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INSTITUTO DE FÍSICA
FÍSICA BACHARELADO
História do Cálculo:
Fermat
São Paulo
2020
Introdução
Mesmo atuando em serviços públicos durante toda sua vida, Fermat manteve seu
interesse na matemática, em que continuou se comunicando com Beaugrand e se tornou
amigo do matemático Pierre de Carcavi. Durante uma viagem a Paris, Carcavi contou para um
outro matemático chamado Marin Mersenne sobre Fermat, fazendo com que começassem a
trocar cartas. Nestas conversas, Fermat relatou sobre como conseguia encontrar áreas abaixo
de espirais numa generalização do método de Arquimedes. Ao final das cartas costumava
deixar alguns problemas que ele já havia obtido as respostas para que os matemáticos do
grupo de Mersenne resolvessem, contudo estes problemas eram considerados muito difíceis, o
que fez com que Mersenne pedisse a divulgação das resoluções e logo recebeu um texto com
o título “método para determinar máximos e mínimos e tangentes a uma curva”, além da sua
restauração de Plane Loci e sua obra Ad Locos Planos et Solidos Isagoge.
Em 1638, Fermat fez diversas críticas à obra La Dioptrique de Descartes, dizendo que
René não havia deduzido corretamente a lei da refração. Quando Descartes teve conhecimento
do trabalho sobre máximos e mínimos e retas tangentes, ele ficou ainda mais irritado com
Fermat, pois estava ofuscando seu trabalho em La Géométrie. Então Descartes atacou os
métodos de Fermat, porém após envolvimento de outros matemáticos, ele admitiu que o
trabalho sobre máximos e mínimos estava correto. Contudo, como na época Descartes tinha
um maior reconhecimento por causa de seus trabalhos já publicados, mesmo se admitindo
errado, a reputação de Fermat foi manchada dentro da academia.
Em 1654, Blaise Pascal começou a trocar cartas com Fermat para discutir o problema
do jogo dos pontos: Como devem ser divididas as apostas num jogo de azar se o jogo terminar
antecipadamente? Eles iniciaram analisando a proporção de resultados favoráveis para cada
jogador em relação a todos resultados possíveis. A correspondência dos dois deu inicio ao
estudo da probabilidade.
Grande parte da exposição matemática de Fermat foi feita após a sua morte pelo seu
filho, pois não possuía a intenção de publicar seus trabalhos, então, dificilmente finalizava-os
e muitos deles eram enviados como cartas para seus amigos matemáticos, sem que o próprio
Fermat possuísse alguma cópia dos textos.
Fermat também realizou trabalhos na teoria dos números, mesmo que em sua época
não tivesse nenhum reconhecimento, já que nem eram entendidos na sua totalidade. Porém,
Euler reviveu muitos de seus trabalhos, prosseguindo com o estudo da teoria dos números.
Muitas vezes, Fermat restringia seus estudos aos números inteiros, o que o levou a se
interessar muito pelos números primos e divisibilidade. Uma de suas conclusões sobre
n
números primos foi que todos os números da forma: 22 +1 são primos, o que Euler pode
mostrar que não é válido para n = 5, pois é divisível por 641. Outro dos trabalhos de Fermat
nesta área foi afirmar que todo número primo da forma 4k +1 poderia ser escrito como a soma
de dois quadrados. Porém, seu trabalho mais famoso ficou conhecido com ‘O último Teorema
de Fermat’, que enunciava que: x n + y n=z n não possui solução para quando x, y, z ∈ N e n > 2.
Tal teorema foi enunciado na margem da tradução da obra Arithmetica de Diofanto, e nela
também escreveu que encontrara uma prova para este teorema, porém que não cabia na
margem daquele livro. Este último teorema só veio à tona após seu filho publicar a tradução
de Arithmetica e encontrar as anotações de seu pai. Muitos matemáticos tentaram provar tal
teorema, alguns conseguiram provar para casos específicos como fez Euler para o caso n = 3,
Legendre para n = 5 e Lamé para n = 14. Matemáticos como Gauss, Sophie Germain e
Kummer falharam em comprová-lo. Este teorema ficou famoso com o passar dos séculos e até
criaram prêmios para quem conseguisse resolvê-lo. Num intervalo de 358 anos, o teorema
permaneceu sem uma prova correta, até que em 1995, o matemático Andrew Wiles
apresentou uma prova correta usando diversas ferramentas matemáticas que não eram
disponíveis no século XVII, o que levanta a hipótese de que a prova encontrada por Fermat
estava incorreta, até mesmo Andrew afirmou que seria impossível para Fermat ter encontrado
aquela exata prova, pois era necessário muitas ferramentas matemáticas modernas, logo, se
Fermat realmente provou seu teorema, há uma prova mais simples ainda desconhecida. A
demonstração de Wiles tem cerca de 200 páginas e fez com que ele recebesse diversos
prêmios e reconhecimento pelo seu feito.
2. Fermat e o Cálculo
2
x ( b−x )=xb−x =c
Se c é o produto máximo, só há apenas uma raiz que satisfaz a equação, de forma que
esta raiz será dupla. Logo, Fermat buscou o valor de c em termos de b que resolvia a equação.
Então aplicando um método que conheceu nos livros de Viète sobre a relação das raízes com
os coeficientes da equação:
{
2
xb−x =c
2
by− y =c
{ xy =c
∴ x + y=b
Mas como já havia notado que a raiz deveria ser dupla, fazendo x = y:
{
b
x=
2
b2
c=
4
Na sua obra, para casos mais gerais do que polinômios do segundo grau, Fermat
explicitou as duas raízes como sendo A e A+E, onde E representava a diferença entre as duas
raízes, do ponto de máximo ou mínimo, logo, E era um número muito pequeno maior que
zero. Aplicando este método para encontrar o valor máximo bx² - x³, onde M é o máximo e A
e A + E são raízes da seguinte equação bx²-x³ = M:
{
2 3
bA −A =M
2 3
b ( A + E ) −( A + E ) =M
Assumindo novamente que para a expressão ser máxima as raízes devem ser iguais, isto é,
sendo A = A + E, logo E = 0:
2bA - 3A² = 0
{
2b
A=
∴ 3
4b³
M=
27
Em seu trabalho, o estudo das tangentes foi exposto como um corolário do método das
tangentes, com o qual Fermat afirmava que poderia encontrar uma reta tangente a qualquer
curva que o fosse dada.
Utilizando uma abordagem com a notação de coordenadas e eixo cartesiano, o método
utilizava a ideia de subtangente, que consiste em um segmento de reta que vai do ponto de
tangencia perpendicularmente ao eixo das abscissas. Explicitando este método com um
exemplo:
Seja B um ponto de coordenadas (x, y) e B1 de coordenadas (x – K, y 1), que pertencem
à parábola x = y² para encontrar a tangente no ponto B, observamos que:
y 1² = (x – K)
2
y 1 y ²= y ² ( x−K )
2
y 1 x = y (x−K )
( )
2
x y
∴ =
(x−K ) y 1
( )
2
x y
∴ >
(x−K ) OI
Por semelhança de triângulos e sendo o segmento CE = a, nota-se que:
y CE a
= =
OI IE a−K
x a²
∴ >
(x−K ) (a−K ) ²
a² (x – K) = x (a – K) ²
a ²x – a² K < a²x − 2xaK + K²x
− 2xaK + K²x – a² K > 0
Dividindo os dois lados por K e aplicando o método de anterior (adégalité) para obter
o valor máximo para a, portanto K será igual a zero, assim com a expressão (neste passo
novamente ocorre uma divisão por zero):
− 2xa – a² = 0, a ≠ 0
∴ a=2 x
Com a subtangente estabelecida, facilmente pode ser encontrado o ponto com que a
tangente corta o eixo das abscissas, assim com este ponto e o ponto B, pode-se encontrar a
tangente. Mesmo sem o cálculo diferencial, Fermat conseguiu de forma não rigorosa,
encontrar tangentes a qualquer curva.
Nos dois métodos apresentados por Fermat, nota-se uma maior facilidade para época
de lidar, mesmo que indiretamente, com a ideia de infinitesimal. Muitos dos trabalhos
matemáticos de Fermat foram aproveitados por Newton e Leibniz durante suas pesquisas que
culminaram no surgimento do cálculo.
k +1
k+1 B ( 1−E )
At = B ( 1−E ) (1 + q + q² + ...) =
1−E k +1
k+ 1
1−E
1 + E + E² + ... + E k =
1−E
k +1
B ( 1−E ) B k +1
∴ At = =
1−E k +1 1+ E+ E ²+...+ E k
k+1
B
At =
k +1