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O ROMANCE DAS EQUAÇÕES ALGÉBRICAS 63

geniais franceses, Pierre de Fermat e René Descartes a inventar, independente e


quase simultaneamente, aquilo que hoje é denominado Geometria Analítica e
que consiste no estudo da Geometria por meio de equações.
A vida e a obra de Pierre de Fermat (1601-1665) constituem um dos mais
belos capítulos da História da Matemática. Somente os insondáveis desígnios
do destino podem explicar como um dos talentos matemáticos mais criativos,
inovadores e inspirados de todos os tempos veio a surgir na pessoa de um
homem como Pierre de Fermat, sem qualquer estudo formal em Ciências Exatas,
versado em línguas clássicas, jurista por formação académica e magistrado
por profissão. Fermat nasceu em Beaumont de Lomagne e viveu na cidade de
Descartes e Fermat Toulouse, no Sul da Franca, onde levou uma vida razoavelmente monótona
e sem problemas financeiros, já que suas funções pouco exigiam dele e lhe
Inventam a proporcionavam uma existência tranquila. Assim, com tempo disponível e sem
jamais haver se afastado muito de onde morava, a ponto de nunca ter visitado
Geometria Analítica Paris, Fermat dedicou longos anos ao estudo autónomo da Matemática e nela
realizou descobertas notáveis, em especial no campo da Teoria dos Números.

A ARITMÉTICA E A GEOMETRIA tiveram origens independentes e somente com


o tempo foi sendo percebida a existência de relações entre as formas e
os números. Os triângulos retàngulos constituíram uma das primeiras fontes
onde os matemáticos puderam pesquisar correlações numéricas entre grandezas
geométricas, o mais clássico exemplo disso sendo a equação a2 — b: — c2,
expressão algébrica do Teorema de Pitagoras.
Matemáticos posteriores aproximaram ainda mais a Aritmética à Geometria,
tendo o grande geõmetra Apolònio, de Perga 262-190 a.C.) demonstrado
vários de seus teoremas sobre as secções cónicas empregando a ideia de localizar
pontos sobre elipses e hipérboles por meio de suas distâncias a eixos conjugados
daquelas curvas, tomados como referência. Hiparco, de Nice ia (180-125 a.C.),
matemático de Alexandria, considerado o criador da Trigonometria, já definia
as posições de pontos sobre a superfície da Terra utilizando latitudes e longitudes,
Ilustração 12.1 Pierre de Fermat 11601-1665) (David Stnith Collection)
ou seja, distâncias a um par de linhas de referência. A confecção de gráficos para
ilustrar o relacionamento entre grandezas variáveis, em especial na Física e na
Astronomia, apareceu no século X, se não antes. Tiveram, portanto, origem bas- A Teoria dos Números é o ramo da Aritmética que estuda as propriedades dos
tante antiga os conceitos que levaram, na primeira metade do século XVII, dois Números Inteiros, como divisibilidade, decomposições em fatores, decomposi-
64 CAPITULO XII. DESCARTES E FERMAT INVENTAM A GEOMETRIA ANALÍTICA CE DAS EQUAÇÕES ALGÉBRICAS 65

coes em somas, etc. Por exemplo, constitui um teorema da Teoria dos Números a exemplo, que justifica escrever-se
afirmação, já aprendida na infância, segundo a qual um número é divisível por 3
quando e apenas quando a soma de seus algarismos (quando escrito na base 10), a D — c = ~~ — —-
é divisível por 3.9 As pesquisas neste campo são inesgotáveis e os resultados cos- OU
tumam maravilhar os estudiosos, por sua beleza e imprevisibilidade. Entretanto, a b - ; = ab -
trata-se de um tema bastante difícil porque cada problema quase sempre exige
ou
uma abordagem especial, coisa que apenas alguns espíritos livres, inventivos e
ciescompromissados são capazes de vislumbrar. Quem trabalha em Teoria dos a —b c — z = a
Números certamente o faz por amor, já que são pouquíssimas, se é que existem,
de onde decorrem as generalizações
as aplicações praticas das descobertas. E foi assim, por puro prazer, que Fermat
entrou no Reino da Rainha das Ciências pelo portal dos números, inspirado pela
obra de um antigo matemático grego.
No século III da era cristã, quando a Escola de Alexandria já se encontrava
em decadência, ali viveu o mais brilhante teórico dos números da Antiguidade,
Diofanto (circa 250 d.C.), autor de um belíssimo livro chamado Aritmética, que Entretanto, as coisas requerem um pouco mais de raciocínio quando se trata
caiu nas mãos de Fermat 13 séculos mais tarde, depois que o livro foi descoberto de demonstrar que a multiplicação de dois números negativos dá um número
no século XV pelo matemático alemão Johann Miiller (1.436-1.476) e editado positivo. Há, pelo menos, duas formas de se chegar a esta conclusão. Comecemos
em Francês por Bachet de Méziriac, em 1621. por uma bastante intuitiva. Suponhamos a operação
Dentre as várias contribuições de Diofanto à Matemática, duas delas me-
a —b —c
recem aqui um comentário especial. Comecemos por algo que é sabido de
todos mas que poucos, quando perguntados, conseguem justificar: as regras O que acontece ao resultado desta subtração se aumentarmos o subtraendo
dos sinais na multiplicação de números relativos. Já nos primeiros contatos b de um valor, digamos, igual a d, ou seja, qual será o valor de a — {b + d)? Evi-
com a Aritmética aprendemos que, na multiplicação, os sinais comportam-se dentemente, se o subtraendo for aumentado de d, o resultado será c diminuído
da seguinte maneira: de d. Pelo mesmo raciocínio, se o subtraendo for diminuído de d, o resultado
4- x + = será aumentado de d, o que permite escrever:

se c —b = c
- x + = -
então Q— b — d — c — d
x - = +
ou a — b — —d — c — d
como d — b — c. tem-se
Diofanto foi, talvez, o primeiro matemático a expor estes fatos de maneira í

clara, demonstrando sua validade com base na chamada propriedade distri- c — —d = c — á


butiva do produto em relação à soma e à subtração. É essa propriedade, por
e, subtraindo c dos dois lados, tem-se

-d - -d

O leitor está convidado a demonstrar este pequeno teorema


6« CAPITULO XII. DESCARTES E FERMAT INVENTAM A C£:-«r O ROMANCE DAS EQUAÇÕES ALGÉBRICAS 67

A prova de Diofanto, entretanto, foi seo— onsidere-se a Figura 12.1, de Matemática afirmam que as regras dos sinais são convenções. Esta afirmação
onde os números a, b, c e d são representados rr.er.tos de reta. é um tanto simplista, porque não se trata de convenções arbitrárias mas de algo
que somos obrigados a fazer se quisermos que a propriedade distributiva do
produto valha generalizadamente em relação à soma e à subtração).
A segunda contribuição de Diofanto à Matemática a merecer aqui um co-
mentário especial refere-se à simbologia. Em sua época, o conceito de "Álgebra"
não havia ainda sido explicitado e as questões aritméticas ou as que hoje seriam
chamadas de algébricas eram tratadas por meio de raciocínios expressos apenas
b(c-d) por meio de palavras e não de símbolos. Um exemplo ilustra melhor o que
foi dito. Seia o clássico problema: "Em um terreiro existem cabras e galinhas,
sendo 32 cabeças e 88 pés. Quantos animais de cada tipo existem em tal
terreiro?" Hoje chamaríamos de x e y, respectivamente, os números de cabras
bd i a-b i e galinhas, montaríamos um sistema de duas equações do primeiro grau com
duas incógnitas e encontraríamos as respostas. Como o recurso aos símbolos não
estava ainda disponível, o problema era resolvido da seguinte maneira: "Se todos
os animais existentes no terreiro fossem galinhas, haveria um total de 2 vezes
32 pernas, ou seja, 64 pernas. Como o total de pernas é 88, a diferença 88 menos
Figura 1 2. l 64, ou seja, 24 pernas, deve vir das cabras. Como cada cabra contribui com
duas pernas para tal diferença, existem 24 dividido por 2, ou seja, 12 cabras
Em ;ura tem-se no terreiro. Como há 32 animais, o número de galinhas é 32 menos 12, ou seja,
20" Como se vê, o problema foi resolvido sem o uso de símbolos, de uma forma
b ( c - d ) - b d - d í a - b ] = ac que, atualmente, costuma-se chamar de "Álgebra Retórica".
Diofanto introduziu vários símbolos no estudo daquilo que hoje se chama
(A área do retângulo maior é igual à soma das áreas dos quatro retângulos Álgebra: a incógnita era designada pela letra sigma minúscula (ç), última da
nele contidos). palavra api8u.oç (aritmos - número, em Grego); seu quadrado por A r , abre-
O desenvolvimento de tal expressão, admitindo-se a validade da proprie- viação de õirvauaç (dynamis- potência); seu cubo de K T , abreviação de KV£OÇ
dade distributiva do produto em relação à soma e á subtração, e: (kybos — cubo); sua quarta potência por A T A, abreviação de òuvauoówcxuiç
(dynamodynamis - potênciapoténcia); etc.; a igualdade por Ia, abreviação de
(Q — b ) f c — d) -j- bc — bd — bd — cd — bd = ac ou LCTOÇ (Í5O5 - igual) e a subtração por A. Não existia um símbolo para a soma,
(a — b! (c — d — bc — cd — bd — ac que era representada pela simples justaposição das parcelas, e os termos inde-
pendentes da incógnita (números) eram indicados pelo símbolo u.° (monadei
Subtraindo bc e ad e somando bd a ambos os membros da igualdade (noção ~ unidade). Adicionalmente, os coeficientes numéricos da incógnita e de suas
comum de Euclides), tem-se potências eram grafados depois delas (em nossa notação, por exemplo, 5x2 seria
escrito x 2 5). Como o sistema indo-arábico de numeração ainda,não havia sido
(a — b ) f c = ac — ad — bc — bd criado, Diofanto escrevia os números por meio de letras do alfabeto grego, o
chamado Sistema Jônio de Numeração. Assim, a equação que hoje escrevemos
Isto mostra que, no desenvolvimento de a — b c — d , o produto l'— b ) ( — d)
é igual a +bd, novamente a lei menos vezes menos dá mais. (Obs.: Alguns livros - (x3 + 8x) — (5x~ — 11 = x ' • '-
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seria escrita por Diofanto desta maneira: potência é hipotenusa de quatro triângulos retângulos (625, 500, 3/5), (625, 600,
175), (625, 527, 336) e (625, 585, 220); sua quinta potência é hipotenusa de
cinco triângulos retângulos (3.125, 3.116, 237), (3.125, 3.000, 875), (3.125, 2.925,
1.100), (3.125, 2,635, 1.680) e (3.125, 2.500, 1.875); e assim sucessivamente.
Foi o início da simbolização da Álgebra mas, como ainda eram e—: Era a este tipo de elocubração que se dedicava o paciente Fermat quando um
abreviações de palavras juntamente com alguns símbolos, a notado criacLi por dia, ao fazer uma pequena anotação à margem do livro de Diofanto, levantou um
Diofanto ficou conhecida como "Álgebra Sincopada". problema que somente foi resolvido três séculos e meio mais tarde, precisamente
Agora voltemos a Pierre de Fermat. Sobre um velho exemplar cc livro cê em 1993. depois de desafiar legiões de cérebros privilegiados durante todo aquele
Diofanto, nas margens gastas pelo manuseio, ele escrevia breves comentário? a tempo. A nota em questão dizia, em Latim:
respeito do que lia rnas aquelas pequenas notas continham verdadeira? pérola
conceituais sobre a matéria. Era um hábito da época os sábios trocarem canas ~f impossível decompor um cubo em dois cubos, um biquadrado em dois
entre si e Fermat fazia parte de um seleto círculo de correspondentes, no qual biquadrados e, de um modo geral, qualquer potência acima de dois na
se encontravam membros da nata científica de então, como Pascal. Descartes, soma de duas potências de igual expoente. Para isso eu descobri uma
Wallis, Roberval, Huygens, Mersenne e outros. É através da correspondência de demonstração verdadeiramente maravilhosa (mirabilem, no original)
Fermat, de suas notas sobre o livro de Diofanto e de trabalhos publicados por um mas a margem é pequena para contê-la."
filho após sua morte que sabemos das ideias que brotavam do espírito daquele
fascinante francês, hoje conhecido entre os matemáticos como O Príncipe dos O que ele queria dizer é que a equação
Amadores. Amador, sim, mas que amador... x n -i- y n = z n '(x, y, z e n inteiros positivos)
Um curiosíssimo teorema descoberto por Fermat diz que todo número primo
(ou seja, número que é divisível apenas por si mesmo e pela unidade) do tipo não tem solução quando n > 2. Para o caso n = 2 existem infinitas trincas
4k + l (k inteiro positivo) pode ser, sempre e de maneira única, decomposto de inteiros que satisfazem a relação z2 — x2 4- y2 mas, para n acima de 2,
como a soma de dois quadrados perfeitos. Por exemplo, 5, 13, 17, 29, 37, 41,61 dizia Fermat, o problema é insolúvel. Se ele descobrira ou não a "demonstração
e 73 são primos daquele tipo e podem ser assim decompostos: verdadeiramente maravilhosa" jamais poderemos saber, O fato é que por três
séculos e meio génios do calibre de Euler e Gauss, dentre tantos outros, não
conseguiram reconstituir a eventual prova e a questão somente foi resolvida
41 =(5} 2 em 1993, por um brilhante matemático inglês, Andrew Wiles, que utilizou
61 = (6) 2 técnicas avancadíssimas, com as quais Fermat nem poderia ter sonhado no
século XVII. Este episódio imortalizou o nome de Fermat e a própria dúvida
sobre a existência ou não da "demonstração verdadeiramente maravilhosa" será
Por outro lado, os primos do tipo 4k + 3, como 7, 19, 3 L 43- etc.. nunca um eterno tributo que lhe prestarão as gerações futuras.
podem ser decompostos como soma de dois quadrados. Mas Fermat não restringiu suas pesquisas à Teoria dos Números. Em uma
Mas Fermat fez outra surpreendente descoberta a respeito dos primos do troca de correspondências com o grande filósofo e matemático francês Blaise
tipo 4k — 1: qualquer potência positiva inteira s deles pode ser hipotenusa de Pascal (1623-1662), onde foram discutidas questões referentes a certos iogos
s diferentes triângulos retângulos de lados inteiros. Por exemplo, tomemos 5, o de azar, ambos formularam os princípios básicos da Teoria das Probabilidades,
menor dos primos do tipo 4k + 1. Sua primeira potência é hipotenusa de um ramo da Matemática que teve grande florescimento posterior, em razão de seu
triângulo retángulo de lados inteiros (5, 4, 3); seu quadrado, 25, é hipotenusa de emprego na vida prática e nos estudos da Física Teórica.
2 triângulos retângulos (25, 20, 15) e (25, 24, 7); seu cubo é hipotenusa de três De uma carta escrita a Gilles Persone de Roberval (1602-1675), pode-se
triângulos retángulos (125, 100, 75), (125, 120, 35) e (125, 117, 44-; sua quarta depreender que, já fazia alguns anos, Fermat havia desenvolvido uma técnica
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de associar equações a linhas geométricas para esruda-_a_-- ::-—o >e faz moder-
namente em Geometria Analítica. Tal técnica era reaur:rz:e rr"-';/_c;o"a.na mas
Fermat não se preocupou em dhulgá-la, embora :ezjia exrosto suas ideias no
livro "Ad Locos Planos et Sólidos Isagogue" (Introdução aos lugares geométri-
cos rettlíneos e cónicos [ou seja do 2° graujj, que sorr_e:::e :o: rublicado após
sua morte, quando um trabalho da mesma natureza, escrito >?r René Descartes,
já se impusera na comunidade matemática e consagrara seu autor. Por que
motivos não tivera ele interesse em anunciar ao muncio a clor:a ue sua ir.vencãc:
Certamente não foram os mesmos que levaram Tanaglia a esconder as formulas
das equações do 3° grau. Tudo se deveu à própria narureza de Ferrna:. ressoa
pacata, modesta, despreocupada com a fama e que pesquisava somente rara sua
satisfação interior.
Com os instrumentos de sua Geometria Analítica, Fermat incursionou no
território das funções, encontrando métodos rigorosos de se traçar tangentes
a curvas e de se determinar máximos e mínimos, exatamente os temas do
Cálculo Diferenciai, inventado algumas décadas depois por Newton e Leibniz.
Realmente, a genialidade de nosso querido "amador" parecia não ter limites.
Antes de nos despedirmos de Fermat, prestemos a ele uma última homena-
gem: em cada Faculdade de Direito do mundo, em seu lugar mais nobre, deveria
ser exibido um grande retrato do Príncipe dos Amadores, para lembrar a todos
os advogados que a intimidade com os cálculos não é incompatível com a ciência
das leis.
René Descartes (1596—1650), co-inventor da Geometria Analítica e o pri-
meiro a anunciá-la ao mundo, foi uma espécie de antítese de Fermat: vaidoso,
irrequieto e polémico, adorava a fama e o contato com a nobreza. Nascido em
La Haye, em 1596, foi inicialmente educado pelos ^esuitas e rna:s tarde cursou a Ilustração 12.2 René Descartes (1596-1650: (Mansell Collectionj
Universidade de Poitiers, após o que ingressou no exercito do príncipe Maurício
de Nassau, o mesmo que invadiu Pernambuco em 1650 e ali permaneceu até ser Ao contrário do que se costuma pensar, a Géométrie não apresenta a Geo-
expulso em 1654. metria .Analítica tal como a conhecemos hoje. Nem mesmo os chamados "eixos
Homem de excepcional cultura e inteligência. Descartes realizou trabalhos cartesianos" aparecem explicitamente naquela obra, muito menos as equações
notáveis em campos tão diversos quanto a Óptica, a Filosoria, a Psicologia e a das linhas geométricas mais conhecidas. O que Descartes fez foi mostrar, através
Matemática. Nesta, escreveu um único livro, como apêndice do célebre Discurso da solução de vários problemas geométricos, que a Álgebra ia havia alcançado tal
sobre o Método para bem conduzir a Razão e encontrar a Verdade nas Ciências, nível de desenvolvimento que poderia ser empregada no estudo da Geometria, o
publicado em 1637, um ano depois da carta de Fermat a Roberval sobre sua oposto do que ocorrera na Antiguidade Clássica, quando a as figuras geométricas
técnica analítica (outros trabalhos matemáticos de Descartes estão contidos em eram utilizadas para esclarecer as questões da Aritmética e da Álgebra. Foram
sua correspondência). O mencionado apêndice do Discurso do Método chamou- matemáticos posteriores, em especial Newton, que deram à Geometria Analítica
-se La Géométrie e é considerado a pedra fundamental da Geometria Analítica. o formato ao quai estamos habituados.
72 CAPÍTULO XII. DESCARTES E FERMAT INVENTAM A GEOMETRIA ANALÍTICA

D I S C O U R S
DE LA METHODE
Poiir bicn conduire & nii"an,&: cherchcr
U vcruc daoslcs&cnccs.
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LA DIOPTRIQVE.
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LA G E O M E T R I A
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Ilustração 12.3 Frontispício do Discurso do Método, de Descartes - 7637

Da mesma maneira que Fermat, Descartes descobriu uma técnica algébrica,


exposta na Géométrie, para o traçado de tangentes a curvas mas seu sistema
era bastante mais complicado e trabalhoso do que o primeiro. Isto gerou certa
rivalidade entre ambos, evidentemente não provocada pelo pacífico Fermat mas
sim pelo temperamento vaidoso de Descartes que, não satisfeito em ser o génio
que era, parecia não aceitar que outros também o fossem. Durante certo tempo.
Descartes insistiu em afirmar que sua técnica era melhor mas teve que render-se
às evidências. Em gesto de rara humildade, escreveu em uma de suas cartas a
Fermat esta frase: "Jamais conheci alguém que me parecesse conhecer tão bem
a Geometria como o senhor".
Curvava-se diante de Fermat o homem que, em um arroubo de extrema
confiança em seu próprio génio, escrevera em uma carta a Mersenne estas
palavras pouco modestas: "Nada omiti, a não ser propositadamente. Previ que
certas pessoas, que se vangloriam de tudo saber, certamente não deixariam

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