca
tinha se encontrado com ele antes.
—Você é o que tem tão má reputação? — havia dito ela.
Liberando sua mão, ele a olhou com olhos risonhos.
—Espero que você não seja a classe de pessoa que esgrime a reputação de um homem.
—Absolutamente — havia dito ela— Os homens de má reputação são geralmente mais interessantes que
respeitáveis.
Seu olhar se deslizou sobre ela em uma rápida, mas minuciosa observação, abrangendo desde seu
ondulado cabelo negro até os dedos de seus pés, que apareciam entre a massa de brancos volantes de sua
saia. A sua boca se curvaram em um meio sorriso.
—Seu irmão me havia dito que você machucou uma perna. Posso dar uma olhada?
De repente, Lydia secou sua boca. Não havia sentido se acovardada por nada em sua vida. Seu queixo
baixou fazendo um leve assentimento com a cabeça, e tinha ficado muito quieta enquanto Jake Linley
agarrava a prega de sua saia e a levantava várias polegadas para cima. Sua expressão se tornou séria,
profissional, mas de todas formas ela havia sentido que seu coração fazia um ensurdecedor ruído em seu
peito. Ela tinha dado uma olhada a sua cabeça inclinada, enquanto a luz do sol que se filtrava entre as folhas
da árvore faziam com que seu cabelo brilhasse, fazendo que a tonalidade fosse de uma cor dourado escuro.
Suas mãos grandes e gentis se moviam sobre sua perna.
—Só é uma pequena torção. —disse — aconselho que guarde repouso durante os próximos dois dias.
—Bem. —tinha respondido ela sem fôlego.
Habilmente enfaixou o tornozelo com um guardanapo de linho que tinha encontrado na cesta de
piquenique.
—Minha maleta está em casa —murmurou ele— Se me permite levá-la até ali, enfaixarei seu tornozelo
corretamente e aplicarei um pouco de gelo... E lhe darei algo para a dor, se quiser.
Lydia tinha respondido fazendo um movimento afirmativo com a cabeça.
—Sinto ser um problema. —Ela ofegou quando ele a levantou com cuidado contra seu peito. Seu corpo
era duro e musculoso, seus ombros robustos sob suas mãos.
—Não é nada. —respondeu alegremente ele, ajustando seus braços ao redor dela.
— Resgatar donzelas feridas é meu passatempo preferido.
Até que tivesse chegado o desgosto de Lydia, aquele primeiro encontro com Jake Linley tinha começado
com uma teimosia descontrolada por parte dela, que tinha durado aproximadamente quatro horas. Esse
mesmo dia mais tarde ela tinha escutado por acaso uma conversa entre ele e outro convidado desse fim de
semana.
—Demônios, Linley —tinha comentado com outro convidado— Agora posso entender porque se fez
médico. Você conseguiu meter-se debaixo das saias de cada mulher atrativa de Londres, incluída a filha de
Craven.
—Só em sentido profissional —tinha sido a sardônica resposta de Linley. —E lhe asseguro que não sinto
absolutamente nenhum interesse pela senhorita Craven.
O comentário tinha ferido e mortificado Lydia, matando suas ilusões românticas de uma forma
desagradavelmente abrupta. Após, ter tratado Lydia com frieza Linley sempre se encontraram.
Com os anos, sua antipatia mútua foi aumentando até o ponto que não podiam estar juntos na mesma
casa sem encetar-se em uma disputa, que todos outros se apressavam a apaziguar. Lydia tinha tentado ser
indiferente a ele, mas havia algo nele que a provocava até o mais profundo de sua alma. Quando estava com
ele, encontrava-se dizendo coisas que não pensava, e refletindo sobre seus rebeldes encontros muito tempo
depois que eles se separassem. Durante uma de suas batalhas, Linley tinha dado o enfurecedor apelido de
"Lydia Logaritmos", como a família e amigos de vez em quando estavam acostumados a chamá-la.
E agora ele tinha tentado frustrar suas bodas com Wray.
Ferida e furiosa, Lydia recordou uma vez na noite em que seu compromisso tinha sido anunciado... O
assombroso momento em que Linley a tinha beijado, e em sua própria e mortificante resposta. Se suas
atitudes tinham sido desenhadas para zombar-se dela e confundi-la, ele tinha conseguido brilhantemente.
Voltando para o presente, Lydia decidiu que não podia passar um momento mais de bate-papo
infrutífero. Entrou nas pontas dos pés e sussurrou a seu noivo:
—Milorde, minha cabeça começou a doer, e quero encontrar um lugar tranquilo onde me sentar.
O conde a olhou com preocupação.
—Acompanho você.
—Não —disse ela depressa— não há nenhuma necessidade disso. Encontrarei algum lugar afastado em
alguma parte. Preferiria que ficasse com nossos amigos. Voltarei logo, quando me sentir melhor.
—Muito bem. —Uma faísca de humor brilhou nos olhos azuis de Wray—. Meio suspeito que minha
querida Srta. "Lydia Logaritmos" vai retirar se para dar voltas a alguma fórmula matemática.
—Milorde. —protestou ela, franzindo o cenho para ouvir o tão odiado apelido.
Ele riu brandamente.
—Sinto muito, carinho. Não deveria ter feito essa brincadeira. Está segura de que não quer companhia?
—Sim, completamente segura —Lydia deu um sorriso, e o deixou com a promessa de que voltaria logo.
Sair do abarrotado salão de baile foi tudo o que Lydia pôde fazer para conter-se para não sair correndo.
O ar estava espesso pelo aroma de flores, perfume, suor e vinho, e os ouvidos zumbiam pelo ensurdecedor
som dos bate-papos. Se ela pudesse tão somente retirar-se à tranquilidade de seu quarto... Mas não havia
nenhuma forma de chegar ali sem atravessar uma multidão de pessoas que insistiriam em detê-la com suas
entristecedoras conversas. Vendo sua mãe, que estava com uns amigos perto das portas que conduziam aos
jardins, Lydia se dirigiu para onde estava ela.
—Mamãe —disse-— aqui está cheio e minha cabeça dói. Importa se desaparecer um pouquinho?
Sara a olhou com preocupação, e deslizou seu braço enluvado ao redor de sua cintura.
—Parece triste. Envio um dos criados para te trazer algo para a dor de cabeça?
—Não, obrigado —Lydia sorriu quando sua mãe tirou a luva e pressionou sua fresca e suave mão contra
seu rosto. — Estou bem, mamãe. Só estou... Ah, já sei, cansada, suponho.
Sara a observou com olhar perspicaz, sentindo a frustração de Lydia.
—Ocorreu algo, carinho?
—Não realmente, mas... —Lydia puxou sua mãe para afastá-la do grupo e lhe sussurrou— Lorde Wray
acaba de dizer que Jake Linley o aconselhou que não se casasse comigo. Pode conceber tal arrogância? Eu
gostaria de golpeá-lo com a primeira coisa que encontrasse esse intolerável, mesquinho, descarado, egoísta...
— Que motivos teria o Dr. Linley para pôr objeções a este matrimônio?
—Não sei —Lydia soltou um sonoro suspiro— Sem dúvida Linley pensa que sou pouca coisa para Wray,
que pode conseguir alguém melhor que eu.
—Hmmm, isso não parece próprio dele. —Sara acariciou as costas de Lydia. — Respira fundo, querida.
Sim, isso está melhor. Agora, não há nenhuma razão para que a opinião de Linley te altere, já que não parece
ter tido nenhum efeito sobre o desejo de Wray casar-se com você.
—Bem, pois realmente me alterou —resmungou Lydia— De fato, tenho vontades de romper algo, como
pôde Linley fazer algo como isto? —junto com seu desgosto, ela percebeu uma nota de decepção em sua
própria voz —Nunca entendi porque me tem tanta aversão.
—Não acredito que isso seja o caso absolutamente. —respondeu Sara, dando um consolador apertão—.
De fato, acredito que a razão da oposição de Linley a seu casamento. Olhe, estive falando com sua mãe outro
dia quando nos encontramos ao vir da chapelaria, e ela me disse que ele...
Sara soltou Lydia quando viu um novo grupo de convidados que entrava no salão de baile.
—Ah, os Raiford chegaram —exclamou Sara— Sua filha Nicole teve seu segundo filho faz só quinze
dias, e devo perguntar por ela. Falaremos mais tarde, querida.
—Mas, mamãe, tem que me dizer... —começou Lydia, mas sua mãe se dirigia onde estavam seus amigos.
A noite começava a piorar.
O que, em nome de Deus, havia dito a mãe de Linley dele? Cheia de frustração, Lydia se dirigiu para a
porta que conduziam aos jardim e saiu para fora sem vacilar, para dirigir-se a um lugar onde sabia que
poderia estar sozinha, a adega de vinhos da mansão.
Até que terminou sua infância, a adega tinha sido seu lugar de retiro favorito. Ela e seus irmãos menores
tinham estado sempre fascinados por esse grande recinto clandestinamente com três câmaras, cheias de
centenas de prateleiras com garrafas verdes e ambarinas com etiquetas estrangeiras. A adega era refutada
como uma das mais finas da Inglaterra, abastecida com uma extravagante variedade de estranhos e caros
champanhas, brandys, portos, xerez, Borgoña, claretes...
Em um salão mais afastado, um banco, um armário, e uma pequena mesa serviam como lugar onde
colocavam rolhas nas garrafas e provavam seu conteúdo. Lydia recordava incontáveis brincadeiras nos quais
ela e o resto dos Craven tinha brincado de serem piratas, espiões, ou no esconderijo nos sombrios cantos da
adega. Em alguma ocasião, ela tinha sentado naquela mesa para resolver algum problema matemático,
agradecendo o silêncio e o aroma de madeira velha, especiarias e cera.
Abrindo uma pesada porta de madeira, dirigiu-se para baixo sobre o chão de pedra. Os abajures estavam
acesos, já que o mordomo fazia contínuas viagens à adega para pegar as bebidas para os convidados. Depois
do barulho que havia acima, a bendita tranquilidade da adega era um alívio indescritível.
Lydia suspirou profundamente e começou a relaxar-se. Com um sorriso pesaroso, começou a massagear
sua dolorida nuca. Possivelmente finalmente começava a experimentar os nervos nupciais, depois de tanta
preocupação durante tantos dias por não os ter.
Uma serena voz interrompeu a tranquilidade do porão.
— Senhorita Craven?
Levantado a vista com sobressalto, Lydia contemplou o homem que menos desejava ver.
—Linley —disse ela com gravidade, deixando cair sua mão para um lado— O que faz você aqui?
Capítulo Três
Nessa atmosfera mofada e densamente sombreada, o bronzeado dr Jake Linley era ainda mais notável
que habitualmente. De algum modo, não parecia apropriado que ele estivesse em um porão, nem sequer para
uma eventual visita a adega. Inclusive sendo seu adversário, Lydia teve que reconhecer que era um dos
homens mais atrativos que ela tinha conhecido. Linley não era muito mais velho que Wray, mas era
imensamente mais experiente. Seu mundanismo era muito mais evidente devido ao modo em que tentava
ocultar, com irreverente ligeireza. Vendo o irônico brilho de seu sorriso, e a graça e desenvoltura de seus
movimentos, as pessoas podiam cair facilmente presas em seu endiabrado encanto. Mas seus olhos o traíam.
As profundidades de seus olhos cinza estavam cheios do cansaço de um homem que tinha visto e
experimentado muitas coisas, e não tinha encontrado a forma de escapar da dolorosa realidade que sua
profissão o obrigava a contemplar.
—Seu pai me deu permissão para dar uma olhada aqui embaixo. —disse ele. Isto não era nada incomum.
Lydia estava acostumada ao interesse que despertava entre os convidados a renomada coleção de vinhos
de seu pai. Entretanto, era de má sorte que Linley se encontrasse examinando o lugar justo quando ela
tivesse ido ali em busca de um pouco de tranquilidade.
— Você já viu suficiente? —perguntou Lydia, não sem estremecer-se diante de sua própria grosseria. Sua
mãe tinha criado todos os Craven com inquebráveis princípios de cortesia. Mas a presença de Jake Linley era
mais do que ela podia suportar. —Por que eu gostaria de estar sozinha.
Sua cabeça se inclinou ligeiramente quando ele a contemplou com olhar fixo.
— Você se encontra passando mal? —perguntou ele. —Se for assim....
Lydia o interrompeu com um desdenhoso som.
—Por favor, não se incomode em mostrar preocupação por mim. Conheço-lhe bem.
Jake Linley se aproximou dela devagar, aproximando-se do foco da fraca luz do abajur. Que injusto era
que um homem fosse tão pérfido e de uma vez tão bonito. Vestia um austero e formal traje branco e negro,
com uma gravata de seda cinza que favorecia seus transparecidos olhos. As roupas perfeitamente feitas
brilhavam elegantes sobre seu magro e forte corpo, mas, como sempre, ele parecia um pouco desalinhado,
como se tivesse espremendo e atirando com irritação a vestimenta que o limitava. Os sutis sinais de
desordem pediam a gritos que uma mulher arrumasse sua gravata e endireitasse seu colete, os gestos íntimos
que uma esposa faria a seu marido.
— por que pensa você que minha preocupação por você é fingida? —perguntou ele.
O ressentimento, e outra emoção inclusos mais dolorosos e inidentificáveis, fez com que Lydia sentisse
um nó no estômago.
—Porque você tentou convencer Lorde Wray de que eu não era boa para ele, e assim impedir que ele me
pedisse em casamento.
Seus olhos se entrecerraram.
— Isso é o que ele te disse?
—Não com essas palavras exatamente. Mas você o aconselhou que não se casasse comigo, e isso nunca o
perdoarei.
Linley suspirou com força e olhou fixamente o antigo chão de pedra. Parecia estar considerando algum
complexo problema sem solução, parecido ao modo em que Lydia o tinha feito a primeira vez que
compreendeu que um número negativo não podia ter uma raiz quadrada negativa.
—Tem razão —disse ele sem emoção— Aconselhei Wray que não se casasse com você.
— por quê?
— O que importa isso agora? Wray não ouviu meu conselho, você aceitou seu pedido, e o assunto estará
concluído em aproximadamente trinta e oito horas.
— Contando às horas que faltam, não?
Com esse tiro indireto, Linley na realidade deu um passo para trás. Seus olhos cintilaram com cautela,
como se ela tivesse golpeado um segredo vital.
—Deixarei você em seu isolamento, Srta. Craven. Minhas desculpas por interromper sua solidão.
Ele se virou e começou a partir, enquanto Lydia o fulminava com o olhar.
— desculpa-se por isso, mas não pelo que disse a Lorde Wray?
Ele se deteve um momento.
—Exato. —disse ele sem olhá-la, e prosseguiu seus passos.
Lydia caminhou com grandes passos para uma sala mais afastada, e se sentou sobre uma cadeira de
madeira que rangeu. Deixou cair de repente sua bolsa de seda sobre a mesa, soltou um frustrado suspiro e
colocou sua cabeça entre suas mãos. Uma noiva próxima a casar-se não deveria sentir-se assim, confusa,
inquieta e zangada. Deveria sentir-se feliz. Sua cabeça deveria estar cheia de sonhos. Em todos os romances
que tinha lido, o dia das bodas de uma garota era a ocasião mais maravilhosa de sua vida. Se isso fosse certo,
ela era uma vez mais diferente do resto, porque não esperava com ilusão. Ela sempre tinha desejado ser
como os outros.
Sempre tinha tentado imitar suas amigas e tinha fingido interesse por bonecas e brincadeiras do interior,
quando na realidade tinha preferido muito mais subir nas árvores e brincar de exército com seus irmãos.
Mais tarde, quando suas primas tinham estado absortas com a moda, as intrigas românticas e outros
entretenimentos próprios de garotas, ela tinha entrado no fascinante mundo da matemática e ciência. Não
importou quanto a amou e protegeu sua família, eles não puderam afastá-la dos rumores e sussurros mal
intencionados que insinuavam que não era feminina, pouco convencional... Peculiar.
Agora, tinha encontrado um homem que era considerado por todos como um bom partido, e que
inclusive compartilhava suas afeições. Quando se casasse com Wray, ela finalmente seria aceita. Seria parte da
multidão, em vez de distinguir-se dela. E isso seria um alívio.
Por que, então, não era feliz?
Lydia esfregou sua dolorida testa enquanto pensava com preocupação em silêncio. Precisava falar com
alguém sábio e pormenorizado, que a ajudasse a eliminar essas inexplicáveis pontadas de decepção e desejo
que Jake Linley tinha despertado nela. Seu pai. Esse pensamento a acalmou imediatamente. Sim, ela se
encontraria com seu pai mais tarde essa mesma noite. Sempre era capaz de falar com ele sobre qualquer
tema, e seus conselhos, embora ditos com crueldade, eram sempre confiáveis.
Sentindo-se ligeiramente melhor, tirou um papel e um lápis de sua bolsa e os colocou sobre a mesa. Justo
quando começava a escrever uma longa sequência de números sobre uma parte do papel já rabiscado
anteriormente, escutou o som de uns passos.
Franzindo o cenho, levantou a cabeça e se encontrou com o severo rosto de Linley.
— por que você ainda está aqui?
—Está fechado. —disse ele com voz cortante.
— A porta exterior? Mas isso é impossível.
—Bom, estava sim. Lancei todo meu peso sobre ela e essa maldita porta nem se moveu.
—Há outra porta na segunda sala, que conduz à despensa do mordomo. Pode sair por aí.
—Já tentei. Está fechada também.
Franzindo o cenho, Lydia apoiou o queixo em sua mão.
— Quem terá fechado a porta por fora e por quê? Deve ter sido um engano. Ninguém tem nenhum
motivo para nos encerrar aqui juntos... A não ser que...
— A não ser o que?
—Poderia ter sido Eugenia King, —disse Lydia com cólera. —Quis vingar-se de mim desde que fiquei
com Wray quando ela tinha feito o laço para apanhá-lo. OH, lhe encantaria ir contando por aí que me vi
comprometida com um libertino como você a só dois dias de minhas bodas —outro pensamento ocorreu de
repente, e lhe lançou um cortante olhar. —Ou possivelmente você planejou isto. Poderia ser parte de seu
plano para frustrar minhas bodas com Wray.
—Por Deus. —disse ele com irritação—Eu estava primeiro na adega, recorda? Não tinha nem ideia de
que você ia aparecer. E não me importa se você vai se casar com o conde ou não. Eu só dei minha opinião
quando ele me pediu.
Deixando cair o lápis sobre a mesa, Lydia se virou na cadeira para confrontá-lo. Sua indignação era visível
quando respondeu.
—Ao que parece você a deu com grande entusiasmo. Estou segura que ficaste muito feliz pela
oportunidade de fazer comentários depreciativos sobre mim.
—Não fiz comentários depreciativos sobre você. Só disse.... —Linley fechou a boca bruscamente.
— O que? —disse Lydia, apertando sua mão fechada sobre a superfície da mesa.
Quando seu olhar se posou sobre ela, o silêncio se tornou tão espesso e íntimo, que Lydia mal podia
respirar. Pela primeira vez, eles tinham liberdade para fazer ou dizer o que quisessem, e isto fazia com que a
situação se voltasse potencialmente... Explosiva.
Depois de uma longa pausa, Linley perguntou calmamente.
— Que demônios te importa o que eu pense?
Sentindo-se apanhada, Lydia se levantou e se afastou dele, dirigindo-se às prateleiras próximas que se
estendiam do teto ao chão.
Ela passou um dedo pela fileira de cortiças seladas e inspecionou a mancha cinza de pó que se acumulou
na ponta de seu dedo.
—Suponho que não posso resistir em tentar resolver um enigma. —disse ela finalmente. — E nunca fui
capaz de entender qual é a fonte de discórdia entre você e eu. É óbvio para qualquer um que não nos
entendemos no princípio. É pelas origens de minha família? O fato de meu pai nascer de forma ilegítima e
seus dias de salão de jogo...
—Não, —disse Linley rapidamente - Nunca tive nada contra ele ou sua família. Não sinto nada mais que
admiração por seu pai e o modo em que venceu por si mesmo. E minhas origens familiares não são muito
melhores que as suas. Como todo mundo sabe os Linley têm um pouco de sangue azul. —ele sorriu antes de
prosseguir. —Mas por mais que estime seu pai, não há nenhuma dúvida de que também é manipulador e
dominante, e que não cede nada até conseguir o que quer. E, além disso, acha que é tão rico como Crasso.
Em outras palavras, Craven como sogro é um pesadelo. Wray está completamente intimidado por ele. Seu
pai não duvidará em fazer dançar seu marido ao som da música que ele toque... E nenhum matrimônio pode
tolerar essa classe de interferência.
—Não deixarei que o intimide. —disse Lydia à defensiva.
Linley respondeu com um ar zombador. Sentou-se à mesa e um de seus pés começou a balançar-se
ociosamente.
—Seu marido necessitará de paciência para enfrentar Craven sem seu amparo. E Wray não as tem. Cedo
ou tarde, ele se ressentirá com você quase tanto como você se ressentira com ele.
Lydia teria que dizer algo para poder contradizer.
—Um homem pode mudar.
—Inclusive tem um modo evidente de mudar essa situação.
— Qual?
A fraca luz do abajur fazia com que seu cabelo brilhasse como ouro antigo, e cintilasse em sua suave e
brilhante pele barbeada.
—Vocês não se amam.
Lydia foi incapaz de falar. Seu pulso pulsava grosseiramente enquanto ele se aproximava dela. Ela não
estava consciente de que estava retrocedendo até que sentiu a estante de vinho contra seus ombros e ouviu o
estouro contínuo das garrafas.
Aproximando-se, Linley colocou seus braços a cada lado dela, seus dedos se curvaram ao redor das barras
de metal que sustentavam as garrafas. Ele estava de pé muito perto, seu corpo preponderava sobre ela. Lydia
se alagou com sua fragrância, o fresco aroma de sabão e o quente e salgado aroma masculino que desprendia
de sua pele. Ela inspirou profundamente, uma vez e outra, mas parecia que seus pulmões não podiam
funcionar bem. Era estranho, mas até agora ela não tinha reparado em quão alto era ele. Ela era um pouco
mais alta que a média, e ainda assim, ele preponderava sobre ela. Seus ombros ocultavam a luz do abajur.
Seus dedos apertaram ainda mais as barras de metal.
—Você deveria casar-se com um homem capaz de vender sua alma só por passar uma noite com você.
— Como sabe que Wray não sente isso por mim? —sussurrou ela.
—Por que ele é assim, você não seria tão inocente agora. —o rubor cobriu as bochechas e o nariz de
Lydia. —Se você fosse minha, eu nunca teria esperado todos estes meses sem.... —deteve-se e engoliu a saliva
com dificuldade, seu fôlego golpeava as bochechas dela com ligeiras e cálidas rajadas. Enquanto se
aproximava, mas a ela, quase podia sentir o calor animal que seu corpo desprendia.
Seus pensamentos se dispersaram quando compreendeu que ia beijá-la. Sentiu o calor de suas mãos na
parte de trás de sua cabeça, sustentando-a, embalando-a. Sua cabeça desceu para a sua, até que ela fechou os
olhos. Sentiu um toque aveludado em um lado de sua boca... Outro no sensível centro de seu lábio inferior.
Sua boca se apoderou da dela, pouco a pouco, até que a capturou em uma completa e úmida posse.
De repente, Lydia se sentiu embriagada, como no último Natal, quando ela bebeu duas grandes taças de
ponche com rum e passou o resto da tarde em uma agradável e prazerosa neblina, com os joelhos trêmulos.
Balançou-se enjoada e imediatamente foi agarrada e sustentada por ele contra a sólida longitude de seu
corpo. Ele a beijou profundamente, mantendo os lábios dela separados para poder degustá-la, com suaves e
urgentes toques. O prazer a surpreendeu. Sua boca estava aberta febrilmente a dele, dando boas-vindas às
cálidas insinuações de sua língua. Ele procedia lentamente, fazendo-a retorcer-se contra ele. Os dedos de
Lydia se deslizaram por seu espesso cabelo, atirando sua cabeça ainda mais sobre a dela, e um suave som
brotou profundamente da garganta de Linley.
Bruscamente ele separou sua boca da dela, respirando com dificuldade.
—Maldição, não deveria ter feito isto. Sinto muito. —passou seu polegar meigamente sobre a flexível
parte do lábio de Lydia, e a olhou com tal desejo que a assombrou— Sinto muito. —repetiu ele. — Te
deixarei agora. Eu... —seus braços se afrouxaram, mas parecia incapaz de afastar-se dela— Deus, Lydia —
sussurrou com voz rouca, e sua cabeça baixou de novo sobre ela.
Sua boca tomou a sua compulsivamente, saboreando sua necessitada resposta. Lydia sentiu que suas mãos
se deslizavam para baixo, uma apertando mais fortemente seus quadris contra ele, outra se deslizando sobre
a redonda forma de seu seio, levantando-o ligeiramente. O calor de seus dedos atravessou o grosso tecido de
seu sutiã. Ele acariciou o topo de seu seio, que ficou rígido, com a ponta do polegar, movendo-o lentamente
sobre ela, enquanto a beijava uma e outra vez, com uma necessidade que a assustou por sua intensidade.
Com um leve gemido, Lydia se separou dele, e de algum modo conseguiu fazer o percurso até a mesa.
Deixou-se cair com força na cadeira, respirando bruscas baforadas de ar, enquanto apertava as Palmas de
suas mãos úmidas contra a gasta superfície da mesa.
Jake permaneceu junto às prateleiras de vinho, apoiando sua testa contra a prateleira. Finalmente se
separou da prateleira e passou uma mão pelo cabelo rudemente. Lydia viu o tremor de seus dedos e ouviu o
estremecimento profundo de seu fôlego.
—Tenho que sair daqui. —disse ele bruscamente— Não posso permanecer aqui com você.
Lydia esperou até que os batimentos de seu coração se apaziguassem, antes de tentar falar.
—Linley... Jake... A que classe de jogo está jogando?
—Isto não é um jogo —seus pálidos olhos olhavam diretamente aos seus.
—Desejei desde a primeira vez que te vi.
—Você não pode está certo. Ouvi você por acaso enquanto dizia a alguém que não sentia nenhum
interesse por mim.
— Quando?
—O dia que nos conhecemos, depois que enfaixou meu tornozelo.
—Só tinha dezesseis anos. —respondeu ele sardonicamente. —Eu teria parecido um velho e depravado
libertino se tivesse admitido tal atração.
—A noite de meu compromisso, quando me beijou... Fez porque se sentia atraído por mim?
— Se não fosse por esse motivo, por que teria feito uma coisa assim?
Suas bochechas se acenderam ao recordá-lo.
—Pensei que simplesmente tratava de me envergonhar.
—Pensou... —começou dizer Jake, com olhar assombrado, mas se interrompeu de repente. —Vai casar
dentro de dois dias. De que serve discutir isto agora?
Lydia se sentia muito estranha, desesperada e zangada, como se tivesse perdido algo que para começar
nunca tinha tido. Como se tivesse sido enganada de alguma forma.
—Tem razão. —disse ela devagar— Não há nenhum motivo para discutir isto agora. Nada fará mudar
minha decisão de me casar com Lorde Wray.
Jake permaneceu em silêncio, seus olhos se escureceram e sua boca pareceu levemente mal-humorada.
—Wray e eu somos compatíveis em tudo. —disse Lydia, sentindo a necessidade de acentuar este ponto.
—Em primeiro lugar, é a única pessoa que conheço que tem lido meu artigo para o Jornal de Ciência
Prática...
—Eu o li — interrompeu ele.
— Você leu?
Linley sorriu ligeiramente ao ver seu assombro.
—Só a primeira parte.
— E que te pareceu?
—Dormi durante a parte do tetrahidra oportuno e desconexo.
—Tetraedro. —corrigiu ela com uma ligeira risada, sabendo que para alguém que não fosse matemático,
seu artigo deveria ser aborrecido em extremo. —Bem, espero que ao menos passasse o resto da noite bem.
—Passei sim.
Ela riu e se olharam um ao outro fixamente um momento com inesperado e singelo prazer. Lentamente
Lydia se relaxou contra o respaldo da cadeira.
—A não ser gostar de matemática, o que mais gosta?
—Pescar trutas. Ler jornal em cafeterias. Passear por Londres ao amanhecer. —seu olhar se posou em
seus lábios. —Beijar nas adegas.
Ela conteve o sorriso diante do comentário picante.
—me diga do que você gosta. —disse ele.
—O bilhar, a arquitetura e pintar aquarelas, embora seja péssima pintando. Também eu gosto de jogar
cartas, mas só com meu pai, ele é o único que consegue ganhar alguma vez —Também beijar nas adegas,
pensou Lydia ironicamente. Ficando de pé, rebuscou no armário que havia junto à mesa, tirando dali um
saca-rolha, um raspador de cera e um par de taças. — Conheço algo que você gostará —disse ela,
assinalando com uma taça vazia uma prateleira próxima a ele. —Olhe à direita da fila inferior, uma garrafa
com a etiqueta dourada e verde. Um d’Yquem Sauterne... O melhor porto que tenha provado.
Agachando-se para pegar o porto, Jake lançou um irônico olhar.
—Nós também temos direito. —disse ela. —Quem sabe quanto tempo ficaremos presos aqui? Cedo ou
tarde o mordomo virá buscar mais vinho, mas enquanto isso podemos tratar de se sentirmos o melhor
possível.
Jake tirou a garrafa da prateleira e a pôs sobre a mesa. Com mãos peritas passou o raspador ao redor do
selo da cortiça, depois agarrou o cabo do saca-rolha. Lydia ficou hipnotizada pelo movimento de suas mãos,
tão hábeis e cheias de graça quando torceu o espiral metálico na cortiça e a tirou da boca de vidro da garrafa.
A lembrança da gentil habilidade com que aquelas mãos grandes tinham acariciado seu rosto e seu seio, fez
com que Lydia sentisse uma pontada de prazer sob o estômago.
Depois de verter o avermelhado e denso líquido nas taças, Jake sentiu um, especial cuidado em não lhe
roçar os dedos.
—Por suas bodas. —disse ele abruptamente, e eles chocaram as taças.
Lydia bebeu, o embriagador sabor do caro vinho passando agradavelmente por sua garganta.
Ela voltou a sentar-se na cadeira, enquanto Jake tirava o casaco e se sentava sobre a mesa.
— Em que estás trabalhando? —perguntou ele, folheando o papel que ela tinha deixado junto à bolsa,
cheio de símbolos matemáticos.
—Desenvolvimento um conjunto de fórmulas para uma máquina de análise de probabilidade. Uns
amigos do Museu Mecânico de Londres estão desenhando e me convidaram a colaborar.
— Para que servirá?
—Poderia servir para calcular os resultados de jogos de azar, ou até para objetivos mais sérios, como a
estratégica militar ou a economia. —Lydia se entusiasmou com o tema, enquanto ele a escutava com atenção
— Meus amigos, que sabem de mecânica mais que eu, inventaram um sistema que usa dente de cobre para
representar símbolos e números. É obvio, nunca será construída, já que requereria milhares de partes
especializadas, e isso ocuparia um edifício inteiro.
Jake pareceu enormemente divertido diante dessa ideia.
— Todo esse trabalho para uma máquina imaginária?
— vais zombar de mim? —perguntou Lydia, enrugando a testa.
Jake sacudiu a cabeça devagar, ainda sorrindo.
—Que cérebro tão notável você tem. —o comentário não pareceu uma brincadeira, absolutamente. De
fato, sua expressão estava cheia de admiração.
Lydia bebeu uns goles de seu porto, tentando ignorar a forma em que o tecido das calças de Jake se
esticava sobre suas musculosas coxas. Ele era uma extraordinária criatura masculina, um libertino com tristes
e enfastiados olhos. Sem esforço, ela poderia levantar-se e colocar-se entre o espaço de seus músculos, e
arremessar sua cabeça para a sua. Desejava beijá-lo de novo, explorar sua deliciosa boca, sentir suas mãos
acariciando seu corpo. Em troca, permaneceu sentada, olhando-o com o cenho franzido. Não pôde evitar
perguntar quantas outras mulheres haveria sentido essa mesma atração.
— No que está pensando? —perguntou ele.
—Pergunto-me se na verdade é um libertino como afirmam.
Ele considerou a pergunta com cuidado.
—Não sou um modelo de virtude. —admitiu ele.
—Tem reputação de sedutor de mulheres.
O rosto de Jake era inexpressível, mas ela sentiu o desconforto que seu comentário tinha causado.
Permaneceu tanto tempo silencioso que pensou que não ia responder. Entretanto, ele foi obrigado a
enfrentar seu olhar, e falou rigidamente.
—Nunca seduzi ninguém. E nunca me deitei com alguém que solicitou meus serviços profissionais. Mas
em alguma ocasião tomo o que me oferece.
O frio e escuro interior do porão os envolvia como em um casulo, isolando-os do exterior onde as
garotas solteiras não discutiam temas indecentes, onde ela não teria a possibilidade de falar com intimidade
com o homem que a tinha incomodado e fascinado durante anos.
— Por quê? —perguntou ela brandamente. —Porque se sentia sozinho?
Ele negou com a cabeça.
—Não, não é solidão. Mas bem é a necessidade de... Distração.
— Distração do que?
Ele poderia desviar facilmente a questão. Em troca, olhou-a fixamente, com olhos tristes.
—Sem falsa modéstia, sou muito bom no que faço, mas em minha profissão, encontrar morte e dor é
inevitável. Às vezes é o inferno na terra, tentando ajudar a alguém com uma ferida mortal ou uma
enfermidade incurável, tendo um marido ao lado que me pede que salve sua esposa, ou a uma criança que
me pede que não deixe morrer sua mãe. Frequentemente, apesar de meus melhores esforços, fracasso. Tento
encontrar as palavras corretas, oferecer consolo, dar uma explicação de por que passam por essas coisas...
Mas não há palavras. —seu rosto se inclinou parcialmente, mas ela viu o fraco rubor que coloria sua
bochecha bronzeada. —Lembro do rosto de cada paciente que morreu sob meus cuidados. E nas noites que
não posso deixar de pensar neles, necessito algo... Alguém... Que me ajude a esquecer. Ao menos durante um
momento —deu uma olhada com cautela— Ultimamente isto não está funcionando muito bem.
Lydia nunca tinha imaginado que ele falaria com tão crua honestidade. Parecia tão seguro de si mesmo,
tão invulnerável.
— Por que segue então sendo doutor, se isso te produz infelicidade? —perguntou ela.
A garganta de Jake produziu um som entrecortado pela risada.
—Porque tem dias que consigo fazer as coisas irem bem e então ajudo a alguém a viver contra todo
prognóstico. Às vezes me chamam para que vá ajudar a nascer um bebê, e quando vejo essa nova vida em
minhas mãos, me encho de esperança. —ele sacudiu a cabeça e olhou fixamente a parede, como se olhasse
através de uma grande distância. — Vejo milagres. De vez em quando o céu sorri às pessoas que mais o
necessita, e eles recebem o melhor presente de todos, uma segunda oportunidade para viver. E então
agradeço a Deus por ser médico e sei que nunca poderei ser outra coisa.
Lydia o olhou como se tivesse recebido um golpe, enquanto seu coração pareceu contrair-se com uma
doce dor. OH, não. Pensou ela com um sentimento confuso e de pânico.
Em um momento, toda sua presunçosa auto complacência sumiu. Muito temia que se apaixonasse por um
homem ao qual conhecesse durante anos... Um homem tão familiar e de uma vez tão desconhecido.
Capítulo Quatro
Lisa Kleypas, vencedora do prêmio RITA, já escreveu 34 romances. Seus livros foram publicados em
28 idiomas, em diversos países. Ela mora em Washington com o marido e os dois filhos.
Sendo os livros da série Os Hathaways, e As Solteironas (The Wallflowers), os mais famosos
Em sua página na web, a autora conta: "Comecei a escrever romances porque sempre amei lê-los.
Indiscutivelmente, fui uma nerd durante toda a escola primária e, mesmo "florescendo" na secundária,
acredite, a nerd interior ainda estava aqui. Nunca pude imaginar um tempo melhor aproveitado do que lendo
um livro, e este amor pela leitura, com o tempo, se traduziu num profundo desejo de escrever um."
www.lisakleypas.com
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