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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Porta, Mario Ariel González .


A filosofia a partir de seus problemas : didática e metodolog ia do
estudo filosófico / Mario Ariel González Porta . -- 4 . ed. -- São Paulo :
Edições Loyo la, 2014.
ISBN 978-85-15-02579-4
1. Filosofi a 1. T ítulo.

11 -14798 CDD-100

[ndices para catálogo sistemático:


1. Filosofia 100

Conselho Editorial:
Ivan Dom ingues (UFMG)
Juvenal Savian (U NIFESP)
Marcelo Perine (PUC-SP)
Mario A. G. Porta (PUC-SP)
Rogério Miranda de Almeida (PUC-PR)

Edição: Marcos Marcionilo


Preparação: Gisele Molinari
Capa: Inês Ruivo
Diagramação: Ronaldo Hideo lnoue
Revisão: Carlos Alberto Barbara
Joseli Nunes Brito
Maurício Balthazar Lea l

Ediç9es Loyola Jesuítas


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ISBN 978-85-15-02579-4
4ª edição: novembro de 2014
conforme novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa

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© EDIÇÕES LO YOLA, São Paulo, Brasil, 2002
3. 4. 2. Feno m ena Iog ia-h e rmen êuti ca

Entre fenomenologia e hermenêutica se desenvolve um


complexo jogo de influências. O interesse recíproco de Husserl
e Dilthey, por um lado, e, por outro, a explícita reformulação
da fenomenologia como hermenêutica em Heidegger são claros
r elementos em tal sentido. Por conseguinte, o vínculo que existe
entre fenomenologia e hermenêutica é diferenciado em relação
\ àquele que existe entre elas e a filosofia analítica, já que, em um
1caso, está ausente a ruptura que se constata no outro. Desde
tal ponto de vista, se legitimaria outorgar à hermenêutica e à
fenomenologia um tratamento comum, contrapondo-as em
conjunto à filosofia analítica. Todavia, hermenêutica e feno-
menologia não são o mesmo, e a pergunta por seus vínculos,
sobretudo desde o ponto de vista metódico, é uma questão
complexa que, sem desconhecer confluências, impede a simples
assimilação (seja esta unilateral ou recíproca). O fato inegável
de que fenomenologia e hermenêutica têm origens históricas
independentes não é pura contingência. Se concedemos o
anterior é claro que, se elas precisam ser entendidas como mo-

160 1 Exemplos
mentas da mudança de paradigma da teoria do conhecimento
à teoria da significação, o devem ser por si n1esmas e não por
seu vínculo à outra.

3.4.2.1. HERMEN ÊUTICA

Do mesmo modo que Frege é decisivo para a virada lin-


guística, Dilthey o é para a hermenêutica. Seu programa de
süpêração correlativa de empirismo e idealismo rompe com o
monismo epistemológico, propondo a existência de dois tipos
de ciências, possuidoras de objetivos e métodos diferentes. As
ciências naturais (Naturwissenschaften) buscam estabelecer leis
e seu objetivo é reduzir umas leis às outras, ou seja, explicar
(Erkldren); as ciências do espírito (Geisteswissenschaften), pelo
contrário, buscam compreender (Verstehen). ~'Compreender"
r
é partir de uma "objetivação" ou "expressão" (Ausdruck) do
espírito (Geist) (p1nturã,-romance, monu~~nto, si~funia, ato,
~ Ê_:! so~~lidade histórica), para se remontar à vivênci31 (Erlebnis)_a
_partir da qual ela se origina e na qual se sustenta. Em sua versão
original, pois, captar sentidos se assimila a uma "identificação
vivencial". As consequências psicologistas de uma tal postura
merecerão intensa crítica de seus contemporâneos, conduzindo
Dilthey a sucessivas reformulações de sua teoria inicial que aten-
tam crescentemente ao entendido enquanto tal. De todo modo,
o que é captado não independe do captar, nem muito menos
se torna uma entidade platônica autossubsistente, sendo talvez
no nexo do entender com a ideia de comunidade (Gemeinigkeit)
que o conceito diltheano de compreender encontre sua formu-
lação mais madura. Este fato não é secundário, mas responde a
uma motivação essencial. A compreensão implica algo mais que
uma relação puramente cé;gnitiva com· u~ -"objetÔ"~O sujeito
A-- torna-se "Vida" (Leben) e o objeto; ~':t4undo" (We~t).
No seu sentido- diltheano a "Vida" não é um evento biológi-
co nem deve ser pensada a partir de uma conceitualidade de tal

R unidade da filosofia c ontemporânea 1 161


tipo. Signi ficaçã o (Bedeutung), signif icativ idade (Bedeutsamkeit)
e conte xto (Zusammenhang) são os conce itos básic os ou catego-
rias (Lebenskategorien) a partir dos quais ela se torna inteligível.
A prime ira ocup a um lugar difere nciad o em relaçã o ao resto:
"Vida" é o âmbi to origin ário da signif icação (Bedeutung); signi-
ficação, o corre lato essen cial da "Vida". Não há "Vida" senão
V
ali onde há significação.
Em princ ípio e, difere nteme nt~ d ~_ se~ân tica, a herme -
n êutic a não parec e ser uma super ação radica l da teoria do
conhe cimen to mode rna mas apena s seu comp leme~ to;- s~
contr ibuiç ão se limita ria à propo sta de um novo inêtodo ~ien-
tífico conco rrente com o físico. Em seu desen volvim ento, entre-
tanto , ela explic ita seu verda deiro poten cial. Temo s que dirigi r
ao perío do herm enêut ico a mesm a pergu nta que já dirigi mos
aos outro s: que é o que condu z a ele? Assim como naJ losofi 3:
analít ica o sentid o é recon hecid o como conc!.iç_ã.2__do valor de
verda de, na herm enêut ica o enten der torna- s~ cq_n_çli ç-ão_d o ~
conhe cer. Só a partir do pano de fu_ndo de uma comp reensão /1
origin ária do mund o como totali dade (que não é redutí vel a
um capta r mero s sentid os prop9 sicion ais\ há c~nhe cimen to. O
conhe cimen to apare ce como um modo deriv ado de vincu làr-se
ao mund o que não é inteligível a partir de si, mas a partir da
Vida (Leben). A herm enêut ica posterior a Dilth ey, sobre tudo
em Heide gger; éfutua rá um significativo desen volvi mento desta
- - - -
ideia funda ment al.
A herm enêut ica, enqua nto teoria da interp retaçã o e com-
preen são, não só:su bstitu i a teoria do conhe cimen to, senão que
exige um funda ment o mais origin ário; a filoso fia da Vida (Lebens-
philosophie) passa a ocupa r o lugar da filoso fia transc enden tal.
Tal como se apres enta em Dilth ey; a h erme nêutic a con-
tém uma aspira ção emin entem ente m etódi ca que a conduz a
renun ciar a const ituir-se em "teor ia". Ideia funda mental é 0
aband ono d a prete nsão d e qualq uer "pont o arqui media no",

162 1 Exemp los


ou seja, de qualquer absoluto a partir do qual se construa um
;isten1a fundacional. O "começo" (Anfang) é a pura facticidade.
A ideia de "funda1nentação ,, é substituída pela ideia de «explici-
tação ". A filosofia enquanto cal torna-se basicamente atividade
de explicitação de estruturas significativas. Algo comparável, já
vimos, pode acontecer na análise linguística.

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