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LOUIS ALTHUSSER

P O R MARX

UNICAMP

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS


TRADU Ç Ã O
Maria Leonor F. R . Loureiro
REITOR
JOS é TADEU JORGE

Coordenador Geral da Universidade


ALVARO PENTEADO CROSTA
REVIS Ã O T ÉCNICA
íi D I T O R A
M á rcio Bilharinho Naves
Conselho Editorial Celso Kashiura Jr.
Presidente
EDUARDO GUIMARã ES
ELINTON ADAMI CHAIM- ESDRAS RODRIGUES SILVA

FRANCISCO DIAS -
GUITA GRIN DEBERT JULIO CESAR HADLER NETO
LUIZ - MARCO AUR éLIO CREMASCO
RICARDO ANTUNES - SEDI HIRANO

COLE ÇÃ O MARX 21
Comiss áo Editorial
ARMANDO BOITO JUNIOR ( coordenador )
ALFREDO SAAD FILHO - JO ã O CARLOS KFOURI QUARTIM DE MORAES
MARCO VANZULLI - SEDI HIRANO
Conselho
Conselho Consultivo
Consultivo
ALVARO BIANCHI - ANDREIA GALV
GALVÃ O - ANITA HANDFAS
ISABEL LOUREIRO - LUCIANO CAVINI
CAVINI MARTORA
MARTORANONO
LUIZ EDUARDO MOTTA - REINA LDO CARCANHOLO - RUY BRAGA
REINALDO BRAGA |E D I T O R A
T
1
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográ fico da L íngu ;
ft
Portuguesa de 1990. Em vigor no Brasil a partir de 2009. t
FICHA CATALOGRÁ FÍ CA ELABORADA PELO I
SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UNICAMP

Ifei
DIRET Ó RIA DE TRATAMENTO DA INFORMA ÇÃ O
4
Althusser , Louis, 1918 1990 I :

AL 79 p Por Marx / Louis Althusser; tradu çã o Maria Leonor R R . Loureiro; revis ã o t é cnica:
M á rcio Bi í harinho Naves, Celso Kashiura Jr , - Campinas, SP: Editora da Unicamp,
r
2015. i
1. Marx , Karl, 1818 -1883.2. Comunismo. 3 Filosofia marxista
marxista.. 4. Humanismo. 5. Mate ¬ i
rialismo dialético. I. Loureiro , Maria Leonor F. R . II .Tí tulo. I
CDD 335.4
320.5322

ri
144
ISBN 97 8 85 268 1232 1 146.3

índices para ca tá logo sistema


sistemarico
rico:
i
. Marx, ICarl, 1818 -1883
2. Comunismo
335.4
320.5322 i ginass à me m ó ria de Jacques Martin ,
i
Dedico estas pá gina
3. Filosofia marxista 335.4
4. Humanismo 144 nosso amigo ququee , nas piores provas , sozinho , descobriu
5. Materialismo dial é tico 146.3 a vi
viaa de ac
acesso à filosofia de Marx - e me guiou por ela.
esso
/ >. A ,

Tí tuio originai: PourMarx

© Librairie François Maspero / Editions La D écouverte, Paris, France,


1965, 1996, 2005.
UNID DE IFCH
Copyright © by Louis Althusser
N CH M D Copyright © 2015 by Editora da Unicamp

Ed
T MS BC Direitos reservados e protegidos pela Le i 9.610 de 19.2.1998.

^ ^V
m
PROC / rfo É proibidapora reprodu
escrito, dos total ou parcial
ção detentores . izaçã o ,
sem autor
autoriza
dos direitos
C D D I S D A T A S -VlUldÁ
PR E Ç O R $ kO
kOOO
PED . Printed in Brazil.
Foi feito o depósito legal.
N° PR 0T .
S S.: .
á D . TI T. Sis IV
MéDiaxH èQu e
RfcPUSUQUE T RAtiÇMSE MaisondeFmn.ee

Cet ouvrage, publié dans ie cadre du Programme d’Aide à la Publication Universí tairç - PAP
Universitaire du Consulac gé né rai dc France à São Paulo, beneficie du soutien du Mínistère fran çais
des Affaires Étrangè res et du Déveioppcment International (MAEDI ).

Este livro, publicado no âmbito do Programa de Apoio à Publica - Universitáá rio


Publicaçã o Universitária PAP Universit
do Consulado gerai da Fran ça em São Paulo, conta co m o apoio do Minist é rio ff anccs das Relações
Exteriores e do Desenvolvimento Internacional ( MAEDI) .
SUM ÁRIO

PREFÁ CIO À ED IÇÃO BRASILEIRA 9

PREFá CIO: HOJE 13

I - OS “ MANI
MANIFEST
FESTOS FILOS ÓFICOS ” DE
OS FILOS FEUERBACH 33

II - SOBRE o JOVEM MARx ” ( Questões de teoria 39


O problema po lítico 40
O problema teó rico 42
O problema histórico 54

III - CONTRADIçã O E SOBREDETERMINAÇÂ O ( Notas para um a pesquisa ) 71


Anexo 92

IV - o PICCOLO , BERTOLAZZI E BRECHT ( Notas sobre um teatro


materialista 107
10 7

V os MANUSCRITOS DE 1844 DE KARL MARX ( Economia pollíti


po tica
ca e
filosófica ) 127
12 7

vi - SOBRE A DIALéTICA MATERIALISTA ( Da desigualdade da s origens ) 133


1. Soluçã
ção qu e a teoria ?
Po r que
o pr ática e problema teórico : Por 134
.
2 Um a revolução teóri ca em ação
rica 141
14 1
3. Processo da pr ática te órica 14
1488
4. Um todo complexo estruturado “ já dado” 156
5. co m dominante: Contradição e sobredetermina ção
Estrutura com 162

VII
VI I - MARXISMO E HUMANISMO 18 3
NOTA COMPLEMENTAR SOBRE O “ HUMANISMO REAL” 203
PREF Á CIO À EDI ÇÃ O BRASILEIRA
AO S LEITORES 20 9
POR ALTHUSSER

Armando Boito Jr.

Em 1965, o fil ósofo


sofo marxi staa francês Louis Althusser publicava a primeira
marxist
ne a de ensaios à qual deu o título singelo e cortan ¬
ed içã o de sua célebre coletâ nea
te de Pour Marx ( Po Marx)). O s ensa
Porr Marx ensaios
ios des
dessa coletââ nea
sa colet ne a propiciaram um a
ampla e diversificada renovaçã o do marxismo. N a filosofia, na sociologia , na
economia, na ciência pol ítica, na lingu ística , na antropologia e na an álise his ¬
tórica, diversos autores inspiraram -se nasna s ideias inovadoras de Althusser para
desenvolver a teoria marxista em diferentes domínios e também para realizar
pesquisas empíricas de ponta . O trabalho de Althusser criou escola e serve até
hoje de referê ncia fundamental para aqueles qu e se dedicam à tarefa de desen ¬
volver e renovar a teoria esboç ada porpo r Karl Marx .
; Neste ano
an o de 2015 , quando é comemorado o cinquenten ário do lançamento
de Pour Marx , a coleção Marx 21 coloca à disposição do leit leitor
or brasil
brasileiro
eiro esta
nova traduçã o do livro de Althusser. O livro n ão é inédito no Brasil, mas ma s a
tradu çã o lan çada pela Zahar na década de 1970 - que recebeu o título de
A favor de Marx - está fora de catá logo h á muitos anos. Nessa nova tradu çã o,
porr Maria Leono
realizada po Leonorr Loure
Loureiro
iro, optamo
optamoss pelo Po r Marx , qu
pelo título Por quee nos
no s
pare ce mais fiel ao estilo do título origin
parece originalal. 1

Po r Marx pertence à primeira fase da obra de Althusser como filósofo mar


Por ma r ¬
.
xista Nesse per
pe r íodo , qu
quee se situa na década de 1960 , Althusser publicou , al ém

9
PO R MARK

po lêmicas e nos conceitos in o v adores de Po rM ar arxx ins trumentos ef


efii cientes para
ri c as , para
as suas reflexões teóric suaa s pesquisas e para a s ua orientação
par a as su ção na luta
el o s ocialis
p elo ocialismm o .

Nota

i pr s nt tr dução m ntivemos sempre referênc i às edi ções utiliz d s p o próprio


ntiv emos sempre
utor tr duzindo do origin l fr n ê s os trechos cit dos PR EF Á CIO
PREF

HOJE

iberdadee de p ublicar a compilaç ã o destas


To m o a liberdad estas notas, qu e saíram , durante
os ú ltim os quatro anos , em diferentes revistas. Alguns
ltimos Alguns destes artigo esttão
artigoss es
sgotados: eis a primeira ra
esgotados razz ã o, de orde
ordem m prá tica. Se eles cont
tica contêm , e m sua
su a
pesquisa
pesq uisa e sua
su a in completude
completu de , algum sent
sentido
ido, este dev
de v e ria a dvir de sua
su a reuni ão:
eis minh gunda raz
minh a s eegunda azãão . Do u os enfim pelo que s ão : os documentos
document os de u ma
história .
certa hist
certa
qu asee todos, de alguma co
E stes textos nasceram quas conjuntura efle x ão sobre
njuntura: r eflex
ob ra, resposta a um a crítica ou obje çõ es , a n álise de um espetáculo etc.
uma obra
n
T razem a datdataa e a ma r ca de seu nasciment
nascimento o at é em su a s vari variações , qu e ã o¬
retocarr. Reti
quis retoca algg umas p assag
re i al
Retire enss de po l êm ica de m asiado pessoal
assagen pessoal; rest
restaa
be ecii palavras notas ou p áginas
bellec enttão tiv e de rese
ginas qu e en rvar
reserv ar fosse para poupar
poupa r
sensibii lidade de ce
a sensib rtas pre ven ções , fosse para red
certas uz ir m eus
re d uzir eu s d esenv olvimento
esenvolvimen toss
à m ed id a ac
acordada pr ecisei alg
ordada; precisei umas referências .
algumas
Nascidos
Nasci dos cada um de al algg u m a ocasião partic ular, estes textos são no enta
particular ntoo ,
entant
o produ
produtoto de um a memessma é poca e de uma um a mesma hist história. São , à sua maneira,
testemun
testemunhos hos de um a singular experiê ncia, que todo to do s os fil ósosofo
foss da m inha
ida quee tentaram pensar c om Marx , tiveram de viver: a p es
id a de , e qu quisa do pen ¬
esquisa
sa mento filosó fico de M arx
ar x , indispensá vel para sair do imp
indispens assse teórico a que
impas
a história n os relegara.

2
I

os MANI
MA NIFE
FESTO
STOS LOS ó FICOS
S FILOS

DE FE
FEUE
UERB
RBAC
ACH
H

L a ouve
o uvellle C r itiq
it iquu e pede
pede m e par
pa r a apr
apresen
esentartar o s tex
textos de Fe ue r b ac h qu e
sa íram há alg
al g un s m e ses
se s na coleçã o E pim
pi m é th ée P UF . F aço o com praz prazer
er res ¬

po nd e nd o b r ev
evee m enentt e a algu mas p er
algumas ergugunn tas
ta s
Reuni sob o título
Reu tulo “ M a nifestos
nife stos filosóf ic icoo s” os te
texxtos e artig os m ai
artigos aiss im¬
po rtan
rt an t e s publ
ublicad
icadosos por
po r Feuerba
Feuerbach ch entr
ntree 183 9 e 18 tribuu i ção à crtic a
1844 5: C on trib
da filo
fi loso
so fia
fi a de H eg e l 1839
18 39 a intr
in trod
oduu ção d’ es esssênc ia do c ris titian
an is
ismm o 18 4 1
Te
Tesses prov
pr ovisisóri
riaa s pa
parara a r e for
fo r m a da filosofia
loso fia 18 1844 2 P r inc í pios da filofiloss of
ofii a d o
futu
fu tu ro 18 4 3 , o prefácio à se segu
gun nda edição d’ e ss ência do c rist ristii an i s mo 1 84 3
e u m ararttigo em res re s p os t a a os ata
at a q ue s de Stir
Stirnn er 1 8 45 A pro produ çã o de F eu er ¬
ba c h entre 183 9 e 184518 45 n ão se li lim
mito
itouu a e ss
ssee s textos, que e x pr i m em no entan
tex ntanto to,

o essen ciall de se
ssencia seuu pensa
nsammen
entto n es
essses a no ic os .
noss histó r icos

P or q ue e ste
st e título “M a nif
ni f e st
stoo s fil
filoo s ófic o s ” ?
A express
exp ão n ão é de Feue
ressã euerbac
rbach h Arrisqu
risque ei a po r dua
uass r az õe s u m a subje
subje¬
tiva
iv a , o utra
ut ra ob j etiv
etivaa.
ia m -se o s texto
Le iam textoss da e efo
form
rma a da f i loso
losofiafia e o pr
pref
ef ácio dos P r inc
in c pio
pi o s São
v erd ade
ad e iras p ro c lam
la m a ç õ es o an nc io a pa ix o na d o d e ss ssaa rev
evel
elaaçã o teór ica
ic a que
que
liberrtar o h om em de s e us grilhõ . Feuer
v a i libe euerb bach
ach dir ige se à hu m an id
irige idad
ad e.
R as g a os véu s da h ist ó ria un iv erser s a l , de s tr ói o s m ito s e as m ent
en tira
irass, d es
esco
co b re e
en
entr
treg
egaa ao home
omem s ua ve r da de O te temmpo c he go u . A hum humani
anid dade está pre rennhe
de u m a re revo
vo lu ç ão imin
iminen entte que
qu e lhe
lhe dará a po ss seuu s er. Q u e o s ho m en s
ssee de se
OS “ MAN RITO
USCR
MANUSC S
ITOS DE 844” DE KARL
844 AR L MAR
MARXX

Econo mia pol í tica


onomia tica e fi
filoso
losoffia

publii ca çã o dos
A publ dos Man
anusc onstituii um ve
84 4 c onstitu
ritoss de 1 844
uscrito verr da deiroo acont
dadeir ecimenn to ,
acontecime
p ara o qual g os taria de cham
chamarar a aten çã o d o s le es de La P ens
itores
leitor en s ée
tico prime
tico primeiram
iramen te. A té aqui, os M an uscr
ente uscritoito s
de ,língua
e cr
n ão er á m ac e ss íveis ao s rio
A co n tec
te c im e nto
nt o li
litterá
ng ua fra
franc esa a não ser na trad
ncesa tradução d a
eitores
leitores
edição C o s te tess Moli
Molito torr. To m o V I das br a s filo Eu vress ph ilosoph
filossóficas C Euvre ilosophii
q u es ] . To d os o s que
qu e se v iram
ir am na neces
nece s sidade
sidad e de utiliz á- la s abem po r experi
expe ri ên ¬
cia pr ópr ia q ue e sse
pria ss e texto rcia l, amput
texto pa rcial mputad ado imporrtantes d
o de impo esenvo
esenv o lvimentos
lvime ntos
chei
cheio o de e rr
rros
os e inexa
nexatid stituirr u m instrum ento de tra
tid õe s , não podia c on stitui tr a balho
sé rio. Ei s n os ag o ra , grgraaça s a E Bo lli cu j o g rande
ttigelli
Bottige rito é p reciso
rand e mérito louv ar ,
re ciso louvar
um a ed i çã o a tualiz
de p osse de uma adaa
tu alizad a mais atua
atualizad vi s to qu e Botti
a de todas vis
lizada

ge l li us ou as mais recen tes in f or m a ções de leitura


recentes eitura e correcorreçã ção q ue o Instituto
M a rx E n ge ls de M osco oscouu lh
lhe comunico
e comun icouu aprese
presen ntada n a ordem mais r aciona acionall
a da M e g a e num a traduç ã o notá vel pelo rigor, gor, pe pela ,
la m in ú cia pelpelasas nota
notas
também , o qu e é muito
ticas,, e direi tam
críticas muito importa
mportante nte, poporr sua
sua se gu ra nça teórica
segu
um a b oa trad uçã o só é conce
tr adu conceb bíve l com a con xp ressaa de q u e o tradu
co n di çã o e xpress tradutt or
mais do q ue um tradu
seja b e m mais raduto torr é precis
preciso quee se
o qu ja um ho m em inform
seja nformad adoo
cap
capaz pen etrarr n
az de penetra ão s ó no p ensamento
ensam ento de se
seuu autor
auto r m a s tam
tambb ém n o un i v er
. ç ã hoje
o pr eenchi
eenc hidada .
so con
conceitua ele s e a liment
ceituaii e h iiss tórico de q ue ele limentou ou Co nd i
contecime
Aconteci rico , em segu
nto teó rico
mento seguid a Eis n o s diant
ida diante texto q ue ve
e de um texto vem m
desempen
desem hando
penhan nass p o l êm i ca s no ataqu
do, na ataque e e na de defe sa de Ma r x um pape
fesa pa pe l de
relevo h á 30 anos . B o ttigelli explic
relev explica a m uito bem co m o , nesse nes se grand
grande e deba
debatete, os
7
PO R MARX

ve l co
rá vel comm os textos ulteriores , qu e definirão o materialismo hist ó rico e qu
quee
poder ã o esclarecer até o fundo esse movimento comunista real de 1843 nasci ¬
,
do antes deles, independentemente deles, ao lado do qual o Jovem Marx se
co
coloc ou então. A li ás , mesmo a nossa pr ó pria experi ê ncia pode lembrar- no s de
locou
quee se pode ser “comunista ” se
qu sem serr “ marxista ”. Tal distin çã o é requerida para
m se
evitar cair na tentação po poll ítica de confundir as tomadas de posição teóricas de
co m suas tomadas de posi çã o po líticas , legitimando as primeiras m e¬
Marx com
diante as segundas . M as tal distin ção esclarecedora nos
distinçã no s remete imediatamente
à exigê ncia definida por
po r Bottigelli: conceber “outro m étodo” para dar conta da VI
formação de Marx , logologo,, de seus momentos , de suas etapas, de seus “ presentes”,
SOBRE A DIALÉTICA MATERIALISTA
em suma, de suasu a transformação , para dar co conta dessaa dialética paradoxal cujo
nta dess
episódio mais extraordin á rio s ão exatamente esses Manuscritos , qu e Marx { Da desigualdade d a s origens )
mass que
publicou,, ma
nunca publicou po r isso mesmo, o desnudam, em seu
qu e talvez por se u pensa ¬
mento triunfante e desfeito , no limiar de ser finalmente , por po r um remanejamen-
to radical , o ú ltimo: ou seja , o primeiro. Todos os mistérios que impelem a teoria ao misticismo encon ¬
tram sua solu ção racional na prá xis humana e
soluçã na compreens ão
Dezembro de 1962 dessa prá xis.
K. Marx, “Oitava tese sobre Feuerbach”

Nota
Se fo
fossssee preciso caracter izar com um a palavra as cr ticas q u e m e foram diri
caracterizar ¬

1 Apresentaçã o, tradu ção francesa e notas de Emile Bottigelli. Editions Sociales. gidas , diria ququee, reconhecendo seu interesse , elas apontam meus estudos como
teórica e politicamente perigosos .
Essas cr ticas formulam co m nuances, duas censuras essenciais :
formulam, com
( 1 ) te
terr “acentuado separa Marx de Hegel. Resul ¬
acentuado”” a descontinuidade que separa
tado: o qu quee resta então do “n ú cleo racional ” da dial
dialética hegeliana, da pr ópria
dialética, e , em decorrência disso, d' 0 capital e da lei fundamental do nosso
tempo?; 1
2) ter substituído, propondo o conc
conceit o de “contradi çã o sobredeterminada ”,
eito
a concepção “monista da história marxista po porr uma
um a concepção “pluralista”.
Resultado: o que entãão da necess
qu e resta ent idade histórica , de su
necessidade suaa unidade, do papel
-
determinante da economia e, por po r conseguinte, da leleii fundamental do nosso
tempo? 2

causaa nessas censuras, como no s meus ensaios”.


Dois problemas est ão em caus
O primeiro refere-se à dialética hegeliana quee consiste a “racionalidade
: Em qu
qu e Marx reconhece nela ? O segun
segundo do diz respeito à dialética marxista: Em qu
quee
consiste a especificidade qu
quee a distingue rigorosamente da dialética hegeliana?
13 2 133
M ARXISM
ARXISMOO E HUMANISMO

M eu método tico n ão parte do hom


todo analítico em , ma s do pe r íodo
homem
sociall economicamen
socia te dado [. .]
economicamente
Marx , “ Notas sobre W a gner” O capital Ed . Sociales , tomo
H l, p 24 9 1881

O “H umani
umanism sm o ” socialista est á na or dem do di
ordem diaa
Engajada no pe perr odo que, do socialismo a cada um segund segundoo seu trabalho ,
va i co nduzi la a o comunismo a cada um seg
conduzi segundo
undo suas necessid ades , a U ni ão
necessidades
Sovi
Sovi é tica proclama a palavra de orde
or demm : Tudo
Tud o pel
peloo Homem , e aborda no
novos
vos
temas: liberdade do indiv indivídu
duo
o respeit
respeitoo da legalid ade, dignidade da pessoa
legalidade
operáá rios celebram se as r ealiza
Nos partidos oper ealizaçõ humanismoo socialista e
çõ es do humanism
procuram -se suas justifi
justifica tivas teóric as n’ O capital e, cada vez mais , nas obras
cativas
de juventude de Marx .
É um aconte
acontecimen
cimento to histórico . Pode se m esmo pergunta
erguntarr se o humanismo
socialista ãon é um t ema bastante tranquilizador
tranqu ilizador e atra
atraente possíível
ente para tornar poss
um diálogo entre democratass até mesmo uma troca ai
entre comunistas e sociais democrata ainn ¬
mais ampla com esses homens “de boa
da mais boa vo ntaade” que recusam a guerr
vont guerraa e a
m iséria. Hoje em dia
dia, até mesm
mesmoo a grande via do Humanismo pa parr ec
ecee condu
conduzi
zirr
ao socialismo
fato, cion á sempre teve po
revolucion
revolu porr o bjetivo o fim da exp loraa o
explor
De a luta ria çã
portanto a libertação do hom
e portanto homemem M as na sua asee histórica , ela
su a p rim eira f as

8
PO R MARX

p or v erdadeírame nte e reso


ramente re sollver
ve r realmente essees sess pro
pr o blemas, é pre
pr e ciso chamá los
pelo nome , seu nome no me científic o. A palavra
palavra de ordem do h um a nismo n ão te temm
v alor teórico , m as um valor de índice pr ático : é preciso chegar ao aoss problemas
co ncretos em si, o u s ej
concretos ejaa, ao conheci
conhecimenmento to deles , para propr o d uzir a transforma ção
hi
hist
st órica cuja necessidade
ne cessidade Marx pens pensouou . De
Devv emos toma cuidado para qu
tomarr cuid quee
nesse processo nenh nenhuma
uma pa palav ra, justif
lavra justifiicada pe la sua
pela su a fun
fu n ção pr á tica usurpe
uma
um a fun
fu n ç ã o teórica m as ququee, cumpri
cumprindondo sua funfu n ção p rática , ela desap
desaparareeça ao
mesmo tempo do cam teoriaa.
ca m po da teori
AOS LEITO
LEITORE
RES
S*
Janeiro de 1 96
9655

Nota
No ta
1 O conceito de “humanismo
hu manismo real” sust enta a argumentação de um artigo de J. Semprun publi ¬
sustenta
cad
cado .
o no n 58 do periódico
dico Clarté v er Nouvelle Critique n. 164, mar
ma rço de 19
1966 5 . É um con ¬
ce ito empre stado da s obras de juvent
emprestado ud e de M arx .
juventud blic o a tradu çã o de Por M a rx , e, na
br e v emente ao p ú blico
apreseentar bre
Gostaria de apres
Gostaria
mesmaa ocasião , fazer, com
mesm co m o distanciament
istanciamento o no tempo , um “balanço ” do con ¬

teú do filosófic
Por
Po r Ma
Marx
o e da signific
fico significaação deste
rx saiu na Fr
pequenoprlivro
an ça em 1965. M a s s ó o pref
Fran . “Hoje” dat
ef ácio ataa de 1965.
T od o s os outros
ou tros te
textos
xtos foram
fo ram pu
public
blicados
ados anteriormen
anterio rmente te de 19 60 a 1964
19 64 na
forma de artigos, e m revist
forma revistasas do Part ido Co m unista
Partido un ista F ra
rann c ês 1 El
Eles
es foram reu ¬
ta l como havia
id os tal
n idos haviamm si
sido
do e scrit
scritos enhumaa c or
os no seu tempo sem n enhum reçã o nem
orre
retificação.
Pa ra co m preender e julgar estes ensaio
Para ensaioss, é p reciso saber que qu e foram conc oncee¬
bidos redi
red igidos e publicados por
po r um fil ósofo comunista nu m a conjuntura
conjuntu ra
gica e teórica precisa
ideollógica
ideo precisa.. É necess á rio p ois
oi s tomar
to mar es
estes
tes textos
texto s pelo qu
quee
s ão. São ensaios fi c os as p ri
filosó fic
ens aios filos rimeiras
meiras etap
etapasas de uma
um a pesqu isa de longo
pesquisa
fôle re s ultados provisórios qu
go, res
lego quee me recem eviden
evidente mente ser
temente se r retifi
retifica
cadd os : esta
p e squisa abor
aborda naturezz a específica dos
da a nature dos princípios da ciênc ia e da filosofia
ncia
fundada p o r M arx . No entanto estes ens en s aios filosóf icos n ão derivam
derivam de um a
pes
pe s quisa plesmente
s im
implesmente e rudita ou especulativa
especula tiva . S ão simultaneam
simu ente interven
ltaneamente in terven ¬

ções nunum m a conjun tura d efinida .


conjuntura
* E ste texto foi red igido por Lou
Lo u is Alt husser em 10 de outub
lthusser ro de 1967, para
outubro pa ra servir de posf ácio
servir
às numeros
numerosasas edições de Por Marx ng u a estran
em língu estrangei
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