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HORIZONTE
Belo Horizonte
2011
1
ESCOLA DE BIODANZA SISTEMA ROLANDO TORO DE BELO
HORIZONTE
Diretora
Liliana Viotti
Orientadora
Jozânia Miguel Chaves
Belo Horizonte
2011
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3
Agradecimentos
Aos meus pais, Maurício e Cida, por todo amor, carinho, paciência e
apoio em meus projetos.
4
A todas as mulheres que participaram dos grupos e oficinas que
conduzi. Pelas trocas, pelos aprendizados, pelo compartilhar de suas vidas.
5
“Alma vai além de tudo que o nosso mundo ousa perceber.
Casa cheia de coragem, vida, toda afeto que há em meu ser,
te quero ver, te quero Ser, alma”. (Milton Nascimento)
6
“Existe uma vitalidade, uma força vital, uma energia, uma
vivacidade que é traduzida em ação por seu intermédio, e como
em todos os tempos só existiu uma pessoa como você, essa
expressão é única. Se você a bloquear, ela jamais voltará a se
manifestar por intermédio de qualquer outra pessoa e se
perderá”.
(Martha Graham).
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Dedico esta monografia à VIDA!
8
SUMÁRIO
Considerações Pessoais............................................................................10
Apresentação ...........................................................................................12
Introdução ................................................................................................13
Capítulo 1: Olhares e Conceitos sobre Instinto........................................16
Capítulo 2: Vias de Acesso à Voz Primordial..........................................29
Capítulo 3: A Importância da Conexão com a Voz Primordial...............41
Capítulo 4: Do Instinto à Transcendência.................................................45
Capítulo 5: Uma experiência em grupo de mulheres................................51
Capítulo 6: Conclusão.............................................................................. 65
Referências Bibliográficas....................................................................... 69
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Considerações pessoais
1
Cultura que dita comportamentos e formas de ser.
10
A VOZ PRIMORDIAL : Retorno à origem
Sonhei com uma onça que estava presa e era alimentada por
outros.
Até que...
(um sonho que tive neste ano de 2011, um pouco antes de começar a
escrever a monografia).
11
Apresentação
12
No segundo capítulo apresento algumas vias de acesso, ou seja,
caminhos terapêuticos que podem nos auxiliar a reconectar com esta força
vital em nós.
2
SanClair Lemos é Facilitador Titular-Didata de Biodanza e Mestre em Educação Física.
13
impulso que, segundo Toro, nos leva a conservar a vida e que ao longo do
tempo vem sendo represado pelas civilizações. Algo que é essencialmente
natural, tornou-se extremamente distante para o homem contemporâneo.
3
Termo utilizado por Sanclair Lemos- maratona de Transcendência/2008.
4
O conceito de natureza abordado refere-se ao ambiente ecológico e o de natureza íntima refere-se à
dimensão interna mais essencial do ser humano. Uma pode ser extensão da outra. “Cada um de nós é sua
própria Natureza, seu próprio meio ecológico. Vivemos em nós mesmos; o meio em que vivemos
primariamente é o nosso próprio ser”. (SanClair, 1996).
14
Identificados com os elementos da natureza que os cercavam, não
existia a noção de separatividade homem-natureza, por conseqüência não
havia exploração ou a ilusão contemporânea da supremacia do homem
sobre todas as coisas.
5
Avatar é um filme americano de ficção científica de 2009, escrito e dirigido por James Cameron. O
filme, tem seu enredo localizado no ano 2154 e é baseado em um conflito em Pandora, uma das luas
de Polifemo, um dos três planetas gasosos fictícios que orbitam o sistema Alpha Centauri. Em Pandora,
os colonizadores humanos e os Na'vi, nativos humanóides, entram em guerra pelos recursos do planeta e a
continuação da existência da espécie nativa. (fonte: Wikipédia. Acessado em 12/10/11)
15
CAPÍTULO UM: “OLHARES” E CONCEITOS SOBRE
INSTINTO
16
Poeticamente a autora, semelhante a Rolando Toro, apresenta a idéia
do instinto como algo inato e herdado:
“Cada uma de nós recebe uma célula refulgente que contém todos
os instintos e conhecimentos necessários para a nossa vida.” (PINKOLA,
1999, p. 27).
17
Rolando Toro cita ainda, diversos autores ao tratar sobre os instintos,
discorrendo sobre antigas discordâncias entre linhas de pesquisa que
defendem os instintos como algo inato, e do outro, nas chamadas linhas
culturalistas- que defendem a influência da cultura sob o comportamento
humano, desconsiderando a influência do instinto sobre o mesmo.
6
Vivência é "a experiência vivida com grande intensidade por um indivíduo em um lapso de
tempo aqui - agora (gênese atual) abarcando as funções emocionais, cenestésicas e orgânicas. (Rolando
Toro, 1968- Apostila Vivência- Curso de Formação em Biodanza).
7
Apostila: Aspectos Psicológicos- Curso de Formação em Biodanza, p. 6
18
Reconhecer a base instintiva da vida como fundamental, assim como
também incluir o valor das emoções, sentimentos, pensamentos,
considerando a escala evolutiva humana, nos leva para uma visão sistêmica
e integrada do ser humano.
19
Na busca por aprofundar um pouco mais sobre o que nos apresenta
Rolando Toro sobre o instinto e sua inter-relação com as emoções, com a
razão e principalmente com nossa maneira de “estar-no-mundo” e de se
relacionar entre nós mesmos, seres humanos, encontrei o neurocientista
Paul MacLean (1973). Em seus estudos sobre a evolução das espécies, ele
observa que tal como uma árvore que ao longo dos tempos, acrescenta
camada sobre camada de córtex, nosso cérebro segue também assim:
“agregando” camadas que vão, desde o cérebro típicas de um réptil,
passando por uma camada, com características de um mamífero, até
finalmente os de um ser humano. Sua criação foi denominada “cérebro
triuno”.
8
Fonte Imagem: http://guerreirodaluzblog.blogspot.com/2009/05/teoria-do-cerebro-triunico.html.
Visitado em 20/10/11.
9
Fonte: site:www.cienciaweb.com.br. Visitado em 15/11/11.
20
A primeira estrutura arcaica - o cérebro nodal- originalmente
chamado de reptílico é responsável por funções básicas como controles
autonômicos do coração, respiração, digestão, assim como pelas funções do
cortejar, do acasalamento, da busca de abrigos, e outros sem os quais não
haveria a sobrevivência do organismo. É a parte responsável pelas ações
rápidas adequada para decisões vitais como ataque ou fuga.
21
Instituto Tecnológico da Califórnia, Sperry, Gazzaniga y Bogen10, está
dividido em dois hemisférios (esquerdo e direito) com funções específicas.
O hemisfério esquerdo é responsável pelos processos de raciocínio
lógico, função de análise, síntese e em geral sua maneira de decifrar as
coisas se dá por partes e não por uma visão do todo. Já no hemisfério
direito se dão os processos associativos, imaginativos e criativos. A visão é
globalizada, tendendo a ver as coisas como um todo único.
No neocórtex, alem de incluir o passado e o presente, inclui também
o futuro, trazendo assim uma capacidade de planejar, antecipar e visualizar.
10
El Cerebro Triuno de Paul MacLean, Daniel Pastor in http://es.scribd.com/doc/4742292/El-Cerebro-
Triuno-de-Paul-McLean, acesso em 27 de novembro de 2011.
11
Fonte: site: http://www.monografias.com/trabajos56/comprender-cerebro/comprender-cerebro2.shtml).
Visitado em 20/11/11.
12
Georgii Ivanovich Gurdzhiev, mestre espiritual greco-armênio. Ensinou a filosofia do
autoconhecimento profundo, através da lembrança de si. (1866-1949).
22
sobre “o homem e os seus três cérebros”: um para o espírito, outro para a
alma e ainda outro para o corpo.13
13
Uma educação para evolução pessoal e social, in:
http://www.claudionaranjo.net/pdf_files/education/education_ch_4_portuguese.pdf, acesso em 25/11/11.
23
Essas análises e afirmações nos remetem ao olhar cultural
contemporâneo supervalorativo para a cognição, em detrimento da própria
afetividade e também dos instintos.
24
exacerbadas, como por exemplo, nas manifestações de violência . Então, o
que se vê e “julga” são os efeitos “colaterais” do próprio instinto reprimido.
“hambre del alma também implica a privação dos atributos da alma: (...)
dos dons instintivos. Se um mulher tem de ser bem educada e só senta com
os joelhos bem juntinhos; se ela foi criada de modo a baixar a cabeça
diante da linguagem grosseira; se nunca lhe foi permitido beber nada...
(...) quando ela se liberar, cuidado!” (PINKOLA, 1999, p. 289).
Rolando Toro aponta que as repressões dos instintos não são somente
em nível das normas morais ou das estruturas político-sociais, mas de toda
uma cultura dissociativa: “o instinto alimentar é destruído pelos hábitos de
25
alimentação criados pela publicidade, pelo consumo de alimentos
adulterados; o instinto de ninho é destruído pela construção de cidades....”
E continua:
26
1.5. A sabedoria dos instintos: sua bipolaridade
27
Aspectos Instintivos Bipolares e Complementares14
Migratório Regressivo
Territorial-guarida, ninho Exploratório
Curiosidade, busca de estímulos Necessidade de regularidades
novos
Sedução, exibicionismo Ocultamento, mimetismo
(camaleão).
Fome Saciedade
Luta Fuga
Gregário Isolamento
Repouso Atividade
14
Apostila Aspectos Psicológicos de Biodanza, p. 8.
28
CAPÍTULO DOIS: VIAS DE ACESSO À VOZ
PRIMORDIAL
2.1. A Dança
A voz primordial nos remete a uma sabedoria visceral. Ela pode até ser
“traduzida” e explicada posteriormente a nível cognitivo, porém o acesso a
ela não passa pelo racional, mas sim pelo corpo, pela sensação, pelo
movimento, pelo ser em estado de vivência.
29
Em Biodanza, a vivência é induzida pela dança/movimento, pela
música e pelo encontro. Neste momento, os estímulos ao córtex são
praticamente suspensos e as funções límbico-hipotalâmicas que
correspondem às emoções, como já abordamos no capítulo anterior, são
super estimuladas. Podemos então afirmar que a metodologia vivencial da
Biodanza nos oferece caminhos e pontes de acesso a este lugar intrínseco a
nós mesmos.
30
vivência, realizar a “passagem”, a transmutação do padrão emocional
antigo.
Dessa maneira:
Por essa força a “Biodanza tem sua inspiração nas origens mais
primitivas da dança” sabendo-se que: “O primeiro conhecimento do
mundo, anterior à palavra, é aquele que chega a cada um de nós por meio
do movimento. (...) a dança surge das profundezas do ser
humano”.(Rolando Toro).
15
http://pt.scribd.com/doc/7018825/Manual-de-Conceitos-Da-Diversidade) . Acessado em
20/11/11.
32
E é deste lugar das “profundezas” que ela possibilita o acesso à voz
primordial.
33
acesso aos animais como forma de resgatarmos potencialidades vitais.
Durante toda a obra do livro Mulheres que correm com os lobos, esta
autora faz o paralelo entre a mulher saudável, vinculada a seus instintos, e
os lobos em sua natureza selvagem. Veja o que ela escreve através de um
belo olhar de como o instinto se manifesta nestes dois seres:
“uma loba matou um de seus filhotes que estava mortalmente ferido. Para
mim foi como uma dura lição sobre a compaixão e a necessidade de
permitir que a morte venha aos que estão morrendo. As lagartas cabeludas
que caíam dos seus galhos e voltavam a subir, arrastando-se, me
ensinaram a determinação. As cócegas do seu caminhar no meu braço me
revelavam como a pele pode ter vida própria. Subir ao alto das árvores me
mostrou como seria o sexo um dia.”
16
O xamanismo é um termo genericamente usado em referência a práticas etnomédicas, mágicas,
religiosas (animista, primitiva) e filosóficas (metafísica), envolvendo cura, transe, supostas metamorfoses
e contato direto entre corpos e espíritos de outros xamãs, de seres míticos, de animais, etc. (Fonte:
wikpedia).
34
sentia uma afinidade maior. A estes animais, dava-se o nome de “animal de
poder”, conforme relata o antropólogo Michael Harner 17( 1980, p. 99 ):
“A conexão entre os humanos e o mundo animal é essencial no xamanismo
(...)”
Cada animal pode ser invocado de diversas formas: pelo som dos
tambores; pelas cartas do tarô; pelas danças que caracterizam os animais de
poder, onde o dançarino incorpora e vivencia seu arquétipo, etc.. Essas
mesmas técnicas são utilizadas hoje em práticas xamânicas, como descreve
o antropólogo Michael Harner (1980, p. 102):
No xamanismo, antigo sistema pouco conhecido no Ocidente, está um auxiliar inestimável da medicina
moderna, e um trabalho cativante de investigação psicológica e espiritual.(Harner,1980).
17
Michael Harner é professor de antropologia na Graduate Faculty of the News
School for Social Research de Nova York. Foi professor visitante nas Universidades de
Columbia e Yale, e na Universidade da Califórnia, em Berkeley, onde recebeu seu
Ph.D. e serviu como diretor-assistente do Museu Lowie de Antropologia. Seu trabalho
de pesquisa levou-o repetidas vezes ao Alto Amazonas, às florestas da América do Sul,
bem como ao oeste da América do Norte e ao México.
35
“Dançar, com o acompanhamento do tambor, é o método
mais comum empregado pelos xamãs, em grande parte do mundo
primitivo, para alcançar o estado de consciência suficiente para ter a
experiência. A iniciação dos xamãs entre os índios do Caribe, no norte da
América do Sul, por exemplo, envolve uma dança noturna durante a qual
os
neófitos se movem imitando animais. Isso é parte do processo através do
qual se faz o aprendizado de como se transformar em animal.”
“os animais foram nossas primeiras auto imagens. Quando o homem não
havia configurado a sua identidade, confundido no “todo” da natureza, os
animais eram aspectos de sua própria corporeidade...” (Rolando Toro).
“As danças dos animais devem ser nossos novos ritos: recuperar
nosso tigre, nossa serpente, nossa garça, nosso hipopótamo. Temos
que despertar em nós a euforia de viver. Temos que salvar, para
nossa alegria, o salto, o vôo, o canto e permitir que surjam milhões
de animais de nosso coração...(TORO, 1991,p. 501).
O paradoxo sábio desta questão é que aquilo que mais nos assusta
pode representar aquilo de que mais necessitamos.
Às vezes nos causa medo, pois são forças adormecidas em nós, acessando-
as, talvez mudemos nossa vida, redirecionaremos nossas escolhas
existenciais.
Sairemos da opressão.
38
2.3. Projeto Minotauro
39
“(…) Para realizar modificações profundas da expressão instintiva, o
Projeto Minotauro cria um ambiente com solicitações extremas, de
estimulação instintiva. A ação estimuladora se realiza através de
“desafios”, no nível motor arcaico, no nível receptor - como mecanismos
de desencadeamento inato, no nível dos impulsos endógenos viscerais e,
finalmente, nas disposições inatas para a aprendizagem”.
40
CAPITULO TRÊS: A IMPORTÂNCIA DA CONEXÃO
COM A VOZ PRIMORDIAL
41
Quando Clarissa Pinkola (1999) comenta que o contato com a
“mulher selvagem” pode ser percebido em várias situações como uma
“revitalizante prova da natureza” também afirma os efeitos saudáveis do
resgate da vida instintiva feminina,
“... pois com ela suas vidas criativas florescem, seus relacionamentos
adquirem significado, profundidade e saúde; seus ciclos de sexualidade,
criatividade, trabalho e diversão são restabelecidos; elas deixam de ser
alvo para a atividade predatória dos outros, segundo as leis da natureza,
elas têm igual direito a crescer e vicejar.” (PINKOLA, 1999, p. 21).
18
Ruth Cavalcante é Psicopedagoga, Facilitadora Didata de Biodanza, Formação em Psicologia
Transpessoal, Educação de Adultos, Educação Especial. Pesquisadora e uma das precursoras da
Educação Biocêntrica.
42
“Quando Rolando Toro propôs a Educação Selvagem entendi a
idéia como um chamamento para que voltássemos a ficar mais próximos
da natureza, olhar a vida instintiva não apenas naquilo relacionado com a
voracidade que garante a cadeia biológica, mas considerando a
possibilidade de o ser humano vir a expressar-se por inteiro, através dos
instintos, naturalmente, como os outros animais o fazem, garantindo a
conservação da vida.(CAVALCANTE, 2001, p. 7).
43
Analisando estes trechos acima citados, sinto que ao acessar essa
força instintiva, ela nos coloca mais “sensorialmente” conscientes, com
uma maior capacidade de “farejar” e distinguir o que realmente traz vida
para nós. Acessar a voz primordial nos põe visceralmente conectados ao
nosso caminho essencial.
44
padrões emocionais/ comportamentais que nos deixam estagnados. A voz
primordial é a força interna que irrompe a favor da vida.
45
Para se vivenciar a transcendência ou este lugar em que nos
encontramos mais conectados com o nosso núcleo essencial, expressão
citada por SanClair Lemos, é preciso percorrer um caminho. Um caminho
que nos integre, um caminho que inclua tudo que somos.
19
Ariadne, segundo a mitologia grega, é a filha de Minos, rei de Creta. Apaixonou-se por Teseu quando
este foi mandado a Creta , voluntariamente, como sacrifício ao Minotauro que habitava o labirinto
46
“O amor vem a ser a força integradora e estruturadora da existência. A
linha de vivência da afetividade é organizadora dos sistemas biológicos.
Essa força se expressa de diversas maneiras chamadas amor e estrutura,
integra e organiza o funcionamento do sistema vivente humano. O amor é
o caminho de acesso para a transcendência; não é sentimentalismo, não é
emocionalismo, não é paixão, não é um contrato social. O Amor é a
percepção e a vivência de si e de outrem como parte e expressão da
divindade”.
construído por Dédalo. Ariadne, então, lhe deu uma espada e um novelo de linha (Fio de Ariadne), para
que ele pudesse achar o caminho de volta.
47
Estas reflexões nos remetem à idéia dos pólos “continuum” que
Rolando propõe no modelo teórico de Biodanza - eixo vertical onde as duas
polaridades são identificadas como caos- a origem- e integração e eixo
horizontal – identidade – consciência ampliada se si e regressão – retorno
ao primordial por meio do transe. Confira no modelo abaixo:
48
Nas palavras do próprio criador do método Biodanza: “Para
transcender, há de se retornar à origem; retomar a mensagem original. No
homem, o impulso de regressar às origens foi observado pelos
antropólogos em tribos primitivas”.
49
Dessa forma, o que parece aparentemente contraditório, são forças
complementares: a conexão com o instinto, com a força primeva do ser e a
profunda vinculação com o todo, são duas faces da “mesma moeda”.
20
Maratonas são os encontros mensais temáticos que fazem parte do curso de formação para facilitador
de Biodanza. Esta maratona de transcendência foi ministrada por SanClair Lemos, em 2008.
50
CAPÍTULO CINCO: UMA EXPERIÊNCIA EM GRUPO DE
MULHERES
51
Ao acompanhar estes grupos de mulheres, percebo o quanto estamos
desvinculadas de nossa natureza instintiva, dos nossos ciclos naturais, de
nossa força vital mais visceral.
52
É a própria Clarissa Pinkola que nos apresenta um caminho de
possibilidades para a mulher que se desvinculou do instintivo. Na obra “A
ciranda das Mulheres Sábias”, também de sua autoria, Clarissa Pinkola
(2007), novamente de forma poética, nos apresenta a fonte pulsante da vida
que reside “debaixo da terra”:
53
Clarissa Pinkola (2007, p 30) comenta que, não importa os desgastes,
intempéries que a mulher viveu ao longo de sua vida, há sempre uma fonte
“submersa” pulsando em seu interior, “empurrando-a para cima” em busca
de mais vida.
54
aposentada, uma começou a trabalhar fora na época do grupo, e uma delas,
desde que se casou, não trabalhou mais fora de casa.
55
Nos relatos de vivência, as experiências vivenciadas nas aulas eram
aliadas a conteúdos do universo delas, como a relação com os maridos, a
dificuldade de limites com os filhos, as mudanças que muitas estavam
vivendo com os filhos saindo de casa, a re-descoberta de desejos e sonhos
pessoais. Conteúdos que refletiam muito do contexto das mulheres desta
geração, encontrando pontos comum em suas histórias, mas também
diversidades na maneira de cada uma reagir às situações vivenciadas, que
enriqueciam o grupo.
56
nessa transição, destacando principalmente o acolhimento e a afetividade,
que para mim, foi a linha de vivência mais trabalhada neste grupo.
57
usar vestidos, a se expressar mais, a cantar com maior desinibição em um
coral que participava. O grupo comenta que D. era a mudança mais visível
do grupo.
~~~~~~~~~~~
58
Ficou claro o poder transformador e a capacidade de “recriar” a si
mesmo que um ambiente acolhedor proporciona.
Em uma das oficinas mais recentes (com oito encontros- dois meses
de duração), integrei várias passagens da obra de Clarissa Pinkola (1999)
com vivências de Biodanza. O processo foi extremamente fecundo e
transformador para o grupo.
59
Uma das participantes desta última oficina a qual chamei: Essência
Feminina, estava na época, “mergulhada” em seus estudos da obra de
Clarissa Pinkola- Mulheres que correm com os lobos. Com a permissão da
“autora”, transcrevo os poemas que ela escreveu durante a realização da
oficina, assim como seu comentário sobre este processo:
Recolhendo ossos
Aos quarenta
devorador.
-----
Estou no deserto.
60
da minha alma.
=====
Ninho
Quando retornar,
alma.
e da minha necessidade.
~~~~~~~~
61
O encontro
é morno
sou aquática
nascida
direção
Imensa no ser
tua
~~~~
Cansada? guerreira!
Retornar
62
Hora de voltar à superfície
transformada
o profundo.
trigo verde
retirou-me as escamas
"canguru"
~~~~~~
Desabotoamente
a alma do mundo
dos dedos
63
O compartilhar de M.C nestes poemas e em seus relatos de vivência
durante a oficina, revelam toda sensibilidade e força de uma mulher
resgatando sua vida visceral e instintiva. A Biodanza se apresenta como um
caminho que possibilita o acesso vivencial ao mais íntimo de si e a
expressão, pelo movimento pleno de sentido dessa força natural na vida.
Para mim, uma bela integração!
64
6. CONCLUSÃO
65
como citou Jung: “O homem sente-se isolado no cosmos (...), já não
estando envolvido com a natureza..” Ao priorizarmos algumas dimensões
humanas, seja a racional, seja a espiritual, em detrimento de outras,
colocamo-nos como seres dissociados.
66
SanClair Lemos (1996) também se faz uma questão semelhante em sua
obra A vivência da transcendência: “Será possível o relacionamento com o
mundo a partir da identidade pura? A qual ele mesmo comenta: “não
podemos responder pois nos escapa o que seja a identidade pura”. (p. 16).
21
Em atendimentos psicoterapêuticos ou nos grupos e oficinas de Biodanza.
22
Veruska Gontijo é facilitadora de Biodanza. Participo de seus grupos há sete anos.
67
mesmo tempo nos sentimos profundamente vinculados ao todo, como
nossos irmãos primitivos.
“Alma vai além de tudo que o nosso mundo ousa perceber casa cheia de
coragem, vida, todo afeto que há em meu ser, te quero ver, te quero SER,
alma.”
68
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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-------. Antecedentes Míticos e Filosóficos de Biodanza. Biodanza: Sistema
Rolando Toro. Apostila do Curso de Formação Docente.
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