Você está na página 1de 4

Página |1

AO ANJO DA IGREJA
AS CARTAS ÀS SETE IGREJAS

Texto principal: Apocalipse 3.22

As sete cartas, registradas nos capítulos 2 e 3 de Apocalipse, foram ditadas a João


pelo próprio Senhor Jesus. O conteúdo das mesmas está distribuído numa estrutura
comum, a saber: indicação do destinatário, designações de Cristo, aspectos positivos
da igreja, aspectos negativos, exortações ao arrependimento, ameaças, promessas de
vitória. Em todas as cartas ocorre o refrão: "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito
diz às igrejas".

Originalmente foram dirigidas às sete igrejas locais, históricas localizadas na Ásia


Menor, na região compreendida hoje pela Turquia, no final do Io século da era cristã.
Mas essas cartas contém estímulos, advertências e promessas para todas as igrejas,
em todas as épocas e em todos os lugares.

O ambiente histórico em que os fatos se desenrolaram é o da dominação romana,


especialmente sob a tirania do imperador Domiciano, que governou de 81 -96 d.C.

A linguagem simbólica é utilizada fartamente nas cartas. No quadro abaixo é


apresentada, resumidamente, a listagem dos símbolos e os possíveis significados.

SÍMBOLOS SIGNIFICADOS POSSÍVEIS


Sete Perfeição, totalidade
As sete estrelas Os pastores das igrejas
Os sete candeeiros As sete igrejas
Ouro Valor e durabilidade
A árvore da vida A experiência da vida eterna
O primeiro e o último Em referência a Cristo, indica sua vitória e preeminência
Dez dias Período não muito longo de tempo
A coroa da vida Indicação da vitória eterna sobre a morte
A espada afiada de dois guines Juízo e vingança
A segunda morte Morte espiritual; condenação eterna
O maná escondido Alimento espiritual
A pedrinha branca com um novo Símbolo de vitória e distinção, bem como garantia de
nome entrada e participação no reino
Olhos como chama de fogo Ira e juízo iminentes
Pés como bronze polido Firmeza e determinação
A estrela da manhã A vida eterna gloriosa em Cristo
Os sete espíritos de Deus Alusão à plenitude do Espírito Santo
Vestiduras brancas A condição de pureza espiritual que caracteriza a vida
celestial
A chave de Davi A autoridade para abrir as portas do reino de Deus aos
homens
Coluna no santuário de Deus Solidez e estabilidade quanto à participação no reino
porvir.
Sobre as cidades onde estavam as igrejas, é importante saber o seguinte:

• Éfeso - Estrategicamente localizada, tornou-se o centro comercial, político e


religioso da Ásia. Era a sede do culto à deusa Diana, que os gregos chamavam
Ártemis. Em Éfeso, praticava-se em larga escala a feitiçaria.

• Esmirna - Cidade portuária, rica e próspera. Era um importante centro de culto


ao Imperador romano. Havia ali uma forte colônia de judeus, hostis à igreja
cristã, os quais foram chamados sinagoga de Satanás.

www.semeandovida.org
Página |2

• Pérgamo - Importante centro político, religioso e cultural. Tornou-se, na Ásia, o


principal local de adoração ao Imperador romano. Era também o centro de
cultos a vários deuses, principalmente Zeus, Atenéia, Dionísio e Esculápio.

• Tiatira - A importância dessa cidade era apenas no âmbito comercial. Havia ali
diversas corporações comerciais, especialmente de manufaturados têxteis.
Lídia era dessa cidade (At 16.14). O local é habitado até hoje.

• Sardes - A história de Sardes era respeitável. Tinha sido capital do reino da


Lídia (sexto século a.C.) e, posteriormente, um centro do governo persa. Nos
dias de João, a cidade já se tornara pouco relevante. A sua localização, junto a
um importante entroncamento de estradas, dinamizava a sua indústria e
comércio de lã e tinturaria. A vida social de Sardes era acentuadamente
luxuosa, dissoluta e secularizada.

• Filadélfia - Era uma cidade castigada por terremotos. Tornou-se notável pelo
número de templos e festividades religiosas. É habitada até hoje. Podem-se
ver ali muitas ruínas da antiga cidade.

• Laodicéia - Localizada no entroncamento de três estradas importantes, tornou-


se um grande centro bancário e industrial. Era famosa pela qualidade de seus
produtos de lã e também pela escola de medicina que ali existia,
especialmente na área oftalmológica.

Em algumas das cartas encontram-se referências aos "nicolaítas" (2.6), aos que
sustentavam a "doutrina de Balaão " (2.14), e aos seguidores de "Jezabel" (2.20).

Parecem ser todos adeptos de seitas que tinham em comum a idolatria, o comer
coisas sacrificadas a ídolos, a prostituição e a lealdade ao Imperador.

Em cada uma da sete cartas, podem-se ver desafios atuais, pertinentes e não menos
urgentes para a Igreja do Senhor também hoje. São eles:

1 - EQUILÍBRIO DO ZELO COM O AMOR


A primeira carta é dirigida à igreja de Éfeso (2.1-7). Essa era uma igreja ativa.
Valorizava a realização e a preservação da doutrina. Soube repelir as heresias e foi
elogiada pelo Senhor (vv. 2,3,6).
Entretanto, o zelo para com o serviço e a doutrina não são suficientes. A igreja estava
falhando no mais importante: o amor (v.4).

Em carta escrita a essa igreja antes, Paulo ensinou sobre a necessidade de se


associar a verdade com o amor (Ef 4.15,16). As realizações e a orto-doxia da igreja
tornam-se nulas quando destituídas de amor (I Co 13.1-3). O zelo deve ser equilibrado
com o amor: amor a Deus e ao próximo.

2 - DEMONSTRAÇÃO DE FIDELIDADE INCONDICIONAL


A segunda carta é dirigida à igreja de Esmirna (2.8-11). Das sete igrejas, esta é a
única que existe até hoje. Essa igreja era pobre sob o ponto de vista material, pois os
crentes tiveram os seus bens confiscados.

Mas, por outro lado, era uma igreja espiritualmente rica (v.9). Nenhum ponto negativo
é mencionado na vida dessa igreja. Ela é estimulada pelo Senhor a continuar
evidenciando uma fidelidade incondicional.

www.semeandovida.org
Página |3

Naquele contexto, ser crente significava correr risco de vida, como aconteceu, por
exemplo, com o bispo Policarpo, condenado à morte aos 86 anos de idade, por causa
de sua fé em Cristo.

A firmeza de nossa fé não pode ficar condicionada às circunstâncias em que vivemos.


Somos desafiados, portanto, a cultivar uma fidelidade incondicional (Mt 10.28-33).

3 - RESISTÊNCIA À SEDUÇÃO DO MUNDANISMO


A terceira carta é dirigida à igreja de Pérgamo (2.12-17). Essa igreja enfrentou
corajosamente as pressões da religião imperial e permaneceu firme no Senhor (v.13).

Mas, infelizmente, não soube resistir à sedução do mundanismo (vv. 14.15). Isso
mostra que nem sempre o que ameaça a igreja são as forças hostis, mas sim, as sutis.
A igreja de Pérgamo se deixou seduzir, mostrando-se extremamente tolerante para
com alguns falsos profetas e suas pregações perniciosas.

A relativização de valores, hoje, tem feito com que muitas igrejas adotem e tolerem
conceitos e práticas errôneos, os quais têm a aquiescência da sociedade, mas não
têm respaldo bíblico. E oportuna a recomendação de Paulo: "não vos conformeis com
este século... " (Rm 12.1,2).

4 - VALORIZAÇÃO DA SANTIFICAÇÃO
A quarta carta é dirigida à igreja de Tiatira (2.18-29). Essa igreja se distinguiu em
virtude de suas obras, amor, fé e serviço. O resultado de suas realizações era notável
(v. 19).

O erro de Tiatira foi pensar que a fé cristã tem apenas um caráter filantrópico. As suas
boas obras estavam mescladas de idolatria e prostituição (v.20). Eram tolerantes para
com uma conduta de vida pagã, marcada por frouxidão moral.

A ignorância aos preceitos do Senhor e o esvaziamento dos conceitos de moral,


pureza e santidade, têm levado muitos crentes e igrejas a adotar uma conduta que
revela pouco valor à vida de santificação. Vale a pena recordar o que diz a Bíblia (Lv
11.44; Rm 6.22; II Co 6.14-18; 7.1).

5 - BUSCA DE REAVIVAMENTO ESPIRITUAL


A quinta carta é dirigida à igreja de Sardes (3.1-6). O problema dessa igreja era a
hipocrisia. O que ela apresentava não correspondia à realidade. Tinha só nome;
estava praticamente morta (vv. 1,2).
Essa igreja é o retrato de muitas outras hoje que causam uma ótima impressão, mas
cuja realidade espiritual é péssima. As vezes, a visão que temos dessas igrejas é que
são fortes, fraternas e consagradas.

Mas a radiografia que Deus faz delas é desanimadora, pois "o homem vê o exterior,
porém o Senhor, o coração" (I Sm 16.7). Toda igreja deve estar aberta à experiência
do reavivamento espiritual; o reavivamento que vem de Deus (Hc 3.2). Viver só de
nome e de aparência não adianta (Is 29.13).

6 - EXPERIÊNCIA DA FORÇA QUE NASCE EM MEIO À


FRAQUEZA
A sexta carta é dirigida à igreja de Filadélfia (3.7-13). A exemplo de Esmirna, não
foram apontadas falhas na igreja de Filadélfia. As suas grandes qualidades eram a
fidelidade e a perseverança (v.8).

www.semeandovida.org
Página |4

A igreja é exortada a continuar firme e é estimulada com a garantia da vitória (vv. 9-


12). Filadélfia é o retrato de uma pequena igreja e uma grande vitória. É como diz o
poeta sacro: "Não é dos fortes a vitória, nem dos que correm melhor. Mas dos fiéis e
sinceros que seguem junto ao Senhor".

Filadélfia é um belo exemplo para aquelas comunidades de hoje que se julgam


pequenas, fracas, impotentes e que pensam que pouco podem fazer para o reino de
Deus.

Como diz Paulo, é da fraqueza que brota a força (II Co 12.10). Os pequenos e fracos
conhecem melhor o que significa depender do Senhor e viver na Sua força. As
transformações, muitas vezes, nascem da periferia, com os fracos e marginalizados (I
Co 1.26-29).

7 - VITÓRIA SOBRE A INSENSATEZ DA AUTO-SUFICIÊNCIA


A sétima carta é dirigida à igreja de Laodicéia (3.14-22). Essa igreja foi a única a não
receber nenhum elogio. A sua situação é dramática; está a ponto de ser vomitada pelo
Senhor.

Talvez influenciada pelo contexto em que estava, a igreja assumiu uma postura
materialista e auto-suficiente. A tepidez, a presunção, a pobreza e a cegueira espiritual
são os grandes males dessa igreja, e é por isso que o Senhor não a suporta mais (vv.
15-17). Mas em virtude de seu grande amor, o Senhor ainda oferece à igreja uma
oportunidade.

Ela é exortada a buscar em Deus as verdadeiras riquezas (v. 18); a arrepender-se


(v.19); a dar lugar ao Senhor como resposta ao Seu amor (v.20).

Os tempos atuais têm exercido sobre muitas igrejas uma forte influência no sentido de
conduzi-las a uma visão materialista da vida e à auto-suficiencia. Há igrejas, hoje, que
se tornaram mais notáveis do que o Senhor a quem pregam.

A auto-suficiência é uma insensatez que deve ser vencida o quanto antes. Por
enquanto, o Senhor ainda está à porta, bate e deseja entrar.

DISCUSSÃO
1. Em sua opinião, como Cristo vê a igreja a que você pertence?
2. Dos problemas apontados nas igrejas do Apocalipse, quais são os mais comuns
nas igrejas hoje?

AUTOR: REV. ENEZIEL PEIXOTO DE ANDRADE

www.semeandovida.org

Você também pode gostar