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O Evangelho da Igreja Primitiva

Título: O Evangelho da Igreja Primitiva.


Compilação e comentários: Pr. Damazio M. de S. Filho
Supervisão: Pr. Arcelio Antunes Ramos
Revisão: Norma Cruz e Sheila Bastos
Diagramação e capa: Lenice F. S. de Sena

Publicado por: Igreja de Jesus Cristo Filhos do Reino


Tels.: 3382 3126 /Cel. : 99839 2955
E-mail: damaziosena@yahoo.com.br
Site: www.ministeriofilhosdoreino.com.br

Rio de Janeiro - 2017

ÍNDICE DE ASSUNTOS DO LIVRO

1
O Evangelho da Igreja Primitiva
PREFÁCIO - Pr. Arcelio Ramos - 03

INTRODUÇÃO - 07

CAPÍTULO I
Reino de Deus, o Centro da Mensagem Bíblica - 11
A Mensagem de Jesus e os Apóstolos - 11
A Pregação do Evangelho do Reino Pelos Profetas - 15

CAPÍTULO II
A Enfática Exaltação da Realeza de Jesus - 18

CAPÍTULO III
A Esperança na Vinda do Reino de Deus - 23
O Reino Esperado Para o Futuro - 24
A Esperança de Ressurreição Para Participar do Reino - 26
Incorruptibilidade - Característica do Reino Sacerdotal - 27
O Reino Constituído de Sacerdotes do Senhor -29
Ausência da Expectativa de Ir Morar no Céu -30
Mais Luz Sobre o Assunto - 36

CAPÍTULO IV
A Fé da Igreja no Estabelecimento do Reino na Terra - 38
O Reino é a Herança da Igreja - 39
É a Mesma Herança Prometida a Abraão - 40
A Terra Restaurada Como Herança - 43
Jerusalém Restaurada, Sede do Governo de Deus - 46
Milênio Sabático - As Bênçãos do Descanso da Terra - 48

CAPÍTULO V
Irineu, o Último Defensor da Vinda do Reino - 52
Na vinda do Senhor Jesus, a Igreja é encontrada Santa - 54
Reino do Anticristo é destruído pela Igreja - 55
O Reinado dos Santos Com o Senhor Jesus Sobre o Mundo - 55
A Libertação e Destruição de Satanás Após o Milênio - 58
Juízo Final Universal Precede a Eternidade -59
A Jerusalém Celestial Desce Para Ser a Morada de Deus Com os Homens - 62

APÊNDICE – A APOSTASIA DA IGREJA – 64

Prefácio

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O Evangelho da Igreja Primitiva
Malaquias 4:5-6 “Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha
o grande e terrível Dia do Senhor; ele converterá o coração dos pais aos
filhos e o coração dos filhos a seus pais, para que eu não venha e fira a
terra com maldição”.

Este livro, O Evangelho da Igreja Primitiva, tem como principal objetivo


respaldar a revelação que Deus tem dado nestes dias sobre o evangelho do
Reino de Deus, como palavra fiel e verdadeira.
Isto porque ele prova, pela compilação e comentário de muitos textos
escritos pelos pais apostólicos dos dois primeiros séculos, que a mensagem
que hoje está vindo à luz através do livro “O Evangelho do Reino de Deus”
é a mesma mensagem que foi pregada nos primórdios da era Cristã,
responsável pela manifestação da glória de Cristo através da Igreja, até que
a apostasia viesse e lançasse por terra a verdade, destruísse o poder do
exército de Deus e o sacrifício de louvor, as gloriosas obras de justiça que
provêm da fé realizadas pelos que creram.
Daniel 8:12 “O exército lhe foi entregue, com o sacrifício diário, por causa
das transgressões; e deitou por terra a verdade; e o que fez prosperou”.
Para melhor entendimento, devemos saber que o texto de Malaquias citado
acima, a última palavra profética proferida pelo último dos profetas do
Velho Testamento, trata exatamente da restauração do evangelho pregado
pela Igreja primitiva, a fim de que seja pregado neste tempo. Por isso
mesmo, a palavra profética, figurada pelo profeta Elias, será enviada.
Esta profecia, em se tratando do seu tempo de cumprimento, conforme
podemos ver, refere-se ao tempo que antecede o tempo do fim, antes do
grande e terrível dia do Senhor. Por isso mesmo, podemos afirmar que
ainda não se cumpriu, mas, está às portas de ser cumprida.
Quanto à sua ação, visa primeiro formar o coração dos pais nos filhos e,
em seguida, vice-versa. Sabemos, muito bem, que coração aqui não se trata
do órgão do corpo humano responsável pelo bombeamento do sangue, mas
o entendimento, a mente. Assim, a ação fará com que primeiro os filhos
tenham o mesmo entendimento que os pais tiveram e, quando os filhos
avançarem até à perfeição, os pais tenham a mesma mente e entendimento
dos filhos, a fim de que tenham todos a mente perfeita de Cristo.
Quanto ao propósito, visa impedir a destruição da terra com maldição, uma
vez que Deus quer dá-la aos seus filhos vencedores na volta do primogênito
Jesus e não destruí-la, como muitos pensam e pregam.
Mateus 25:34 “então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde,
benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde
a fundação do mundo”.
Por isso mesmo, podemos deduzir que por conta dos filhos estarem
andando com outro entendimento diferente do entendimento dos pais, a
terra corre grande perigo de ser castigada com maldição divina. Assim,
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O Evangelho da Igreja Primitiva
Deus pretende nos últimos dias fazer com que os filhos andem pelo mesmo
caminho que os pais andaram para que não tenha de fazer, de modo algum,
o que não gostaria, que é ferir a terra com maldição.
Ora, ainda que muitos pensem que pais e filhos neste texto se refiram à
família temporal, de laços sanguíneos e carnais, Deus está a falar, pelo
profeta, da sua própria família, o Israel espiritual.
Dizemos isto porque sabemos que os pais da Igreja, os sucessores dos
apóstolos, andaram na luz do Senhor e, por conta disso, revolucionaram o
mundo de então, fazendo com que a glória de Cristo se manifestasse neles,
ainda na carne mortal.
2 Coríntios 4:11 “Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à
morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste
em nossa carne mortal.”
Contudo, sabemos que do terceiro século em diante a Igreja se desviou da
verdade dando ouvidos a doutrinas contrárias ao evangelho de Cristo, de
modo a estabelecer um tempo de densas trevas espirituais na terra.
1 Timóteo 4:1 “Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos
tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores
e a ensinos de demônios”,
Em vista disso, o pecado se agravou de tal modo que, aparentemente, só a
destruição, conseqüência da maldição divina pode parar o avanço da
iniqüidade e da maldade que graça sobre a terra.
Contudo, reinando sobre todas as coisas, Deus mesmo preparou escape
para não ter que resolver o problema causado pela apostasia da Igreja, com
a maldição destruidora que tem como exemplo Sodoma. Escape este que é
converter o coração dos pais aos filhos e dos filhos aos pais.
O que significa, então, dizer que Deus vai converter o coração dos pais aos
filhos? – Significa dizer que Deus, pela revelação do evangelho do Reino à
Igreja que antecede o tempo do fim, fará com que os filhos voltem à fé de
seus pais, tenham o mesmo entendimento e a mesma mente a cerca do
evangelho que eles, os pais, tinham. Fé essa que fez com que a glória de
Cristo, ainda que em primícias, fosse conhecida na face da terra nos dois
primeiros séculos de nossa era.
Mateus 24:11-14 “levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a
muitos. E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor se esfriará de quase todos.
Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo. E será pregado este
evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações.
Então, virá o fim”.
Assim, Deus revelará, novamente à Igreja de nossos dias, o evangelho que
Ele planejou e estabeleceu na eternidade e foi crido e pregado por Jesus,
pelos apóstolos e pelos pais da Igreja, para que faça retornar os filhos à
verdade dos seus pais, a fim de que tenham o mesmo coração,
entendimento, mente, que eles.
4
O Evangelho da Igreja Primitiva
Apocalipse 14:6 “Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um
evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a cada
nação, e tribo, e língua, e povo”.
Uma vez compreendido o que Deus quis dizer com converter o coração dos
pais aos filhos, importa, agora, saber o que ele quis dizer com converter o
coração dos filhos aos pais.
Deus quis dizer que quando o coração, a mente dos filhos, estiver na mesma
dimensão de fé dos pais apostólicos, Deus dará continuidade à revelação
daquilo que ainda não foi revelado, a fim de que os filhos do tempo do fim
alcancem o pleno conhecimento do filho de Deus, a estatura completa da
plenitude de Cristo, ultrapassando, assim, o coração dos pais que só
tiveram as primícias do conhecimento.
Efésios 4:13 “Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno
conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da
estatura da plenitude de Cristo”
Isto porque, embora os pais tenham avançado muito, não alcançaram o
pleno conhecimento do Senhor, o qual aperfeiçoa os seus filhos. O próprio
Paulo, homem que Deus usou para trazer o conhecimento à Igreja daquela
época, admitiu que em parte conhecia e em parte, ainda que falasse,
pregasse e escrevesse, só profetizava; afirmando, todavia, que o pleno
conhecimento que conduz à perfeição, um dia viria sobre a Igreja.
1 Coríntios 13:9-10 “porque, em parte, conhecemos e, em parte,
profetizamos. Quando, porém, vier o que é perfeito, então, o que é em parte
será aniquilado”.
Assim, amado de Deus, é chegado o tempo da Igreja de Jesus Cristo, não
só retomar à fé dos seus pais apostólicos, como também avançar nela até
à plenitude do conhecimento do filho de Deus. De modo que, quando isto
acontecer e a Igreja estiver gloriosa e sem mácula, Deus possa converter,
agora, não o coração dos pais aos filhos, mas, ao contrário, dos filhos aos
pais, uma vez que os filhos estão plenos.
Sim, filhos do Altíssimo, todos desde Abraão que estão mortos,
descansando das suas obras, serão aperfeiçoados por causa do
aperfeiçoamento da Igreja que milita na terra no tempo do fim.
Hebreus 11:39 - 40 “Ora, todos estes que obtiveram bom testemunho por
sua fé não obtiveram, contudo, a concretização da promessa, por haver Deus
provido coisa superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem
aperfeiçoados.”
Deste modo, se você quer que seu coração seja convertido na verdade,
assim como era o coração dos pais da Igreja do tempo dos apóstolos, leia
este livro e conheça a fé que tiveram. Fazendo isso, Deus poderá levá-lo
adiante na busca do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de
perfeito em Cristo.

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O Evangelho da Igreja Primitiva
Colossenses 1:28 “o qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e
ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos
todo homem perfeito em Cristo;”
Deleite-se, pois, nesta leitura e deixe-se ser renovado em sua mente, para
a sua santificação.
Em Cristo, nossa vida,

Pr.Arcelio Ramos

Introdução

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O Evangelho da Igreja Primitiva
Deus, o nosso Pai, tem cumprido o seu propósito estabelecido na
eternidade em Cristo Jesus nosso Senhor, nos dando toda a revelação que
nos conduzirá à perfeição a fim de entrarmos na posse do seu Reino. Por
isso mesmo, tendo diante de si a visão de todos os seus filhos eleitos,
glorificados tal qual o seu primogênito, tem dado à Igreja toda a plenitude
da sabedoria divina, e o conhecimento completo do seu propósito, para que
todo homem de Deus seja perfeito e perfeitamente aprovado para toda a
boa obra. O seu propósito eterno é: reinar com os seus filhos sobre a terra.
Passo agora, a definir a razão deste livro sobre a fé dos Pais da Igreja no
Reino de Deus. Permita-me citar as palavras proféticas do Senhor Jesus
e a sua relação conosco, Igreja dos últimos tempos:
Mateus 24:14 “E será pregado este evangelho do reino por todo o
mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim”.
É determinante notarmos que o evangelho, ou boas-novas, a ser pregado
em todo o mundo precedendo o fim é o do (sobre) “Reino”. É a mesma boa-
nova que o Senhor veio anunciar e que também deu aos seus discípulos
para pregar.
Mas o que aconteceu? Por que a Igreja moderna não contempla em sua
atividade de pregação as novas do Reino de Deus? Por que se prega o Rei
apenas como salvador de homens individualmente, como se fosse somente
essa a sua missão, e nada se fala do seu Reino que está preste a ser
estabelecido sobre a terra?
Creio que as respostas a estas indagações só podem ser respondidas
através da revelação do “evangelho do Reino de Deus”, que foi anunciado
em primícias pelos crentes da Igreja primitiva, mas que por permissão de
Deus, desapareceu de sobre a terra, ocultado pela nuvem da Apostasia, e
que agora, como o Pai planejou, é trazido restaurado não mais em
primícias, mas em toda a sua plenitude à Igreja desses últimos dias.
O propósito desse livro é mostrar especificamente que um “único
evangelho” foi dado a Igreja primitiva, sendo que este foi depois atacado,
vituperado, corrompido e fragmentado em tantos pedaços que hoje existe
um número incontável de vertentes com interpretações diferentes e
antagônicas da mesma palavra.
Ao voltarmos nossos olhos para as primeiras comunidades cristãs e a fé
que tiveram no evangelho do Reino, através dos escritos dos chamados
“Pais da Igreja”, podemos constatar claramente que as suas expectativas se
voltavam ao iminente estabelecimento do Reino de Deus sobre a terra.
Você pode estar se perguntando: “mas quem são esses Pais da Igreja?” Não
é de se estranhar que a Igreja de hoje desconheça a existência desses
escritos, pois de um modo geral há um profundo desinteresse pela sua
própria origem, como se só importasse o tempo presente em que se vive.

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O Evangelho da Igreja Primitiva
Quando falamos nos Pais da Igreja, ou Pais apostólicos, referimo-nos
aos líderes e alguns autores cristãos do fim do primeiro século e meados do
segundo.
Esses escritos relatam situações que estavam ocorrendo com as
comunidades cristãs no mundo de então, nos dando uma noção da fé que
os cristãos tinham, suas expectativas, dificuldades, modo de vida, liturgia,
etc. Daí a importância desses escritos, documentos dos mais antigos ainda
existentes, que testemunham o princípio da história da Igreja Cristã sobre
a terra.
Outro fator muito importante, que deve levar-nos a considerar tais escritos,
é que esses homens, em sua maioria, eram bispos, anciãos e mestres em
suas comunidades, como guias, por isso são chamados Pais. Eles formam
a segunda e terceira geração de crentes a partir dos apóstolos. Alguns
deles tiveram o privilégio de aprenderem a fé em primeira mão, de
testemunhas oculares do Senhor Jesus Cristo, como é o caso de Policarpo
bispo de Esmirna, que sucedeu diretamente ao apóstolo João e foi seu
discípulo (por isso Pai apostólico). Outros mantiveram a tradição daqueles
que aprenderam com os apóstolos.
Dificilmente esses escritos são contestados em sua pureza e autenticidade
pelos eruditos e historiadores modernos.
É bom que se diga que esses escritos não são “apócrifos” (espúrios), antes,
são, na maior parte, epístolas manuscritas enviadas às Igrejas, conforme
fazia o apóstolo Paulo. Por algum tempo, antes que se estabelecesse
definitivamente o cânon do Novo testamento, alguns desses escritos foram
tão estimados pelas comunidades cristãs, que eram lidos conjuntamente
com os Evangelhos e epístolas universais, como é caso da Epístola de
Clemente aos Coríntios e Epístola de Barnabé, por exemplo.
O motivo mais importante, no entanto, que nos leva a fazer essa
compilação, é mostrar aos cristãos deste tempo, que a Apostasia, sempre
empurrada para o futuro, já aconteceu e vem acontecendo ao longo da
história da Igreja militante na terra, e que só um olhar reflexivo de volta às
origens da fé cristã testificará que houve um desvio da mensagem original
anunciada pelo Senhor Jesus Cristo, fazendo-nos retomar o amor à verdade
e à pregação autêntica do Evangelho do Reino de Deus.
Considere seriamente em seu coração se a Apostasia está ou não
estabelecida, e se a verdadeira mensagem não se encontra misturada como
um rio turvo e poluído. A probabilidade de se encontrar a verdade é
voltando às origens, à nascente onde a água ainda é cristalina e
incontaminada. E se, ainda assim, você tiver relutância quanto à
idoneidade dos escritos e seu conteúdo, rogue a Deus para que consiga
enxergar por entre a nuvem densa dos pensamentos teológicos do tempo
presente, no qual a verdade é relativa e de somenos importância. Valorize
assim os testemunhos daqueles que amaram tanto a verdade do Reino, que
não se importaram de por ela entregarem a própria vida.
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O Evangelho da Igreja Primitiva
Passo a apresentar um sumário com a relação dos escritos dos Pais da
Igreja e a data de composição (mais aceita), para que possam ser logo
identificados quando forem citados:

Epístola de Clemente aos Coríntios (entre 65 e 93 d.C.) Foi Bispo da Igreja


de Roma de 91 a 100 d.C. Escreveu esta carta à Igreja dos Coríntios, que
novamente se encontrava em dissensões.
Epístolas de Inácio (ente 110 e 115 d.C.) Foi Bispo de Antioquia e discípulo
de João, escreveu várias cartas às Igrejas enquanto ia para o martírio em
Roma.
Epístola de Policarpo aos Filipenses (cerca de 110 d.C.) Bispo de
Esmirna, também discípulo de João e mártir. Era venerado e respeitado
em toda a Ásia. Escreveu várias cartas das quais somente esta chegou aos
nossos dias.
Epístola de Barnabé (entre 90 e 130 d.C.) Apesar do nome, não se pode
provar que sua autoria seja de Barnabé companheiro de Paulo. Essa carta
visava principalmente combater heresias judaizantes. Foi encontrada no
manuscrito sinaítico da Bíblia, no fim do Novo Testamento.
Fragmentos de Pápias (cerca de 150 d.C.) Bispo de Hierápolis. Também
martirizado, escreveu outras obras, as quais deixaram de existir já no
terceiro século, restando apenas citações de Irineu e Eusébio.
Didaquê ou “ensino dos doze apóstolos” (entre 90 e 100 d.C.) De autoria
anônima, esse documento é um dos mais antigos a retratar a vida cristã
primitiva. É uma súmula doutrinária e litúrgica, escrita provavelmente na
Síria.
Pastor de Hermas (entre 100 e 140 d.C.) Escrito em estilo alegórico dando
ênfase ao arrependimento, a Igreja e a vinda de Cristo. Esse escrito gozou
de alta estima entre os Pais da Igreja.
Justino Mártir (entre 150 e 160 d.C.) Desencantado com a filosofia,
abraçou o cristianismo e o defendeu escrevendo duas “Apologias”. Também
escreveu um diálogo com um judeu chamado Trifão, no qual defendeu o
messiado de Jesus. Seu martírio lhe conferiu o epíteto que segue o nome.
Teófilo de Antioquia (cerca de 180 d.C.) Sexto Bispo de Antioquia. Contado
entre os apologistas (defensores da fé) do segundo século. Apesar de tentar
combater as heresias através dos próprios escritos filosóficos e mitológicos,
é mais bem sucedido quando se atém às Escrituras, testemunhando da fé
autêntica ainda existente. Escreveu três livros endereçados a um tal
Autólito.
Aristides de Atenas (cerca de 138 d.C.) Outro Apologista do segundo
século. Escreveu uma defesa do Cristianismo ao Imperador Adriano. Só
restam fragmentos deste documento.
Irineu de Lião (cerca de 185 d.C.) Foi Bispo de Lião, na Gália, e também
mártir. Escreveu obra importante contra as heresias que surgiam em meio
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O Evangelho da Igreja Primitiva
ao cristianismo, sendo a principal o gnosticismo. Foi discípulo de Policarpo
e Pápias e o último dos Pais da Igreja a defender biblicamente a verdade do
Reino de Deus sobre a terra na vinda de Cristo. Evitou a armadilha de
defender a fé com a filosofia (caminho trilhado pela maioria dos escritores
cristãos de sua época) e deixou como legado um testemunho mais que
veemente da fé autêntica no Reino que, posteriormente, foi suplantada pela
Apostasia da Igreja.
Nota de esclarecimento: Este livro se propõe a demonstrar, através dos
escritos mais antigos da Igreja, a semente da fé no Reino de Deus, por isso
descartamos a citação dos escritos posteriores a esse período da Igreja, por
constatarmos que os mesmos já se encontram divorciados dos princípios
fundamentais do Evangelho do Reino de Deus. Demonstramos ao final
desse livro num capítulo à parte, um sumário da história do desvio da
verdade da Igreja Cristã, no apêndice sobre a “Apostasia”.
As demais argumentações deste livro trazem um paralelo contextualizando
as citações dos Pais da Igreja com a Bíblia, a qual é usada na versão revista
e atualizada de João Ferreira de Almeida (SBB).
Convido-lhe a esta fascinante e edificante viagem aos primórdios da fé, que
com certeza testificará com o Espírito de Cristo, que habita em nós, de toda
a verdade sobre o Reino de Deus. Que o Espírito do Senhor nos conduza e
que a sua graça seja abundante sobre nós.
No amor que provém da verdade, em Cristo Jesus, o autor e consumador
da nossa fé.
Pr.Damazio Moreira de Sena Filho.

Capítulo 1

Reino de Deus, o Centro da Mensagem Bíblica


Em todo o Antigo Testamento, o Reino de Deus foi anunciado
continuamente pelos profetas, ainda que em mistério, como aconteceu com
o profeta Daniel que recebeu visões inefáveis sobre o futuro estabelecimento
do Reino, contudo, ficou sem compreendê-las na sua plenitude;
Daniel 12:8. “Eu ouvi, porém não entendi; então, eu disse: meu
senhor, qual será o fim destas coisas?”

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O Evangelho da Igreja Primitiva
Quando chegamos no Novo Testamento, nos deparamos logo com a mesma
voz profética anunciando o advento do Reino e do messias na voz do
precursor João Batista que clamava:
Mateus 3:2. “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus”.

A Mensagem de Jesus e dos Apóstolos

Assim que o Senhor Jesus, o Cristo de Deus, começou o seu ministério


divino entre os homens, tomou para si a mesma palavra e abertamente
proclamava:
Mateus 4:17 “Daí por diante, passou Jesus a pregar e a dizer:
Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus”
Marcos 1:15. “dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus
está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho”.
Conquanto o Senhor, em si mesmo, manifestasse a presença do Reino entre
os homens, o Reino de Deus não se resumia nele, antes a sua abrangência
deveria ser revelada, esclarecida, ensinada aos homens, e isso constituía a
pregação central e basilar de Jesus;
Lucas 4:43 “Ele, porém, lhes disse: É necessário que eu anuncie o
evangelho do reino de Deus também às outras cidades, pois para
isso é que fui enviado”
Mateus 9:35 “E percorria Jesus todas as cidades e povoados,
ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando
toda sorte de doenças e enfermidades”.
Lucas 8:1. “Aconteceu, depois disto, que andava Jesus de cidade em
cidade e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho
do reino de Deus, e os doze iam com ele”,
Jesus ensinou esta mesma mensagem aos seus discípulos:
Lucas 8:10 “Respondeu-lhes Jesus: A vós outros é dado conhecer os
mistérios do reino de Deus; aos demais, fala-se por parábolas, para
que, vendo, não vejam; e, ouvindo, não entendam”.
Deu-lhes a mesma ordenança, de anunciarem a proximidade do Reino de
Deus:
Mateus 10:7 “e, à medida que seguirdes, pregai que está próximo o
reino dos céus”.

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O Evangelho da Igreja Primitiva
Lucas 9:2 “Também os enviou a pregar o reino de Deus e a curar os
enfermos”
Lucas 9:60. “Mas Jesus insistiu: Deixa aos mortos o sepultar os seus
próprios mortos. Tu, porém, vai e prega o reino de Deus”.
O fato é que a mensagem do Reino contemplava dois aspectos: o Reino que
se estabelecerá sobre a terra, e Jesus como único acesso a esse Reino do
qual ele mesmo é o rei.
Atos 8:12. “Quando, porém, deram crédito a Filipe, que os
evangelizava a respeito do reino de Deus e do nome de Jesus Cristo,
iam sendo batizados, assim homens como mulheres”.
Depois dos evangelhos, a maior porção do Novo Testamento tem por autor
Paulo, homem tremendamente privilegiado, que recebeu revelações
diretamente do Senhor Jesus, já glorificado. A despeito de, aparentemente,
não haver nas cartas Paulinas discursos diretos sobre o Reino de Deus, o
livro de Atos dos Apóstolos, que mostra toda a sua atividade missionária ao
longo dos anos, até a prisão em Roma, esclarece de maneira incontestável
que a pregação de Paulo era o Reino de Deus:
Atos 19:8 “Durante três meses, Paulo freqüentou a sinagoga, onde
falava ousadamente, dissertando e persuadindo com respeito ao
reino de Deus”.
Atos 20:25; “Agora, eu sei que todos vós, em cujo meio passei
pregando o reino, não vereis mais o meu rosto”
Atos 28:23 “Havendo-lhe eles marcado um dia, vieram em grande
número ao encontro de Paulo na sua própria residência. Então,
desde a manhã até à tarde, lhes fez uma exposição em testemunho
do reino de Deus, procurando persuadi-los a respeito de Jesus, tanto
pela lei de Moisés como pelos profetas”
Atos 28:31. “pregando o reino de Deus, e, com toda a intrepidez,
sem impedimento algum, ensinava as coisas referentes ao Senhor
Jesus Cristo”
Creio que esse preâmbulo, repleto de textos dos mais claros possíveis, pode
convencer qualquer pessoa levando-a a perceber, que a mensagem
principal do Senhor Jesus e da sua Igreja era o Reino de Deus, e ao menos
a princípio, continuou a ser essa a mensagem da Igreja primitiva. As
citações dos Pais da Igreja, que se seguem, exemplificam essa verdade:
“Os apóstolos receberam do Senhor Jesus Cristo o Evangelho que nos pregaram...
Eles receberam instruções e, repletos de certeza, por causa da ressurreição de nosso
Senhor Jesus Cristo, fortificados pela palavra de Deus e com a plena certeza dada
12
O Evangelho da Igreja Primitiva
pelo Espírito Santo, saíram anunciando que o Reino de Deus estava para chegar”.
(Clemente aos Coríntios 42:1; 3/65-93 d.C.).
O texto anterior, além de ser o mais antigo testemunho, é também uma das
mais claras afirmações sobre as atividades de pregação dos apóstolos. É
importante notarmos que o anúncio sobre o Reino é em perspectiva futura,
como um alerta e diz objetivamente da convicção do seu estabelecimento
sobre a terra.
Outro postulado que devemos objetar, pois é muito comum no meio da
Igreja moderna, é a idéia de que a Igreja militante na terra já é o Reino de
Deus estabelecido (Amilenismo). Antes, a Igreja funciona como uma agência
promotora do Reino.
A despeito das manifestações de glória e poder que a Igreja primitiva
experimentou (ainda que em primícias), a mesma tinha clara consciência
de que o Reino ainda viria num tempo futuro.

“Oremos, portanto, e supliquemos a sua misericórdia, a fim de sermos encontrados


no amor, sem parcialidade, irrepreensíveis. Muitas gerações passaram, desde Adão
até hoje; mas, aqueles que pela graça de Deus, se tornaram perfeitos no amor
permanecem no lugar dos piedosos. Esses hão de tornar-se manifestos, quando
aparecer o Reino de Cristo. (Clemente aos Coríntios 50:2 e 3/65-93 d.C.).
Já nesse outro texto do mesmo autor, destaca-se a esperança de
ressurreição dos piedosos quando futuramente o Reino aparecer. Ele usa
o termo “Reino de Cristo”, como sinônimo de Reino de Deus, não sem
propriedade, pois Jesus, o Cristo, vem para reinar estabelecendo o Reino
do Pai.

“Meu filho, lembre-se dia e noite daquele que anuncia a palavra de Deus para você
e honre-o como se fosse o próprio Senhor, pois o Senhor está presente onde é
anunciada a soberania do Senhor”. (A Didaquê 4:1/ 90-100 d.C.).
A exortação geral contida no documento acima testemunha que a pregação,
ou ensino da Igreja primitiva, contemplava o aspecto da soberania do
Senhor no sentido de realeza e domínio.

“Do mesmo modo como este pão partido tinha sido semeado sobre as colinas, e
depois recolhido para se tornar um, assim também a tua Igreja seja reunida desde
os confins da terra no teu reino, porque tua é a glória e o poder, por meio de Jesus
Cristo, para sempre”. (A Didaquê 4:1/ 90-100 d.C.).

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O Evangelho da Igreja Primitiva
“Lembra-te, Senhor, da tua Igreja, livrando-a de todo mal e aperfeiçoando-a no
teu amor. Reúne dos quatro ventos esta Igreja santificada para o teu reino que lhe
preparaste, porque teu é o poder e a glória para sempre”. (A Didaquê 10:5/ 90-100
d.C.).
A expectativa escatológica da vinda do Reino e o anseio da “reunião” da
Igreja “santificada” nos mostram a esperança da Igreja primitiva e como
tinham em mente a ordem das coisas concernentes à volta do Senhor:
primeiro a Igreja é reunida, depois toma posse do Reino que se estabelecerá
desde Jerusalém.
Mateus 24: 31 “E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de
trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de
uma a outra extremidade dos céus”.
Mateus 25: 34 “então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita:
Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está
preparado desde a fundação do mundo”.

“Recebemos a crença de que ele concederá a sua convivência, participando do seu


reino, tornados incorruptíveis ou impassíveis, aos homens que por suas obras se
mostrem dignos do desígnio de Deus”. (Justino, o mártir I Apologia 10:2/150-160
d.C.).
Ainda no segundo século da era cristã, o Reino era a doutrina central que
norteava as esperanças daqueles que viviam um tempo de terrível
perseguição.
O texto que segue, além de demonstrar a perspectiva futura do Reino, ainda
destaca a qualificação e a natureza do mesmo. Fala ainda que a sociedade
da época tinha conhecimento da esperança cristã no Reino. A afirmação
final do autor, um tanto quanto fatalista, deve-se ao contexto de martírios
da época.
“Até vós, apenas ouvindo que esperamos um reino, logo supondes, sem nenhuma
averiguação, que se trata de reino humano, quando nós falamos do Reino de Deus.
Isso aparece claro pelo fato de que, ao sermos interrogados por vós, confessamos
ser cristãos, sabendo que tal confissão traz consigo a pena de morte. De fato, se
esperássemos um reino humano, o negaríamos para evitar a morte e procuraríamos
viver escondidos, a fim de conseguir o que esperamos; mas como não depositamos
nossa esperança no presente, não nos importamos que nos matem, além do que, de
qualquer modo, haveremos de morrer”. (Justino o mártir I Apologia 11:1-2/150-
160 d.C.).

14
O Evangelho da Igreja Primitiva
“Está claro que não atraiçoavam a verdade, mas pregavam com toda isenção aos
judeus e aos gregos: aos judeus pregavam que o Jesus por eles crucificado era o
Filho de Deus, o Juiz dos vivos e dos mortos, que recebera do Pai Reino Eterno em
Israel, como temos mostrado; e aos gregos o anunciavam o único verdadeiro Deus,
Criador de todas as coisas e o seu Filho, Jesus Cristo”. (Irineu de Lião -Contra
heresias 3/12:13/185 d.C.).
O apologista Irineu destaca o teor da pregação apostólica que Jesus Cristo,
Filho de Deus, recebeu o Reino Eterno. Demonstra inclusive como a mesma
mensagem era apresentada às duas classes de ouvintes: àqueles que já
aguardavam a promessa do Rei Ungido, os judeus, e aqueles que
precisavam antes reconhecer ao próprio Pai Criador e também seu Filho.

A Pregação do Evangelho do Reino Pelos Profetas

“Amemos os profetas, porque eles também anunciaram o evangelho, esperaram nele


e o aguardaram. Crendo nele, foram salvos; permanecendo na unidade de Jesus
Cristo, santos dignos de amor e admiração, receberam o testemunho de Jesus Cristo
e foram admitidos no evangelho da nossa esperança comum”. (Inácio aos Romanos
5:2/110-115 d.C.).
Essa afirmação acima dá-nos uma real noção do quanto a Igreja reconhecia
as palavras proféticas do Antigo Testamento como sendo totalmente
correlatas ao evangelho, afirmando categoricamente que o centro da
mensagem é o mesmo. Basta examinar toda mensagem profética para
perceber que ela anuncia prioritariamente a vinda do Reino de Deus e que
desassociarmos o Antigo Testamento do Novo é um grande erro. Há que
se notar também, que o texto fala do testemunho que eles receberam de
Jesus Cristo, mas deve se entender que na verdade, o Espírito de Cristo (O
verbo preexistente) é que lhes deu testemunho, pois Jesus, como homem,
ainda não havia nascido.
1 Pedro 1:11. “investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as
circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que
neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos
referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam.”
“O evangelho, porém, tem algo mais especial: a vinda do Salvador, nosso Senhor
Jesus Cristo, sua paixão e ressurreição. De fato, os amados profetas o haviam
anunciado, mas o evangelho é a consumação da incorruptibilidade”. (Inácio aos
Romanos 9:2/110-115 d.C.).
15
O Evangelho da Igreja Primitiva

Ressaltando o anúncio antecipado do Salvador, através dos profetas, diz o


texto acima que o evangelho completo vai ainda além, apontando para a
glorificação dos santos no dia da segunda vinda de Cristo.
I Coríntios 15:52. “num momento, num abrir e fechar de olhos, ao
ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos
ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados”.

“Com efeito, por meio dos profetas, o Senhor nos fez conhecer o passado e o
presente, e nos fez saborear antecipadamente o futuro. Vendo que uma e outra
coisa se realizam conforme ele falou, devemos progredir no seu temor, de maneira
mais rica e mais elevada”. (Epístola de Barnabé 1:7/ 90-130 d.C.).
Novamente relaciona a mensagem profética, tanto com o que a Igreja vivia
naquele momento, como com a esperança futura.

“Está claro que o início do evangelho está nas palavras dos santos profetas e que
aqueles que confessaram Senhor e Deus é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, ao
qual prometeu enviar um anjo que o precedesse”. (Irineu de Lião- Contra as
Heresias III/10:6/185 d.C)
Mais uma afirmação claríssima da unidade e interdependência entre os
profetas e o evangelho. Segue abaixo outra alusão de Irineu referendando
as predições dos profetas sobre a majestade do Cristo. Ainda faz importante
afirmação sobre o Senhor compartilhando seu reinado com os santos.
“Alguns contemplando-o em glória, viam a sua vida gloriosa à destra do Pai.
“Outros ainda disseram: “Belo de aspecto, mais do que os filhos dos homens”, e :
“O Deus, o teu Deus, ungiu-te com óleo de alegria de preferência a teus
companheiros”, e: “Cinge a tua espada ao teu flanco; com a tua beleza e o teu
aspecto, avança, prospera e reina com lealdade, mansidão e justiça, e assim a
seguir, tudo o que disseram, para mostrar o esplendor, a beleza e alegria no seu
reino, mais brilhantes e excelentes do que todos os que reinam com ele, para que
todos os que escutarem desejem encontrar-se ali, depois de ter cumprido o que
agrada a Deus”. (Irineu de Lião -Contra heresias IV/33:11/185 d.C.).
Apocalipse 20:6 “Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na
primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem
autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e
reinarão com ele os mil anos”.
Por todos os escritos dos Pais da Igreja podemos encontrar inúmeras
citações dos profetas do Antigo Testamento e como se utilizaram deles

16
O Evangelho da Igreja Primitiva
para exortarem, confirmarem e defenderem a fé que tinham no Reino de
Deus. Não há necessidade de transcrevê-los todos, já que são porções
enormes dos textos bíblicos. Só para se ter uma idéia, na obra de Irineu
“Contra as heresias”, usadas nessa compilação, são citados todos os livros
do Antigo Testamento excetuando apenas: Ester, Crônicas, Eclesiastes,
Cântico dos cânticos, Jó e Obadias.
“Visto, porém, que na sua vinda enviou seus próprios apóstolos no espírito da
verdade e não de erro, fez a mesma coisa com os profetas porque desde sempre é o
mesmo Verbo de Deus”. (Irineu de Lião -Contra heresias IV/ 35:2/185 d.C.).

Capítulo II
A Enfática Exaltação da Realeza de Jesus

É importante entender a afirmação acima, sob risco de escândalo


precipitado. De forma alguma queremos diminuir ou mesmo deixar de
focalizar a singularidade do feito do Senhor Jesus em prol dos homens, pois
Ele é o “Salvador” e sem o seu sacrifício expiatório o homem jamais poderia
ter a possibilidade de ser redimido dos seus pecados para alcançar a
salvação da alma. Embora isso seja maravilhoso, nos dando acesso a uma
graça incomparável, é preciso compreender que o Senhor não terminou a
sua obra ao ressuscitar e subir aos céus, tornando-se mediador entre Deus
17
O Evangelho da Igreja Primitiva
e os homens e o nosso Sumo sacerdote. O Pai não deu ao Filho a missão
de salvar apenas a alguns homens, antes tem como propósito maior
confiar-lhe o seu Reino sobre tudo. Por isso podemos afirmar que a história
da humanidade ainda verá, obrigatoriamente, essa dispensação, planejada
pelo Pai na eternidade, se tornar completamente uma realidade, ou seja,
resta ao Senhor Jesus, que foi reconhecido na terra como Profeta e Mestre
e que hoje executa a função de Sumo sacerdote, tomar posse do seu Reino
sobre os homens como “Rei dos Reis e Senhor dos Senhores”.
Olhando para a história da Igreja, compreendemos que, através do tempo,
a expectativa tem mudado em relação à segunda vinda do Senhor Jesus. A
Igreja primitiva, como veremos nesse capítulo, cria no iminente retorno do
Senhor em glória (leia-se Majestade e Poder) e que Ele traria consigo o Reino
prometido e o compartilhar dessa glória àqueles que eram seus. No entanto
a soberana vontade de Deus reservou um período de tempo maior para a
consumação do Reino, do que os cristãos primitivos podiam imaginar.
Conjuntamente, a Apostasia haveria de se instalar no coração da Igreja e a
esperança do Reino logo perderia força e o próprio Senhor Jesus deixaria
de ter ressaltado suas prerrogativas como Rei, e seria até mesmo diminuído
na sua dignidade de único mediador, reduzido a um menino no colo da
Virgem Maria. Com a Reforma protestante e o restabelecimento da salvação
pela fé em Jesus Cristo, essa ênfase retomou a visão de Jesus como
Salvador dos homens; Glórias a Deus por isso! Agora, com a progressão da
revelação e a restauração da fé plena na palavra de Deus, resta-nos
reconhecermos que, além de Salvador, Ele é “Rei” e é assim que novamente
se apresentará à humanidade. O Rei está voltando para reinar e toda boca
deve confessá-lo e todo o joelho, reverentemente, deve dobrar-se mediante
à sua majestade.
Os textos que iremos destacar nos dão uma clara visão de como a Igreja
Primitiva tinha em mente a dignidade Real do Filho de Deus e também do
Pai.
“O Senhor Jesus Cristo, cetro da majestade de Deus, não veio, embora pudesse, no
alarde da arrogância ou da soberba, mas humilde, conforme o Espírito Santo havia
dito sobre ele”. (Clemente aos Coríntios 16:2/ 65-93 d.C.). “Por isso, cingi vossos
rins e servi a Deus no temor e na verdade, abandonando as palavras vãs e o erro
de muitos, crendo naquele que ressuscitou nosso Senhor Jesus Cristo dos mortos e
lhe deu a Glória e o trono à sua direita”. (Policarpo aos Filipenses 2:1/ 110 d.C.).
“O Chefe da polícia insistia: “jura, e eu te liberto. Amaldiçoa o Cristo!”Policarpo
respondeu: “Eu o sirvo há oitenta e seis anos, e ele não me fez nenhum mal. Como
poderia blasfemar o meu Rei que me salvou?”

18
O Evangelho da Igreja Primitiva
“Nós o adoramos, porque é o Filho de Deus. Quanto aos mártires, nós os amamos
justamente como discípulos e imitadores do Senhor, por causa da incomparável
devoção que tinham para com seu rei e mestre. Pudéssemos nós também ser seus
companheiros e condiscípulos!” (Martírio de Policarpo 9:3 e 17:3 / 155 d.C.).
“Que isso, porém, não vos será de bom augúrio, o Verbo o demonstra, ele que é o rei
mais alto, o governante mais justo que conhecemos depois de Deus que o gerou”.
(Justino o mártir I Apologia 12:7/150-160 d.C.).
Importante afirmação de Justino, além de destacar a dignidade real do
Senhor Jesus (Verbo de Deus) e do Pai Eterno, ainda demonstra suas
posições hierárquicas.
Apocalipse 3:21 “Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu
trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu
trono”.

“Que tudo isso aconteceria, como digo, o predisse nosso mestre, que é ao mesmo
tempo filho e legado de Deus pai e soberano do universo, Jesus Cristo, do qual
também originou-se o nosso nome de cristãos”. (Justino o mártir I Apologia
12:9/150-160 d.C.).
“Com efeito, Cristo, como eu vos demonstro por todas as Escrituras, é chamado rei
e sacerdote, Deus, Senhor, anjo, homem, supremo general, pedra, menino recém-
nascido; dele se anunciou que, primeiro nascido passível, devia depois subir ao céu
e daí há de vir novamente com glória e possuir um reino eterno”. (Justino o mártir
diálogo com Trifão 34:2/ 150-160 d.C.).
“A mesma profecia deixa claro que veremos este mesmo como rei glorioso...”.
“... e também aquele que morreu crucificado e a quem ele concedeu ser rei sobre toda
a terra”. (Justino o mártir diálogo com Trifão 70:4 e 74:3/150-160 d.C.).
“De fato, que o Cristo é anunciado nas Escrituras como sofredor, que virá
novamente com glória para receber o reino eterno de todas as nações e que todo
reino lhe será submetido, está suficiente demonstrado pelas Escrituras que citaste”.
(Justino o mártir diálogo com Trifão 39:7/150-160 d.C.).
Abaixo, destaco uma exposição de Justino, exemplificando o Messiado de
Jesus, onde ele traduz a palavra “Siló” e faz aplicação do contexto da
profecia de Jacó que o autor cita, referendando Moisés, que escreveu a
profecia, como se ele é quem tivesse dito.

19
O Evangelho da Igreja Primitiva
“Moisés, que foi o primeiro dos profetas, disse literalmente: “Não faltará príncipe
de Judá, nem chefe saído de seus músculos, até que venha (Siló) aquele a quem está
reservado. Ele será a esperança das nações”...
“tal como foi de antemão dito pelo espírito santo profético, por meio de Moisés,
que não faltaria príncipe dos judeus até aquele para o qual está reservada a
realeza.” “As palavras:“Ele será a esperança das nações”queria dizer que gente de
todas as nações esperará novamente a sua vinda...” (Justino o mártir I Apologia
32:1-4/150-160 d.C.).
Os livros escritos por Irineu de Lião, compõem uma obra extensa, onde
encontramos várias declarações de reconhecimento, tanto do Senhor Jesus
Cristo, como de Deus, o Pai, com o título máximo de Rei. Transcrevemos
alguns que mostram a ênfase da visão Real que a Igreja ainda tinha em
meados do segundo século.
“Eles não crêem que este Deus que está acima de todas as coisas criou pelo Verbo,
no seu domínio, as várias e diversas coisas, como quis, por ser o Criador de tudo, o
supremo arquiteto e o maior dos reis...”. (Irineu de Lião – Contra heresias II /11:1
/185 d.C.).
“E, fora ele, não existe outro Deus, porque não seria reconhecido como Deus, nem
por grande Rei, pelo Senhor, porque tal dignidade não admite comparação nem
superioridade; quem tem acima de si superior e se encontra em poder de outro, não
pode ser chamado grande Rei nem Deus”. (Irineu de Lião – Contra heresias
IV/2:5/185 d.C.).
“Com estas palavras o Senhor manifestou tudo claramente: que único é o Rei e
Senhor, Pai de todas as coisas, de quem antes dissera: “Não jurarás por Jerusalém,
porque é a cidade do grande Rei”.
“Com isso mostra claramente que o mesmo Rei, que convidou os homens de todas
as partes para a festa de casamento de seu Filho e ofereceu o banquete de
incorrupção, ordena lançar nas trevas exteriores aquele que não tem o traje nupcial,
isto é aquele que despreza”. (Irineu de Lião – Contra heresias IV/36:5-6/185 d.C.).
“Este é o mistério que diz ter-lhe sido revelado, isto é, que aquele que padeceu sob
Pôncio Pilatos é o Senhor de todos os homens, seu Deus, Rei e Juiz, por ter recebido
o poder do Deus de todas as coisas, pois, se fizera obediente até a morte de cruz”.
(Irineu de Lião - Contra heresias III/12:9/185 d.C.).

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O Evangelho da Igreja Primitiva
Os textos que se seguem têm visão escatológica uma vez que, apesar de o
Senhor Jesus já ter sido designado Rei dos reis pelo Deus Pai, a
consumação deste Reino ainda está por vir.
“Quem mais há de reinar sem interrupção e para sempre na casa de Jacó, senão
Jesus Cristo, nosso Senhor, o Filho de Deus Altíssimo, que prometeu, por meio da
Lei e dos profetas, tornar visível a sua salvação a toda carne, de forma tal que este
Filho de Deus se tornaria homem para que, por sua vez, o homem se tornasse filho
de Deus?” (Irineu de Lião - Contra heresias III/10:2/185 d.C.).
“Por isso, quando, em nossos dias, os judeus lêem a Lei é para eles como ler um
conto, porque não têm a noção completa acerca da vinda do Filho de Deus na
natureza humana, mas quando lida pelos cristãos é tesouro escondido no campo,
revelado e explicado pela cruz de Cristo, que revela a sabedoria de Deus e as suas
economias acerca dos homens, prepara o reino de Cristo e anuncia a herança da
santa Jerusalém...”. (Irineu de Lião - Contra heresias IV/26:1/185 d.C.).
“Os que disseram que teria adormecido e caído no sono e que teria acordado porque
o Senhor o sustentou; e mandavam que os príncipes dos céus abrissem as portas
eternas para que entrasse o Rei da glória, proclamavam a sua ressurreição dos
mortos pelo poder do Pai e a sua recepção nos céus”.
“Os que disseram: O Senhor é rei: que os povos se irritem; ele está assentado sobre
os querubins: a terra se abale! Profetizavam, por um lado, a ira de todos os povos
contra os que acreditariam nele depois da ascensão e a agitação de toda a terra
contra a Igreja; e, por outro, o tremor de toda a terra, quando da sua volta do céu
com os mensageiros do seu poder, conforme ele mesmo disse: Haverá grande
comoção na terra, como nunca houve desde o princípio”. (Irineu de Lião - Contra
heresias IV/33:13/185 d.C.).
Irineu, assim como Justino, identificou a profecia do Salmo 19 como
descrição do Senhor Jesus chegando triunfantemente à sua posição
celestial ao lado do Pai, Chamando-o: Rei da Glória. Continua Irineu
expondo o cumprimento profético, apontando ainda a segunda vinda
gloriosa do Senhor Jesus e o tremendo efeito sobre os homens.
“Se, portanto, o grande Deus deu a conhecer o futuro por meio de Daniel e o
confirmou por meio de seu Filho; se o Cristo é a pedra que se desprendeu sem
intervenção de mão alguma, aquele que deve aniquilar os reinos temporais e
introduzir o reino eterno, isto é, a ressurreição dos justos - “o Deus do céu, diz,

21
O Evangelho da Igreja Primitiva
suscitará um reino que nunca mais será destruído”. (Irineu de Lião - Contra
heresias V/26:2/185 d.C.).
É importante compreendermos que o Reino milenial de Cristo precede a
eternidade, onde o Pai assumirá o Reino conquistado pelo filho e com ele
reinará eternamente.
I Coríntios 15: 24-28 “E, então, virá o fim, quando ele entregar o
reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem
como toda potestade e poder. Porque convém que ele reine até que
haja posto todos os inimigos debaixo dos pés. O último inimigo a ser
destruído é a morte. Porque todas as coisas sujeitou debaixo dos
pés. E, quando diz que todas as coisas lhe estão sujeitas,
certamente, exclui aquele que tudo lhe subordinou. Quando, porém,
todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então, o próprio Filho
também se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para
que Deus seja tudo em todos”.
Apocalipse 22:3-5 “Nunca mais haverá qualquer maldição. Nela,
estará o trono de Deus e do Cordeiro. Os seus servos o servirão,
contemplarão a sua face, e na sua fronte está o nome dele. Então,
já não haverá noite, nem precisam eles de luz de candeia, nem da
luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles, e reinarão
pelos séculos dos séculos”.

Capítulo III

A Esperança na Vinda do Reino de Deus


A Igreja moderna, de um modo geral, compreende mal o que seja o “Reino
de Deus”. Não é uma utopia, nem alegoria, nem mesmo um assunto de
segundo ou terceiro plano dentro do Evangelho. Na verdade o Reino de
Deus é o evento central que cabalmente irá se cumprir, como propósito bem
estabelecido na mente de Deus em relação à humanidade desde a
eternidade, quando planejou tudo. A Igreja primitiva, muito mais cônscia
dessa realidade, anelava pelo dia do Senhor quando todas as promessas se
consumarão.
22
O Evangelho da Igreja Primitiva
Alguns comentadores modernos, que não têm em suas concepções a idéia
de um reino literal do próprio Deus sobre a terra, podem ver nas palavras
dos Pais da Igreja uma interpretação forçada pelas circunstâncias em que
viviam, ou seja, sempre perseguidos e debaixo de Impérios opressores, o
que justificaria a esperança de um reino ideal. No entanto, na verdade,
somos nós, homens modernos “ocidentalizados”, que vivemos regimes
democráticos, totalmente dês-familiarizados com o regime monárquico,
nutrindo uma esperança escapista de abandonarmos tudo para trás e
irmos para um outro plano, é que negligenciamos as verdades eternas
exaradas nas promessas proféticas e confirmadas pelo Senhor Jesus e seus
primeiros discípulos.
Na oração modelo que o Senhor Jesus ensinou e que é universalmente
conhecida, o propósito eterno de Deus é bem centralizado, como sendo o
anseio que deveria nortear as esperanças de todos os cristãos:
Mateus 6;10 “...venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na
terra como no céu”;
O Reino de Deus tem de vir para que se cumpra toda a vontade de Deus na
terra, assim como ela já é cumprida no céu por todo o séqüito de seres
celestiais. O Senhor ainda assumirá a sua majestade sobre os homens na
terra:
Apocalipse 11:17 “dizendo: Graças te damos, Senhor Deus, Todo-
Poderoso, que és e que eras, porque assumiste o teu grande poder e
passaste a reinar”.
Observe no texto acima, que apesar de Deus ser o Soberano do Universo, a
visão de apocalipse mostra que, em algum tempo na história, o Pai
vindicará sua realeza e será reconhecido Rei, de fato, sobre o mundo.
Os Pais da Igreja mencionaram o Reino de Deus em seus escritos sempre
apontando para um cumprimento futuro, mas ansiando o seu pronto
estabelecimento, quando desfrutariam da recompensa por sua labuta. A
profundidade da compreensão que tinham das grandezas desse Reino em
muito supera as expectativas atuais da Igreja moderna.

O Reino Esperado Para o Futuro

“Se o aguardarmos neste mundo, ele nos dará em troca o tempo futuro, pois ele nos
prometeu ressuscitar-nos dentre os mortos, e, se a nossa conduta for digna dele,
também reinaremos com ele, se tivermos fé”. (Policarpo aos Filipenses 5:2/ 110
d.C.).

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O Evangelho da Igreja Primitiva
2 Timóteo 2:12 “se perseveramos, também com ele reinaremos; se o
negamos, ele, por sua vez, nos negará;”

“É que o justo caminha neste mundo e espera o mundo santo. Vede como Moisés
legislou bem!”. (Epístola de Barnabé 10:11/ 90-130 d.C.).
“quando o espírito profético fala, profetizando sobre o futuro, ele diz assim:
“Porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor de Jerusalém;
ele julgará no meio das nações e argüirá um povo numeroso”. (Justino o mártir I
Apologia 39:1/150-160 d.C.).
“Se agora vemos que houve e continua havendo um grande poder pela economia de
sua paixão, que poder não terá com a sua vinda gloriosa? De fato, ele deverá vir
como filho do homem, sobre as nuvens, em companhia dos anjos, como disse
Daniel.“Então foi-lhe dado poder e honra régia, assim como todas as nações da
terra, segundo suas descendências, e toda a glória que o serve. Seu poder é poder
eterno e não lhe será tirado; o seu reino não será destruído”. (Justino o mártir
diálogo com Trifão 31:1/150-160 d.C.).
“Foi ainda ele que, pelos apóstolos, anunciou ter chegado a plenitude dos tempos
da adoção filial, que o Reino dos céus estava próximo e que se encontrava dentro
dos homens que criam no Emanuel nascido da Virgem”. (Irineu de Lião -Contra
heresias III/21:4/185 d.C.).
O texto acima é dos mais significativos para se derrubar a teoria
“amilenista” que permeou as interpretações da Igreja nos séculos que se
seguiram e que perdura em alguns ramos, até hoje. Com certeza, como
nos diz o Senhor Jesus em Lucas 17, as primícias do Reino se encontram
no coração dos crentes, como também Irineu o testifica. Porém, é
imprescindível notar que além dessas primícias interiores, dadas aos filhos,
Irineu também fala do anúncio da proximidade do Reino dos céus,
apontando para algo maior, ainda por vir.
Analisando o contexto das palavras do Senhor Jesus, a interpretação
completa, se clarifica.
Lucas 17:20-24 “Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o
reino de Deus, Jesus lhes respondeu: Não vem o reino de Deus com
visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino
de Deus está dentro de vós. A seguir, dirigiu-se aos discípulos: Virá
o tempo em que desejareis ver um dos dias do Filho do Homem e não
o vereis. E vos dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Não vades nem os
sigais; porque assim como o relâmpago, fuzilando, brilha de uma à

24
O Evangelho da Igreja Primitiva
outra extremidade do céu, assim será, no seu dia, o Filho do
Homem”.
O Senhor propositalmente dá uma resposta enigmática aos fariseus que o
interrogavam, pois não tinha compromisso em lhes facilitar a compreensão.
Deveriam discernir espiritualmente, se o pudessem fazer. A seguir, volta-se
para os seus discípulos e como não queria deixá-los em semelhante
dificuldade, lhes esclarece que o aparecimento do Reino estava totalmente
correlacionado a sua segunda vinda, que se dará de maneira manifesta à
vista de todos os olhos, inaugurando o “Dia do Senhor”.
“Desde que não nos podemos salvar sem o Espírito de Deus, o Apóstolo exorta nos
a conservar este Espírito de Deus, pela fé e por vida casta, para que não percamos
o reino dos céus, pela falta deste Espírito divino. E afirma solenemente que a carne
só e o sangue não podem obter o reino de Deus”. (Irineu de Lião -Contra heresias
V/9:3/185 d.C.).
Em I Coríntios15: 48-49 temos outra forte interpretação das palavras do
apóstolo Paulo, condicionando a posse do Reino à perseverança no decorrer
da carreira cristã e à manutenção da vida divina, que, como adverte o autor,
é passível de ser perdida, impossibilitando a herança do Reino.

“Também João, o discípulo do Senhor, no Apocalipse, assiste à vinda do reino


glorioso e sacerdotal...”. (Irineu de Lião -Contra heresias IV/20:11/185 d.C.).

A Esperança de Ressurreição Para


Participar do Reino
Diferentemente da aspiração geral da Igreja moderna, de morrer e ir para o
céu, a Igreja primitiva, muito ao contrário tinha como maior anseio, a
ressurreição dentre os mortos. O estado intermediário na morte, ainda que
sendo em Cristo, não era o motivador daqueles que viviam sua fé, sob
constante risco de vida.
A vida no Reino, na ressurreição, era a viva e real esperança. “Caríssimos,
consideremos como o Senhor nos manifesta sem cessar a ressurreição futura, cujas
primícias ele as concedeu no Senhor Jesus Cristo, ressuscitando-o dos mortos”.
(Clemente aos Coríntios 24:1/ 65-93 d.C.).

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O Evangelho da Igreja Primitiva
“Eu te bendigo por me teres julgado digno deste dia e desta hora, de tomar parte
entre os mártires, e do cálice de teu Cristo, para a ressurreição da vida eterna da
alma e do corpo, na incorruptibilidade do Espírito Santo”. (Martírio de São
Policarpo 14:2 / 155 d.C.).
“... nós também, que cremos como um só homem no Deus criador do universo, pelo
nome de seu Filho primogênito, nós nos despojamos de nossas vestes sujas, isto é,
de nossos pecados... mas Deus poderosamente as tirará de nós, quando ressuscitar
a todos, tornando uns incorruptíveis, imortais, isentos de dor e colocando-os em
seu reino eterno e indestrutível, e enviando outros para o suplício do fogo eterno”.
(Justino o mártir diálogo com Trifão 116:3 e 117:3/ 150-160 d.C.).
Mais um texto mostrando a clara compreensão que os cristãos possuíam
de que para tomar posse do reino, primeiro viria a ressurreição, sendo que
isso necessariamente tem de acontecer nessa ordem. O desprezo quase
total pela ressurreição e o dês-compromisso com a visão bíblica da
incorruptibilização dos santos devem-se ao fato de crer-se que se recebe a
suposta herança no céu, onde não há corrupção. Logo, não esperam a
ressurreição em incorruptibilidade para receberem a herança.
“Na sua segunda vinda acordará e porá todos estes homens de pé diante dos outros
que serão julgados e os estabelecerá em seu reino”.
“...o Verbo, invisível por natureza, se tornou palpável e visível entre os homens e
se rebaixou até a morte e morte de cruz; que os que crêem nele se tornarão
incorruptíveis e impassíveis e obterão o reino dos céus”. (Irineu de Lião -Contra
heresias IV/22:2 e 24:2/185 d.C.).
Outro escritor antigo, Aristides de Atenas, em sua Apologia escrita ao
Imperador Adriano, faz alusão à esperança cristã em ressuscitar para
desfrutar da vida futura.
“Eles têm os mandamentos do mesmo Senhor Jesus Cristo gravados em seus
corações, e os guardam, esperando a ressurreição dos mortos e a vida do século
futuro”. (Aristides de Atenas 15:3/cerca de 138 d.C.).
O texto a seguir, do mesmo autor, assinala que essa vida futura é a
vida prometida pelo Senhor Jesus no Reino.
“Este é portanto, o caminho da verdade, que conduz todos os que por ele caminham
ao reino eterno, prometido por Cristo na vida futura.”(Aristides de Atenas
15:9/cerca de 138 d.C.).

26
O Evangelho da Igreja Primitiva
Por fim, Aristides dá testemunho claro da fé na perspectiva da salvação
futura que é a ressurreição dos vencedores que tomarão posse do mundo
porvir.
“Com razão, portanto, o teu filho compreendeu e foi ensinado a servir ao Deus
vivo e salvar-se no mundo futuro.” (Aristides de Atenas 15:9/cerca de 138 d.C.).
Hebreus 2:5 “Pois não foi a anjos que sujeitou o mundo que há de
vir, sobre o qual estamos falando”;

Incorruptibilidade – Característica do Reino Sacerdotal


A esperança máxima da ressurreição tinha como característica distintiva o
anelo pela “incorruptibilidade”, que se traduz em tornar-se imortal,
impassível, incapaz de se corromper pelo pecado, ficar imune à natureza
caída anterior. É o legítimo anseio de ser como o Senhor Jesus é hoje, com
corpo glorioso, desfrutando, assim, a plenitude da adoção filial. O que para
muitos, nos dias de hoje, pode parecer blasfêmia, o ser igual a Jesus, era
para a Igreja primitiva um alvo a ser alcançado. Já que somos chamados a
sermos um reino sacerdotal, devemos, necessariamente, possuir a
semelhança do Sumo Sacerdote Jesus, que, como cabeça, venceu a morte,
assim todo o corpo também deve fazê-lo.
Romanos 8:23 “E não somente ela, mas também nós, que temos as
primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo,
aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo”.
Note a compreensão clara das palavras do apóstolo Paulo neste texto
abaixo, de Irineu.
“Estas palavras estão certas quando esta carne mortal e corruptível entregue à
morte e humilhada pelo poder dela, revestida de incorruptibilidade e de
imortalidade voltará à vida, porque, então, verdadeiramente será vencida a morte,
quando esta carne que estava em seu poder se lhe subtrairá. Ele diz ainda aos
Filipenses (3:20-21): “A nossa *vida está no céu, de onde esperamos como Salvador
o Senhor Jesus que transformará o nosso pobre corpo, tornando-o conforme ao seu
corpo glorioso, pela ação do seu poder”. (Irineu de Lião - Contra heresias
V/13:3/185 d.C.).
*( O termo citado como vida, no texto original grego é melhor traduzido como
“cidadania”)
A ressurreição aguardada na vinda do Senhor Jesus do céu, trazendo a
incorruptibilização para os que estavam no poder da morte (exceto os que

27
O Evangelho da Igreja Primitiva
forem encontrados vivos e que serão transformados) dará aos santos,
corpos gloriosos não inferiores ao dele.
Qual é este pobre corpo que o Senhor transformará tornando-o semelhante ao seu
corpo glorioso? Evidentemente, o corpo carnal que é aviltado no sepulcro. A
transformação dele consiste nisto: que de mortal e corruptível é tornado imortal e
incorruptível, não pela sua natureza, mas por obra do Senhor que pode revestir de
imortalidade o que é mortal e de incorruptibilidade o que é corruptível”. (Irineu de
Lião -Contra heresias V/13:3/185 d.C.).
1 Coríntios 15:53 e 54 “Porque é necessário que este corpo
corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se
revista da imortalidade. E, quando este corpo corruptível se revestir
de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade,
então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte
pela vitória”.
Novamente Justino dá testemunho da fé de que um dia a morte não
dominará mais aqueles que são de Cristo.
“Na segunda vinda de Cristo ela cessará totalmente nos que acreditaram nele e
viveram de modo agradável a ele, e não existirá mais, quando alguns forem
mandados ao fogo para serem sem cessar castigados, e outros gozarem de
impassibilidade e incorruptibilidade, livres da dor e da morte”.
“Sofremos os últimos tormentos e nos alegramos de morrer, pois cremos que Deus
nos ressuscitará por meio de seu Cristo e nos tornará incorruptíveis, impassíveis e
imortais”. (Justino o mártir diálogo com Trifão 45:4 e 46:7/ 150-160 d.C.).
“Esta é a doutrina em que nós cremos: Deus ressuscitará os nossos corpos mortais
que guardaram a justiça e os tornará incorruptíveis e imortais”. (Irineu de Lião -
Contra heresias II/29:2/185 d.C.).
“Mas aos que o seguem e o servem, Deus concede a vida, a incorruptibilidade e a
glória eterna”. (Irineu de Lião - Contra heresias IV/14:1/185 d.C.).
“... depois de ser depostos na terra e se terem decomposto, ressuscitarão, no seu
tempo, quando o Verbo de Deus os fará ressuscitar para a glória de Deus Pai,
porque ele dará a imortalidade ao que é mortal e a incorruptibilidade ao que é
corruptível, pois o poder de Deus se manifesta na fraqueza”. (Irineu de Lião -
Contra heresias V/2:3/185 d.C.).
É significativo notar a seqüência da obra de salvação feita por Deus nos
seus filhos. Primeiro o eleito recebe o espírito Santo do Senhor, que
28
O Evangelho da Igreja Primitiva
preenchendo o coração, possibilita o desenvolvimento pleno da vida divina
na alma humana. De dentro para fora, o espírito de Jesus, edifica a alma
expurgando toda nódoa do pecado, tornando-a perfeita. É assim que a
Igreja do tempo do fim andará na terra, irrepreensível, pura e sem pecado,
pronta para o encontro com o Noivo Jesus Cristo. Só lhe faltará a
incorruptibilização do corpo, última parte do homem a sofrer o processo de
glorificação.

O Reino Constituído de Sacerdotes do Senhor


Apocalipse 5:10 “e para o nosso Deus os constituíste reino e
sacerdotes; e reinarão sobre a terra”. Apocalipse 20:6. “Bem-
aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira
ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo
contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele
os mil anos”.
Os dois textos destacados acima indicam claramente que a ressurreição
dos santos significará o aparecimento sobre a terra de um Reino de
Sacerdotes, já sem as limitações do sacerdócio levítico, mas instaurando a
ordem sacerdotal de Melquisedeque, da qual Jesus Cristo é o Sumo
sacerdote.
Representantes divinos, revelando a glória de Deus em plenitude, co-
participando da regência do mundo ao lado de Jesus. Os pais da Igreja
sabiam dessa vocação da Igreja e disso davam testemunho.
“... também das mãos desses nos arranca Jesus, Filho de Deus, que nos prometeu,
se guardarmos os seus mandamentos, vestir-nos com as vestes que preparou para
nós e também preparar-nos um reino eterno”.
“E abrasados pelas palavras do seu chamamento, somos a verdadeira raça de sumos
sacerdotes de Deus, como o próprio Deus o atesta, dizendo que em todo lugar nas
nações nós lhe oferecemos sacrifícios agradáveis e puros. Ora, Deus não aceita
sacrifícios de qualquer um, a não ser de seus sacerdotes”. (Justino o mártir diálogo
com Trifão 116:2 e 3/ 150-160 d.C.).
“Também João, o discípulo do Senhor, no Apocalipse, assiste à vinda do reino
glorioso e sacerdotal...”. (Irineu de Lião -Contra heresias IV/20:11/185 d.C.).

Ausência da Expectativa de Ir Morar no Céu

29
O Evangelho da Igreja Primitiva
Temos aqui, o ponto crucial que diferencia a fé da Igreja Primitiva da Igreja
Moderna. Não há em todos os escritos mais antigos, registros dos cristãos
ansiando em ir para o céu e, muito menos, em morar lá. Todo anseio, como
já ficou bem evidenciado neste capítulo, é direcionado para o futuro (literal)
Reino de Cristo, que será estabelecido sobre a terra e a ressurreição em
glória, imortalidade e incorruptibilidade que alcançarão os justos. Não há
qualquer alusão à palavra céu (ouranon), em qualquer referência ao “estado
intermediário” (na morte), onde as almas dos justos estão aguardando a
ressurreição.
Daí podem conjecturar: Será que os primeiros cristãos desconheciam (não
tinham revelação) sobre o paradeiro de suas almas ao morrerem? Ou,
mesmo sobre a forte perseguição e martírios, eles não expressariam o
consolo da convicção de saberem o lugar para onde iriam? Por que eles
não proclamariam a sua “ida para o céu”, claramente como passamos a
verificar em vários registros históricos, depois da metade do segundo
século? Seria isso uma revelação posterior a esse período?
O Fato é discutido no último capítulo (apêndice) desse livro.
Os textos abaixo dão testemunho de como os cristãos criam e nos mostram
a discrepância entre a fé apostólica legada à Igreja primitiva e o anseio
moderno de fuga para um outro plano de existência; onde o que deveria ser
entendido como temporário, é visto como meta final, o que não significa que
esteja atestando que o destino do cristão que morre é o céu, senão, que
admito a permanência temporária em outra dimensão, o Mundo dos mortos
(Hades). As palavras do Senhor Jesus profetizam sobre o dia em que a Igreja
vencerá a morte, rompendo as cadeias do Hades, saindo do seu domínio,
na ressurreição gloriosa.
Mateus 16:18. “Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta
pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno (Hades) não
prevalecerão contra ela”.

“Todavia, deixando os exemplos antigos, examinemos os atletas que viveram mais


próximos de nós. Tomemos os nobres exemplos da nossa geração. Foi por causa do
ciúme e da inveja que as colunas mais altas e justas foram perseguidas e lutaram
até a morte. Consideremos os bons apóstolos. Pedro, pela inveja injusta, suportou,
não uma ou duas, mas muitas fadigas e, depois de ter prestado testemunho, foi
para o lugar glorioso que lhe era devido. Por causa da inveja e da discórdia, Paulo
mostrou o preço reservado à perseverança. Sete vezes carregando cadeias, exilado,
apedrejado, tornando-se arauto no Oriente e no Ocidente, alcançou a nobre fama
de sua fé. Depois de ter ensinado a justiça ao mundo inteiro e alcançado os limites
do Ocidente, ele deu testemunho diante das autoridades, deixou o mundo e se foi

30
O Evangelho da Igreja Primitiva
para o lugar santo, tornando-se o maior modelo de perseverança”. (Clemente aos
Coríntios 5:1-7/ 65-93 d.C.).
O texto acima, escrito por Clemente, Bispo da Igreja de Roma, que seria um
dos colaboradores citados por Paulo (Filipenses 4:3), fala que tanto o
apóstolo como também Pedro, foram para “o lugar separado” que lhes era
reservado. No texto abaixo, igualmente, a referência é a um lugar
especifico, porém não determinado claramente. Ainda, para evidenciar esse
lugar de espera, cita Isaías 26:20.
“... mas aqueles que, pela graça de Deus, se tornaram perfeitos no amor permanecem
no lugar dos piedosos. Esses hão de tornar-se manifestos, quando aparecer o Reino
de Cristo. Com efeito, está escrito: “Entrai um pouco em vossos quartos, até que
passem a minha ira e o meu furor. Então, eu me lembrarei do dia ótimo, e vos
ressuscitarei dos vossos sepulcros”. (Clemente aos Coríntios 50:3-4/ 65-93 d.C.).
“Portanto, eu vos exorto a todos, para que obedeçais à palavra da justiça e sejais
constantes em toda a perseverança, que vistes como os próprios olhos, não só nos
bem-aventurados Inácio, Zózimo e Rufo, mais ainda em outros que são do vosso
meio, no próprio Paulo e nos demais apóstolos. Estejam persuadidos de que
nenhum desses correu em vão, mas na fé e na justiça, e que eles estão no lugar que
lhes é devido junto ao Senhor, com o qual sofreram”. (Policarpo aos Filipenses 9:1/
110 d.C.).
A tendência moderna conduz à conclusão por associação de idéias: se o
Senhor Jesus está no céu à destra de Deus, logo os santos só podem estar
com ele também no céu. Note que Policarpo não diz isso necessariamente.
Ele, como os demais, faz referência a um lugar onde o Senhor tem
comunhão com os seus santos. Os textos que se seguem deixarão mais
claro o que seria esse lugar.
“Digo, então, que as almas dos justos permanecem num lugar melhor e as injustas
e más ficam em outro lugar, esperando o tempo do julgamento”. (Justino o
mártir diálogo com Trifão 5: 3/ 150-160 d.C.).
Essa afirmação de Justino, novamente denomina como “um lugar” a
dimensão para onde vão as almas dos justos e fazendo distinção de um
outro lugar para os injustos, corrobora com a visão do “Hades - mundo dos
mortos”, dividido em dois compartimentos, a saber: “O seio de Abraão” e o
lado dos tormentos”. Também é enfático em demonstrar que essa condição
tem tempo determinado.
Lucas 16: 23 “No inferno(Hades), estando em tormentos, levantou os
olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio”.
31
O Evangelho da Igreja Primitiva
É importante discernir a expressão: “levantou os olhos”, pois alguns
argumentam que o rico estava num patamar inferior, olhando para cima
(para o céu), onde estariam Abraão e Lázaro. Só que esta expressão
significa: “ver mais além, ou mais adiante”. Também porque não é levantar
a cabeça e sim erguer os olhos, como Jesus mandou que seus discípulos
fizessem para verem os campos. Com certeza os campos não se
encontravam no céu.
João 4:35. “Não dizeis vós que ainda há quatro meses até à ceifa?
Eu, porém, vos digo: erguei os olhos e vede os campos, pois já
branquejam para a ceifa”.
Para enriquecer ainda mais, essa interpretação neo-testamentária,
transcrevemos abaixo o comentário do historiador judeu do século I, Flávio
Josefo, que descreve o pensamento judaico sobre o Hades.
“Quanto ao Hades, o lugar onde estão as almas dos justos e injustos, é necessário
que se comente a respeito. O Hades fica em algum lugar não especificado no mundo;
uma região subterrânea onde a luz deste mundo não brilha... há ali uma escuridão
perpétua. É um lugar onde as almas são admitidas em custódia, e onde existem
anjos que as guardam. Os mesmos distribuem às almas punições temporárias, de
acordo com o comportamento de cada uma.
Nessa região há um determinado lugar à parte, como um lago de fogo eterno,
onde supõe-se que ninguém até agora esteve; mas está preparado para um dia
predeterminado por Deus, quando será proclamada a sentença que cada homem
merecer... O injusto receberá seu castigo eterno... enquanto o justo obterá um reino
incorruptível e que nunca findará. Estes últimos estão ainda confinados no hades,
mas não no mesmo lugar onde os injustos estão... Há um declive naquela região,
em cujo portão há um arcanjo postado com um exército ... O justo é guiado para a
direita, e dirigido com hinos cantados pelos anjos... a uma região de luz, na qual
os justos têm vivido desde a fundação do mundo...Tal lugar é chamado seio de
Abraão.
Mas quanto ao injusto, será levado à força para a esquerda, por anjos que
distribuirão punições, como prisioneiros... e não apenas isso, mas de onde estão
podem ver também o lugar dos patriarcas e dos justos; até com estas visões são
punidos, pois um profundo e largo caos os separa; de tal forma que nenhum homem
justo, mesmo que tivesse compaixão deles poderia ser admitido, nem tão pouco o
injusto, mesmo que tivesse coragem suficiente para tentar, conseguiria atravessar”.
Os paralelos com os textos bíblicos são bastante coerentes se levarmos em
conta que Flávio Josefo não era cristão. Compreende-se assim, a diferença
32
O Evangelho da Igreja Primitiva
entre Hades (mundo dos mortos), mal traduzido nas versões em português
como o *Inferno, que é temporário, e o lago de fogo e enxofre, que é a
dimensão final e eterna de punição dos malignos, sejam homens, anjos,
principados, potestades e também o próprio diabo.
Ficam mais claros alguns textos, como a descida de Jesus ao Hades.
Também, o próprio Hades depois de esvaziado das almas que continha,
sendo lançado para dentro do lago de fogo no futuro Juízo final.
Efésios 4:9 “Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia
descido às regiões inferiores da terra”?

I Pedro 3:19 “no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão”,
Apocalipse 20:14 “Então, a morte e o inferno(Hades) foram lançados
para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de
fogo”.

*Inferno, ou Infernus do latim foi tomado de empréstimo da Mitologia greco -


romana. O reino subterrâneo de Plutão para onde iriam as almas dos mortos.
É interessante se observar que, na Bíblia, o Inferno não é o lugar de castigo
eterno, como os cristãos modernos crêem, uma vez que, após ressuscitarem
todos os mortos, no Juízo Final, eles, a Morte e o Inferno, serão lançados
no lago de fogo, que não é a mesma coisa. Por esse erro de entendimento
da Igreja atual, vamos percebendo o quanto ela está desviada da verdade .

“menosprezando a promessa de Deus e ultrapassando completamente, com a sua


mente, a Deus, afirmam que logo depois da sua morte subirão acima dos céus,
acima até do próprio “Criador, para irem junto à Mãe ou Pai que eles inventaram.-
Recusando entender que se as coisas se verificassem realmente como eles querem,
sequer o Senhor, em quem dizem acreditar, teria ressuscitado ao terceiro dia, mas
logo que expirou sobre a cruz teria subido às alturas, abandonando o seu corpo
sobre a terra. Ora, passou três dias onde estavam os mortos, em conformidade com
o que o profeta diz dele: “O Senhor se lembrou dos seus santos mortos, dos que
antes adormeceram na terra das sepulturas e desceu até eles para tirá-los de lá e
salva-los. O próprio Senhor diz:” Como Jonas ficou três dias e três noites no ventre
do cetáceo, assim acontecerá com o ‘Filho do homem no seio da terra”. E o apóstolo
diz: “Que significa “subiu” a não ser que tinha descido às regiões inferiores da
terra?”Igualmente disse Davi, profetizando sobre ele: “Libertaste a minha alma
das profundezas do Inferno (Hades)”. Ao ressuscitar no terceiro dia, dizia a
Maria, a primeira que o via e o adorava: “Não me toques, porque ainda não subi

33
O Evangelho da Igreja Primitiva
ao Pai; mas vá aos meus discípulos e dize-lhes: Subo ao meu Pai e vosso Pai”.
(Irineu de Lião -Contra heresias V/31:1-2/185 d.C.).
No texto acima, Irineu combate os líderes heréticos que se julgando
ortodoxos e mais sábios do que os Pais da Igreja mutilavam o Evangelho e
sobrepunham suas próprias idéias acima da tradição apostólica.
Contrariando a verdade, tinham um discurso, infelizmente, parecido com o
que muitos cristãos, e mesmo não crentes hoje professam, ou seja, a idéia
de que quando se morre, a alma vai direto para o céu.
“Se o Senhor se submeteu às leis da morte para ser primogênito entre os mortos e
ficou três dias nas regiões inferiores da terra (Hades) antes de ressuscitar na carne,
para mostrar aos discípulos também os sinais dos pregos, e assim subir ao Pai,
devem-se envergonhar os que afirmam que o Inferno é este nosso mundo e que o
homem interior sobe para um lugar supra celeste, deixando aqui o corpo. Tendo o
Senhor ido entre as sombras da morte, onde estavam as almas dos mortos, e
ressuscitando depois corporalmente, e depois de ressuscitado, sendo levado ao
céu, indicou que o mesmo aconteceria com seus discípulos, pois era para eles que o
Senhor fez tudo isso: as almas deles irão a um lugar invisível estabelecido por
Deus e aí ficarão até a ressurreição, à espera dela; depois reassumirão seus corpos,
da mesma forma que o Senhor ressuscitou, e irão à presença de Deus. “Nenhum
discípulo é superior ao mestre, mas todo discípulo será perfeito como o seu mestre”.
Como o nosso Mestre não voltou logo para o céu, mas esperou o tempo da sua
ressurreição, estabelecido pelo Pai e indicado pela história de Jonas, e
ressuscitando depois de três dias, foi assunto ao céu; assim nós devemos esperar o
momento da nossa ressurreição estabelecido pelo Pai e prenunciado pelos profetas.
Então, ressuscitando, serão levados ao céu os que, entre nós, o Senhor julgará
dignos”. (Irineu de Lião - Contra heresias V/31:1-2/185 d.C.).
Essa extensa narrativa de Irineu detalha com respaldo bíblico, várias
questões:
a) nega que a alma vá imediatamente ao céu depois da morte;
b) o próprio Senhor Jesus não foi para o céu imediatamente, antes desceu
ao Hades como todos os mortos;
c) os santos estão no “lugar invisível” e aguardarão lá até a ressurreição; d)
os que participam da primeira ressurreição se encontram com o Senhor nos
ares; no arrebatamento, e somente aí, estarão para sempre com o Senhor,
(I Ts 4:17).
“De fato, eu não me disponho a seguir humanos ou ensinamentos que dele provêm.
Se vós encontrastes alguns que se dizem cristãos e não confessam isso, mas se
34
O Evangelho da Igreja Primitiva
atrevem a blasfemar contra o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, e dizem que
não há ressurreição dos mortos, mas que no momento de morrer suas almas são
recebidas no céu, não os considereis como cristãos”. (Justino o mártir diálogo com
Trifão 80:3-4/ 150-160 d.C.).
Tremendamente enfático o que está escrito acima. E eu sei que para muitos
há um choque de fé, pois nesse tempo, tudo isso tem sido afirmado como
verdade e posto no coração de muitos crentes sinceros como esperança.
Contudo, quero desafiá-lo a amar sobre tudo a verdade e, se preciso for,
lançar fora toda doutrina de homens, para que somente a verdade tome
conta do seu coração.
Mas então, o que mais os primeiros cristãos criam que não é ensinado hoje?
Posso lhes dizer que onde quer que se localize geograficamente essa
dimensão do seio de Abraão, é para lá que os santos estão afluindo e
formando a construção do Edifício Espiritual. O Pastor de Hermas em
suas visões descreve a construção dessa torre, onde os cristãos constituem
as pedras vivas, perfeitamente ajustadas e o próprio Senhor Jesus é o
alicerce (a rocha) e a porta desse edifício. Diz também que ela está em
acabamento e só findará quando o último filho de Deus tiver entrado, o que
cremos está bem próximo de acontecer.
“Eu perguntei: Antes de tudo, explica-me o que representam a rocha e a porta? Ele
me respondeu: “a rocha e a porta são o Filho de Deus. Eu continuei: como é que a
rocha é antiga e a porta é recente? Ele explicou: Escuta, homem insensato, e
compreende. O Filho de Deus nasceu antes de toda a criação, embora ele tenha
sido conselheiro de seu Pai para a criação. É por isso que a rocha é antiga. Eu lhe
perguntei: E por que a porta é nova, senhor? Ele respondeu: Por que ele se
manifestou nos últimos dias da consumação. A porta foi feita recentemente, para
que os que devem salvar-se entrem por ela no Reino de Deus”.
“Eu perguntei:“ O que é a torre?” Ele disse “A torre é a Igreja” (O pastor de Hermas
89:1-3 e 90:1/entre 100 e 140 d.C.).
Efésios 2:21. “no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para
santuário dedicado ao Senhor,”
1 Pedro 2:5 “também vós mesmos, como pedras que vivem, sois
edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de
oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio
de Jesus Cristo”.

Mais Luz Sobre o Assunto


35
O Evangelho da Igreja Primitiva
“... com efeito, é para os justos que possuem o Espírito que foi preparado o paraíso,
aonde também foi levado o apóstolo Paulo e onde ouviu aquelas palavras que para
nós agora são indizíveis - e é aí que ficarão até a consumação final, estreando assim
a incorruptibilidade”. (Irineu de Lião - Contra heresias V/5:1/185 d.C.).
O texto acima de Irineu reforça a idéia de um lugar intermediário onde os
justos ficam até o dia da incorruptibilização na ressurreição. Porém, Irineu
afirma que esse lugar é o “paraíso”e faz alusão a experiência de
arrebatamento de Paulo a esse lugar.
“Que no céu haja criaturas espirituais o proclamam todas as escrituras e Paulo
atesta que são espirituais quando diz que foi arrebatado ao terceiro céu e, pouco
depois, revela ter sido levado ao paraíso e ter escutado palavras inefáveis que o
homem não pode pronunciar. E a que lhe poderia ter servido o ser levado ao paraíso
ou elevado ao terceiro céu, lugares estes que estão em poder...”
“Ora se Paulo contou o seu arrebatamento ao terceiro céu como algo de grande e
extraordinário, estes não poderão subir acima do sétimo céu, pois não são melhores
do que o Apóstolo”. (Irineu de Lião -Contra heresias II/30:7/185 d.C.).
Mais esclarecedora é essa argumentação de Irineu a qual revela que o
Paraíso é um lugar e o terceiro céu é outro, e que Paulo teria tido uma e
outra experiência de visitação. Note que Irineu fala de Paulo ter sido levado
ao Paraíso e quando se refere ao terceiro céu usa a expressão “elevado”.
Ainda, ao se referir a ambos diz: “lugares”, como sendo mais de um. Veja
no texto bíblico como corretamente se verifica o “e”conjuntivo, e a
repetência narrativa, dando idéia de dois arrebatamentos.
II Coríntios 12:2-4 “Conheço um homem em Cristo que, há catorze
anos, foi arrebatado até ao terceiro céu (se no corpo ou fora do
corpo, não sei, Deus o sabe) e sei que o tal homem (se no corpo ou
fora do corpo, não sei, Deus o sabe) foi arrebatado ao paraíso e
ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir”.
Também corrobora com a visão comum ao cristianismo primitivo e judaico
da existência de sete céus. Criam os rabinos judeus em pelo menos quatro
lugares chamados do Paraíso.
Se considerarmos o Seio de Abraão como um “paraíso”, desvendamos um
dos maiores mistérios da Bíblia e desfazemos qualquer confusão quanto às
palavras de Jesus ao ladrão que o confessou. Partindo do ponto já
esclarecido de que o Senhor não subiu aos céus, nem no primeiro dia, nem
nos quarenta dias que se seguiram, antes desceu ao Hades, harmonizamos
a revelação, concluindo que o Senhor se referia ao Seio de Abraão onde o
ladrão o veria ainda naquele dia na região dos mortos.

36
O Evangelho da Igreja Primitiva
Lucas 23:42-43 “E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim quando
vieres no teu reino. Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que
hoje estarás comigo no paraíso”.
Atos 2:31 “nesta previsão, disse da ressurreição de Cristo, que a
sua alma não foi deixada no Hades, nem a sua carne viu a
corrupção”. # (tradução João Ferreira de Almeida- Revista e
Corrigida).

Capítulo IV

A Fé da Igreja no Estabelecimento do
Reino na Terra
Eu posso afirmar que se você já chegou até esse capítulo, perseverando
contra a maré de credos pré-estabelecidos em seu coração e constatou o
enorme abismo que separa a Igreja primitiva da atual, você já pode
conceber a incrível tragédia que se abateu sobre a Igreja do Senhor Jesus
em todos esses séculos, tendo condições, também, de entender o porquê
das coisas como são hoje, a triste realidade da Igreja dividida.
Mesmo que a visão da inversão de valores da fé em todo o mundo possa ser
razão para desânimo, muito pelo contrário, devemos, na realidade, nos
alegrar pelo fato de Deus, na sua misericórdia, devolver os “olhos” à sua
Igreja, para que possamos ver e, coma visão restaurada, levarmos muitos
a enxergarem o propósito eterno de Deus.
O que é universalmente aceito no seio da Igreja hoje como expectativa de
Reino de Deus? A idéia é ir para o céu, e lá gozar eternamente na presença
do Pai, enquanto tudo que ficou para trás - o Mundo (tanto as pessoas não-
salvas como o Planeta) - é totalmente destruído pelo fogo. Uma porção da
Igreja ainda admite a possibilidade de reinar com Jesus Cristo no período
milenar e depois disso igualmente “subiriam para o céu” para a eternidade.
Seria essa a fé deixada por Jesus aos seus discípulos e à Igreja primitiva?
Espero realmente, que o Espírito de Cristo já esteja operando uma
mudança profunda no seu modo de crer, pelo simples fato de você poder

37
O Evangelho da Igreja Primitiva
constatar pela leitura as declarações verídicas dos cristãos que professaram
e morreram crendo nas verdades eternas.
Cabe aqui um comentário exegético, para que você não chegue
erroneamente à conclusão de que não cremos no Reino que o Pai tem nos
céus.
A expressão “Reino dos céus” no original grego: basileia twn ouranwn,
empregada exclusivamente por Mateus trinta e uma vezes no seu
evangelho, tem por sinônimo a expressão “Reino de Deus”- basileia tou yeou
mais comumente usado na bíblia.
A partícula tou é plural nos casos genitivo e ablativo, que indicam posse e
origem, por isso traduzido com a preposição “dos” (de origem dos céus).
Caso Mateus tivesse em mente falar de Reino nos céus, teria que
forçosamente usar a partícula toiv no caso locativo, indicando lugar.
Os judeus entendiam a expressão como sendo a majestade do Reino dos
céus, implantado na terra, que subordinaria todos os reinos humanos.
É fato indiscutível, proclamado nas Escrituras, que Deus Pai é Rei Supremo
do Universo, e que o Senhor Jesus hoje se assenta à sua destra nos céus.
As Escrituras também dão testemunho dos séqüitos de seres celestiais que
formam, por assim dizer, a corte desse Reino, juntamente com miríades de
Anjos distintos em várias categorias hierárquicas. Porém, quero salientar
que o Reino de Deus perfeitamente estabelecido nos céus, onde nada se faz
fora da vontade absoluta de Deus, um dia será estabelecido aqui na terra,
para que os homens experimentem o Reino que vem dos céus, quando o
Pai finalmente verá cumprida toda a sua vontade também no mundo dos
homens.
Apocalipse 11:15 “O sétimo anjo tocou a trombeta, e houve no céu
grandes vozes, dizendo: O reino do mundo se tornou de nosso
Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos”.
Observe novamente a oração modelo deixada por Jesus aos discípulos:
Mateus 6:9-10. “Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás
nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a
tua vontade, assim na terra como no céu”;
O Reino virá e se estabelecerá, fazendo com que a vontade de Deus seja
cumprida plenamente na terra como ela já é feita nos céus. O mais
importante, no entanto, que é ignorado pela maioria dos filhos de Deus, é
o dever dos crentes em ansiarem e clamarem pela vinda do Reino.
A implantação definitiva do governo celestial, regendo a humanidade, tem
de ser um sonho, não utópico, mas uma realidade desejada no coração de
cada filho de Deus.
Não quero conduzir suas conclusões, deixo que o eco das vozes desses
irmãos ressoe através dos séculos e fale hoje ao seu coração.

38
O Evangelho da Igreja Primitiva

O Reino é a Herança da Igreja


“Que ele vos conceda herança e parte entre seus santos, e convosco também a nós e
a todos aqueles que estão sob o céu e que acreditarão em nosso Senhor Jesus Cristo
e no próprio Pai, que o ressuscitou dos mortos”. (Policarpo aos Filipenses 12:2/
110 d.C.).

“Meus irmãos, não vos enganeis. Aqueles que corrompem uma família não herdarão
o Reino de Deus”. (Inácio aos Efésios 16:1/110-115 d.C.).
“Aprendei como nós a recebemos. Moisés a recebeu como servo, mas o próprio
Senhor, depois de sofrer por nós, no-la entregou como povo da herança. Ele
apareceu, para que aqueles levassem ao máximo a medida dos pecados e nós
recebêssemos a aliança mediante o Senhor Jesus, o herdeiro”. (Epístola de Barnabé
14:4-5/ 90-130 d.C.).
A Igreja que está em Cristo torna-se legítima herdeira com Cristo Jesus do
Reino eterno.
Lucas 22:29. “Assim como meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo
confio”,
Romanos 8:17 “Ora, se somos filhos, somos também herdeiros,
herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos,
também com ele seremos glorificados”
“Ora, ele tinha dito antes: Que eles cresçam, se multipliquem e dominem os peixes.
E quem pode hoje dominar feras, ou peixes, ou os pássaros do céu? Devemos
compreender que dominar implica poder, a fim de que aquele que ordena possa
dominar. Se hoje não é assim, ele nos disse o tempo: Quando formos perfeitos para
sermos herdeiros da aliança do Senhor”. (Epístola de Barnabé 14:4-5/ 90-130
d.C.).
Este texto é um dos mais interessantes porque faz alusão à perda de poder
do homem na pessoa de Adão, que tinha recebido de Deus autoridade
delegada sobre toda criação. A argumentação segue explicando a razão pela
qual os filhos de Deus não têm, ainda, esse mesmo poder de subjugar a
criação, condicionando isso ao estágio de perfeição que a Igreja ainda
gozará, então, poderá dominar sobre tudo. A herança do Reino também
implica em reassumir tudo que foi perdido em Adão.
“A saída do Egito de todo o povo e tudo o que aconteceu pela ação de Deus foi
figura e o tipo do êxodo da Igreja, que se daria do paganismo; desta Igreja que, no
39
O Evangelho da Igreja Primitiva
fim, sairá daqui para entrar na herança que lhe dará, não Moisés, servo de Deus,
mas Jesus, o Filho de Deus”. (Irineu de Lião - Contra heresias IV/30:4/185 d.C.).
Mateus 25:34 “ então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita:
Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está
preparado desde a fundação do mundo”

É a Mesma Herança Prometida a Abraão


Outro assunto que é ponto pacífico, comum a todos os relatos da fé cristã
primitiva, é a convicção de que a Igreja em Cristo é legitimamente herdeira
das promessas feitas ao patriarca Abraão. Diferentemente do credo
universal de tomar posse de alguma herança no céu, o que a Igreja Moderna
não pode necessariamente provar biblicamente, a Igreja Primitiva almejava
a ressurreição dos justos para tomar posse da herança juntamente com
Jesus Cristo e o pai Abraão na terra prometida.
O profundo desinteresse pelas promessas do Antigo Testamento em
preferência ao Novo Testamento, quebrando-lhes a unidade, é o maior
causador de erros de interpretação e conseqüente confusão. Ainda que
Paulo tenha se esforçado em mostrar que o fracasso do povo de Israel,
quebrando a aliança, não invalidou a promessa feita a Abraão, por ter sido
dada 430 anos antes, e ter enfatizado que somos co-herdeiros com o pai
Abraão das terras que ele peregrinou, tudo isso parece estar vedado ao
entendimento dos cristãos modernos.
Romanos 4:13 “Não foi por intermédio da lei que a Abraão ou a sua
descendência coube a promessa de ser herdeiro do mundo, e sim
mediante a justiça da fé”.
Gálatas 3:17 “E digo isto: uma aliança já anteriormente
confirmada por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos
depois, não a pode ab-rogar, de forma que venha a desfazer a
promessa”.
Gálatas 3:29 “E, se sois de Cristo, também sois descendentes de
Abraão e herdeiros segundo a promessa”.
Hebreus 6:17 “Por isso, Deus, quando quis mostrar mais firmemente
aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu propósito, se
interpôs com juramento”.

“E com Abraão herdaremos a terra santa, tomaremos posse de uma herança eterna
sem fim, porque somos filhos de Abraão, pois temos a sua mesma fé”. (Justino o
mártir diálogo com Trifão 119: 5/ 150-160 d.C.).
40
O Evangelho da Igreja Primitiva
“Está claro, portanto, que os que contestam a salvação de Abraão e fabricam para
si um Deus diverso daquele que fez as promessas a Abraão, são excluídos do Reino
de Deus e deserdados da incorruptibilidade como adversários e blasfemadores de
Deus, o qual introduz no Reino dos céus Abraão e sua descendência, isto é a Igreja
que por meio de Jesus Cristo recebe a adoção e a herança prometidas a Abraão”.
(Irineu de Lião –Contra heresias IV/8:1/185 d.C.).
Os apóstatas são advertidos por Irineu por tentarem desassociar as
promessas dadas a Abraão, e à Igreja de Cristo. Irineu categoricamente
afirma que os tais são excluídos do Reino e alijados de todas as promessas .
“Por isso, os que são da fé serão abençoados com Abraão que creu. Por isso o chama
não somente profeta da fé, mas o pai dos que entre os gentios crêem em Cristo Jesus,
porque é uma e única, a sua e a nossa fé: ele creu em coisas futuras como se já
tivessem acontecido, por causa da promessa de Deus, assim também nós, pela fé,
contemplamos como que num espelho a herança que receberemos no reino, por causa
da promessa de Deus”.
“Se, portanto, os que, vindos do oriente e do ocidente, acreditaram nele pela
pregação dos apóstolos devem encontrar lugar com Abraão, Isaque e Jacó no Reino
dos céus, e participar com eles da mesma festa, está demonstrado que um só e
idêntico Deus escolheu os patriarcas, visitou o povo e chamou os pagãos”. (Irineu
de Lião – Contra heresias IV/21:1 e 36:8/185 d.C.). “O Senhor virá do alto do céu,
sobre as nuvens, na glória do Pai, e o lançará no lago de fogo com todos os seus
seguidores; para os justos trará os tempos do Reino, isto é, o repouso do sétimo dia
santificado, e dará a Abraão a herança prometida, aquele Reino, diz o Senhor, ao
qual muitos virão do oriente e do ocidente para se assentar à mesa com Abraão,
Isaque e Jacó”. (Irineu de Lião – Contra heresias V/30:4/185 d.C.).
Vemos como estava claro para Irineu que Abraão só tomaria posse da
promessa depois da volta de Cristo, e o autor usa uma expressão
interessante para esse período: “Os tempos do Reino”.
“A propriedade da terra que Deus lhe tinha prometido e que não recebeu durante
toda a sua estada aqui na terra, é necessário que a receba com a sua posteridade,
isto é, os que temem a Deus e crêem nele, na ressurreição dos justos. A sua
posteridade é a Igreja que, por meio do Senhor, recebe a filiação adotiva de
Abraão...”
“Ora, Deus prometeu a herança da terra a Abraão e sua posteridade, mas, se nem
Abraão nem sua posteridade, que são os justificados pela fé, recebem agora a
herança da terra, eles a receberão na ressurreição dos justos, porque Deus é verídico
41
O Evangelho da Igreja Primitiva
e estável em todas as coisas. É por isso que o Senhor dizia: Bem-aventurados os
mansos porque herdarão a terra”. (Irineu de Lião – Contra heresias V/32:2/185
d.C.).
Outra colocação objetiva mostrando que Abraão tem o direito assegurado
de tomar posse da terra das suas peregrinações, o que não fez em vida, mas
o fará na sua ressurreição e juntamente com ele todos os que têm a fé de
Abraão.
Hebreus 11:9 “Pela fé, peregrinou na terra da promessa como em
terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com
ele da mesma promessa”;

A Terra Restaurada como Herança


Chegamos ao ponto central do propósito eterno de Deus e, também, a mais
uma questão de fé, divergente da fé Cristã moderna. Para a maioria
esmagadora da Igreja do Senhor hoje, a simples hipótese de argumentação
de que o Reino de Deus será para sempre na terra, soa como heresia,
principalmente por causa dos “Russelitas”, ou “Testemunhas de Jeová”,
que só surgiram no final do século XIX, o que faz com que, de pronto, tal
idéia seja rechaçada e execrada. Porém, mediante os fatos aqui
apresentados, teríamos de afirmar, no mínimo, que tal grupo já existia
desde os primórdios do Cristianismo. Como isso não é verdade, e a única
coisa que esse grupo religioso tem em comum com os Pais da Igreja é a
noção parcial do Reino na Terra, e fora isso é totalmente díspar e
contraditório em relação às demais interpretações bíblicas, quero concluir
que o preconceito ao assunto deve de todo ser abolido do coração dos filhos
de Deus, sob pena de, por ignorância, rejeitarem toda a restauração da fé
autêntica que o Pai esta promovendo em nosso tempo. Levando em conta,
ainda, que o fato dessa seita herética defender esta verdade bíblica, ainda
que deturpada, é, sem dúvida alguma, estratégia do Maligno para sepultar
definitivamente a fé que, certamente, crida, derrubará o seu trono na terra.
O próprio Deus formou na mente do povo de Israel forte convicção de que
um dia o Reino de Jeová se estabeleceria sobre a terra. Alguns argumentam
que essa visão é equivocada por ser literal e que, por isso mesmo, eles não
reconheceram a Jesus como o Messias, haja vista que o Senhor
primeiramente instaurou o Reino de forma espiritual no coração dos
homens. Como os judeus esperavam um Reino temporal e isso ainda não
veio, os comentadores cristãos desqualificam toda essa esperança,
transferindo para o âmbito espiritual (alegórico) as inúmeras promessas
proclamadas pelos profetas do Antigo Testamento, dos quais Isaías é o que
dá maior ênfase. No entanto, basta notarmos a pergunta dos discípulos a
Jesus antes de sua ascensão aos céus, e observaremos que de maneira
42
O Evangelho da Igreja Primitiva
nenhuma o Senhor censurou a fé na vinda literal do Reino, antes, somente
deixou transparecer que tal evento teria cumprimento num tempo
determinado pelo Pai, após o Reino ser implantado “dentro de seus filhos”,
pelo espírito que lhes foi dado para formar Cristo neles.
Atos 1:6-7 “Então, os que estavam reunidos lhe perguntaram:
Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?
Respondeu-lhes: Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o
Pai reservou pela sua exclusiva autoridade;”
Isso faz sentido, pois se Deus tivesse planejado tão somente resgatar um
número específico de homens da face da terra e destruir tudo o mais, não
teria anunciado continuamente pelos profetas a restauração do mundo na
vinda do Reino, começando pelo período milenial, o que também o próprio
Senhor Jesus dá testemunho. Por outro lado, seria tremenda vitória de
Satanás, não só levar consigo para o fogo eterno bilhões de vidas, como
também destruir todo o planeta, ao qual o Senhor formou esmeradamente
e viu que era muito bom.
Atos 3:21 “ao qual é necessário que o céu receba até aos tempos da
restauração de todas as coisas, de que Deus falou por boca dos seus
santos profetas desde a antiguidade”.

“Seja manso, porque os mansos receberão a terra como herança”. (A Didaquê 3:7/
90-100 d.C.).
Esta pequena frase exortativa, tirada do sermão do Senhor em Mateus 5:5,
contém uma promessa clara e contundente que relaciona a herança dos
cristãos à posse da terra.
“Do mesmo modo, Jesus, o Cristo, fará voltar a dispersão do povo e distribuirá a
cada um a terra boa, embora não como aquela. De fato, aquele lhes deu uma
herança momentânea, pois não era Cristo, Deus, nem filho de Deus. Jesus, porém,
depois da santa ressurreição, nos dará uma possessão eterna”.
“É nele por primeiro e em seguida por ele que o Pai renovará o céu e a terra. É ele
que brilhará em Jerusalém como luz eterna. Ele é o rei de Salém e sacerdote eterno
do Altíssimo, segundo a ordem de Melquisedeque”. (Justino o mártir diálogo com
Trifão 113:3-4 e 5/ 150-160 d.C.).
Acima, duas porções importantíssimas do diálogo entre Justino e o judeu
Trifão. Fazendo um paralelo entre Josué e Jesus, mostra a primeira posse
da terra santa como um tipo da possessão eterna que os santos obterão
após a ressurreição. Segue afirmando a restauração do céu e da terra,
assim como assinala a permanência da santa cidade Jerusalém. O detalhe
é que Justino dava testemunho a um judeu da futura restauração de
43
O Evangelho da Igreja Primitiva
Jerusalém, pois ambos tinham ciência que a Jerusalém de seus dias já se
encontrava em ruínas desde a sua derrubada por Tito e Vespasiano, em 70
d.C.
“Cristo veio, conforme a virtude que lhe foi dada pelo Pai onipotente, para chamar
à amizade, penitência e convivência todos os santos na mesma terra, cuja posse
lhes promete, conforme foi antes demonstrado. Portanto, os homens de todas as
origens , seja livres, seja escravos, se crerem em Cristo e reconhecerem a verdade de
suas palavras e as dos profetas, têm a segurança de que viverão junto com ele
naquela terra e herdarão os bens eternos e incorruptíveis. (Justino o mártir diálogo
com Trifão 139:4 e 5/ 150-160 d.C.).
“Ele renovará a herança da terra e restaurará o ministério da glória dos filhos de
Deus, como diz Davi: Ele renovará a face da terra. Prometendo beber do fruto da
videira com os seus discípulos, mostrou juntamente a herança da terra na qual se
bebe o novo fruto da videira e a ressurreição carnal dos seus discípulos. A carne
que ressuscita renovada é a mesma que recebe a bebida nova, pois não se poderia
entender que ele beba do fruto da videira num lugar supra celeste, nem que os que
bebem não tenham um corpo de carne. Pertence à carne e não ao espírito a bebida
que se extrai da videira”. (Irineu de Lião – Contra heresias V/33:3/185 d.C.).
A argumentação não poderia ser mais específica sobre a herança, na terra
restaurada, que receberão os filhos de Deus já com corpo glorificado, como
o de Jesus. Para provar, ele cita as palavras proféticas do Senhor, e, com
um toque de ironia, mostra que o fruto da videira só pode ser extraído na
terra e não no céu, além de ser bebido literalmente, experiência física (ainda
que em nova realidade) e não sobrenatural (etérea) e estratosférica.
“Eles podem dizer com malícia: Se o céu é o trono de Deus e a terra o seu
escabelo,também se diz que o céu e a terra passarão, então passará também com
eles aquele Deus que está sentado neles e por isso não será mais o Deus que está
acima de todas as coisas. Primeiro, não sabem em que sentido o céu é o trono e a
terra escabelo, mas um homem, senta-se sobre estas coisas e seja contido por elas e
não que ele as contém. Desconhecem também o que significa o passar do céu e da
terra, mas Paulo, que não o ignorava, dizia: “Passa a figura deste
mundo”.Ademais, a questão já foi resolvida por Davi: quando esta figura passará,
não é somente Deus, ele diz, que há de ficar, mas também os seus servos. No Salmo
102, assim se exprime: “No princípio firmaste a terra, Senhor, e o céu é obra de
tuas mãos; eles perecerão, mas tu permanecerás; como um vestido hão de ficar
gastos e como uma veste os mudarás, e ficarão mudados; tu, porém, és sempre igual
44
O Evangelho da Igreja Primitiva
e os teus anos não terão fim: os filhos dos teus servos terão morada e a posteridade
deles será estável para sempre”, mostrando claramente quais são as coisas que
passam e quem permanece para sempre, Deus e os seus servos. (Irineu de Lião –
Contra heresias IV/3:1/185 d.C.).

Jerusalém Restaurada,
Sede do Governo de Deus

Como já foi falado antes, Justino e Irineu, ambos do segundo século da era
cristã, tinham plena noção da destruição de Jerusalém pelos romanos,
ocorrida no século anterior. Porém, a fé no Reino estabelecido na terra num
futuro, para eles próximo, culminava na completa restauração da cidade
do grande Rei.
“Eu respondi:- Não é isso o que estou dizendo, mas que aqueles que perseguiram e
continuam perseguindo Cristo, e não fazem penitência, não terão parte alguma na
herança do monte santo. Por outro lado, as nações que creram nele e fizeram
penitência de seus pecados entrarão na parte da herança, junto com os patriarcas,
profetas e com os justos que procedem de Jacó, ainda que não observem o sábado,
nem se circuncidem, nem guardem as festas. Esses herdarão certamente a herança
santa de Deus, pois ele diz o seguinte mediante Isaías: Eu, o Senhor Deus, te
chamei na justiça, tomar-te-ei pela mão e te fortalecerei. Eu te coloquei como
aliança de gerações e como luz para as nações, para abrir os olhos dos cegos, tirar
da prisão os encarcerados e da casa da guarda os que estão sentados na treva.
(Isaías 63) E de novo: Levantai a bandeira para as nações, pois eis o que o Senhor
fez ouvir até os confins da terra:dizei às filhas de Sião: eis que o teu salvador
chegou, trazendo consigo a sua recompensa e a sua obra diante da sua face, e te
chamará povo santo, resgatado pelo Senhor. Tu serás chamada cidade procurada e
não cidade abandonada “(Isaías 42). (Justino o mártir diálogo com Trifão 26:1-2/
150-160 d.C.).
“Diante disso, Trifão me responde: - Amigo, já te disse que tu te esforças em tudo
para agarrares às Escrituras. Dize-me, porém: vós realmente confessais que a
cidade de Jerusalém será reconstruída e esperais que aí vosso povo irá reunir-se e
alegrar-se com Cristo, com os patriarcas, os profetas e os santos de nossa
descendência, e até com os prosélitos que viveram antes da vinda de vosso Cristo?”

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O Evangelho da Igreja Primitiva
“De minha parte, eu e alguns outros cristãos de mentalidade correta não só
admitimos a futura ressurreição da carne, mas também mil anos em Jerusalém
reconstruída, embelezada e aumentada, como o prometem Ezequiel, Isaías e os
outros profetas”.
“Além disso, houve entre nós um homem chamado João, um dos apóstolos de Cristo,
que numa revelação que lhe foi feita, profetizou que aos que tiverem acreditado em
nosso Cristo passarão mil anos em Jerusalém e que depois disso, viria a ressurreição
universal e, dizendo brevemente, a ressurreição eterna e o julgamento de todos os
justos”. (Justino o mártir diálogo com Trifão 80:1 e 5; 81:4 / 150-160 d.C.).
Justino dá testemunho ao judeu Trifão sobre a fé na futura reconstrução
da cidade de Jerusalém, que, além de restaurada, ainda será ampliada e
embelezada, fruto da sua tomada de posse pelo Rei Jesus e pelos santos
príncipes que ali se estabelecerão. Ele também se refere ao período milenial
na Jerusalém restaurada e ampliada, e vê isso como um período literal,
pois somente depois desse tempo viria a ressurreição dos mortos de todos
os tempos.
É importante notar que Justino se estriba totalmente nas profecias do
Velho Testamento, como prova da sua fé, pois crê piamente que tais
promessas se cumprirão cabalmente.
Apocalipse 20:3-6. “lançou-o no abismo, fechou-o e pôs selo sobre
ele, para que não mais enganasse as nações até se completarem os
mil anos. Depois disto, é necessário que ele seja solto pouco tempo.
Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada
autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa
do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus,
tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua
imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e
reinaram com Cristo durante mil anos. Os restantes dos mortos não
reviveram até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira
ressurreição. Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na
primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem
autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e
reinarão com ele os mil anos”.

“Jesus nos mandou amar inclusive os inimigos; a mesma coisa foi anunciada por
Isaías em extensa passagem (Is 66), na qual ele também alude ao mistério da nossa
regeneração e, em geral, de todos aqueles que esperam que Cristo aparecerá em
Jerusalém e se esforçam em agradar-lhe com suas obras”. (Justino o mártir diálogo
com Trifão 85:7/ 150-160 d.C.).

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O Evangelho da Igreja Primitiva
“Isaías diz ainda a respeito de Jerusalém e de seu rei: Bem-aventurado quem tem
posteridade em Sião e parentes em Jerusalém. Eis que um Rei justo reinará e os
príncipes reinarão com justiça. E acerca dos preparativos para a sua reconstrução,
diz: Eis que te preparo carbúnculo como pedras e safira para as fundações, jaspe
para as torres, cristal para as portas e pedras preciosas para as muralhas. Todos os
teus filhos serão instruídos pelo Senhor e viverão em grande paz; e serás edificada
na justiça”. (Irineu de Lião – Contra heresias V/34:4/185 d.C.).
Clara alusão ao Reino Sacerdotal estabelecido: Jesus, como Rei, repartindo
a realeza com os santos príncipes em Jerusalém, a sede do governo mundial
do Cristo sobre a Terra.

Milênio Sabático – As Bênçãos do Descanso da Terra


Apesar da palavra de Deus somente no Apocalipse de João se referir a esse
período como sendo mil anos, a noção de um período sabático ou de
descanso para a criação é abundantemente profetizada no Antigo
Testamento. As correntes modernas de interpretação, divididas
basicamente em Amilenistas e Milenistas, têm pouca influência na prática
da fé cristã cotidiana. Poucos pregam, ou mesmo ensinam aos cristãos
através da Bíblia, a ansiarem por esse período. No caso dos Amilenistas,
estes transformam todas as profecias em visão alegórica, simbólica e
tipológica, se posicionando totalmente no extremo oposto da fé cristã
primitiva, e acabam por mutilar totalmente o propósito eterno de Deus,
desviando os cristãos de toda a beleza da esperança real, num tempo
maravilhoso que o mundo ainda viverá. Para isso satanás é preso e os
demônios destruídos, pois sem sua influência maligna, a humanidade
poderá gozar de um descanso em justiça e paz.
“Um é Senhor de eternidade em eternidade, o outro é príncipe do presente tempo
da iniqüidade”. (Epístola de Barnabé 18:2/ 90-130 d.C.).
Essa sentença define bem os tempos que dominam sobre a humanidade.
Hoje, Satanás é o príncipe desse mundo caído e corrompido, mas que
passará, enquanto que o Reino do Senhor é eterno. O Reino de Cristo vem
e o do maligno passará.
“Isso significa que o Senhor consumará o universo em seis mil anos, pois um dia
para ele significa mil anos. Ele próprio atesta, dizendo: Eis que um dia do Senhor
será como mil anos. Portanto, filhos, em seis dias, que são seis mil anos, o universo
será consumado. E ele descansou no sétimo dia. Isso quer dizer que seu Filho,
quando vier para pôr fim ao tempo do Iníquo, para julgar os ímpios e mudar o sol,

47
O Evangelho da Igreja Primitiva
a lua e as estrelas, então ele, de fato, repousará no sétimo dia”. (Epístola de
Barnabé 15:3-5/ 90-130 d.C.).
Essa visão, de se relacionar os dias da criação com número de anos que o
mundo viverá, era compartilhada por alguns dos Pais da Igreja. A contagem
para se chegar aos seis mil anos era a seguinte: de Adão à Abraão-2000
anos; de Abraão à Jesus Cristo-2000 anos; de Jesus até a consumação
presumiam mais 2000 anos,( o que culminaria, basicamente nos dias em
que estamos vivendo), daí com o estabelecimento do Reino de Cristo, outros
1000 anos, que seria correspondente ao sábado(descanso) e por fim o oitavo
dia, ou primeiro, inaugurando a eternidade.
“Quantos foram os dias empregados a criar este mundo, tantos serão os milênios
da sua duração total. Eis por que o livro de Gênesis diz: Assim foram concluídos
os céus e a terra e toda a sua ornamentação. Deus concluiu no sexto dia toda a
obra que fizera e no sétimo dia descansou de todas as obras que fizera. Esta
descrição do passado, tal como aconteceu, e ao mesmo tempo um a profecia para o
futuro: com efeito, se um dia do Senhor é como mil anos, se a criação foi acabada
em seis dias, está claro que a consumação das coisas acontecerá no sexto milênio”.
(Irineu de Lião – Contra heresias V/34:4/185 d.C.).
“Onde estão o cêntuplo nesta vida, os almoços oferecidos aos pobres, e os jantares
restituídos? Isso acontecerá nos tempos do reino, isto é, no sétimo dia que foi
santificado quando Deus descansou de toda obra que tinha feito; o verdadeiro
sábado dos justos, no qual não executarão nenhuma obra terrena, mas estarão
diante de mesa preparada por Deus que os alimentará com todas as iguarias”.
(Irineu de Lião – Contra heresias V/33:2/185 d.C.).
Lucas 12:37 “Bem-aventurados aqueles servos a quem o senhor,
quando vier, os encontre vigilantes; em verdade vos afirmo que ele
há de cingir-se, dar-lhes lugar à mesa e, aproximando-se, os
servirá”.

“Quando também a criação, renovada e liberta, frutificar profusamente todo tipo


de comida, graças ao orvalho do céu e à fertilidade da terra, do modo como
recordam os anciãos que viram João, discípulo do Senhor, ouvindo-o da maneira
como o Senhor ensinava a respeito desses tempos: Haverá dias em que nascerão
vinhas, que terão cada uma dez mil videiras; cada videira terá dez mil ramos, e
cada ramo terá mil ramos; cada ramo terá dez mil cachos, e cada cacho terá dez mil
grãos, e cada bago espremido dará vinte e cinco metretas de vinho. Quando um dos
santos pegar um cacho, o outro gritará: Pega-me, porque eu sou melhor, e por meio
48
O Evangelho da Igreja Primitiva
de mim bendize ao Senhor. Do mesmo modo, um grão de trigo dará dez mil espigas,
e cada espiga terá dez mil grãos; cada grão dará frutos, sementes e ervas produzirão
nessa mesma proporção. Todos os animais que se nutrem desses alimentos, que
recebem da terra, se tornarão pacíficos e viverão harmoniosamente entre si. Eles se
submeterão aos homens sem qualquer relutância”.
“Isso também atestou por escrito no seu quarto livro, Pápias, homem antigo,
discípulo de João e companheiro de Policarpo. De fato, ele escreveu cinco livros. E
acrescentou: Essas coisas merecem fé para os que acreditam. E como diz Judas, o
traidor, que não acreditava e perguntou: Então como serão realizadas pelo Senhor
tais produções? O Senhor o respondeu: Os que chegarem a esses tempos o verão”.
(Fragmentos de Pápias 1-5 /cerca de 150 d.C.).
Linda visão profética do Reino milenar, quando a natureza restaurada dará
uma abundância de gêneros nunca antes vista. Ainda Pápias destaca a
restauração da harmonia entre os animais e o homem, como no jardim do
Éden, também profetizado em Isaías:
Isaías 11:6-9 “O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se
deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado
andarão juntos, e um pequenino os guiará. A vaca e a ursa pastarão
juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como
o boi. A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e o já
desmamado meterá a mão na cova do basilisco. Não se fará mal
nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se
encherá do conhecimento do SENHOR, como as águas cobrem o
mar”.

“Ora, a benção de que se falava, sem dúvida se refere aos tempos do reino, em que
reinarão os justos, depois de ter ressuscitado dos mortos, quando a criação,
libertada e renovada, produzirá abundantemente toda espécie de alimentos, pelo
orvalho do céu e a fertilidade da terra”. (Irineu de Lião – Contra heresias
V/33:3/185 d.C.).
A visão dos animais restaurados à sua primeira natureza era algo
perfeitamente crível para os cristãos primitivos. Teófilo colabora com essa
fé dissertando sobre o motivo dos animais se encontrarem, hoje, em estado
selvagem, atribuindo isso ao pecado do homem.
“Quanto às feras, elas se chamam assim por causa da sua ferocidade, não porque
desde o princípio fossem más ou venenosas, pois nada do que é mau foi criado por
Deus desde o princípio; ao contrário, tudo era bom e até muito bom, mas o pecado
49
O Evangelho da Igreja Primitiva
do homem as tornou más. Quando o homem que é o senhor, pecou, também todos
os animais, seus escravos, pecaram com ele. Portanto, quando o homem voltar a
viver conforme a natureza e não agir mal, também os animais serão estabelecidos
em sua mansidão original. (Teófilo de Antioquia – livro II /17/cerca de 180 .C.).
“Isaías, profetizando sobre estes tempos dizia: “O lobo pastará com o cordeiro,
o leopardo se deitará com o cabrito. O bezerro, o leão e o novilho pastarão
juntos e um menino pequeno os guiará. A vaca e o urso pastarão juntos e
juntas se deitarão suas crias. O leão se alimentará de forragem como o boi.
A criança de peito porá a mão na cova das serpentes, na cova dos seus
filhotes, e não lhe farão mal e não poderão mais fazer morrer ninguém sobra
a minha montanha santa” (Is 11:6-9). E diz o mesmo, noutro lugar: “Os lobos
e os cordeiros pastarão juntos e o leão comerá feno como o boi, para a
serpente, a terra será pão; não se fará mal nem violência no meu monte santo,
diz o Senhor”( Is 65:25). Eu sei que alguns se esforçam por aplicar estes textos
de maneira metafórica àqueles homens selvagens, que, provindo de povos diversos
e dedicados a ocupações de toda espécie, abraçaram a fé e vivem de acordo com os
justos. Mas se isto vale para homens que chegaram a uma mesma fé, provenientes
de vários povos, realizar-se-á também para estes animais, na ressurreição dos
justos, como foi dito: Deus é rico em todas as coisas e é preciso que quando o mundo
for restabelecido no seu estado primeiro, todos os animais selvagens obedeçam o
homem, lhe sejam submissos e voltem ao primeiro alimento que Deus lhes deu, assim
como estavam submetidos a Adão antes da sua desobediência e comiam dos frutos
da terra. Por outro lado, não é este o momento para provar que o leão se alimentará
de feno, porque isso somente significa a riqueza e a fartura dos frutos: porque, se
um animal como o leão se alimentará da palha, o que não alimentará o trigo cuja
simples palha é suficiente para alimentar os leões?” (Irineu de Lião – Contra
heresias V/33:4/185 d.C.).
Desde os tempos de Irineu, e talvez antes disso, nos círculos rabínicos, já
havia a tentativa de distorcer o sentido real das profecias, conformando
Deus à compreensão humana, limitando o seu poder. Por que os incrédulos
não conseguem conceber que Deus possa restaurar todas as coisas ao
estado original e aperfeiçoá-las muito mais ainda em seu Reino? Ora, se o
diabo tem poder para destruir a ponto de se tornar impossível para Deus
restaurar; então, o inimigo é mais forte e vencerá. Porém, não é verdade,
absolutamente, graças a Deus!

50
O Evangelho da Igreja Primitiva
Que o Senhor nos conduza, então, a crer nas grandezas imensuráveis do
seu poder, para que ansiemos por ver e vivenciar esse estado de glória.
Amém.

Capítulo V

Irineu, o Último dos Pais da Igreja a Defender a Vinda do Reino

Neste último capítulo, damos destaque aos escritos de Irineu de Lião pelos
motivos que iremos discorrer a seguir. O primeiro deles é que Irineu se
esforça por preservar a “regra de fé”, como ele mesmo denominou, ou seja,
toda a verdade revelada , o depósito legado pelos apóstolos do Senhor à
Igreja. Como já foi dito no início desse livro, nesse período, o gnosticismo
cresceu muito no mundo civilizado da época, e muitos cristãos ao invés de
se agarrarem à simplicidade do evangelho, enveredaram pela filosofia
estóica, Platônica, etc; tentando convencer os supostos sábios, usando sua
linguagem. Este erro crasso fez com que muitos termos e teorias fossem
criados para explicar a fé, sacramentando a Apostasia.
Colossenses 2:8 “Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua
filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme
os rudimentos do mundo e não segundo Cristo”;
Por causa dos muitos caminhos que a Igreja passou a trilhar, é que hoje
existem tantas teorias sobre o Apocalipse de João, quantos são os anos da
Igreja na terra. Mas nem sempre foi assim, havia uma só fé, supervisionada
pelos apóstolos, em todas as Igrejas espalhadas no mundo antigo. Este
assunto será melhor explanado no Apêndice deste livro. No entanto, o
próprio apóstolo João, em seu livro das revelações do Senhor (Apocalipse),
exortava a todo cristão que lesse e guardasse as profecias nele contidas:
Apocalipse 1:3 “Bem-aventurados aqueles que lêem e aqueles que
ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas,
pois o tempo está próximo”.
Não havia várias linhas de interpretações. Antes, um único parâmetro
servia como linha mestra para interpretar as visões. Hoje, o Apocalipse é
visto como um livro por demais enigmático, com signos e símbolos não
decifráveis, ou como um livro inspirativo, como os salmos, mostrando uma
utopia, apenas para trazer conforto. Muitos ainda têm pavor de lê-lo, ou
desistem rapidamente de estudá-lo. Tudo isso tornou o estudo das últimas
coisas, (Escatologia), uma matéria avançada, só para os chamados
“doutores em divindade”, desestimulando o interesse do cristão comum.
Assim, quero mostrar-lhes a realidade da Igreja no passado, quando as
primícias das revelações estavam fluindo. Todos os cristãos, incluindo os
51
O Evangelho da Igreja Primitiva
neófitos (novos–nascidos), eram estimulados a crerem em assuntos da
doutrina de Cristo, hoje tidos como difíceis e que para eles era basilar.
Hebreus 6:1-2 “Por isso, pondo de parte os princípios elementares
da doutrina de Cristo, deixemo-nos levar para o que é perfeito, não
lançando, de novo, a base do arrependimento de obras mortas e da
fé em Deus, o ensino de batismos e da imposição de mãos, da
ressurreição dos mortos e do juízo eterno.”
É fato que se alguém se arvorar a estabelecer uma seqüência cronológica
das visões e predições do Apocalipse, sem critério, acabará se perdendo,
pois há algumas idas e vindas no meio do livro. Porém, passada essa porção
maior, com detalhes, não necessariamente seqüenciados, a partir do
capítulo vinte até o final do livro, a cronologia é contínua e retilínea.
Irineu de Lião deixou registrado em seus livros uma clara seqüência dos
fatos relacionados às últimas coisas, evidenciando uma cronologia de
eventos progressivos até o estabelecimento da eternidade. Há, portanto, um
paralelo entre o Apocalipse de João e a cronologia de Irineu, que
harmoniza e testifica a revelação.
“Visto que alguns se deixam induzir ao erro por causa de discurso herético e
ignoram as disposições de Deus e o mistério da ressurreição dos justos e do reino
que será o prelúdio da incorruptibilidade - reino pelo qual os que serão julgados
dignos se acostumarão paulatinamente a possuir Deus-, é necessário dizer sobre
isso que os justos, ressuscitando à aparição de Deus, nesta criação renovada,
primeiramente receberão a herança que Deus prometeu aos pais e reinarão nela, e
somente depois se realizará o juízo de todos os homens”. (Irineu de Lião –Contra
heresias V/32:1/185 d.C.).
Nessa porção já temos algumas afirmativas: primeiro ocorre a ressurreição
dos justos na vinda de Cristo (1a. ressurreição). Em segundo, os santos
reinam no milênio na terra santa. A terceira nos informa que somente
depois desse período há a segunda ressurreição ou ressurreição geral.
Concorda com essa ordem a Didaquê.
“Então aparecerão os sinais da verdade. Primeiro, o sinal da abertura no céu;
depois, o sinal do toque da trombeta e, em terceiro lugar, a ressurreição dos mortos.
Ressurreição sim, mas não de todos, conforme foi dito: O Senhor virá, e todos os
santos estarão com ele”. (A Didaquê 16:6-7/ 90-100 d.C.).
“Além disso, houve entre nós um homem chamado João, um dos apóstolos de Cristo,
que, numa revelação que lhe foi feita, profetizou que os que tiverem acreditado em
nosso Cristo passarão mil anos em Jerusalém e que depois disso, viria a ressurreição

52
O Evangelho da Igreja Primitiva
universal e, dizendo brevemente, a ressurreição eterna e o julgamento de todos
juntos. (Justino o mártir diálogo com Trifão 81:4 / 150-160 d.C.).
Apocalipse 20:5 e 6 “Os restantes dos mortos não reviveram até que
se completassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição. Bem-
aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira
ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo
contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele
os mil anos”.

Na Vinda do Senhor Jesus, a Igreja é Encontrada Santa

“Lembra-te, Senhor, da tua Igreja, livrando-a de todo o mal e aperfeiçoando-a no


teu amor. Reúne dos quatro ventos esta Igreja santificada para o teu reino que lhe
preparaste, porque teu é o poder e a glória para sempre”. (A Didaquê 10:5/ 90-100
d.C.).
Refere-se ao estágio de santidade que a Igreja chegará e o arrebatamento
onde se dará a reunião.
Apocalipse 19:7 e 8 “Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe a glória,
porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma
já se ataviou, pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo,
resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os atos de
justiça dos santos.”
Neste texto de Apocalipse, a ênfase do versículo é que a esposa do Cordeiro
(Igreja) a si mesma já se ataviou. Isso significa dizer que ela chagará ao
máximo da perfeição (sem mancha, sem ruga ou mácula) antes do encontro
com o esposo, o Senhor Jesus Cristo.
“Os, porém, que temem a Deus e crêem na vinda de seu Filho e, mediante a fé, põem
o espírito de Deus no seu coração, serão justamente chamados homens puros,
espirituais, viventes para Deus, porque possuem o espírito do Pai que purifica o
homem e o eleva à vida de Deus. O Senhor afirma que a carne é fraca e o espírito
está pronto, isto é, é capaz de cumprir o que deseja. Portanto, se alguém misturar,
como aguilhão, a prontidão do espírito à fraqueza da carne será absorvida pela
força do espírito e quem era carnal será doravante espiritual, graças à comunhão
do espírito”. (Irineu de Lião –Contra heresias V/9:2/185 d.C.).
Efésios 5:26-27 “para que a santificasse , tendo-a purificado por
meio da lavagem de água pela palavra , para a apresentar a si

53
O Evangelho da Igreja Primitiva
mesmo igreja gloriosa , sem mácula , nem ruga , nem coisa
semelhante , porém santa e sem defeito”.

O Reino do Anticristo é Destruído pela Igreja

A palavra do Senhor diz que o Iníquo será morto com o sopro da sua boca
e destruído pela manifestação da sua vinda. Duas etapas, onde a primeira
é matar o poder do Anticristo no coração dos homens com o sopro da boca
do Senhor, ou seja, pela pregação da verdade do Evangelho do Reino, pela
Igreja.
2 Tessalonicenses 2:8 “então, será, de fato, revelado o iníquo, a
quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e o destruirá
pela manifestação de sua vinda”.
E a manifestação do Senhor em glória, juntamente com a sua Igreja
gloriosa, terminará de consumar a vitória sobre os inimigos: o pecado, a
morte, o espírito do engano e o próprio diabo que é acorrentado.
“Isto quer dizer que o pecado que se levantava e se desenvolvia contra o homem
tirando-lhe a vida, seria destruído e com ele o império da morte, e seria pisado pela
descendência da mulher; que o leão, isto é, o Anticristo que assalta o homem, nos
últimos tempos, aquele dragão, a antiga serpente, será acorrentado e submetido ao
poder do homem, o vencido de então, que lhe esmagará todo o poder”. (Irineu de
Lião –Contra heresias V/32:1/185 d.C.).
Cumprir-se-á então, a palavra profética que assegura a vitória da Igreja
sobre o diabo.
Romanos 16:20 “E o Deus da paz, em breve, esmagará debaixo dos
vossos pés a Satanás. A graça de nosso Senhor Jesus seja
convosco”.

O Reinado dos Santos Com o Senhor Jesus Sobre o Mundo


“Com efeito, é justo que recebam o prêmio do sofrimento naquela mesma natureza
em que sofreram e foram provados de todos os modos, e que naquela mesma em que
foram mortos por amor a Deus e suportaram a escravidão, recebam a vida e
reinem”. (Irineu de Lião –Contra heresias V/32:1/185 d.C.).
Apocalipse 20:4 “Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles
aos quais foi dada autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos
decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por
causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta,
54
O Evangelho da Igreja Primitiva
nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e
na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos”.
Logo que os santos são reunidos nos ares com Jesus, partem para
Jerusalém a fim de libertá-la dos exércitos inimigos que a cercam e, depois
de resgatarem o remanescente dos judeus, tomarão posse definitivamente
dos reinos do mundo.
Isaías 60:8 “Quem são estes que vêm voando como nuvens e como
pombas, ao seu pombal”?
Obadias 1:21 “Salvadores hão de subir ao monte Sião, para
julgarem o monte de Esaú; e o reino será do SENHOR”.

“Daniel diz o mesmo: E o reino e o império e as grandezas dos reinos sob todos os
céus serão entregues ao povo dos santos do Altíssimo. Seu império é império eterno,
e todos os impérios o servirão e lhe prestarão obediência. E para que não se pense
que esta promessa se refere ao tempo presente, foi dito ao profeta: Tu, vem, para
receber a tua parte, no fim dos dias”. (Irineu de Lião –Contra heresias V/34:2/185
d.C.).
“Se alguns quiserem interpretar estas profecias em sentido alegórico não chegarão
a acordo entre si sobre todos os pontos e serão refutados pelas próprias palavras
sobre as quais discutem e dizem: Quando as cidades das gentes estarão
despovoadas por falta de habitantes e as casas por falta de homens e a terra ficará
deserta. Eis pois diz Isaías, o dia do Senhor terrível, cheio de furor e de ira. E
depois que isso tiver acontecido, diz: O Senhor afastará os homens e os que ficarem
se multiplicarão sobre a terra. Todas estas profecias se referem, sem contestação,
à ressurreição dos justos, que se realizará depois do advento do Anticristo e da
eliminação de todas as nações submetidas à sua autoridade, quando os justos
reinarão sobre a terra, aumentarão pela aparição do Senhor e se acostumarão, por
ele, a participar da glória do Pai e, com os santos anjos, participarão da vida, da
comunhão e da unidade espirituais, neste reino. (Irineu de Lião – Contra heresias
V/35:1/185 d.C.).
Essa porção do texto de Irineu não poderia ser mais clara, pois mostra que
Irineu via em perspectiva o advento da força do Anticristo, assim como a
destruição das nações inimigas que serão incitadas contra Israel e a cidade
Jerusalém. Afirma o reino dos justos sobre a terra, já numa nova condição,
plenos da glória compartilhada por Deus. Na narrativa abaixo, há uma
importante revelação em destaque:

55
O Evangelho da Igreja Primitiva
“Os que o Senhor encontrar na carne, esperando-o vindo dos céus, depois de ter
suportado a tribulação e escapado das mãos do ímpio, são aqueles dos quais fala o
profeta: Os abandonados sobre a terra se multiplicarão, e também todos os que,
dentre os pagãos, o Senhor tiver preparado, para que, após ser deixados, se
multipliquem sobre a terra, sejam governados pelos santos e sirvam a Jerusalém”.
(Irineu de Lião –Contra heresias V/35:1/185 d.C.).
Esse primeiro grupo, que espera o Senhor vir dos céus, ainda em corpo
mortal, e que passa por tribulação, cremos, se refere ao “remanescente de
Israel” que será salvo (Romanos 11). Já sobre o segundo grupo que é
chamado de pagãos, mas que também se encontram preparados e que
serão deixados para serem governados pelos Santos e se submeterão ao
governo de Jerusalém, são os povos ou a criação, que agora geme.
Romanos 8:19-22 “A ardente expectativa da criação aguarda a
revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade
não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na
esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da
corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque
sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta
angústias até agora”.
A teologia escapista, que quer fugir do mundo para ir pro céu, não
contempla as nações do mundo como tendo alguma chance de escaparem
da destruição, a menos que entrem para a Igreja. Só que por não terem a
revelação que o Pai reservou para esse tempo do fim, não conseguem
explicar sobre quem os santos reinarão no céu. Será sobre os anjos? Ou
um sobre os outros? Na verdade, os comentadores não têm resposta para
a existência de povos, que não são os filhos de Deus, tanto no milênio,
quanto na eternidade.
Apocalipse 21:24 e 25 “As nações andarão mediante a sua luz, e os
reis da terra lhe trazem a sua glória. As suas portas nunca jamais
se fecharão de dia, porque, nela, não haverá noite. E lhe trarão a
glória e a honra das nações”.
Nesse simplismo teológico, não discernem que, além dos santos que reinam
com Jesus e dos ímpios que sãos os inimigos de Deus, que serão
efetivamente destruídos e enviados para o lago de fogo, ainda restarão
povos (gentios), constituídos de pessoas que não foram eleitas por Deus
desde a eternidade, mas que, no entanto, também não se entregaram à
impiedade. São esses povos que constituirão o que poderíamos chamar de
súditos do Reino. Serão altamente beneficiados pelo reino de justiça
estabelecido na terra, por Jesus e pelos santos. Disso dão testemunho os
profetas que predisseram o Reino milenar:
56
O Evangelho da Igreja Primitiva
Miquéias 4:1-4 “Mas, nos últimos dias, acontecerá que o monte da
Casa do SENHOR será estabelecido no cimo dos montes e se elevará
sobre os outeiros, e para ele afluirão os povos. Irão muitas nações e
dirão: Vinde, e subamos ao monte do SENHOR e à casa do Deus de
Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos pelas suas
veredas; porque de Sião procederá a lei, e a palavra do SENHOR, de
Jerusalém. Ele julgará entre muitos povos e corrigirá nações
poderosas e longínquas; estes converterão as suas espadas em
relhas de arados e suas lanças, em podadeiras; uma nação não
levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a
guerra. Mas assentar-se-á cada um debaixo da sua videira e
debaixo da sua figueira, e não haverá quem os espante, porque a
boca do SENHOR dos Exércitos o disse”.
Zacarias 14:16-17 “Todos os que restarem de todas as nações que
vieram contra Jerusalém subirão de ano em ano para adorar o Rei,
o SENHOR dos Exércitos, e para celebrar a Festa dos Tabernáculos.
Se alguma das famílias da terra não subir a Jerusalém, para
adorar o Rei, o SENHOR dos Exércitos, não virá sobre ela a chuva”.

A Libertação e Destruição de Satanás


Após o Milênio
Ainda que o Reino de Cristo no milênio beneficie todos os povos e nações e
a terra experimente restauração, restam algumas etapas a se cumprirem.
Há a libertação de Satanás do abismo, onde permaneceu por mil anos. Ele
ainda consegue arregimentar descontentes dentre os homens. Porém, logo
é eliminado, definitivamente, juntamente com os maus. Somente depois
disso é que se dará o julgamento final da humanidade.
Apocalipse 20:7-10 “Quando, porém, se completarem os mil anos,
Satanás será solto da sua prisão e sairá a seduzir as nações que há
nos quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, a fim de reuni-las
para a peleja. O número dessas é como a areia do mar. Marcharam,
então, pela superfície da terra e sitiaram o acampamento dos
santos e a cidade querida; desceu, porém, fogo do céu e os
consumiu. O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago
de fogo e enxofre, onde já se encontram não só a besta como
também o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite,
pelos séculos dos séculos”.
Conquanto o Reino de Justiça e Paz, sob a égide do Rei Jesus e os seus
santos príncipes, tenha feito com que povos e nações andassem na luz, na
obediência a verdade, isso não se deu por total voluntariedade dos homens.
57
O Evangelho da Igreja Primitiva
Ainda foi preciso usar a “vara de ferro” sobre os desobedientes e castigar
com maldição a rebeldia:
Zacarias 14:18 “Se a família dos egípcios não subir, nem vier, não
cairá sobre eles a chuva; virá a praga com que o SENHOR ferirá as
nações que não subirem a celebrar a Festa dos Tabernáculos”. As
nações, a despeito de experimentarem longevidade, como os homens
pré-diluvianos, ainda serão naturais, passíveis e corruptíveis.
Isaías 65:20 “Não haverá mais nela criança para viver poucos dias,
nem velho que não cumpra os seus; porque morrer aos cem anos é
morrer ainda jovem, e quem pecar só aos cem anos será
amaldiçoado”.
Por isso, quando Satanás for solto para provar as nações ainda conseguirá
convencer a muitos a se rebelarem contra todo o bem que o Reino de Cristo
propiciou.
Outro fator a se considerar, é que esses rebelados marcham sobre a
superfície da terra e sitiam a cidade querida (Jerusalém), onde estão Jesus
e os santos. O texto abaixo faz distinção entre a Jerusalém milenial que
prevaleceu na terra e que é cópia da celestial que só virá depois. Prova
cabal do Reino, estabelecido na terra, no milênio.
“Todas estas coisas não se referem a mundos supracelestes, porque diz: Deus
mostrará o teu esplendor a toda a terra que está debaixo do céu, mas aos tempos
do reino, quando a terra será renovada por Cristo e Jerusalém será reconstruída
conforme o modelo da Jerusalém do alto, da qual o profeta Isaías disse: Eis que
desenhei teus muros nas minhas mãos e tu me estás sempre diante dos olhos. E o
apóstolo, escrevendo aos Gálatas, diz: A Jerusalém do alto é livre e é mãe de todos
nós. E é esta mesma que João, no Apocalipse, viu descer a uma terra nova”. (Irineu
de Lião –Contra heresias V/35:2/185 d.C.).
No milênio ainda existe possibilidade de corrupção e mal, e também morte,
somente depois do juízo final e do banimento total do mal e da morte, é que
o último estágio da terra se dará. Aí, sim o mundo estará preparado para a
eternidade.

O Juízo Final Universal Precede a Eternidade

58
O Evangelho da Igreja Primitiva
“De fato, depois dos tempos do reino, ele diz, eu vi um grande trono branco e aquele
que estava assentado nele, o céu e a terra fugiram de diante dele e não se encontrou
mais lugar para eles. Então descreve a ressurreição e o juízo universais, dizendo:
Eu vi os mortos, os grandes e pequenos. Pois a morte restituiu os mortos que se
encontravam nela; a morte e o inferno (Hades) restituíram os que estavam neles.
E foram abertos os livros. Foi aberto também o livro da vida e os mortos foram
julgados de acordo com o que estava escrito nestes livros e conforme as suas obras.
Depois a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo, que é a segunda morte”.
(Irineu de Lião – Contra as heresias V/ 35:2/185 d.C.).
De acordo com o que foi anteriormente comentado, a seqüência cronológica
dos eventos precisa ser entendida perfeitamente para a plena compreensão
do propósito eterno do Pai. A citação de Irineu confere com o Apocalipse de
João, tal está escrito no capítulo 20, versos 11, 12, 13 e 14.
Ele usa novamente a expressão:” Tempos do Reino”, para designar o Milênio
e expressa claramente que a ressurreição universal de todos os mortos de
todos os tempos, seguindo-se o juízo, só se dará “depois” desse período.
Também concorda com isso o apologista Teófilo, que fala da ressurreição
de toda a humanidade.
“A sabedoria de Deus realiza tudo isso para demonstrar, mesmo por esses exemplos,
que ele é Deus poderoso para realizar a universal ressurreição de todos os homens”.
(Teófilo de Antioquia – livro I /13/cerca de 180 d.C.).
“Além disso, considera a diversidade que há nessas coisas, sua variada beleza e
multidão, e como, através deles, se nos manifesta a ressurreição, sendo prova
daquela que um dia se realizará em todos os homens”. (Teófilo de Antioquia – livro
II /14/cerca de 180 d.C.).
A ressurreição universal é o esvaziamento da dimensão do mundo dos
mortos (Hades) que ficou sob o poder da morte até ao fim do milênio.
Nesse momento, três grupos de pessoas reassumirão os seus corpos,
ligados novamente às suas almas para comparecerem perante o tribunal.
O primeiro grupo: todos os que não foram chamados para serem sacerdotes
de Cristo e, por isso, não têm os seus nomes escritos no livro da vida do
Cordeiro, desde a fundação do mundo. Esse grupo será julgado pelas obras
mediante os livros das obras, tendo chance de prevalecerem por causa da
conduta vivida, para constituírem as nações que serão abençoadas e
curadas.
Apocalipse 22:1-2 “Então, me mostrou o rio da água da vida,
brilhante como cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro. No
meio da sua praça, de uma e outra margem do rio, está a árvore da

59
O Evangelho da Igreja Primitiva
vida, que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês, e as
folhas da árvore são para a cura dos povos.”
O segundo grupo é constituído daqueles que foram ímpios, malignos,
sementes do diabo, que praticaram todas as atrocidades sem temor ao
Criador, blasfemando dele e da sua criação. Esses inimigos de Deus, de
todos os tempos, ressuscitarão, apenas, para receberem o justo veredicto
de condenação final e serem banidos da presença de Deus, lançados no
lago de fogo e enxofre, que é a segunda morte onde farão companhia ao
diabo e seus anjos.
Apocalipse 21:8 “Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos
abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos
idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no
lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte”.
O terceiro grupo, tristemente, é constituído de homens e mulheres que
foram chamados, mas que foram reprovados, por terem pecado para a
morte:
Marcos 3:29 “Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo não
tem perdão para sempre, visto que é réu de pecado eterno”.
1 João 5:16 “Se alguém vir a seu irmão cometer pecado não para
morte, pedirá, e Deus lhe dará vida, aos que não pecam para morte.
Há pecado para morte, e por esse não digo que rogue”.
Por isso, não participaram da primeira ressurreição dos justos vencedores
e permaneceram no domínio da morte até ao juízo final. A sua apostasia
lhes tirou todo o direito à adoção, pois foram achados bastardos, filhos
indignos e renegados.
Apocalipse 22:19 “e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do
livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da
cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro”.
Seu juízo é mediante o livro da Vida, onde é verificado se o nome foi ou não
riscado (apagado), testificando a condenação. Note que o primeiro e o
segundo grupos, que constituem a criação de Deus, não são julgados pelo
livro da vida e sim pelos livros das obras. Porém, haverão filhos de Deus
reprovados, sentenciados pelo livro da vida.
Apocalipse 3:5 “O vencedor será assim vestido de vestiduras
brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do Livro da Vida;
pelo contrário, confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante
dos seus anjos”.
Apocalipse 20:15 “E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da
Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo”.

60
O Evangelho da Igreja Primitiva
Este fascinante e esclarecedor assunto também é melhor comentado no
livro que traz as revelações de Deus para esse tempo do fim: “O Evangelho
do Reino de Deus” (Pr. Arcelio Ramos - Rios de Água Viva).

A Jerusalém Celestial Desce Para Ser a Morada de Deus Com os Homens

“É o que já dissera Isaías: Haverá céu novo e terra nova; não se lembrarão mais
das primeiras coisas e elas não voltarão à memória, mas encontrarão nela a alegria
e o regozijo. Foi isso também que o Apóstolo disse: Com efeito, passa a figura deste
mundo. E o Senhor: O céu e a terra passarão. Quando terão passado estas coisas,
diz João, o discípulo do Senhor, descerá a Jerusalém do alto sobre uma terra nova,
como esposa adornada para o seu esposo, e ela será o tabernáculo de Deus, em que
Deus habitará com os homens. A Jerusalém que se encontrava na terra de antes é
a imagem da Jerusalém em que os justos se exercitarão para a incorruptibilidade e
se prepararão para a salvação. Foi deste tabernáculo que Moisés recebeu o modelo
no monte”.
Ao final do Milênio e do Juízo Final, com o banimento definitivo do mal da
face da terra, esta mesma sofrerá sua metamorfose final, para comportar o
último estado da terra, ou seja, a eternidade.
O novo céu e nova terra “puros” darão condições para a descida da Nova
Jerusalém, a cidade que comporta Deus, para essa nova terra (não outra,
mas a mesma transformada). É a casa de Deus com os homens, e se
estabelecerá no lugar da outrora Jerusalém terrena, que perdurou até ao
milênio.
“E tudo isto não pode ser interpretado alegoricamente, mas se deve crer tudo
verdadeiro, certo e real, realizado por Deus para a alegria dos homens justos. Como
é realmente Deus que ressuscita o homem e não em sentido alegórico, como
demonstramos de várias maneiras. E como realmente ressuscita, assim realmente
se exercitará na incorruptibilidade e crescerá e amadurecerá nos tempos do reino
para ser capaz da glória de Deus Pai. Em seguida, renovadas todas as coisas,
habitará verdadeiramente na cidade de Deus. Com efeito, diz João: Aquele que
está assentado no trono diz: Escreve tudo isso, porque estas palavras são certas e
verdadeiras. E me disse: Assim foi feito. Nada de mais justo.” (Irineu de Lião –
Contra heresias V/35:2/185 d.C.).
Aleluia! Grandíssimas são as promessas para os vencedores. Não só de
ressuscitar em corpo glorioso, como ser preparado para ser tomado
completamente pela glória de Deus. Irineu descreve em palavras coisas que
61
O Evangelho da Igreja Primitiva
o para os cristãos de hoje são inimagináveis. Para se ter uma melhor idéia
da grandeza das promessas cridas nos primórdios da Igreja, e que hoje
devem ser totalmente retomadas e proclamadas por toda a terra, encerro
esse capítulo transcrevendo mais um parágrafo, deste tão maravilhoso
testemunho.
“Em tudo isto, é indicado um só e idêntico Pai; aquele que modelou o homem;
aquele que prometeu aos pais a herança da terra; aquele que a concederá na
ressurreição dos justos e cumprirá as suas promessas no reino de seu Filho; aquele,
enfim, que, na sua bondade, dará o que o olho não viu nem ouvido ouviu nem
passou pela cabeça de nenhum homem. Com efeito, único é o Filho que cumpriu a
vontade do Pai, único é o gênero humano em que se cumprem os mistérios de Deus,
que os anjos desejam ver, porque não conseguem perscrutar a Sabedoria de Deus
pela qual a sua criatura, conformada e incorporada ao Filho, é levada à perfeição;
de forma que, enquanto o Primogênito, isto é, o Verbo desce na criatura e a assume,
por sua vez a criatura se apossa do Verbo e sobe até Deus, ultrapassando os anjos
e tornando-se à imagem e semelhança de Deus”. (Irineu de Lião –Contra heresias
V/36:3/185 d.C.).

Amém.

Apêndice – A Apostasia da Igreja


62
O Evangelho da Igreja Primitiva

Abordarei agora, de maneira sucinta, a argumentação que servirá de base


histórica para provarmos o desvio da Igreja, e demonstrarei
documentadamente todo o processo da Apostasia que se instalou na Igreja
do Senhor. A pergunta que persiste é: Por que Deus permitiu o desvio da
fé original no Reino de Deus? A resposta imediata é que tudo isso ocorreu
mediante a vontade soberana de Deus, e podemos testificar através de sua
palavra.
Jesus Cristo profetizou:
Mateus 24: 11-12 “levantar-se-ão muitos falsos profetas e
enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor se
esfriará de quase todos”.
A iniqüidade no caso é a Apostasia, que significa literalmente: “dar as
costas a Deus”, por causa do desvio da verdade promovido pelos falsos
profetas, e o amor em questão é o ( agaph) ágape, o amor que é devotado
a Deus. O texto de Mateus ainda dá a abrangência desse fenômeno na
Igreja: ”quase todos”.
Outro conceito que somos obrigados a demolir é a idéia formada no coração
de muitos cristãos de que os últimos tempos, em que se daria a Apostasia,
não se trata do tempo presente e sim de um período sempre “empurrado”
para o futuro. Porém, a própria história da Igreja prova o contrário. O que
era futuro para os apóstolos e para a Igreja primitiva, já aconteceu e vem
acontecendo ao longo dos séculos. Observe as declarações dos apóstolos
Paulo e João:
2 Tessalonicenses 2:7 “Com efeito, o mistério da iniqüidade já opera
e aguarda somente que seja afastado aquele que agora o detém;”
1 João 2:18 “Filhinhos, já é a última hora; e, como ouvistes que vem
o anticristo, também, agora, muitos anticristos têm surgido; pelo
que conhecemos que é a última hora”.
Podemos afirmar, mediante os fatos, tanto biblicamente, como pelas
evidências históricas, que os últimos tempos se estendem desde os tempos
apostólicos, até aos dias de hoje e só se consumará na definitiva vinda do
Senhor, iniciando os tempos do Reino. Por isso mesmo, logo nos primórdios
da trajetória da Igreja no mundo, o mistério da iniqüidade despontou,
dominando e se espraiando por toda a Igreja. A Apostasia se instalou na
Igreja como um câncer crescente, através do espírito do engano, ou
Anticristo.

Daniel 7:21; 25 e 8:12.“Eu olhava e eis que este chifre fazia guerra
contra os santos e prevalecia contra eles,”
63
O Evangelho da Igreja Primitiva
“Proferirá palavras contra o Altíssimo, magoará os santos do
Altíssimo e cuidará em mudar os tempos e a lei; e os santos lhe
serão entregues nas mãos, por um tempo, dois tempos e metade de
um tempo”
“O exército lhe foi entregue, com o sacrifício diário, por causa das
transgressões; e deitou por terra a verdade; e o que fez prosperou”.
-----------------------------------------------

A Cronologia do Desvio da Verdade e o Estabelecimento da



Apostasia na Igreja
Uma análise, ainda que superficial pela história da Igreja, desde a Igreja
neo-testamentária, passando pelos Pais da Igreja, chegando ao período dos
concílios gerais, o advento de Constantino, a consolidação da Igreja
Católica Romana, a Igreja Medieval das Cruzadas, a Reforma Protestante,
até ao cenário de multiplicidade denominacional dos dias atuais,
comprovam as turbulentas mudanças e inversões ocorridas em cada tempo
da Igreja.
Numa verdadeira “involução”, pois saiu do que era único e verdadeiro e se
desenvolveu como uma colcha de retalhos continuamente aumentada,
onde cada um atesta ter sua própria verdade, o evangelho sofreu todas as
mutações possíveis, graças a espíritos enganadores e corações humanos
perversos, que resolveram fazer do povo de Deus “negócio”.
I Timóteo 4:1 “Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos
últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a
espíritos enganadores e a ensinos de demônios”
Judas 1:4 “Pois certos indivíduos se introduziram com
dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente
pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que
transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o
nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo”.
2 Timóteo 4:3-4 “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã
doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas
próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se
recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas”.
Ainda que tenhamos inúmeras evidências, não nos dispomos a aprofundar
nessa ocasião o estudo da Apostasia, antes queremos evidenciar onde se
deu o desvio, ou melhor, a época em que os sete espíritos de Deus,
representando a plenitude de Cristo na Igreja (figura do candelabro), é
removido.

64
O Evangelho da Igreja Primitiva
Apocalipse 2:5 “Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta
à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu
lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas”.
Na seqüência abaixo, destacamos os pontos mais relevantes e identificamos
onde o Evangelho do Reino deixou de ser anunciado, dando lugar ao
“evangelho” centrado no homem.

Os apóstolos legam o depósito da verdade aos Pais da Igreja.



“Portanto, a tradição dos apóstolos, que foi manifestada no mundo inteiro, pode
ser descoberta em toda Igreja por todos os que queiram ver a verdade. Poderíamos
enumerar aqui os bispos que foram estabelecidos nas igrejas pelos apóstolos e os
seus sucessores até nós; e eles nunca ensinaram nem conheceram nada que se
parecesse com o que essa gente vai delirando”. (Irineu de Lião – Contra heresias
III/3:1/185 d.C.).
A tradição dos apóstolos, até ao tempo de Irineu permanecia sendo a
mesma palavra pregada em toda a Igreja no mundo, ou seja: O Evangelho
do Reino de Deus.

• As heresias começam a assolar o cristianismo, somadas às


perseguições do Império Romano (fim do primeiro século).
• Gnosticismo - Simão o Mago, que tentou comprar o dom do espírito
Santo (At 8:9-24), segundo os Pais da Igreja, seria o “Pai” das maiores
heresias e a sua doutrina, a base para o Gnosticismo oriundo da Samaria.
• Heresiarcas (Pais de heresias)- Ebion; tentou criar um cristianismo
judaizante, voltando à guarda da lei. Enfatizavam a necessidade de uma
vida de pobreza e ascetismo.
• Cerinto – sua doutrina gnóstica dizia que a salvação é por meio do
“conhecimento”, também que o espírito está preso num corpo (matéria) mal,
do qual deve ser liberto.
• Nero incrimina os cristãos pelo incêndio de Roma e os martiriza.
(quando,provavelmente, Paulo é morto- 64 d.C.).
• Domiciano, Imperador Romano, decreta a segunda perseguição geral
aos cristãos.(81 d.C.).
• O apóstolo João morre em Éfeso, depois de sair da ilha de Pátmos. (99
d.C.).

65
O Evangelho da Igreja Primitiva
Até o segundo século, os Pais da Igreja dão testemunho sobre a

unidade da fé nas Igrejas.

“Tendo, portanto, recebido esta pregação e esta fé, como dissemos acima, a Igreja,
mesmo espalhada por todo o mundo, as guarda com cuidado, como se morasse numa
só casa, e crê do mesmo modo, como se possuísse uma só alma e um só coração,
unanimemente as prega, ensina e entrega, como se possuísse uma só boca. Assim,
embora pelo mundo sejam diferentes as línguas, o conteúdo da tradição é um só e
idêntico”. (Irineu de Lião –Contra heresias I/10:2/185 d.C.).
• Muitos cristãos são martirizados, mas não negam a fé na verdade.
• Inácio, Bispo de Antioquia, é martirizado (107 d.C.).
Plínio, governador da Bitínia escreve ao Imperador sobre os cristãos
martirizados:
“Depois destas informações julguei muito necessário examinar, mesmo por meio
da tortura, duas mulheres que diziam ser diaconisas, mas nada descobri a não ser
uma superstição má e excessiva”. (Plínio, Epp. X (ad Trajanem) XCVI/ 112 d.C.).
• Surgem as heresias de Menander, Saturnino e Basílides.
• Menander, sucessor de Simão o Mago, afirmava ser um “Messias”,
oferecendo imortalidade a quem se sujeitasse a sua doutrina mágica
(diabólica).
• Saturnino apareceu na Síria, e o seu gnosticismo tinha influência
oriental.
• Basílides atuou em Alexandria (Egito) sua doutrina gnóstica era
mais fundamentada no dualismo filosófico grego.
• O Imperador Marco Aurélio Antonino deflagra outra perseguição
geral aos cristãos,(por volta de 163 d.C.).
• O venerável Policarpo, Bispo de Esmirna, padece o martírio de forma
sublime,(166 d.C.).
“O chefe da polícia insistia: Jura, e eu te liberto. Amaldiçoa o Cristo! Policarpo
respondeu: Eu o sirvo há oitenta e seis anos, e ele não me fez nenhum mal. Como
poderia blasfemar o meu rei que me salvou?”. (Martírio de Policarpo 9:3/ 166
d.C.).
Os escritores cristãos, chamados Apologistas, tentam defender a fé
através da filosofia. Justino envia duas Apologias (defesas do cristianismo)
ao Imperador Antonino Pio, (cerca de 163 d.C.).

• Outros Apologistas: Quadratus(135), Aristídes (150), Taciano,


Melito (180) e Atenágoras (187 d.C.).
Nesse período, começa o grave desvio da genuína fé bíblica, e os pensadores
cristãos “adaptam” o Evangelho à Filosofia Platônica e estóica. O conceito
66
O Evangelho da Igreja Primitiva
de Reino vai sendo mudado e são criados novos termos, fruto da sabedoria
humana, para explicar a fé.

• Quarta perseguição geral à Igreja, (166 d.C.).

Até esse tempo, os crentes realizavam milagres, com a Apostasia



os sinais se extinguem.

“No segundo livro da mesma obra, ele também mostra que até seus dias ainda
restavam, em algumas igrejas, manifestações de poder divino e miraculoso. – Até
agora, diz, estão ressuscitando mortos, como ressuscitava o Senhor, e como os
apóstolos, por meio da oração, pois mesmo entre os irmãos, com freqüência, em
caso de necessidade, com toda a igreja unida em muito jejum e oração, o espírito
tem retornado ao corpo antes morto....” “Alguns, aliás, certa e verdadeiramente
expulsam demônios, de modo que com freqüência essas mesmas pessoas purificadas
de espíritos perversos criam e eram recebidas na Igreja, outros têm conhecimento
das coisas por vir, bem como visões e comunicações proféticas; outros curam os
enfermos pela imposição de mãos e lhe restauram a saúde...” “Assim como ouvimos
muitos dos irmãos na igreja que têm dons proféticos, e que falam em todas as
línguas por intermédio do espírito, e que trazem à luz os segredos dos homens pra
o beneficio deles, e que expõem os mistérios de Deus”. Esses dons de diferentes
tipos permaneciam com aqueles que eram dignos até a época mencionada. (Eusébio
- H. E. V.7/ cerca de 310 d.C.).
• As heresias de Montano e Marcião (180-190 d.C.).
1- Fruto do descontentamento com a Igreja que começava a se
“mundanizar” e a escassear as manifestações do espírito, Montano
proclamou-se “possuído” pelo espírito Santo e juntamente com duas
mulheres que se diziam profetisas, Priscila e Maximila, anunciavam uma
nova dispensação do Espírito Santo e a eminência do fim, com a Nova
Jerusalém se estabelecendo na Frígia.
2- Filho de um Bispo cristão, Marcião asseverou que o Deus do Antigo
Testamento, violento e vingativo, não é o mesmo do Novo Testamento,
amoroso e misericordioso. Afirmou a necessidade de dois Messias, um para
os judeus e Jesus para o mundo todo. Não aceitava a salvação do corpo.
Fundou várias igrejas Marcionitas.

Declínio da verdade - muitos, diante da morte, apostatam e



sacrificam ao Imperador (terceiro século).
67
O Evangelho da Igreja Primitiva

• Quinta e sexta perseguições gerais à Igreja (200-238 d.C.).


• Irineu de Lião é morto com vários outros mártires da fé, na Gália,(205
d.C.).

Historiadores Eclesiásticos modernos atestam o declínio da fé dos



cristãos nesse período.
“A rejeição dos montanistas e o declínio da expectativa do fim eminente do
mundo, indubitavelmente contribuíram para a disseminação do mundanismo
na Igreja – tendência essa que recebeu novo incremento graças ao
crescimento rápido da Igreja, entre 202 e 250, fruto da adesão de pagãos
conversos”. (História da Igreja Cristã - W.Walker / Aste).
“O reinado pacífico de Alexandre Severo fora motivo de maior mal para a
causa cristã do que todas as perseguições juntas. No seu tempo, a igreja, por
falta de zelo, começou a sentir-se cansada de estar em santa separação do
mundo, e os bispos cristãos, ensoberbecidos pelo seu crescente poder e
importância, aceitavam colocações na corte, e começaram a acumular
riquezas colossais. Foi então que os cristãos começaram a concordar com as
filosofias da Grécia e de Roma, e encontraram estímulos para a sua fé
declinante no misticismo ousado do Egito e da Arábia: e, portanto, ninguém
se deve admirar de que, quando uma nova perseguição rebentou, muitos
crentes verdadeiros desanimaram e manifestaram receios de que Deus os
estava tratando conforme os seus pecados. Impelidos por estes receios, e
esquecendo a suficiência que se pode encontrar em Cristo, alguns deles
negaram a fé ou se tornaram culpados de dissimulação (fingiram sacrificar
ao Imperador, ou falsificaram certificados de sacrifício - libelo), para assim
evitar maior perseguição”. (História do Cristianismo – A. Knight e W. Anglin
/ CPAD).
• Sétima e oitava perseguições gerais (238 – 274 d.C.).
• O clero se distingue totalmente dos leigos, na Igreja.
Começou-se a remover a noção do crente comum de que todos são
sacerdotes de Cristo (Reino Sacerdotal), fazendo com que somente um
grupo (clero) em especial tomasse para si as prerrogativas de sacerdotes
sobre os demais irmãos da Igreja.
● Começa a veneração aos mártires e suas relíquias.
● Orígenes, escritor cristão, fundamentado nas teorias filosóficas
platônicas alegorizou os ensinos da Bíblia (prática que se tornaria comum
no círculo cristão). Chegou a declarar a não ressurreição literal do corpo e
a restauração dos ímpios (203-251 d.C.).
● As heresias começam a causar cismas nas Igrejas.

68
O Evangelho da Igreja Primitiva
• Em 251 d.C., um “racha” na Igreja de Roma causa o
surgimento de dois Bispos para o mesmo posto, Cornélio e Novaciano,
cada qual com sua facção de seguidores. Cipriano, Bispo de Cartago, apóia
Cornélio e se opõe a Novaciano.
• A heresia Sabeliana (Unismo: O Pai, Filho Jesus e o espírito são o
mesmo ser.,(254 d.C.).
“Ensinam que o Pai, o Filho e o espírito Santo são uma só e mesma
essência, três nomes dados a uma só e mesma substancia. Tome-se o sol:
o sol é uma só substância, mas com tríplice manifestação: Luz, calor e globo
solar. O calor é o espírito; a luz, o Filho; enquanto o Pai é
representado pela verdadeira substancia”. (Epifânio, Bispo de Salamis –
375 d.C.).
• A Igreja apela ao Imperador Aureliano contra o cismático Paulo de
Samósata - herege. (270 d.C.).
• Nona perseguição geral por Aureliano (272 d.C.). Por fim, a décima e
mais feroz (302 d.C.).

A expectativa da Vinda do Reino dá lugar a idéia de ir para o céu



e lá morar.

No terceiro século começam a surgir os relatos dos cristãos, sobre a crença


de ir para o céu logo após a morte. O fenômeno também é verificado nas
lápides e catacumbas romanas, testemunho que não existia anteriormente.
O relato que segue nos dá uma boa idéia dessa derivação que se tornou
comum.
“Rapaz, estou pronto a perdoar-te e a consentir que teu pai te leve outra vez para
casa, e podes mais tarde herdar os seus bens; para isso basta que tenhas juízo
e olhes pelos teus próprios interesses. Mas ele recusou com firmeza: Estou pronto
a sofrer e Deus há de levar-me para o Céu. Não me importo de ter sido expulso de
casa: hei de ter um lar melhor. Não tenho medo de morrer; a morte vai apenas
conduzir-me a uma vida melhor”. “Quando voltou à presença do governador e este
lhe perguntou: Estás agora resolvido a mudar de idéia? – Ele respondeu com
intrepidez: O vosso fogo e a vossa espada não me podem molestar: vou para um
lar mais feliz, queimai-me depressa, para que eu chegue lá mais cedo; e vendo
lágrimas nos olhos de muitos espectadores, disse: Deveis estar contentes, e decerto
estaríeis, se conhecêsseis a cidade para onde vou”. (Um jovem chamado Cirilo,
pouco antes de ser martirizado.).
A “carta a Diagoneto” também faz afirmações estranhas aos Pais da Igreja,
fruto da desesperança da vinda do Reino, transferindo todas as
expectativas para o céu.

69
O Evangelho da Igreja Primitiva
“Deus na verdade, amou os homens; por causa deles fez o mundo, sujeitou-lhes
todas as coisas, deu-lhes inteligência e razão, só a eles concedeu levantar os olhos
para ele, plasmou-os a sua própria imagem, para eles enviou seu Filho unigênito,
prometeu-lhes o reino no céu e o há de dar aos que o amam”. “Então, embora te
encontres sobre a terra, verás que Deus governa nos céus, então começarás a
proferir os mistérios de Deus, então amarás e admirarás os que são torturados por
não quererem renegar a Deus, então condenarás a ilusão e o desvio do mundo,
quando conheceres a verdadeira vida no céu,...” (carta a Diagoneto 10:2 e 7/ por
volta do 3.º século d.C.).
No quarto século a Apostasia do Anticristo se instala de vez na

Igreja.

• A pseudo-conversão do Imperador Constantino.


• Constantino estabelece o livre exercício da religião cristã (314 d.C.).
• Constantino sobrepuja os outros três governantes e se torna o único
Imperador, (324 d.C.).
• Em 324, Constantino ordena ao seu exército que guardem o domingo
para adorarem ao Deus único, o mesmo dia consagrado ao “Sol Invicto”
(Mitraísmo).
• A controvérsia Ariana – Ário diz: Jesus é criatura de Deus. Por volta
de 321 d.C.
Em 325 é estabelecido em Nicéia o primeiro concílio ecumênico (ou geral)
de todos os Bispos para combater Ário. Constantino não só financia o
evento, mas, sobretudo preside o concílio. Ele se auto-designou “Bispo dos
bispos”, tendo a última palavra sobre todo o clero da Igreja.
• Por decreto imperial, Constantino mandou que os hereges
excomungados fossem readmitidos na Igreja.
• Constantino morreu em 337, tendo determinado sobre várias
questões da Igreja. A fusão: Igreja-estado, a pior Apostasia da Igreja.

o As transformações da “Era Constantino”:

1 Muitos, inconformados com a fusão da Igreja com o Império, vendo


nisso uma verdadeira Apostasia, vão para o deserto (movimento monástico).
2 O culto cristão, que era relativamente simples, passa a ter pompa
imperial, a aristocracia domina a Igreja.
3 Adoção do incenso, antes usado no culto ao Imperador.
4 Os Ministros, que oficiavam o culto, passaram a usar vestes ricamente
ornamentadas.
5 Passou-se a iniciar os cultos com procissões e coros.

70
O Evangelho da Igreja Primitiva
6 Os ossos dos mártires e suas relíquias passaram a serem postos sobre
os altares dos templos.
7 A Imperatriz Helena (Mãe de Constantino) trouxe de Jerusalém o que
se supunha ser a verdadeira cruz de Cristo e dividiu pedaços dela pelo
Império.
8 Elegeram os santos mártires como intercessores diante de Deus,
passando a serem feitas orações a esses santos.
9 A substituição da idolatria romana aos deuses mitológicos pela
devoção aos santos. Pedro no lugar de Júpiter, etc...
10 Incremento da Mariolatria - aprovação da designação: “Mãe de Deus”
(Mater Dei).
11 Constantino mandou erigir um templo em homenagem ao Arcanjo
Miguel perto de Constantinopla e outro em Roma. Também para Santa
Irene, em homenagem à Paz.
12 Constantinopla (Nova Roma) é enfeitada com imagens de deuses
pagãos da antiga Roma.
13 A construção de Basílicas (grandes prédios) com tronos para os Bispos
(cátedras).

Eusébio de Cesárea narra a história da Igreja e execra a idéia de



Reino literal na Terra.

Eusébio de Cesaréa, assecla de Constantino, compila a primeira história


eclesiástica oficial cobrindo o período do primeiro século até os seus dias
(quarto século). Doravante a Igreja passará a basear-se oficialmente na sua
versão da história pregressa da Igreja, jogando no ostracismo os escritos
dos Pais Apostólicos.
Eusébio põe em dúvida a autoria do livro de Apocalipse, negando ser do
apóstolo João. Considera seu conteúdo incompreensível e maravilhoso
demais.
Ao comentar os escritos de Pápias, primeiro tenta desmerecê-lo, depois
elogia seu conhecimento bíblico e idoneidade, caindo em contradição. Tudo
porque não se crê mais no estabelecimento literal do Reino de Cristo na
terra.
“O mesmo Pápias, de quem agora falamos, professa ter recebido a mesma
declaração dos apóstolos daqueles que estavam em companhia deles e também diz
que ele era ouvinte de Arístion e do presbítero João.... Mas talvez seja importante
também acrescentar outras declarações a essas passagens de Pápias em que ele
apresenta certos relatos maravilhosos... acrescenta como tradições não escritas
recebidas, assim como certas estranhas parábolas de nosso Senhor e sua doutrina e
algumas questões um tanto fabulosas demais. Nesses ele afirma que haverá certo
milênio após a ressurreição e que haverá um reinado corpóreo de Cristo nesta terra;
71
O Evangelho da Igreja Primitiva
coisa que parece ter imaginado, como se fossem autorizadas pelas narrações
apostólicas, não compreendendo corretamente aquelas questões que propunham
misticamente e suas representações. Pois ele era muito limitado em sua
compreensão, conforme evidencia em seus discursos. Ainda assim, por sua causa a
maior parte dos escritores eclesiásticos, induzidos pela antiguidade do homem, foi
desviada por opinião semelhante; como, por exemplo, Irineu, ou qualquer um que
tenha adotado tais sentimentos”. (Eusébio - H. E. III. 39/ cerca de 310 d.C.).
“Também nessa época, Pápias era bem conhecido como bispo da igreja de
Hierápolis, homem bem qualificado em todo tipo de saber e bem familiarizado com
as Escrituras”. (Eusébio - H. E. III. 36/ cerca de 310 d. C.).
Agostinho escreve sua obra: “A Cidade de Deus” (Quinto Século)

Baseando-se na Filosofia dualista Neo-platônica, Agostinho tenta coadunar
a idéia de duas cidades; a visível (o Império Romano) e a invisível (a Igreja
dos fiéis), argumentando a necessidade de haver o reino humano, mas com
a expectativa do futuro governo Celestial.
“A Igreja é, pois, agora o reino de Cristo e o reino dos céus. E agora com ele
reinam também seus santos. É certo que de modo diferente de como
reinarão mais tarde, mas, o joio não reina com ele, embora cresça com o
trigo na Igreja”. (Agostinho – A cidade de Deus 20:9/ 412-426 d.C.).
A teologia de Agostinho acabou por ser usada para reforçar a idéia de
supremacia da Igreja sobre estado, o que foi muito útil para as pretensões
seculares da Papal Igreja Católica Romana.
Também reforçou a visão alegórica sobre o Reino de Deus, base para o
“Amilenismo”, onde se crê que o Reino de Deus é a Igreja militante,
conquistando domínio sobre a terra.
Muitos historiadores colocam outros escritores antigos no rol dos Pais da
Igreja, mas podemos ver que essa divisão é imprópria.
Daqui em diante as controvérsias não pararam mais, ora discutindo sobre
a origem do Cristo, sua deidade etc; ora se voltando para a liturgia do culto,
os elementos da ceia, os rituais de batismo e outras tantas inovações que
se seguiram, fruto da obra humana, divorciada dos príncípios elementares
e verdadeiros do evangelho.
De Constantino Até a Reforma Protestante
(Onze séculos de trevas).

Resumindo, o que aconteceu com o verdadeiro Evangelho do Reino de Deus


foi o seu total desaparecimento, o que ocorreu gradualmente a partir de
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O Evangelho da Igreja Primitiva
meados do segundo século da era cristã e que nos terceiro e quarto séculos
foi substituído de vez pela apostasia que, consolidada por Constantino,
emergiu como a “Besta”.
Os fatos acima apresentados são quase que totalmente desconhecidos pela
maioria da Igreja moderna, salvo por alguns raros vocacionados
pesquisadores que dificilmente têm a oportunidade de divulgar a verdadeira
e trágica história da Igreja. Para os Evangélicos, oriundos do
Protestantismo medieval, toda a história pregressa, têm a ver com a Igreja
Católica Romana e não distinguem o período em que o Catolicismo ainda
não existia. Como podemos ver em poucas linhas o “desvio” ocorrido já nos
primórdios da Igreja culminará numa série de apostasias comumente
registradas pela história secular. O maior marco, com certeza, é
Constantino e depois o nascimento do Papado Romano.
No início, os Bispos das várias Igrejas ocidentais receberam a alcunha de
Papa. A partir do 5º.século essa designação passou ser empregada pelo
Bispo de Roma, como sendo: O Pai Universal.
Leão I (440-461) reclamou para si as prerrogativas de Primaz de todos os
Bispos, mas é Gregório I (590-604), que é considerado como o verdadeiro
primeiro Papa. O poder papal cresceu continuamente sobre os monarcas
sujeitos à Sé Romana. Em 774, Carlos Magno entregou à Igreja
Católica, a posse do território do Estado do Vaticano consolidando o “Santo
Império Romano” que durou aproximadamente 1100 anos. Para
encurtarmos a História, nesse período surgiu Maomé e a “semente” do
Islamismo. Enquanto a Igreja já se encontrava imersa na idolatria, surge o
Monoteísmo maometano, contrapondo-se à Igreja Politeísta. Segue-se o
“período das trevas” como é denominado, com a tragédia humana do
domínio tirano do clero sobre um mundo ignorante e supersticioso,
seguindo-se as “Cruzadas” e a diabólica “Inquisição” até aparecerem os
primeiros grupos de resistência ao Império Papal, germe da Reforma
Protestante.

Da Reforma, Até aos Dias Atuais, Deus Vem Restaurando a Sua Igreja, Através
de Sucessivas Revelações e Culmina no Evangelho do Reino de Deus.

Pela misericórdia do Todo Poderoso, que sempre esteve soberanamente


conduzindo a história da humanidade segundo o seu eterno propósito, a
seu tempo, por sua única e exclusiva vontade, vem revertendo o quadro
pintado à sangue, trazendo à luz as revelações que aos poucos tem libertado
a Igreja e a humanidade por tabela. Sim, porque Deus reservou à sua Igreja
libertar a criação do Cativeiro da Corrupção.
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O Evangelho da Igreja Primitiva
A apostasia de Israel é semelhante à da Igreja, por isso as palavras
proféticas de Ezequiel bem mostram a iniciativa de Deus em resgatar o seu
povo do engano, por amor do seu Nome.
Ezequiel 20:33-44 . “Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus,
com mão poderosa, com braço estendido e derramado furor, hei de
reinar sobre vós; tirar-vos-ei dentre os povos e vos congregarei das
terras nas quais andais espalhados, com mão forte, com braço
estendido e derramado furor. Levar-vos-ei ao deserto dos povos e ali
entrarei em juízo convosco, face a face. Como entrei em juízo com
vossos pais, no deserto da terra do Egito, assim entrarei em juízo
convosco, diz o SENHOR Deus. Far-vos-ei passar debaixo do meu
cajado e vos sujeitarei à disciplina da aliança; separarei dentre vós
os rebeldes e os que transgrediram contra mim; da terra das suas
moradas eu os farei sair, mas não entrarão na terra de Israel; e
sabereis que eu sou o SENHOR. Quanto a vós outros, vós, ó casa de
Israel, assim diz o SENHOR Deus: Ide; cada um sirva aos seus
ídolos, agora e mais tarde, pois que a mim não me quereis ouvir;
mas não profaneis mais o meu santo nome com as vossas dádivas e
com os vossos ídolos. Porque no meu santo monte, no monte alto de
Israel, diz o SENHOR Deus, ali toda a casa de Israel me servirá,
toda, naquela terra; ali me agradarei deles, ali requererei as vossas
ofertas e as primícias das vossas dádivas, com todas as vossas
coisas santas. Agradar-me-ei de vós como de aroma suave, quando
eu vos tirar dentre os povos e vos congregar das terras em que
andais espalhados; e serei santificado em vós perante as nações.
Sabereis que eu sou o SENHOR, quando eu vos der entrada na terra
de Israel, na terra que, levantando a mão, jurei dar a vossos pais.
Ali, vos lembrareis dos vossos caminhos e de todos os vossos feitos
com que vos contaminastes e tereis nojo de vós mesmos, por todas
as vossas iniqüidades que tendes cometido. Sabereis que eu sou o
SENHOR, quando eu proceder para convosco por amor do meu nome,
não segundo os vossos maus caminhos, nem segundo os vossos
feitos corruptos, ó casa de Israel, diz o SENHOR Deus”.
A Igreja aos poucos é tirada do deserto da Apostasia e reconduzida ao
caminho da promessa do Reino. Por isso mesmo, não deixa de ser
significativo que um ex-sacerdote romano tenha sido usado por Deus para
dar a primeira revelação redentora: a salvação pela fé, através de Martinho
Lutero (1517). Também Wycliff, Huss, Zuínglio (1525), João Calvino (1533)
João Knox (1540). Sucessivas revelações vêm restaurando o que
necessariamente não é novo, apenas estava encoberto. Assim nos séculos
seguintes, a Igreja voltou ao arrependimento de obras mortas, à pregação
de conversão a Cristo e a santificação (pietismo) promovida pelos
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O Evangelho da Igreja Primitiva
Avivalistas: Conde Zinzendorf (Morávios-1722), Jonathan Edwards (1735),
Jonh Wesley (1738), Charles Finney (1825), etc...
Recentemente, no final do século XIX e início do XX, deu-se a restauração
dos dons espirituais, chamado “Novo Pentecostes”, ou Movimento
Pentecostal Moderno. Em 1906, na missão situada na Rua Azusa em Los
Angeles, aconteceu o Avivamento que é o marco, o surgimento das grandes
Igrejas Pentecostais. Por fim, podemos verificar a “grande obra” de
reedificação que o Senhor vem fazendo na sua Igreja, porém falta o último
grande ato, antes da vinda do Senhor; a restauração do próprio Evangelho.
Mateus 24:14 dispõe a ordem dos acontecimentos finais:
“E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para
testemunho a todas as nações. Então, virá o fim”.

Porém, o Evangelho do Reino, apagado pela Apostasia, só poderá ser


pregado se a Igreja tiver conhecimento dele. Essa é a última revelação dada
pelo Pai, agora no final do século passado e início deste, o Evangelho que
precisou ser trazido de volta à terra pelo anjo:
Apocalipse 14:6-8. “Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um
evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a
cada nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo, em grande voz: Temei
a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo; e adorai
aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas.
Seguiu-se outro anjo, o segundo, dizendo: Caiu, caiu a grande
Babilônia que tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria
da sua prostituição”.

Amados de Deus, essa é a última hora, tome posse da revelação do


Evangelho do Reino de Deus e assuma o: “Ide e pregai a todo o mundo”; a
fim de que derrotemos definitivamente todo o Império do Anticristo e o
Reino de Cristo se estabeleça. Que assim seja, Maranata! Amém.

Bibliografia
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Atlas Vida Nova. Vários. Segunda edição. Edições Vida Nova. São Paulo, 1998.

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O Evangelho da Igreja Primitiva

- 2017 -

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