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Martinho Guedes dos Santos Neto

Waniéry Loyvia de Almeida Silva


Esse livro tem um fio condutor que percorre todos organizadores
os capítulos: a política e a sociedade em suas várias
dimensões e manifestações. Apresenta em seus

REGIM E DE INTE R V E NTORIA S


textos o resultado de sérios trabalhos de pesquisa.

Os leitores têm à sua disposição uma fonte de


informações bem fundamentadas do período
estudado – a Paraíba sob o regime de interventorias
(1930 – 1945). A diversidade de enfoques possibilita
uma visão multifacetada desses quinze anos de
nossa história e de seu legado, cuja face autoritária,
violenta e intolerante, infelizmente, ainda teima em
sobreviver. São fantasmas desse passado que não
foram exorcizados e hoje nos perseguem. A história
apresentada por este livro poderá nos fornecer
elementos para combatê-los, nesse momento em
que eles estão em cena e nos ameaçando.

Eliete Gurjão

REGIME DE
INTERVENTORIAS
política e sociedade na Paraíba
da Era Vargas (1930-1945)
Martinho Guedes dos Santos Neto
Waniéry Loyvia de Almeida Silva
Esse livro tem um fio condutor que percorre todos organizadores
os capítulos: a política e a sociedade em suas várias
dimensões e manifestações. Apresenta em seus

REGIM E DE INTE R V E NTORIA S


textos o resultado de sérios trabalhos de pesquisa.

Os leitores têm à sua disposição uma fonte de


informações bem fundamentadas do período
estudado – a Paraíba sob o regime de interventorias
(1930 – 1945). A diversidade de enfoques possibilita
uma visão multifacetada desses quinze anos de
nossa história e de seu legado, cuja face autoritária,
violenta e intolerante, infelizmente, ainda teima em
sobreviver. São fantasmas desse passado que não
foram exorcizados e hoje nos perseguem. A história
apresentada por este livro poderá nos fornecer
elementos para combatê-los, nesse momento em
que eles estão em cena e nos ameaçando.

Eliete Gurjão

REGIME DE
INTERVENTORIAS
política e sociedade na Paraíba
da Era Vargas (1930-1945)
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

Reitora MARGARETH DE FÁTIMA FORMIGA MELO DINIZ


Vice-Reitora BERNARDINA Mª JUVENAL FREIRE DE OLIVEIRA
Pró-Reitora PRPG MARIA LUIZA PEREIRA DE ALENCAR MAYER FEITOSA

EDITORA UFPB

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MARIA PATRÍCIA LOPES GOLDFARB (Ciências Humanas)
MARIA REGINA DE VASCONCELOS BARBOSA (Ciências Biológicas)
Martinho Guedes dos Santos Neto
Waniéry Loyvia de Almeida Silva
organizadores

Editora UFPB
João Pessoa
2020
Direitos autorais 2020 – Editora UFPB
Efetuado o Depósito Legal na Biblioteca Nacional,
conforme a Lei nº 10.994, de 14 de dezembro de 2004.
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MÔNICA CÂMARA
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Contracapa DE CAMPINA GRANDE)MÔNICA CÂMARA

Revisão
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Catalogação na fonte:
Biblioteca Central da Universidade Federal da Paraíba

R335 Regime de interventorias : política e sociedade na


Paraíba da era Vargas (1930-1945) / Martinho
Guedes dos Santos Neto, Waniéry Loyvia de
Almeida Silva (organizadores). – João Pessoa:
Editora UFPB, 2020.
353 p. : il.
ISBN: 978-85-237-1489-5
1. Política – Paraíba. 2. Política – Era Vargas.
3. Política – Partidária. 4. Relações sociais I. Santos
Neto, Martinho Guedes dos. II. Silva, Waniéry Loyvia
de Almeida. III. Título.

UFPB/BC CDU: 32(813.3).082/.083

EDITORA UFPB Cidade Universitária, Campus I ­­– s/n


João Pessoa – PB
CEP 58.051-970
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editora@ufpb.edu.br
Fone: (83) 3216.7147

Editora filiada à

Sumário

Prefácio................................................................................................. 07
Eliete Gurjão

Estado intervencionista na Paraíba

1
As paixões movem a política: a Paraíba entre a morte
de João Pessoa e a vitória do Movimento de 30....................... 19
Monique Cittadino

2
A interventoria de Anthenor Navarro, o centralismo estatal
e as relações de poder na Paraíba (1930-1932)......................... 51
Martinho Guedes dos Santos Neto

3
O governo interventorial de Gratuliano Brito
e a recomposição oligárquica na Paraíba (1932-1934)............ 81
Bento Correia de Sousa Neto

4
Autoritarismo interventorial – a Paraíba de Argemiro
de Figueiredo (1935-1940)....................................................... 109
Waniéry Loyvia de Almeida Silva

5
A interventoria de Ruy Carneiro e as composições políticas
no Estado da Paraíba entre os anos de 1940 e 1941............... 135
Jean Patrício da Silva

O poder, a sociedade, a imprensa e as relações sociais

6
A (re)organização de uma elite: representação política,
poder e parentelas na Paraíba pós-30...................................... 165
Mariana Karen Alves dos Santos | Martinho Guedes dos Santos Neto

7
INTEGRANDO OS “BRASIS”: José Américo de Almeida
e o Ministério da Viação e Obras Públicas durante
o Governo Provisório (1930-1934)................................................. 187
Jivago Correia Barbosa
8
Estado, movimento operário/proletário e anticomunismo
na Paraíba (1930-1934)............................................................ 219
Faustino Teatino Cavalcante Neto

9 A ação integralista brasileira na Paraíba (1933-1938)........... 245


Renato Elias Pires de Souza

10
Mulher, igreja e sociedade: assistencialismo e controle
social na Paraíba (1930-1945).......................................... 275
Simone da Silva Costa

11
Um jornal e uma rádio estatais: aparelhos de hegemonia
em tempos de interventorias (1935-1945)....................... 301
José Luciano de Queiroz Aires

12
Uma nova Escola para um novo urbanismo: o Instituto
de Educação da Paraíba no rumo da nova cidade......... 331
Ângelo Emílio da Silva Pessoa | Lucas Gomes Nóbrega

Sobre os autores................................................................................. 350


|7

Prefácio

Eliete Gurjão

O tema ‘Interventorias na Paraíba’ vem sendo estudado há muito


tempo pela historiografia. Porém, em sua absoluta maioria, são meros
relatos de cunho factualista, descritivo e, quase sempre, apologético.
Em grande parte desses estudos, elas são apresentadas tal como numa
galeria, onde se situam entre os governantes da Paraíba Republicana
desde seus primórdios. O texto referente a cada um consta de dados
biográficos, sua filiação partidária e a relação de suas obras, cuja
relevância ou não depende da posição político-partidária do autor.
Tratando-se do período imediato ao movimento de 1930, em que o
clima político foi o mais agitado, e o fanatismo partidário dividia a
sociedade entre perrepistas e liberais, as fontes são absolutamente
radicais, mitificando seus correligionários e defenestrando seus
adversários. Nas décadas seguintes, houve um arrefecimento das
paixões políticas, porém a historiografia ainda tem suas limitações,
as fontes ainda estão contaminadas pelo fanatismo, os testemunhos
carecem de isenção partidária e os autores não utilizam procedimentos
teórico-metodológicos, até porque não são historiadores de ofício.
Com a implementação dos Cursos de História nas Universidades
da Paraíba e, mais adiante, dos Cursos de Pós-graduação, a
historiografia paraibana foi enriquecida com estudos e pesquisas
mais aprofundados, de modo que velhos temas ganharam novas
abordagens, e novas temáticas foram acrescentadas, inspiradas
no estudo de aspectos do cotidiano, das mentalidades, enfim, da
chamada Nova História.
Este livro é uma demonstração positiva da importância das
universidades na reflexão sobre a realidade política e social. Sabemos
que a elite brasileira tem consciência desse papel da universidade e,
por tal motivo, pretende que ela seja monopolizada por seus quadros
8 | Regime de interventorias

como antigamente. Daí a investida do governo atual retirando suas


verbas, pretendendo privatizá-la e, portanto, fechando seu acesso
aos que não podem pagar.
Com o título Regime de Interventorias: política e sociedade
na Paraíba da era Vargas (1930-1945), temos uma coletânea de
textos, cuja maioria é resultante de dissertações de Mestrado e teses de
Doutorado defendidos na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), na
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e na Universidade
Federal de Pernambuco ((UFPE). Constam também textos de autoria de
professores da UFPB, cujo objeto de estudo se situa no mesmo período.
O livro tem um fio condutor que percorre todos os capítulos: a política
e a sociedade em suas várias dimensões e manifestações. Apresenta
o resultado de sérios trabalhos de pesquisa, que, considerando as
dificuldades encontradas para acessar arquivos da Paraíba, com
certeza, enfrentaram obstáculos os mais diversos. Valeu o esforço!
Os leitores têm à sua disposição uma fonte de informações bem
fundamentadas do período estudado em seus vários aspectos, com
uma linguagem fácil e apresentada de forma didática.
O livro está dividido em duas partes: a primeira, cujo título
é ‘Estado intervencionista na Paraíba’, trata de cada uma das
interventorias; e a segunda, ‘O poder, a sociedade, a imprensa e
as relações sociais’, já demonstra, nesse título, sua abrangência,
embora o período enfocado seja o mesmo.
A Profa. Monique Cittadino é autora do primeiro texto, com
o sugestivo título ‘As paixões movem a política: a Paraíba entre a
morte do Presidente João Pessoa e a vitória do movimento de 30’.
Com base em pesquisa realizada na imprensa oficial e bibliografia
diversificada, narra, com cores vivas, os fatos marcantes dessa fase
conflituosa e o papel dos principais personagens de uma trama em que
o então Presidente da Paraíba, Álvaro de Carvalho, vê-se enredado,
alheio às conspirações que culminaram na rebelião de 30 e seus
desdobramentos. Sua narrativa descreve, com clareza, o fanatismo
e a violência dominantes na capital e no interior do Estado. Mostra
também a agitação na Assembleia dos deputados, que culminou
Regime de interventorias | 9

com a troca da bandeira do Estado e do nome da capital. Na última


parte do texto, a autora descreve a vitória do movimento de 30, a
interventoria de José Américo de Almeida e sua crescente ascensão
política, inclusive em nível nacional.
O segundo texto, de autoria do Prof. Martinho Guedes dos
Santos Neto, trata da interventoria que se seguiu à de José Américo e
tem como título ‘A interventoria de Anthenor Navarro, o centralismo
estatal e as relações de poder na Paraíba’ (1930-1932). Fundamentado
em ampla pesquisa documental e bibliográfica, de forma objetiva, o
autor demonstra como Anthenor Navarro, indicado por seu antecessor,
exerceu o mandato em consonância com o ideário tenentista e
inspirado na administração de João Pessoa. Nesse sentido, adota o
centralismo e a burocratização do aparelho de Estado, atuando livre
das ingerências de antigas oligarquias dominantes, controlando,
financeira e politicamente, a administração dos municípios. Com
essa postura, atraiu a oposição de oligarquias preteridas, em que se
destacou a dos Pessoa. Todavia, o autor afirma que ele tinha apoio
da maioria da população e contribuiu para consagrar o mito João
Pessoa e destaca como principais pontos de sua administração a
recuperação das finanças e a política fiscal.
Bento Correia dos Santos Neto é autor do terceiro texto, que
constitui parte de sua dissertação do Mestrado em História da UFPB.
Em ‘O governo interventorial de Gratuliano de Brito e a recomposição
oligárquica na Paraíba (1932-1934)’, o autor aborda as práticas
políticas de Gratuliano Brito comparando-as com as de Anthenor
Navarro. Mais moderado, Gratuliano se aproxima dos políticos e
das oligarcas locais e promove a reacomodação das oligarquias, em
consonância com o propósito de Vargas e de José Américo. Chama
a atenção para as eleições de 1933 e 1934, cuja campanha e práticas
eleitoreiras foram semelhantes às antigas. Mostra a formação dos
partidos PP (partido situacionista) e PRL (partido da oposição) como a
oportunidade ideal para a recomposição oligárquica, ocasião em que,
inclusive o PP, congregou em seus quadros membros da oligarquia
tradicional e deixou de lado o propalado combate às oligarquias e a
10 | Regime de interventorias

moralização da política. Aponta o papel de José Américo junto com


Vargas e nas Obras Contra as Secas em 1932 e conclui mostrando
Gratuliano como o pacificador.
No quarto texto, temos o trabalho de Waniery Loyvia de Almeida
Silva, também produzido durante o Mestrado em História da UFPB,
intitulado ‘Autoritarismo interventoria – a Paraíba de Argemiro de
Figueiredo (1935-1940)’. Inicia mostrando o perfil político de Argemiro
na condição de herdeiro de tradição política familiar. Relata o apoio
de José Américo à sua ascensão aos cargos públicos de 1932 a 1935,
até sua indicação para governar a Paraíba. Assume o governo com
a proposta de combater as disputas inter-oligárquicas, de pacificar e
congregar suas facções. Durante seu governo, conquistou o apoio de
coronéis e oligarcas ao seu bloco hegemônico, rivalizando, inclusive,
com a liderança de José Américo. A autora chama a atenção para os
fatores que favoreceram sua liderança: tratamento amigável, poder
de convencimento, eloquência, boa reputação e capital político.
Mostra como o centralismo e o autoritarismo caracterizam seu
governo e dedica um item de seu trabalho à repressão exercida
sobre os movimentos operários e a ANL, em que relata o clima de
terror instalado na Paraíba e a sistemática e preventiva atuação de
Argemiro nesse processo. Fecha seu trabalho relatando a crise que
culminou com seu afastamento do governo por Vargas, mediante
sérias denúncias feitas por Epitacinho, filho de João Pessoa.
Concluindo a primeira parte do livro, temos o trabalho
denominado de ‘A interventoria de Ruy Carneiro e as composições
políticas no estado da Paraíba entre os anos 1940 e 1941’, que representa
um trecho da dissertação de Mestrado em História da UFPB, defendida
por Jean Patrício da Silva. Inicia relatando a crise do governo Argemiro
de Figueiredo e sua renúncia. Fala sobre os critérios adotados por
Ruy Carneiro na escolha de seus auxiliares, a composição de seu
governo e os grupos em disputa em alguns municípios. Mostra como
Ruy Carneiro tratou de desmontar o esquema argemirista e montar o
próprio esquema, compondo com os correligionários de José Américo.
Nesse sentido, descreve as composições realizadas nos principais
Regime de interventorias | 11

municípios onde evidencia as articulações com antigas oligarquias,


nomeando prefeitos ligados ao americismo.
Iniciando a segunda parte da coletânea, temos o texto ‘A (re)
organização de uma elite: representação política, poder e parentelas
na Paraíba pós-1930’ de dois autores: Mariana Karen Alves dos Santos
e Martinho Guedes dos Santos Neto – ele, professor coordenador
do grupo Estudos Políticos e História da UFPB, e ela, graduanda e
membro do referido grupo. Depois de fazer uma síntese do sistema
oligárquico-coronelista durante a primeira República, em geral, e,
mais especificamente, na Paraíba, mostra como ele se recompôs com
o novo estado centralizado pós-30, construindo brechas de acesso
ao novo esquema. Assim, representantes de antigas oligarquias se
ressignificaram, adquirindo um novo capital simbólico (conforme
conceito de BOURDIEU) e aparecendo como o novo perante a sociedade,
como, por exemplo, José Américo. Os autores apontam Anthenor
Navarro como uma exceção entre os interventores, inclusive, devido
à sua atuação no sentido de afastar velhas oligarquias dos cargos
públicos. Chamam a atenção, ainda, para o processo em que “novas
lideranças” utilizam velhas práticas, como ocorreu nas eleições de
1933, e prosseguiram praticando o clientelismo e o favorecimento
às parentelas. Analisam a trajetória dos partidos políticos, desde as
eleições de 1933 até 1947, de forma completa, apresentando quadros
demonstrativos da manutenção da elite agrária no poder da Paraíba.
O segundo trabalho desta parte dois, ‘Integrando os Brasis:
José Américo de Almeida e o Ministério da Viação e Obras Públicas
durante o governo provisório (1930-1934)’, de autoria de Jivago
Correia Barbosa, constitui parte de sua tese de Doutorado na UFCG.
O autor afirma que a leitura dos dois relatórios elaborados por José
Américo, durante seu mandato, fornece elementos para analisar a
importância, o significado e o alcance de sua atuação no Ministério,
no contexto de execução do projeto de estado de Getúlio Vargas.
Aponta a insuficiência das análises sobre o trabalho de José Américo
no Ministério, porque reduzem sua importância às obras contra as
secas. Consideram que seu alcance foi bem mais amplo, tanto do
12 | Regime de interventorias

ponto de vista geográfico, quanto de sua inserção na política nacional


desenvolvimentista de Vargas. Mostra que o raio de ação do Ministério,
além do combate às secas, abrangeu a construção de estradas de
rodagem, a expansão das ferrovias e das demais obras, visando à
integração regional. Na realidade, essa integração foi feita de forma
desigual e combinada, favorecendo o Sudeste com as migrações de
nordestinos para o para essa região, onde constituem mão de obra
abundante e barata. Enquanto isso, o Nordeste, além de fornecer
trabalhadores com baixo custo, passou a ser mero consumidor de
produtos manufaturados no Sudeste. Aponta esse processo como
uma das contradições inerentes ao desenvolvimento capitalista.
Contraditório também foi José Américo, conforme mostra o autor,
um “modernizador” que manteve a estrutura oligárquica tradicional.
Em seguida, temos o trabalho do professor da UFCG Faustino
Teatino Cavalcante Neto que, sem fugir do contexto proposto pelo
livro, aborda outra vertente, conforme evidencia o título ‘Estado,
movimento operário/proletário e anticomunismo na Paraíba (1930-
1935)’. O autor coloca como objetivo perceber as formas como o
anticomunismo foi praticado pelos interventores da Paraíba no
período de 1930 a 1935. Aponta os primórdios do anticomunismo
no Brasil e na Paraíba que isso remete a 1917. De início, relata as
condições de vida do operariado paraibano, suas lutas e sua relação
com as ideias da URSS, para compreender bem mais a atuação
das elites. Constata que, no período pós-“revolução”, os operários
manifestavam confiança na atuação do Estado, que procurava tutelar
sindicatos e associações. Afirma que o período de 1934 a 1935 marcou
o início das tensões entre o movimento operário e o governo e chama
a atenção para o papel da Frente Sindical nas greves depois do
decreto da ilegalidade da ANL. A repressão inicial é feita em duas
frentes: com ameaças e campanha, em cuja execução destaca o jornal
oficial A UNIÃO, “a força das palavras” perante a ameaça comunista.
Mostra a preocupação do governo com a possibilidade de expandir a
revolução soviética e seu combate, através do discurso de inspiração
nacionalista, religiosa e de defesa da família. Relata a participação
Regime de interventorias | 13

de entidades representativas dos trabalhadores nas eleições pela


“reconstitucionalização” e finaliza enfatizando o papel do Jornal A
UNIÃO na campanha anticomunista desde 1917.
O trabalho que segue, de Renato Elias Pires de Souza, também
aborda outra vertente política do período em estudo intitulado ‘A
Ação Integralista Brasileira na Paraíba-1933-1938’. Trata-se de um
extrato de sua dissertação do Mestrado em História da UFCG. De
início, faz um resumo do movimento de 1930 e da construção do
mito João Pessoa. Articulando o contexto local ao nacional, mostra o
surgimento da AIB na Paraíba, seu ideário, as caravanas, a organização
de milícias e a expansão. Chama a atenção para a fragilidade e a pouca
repercussão do movimento na Paraíba devido ao monopólio exercido
pelos partidos oligarcas e atenta para a falta de repressão por parte do
governo, relevando seu relacionamento “auspicioso” com Argemiro de
Figueiredo, cuja tolerância se justificava por seu anticomunismo. Em
síntese, o autor demonstra como ocorreram o crescimento da AIB e
seus momentos finais na Paraíba, quando, tornando-se inconveniente,
foi encerrada e seus líderes, vítimas de repressão, foram trancafiados
nas mesmas celas antes ocupadas pelos comunistas.
Com o trabalho de Simone da Silva Costa, novos personagens
entram em cena, conforme anunciado no título ‘Mulher, Igreja e
sociedade: assistencialismo e controle social na Paraíba (1930-1945)’.
Trata-se de mostrar um aspecto praticamente desconhecido e que
exerceu relevante protagonismo na história do período: o movimento
noelista que, segundo a autora, é um apostolado social originado na
França. Na Paraíba, foi fundado em 1931 pela Igreja, com objetivo
de combater o ensino leigo e o comunismo, por meio da atuação de
mulheres da elite social e urbana sob a supervisão de um sacerdote.
As noelistas ministravam aulas de catecismo em escolas e em bairros
pobres e distribuíam enxovais para recém-nascidos, alimentos roupas
e dinheiro para os mais necessitados, que estavam sendo afastados
para a periferia da cidade devido à reforma urbana de então. A autora
chama a atenção, inclusive, para o apoio dos interventores a esse
movimento, visto como aliado no controle dos trabalhadores e de
14 | Regime de interventorias

sua cooptação contra o “perigo vermelho”, ao mesmo tempo em que


elogiavam a participação das mulheres como indispensável na luta
pela preservação dos valores tradicionais e contra os movimentos
subversivos. Na parte final do texto, a autora menciona a aversão
que a Igreja manifestava ao movimento feminista que crescia no
exterior. Juntamente com a parte da sociedade local, considerada
como intelectualizada, combatia as feministas cujas demandas
colocavam como iguais às dos comunistas: depreciar o tradicional
papel da mulher na sociedade e no lar, como mãe e esposa. Nesse
sentido, foi criada a Associação Paraibana para o Progresso Feminino,
voltada para o assistencialismo e a cultura.
O professor da UFCG, José Luciano de Queiroz Aires, apresenta
o próximo texto: ‘Um jornal e uma rádio estatais: aparelhos de
hegemonia em tempos de interventorias (1935-1945)’. A partir da
flagrante hegemonia exercida pela mídia atualmente e embasado
nas concepções teórico-metodológicas gramscianas, o autor analisa
o papel do jornal A UNIÃO e da Rádio Tabajara como aparelhos de
hegemonia, durante as interventorias de Argemiro de Figueirêdo
e Ruy Carneiro, bem como suas repercussões político-ideológicas.
Demonstra que, desde 1935, os interventores reprimem as lutas dos
trabalhadores e os controlam por meio desses aparelhos, representados
pela Rádio Tabajara e pelo jornal A UNIÃO. Nesse sentido, pesquisou
a trajetória desses órgãos, desde sua criação, e acompanhou sua
evolução técnica e seu discurso, que foram adaptados para melhorar
sua atuação como porta-vozes de cada governo. Chama a atenção
para o incentivo dos interventores à constante melhoria dos recursos
técnicos e profissionais desses órgãos, para garantir publicações de
boa qualidade sobre atos e méritos do governo que tinham de ser
exaltados e mostrados em alto estilo, inclusive através das melhores
fotografias. O autor denomina essa estratégia de “teatralização do
poder” e demonstra com fotos que percorrem todo o seu texto.
O último texto do livro é de autoria do Prof. Ângelo Emílio da
Silva Pessoa e do mestrando Lucas Gomes Nóbrega, ambos da UFPB.
‘Uma nova Escola para um novo urbanismo: o Instituto de Educação
Regime de interventorias | 15

da Paraíba no rumo da nova cidade’, é um título que já antecipa o


que ocorre de novo nesse período de interventorias. Narra a história
de dois processos articulados: inovação educacional e mudanças no
traçado urbano da cidade entre 1935 e 1939 e seus desdobramentos.
Os autores comentam a lentidão do crescimento da capital da Paraíba,
que, no início do Século XX, ainda se conservava praticamente como
no Século XIX, mas que, nas quatro primeiras décadas do Século XX,
passou por um grande crescimento populacional e pelo surgimento de
novos bairros. Em seguida, afirmam que, nas três primeiras décadas
do Século XX, o governo criou unidades escolares, simultaneamente
ao processo de urbanização. Esse fato só se intensificou no governo de
Argemiro de Figueiredo, que pretendeu ampliar o espaço educacional
em consonância com as diretrizes do Novo Estado. Comentam a
seletividade do “Novo” no contexto em que velhas oligarquias eram
incorporadas ao aparelho de Estado bem como o conceito de cidadania
no discurso educacional dominante. Em 1939, Argemiro inaugura o
Instituto de Educação e anuncia a construção do “Parkway da Lagoa”,
a que se segue a expansão da cidade na direção leste. Os autores
descrevem as etapas da urbanização da Lagoa e a importância do
Instituto de Educação na época de sua inauguração e ainda hoje.
Concluindo, acredito que os textos brevemente resumidos
contribuem sobremaneira para conhecer o período estudado, tanto
devido ao seu conteúdo quanto ao tratamento do material pesquisado.
Sua diversidade de enfoques possibilita uma visão multifacetada
desses quinze anos de nossa história e de seu legado, cuja face
autoritária, violenta e intolerante, infelizmente, ainda teima em
sobreviver. São fantasmas desse passado que não foram exorcizados
e hoje nos perseguem. A história apresentada por este livro poderá
nos fornecer elementos para combatê-los, nesse momento em que
eles estão em cena e nos ameaçando.

Eliete de Queiroz Gurjão


Setembro/2019
| 331

Uma nova Escola para um novo urbanismo: o Instituto


de Educação da Paraíba no rumo da nova Cidade

Ângelo Emílio da Silva Pessoa


Lucas Gomes Nóbrega

No Brasil, os novos methodos desde algum tempo


vêm sendo adoptados notadamente nos Estados
de Minas Geraes, São Paulo, Pernambuco e no
Districto Federal e suas repercussão nas demais
unidades da Federação encontrou na Parahyba o
mais alto reconhecimento... Com effeito, o vulto
da obra que acaba de ser emprehendida, o seu
caracter monumental, emfim a construcção dos
edificios do Instituto de Educação documenta
por si mesma o esforço da administração publica
estadual e a sua firmeza de propositos em atingir
aquelle objectivo.
No terreno limitado pelas avenidas Monteiro da
Franca, Tabajáras, Duarte da Silveira, Tiradentes e
pelo futuro “park-way” da Lagôa, ficarão o Edificio
Central, a Escola de Puericultura, O Jardim da
Infancia e o Gymnasio, e no terreno visinho,
entre as avenidas Duarte da Silveira, Monteiro
da Franca e Tiradentes, serão localizados a Escola
de Applicação e o Estadio.
Ítalo Joffily Pereira da Costa. Sobre o Plano do
Instituto de Educação (1937)
........................................................................................
Há quatro anos passados, esse trecho de nossa
capital era um matagal tristonho dando aos que
passavam a impressão de coisa abandonada. Hoje,
ele é o recanto mais encantador de João Pessoa.
Discurso do Governador Argemiro de Figueiredo
na inauguração do Instituto de Educação (19 de
abr., de 1939).
332 | Regime de interventorias

Um Estado nacional que se propunha Novo preconizava,


entre os seus objetivos, adotar práticas que colocassem a sociedade
brasileira no compasso das grandes mudanças que se processavam
no mundo. Esse conjunto de mudanças era adotado nos principais
Estados brasileiros e repercutido nos demais. A história que aqui se
conta é a da articulação de dois processos: a inovação educacional e
as mudanças no traçado urbano da Capital da Parahyba, acontecidas
entre os meados e os finais dos anos de 1930, mas cujas consequências
se desdobraram nas décadas seguintes.
A cidade de João Pessoa, com seu novo nome estabelecido pelas
injunções da contenda política de 1930, nas três primeiras décadas
do Século XX, pouco avançara o seu traçado urbano para além da
velha Cidade da Parahyba. Tomando como base uma planta do ano
de 1858, determinada pelo Presidente da Província, Henrique de
Beaurepaire Rohan (1857-1858), e elaborada pelo engenheiro Alfredo
de Barros e Vasconcelos, observa-se que o processo de expansão do
traçado urbano da Capital pouco avançou entre os meados do Século
XIX e o início do XX, apenas se esboçaram bairros contíguos à atual
área central175.
Entre o alvorecer do Século XX e o final de sua quarta década,
a população da Capital paraibana passou de 28.793 habitantes
para 52.990, em 1920, e para 94.333, em 1940, acompanhando uma
tendência de crescimento populacional e urbanização que marcava
o país (IBGE). Assim, algumas antigas áreas limítrofes ao primitivo
traçado da Capital e que contavam com habitações esparsas ou
sítios e fazendas, começaram a sofrer um processo de urbanização,
com a criação de novos bairros, como o de Jaguaribe, o de Cruz
das Armas (a Sul e Oeste) e o da Torre (a Leste), e adensamento
da ocupação de Tambiá, que avançou em direção a Mandacaru
(ao Norte e Leste), em demanda da faixa litorânea e do extenso

175 Observando as plantas feitas entre meados do Século XIX e início do XX, percebe-
se a pouca expansão do traçado urbano. A maior parte das modificações nesse
período se estabeleceu em torno de modificações (novos arruamentos, demolições
etc.) no interior do traçado até então existente (SOUSA e VIDAL, 2010).
Regime de interventorias | 333

Sul rural do município. Esse processo contou com iniciativas


planejadas e ações de caráter mais espontâneo e que ainda se
encontram em andamento, com a multiplicação de novos bairros e
a expansão do traçado urbano de maneira intensa em um século176.
O antigo traçado da cidade, ao qual sua área urbana se confinou
durante três séculos, praticamente passou a coincidir com o que
hoje denominamos de maneira um tanto discutível – no nosso
entender de “Centro Histórico”.
Outrossim e para além do plano urbano, desde inícios deste
século e poucos anos passados da inauguração recente do regime
republicano, as autoridades locais reconheciam a insuficiência
dos recursos educacionais para uma população em franco
crescimento e se defrontavam com o desafio de expandir uma
rede educacional condizente com as exigências de uma sociedade
predominantemente urbana e que demandava o domínio de
conhecimentos formais por parte substancial da população. Na
Parahyba, a Escola Normal, criada em finais do Império, recebeu
um novo e imponente prédio na década de 1920, durante o governo
de Camilo de Holanda (1916-1920).
Também ao longo dessas três primeiras décadas, foram
desenvolvidas algumas iniciativas governamentais que visavam
dotar a cidade de mais aporte educacional:

O processo de urbanização e o crescimento


dos setores industrial, comercial e de serviços
passaram a exigir que o estado desenvolvesse,
no setor da Instrução Pública, políticas que
viessem a atender às novas demandas do mercado
(PINHEIRO, 2002. p. 175).

176 Nas primeiras décadas do Século XX, conviveram formas de expansão planejada
e espontânea na Capital. A par do surgimento de áreas precárias de habitação de
trabalhadores de baixa renda nas áreas centrais ou em seus arredores, como o
Cordão Encarnado, nas cinco primeiras décadas desse século, foram estabelecidos
loteamentos em antigas fazendas, como o Veado-Sobradinho, em linhas gerais,
os atuais Bairros de 13 de Maio, dos Estados e Santa Júlia-Macacos, atual Bairro
da Torre. Assim a área urbana chegou à região litorânea (RESSA, 2012).
334 | Regime de interventorias

Pari passu a essas iniciativas em relação à expansão dos


meios de instrução pública, caminhava o processo de importantes
intervenções no tecido urbano, visando adequá-lo aos padrões de
civilização pretendidos pelos governantes:

As ruas onde se localizam as escolas são justamente


o lugar na cidade onde os conflitos ganham vida.
Nela, na rua, a sociedade juntamente com os novos
signos expressará essa vida moderna. As ruas na
cidade da Parahyba, em sua origem, destacavam-
se por serem longas, tortuosas e acidentadas, as
“ruas-caminho” (...). Na cidade da Parahyba do
Norte essas intervenções iniciam-se no final do
Século XIX e início do Século XX: calçamento,
nivelamento e alinhamento foram as primeiras
e principais preocupações com as ruas da cidade
(CARDOSO, 2010. p. 31).

Assim, antes mesmo da década de 1930, ensaiavam-se


políticas de renovação da equipagem urbana, que tinham várias
frentes de ação, como abastecimento de água, eletrificação da
iluminação pública, calçamento de vias públicas, ajardinamento
e aformoseamento de praças, construção de prédios de grande
porte para a administração pública e para finalidades privadas,
entre outras. A cidade começava a remodelar sua área central e
a escapar dessa raia em direção aos bairros que se começavam a
abrir. Pensaremos em mais detalhes sobre a articulação entre a
construção de um imponente equipamento escolar, a urbanização
de uma área e a política local.

***
Passando bastante ao largo dos conflitos que abalaram
a Paraíba e o Brasil em torno de 1930 e do estabelecimento da
auto intitulada “República Nova” – objeto de copiosa produção
historiográfica e analisada detidamente em outros textos da presente
coletânea –, no âmbito local e no nacional, foi estabelecida uma série
Regime de interventorias | 335

de disputas visíveis e subterrâneas sobre a configuração do Estado.


Em sete anos, sucederam-se levantes militares, duas Constituições,
derrubadas de governos e intervenções, prisões e exílios e a abertura
e o fechamento de Casas Legislativas, o que culminou com um golpe
que implantou o “Estado Novo”. Na Paraíba, esse foi um período de
intensos conflitos políticos, visíveis ou subterrâneos, que também
estão relacionados a uma série de mudanças socioeconômicas de
grande porte.
Destarte, estabelecido um Estado que se pretendia “Novo”,
sucedâneo de uma “revolução”, herdavam-se as demandas das
primeiras décadas republicanas e apostava-se na capacidade do
regime recém-implantado de atender a essa expectativa. Para tanto,
o dirigismo estatal aparecia como um caminho para viabilizar essa
pretensão. Na Paraíba e em toda a nação, a alegada “modorra” da
“Velha República” – pelo menos nas estratégias discursivas das novas
autoridades – teria de ser respondida com dinamismo e pretensões
modernas. Nesse processo, a mão firme do Estado aparecia como
pretexto e leitmotiv que permitiria fazer a nação ingressar no rumo
dos novos tempos, separando a direita e a esquerda em nome da
nação: combatendo ou dizendo combater os aludidos desmandos
das velhas oligarquias ou, ainda pior, na visão das autoridades,
refreando os excessos dos movimentos “extremistas”, que se julgava
afetar o tecido da “pátria como família” e que seriam baseados em
ideias apontadas como exógenas, cujo combate exigia uma firme
vigilância das autoridades: navegando entre os escolhos do “velho”
estado e a “anarquia” das massas, o Novo Estado buscava sacramentar
e garantir os princípios de “Ordem e Progresso” que nortearam a
República em suas origens. Nesse “Novo”, a ruptura com o passado
era bastante seletiva: antigos oligarcas podiam se atualizar e afinar
aos novos tempos, e os movimentos sociais deveriam aceitar os
ditames da Nação como gente ordeira e trabalhadora.

Num setor estratégico para o controle social


como o da educação infantil, o discurso dos livros
336 | Regime de interventorias

escolares, especialmente editados nesse período,


relevam o “labor quotidiano”, “os cuidados do
lar”, “a tenacidade” e “a grande virtude militar, a
disciplina”, para a construção da pátria (LENHARO,
1986. p. 49).

Oliveira Vianna, um dos principais ideólogos do Estado Novo,


preconizava quem seria O cidadão do Estado Novo e assim se exprimiu
no Diário de Notícias em 07 de fevereiro de 1939:

Um dos pontos centrais de qualquer programa


de educação nacional há de ser, aqui, pois, a
sistematização da educação social do brasileiro,
a cultura desses sentimentos que se prendem aos
interesses do grupo e da nacionalidade (VIANNA,
1991, p. 375. Grifo nosso).

Assim, visando se coadunar com essas linhas gerais traçadas


pelo poder central, as interventorias da Paraíba tentaram corresponder
a esses princípios, embora não se convertessem em mera correia de
transmissão do estado central, tendo que se articular constantemente
com as demandas da política local, abafadas ou invisibilizadas com
a supressão dos partidos, mas latentes nos jogos de pressão sub-
reptícios por trás da institucionalidade. Os Interventores tiveram
que operar num jogo de forças que ultrapassou os limites aparentes
da unidade pretendida pela Nação.
Na Interventoria de Argemiro de Figueiredo (1935-1940),
confluíram diversos processos políticos que se verificavam a montante
e desaguaram a jusante, dos quais acompanhamos, em seguida,
uma relação entre o processo de expansão urbana da Capital e a
consolidação de um espaço escolar modelar para a pretendida missão
de preparar a juventude local para os novos tempos e permitir a
formação de cidadãos ordeiros, produtivos e disciplinados.
O dia 19 de abril de 1939, dia do aniversário natalício do
Presidente Getúlio Vargas, foi bastante afanoso para o Interventor
Argemiro de Figueiredo, que teve uma intensa agenda de inaugurações
Regime de interventorias | 337

solenes, para marcar essa data com todo o garbo que a ocasião exigia.
Exaltava o Ditador e auferia os dividendos políticos correspondentes.
O Jornal Oficial do Governo do Estado assim descreveu, na edição
do dia seguinte, uma dessas solenidades:

Constituiu um espetáculo da maior imponência


cívica a inauguração, ontem, do Instituto de Educação
– uma das maiores realizações do atual Govêrno – em
homenagem ao aniversário natalício do presidente
Getúlio Vargas.
Na tarde esfuziante de sol, o monumental edifício
do modelar estabelecimento de ensino, que ladeia
largo trecho da avenida Getúlio Vargas, também
ontem inaugurada, apresentava-se festivo, com
as suas dependências totalmente tomadas por
milhares de alunos do Liceu e dos grupos escolares
da Capital, além de incalculável multidão formada
pelos elementos de maior representação dos nossos
círculos administrativos, intelectuais e sociais.
Nenhum dia mais próprio para aquela expressiva
solenidade do que o que assinalou a data natalícia
do Chefe Nacional, a quem o Brasil deve os mais
denodados esforços na implantação de moldes
definitivos á sistematização racional da educação
e da cultura.
Essa, a homenagem que a Paraíba prestou ao
presidente Getúlio Vargas inaugurando o Instituto
de Educação e o Jardim de Infância, nessa Capital,
e um Grupo Escolar, em Picuí. Homenagem sincera
de um Govêrno e de um Povo ao estadista que vem
conduzindo o Brasil á conquista dos seus mais
altos destinos. Homenagem de pura brasilidade
ao grande Chefe que nos deu, com o Estado Novo,
o regime que se enquadra perfeitamente no nosso
ideal de civilização (Jornal A UNIÃO, 20 de abr.,
de 1939, p. 5).

Além de entregar à população aquela casa de ensino,


Argemiro de Figueiredo se remetia em seu discurso em epígrafe
338 | Regime de interventorias

à urbanização de um segmento do território do Município que


estava sendo incorporado na malha urbana: o chamado “Parkway
da Lagoa”, que se tornou o principal lugar de lazer da população e
substituiu a antiga Lagoa dos Irerês, velho charco que demarcava
os limites citadinos poucas décadas antes. O complexo do Parque e
das novas instalações escolares se tornava vetor do desenvolvimento
urbano para as décadas que se seguiriam. Uma série de planos
viários e loteamentos nas áreas adjacentes definiram novos bairros
e desenharam uma cidade que se expandiu continuamente nos
oitenta anos que nos separam desse momento.

Imagem 01 – Planta da Cidade da Parahyba em 1913. Nas décadas seguintes, a Lagoa se


tornou o vetor central por onde a cidade poderia se expandir no sentido leste (SOUSA e
VIDAL, 2010).

Desde 1913, quando o renomado engenheiro sanitarista,


Saturnino de Brito, foi convidado pelo Governo da Paraíba para
desenvolver um projeto de saneamento e urbanização para a Capital,
a lagoa dos Irerês se tornou foco das atenções das autoridades locais
como ponto fundamental para consolidar a urbanização de toda
uma área a Leste da malha urbana de então. Em obra de memória,
publicada em 1942, intitulada ‘O Tambiá de minha infância’, o
Regime de interventorias | 339

historiador Coriolano de Medeiros, que havia vivido como jovem


na Capital da virada do século e que por ela fizera várias andanças,
descreveu o local assim:

A LAGOA que o prefeito Guedes Pereira transformou


em decoração principal do parque Solon de Lucena
deu nome à chácara que o comerciante português
Vitorino Pereira Maia construiu ao lado oriental da
velha cidade da Paraíba. A casa ampla com os seus
alpendres, com a sua frente distinta revestida de
azulejos, abrindo suas portas e janelas para a rua S.
José, o relógio de pedra sobre a coluna dórica, jardim
de lado com os seus canteiros, os seus repuxos e as
suas estatuetas de louça portuguesa, seu pomar, o
seu latifúndio coberto de matas e agora ocupado pelo
bairro do Montepio, tudo denunciava opulência e bom
gosto. Tudo, porém, se foi levado pelo progresso. Do
pomar, resta apenas o secular tamarindo, cuja sombra
abriga o busto de bronze de Augusto dos Anjos.
O receptáculo das águas fluviais de uma parte da
cidade deu nome também a duas vias, rua da Lagoa
de Detrás e rua da Lagoa da Frente.
A primeira se caracterizava pelo aspecto desolado
do abandono, da humildade extrema. A parte baixa
então reunia ao torpor de sua tristeza o ar viciado que
emanava da bomba e do Cemitério das Galinhas. Nas
noites chuvosas, a falta de iluminação pública com
lampejos fugazes dos vagalumes, o coaxar uníssomo
dos sapos, davam àquela via propriedade de medo.
Defronte do beco da Luíza Gaga, estava a Casa do
Guarda-Mor, alugada ao governo para depósito de
artigos bélicos. (MEDEIROS, 1994, p. 125).

O projeto do engenheiro Saturnino de Brito não foi em frente,


mas a administração municipal de Walfredo Guedes Pereira, no
início da década seguinte (1920-1924), promoveu um primeiro
conjunto de intervenções na Lagoa, à qual atribuiu o nome de Sólon
de Lucena, Presidente do Estado que o nomeara Prefeito. No início
da década seguinte, o também prestigiado arquiteto e urbanista,
340 | Regime de interventorias

Nestor de Figueiredo, foi convidado para estabelecer um novo plano


urbanístico, e a mesma lagoa continuava a ser um foco de atenções
para a pretendida expansão rumo a novos bairros. Por essa mesma
altura, a criação da Praça da Independência, bem destacada do
conjunto urbano de então, e o início das obras da longa Avenida
Epitácio Pessoa, correndo no sentido leste em relação ao primitivo
núcleo urbano, apontava novas áreas de expansão em loteamentos
rumo ao litoral, que se foram definindo com bastante intensidade
entre os anos 1930 e 1950 (RESSA, 2012).
Em todo esse processo, a região da Lagoa continuava a ser
um desafio urbanístico, por ser uma obra de grande vulto para as
condições locais e um ponto nodal para a expansão pretendida, ligando
a antiga malha urbana aos novos bairros que se começavam a esboçar
“além-lagoa”. A atenção dos sucessivos governantes paraibanos se
voltava progressivamente para esse lugar e coube à administração de
Argemiro de Figueiredo a consecução desse objetivo, que designou
para a Diretoria de Viação e Obras Públicas (DVOP) o engenheiro
Ítalo Joffily Pereira da Costa, que, secundado por sua equipe de
técnicos, na qual se destacava o arquiteto Clodoaldo Gouveia, pôs
as mãos à obra.
É importante fazer um breve parêntese para destacar que a
construção de grandes vias de transporte e a realização de imponentes
obras públicas apareciam como um dos vetores de impulso do Estado
à pretendida construção de uma nação pujante. O Estado Novo
se colocou sob a imagem da operosidade de seu líder maior e de
seus dedicados colaboradores, no ensejo de dotar o país de uma
infraestrutura condizente com as aspirações de integrar o cenário
internacional numa posição mais proeminente.
Voltando à Paraíba e ao caso em tela, uma das providências
fundamentais para essa finalidade foi reconfigurar o traçado das
ruas que havia sido alterado entre os planos de Saturnino de Brito,
a expansão de Guedes Pereira e o plano de Nestor de Figueiredo,
com algumas adaptações em função do andamento dos projetos
arquitetônicos e viários pensados para a região. Entretanto, seria
Regime de interventorias | 341

necessário construir uma obra de vulto, que causasse forte impressão


à Cidade e servisse de estímulo para que particulares se aventurassem
a morar “além-lagoa”. A obra escolhida para essa finalidade foi o
Instituto de Educação da Paraíba, que congregou em si as funções de
importante empreendimento educacional, arquitetônico e político.

Erguido num local à época considerado inóspito e


distante demais do centro urbano, o que levantou
críticas quanto a sua localização, “um ato de verdadeira
audácia”, o Instituto de Educação tornou-se a maior
realização pública dentre as obras em andamento
no que a imprensa chamava de “coração” da “cidade
futura”, lançando mão da expressão cunhada por
Nestor de Figueiredo, ao se referir ao conjunto
formado pelo Parque Solon de Lucena, avenida
Getúlio Vargas e o Instituto, ícone arquitetônico de
todo esse processo, de máxima visibilidade no espaço
e horizonte da capital (TRAJANO FILHO, 2005).

Imagem 02 – Vista
aérea do Parque Sólon
de Lucena no início
da década de 1930. À
esquerda (oeste), o antigo
traçado urbano que mal
chegava à beira da lagoa
e ainda se assemelhava
ao descrito por Coriolano
de Medeiros para o
início do século. À direita
(leste), os terrenos ainda
baldios, que sofreram
rápida urbanização
depois da construção do
Instituto Paraibano de
Educação.

Argemiro investiu pesadas somas nessa obra, em que depositou


parte importante de seu capital político. O sucesso significaria criar
uma obra que marcasse sua gestão por tempos afora, e o fracasso
certamente não seria perdoado por seus adversários. Assim, optou
por dar ampla publicidade de seus atos em relação a essa obra, que
342 | Regime de interventorias

se converteria num cartão postal da cidade, mas também num cartão


de visitas de sua administração.

as imagens das obras conduzidas nesse espaço da


capital se associaram, mais do que quaisquer outras,
às do próprio Argemiro de Figueiredo, que tinha
cada visita aos serviços em andamento, conduzidos
ao longo de quase todo o seu período administrativo,
registrada pelos órgãos da imprensa e propaganda
oficial (TRAJANO FILHO, 2006).

Entre o lançamento do Plano do Instituto de Educação e sua


inauguração, transcorreram dois anos de intenso trabalho, que
mobilizou amplos recursos para sua efetivação. O mesmo Trajano
Filho destaca a atitude ousada do governante em realizar essa obra
num lugar considerado ermo e distante. Pela análise de uma das
imagens contemporâneas à sua inauguração, é possível perceber
a escassa presença de edificações nas imediações e como a largura
do Parkway desenhava um traçado absolutamente avantajado em
relação às estreitas ruas da Cidade.

Imagem 03 – Vista do alto do Prédio Central do Instituto de Educação na época da inauguração.


Apontado por parte da opinião pública da época como erguido em lugar ermo e distante. A
larga Avenida Getúlio Vargas (Parkway da Lagoa) se destacava das estreitas ruas do antigo
traçado urbano. Em poucos anos, toda a área em redor foi ocupada por edificações de uma
“nova cidade”.
Regime de interventorias | 343

Argemiro fez questão de dar ampla visibilidade à sua obra e


logrou um de seus sucessos políticos mais significativos. A inauguração
do Instituto de Educação da Paraíba, da Avenida Getúlio Vargas e de
outras obras de vulto – no mesmo dia 19 de abril de 1939 – expressava
o decantado apelo aos novos tempos que deveriam marcar a Paraíba,
em consonância com o Brasil. Era um grande trunfo político que o
governante lograra obter.

Imagem 4 – Auditório do Edifício Central do Instituto de Educação sendo utilizado no Ato


de Inauguração em 19 de abril de 1939 – FONTE: Jornal A UNIÃO

Além de se marcar como um importante marco urbanístico,


a inauguração do IEP marcou um importante tento no sentido de
estabelecer um marco de uma nova arquitetura e uma nova concepção de
educação. Em seu “Plano do Instituto de Educação” (1937), o Engenheiro
Ítalo Joffily Pereira da Costa destacou uma série de características
arquitetônicas que dotariam os novos prédios de marcas distintivas
de uma arquitetura moderna e condizente com as funcionalidades de
um tempo dinâmico e da formação de uma nova juventude brasileira.
Essa arquitetura teria seu marco na construção recente pela DVOP do
prédio da Secretaria Estadual da Fazenda, que se caracterizaria por uma
orientação racional e serviria de inspiração para o Instituto, “creando
um edificio de linhas simples e imponentes e procurando attender
exclusivamente ao caracter funccional do mesmo, dentro do mais justo
conceito architetonico” (BUCHOLDZ e BENEVIDES, 2016. p. 16).
344 | Regime de interventorias

Ao longo do documento, o engenheiro expõe detalhadamente os


aspectos construtivos e funcionais do complexo educacional, levando
em consideração fatores como orientação dos prédios, insolação e
ventilação, dimensão das janelas, área de alimentação, instalações
sanitárias, entre outros fatores pertinentes a uma arquitetura escolar
adequada. No Plano do Instituto, constariam a Escola Secundária e de
Professores, a Escola de Aplicação e a Jardim de Infância. Na época,
estariam projetados o Edifício Central (onde se alocariam a Escola
Secundária e a de Professores), o Jardim de Infância e a Escola de
Aplicação. Em projeto, ainda restariam a Escola de Puericultura, o
Estádio e o Ginásio. Importante ressaltar que a prática da educação
física era preconizada como um dos esteios de formação de uma
nova juventude pelo regime, tal como observa Lenharo, a partir
de considerações de Abgar Renault e Pedro Calmon, importantes
referências intelectuais dos anos 30:

A nova educação física está voltada para a obtenção


de homens equilibrados e auto-suficientes.
“O jogo é creador e poético” e estimulante da
imaginação. O aprimoramento físico constitui o
melhor antídoto para uma época de monotonia e
artificialismo (...) “O nosso aperfeiçoamento racial
está definitivamente iniciado. Com a disciplina dos
músculos se aperfeiçoará a disciplina da vontade”.
O aprimoramento físico assegura o afastamento
dos vaticínios gobinistas sobre o futuro da raça.
(LENHARO, 1986. p.78)

Não fugia a esse elemento mais geral o Plano do Instituto de


Educação da Paraíba, que visava congregar uma concepção de aluno
e de cidadão consistente com o que deles esperava a nação:

Os novos systemas educacionaes, que rapidamente


se impõem em todo o mundo apresentam, a parte
differenciações methodologicas, certamente um
mesmo objectivo de ordem geral no considerar o
educando, desde as classes mais rudimentares do
Regime de interventorias | 345

ensino, de uma maneira profundamente diversada


de alguns annos atrás. Creou-se, póde-se dizer,
uma nova dignidade do alumno, que já não é,
como antigamente, mero depositário das idéas e
conhecimentos do mestre, porém elemento que vive
e contribue activamente, de sua parte, na educação
geral do povo. (...)
O Instituto de Educação, no entanto, será um
estabelecimento servido por um programma escolar
complexo, havendo que atender á instrucção de
meninas, moças e rapazes, não sendo possível
desprezar as diversas modalidades de exercícios
physicos compatíveis com as diferentes naturezas
dos que o irão frequentar. Há, porém, que distribuir
pelos grupos de alunos com afinidades physicas e
mentaes a educação gymnastica ou esportivas mais
indicada para cada caso (BUCHOLDZ e BENEVIDES,
2016. p.15 e 18. Grifo nosso).

Imagem 5 – As linhas arquitetônicas arrojadas do complexo do Instituto de Educação


visavam se coadunar com os princípios formativos de uma época de grandes mudanças.

As finanças do Estado não permitiram a construção de todo


o complexo pretendido no projeto original, e o passar das décadas
trouxe outras destinações e funcionalidades para o complexo
educacional. Passadas duas décadas, o prédio previsto para a
346 | Regime de interventorias

Escola de Aplicação acabou por ser destinado à nascente Faculdade


de Filosofia da Universidade da Paraíba e, posteriormente, a
Escola Estadual Olivina Olívia Carneiro da Cunha; o edifício
Central tornou-se o Liceu Paraibano; o Jardim de Infância hoje
acolhe a Escola Estadual Argentina Pereira Gomes, e o Instituto
de Educação da Paraíba constitui uma das quatro instituições que
hoje abrigam o complexo, cada qual com sua dinâmica própria
e bem distantes de sua destinação original. O vasto terreno que
abriga o complexo foi ampliado ainda na época das primeiras
construções por sugestão da DVOP, eliminando-se a Rua Monteiro
da Franca e se estendendo o mesmo até a Avenida Coremas,
permitindo que o projetado prédio da Escola de Aplicação pudesse
ter a orientação leste-oeste pretendida pela equipe técnica em
função dos critérios de ventilação e insolação. Os pretendidos
Ginásio e Estádio migraram para outros pontos da cidade em
expansão, apesar de o complexo haver ganhado um Ginásio em
época mais recente (NÓBREGA, 2017).
Nos dias que se seguiram à inauguração do portentoso projeto,
Argemiro foi devidamente exaltado por sua operosidade, e tudo
prenunciava voos mais altaneiros para o Interventor e para o regime
que representava. Por esses dias, uma destacada professora local,
filha de um antigo governante da Província da Parahyba em finais do
Império e que, depois de seu falecimento, nomeou um dos prédios do
Instituto de Educação. Assim destacou as qualidades do governante:

UMA IMPORTANTE CASA DE ENSINO


Olivina Carneiro da Cunha
Foi inaugurado solenemente, no dia 19 d’esse, o
majestoso edifício do Instituto de Educação.
A magnificência do prédio está acorde com o valor
e a alta visão patriótica do Interventor do Estado.
A capacidade de trabalho do dr. Argemiro de
Figueirêdo se patenteia em todas as realizações
do seu govêrno.
Regime de interventorias | 347

Não é preciso enumerar, aqui, os múltiplos benefícios


com que êle tem cumulado a nossa terra.
A instrução é o ponto principal para o qual convergem
as suas vistas.
Êsse templo consagrado ao ensino – o Instituto de
Educação – aí está como um grandioso monumento
que amanhã passará a História e apontar ás gerações
futuras a ação de um homem de espírito avantajado
e de força de vontade irressistivel que não se deixa
vencer pelos óbices encontrados na trilha réta que
se propõe seguir.
“Uma importante casa de Ensino”, escrito por Olivina
Carneiro da Cunha (Jornal A UNIÃO de 23 de abr.,
de 1939, p. 3).

O Estado Novo acabou por ruir seis anos depois da inauguração


do Instituto. O próprio Argemiro de Figueiredo, malgrado o sucesso
obtido nessa empreitada, foi apeado da Interventoria no ano
seguinte. As contradições da política solaparam as pretensões
dirigistas do Estado Novo e de seus dirigentes. A sociedade e suas
contradições extravasaram para além dos quadros de controle do
Estado, e até o urbanismo teve em sua dinâmica um componente
mais rebelde e espontâneo do que os planejamentos conseguiram
desenhar. Assim, as lutas pelo espaço urbano e os movimentos
sociais daqueles não contemplados pelas “inovações” continuam
na agenda do dia. O espaço pretendido para formar uma juventude
disciplinada e ordeira se tornar um dos principais espaços de
manifestações políticas da Capital nas décadas subsequentes, seja
no enfrentamento à ditadura militar seja nos dias que vieram
depois, quando essa juventude sentiu ímpetos de questionar o que
considerava inaceitável ou reivindicar o que achava seu direito.
A confluência de importantes eixos viários, associada à ereção de
um imponente complexo educacional, fez convergir uma série de
modificações urbanas com processos políticos locais. Mas, não seria
a política exatamente isso: viver em cidades?
348 | Regime de interventorias

Imagem 6 – Parkway da Lagoa, de onde se distribuiriam grandes eixos viários que


levariam parte significativa da malha urbana em direção ao litoral.

Referências
BUCHOLDZ, Alessandra e BENEVIDES, Cezar (orgs.). Memorial do
Doutor Ítalo. Ponta Grossa: Estúdio Texto/ ABC Projetos, 2016.
CARDOSO, Carlos Augusto de Amorim e KULESZA, Wojciech Andrzej
(orgs.). A Escola e a Igreja nas ruas da cidade. João Pessoa: Ed. UFPB,
2010.
IBGE. Tabela 1.6 – População nos censos demográficos, segundo os
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sinopse/index.php?dados=6&uf=00 acesso em 12/07/2019.
LENHARO, Alcir. Sacralização da Política. Campinas: Papirus, 1986.
MEDEIROS, Coriolano de. O Tambiá da minha infância. João Pessoa: A
UNIÃO, 1994.
NÓBREGA, Lucas Gomes. O patrimônio da Educação e a Educação como
patrimônio: trajetória do complexo escolar do Instituto de Educação da
Paraíba (1936-1939). João Pessoa: TCC em História UFPB, 2017.
Regime de interventorias | 349

PINHEIRO, Antônio Carlos Ferreira. Da era das cadeiras isoladas à era


dos Grupos Escolares na Paraíba. Campinas: Autores Associados; São
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RESSA, Patrícia Gigliola de Queiroga. Quatro décadas de grandes
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SOUSA, Alberto e VIDAL, Wilna. Sete plantas da capital paraibana
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TRAJANO FILHO, Francisco Sales. Do rio ao mar. Uma leitura da cidade
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