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Coleção

O FIM DO MUNDO
2

A Profecia
Verdadeira

Jonathan R. Cash

Danprewan Editora

2010

A profecia se cumpre.
Os piores dias para a humanidade chegaram

Digitalizado por Lucia Garcia


Reformatado por sssuca
Dedicatória
Dedico este livro à minha querida esposa, Tina. Agradeço pelo
apoio necessário para vencer a maior barreira que já tive de transpor:
escrever um livro desta profundidade e magnitude. Quero incentivar a
todos que já tiveram o sonho de ter o seu lugar ao sol para que metam
mãos à obra! Envolvam-se com pessoas que digam "sim" em vez de
envolverem-se com aquelas que dizem "não"! Também quero agradecer a
Deus por nos deixar Sua Palavra, a Bíblia. Sem ela, eu seria como um
navio sem leme ou um carro sem estrada.

Agradecimentos
Muitos agradecimentos especiais ao nosso fiel Senhor. A nossos
pais, Bob e Terry Cash, Gloria Tuccille e Bob Tuccille, recém-falecido; à
vovó Geneva Price; à tia Lillie BeBe Woodhouse; à família da igreja e à
equipe da Atlantic Shores e a todos os amigos e familiares que nos
ajudaram neste empreendimento difícil, porém emocionante.
Agradecimentos especiais a Gini Ward por sua assistência
editorial, a seu marido, Craig, por sua paciência e oração, e a Suzie Hardy
e Bridget Shaffer que nos ajudaram imensamente.
Agradecimentos a Craig Minton pela foto de Jon.
O livro do Apocalipse sempre foi motivo de curiosidade e temor
para as pessoas, porém de fé e esperança para os cristãos — que nele
encontram a declaração da vitória final de Cristo sobre o mal.
Se, por um lado, temos certeza de que o registro do Apocalipse é
fidedigno, há uma pergunta: como, porém, aqueles fatos pré-anunciados
ocorrerão? É impossível responder a isso com certeza, mas pode-se
imaginar. Porém, nada do que se imagina certamente chegará próximo
da realidade... quando chegar o momento.
Neste primeiro volume, temos um planeta muito diferente
daquele que hoje conhecemos. As nações estão divididas entre várias
etnias, religiões e vertentes políticas, tudo beira o caos por conta das
diferenças absurdas que nasceram entre os povos. No entanto, tal
situação — caótica para os homens de bem — é completamente propícia
aos inimigos de Deus, que dela se aproveitam para se fortalecer e iniciar
os primeiros movimentos que darão início à maior batalha de que se tem
notícia, revelada no Apocalipse desde o começo dos tempos: o
Armagedom.

A coleção é composta por 5 volumes: O Despertar da Escuridão, A


Profecia Verdadeira, O Mergulho no Abismo, As Armas do Anticristo, O
Juízo Final.

Sumário

1. O Grande Mistério................................................................................... 5

2. O Grande Sumiço.................................................................................. 32

3. Paciência inexplicável ........................................................................... 46

4. Paz passageira ....................................................................................... 57


CAPÍTULO UM
O Grande Mistério
Satanás estava em pé no Monte Sião e olhava para a cidade de
pedra abaixo. Sua visão de raio-x perscrutava Jerusalém. Ergueu os olhos
para o céu e observou suas tropas demoníacas travarem guerra ao redor
da cidade. De repente, ocorreu-lhe a idéia de modificar seu plano. Seria
esplêndido. Ele seria adorado ali como o era o Deus Todo-Poderoso;
reedificaria o templo e iria dedicá-lo a si mesmo.
Ele sabia que a hora não era oportuna. Seu maior espinho eram os
cristãos. Ao longo de toda a história, o poder das orações dos cristãos
havia destruído seus planos de uma nova ordem mundial.
Nabucodonozor, César, Napoleão, Hitler e Stalin foram homens segundo
seu próprio coração. Infelizmente, esses homens importantes
conseguiram fisgar apenas parte do mundo. Satanás era insaciável:
queria o mundo inteiro.
O Diabo examinou a visão que tinha. Conhecia muito bem a região
e cobiçava esta cidade e seus cidadãos que de nada desconfiavam.
— Lúcifer, Príncipe das Trevas — ressoou uma voz.
Satanás quase caiu duro. Ninguém chegava por trás dele e
sobrevivia para contar a história. Virou seu corpo devagar para, no final,
dar de frente com o arcanjo Miguel. Surpreendeu-se ao ver que a espada
do arcanjo estava guardada firme na aljava.
— Seu covarde! — praguejou Lúcifer. — O que você quer?
Miguel ignorou-o. Seu trabalho não era julgar o pecado, mas
entregar uma mensagem de seu Mestre, o Deus Jeová.
— Nosso Pai do céu...
Lúcifer abruptamente o interrompeu.
— Ele pode ser seu Pai, mas não o meu! Nunca! Os olhos de
Satanás chamejavam ódio.
— Deus Jeová quer que você se arrependa de sua iniquidade —
disse Miguel.
O Diabo sorriu, sádico.
— Arrepender-me? Do quê? O bem é mau e o mal é bom! Ele é
quem precisa se arrepender! É Aquele que não consegue administrar Seu
reino. Olhe à sua volta. A terra está caindo pelas tabelas. Seu modo de
agir não está funcionando!
Assim que Satanás deu um passo à frente, Miguel sacou sua
espada. Satanás parou e deu risadinhas.
— Tenho muito mais o que fazer do que brincar de gato e rato com
você — escarneceu Satanás.
Lúcifer foi planando para perto do arcanjo. Uma lágrima escorreu
pelo rosto de Miguel enquanto observava seu adversário.
— Lúcifer, você terá as chaves de toda a terra. Esta oportunidade
será um testemunho contra você de que o mal não irá prosperar para
todo o sempre. Quando falhar, o calabouço será seu destino. Prepare-se
para enfrentar sua sentença e seu Criador!
Satanás não disse uma palavra. Aquelas eram palavras poderosas,
mesmo vindas de um arcanjo, mas ele não guardou nenhuma delas em
seu coração. Olhou para Miguel e examinou todos os seus movimentos. O
arcanjo nunca mentira, o que era uma fraqueza, pensava Lúcifer.
— Você está me dizendo que vou governar a terra? — perguntou
Satanás, enquanto a saliva quente pingava de seus lábios ressecados.
— A Palavra de Deus profetizou isso há uns dois mil anos —
respondeu Miguel. — Você deve instruir seu coração negro a crer na
Bíblia. Seu principal assistente, General Blasfêmia, lê a Bíblia todos os
dias, e contra as suas ordens. O conhecimento dele excede o seu, mas não
se preocupe porque o mesmo nunca acontecerá pela sua arrogância.
Satanás sibilava como uma serpente tentando intimidar sua presa.
— Também tenho de acreditar que os cristãos serão arrebatados
da terra? — perguntou Satanás.
— Se Deus assim o disse, então, você pode contar com isso! —
respondeu Miguel.
Como de praxe, Lúcifer seguiu para as estrelas erguendo seu corpo
envelhecido, porém ágil.
— Então o seu Deus determinou seu destino para toda a
eternidade. Com as orações dos cristãos exterminadas e o poder do
Espírito Santo destruído, nada e ninguém poderá me impedir de
governar todo o universo — não apenas por sete anos, mas para todo o
sempre!
O tripúdio do Diabo desaparecia na noite à medida que ele corria
em direção ao norte. Sua obra havia acabado de começar.

— Essas foram as notícias desta noite — disse Ken Action,


enquanto o programa chegava ao fim.
— Voltaremos amanhã com mais notícias que afetam você e sua
família — acrescentou Sally Winter.
Os âncoras sorriram na deixa, olharam para baixo e começaram a
juntar as folhas que imitavam o script. Continuaram a encenação até a
luz vermelha se apagar.
— Bom programa — disse o diretor de palco. Sally voltou aos
princípios da ética profissional com um toque maior de sinceridade.
— Obrigado, rapazes. Divirtam-se.
Ken ignorou as brincadeiras que o pessoal sempre fazia.
Com uma raiva contida, correu para o camarim para tirar a
maquiagem do rosto. Sally vinha logo atrás dele, abatida, confusa, mas
preparada para a briga. Esperava que ninguém tivesse notado a tensão
que havia entre eles. Assim que ela entrou na sala, Ken a ignorou. Ela
lutava para controlar suas emoções.
— Ken, você pelo menos notou minha presença?
Ele cuidadosamente retocava o cabelo. Sally bateu a porta com
força. Sem dizer uma palavra, trancou-a e foi até o balcão onde Ken se
maquiava.
— Você tem exatos dois segundos para me dizer por que está me
tratando como um cachorro que acabou de fazer pipi dentro do seu
Corvette novo! — gritou ela.
Ken estava atordoado. Era esperto o bastante para saber que o
silêncio era a pior forma de tratamento. Tentou conversar, mas acabou
balbuciando umas palavras.
— Não há nada de errado. Quero dizer, eu estou bem.
Simplesmente não consigo entender — suspirou ele. — É inútil.
O humor de Sally mudou.
— O que é inútil? Tudo acabará bem se você simplesmente me
disser o que está corroendo você.
Ken balançou a cabeça, desesperado.
— Ouça, Sally. Às vezes não consigo entender de onde você vem.
Parece que você é de outra galáxia. Tenho planos de me casar com você
no ano que vem, e veja o que acontece. Você vai e se torna uma fanática
nascida de novo! Sally respondeu de modo suave e amável.
— Eu acho que você sabe que não sou uma fanática. Nem todos os
cristãos são assim. Eu sei de seu profundo ódio por religião. E por que
não? Seu pai bebia e costumava soltar blasfêmias os seis dias da semana
e brincar de ir à igreja no sétimo dia. Eu sei que ele batia em sua mãe
quando ela não concordava com ele. Mas seu problema deve ser com ele,
não com Deus.
Ken virou-se para o espelho e olhou na direção de Sally.
Seu orgulho o impedia de olhá-la nos olhos. Era óbvio que as
palavras dela o haviam acertado em cheio.
— Olha, se você quiser ser cristã, ótimo. Isso é conveniente para
você; conseqüentemente terá mais influência. Só me prometa uma coisa.
— Prometer o quê?
— Prometa que nunca tentará me forçar a engolir esse papo de
religião.
Sally deu-lhe um abraço bem apertado.
— Alguma vez tentei mudar você ou algum de seus muitos
defeitos?
— Muitos defeitos? — replicou Ken.
— Quer uma lista? — respondeu Sally com um sorriso.
— Vá plantar batatas. Esse papo não vai chegar a lugar nenhum.

***

Roma estava agitada com suas atividades. Era início da tarde de


domingo. As famílias voltavam da igreja e os turistas se empurravam
esperando conseguir aquela fotografia perfeita.
Immanuel sentava-se numa cadeira do século V. Havia passado os
meses anteriores encantando parceiros políticos por todo o mundo. As
fronteiras entre as nações foram desfeitas por um simples traço de
caneta, embora ainda existissem obstáculos. Os Estados Unidos da
Europa precisavam de uma cirurgia plástica.
— Ele nunca demonstrará simpatia por esta idéia — dizia Dominic
Rosario, cardeal superior do Papa.
— Uma causa nobre como esta, sem dúvida, receberá endosso do
Vaticano. A paz deve ser nossa principal meta na terra — advertiu
Immanuel.
As palavras de Immanuel fascinavam o cardeal que, de uma hora
para outra, viu-se sem força de vontade e sem fé. Sua determinação se
esvaía quando estava perto de Immanuel.
— Alguns podem concordar com essa declaração, mas muitos
diriam que as leis conservadoras de Deus são nosso dever mais sagrado
— admitiu Dominic, começando a gaguejar, o que não era do feitio do
agradável cardeal.
— Eu, eu pessoalmente detesto aquela atitude do tipo "somos mais
santos do que vocês". Acredito que a Bíblia é interpretada de diferentes
formas de geração a geração, e a idéia de uma verdade absoluta já não
existe mais desde a Idade da Pedra. Entretanto, o Papa irá brigar com
você porque a doutrina dele não pode ser afetada pelo que é conveniente
em termos políticos.
Dominic era um hippie que se tornou sacerdote e esperava ser
promovido um dia. Suas maiores aspirações não eram motivadas pelo
patriotismo, pelo dever ou pela honra. Queria reconhecimento. Deus
derramara muitas lágrimas vendo este homem, que venceu na vida por
esforço próprio, passar de sacerdote a bispo, a arcebispo e, por fim, a
cardeal. Aparentemente, ele era profundamente religioso, amoroso,
caridoso e parte integral da hierarquia do Vaticano. Interiormente,
diferente do Papa, era um lobo. Dominic queria tornar-se o Papa da
Igreja Católica, independente do que isso lhe custasse. Suas palavras
astutas aliviavam a mente de Immanuel.
— Com certeza, gostaria de acompanhar sua nobre causa pela paz
sobre a terra acima de qualquer doutrina religiosa.
Immanuel pôs as mãos fechadas sobre a mesa de marfim.
— Eu sei que seu coração aspira à liderança da Igreja Católica
disse Immanuel. — Suas aspirações são nobres, mas não perspicazes.
Suas palavras astuciosas deixaram Dominic nervoso, porém
curioso.
— Eis uma declaração interessante. Como alguém com sua
capacidade intelectual sugere que não tenho visão? — perguntou.
— Minhas idéias e meus sonhos estão em um nível completamente
diferente. Sua meta se concentra apenas no topo do iceberg.
Os olhos de Immanuel chamejavam raiva.
— Como você quer governar o mundo?

A certa distância, eles pareciam um enxame de gafanhotos.


Eram pretos, assustadores e estavam prontos para destruir o que
vissem pela frente. Sua fome insaciável não se concentrava na vida
vegetal, mas na vida humana, na alma da humanidade. Milhares de
demônios pertencentes às principais categorias dançavam ao som dos
rufos que vinham das tribos. Blasfêmia, que era perigoso como um leão,
inspecionava suas tropas. Em sua mente pervertida, estava determinado
a fazer com que seus demônios olhassem para ele com respeito. Jamais
esqueceria a situação humilhante a que foi exposto por Lúcifer, em que
teve de ficar de quatro em frente de seu exército.
Seus oficiais vestiam seus melhores uniformes. Um general após o
outro passava pela plataforma. Faziam continência para seu chefe e se
curvavam, mas blasfemavam em voz baixa. A distância, uma mancha
negra apontou no sol reluzente, e a cada segundo que passava, assumia
proporções cada vez maiores. Blasfêmia tomou nota do fenômeno
inédito.
— Objeto se aproximando — advertiu um vigia, que tomara
cuidado para não interromper o desfile a menos que fosse extremamente
necessário.
Blasfêmia levantou a mão no ar denso da manhã. Os demônios
rapidamente pararam.
A mão de Blasfêmia continuou suspensa. Era seu símbolo de
autoridade, semelhante à continência dos nazistas durante a Segunda
Guerra Mundial. Acompanhou o objeto com os olhos, que enxergavam
longe. Ficou cada vez mais enfurecido à medida que o objeto começava a
ser identificado. De repente, abaixou o braço, aborrecido. Um general
que estava perto da plataforma se manifestou.
— Tropas inimigas, senhor?
— Não! — berrou Blasfêmia. — É um demônio, um dos nossos! Ele
está com um tremendo problema. Evitou ordens e perturbou meu desfile.
Blasfêmia não se importava com o desfile. Apenas queria seu
momento de fama e glória. O demônio aproximou-se.
— O que você está fazendo? Você acabou com o clima de festa! —
bradou Blasfêmia.
As ondas de choque que vinham de seu bramido quase fizeram o
demônio ter um ataque de nervos. Ele se esforçou para retomar a
compostura à medida que se aproximava do espaço aéreo restrito de
Blasfêmia.
— Mestre, notícias urgentes! — anunciou o demônio sem fôlego.
— Uma delas é: você está morto! — vociferou o general.
Avançou no pescoço do jovem demônio, que se esquivou no
momento certo.
— Senhor, o medo que tenho de Satanás, Rei da Potestade do Ar,
deve ser maior do que o medo que sinto do senhor e de suas ordens —
replicou o mensageiro.
Blasfêmia espantou-se.
— O que Satanás tem a ver com isto? — perguntou o estúpido
demônio de Lúcifer.
— Ele quer vê-lo imediatamente. Disse para largar tudo o que está
fazendo e apresentar-se em seu quartel.
— Bom trabalho, recruta — elogiou Blasfêmia, voltando-se para a
multidão.
— Voltem aos seus postos, companheiros. Estarei de volta antes de
o sol se pôr no céu.
Disparou em direção ao ar segundos depois. Seu destino era
Israel. Consultando seu relógio, percebeu que levaria trinta e cinco
segundos para percorrer uma distância de quase mil quilômetros. Era
tempo suficiente para formular um plano. Fez força para projetar
novamente seus processos mentais. Não havia espaço para o ego; o plano
envolvia humildade. Assim que chegou à fronteira de Israel, começou a
descer na terra seca do Mar Morto. No passado, nunca havia entendido
por que Satanás escolhera este lugar para chamar de lar. Mais
recentemente, sua leitura da Bíblia havia apresentado algumas
possibilidades. Imaginou que a ojeriza de Satanás à água pudesse partir
do princípio de que a Palavra de Deus sempre foi simbolizada por ela.
Satanás odiava Deus e Sua Palavra. Conseqüentemente, detestava água.
Nesse caso, é claro que alguém se sentiria mais à vontade onde não
existisse o menor vestígio de água e onde seus efeitos de nada valessem.
O deserto da Judeia era o "lar, doce lar" de Satanás. Sua caverna dava
vistas para o Mar Morto.
Enquanto descia no buraco subterrâneo de Satanás, a mente de
Blasfêmia divagava. Sonhava com o dia em que seria adorado como
Deus. Imaginara o Deus Jeová. E por que não? Ele havia decorado a
Bíblia do começo ao fim. Além disso, estava começando a entender o
mecanismo interno e os pontos fracos de seu líder, Lúcifer. Sua decisão
de destruir Satanás ganhava força a cada dia.
Blasfêmia encontrou a caverna e seguiu por ela até chegar ao
centro da terra. Era tão ágil quanto um morcego. Seu corpo espiritual
resistia ao intenso calor e à pressão do centro do planeta. O ar quente das
entranhas da terra era-lhe agradável. A caverna parecia uma cidade.
Tinha aproximadamente dez metros de altura, de comprimento e de
largura. Moldado em forma de uma bola de cristal, o centro da câmara
tinha uma montanha de cristal que chegava a mais de dois mil metros de
altura e ficava em cima de um rio de lava, que fluía ao redor da base desta
superestrutura. A montanha mágica parecia um castelo medieval
adornado de ouro e prata.
Blasfêmia reduziu a velocidade ao se aproximar da sala do trono
de Satanás. O trono estava localizado no centro geográfico da terra.
Blasfêmia havia estado no calabouço do Diabo apenas em outra ocasião.
Lembrou-se nitidamente dos detalhes daquele dia, que estavam gravados
em sua mente como uma marca. O incidente ocorrera há quase dois mil
anos — no dia em que Jesus Cristo foi pregado na cruz. O que pensaram
ser o maior plano de guerra que Satanás já havia maquinado foi
aniquilado sem nenhum esforço de guerra. Durante o terceiro dia da
suposta vitória dos demônios, o inferno em peso ficou de pernas para o
ar. Jesus havia ressuscitado dos mortos. Ele havia vencido a morte! Sem
dúvida, Satanás havia mentido sobre isso para as tropas ignorantes que
estavam sob seu comando, mas Blasfêmia e muitos de seus amigos mais
próximos sabiam a verdade. No entanto, essas lembranças foram
desaparecendo à medida que ele se aproximava do trono de Lúcifer.
O Mestre do Mal estava grudado à cadeira de mármore negro,
analisando seus planos de guerra para a conquista do universo. Sua
cabeça estava mergulhada na papelada e apenas seus chifres podiam ser
vistos. Seus olhos deixaram a parte inferior das informações do seu
serviço de inteligência e se ergueram.
— Blasfêmia, onde você estava? — repreendeu Satanás. — Você
sabe o que faço com recrutas que me deixam esperando!
Blasfêmia permaneceu calmo assim que pousou. No mesmo
instante, caiu de joelhos e curvou-se. O general com cinco insígnias
pensou que seria melhor arrancar os próprios olhos do que perfazer essa
rotina de infâmia.
— Mil perdões, grande sábio — alcovitou Blasfêmia.
Satanás nem ligou para o gesto de seu subordinado. Ficou mais
irado.
— Não me venha com essa droga de humildade! Eu sei que você
odeia minha coragem tanto quanto, senão mais, do que odeia Deus
Jeová!
O general não recuou, enquanto o Diabo apontava seu dedão
esquelético para ele.
— Apenas lembre-se de quem é seu chefe. Tenho poder para
destruir sua alma!
Blasfêmia permaneceu de joelhos. Lembrou-se das inúmeras vezes
que Satanás ameaçara a ele e a outros com seu poder de reduzi-los a
átomos. Ninguém no inferno já tinha colocado à prova sua decisão de
usar seu misterioso poder. Seria um genocídio.
— No que posso lhe ser útil? — sorriu Blasfêmia.
— Você pode começar limpando esse sorriso estúpido da cara —
gritou Lúcifer.
O sorriso se foi no mesmo instante.
— Chega de encenação! Há muito trabalho a ser feito. Não sei
quanto tempo temos antes de o campo de batalha estar pronto, mas é
provável que não demore muito.

Satanás atirou alguns mapas do Oriente Médio e da nova Europa


para Blasfêmia.
— Precisamos intensificar as tropas seis vezes mais nessas áreas.
— Satanás ficou perturbado com o fato de Blasfêmia não mostrar reação
alguma para com os mapas diante dele.
— Tire seu nariz do chão e olhe para esses mapas, seu idiota!
Blasfêmia obedeceu sem dizer uma palavra.
— Convoque mais demônios da América do Norte e do Sul, da Ásia
Oriental e da África, caso seja necessário.
Fez um círculo ao redor da Europa com uma caneta cheia de
sangue.
— Esta área deve estar sob nosso controle primeiro. Os demais
países virão em fila assim que os idiotas comprarem meu plano.
Satanás observava seu reflexo no chão de cristal. O orgulho de seu
coração o fazia bater disparado. Ele adorava ficar contemplando a si
mesmo.
— A que ideia o senhor está se referindo, mestre? — perguntou
Blasfêmia.
Satanás voltou-se para o planejamento que tinha em mãos. — Meu
plano na terra pode ser efetuado apenas por um escolhido. Nossos
agentes devem trabalhar de comum acordo com ele e com seu mestre
espiritual.
— Acredito que esteja se referindo a Immanuel. Mas quem será
este homem religioso?
Satanás recebeu com alegria a pergunta.
— Sim, Immanuel cuidará da fraude política. Um homem
chamado Dominic Rosario cuidará da parte religiosa. Você irá encontrá-
lo no Vaticano.
— No Vaticano! — exclamou Blasfêmia. — Que plano genial! Eles
têm a infra-estrutura de que precisamos para capturar o planeta!
Os dedos mutáveis de Satanás batiam no trono sólido
acompanhando uma melodia diabólica. Seus olhos estavam perturbados,
expressando um entusiasmo corrompido.
— Temos de casar os dois — proclamou Lúcifer.
As palavras foram direto para a mente de Blasfêmia, que fez uma
pausa para pensar na idéia, tentando juntar as palavras com cuidado.
— Não consegui acompanhar sua analogia, grande mestre.
Saliva quente pingava das presas de Satanás.
— É claro que você não consegue acompanhar minha analogia.
Desde o dia em que o contratei para liderar minha ação, você não tem me
seguido em seu coração. Você é um estúpido, obstinado, um sujeito que
serve a si mesmo e está esperando o momento propício. Você é tão cego
quanto aqueles homens vazios que adoram o Deus Jeová!
Lúcifer levantou-se.
— Sem mim, você nunca herdará a terra! Sem mim, você rastejaria
como um verme em seu próprio excremento. Você não tem capacidade
para governar reino algum, exceto aquele que está em seu mundo da
fantasia!
Quando terminou de liberar sua ansiedade contida, o Diabo caiu
estatelado em seu trono e relaxou. Gostava de ver Blasfêmia se
contorcendo.
— Blasfêmia, seu trabalho consistirá em combinar a fraude
política e a religiosa em um belo homem de aceitação mundial que será o
Anticristo. A humanidade com morte cerebral não seguirá um político
partidário do internacionalismo sem uma base de valor que induza seu
coração e sua mente. Meu profeta e meu rei devem trabalhar em
conjunto.
Satanás riu.
— Você vai garantir meu sucesso plantando sementes de euforia.
Quero que tudo o que cheira a Deus Jeová seja arrancado e queimado.
Seduza-os com visões de alegria, engane-os com promessas de paz e
vença-os pela mão de ferro da crise econômica.
Blasfêmia estava espantado. Tudo acontecia como prenunciava
um trecho da Bíblia. Satanás teria lido a Palavra de Deus? Será que o
Deus Jeová tinha mesmo o poder de prever o futuro?
— Vou cumprir todos os seus caprichos com diligência e
escravidão — confortou Blasfêmia.
Toda palavra que deslizava pela língua de Blasfêmia penetrava em
Satanás.
— Saia já do meu castelo, seu impostor! Volte com a vitória ou vou
buscar sua cabeça!
Será que ele deveria mencionar a arca e Bin mingham? "Não!" —
raciocinou Blasfêmia. "Lúcifer acabaria colocando tudo a perder."
Blasfêmia curvou-se. Seu rosto desapareceu sob seu corpo oleoso.

Dominic queria saber se estava sonhando. Governar o mundo?


Como? O mundo era um lugar tão grande e diversificado. Será que ele
não passava de um louco extremamente ambicioso? A vida passava-lhe
diante dos olhos enquanto conversava com Immanuel.
— Os únicos homens que tentaram uma coisa dessas estão mortos,
são decadentes ou são considerados uns patifes pelo planeta Terra.
Usaram todos os artifícios macabros para cumprir seu programa de
destruição. Sou um clérigo, um homem de Deus!
Immanuel soprou uma nuvem de fumaça de seu cigarro, para
humilhação de Dominic.
— Não me venha com essa de religioso da boca para fora. Acabe
com essa fachada. Essa droga de Deus não vai levá-lo a lugar nenhum
comigo! Você sabe tão bem quanto eu que Deus é impessoal e habita
dentro de cada um de nós. O Deus dos cristãos foi o responsável por mais
guerra e pobreza do que todos os pagãos juntos! Precisamos de algo
novo, diferente e forte!
O entusiasmo de Immanuel espalhava-se rapidamente pela alma
de Dominic, mas ele continuou a fazer o jogo de um inocente observador
que estava curioso.
— É claro que você conhece a teologia da Igreja Católica. Deus, o
Pai; Jesus, o Filho e o Espírito Santo. E não esqueçamos a importância de
Maria.
Immanuel foi cuidadoso para confundir, porém, sem provocar o
orgulho de Dominic.
— Não me venha com esse papo furado, cara! Procurei você para
que mudasse a Igreja Católica e construísse um império de uma religião
universal.
Uma expressão de confusão e vidência ofuscou o rosto de
Dominic.
— Aqueles que tentaram governar o mundo encontraram um
abismo intransponível pela frente — disse Immanuel. — A igreja não
estava atrás deles, nem poderia. As igrejas no mundo nunca tiveram o
poder de controlar o pensamento nem o comportamento moral do
planeta. Sua base de poder sempre se dividiu em denominações.
Protestantes, católicos, muçulmanos, hindus, judeus e budistas nunca se
viram olho no olho. Sem o endosso deles, a única coisa que
conseguiremos será outra guerra mundial!
Dominic estava fascinado.
— Os ditadores nos livros de história conseguiram prender o
coração e a mente de uma, ou talvez duas dessas crenças, mas nunca
todas elas. Em vez de destruir ou subjugar a igreja, devemos transformá-
la em um império mundial!

O coração desprezível de Immanuel batia acelerado. As veias de


sua cabeça pulsavam. Nenhum deles disse uma palavra. Eles olhavam um
para o outro, como lutadores em um campeonato. O magnetismo que
emanava da sala desconcertava o ritmo natural do mundo.
— Você está falando de um Papa para o mundo inteiro? —
concluiu Dominic.
— Sim e não — resmungou Immanuel. — Pensando em mundo,
sim. Papa, não!
— Então, por que você está me pedindo para usar minha
influência? — perguntou Dominic, agora extremamente enérgico.
Immanuel sorriu malicioso, deixando Dominic irritado.
— Quero que você seja líder de uma religião universal que
combine todas as principais religiões mundiais em uma poderosa
máquina evangelística e política.
Dominic parecia mais perplexo do que nunca.
— Parece uma ótima idéia, e estou certo de que parece boa no
papel, mas, afinal de contas, como iremos convencer aqueles fanáticos
religiosos a embarcar nessa? Eu teria de ser deus para conseguir isso!
Immanuel bateu de leve no joelho.
— Sim, teria.
— Quero proteger Sally. Ela é tão meiga e amável, e tão diferente
daquele bruto do Ken — lamentava Daniel.
Timothy tentou ignorar a choradeira de seu aluno. Daniel não se
intimidou com o silêncio do mestre. Era um rapazinho que, de vez em
quando, soltava as suas e procurava conseguir a atenção total de seu
mestre. Daniel continuou a voar ao redor de Timothy, que estava sentado
em um supercomputador da sala de redação. Timothy teve vontade de
dar uns tapas no anjo, mas resistiu à tentação. Continuou a analisar os
planos que lhe haviam sido submetidos pelo alto comando de Missouri.
— Meu coração simplesmente não está nesse negócio. O próprio
Ken faz parte de um covil de cobras — precipitou Daniel.
Timothy colocou a caneta sobre a mesa.
— Se ama o Senhor, e Sally, você irá responder às orações dela. Ela
vem orando incessantemente, pedindo proteção e luz para Ken. Seu
dever é obedecer a Deus e entregar esta oração.
Daniel levantou a cabeça. Mais uma vez sentiu vergonha de si
mesmo.
— Vou lhe dizer o que fazer — convenceu-se Daniel. — Vou
guardar os dois. Preciso dessa experiência, e você, de umas férias. Você
trabalha demais, dia e noite.
Timothy olhou para o jovem companheiro. Não era necessário
dizer uma palavra. Daniel entendeu claramente a mensagem.
— Vou guardar Ken — suspirou o anjo imaturo.
— Isso é bom — disse Timothy. — Eu sabia que você veria isso da
perspectiva de Deus. Faça o possível para manter aquelas pestes de
demônios longe da mente dele. Sem você, eles infestariam todas as
células cerebrais daquela cabecinha imunda.

— Alguns chamariam isso de blasfêmia — respondeu Dominic.


Immanuel estava preparado para rebater a linha de pensamento
previsível de Dominic.
— Deixe-me lhe fazer uma pergunta. Jesus Cristo foi Deus ou
homem?
Dominic demorou a responder. Ponderou sua resposta,
preocupando-se mais em ser político do que dizer a verdade.
— Os estudiosos da Bíblia vêm divergindo sobre esta controvérsia
há séculos. Agora, a posição oficial da Igreja Católica foi estabelecida há
15 anos. Jesus era homem e Deus.
— No que você acredita? — aliciou Immanuel.
O cardeal freneticamente observou a linguagem corporal de
Immanuel. Precisava dizer-lhe o que ele queria ouvir.
— A resposta é clara para aqueles de nós que têm sido iluminados.
Ele foi homem, com potencial divino. Ele não foi Deus, mas exerceu com
perfeição sua natureza divina.
Com esta resposta, ele conseguiu prender a atenção de Immanuel
e não estava a fim de desviá-la.
— Todos nós temos o potencial para exercer a natureza divina,
contanto que estejamos ligados à Mãe de toda a criação, que é a terra.
Além disso, temos de manter contato com nosso ser interior, permitindo
que as energias espirituais e de cura permeiem nosso espírito e nossa
alma. Jesus sabia essas verdades ocultas e as utilizou ao máximo para
declarar sua natureza divina. Immanuel estava satisfeito.
— Esta não é a teologia padrão pregada pelo Vaticano, Dominic.
O corrupto cardeal diria qualquer coisa que fosse necessária para
alcançar seus objetivos de poder e prestígio.
— Recebi meu grau de mestre na Índia. Podemos aprender muito
sobre Deus com o sistema religioso hindu. Chegar aos poderes divinos
por meio da meditação é mais aceitável do que adorar a Deus por meio de
uma morte sangrenta.
Immanuel levantou-se, indicando que estava de saída.
— O plano está fechado. Você será meu braço direito.
As sobrancelhas de Dominic soçobraram.
— Plano? Que plano?
Immanuel dirigiu-se à porta.
— Meu parceiro entrará em contato.
— Quando? — gritou o cardeal, confuso.
— Hoje à noite, mas não espere acordado — riu Immanuel em
silêncio.

Para Sally, olhar-se no espelho era um martírio. Ela só podia


enxergar uma coisa: Ken Action. O príncipe encantado estava se
transformando rapidamente na encarnação do próprio Diabo. A fé cristã
e Ken Action não combinavam.
A porta do camarim escancarou-se. Em um estado de total frenesi,
Ken entrou às pressas para preparar-se para seus 30 minutos de glória.
Foi como se houvesse uma pessoa completamente estranha na sala. Ele
simplesmente a ignorou. As palavras não servem para nada quando o
coração é inflexível. Sally prometeu a si mesma que não daria o primeiro
passo e orou para que Ken tivesse caráter para desculpar-se por ser um
completo idiota. Sua tentativa de nada adiantou. Nada se tornou
realidade, exceto alguns resfolegos de vez em quando. Não conseguiu
suportar mais o silêncio.
— Ken, como você está se sentindo?
Daniel e Timothy flutuavam pela sala como um casal apaixonado e
livre.
— Não posso acreditar — suspirou Timothy.
— Não vi sequer a sombra de um demônio hoje.
— Acho que eles têm coisas melhores para fazer — lamentou
Daniel, deslizando na direção de Ken e observando sua reação à pergunta
de Sally.
— Diga alguma coisa boa, seu brutamontes — sussurrou Daniel.
— Eu me sinto melhor — obedeceu Ken.
O tom de sua fala colocou um sorriso no rosto de Sally. Daniel
aspirou o ar. Cheirava a enxofre. Inesperadamente, seu pensamento foi
interrompido por uma chuva de demônios, tantos que era impossível
contar. Antes mesmo de erguerem a espada, os anjos viraram uma
panqueca. Perderam a consciência sem saber o que os havia atingido.
— Vamos conversar sobre a noite passada — instigou Sally.
— É mais fácil o inferno se transformar em uma geladeira do que
eu cair nesse papo furado! — gritou Ken, completamente alterado de uma
hora para outra.
Sua resposta repulsiva foi como uma faca apunhalando a alma de
Sally.
Um assistente de produção colocou a cabeça na sala sem perceber
a reação de Sally.
— Cinco minutos para entrar no ar.
— Tudo bem — disfarçou Sally.
As lágrimas haviam borrado sua maquiagem. Sally orou ao Senhor
pedindo paz. Milagrosamente, o choro cessou. Ela rapidamente
consertou o estrago do rosto e seguiu para o estúdio.

Dominic relaxava em seu confortável apartamento no Vaticano.


Descansava confortavelmente em sua poltrona enquanto alternava entre
os canais de seu sistema internacional a cabo. Os olhos cansados
passavam de relance, pela milésima vez, no relógio de cristal que estava
sobre a cômoda. Eram 23 horas, e nenhum convidado especial aparecera.
Dominic esfregou os olhos inchados, apertou o botão do controle remoto
para desligar a televisão e preparou-se para dormir.
O arcanjo Miguel andava pelo chão dourado do lado de fora da
sala do trono de Deus. Minutos antes, recebera ordens do próprio Cristo.
Aguardavam instruções para se reunirem às 23h55, no horário de
Jerusalém, do lado de fora da sala onde estava guardada a trombeta.
Instantes depois, a luz da sala do trono inundou o ambiente de
forma quase ofuscante. Jesus se aproximava. O arcanjo, seguindo seus
instintos, caiu de joelhos em sinal de humilde obediência.
O Rei dos Reis e Senhor dos Senhores entrou no corredor.
Seus olhos brilhavam como fogo, embora mostrassem ternura e
bondade. Ele parecia um homem, mas estava tomado pela presença do
Deus Todo-Poderoso. Não era necessário soar a trombeta, estender o
tapete vermelho ou contar com a ajuda de guarda-costas robustos. Cristo
não precisava de nenhum sinal humano de divindade para provar Sua
natureza divina. Ele era quem era.
— Miguel, meu amigo. É bom vê-lo. Venho acompanhando você
com cuidado no decorrer dos séculos. Você tem servido a Meu Pai e a
Mim da forma mais admirável possível. Bom trabalho, servo bom e fiel!
As palavras de Jesus consolaram Miguel.
— Eu Lhe agradeço, do fundo do meu coração, por permitir que eu
Lhe sirva.
Miguel continuou de joelhos.
— Por favor, levante-se, Miguel.
O pedido de Jesus foi uma ordem para o arcanjo, que deu um salto
e se pôs em pé. Jesus sorriu, fazendo com isso que lágrimas escorressem
pelo rosto de Miguel.
— Chegou a hora — ordenou Jesus. Pegue a trombeta de ouro
reservada para esta ocasião e siga-me pelos céus.
Miguel correu até a sala bem decorada em que se encontrava a
trombeta, pegou o instrumento perfeitamente afinado com as duas mãos
e seguiu Jesus.
— Miguel, assim que o relógio celestial bater meia-noite, toque a
trombeta. Vou receber Meu rebanho, enquanto Minhas ovelhas Me
seguem para o lar.
O arcanjo sorriu, apreensivo. A história estava prestes a ser
concluída e a profecia da Palavra de Deus, cumprida.

Dominic se contorcia debaixo dos lençóis aquecidos pelo seu


corpo, sem conseguir dormir. Sua mente estava irrequieta, contudo, ele
era orgulhoso demais para orar a Deus pedindo paz. Em vez de contar
carneirinhos, ele contava rostos, rostos de pessoas que vinham até ele em
busca de orientação, libertação e até de salvação. Não demorou muito,
passou-se uma hora. A mente de Dominic apagou na escuridão da noite.
— Dominic — ressoou uma voz estranha.
— Dominic, responda, homem sobrenatural!
A voz era forte e impetuosa, mas deliciosamente convidativa.
Dominic entrou em pânico quando percebeu que não estava sonhando.
Pulou da cama e caiu no chão duro de madeira.
Um vulto de cerca de dois metros e oitenta de altura encarava o
simples mortal que tremia dos pés à cabeça, com os olhos fixos na
criatura. Uma luz parecia irradiar da região central da figura
fantasmagórica, que permanecia imóvel e em silêncio, tendo como único
sinal de vida os olhos assustadores e vagos.
— Quem... quem é você? — murmurou o sacerdote aturdido. A
figura parecia não estar disposta a responder. O silêncio deixava Dominic
ainda mais nervoso.
— Por que... por que você veio aqui? — gaguejou o cardeal. Parecia
ter-se passado uma eternidade antes de o espírito romper o indiferente
silêncio.
— Sou Jesus, a quem você ora vez por outra — fingiu Blasfêmia. A
mão de Dominic procurou, sem sorte, pelos óculos de leitura. Dominic
deixou cair a garrafa de vodca que estava perto da cabeceira. Esfregou os
olhos vermelhos.
— Venho observando você lá do céu — inventou o confidente de
Satanás. — Estou satisfeito em ver sua devoção a si mesmo, à religião, à
paz e à igualdade.
Blasfêmia precisou ter muita força de vontade para não rir.
Tentou manter o equilíbrio.
— Como vou saber se você é mesmo o Cristo? —perguntou o
cardeal contorcendo-se.
Blasfêmia estava totalmente preparado para lidar com a
incredulidade racional de Dominic.
— Eu e o Pai somos um — mentiu Blasfêmia.
— Você foi escolhido porque tem os talentos para trazer o mundo
inteiro para o nosso reino de luz. Preciso que você tome agora o próximo
passo da evolução espiritual. Você, com nossa ajuda, conduzirá a Mãe
Terra em uma jornada espiritual de proporções épicas! Preciso que você
governe o mundo comigo. Preciso de seus talentos para liderar a maior
revolução religiosa que o mundo já viu! — declarou o demônio.
Dominic ergueu a mão gelada.
— Diga, meu grande amigo — falou o espírito.
— Como serei capaz de realizar tudo isso? Você fala como
Immanuel. Existem diversas culturas, muitas religiões, várias divisões.
Todos têm sua opinião formada, mas ninguém pode provar nada. As
pessoas precisam ser capazes de sentir, e mesmo tocar Deus para que
mudem radicalmente seu modo obstinado de crer. Como eu...
Blasfêmia deu um passo inesperado na direção de Dominic.
— As respostas para todas as suas perguntas estão comigo —
respondeu o enganador. — Ponha sua mão nos buracos de minhas mãos.
Dominic fingiu ter coragem enquanto ia ao encontro de Blasfêmia
no meio do quarto. Antes mesmo de ter a chance de mudar de idéia,
Dominic colocou as mãos trêmulas nas cicatrizes que imitavam as marcas
dos cravos na cruz. Nada sentiu, senão ar. Não havia carne, nem sangue.
O outro havia-lhe prometido o mundo, e outras coisas mais. O
cristianismo não se comparava a esta experiência de vida.
— Eu creio — sussurrou Dominic.
Seus olhos ardiam de emoção. Estar em pé diante daquele que ele
julgava ser o mestre do universo passava uma borracha sobre toda a
incredulidade.
Blasfêmia ergueu a mão direita e a colocou na testa de Dominic. A
esquerda apertava a mão do cardeal.
— Você será abençoado com os mesmos poderes miraculosos que
Jesus — ele rapidamente limpou a garganta e mudou o texto —, que eu
possuía quando passei pela terra há dois mil anos. Você usará esses
milagres como um sinal para as nações que não crerem que a consciência
de Cristo habita em você. Use esse poder de acordo com a minha, eu
repito, a minha orientação.
Blasfêmia fechou os olhos e começou a entoar uma melodia em
uma língua estranha. A música emitia ondas de choque espinha abaixo
de Dominic.
— Feche os olhos e repita o que eu disser — ordenou o demônio. —
Com isto, eu entrego meu coração, minha alma e meu espírito ao príncipe
da potestade do ar, àquele que deseja paz às nações, ao único que é
mestre de seu próprio destino.
Dominic, de coração sincero, repetiu os votos de obediência ao seu
novo mestre. Sua consciência não funcionava.
Blasfêmia estava contente por ter capturado mais uma alma.
Dominic seria o catalisador que faria com que todos os seus
sonhos se tornassem realidade.
— Continue repetindo: "Farei o que estiver ao meu alcance para
promover os objetivos de meu mestre. Obedecerei às suas ordens,
preceitos e desejos que provêm de sua boca santa. Com isso, reconheço o
fato intransferível de que sou um simples humano e que ele é deus. Se for
preciso, defenderei seu reino até à morte. Prometo cumprir todas as suas
ordens oniscientes, não importa o quanto possam parecer incompatíveis
com as normas. Concordo de coração em deixar de lado minhas crenças
pessoais e segui-lo, por isso, ajuda-me deus!".
Disfarçada de anjo de luz, a serpente, que bebia a alma de suas
presas, acabara de destilar seu veneno. Dominic fizera o maldito
juramento.

Sally colocou a cabeça na sala de redação. — Quanto tempo resta?


— perguntou ela.
— Menos de trinta segundos — respondeu agitado o gerente de
produção. — Quantas vezes será preciso para que vocês, âncoras,
aprendam que levamos tempo para ajustar esse cenário?
Vocês devem estar aqui cinco minutos antes da abertura!
— Sinto muito. Não acontecerá de novo — suspirou ela.
— Dez segundos — gritou o câmara.
Sally colocou às pressas seu ponto no ouvido e o microfone na
blusa bege. Não teve tempo nem para perceber que Ken estava perto
dela, rindo maliciosamente de toda aquela situação ridícula.
— De olho na câmara dois.
— A seguir, no seu noticiário das seis — anunciou Ken Action,
reservado e elegante —, uma tendência universal que dispensa o saque ou
uso de dinheiro. Veremos os pontos altos e baixos desse projeto em
instantes.
— Iremos levado a uma igreja local que foi forçada a fechar as
portas. Justiça ou correção política? Teremos as duas versões desse
drama em instantes.
Sally voltou-se para Ken.
— Também teremos o que há de mais novo sobre a nova classe de
supercomputadores. É moral a fusão entre homem e máquina?
Ken fez uma pausa e voltou-se para Sally.
— Tudo isso, além da seção de esportes e meteorologia, em
instantes.
A luz da câmara apagou milissegundos antes de ambos desfazerem
o sorriso.
— Tudo bem, pessoal. Dois minutos para a abertura do bloco de
notícias — disse o gerente de produção.
Sally olhou de relance na direção de Ken. Queria dizer tanta coisa,
mas logo a sombra escura da realidade apareceu. O coração de Ken
estava tão duro quanto uma pedra.
— Ainda vamos jantar juntos esta noite? — sussurrou Sally. Ken
preferiu deixá-la ansiosa.
— Vou pensar no caso — brincou ele, sorrindo entre os
sentimentos de raiva retida que o estavam consumindo.
— Sally, lembre-se de levar uma muda de roupa para nosso
passeio ao rio neste domingo de manhã.
— Ken, você se importa se formos à tarde? Quero ir à igreja de
manhã — disse ela, pensando que, se ele realmente a amasse, iria
compreender.
O sorriso malicioso e indiferente estampado no rosto de Ken
deixou transparecer muita coisa sobre o futuro dos dois. Ele agia como
um imbecil. Recusava-se a agradá-la, preferindo revisar seu script para o
programa a ser apresentado.
— Trinta segundos — anunciou um câmara. Sally desistiu de
tentar romper a parede de
pedra que se interpunha entre os dois.
Já eram 18h07. O artigo de Sally sobre religião era o próximo
assunto da pauta. Como não estava no foco da câmara, ela retocava o
batom que acabara de passar nos lábios ressecados. Um cameraman
sugeriu que se preparasse.
— A liberdade religiosa tem sido o ponto crucial da valiosa
Declaração de Direitos dos Estados Unidos. Desde o nascimento desta
grande nação, nosso país tem se exposto às intempéries de guerras
internacionais, guerras civis e grandes crises econômicas. Hoje, a maré
parece estar tomando outro rumo. As igrejas espalhadas por todo este
campo frutífero estão lutando pela própria sobrevivência como...
Ken estava com a cabeça enterrada em seu script de reportagens,
mal percebendo que Sally não havia completado sua frase.
— Oh, meu Deus! — gritou um câmara.
Ken não podia acreditar no que acabara de ouvir. Como o
cameraman teve coragem de gritar com toda a força de seus pulmões
enquanto o noticiário ainda estava no ar? Tirou às pressas a cabeça da
cópia das notícias. Seu coração batia forte. Saiu em disparada da cadeira
em estado de choque. Sally se fora, evaporou-se, desaparecera. Sua blusa,
calças, sapatos e jóias ainda continuavam na cadeira. Parecia que seu
corpo havia passado cuidadosamente pelas suas roupas e desaparecido.
O diretor, de pensamento rápido, encerrou aquele programa de
televisão que ficaria na história. Ninguém disse uma palavra. O estúdio
estava abalado. Todos os olhos estavam grudados na cadeira. O pânico
tomou conta de Ken, que não conseguia encontrar uma explicação
racional. Em desespero, tentou controlar sua respiração.
— Para onde ela foi? Isso é algum tipo de brincadeira de mau
gosto? Quero respostas, agora!
O acesso de raiva de Ken misturou-se com o total silêncio que se
instalou no estúdio.
— Vejam! Stephen e Ben se foram também! Tenho certeza de que
os vi ali, no escritório, há alguns segundos! — gritou Cammy,
desesperada.
A produtora estava tremendo. Sua mão tremia muito enquanto
apontava para o que era evidente.
— Vejam as roupas deles ali!
Ken tentou controlar aquela situação maluca. Gritou com um
produtor que estava por perto.
— Vá até as redes de notícias e veja o que estão dizendo!
Olhou ao redor da sala de redação. Todos olhavam para ele. Era
sua hora de bancar o herói.
— Vamos voltar ao trabalho agora mesmo!
Ken alisou as rugas de seu terno italiano, sentou-se à mesa dos
âncoras, resistindo à tentação de olhar para o que sobrara de sua noiva.
Com um toque de mestre, ele conseguiu acalmar suas emoções.
— Podemos recomeçar em trinta segundos? — perguntou Ken
para o grupo de assistentes de palco, que se olhavam entre si
completamente desnorteados. Todos queriam saber como ele conseguia
abrir e fechar seu coração como se fosse uma torneira. Após uma rápida
conversa com o produtor, eles fizeram um sinal de aprovação com o
polegar voltado para cima na direção de Ken. Ele endireitou a gravata,
esfregou os dentes com o polegar e limpou a garganta.
Inesperadamente, um som estrondoso de arrebentar os ouvidos
fez o chão e seus nervos tremerem.
— Que droga de barulho é esse? — praguejou o âncora irritado. Os
membros da equipe da sala de redação abandonaram suas posições e
correram para as janelas. O pânico e o medo tomaram conta deles.
A alguns quarteirões dali, perto do barzinho predileto que
frequentavam depois do expediente, tudo estava destruído. Seus olhos
acompanhavam uma chama de fogo de sessenta metros de altura que
dançava atravessando as ruas repletas de sangue, que perigosamente
ficavam perto do estúdio.
— M... meu Deus, o que aconteceu? — disse gaguejando um
produtor.
Ken examinou os escombros. Era impossível compreender o que
havia acontecido. Tirou os olhos das chamas. A uns quatro metros de
distância, viu um pedaço de metal preso entre as ferragens de uma
construção. Notou a inscrição "797".
— Era um jato! — disse Ken.
Sua voz foi firme, mas estranhamente desprovida de qualquer
sentimento humano. Deu as costas para a terrível cena, caminhou até a
mesa de notícias, depois deu meia-volta.
— Voltem para seus lugares! Este evento é a reportagem do século
para essa região. Temos de colocar isso no ar agora mesmo!
Ken estava gritando com toda a força de seus pulmões.
— Charlie e Doug, peguem seu equipamento de filmagem e corram
para a cidade. Quero fotos, reações, pessoas!
A ordem de Ken Action foi ignorada ou nunca foi ouvida. Todos
estavam com os olhos fixos na tragédia da humanidade.
— Charlie, Doug, vocês estão me ouvindo?
— O que você disse? — perguntou Charlie.
Charlie estava nitidamente irritado com o tom de Ken.
Sempre odiara sua personalidade egoísta e sentia inveja do
dinheiro que ele ganhara.
— Nunca mais me mande de lá para cá, seu egoísta que não
consegue tirar os olhos do próprio umbigo. Você não é e nunca será meu
chefe!
Ken espantou-se com o ataque emocional de seu colaborador.
Ainda assim, continuava desinteressado pelo cenário de destruição.
— Você disse que quer fotos de pessoas? Não restou ninguém! —
bradou Charlie.
Ken evitou a confrontação fixando os olhos no grupo.
— Ouçam, pessoal. O produtor executivo e o diretor do noticiário
se foram. Só Deus sabe para onde. De acordo com nosso regimento
interno, eu assumo a direção, pelo menos sob as atuais circunstâncias.
Precisamos...
O discurso de Ken foi interrompido por uma série de fortes
explosões. As ondas sônicas de choque estilhaçaram as janelas. As luzes
tremeram e se apagaram. Segundos depois, voltaram a acender assim
que o gerador secundário esforçava-se por funcionar.
Ken continuou.
— Precisamos nos concentrar. Temos de colocar esta catástrofe no
ar assim que...
Charlie pulou em Ken. Ele tinha 36 quilos a mais e era uns 15
centímetros mais alto que Ken. O câmara colocou o dedo quase na cara
de Ken e o agarrou pelo colarinho.
— Ouça aqui, engraçadinho! Aquelas pessoas lá fora precisam de
ajuda, e é isso que eu pretendo fazer por elas agora. Para o inferno os
índices de audiência! Para o inferno você também!
Charlie olhou para seu amigo Doug e disse:
— Reúna um grupo e veja se consegue todos os extintores e kits de
primeiros socorros no prédio. Coloque algumas pessoas na cobertura e
em frente ao prédio para protegê-lo do fogo. Esse vento pode trazer
aquelas chamas para cá a qualquer momento!
Em seguida, soltou Ken. Vendo que ninguém seguia suas ordens,
Ken desistiu da idéia de assumir o controle da situação.
— Você está certo. Precisamos impedir que o prédio pegue fogo
para que possamos levar esta notícia ao ar! Alguém chame os bombeiros!
Timothy e seu assistente, Daniel, pairavam sobre os destroços
chamuscados do Boeing 797. Suas antenas espirituais procuravam algum
sinal de oração. Infelizmente estava claro que não havia sobreviventes.
Era impossível identificar o sangue e os restos mortais. Os dois choraram
pela miséria que enchia seus olhos.
— Não posso acreditar que esses curiosos não estejam fazendo
orações ao nosso Pai celestial — comentou Daniel.
Timothy balançou a cabeça. — É isto! — exclamou ele.
— Isto o quê? — perguntou Daniel.
— O arrebatamento da igreja, a noiva de Cristo — explicou
Timothy. — Há alguns minutos, vimos diante de nossos olhos inúmeros
espíritos desencarnando. Lembra-se de ter visto Sally, Ben e Stephen
passando direto pelo telhado? Eles flutuavam direto para os céus! Você
pensou que fosse alguma falcatrua de Satanás. Não era! Lembra-se do
toque da trombeta? Era o arcanjo. Era Cristo chamando Seus discípulos,
os cristãos da terra! Você não vê que estamos no início dos sete anos da
Grande Tribulação?!
O entusiasmo de Daniel desapareceu no mesmo instante em que
viu os prédios incendiando e as pessoas chorando. Virou-se para seu
mestre e disse:
— O que significa tudo isso?
Timothy colocou o braço ao redor de seu inexperiente recruta.
— Significa que os cristãos que estavam na terra agora estão no
céu. Esta é a boa notícia.
A má notícia é que eles levaram consigo suas orações.
— Isso quer dizer que não temos trabalho? — interpretou Daniel.
— Sem as orações deles, não temos força para trabalhar!
Não podemos intervir sem os pedidos de nossos santos!
Timothy sorriu para Daniel.
— O Deus Jeová previu tudo isso. Deixe-me mostrar-lhe. Pegou
sua Bíblia, que estava sob suas vestes, e abriu-a em 2 Tessalonicenses 2.7,
8.
— "Com efeito, o mistério da iniquidade já opera e aguarda
somente que seja afastado aquele que agora o detém; então, será, de fato,
revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de Sua
boca e o destruirá pela manifestação de Sua vinda".
Fechou a Bíblia e a colocou de volta no lugar onde estava. —
Percebe agora? Cristo veio para levar os cristãos para seu lar com Ele. O
"iníquo" é o próprio Satanás. "Aquele que agora O detém", ou seja, aquele
que agora detém Satanás é o Espírito Santo, por meio das orações da
igreja de Cristo. Com eles se foram suas orações, e também o poder para
deter o mal!
Daniel parecia estupefato com a explicação técnica de Timothy. E
saiu arrastando os pés pelo telhado em cascalhos.
— Então, o que vamos fazer nos próximos sete anos? Girar os
polegares por não ter o que fazer?
Timothy balançou a cabeça.
— Não, não, não! Nenhum anjo ficará sem ter o que fazer sob o
comando do Deus Jeová, fomos criados para um propósito, que é servir
ao Criador do universo. Ouça, quem somos nós para questionar Deus?
Quem é você para sugerir que Deus não está no controle desta situação?
Quem é você para ficar cabisbaixo em sua posição? Deus tem você bem
no lugar onde Ele lhe quer.
Daniel endireitou a coluna enquanto prestava atenção.
— Jesus é o Cabeça do nosso governo — con-tinuou Timothy —, se
é que se pode chamá-lo de governo. Nenhuma imperfeição cairá sobre
nós. O pecado é um fenômeno humano e demoníaco. Desemprego é
produto de uma sociedade pecaminosa. Nossos trabalhos apenas serão
mudados.
Daniel parecia ter-se convencido com a explicação de Timothy,
cujo desejo era que o aluno estivesse tão certo quanto parecia estar.
— Então, qual será nosso próximo passo? — perguntou Daniel.
Timothy fez seu irmão angelical se aproximar e colocou as duas mãos
sobre seus ombros.
— Precisamos esperar no Senhor!
Naquele mesmo instante, uma trombeta soou lá do alto dos céus.
O som encheu o ar de uma eletricidade espiritual que deixou os cabelos
dos anjos em pé. Todos os anjos espalhados pela terra ouviram o som
alto da trombeta.
— Estamos sendo chamados para a sala do trono de Deus.
Algo muito grande está para ser anunciado.
Timothy acenou para seu companheiro.
— Vamos! Quero pegar um lugar bom para esta ocasião! — gritou
Timothy.

Ken estava sentado à sua mesa com as mãos fechadas, em


profunda reflexão. Sua mente revolvia o trágico evento que sucedera há
algumas horas. Em um minuto, Sally estava lendo as notícias, no minuto
seguinte, ela se fora! Para onde? Como? Por quê? Ele estava disposto a
vender sua alma para qualquer pessoa que pudesse explicar o que
acontecera. Como gostaria de tê-la tratado melhor. Olhava ao redor da
sala de redação, na esperança de vê-la entrar e lhe dar um daqueles
deliciosos abraços.
Todo o pessoal havia deixado a sala de redação para oferecer ajuda
às pessoas do avião acidentado. As redes de notícias estavam
estranhamente em silêncio, embora estivessem funcionando bem. Ele as
verificara uma hora atrás. Esta era a parte misteriosa do enigma. Ken
telefonara para a Imprensa Associada para tentar descobrir o que havia
acontecido, mas o telefone estava fora do gancho, o que também
normalmente não acontecia. Eles não estavam enviando notícias, mas
havia notícias, e das grandes.
— Hei, Sr. Hollywood, você ficará contente em saber que salvamos
pelo menos 12 pessoas — disse Charlie, de modo sarcástico, quando
reapareceu vindo lá de fora.
Os outros rapidamente vinham atrás dele. Alguns estavam
manchados de sangue, outros estavam cobertos da cabeça aos pés de
óleo.
Uma produtora aproximou-se de Ken. Seus olhos estavam
vermelhos por causa da fumaça.
— Eu sei o quanto isso é difícil para você — consolou Cammy.
— Todos nós amávamos Sally também. Mesmo sem você nunca
demonstrar isso, eu sei o quanto a amava.
Ken ignorou o ato de compaixão de Cammy. Sua mente estava
concentrada na lembrança de Sally brincando com o cachorrinho dele,
Rambo. Cammy tentou encará-lo nos olhos, mas foi inútil. Desistiu e
deixou para trás a estátua humana. Ela entendia perfeitamente a reação
de Ken.
De repente, Ken acordou de seu transe que lhe partia o coração.
Vida corria novamente em suas veias.
— Vamos levar essa matéria ao ar — disse o âncora.
Os colegas trocaram sinais de aprovação entre si erguendo o
polegar. Seguiram para mais uma batalha entre emissoras. O momento
de lamentação de Ken se fora.
— Um minuto para entrar no ar — anunciou um membro da
equipe de palco.
Ken balançou a cabeça. Um som forte e familiar voltou a soar na
sala de redação. Era o barulho das impressoras espirrando as notícias.
Cammy correu até as impressoras, esperando recuperar outras
informações sobre a tragédia local.
— Passe-me qualquer novidade e ponha no ar — mandou Ken.
— Trinta segundos, Ken — disse o gerente de palco.
Ken olhou para Cammy com a testa franzida, mostrando irritação.
— Você não pode me trazer alguma coisa, qualquer coisa, daquela
droga de rede de notícias antes de eu entrar no ar?
Cammy olhou para o material impresso, e depois para Ken.
Puxou lentamente o papel da impressora. Suas mãos tremiam
como se tivesse acabado de ver um fantasma.
— Pronto. No ar — acenou o câmara. Ken balançou a cabeça para o
câmara.
— Boa noite, senhoras e senhores.
Ken estava em total equilíbrio, e seu modo de falar era suave e
controlado. Quase chegava a ser o desempenho de um homem que
acabara de perder o amor de sua vida. Ele olhava para a mesa. Não havia
script.
— Gostaria que fosse uma noite agradável em St. Louis — disse
Ken, fazendo uma pausa para procurar por Sally. — Vejam, há algumas
horas, muitos de vocês testemunharam o desaparecimento de Sally
Winter. — Ele se remexia na cadeira. Para mim, ela era minha noiva,
minha amiga. — Uma lágrima escorreu por seu rosto, surpreendendo a
todos, inclusive a ele mesmo. — Quero ser sincero com vocês — disse o
âncora — algo muito estranho aconteceu. Um artigo apareceu na mesa.
— Acabamos de receber esta notícia. Repórteres do país todo, e de
todas as partes do mundo, estão testemunhando enormes incêndios que
atingem cidades inteiras, desaparecimentos misteriosos de pessoas, às
vezes de famílias inteiras. (Centenas, senão milhares, de aviões caíram.
Rodovias do mundo inteiro foram bombardeadas de acidentes com
carros, caminhões e motocicletas. Ao que parece, muitos dos motoristas
deixaram o local da cena sem explicação de onde foram parar. — Os olhos
de Ken voltaram a brilhar. Ele vivia para contar matérias como esta. —
Muitas pessoas perturbadas declaram ter visto o rosto de Deus nas
nuvens. Segundo notícias, um clima eletrizante toma conta de mais de
50% dos americanos.
Ken não tinha mais o que ler.
Após um embaraçoso silêncio, ele continuou.
— Como muitos de vocês testemunharam, minha noiva, Sally
Winter, desapareceu diante de nossos olhos — gritou Ken, pegando suas
roupas que ainda estavam sobre a cadeira ao lado dele.
— Por que outros seis da equipe de televisão evaporaram da
mesma forma? Suas roupas, jóias e todos os seus bens materiais ficaram
para trás. Apenas seus corpos desapareceram! Isto não pode ser uma
brincadeira. Eu vi com meus próprios olhos!
Ken cuidadosamente colocou as roupas de Sally na mesa de
reportagem. Mesmo quando ela estava viva, ele nunca a havia tratado tão
docilmente como estava tratando suas roupas naquele momento. Outras
notícias atualizadas foram lançadas à sua frente.
— Esta notícia acabou de chegar. O Departamento de Polícia de St.
Louis está informando que a maioria das estradas que ficam dentro e fora
da cidade está intransitável. Segundo estimativas de um porta-voz,
ocorreram mais de dez mil acidentes. Muitos curiosos informaram que
carros espalhados por toda a cidade de repente perderam o controle sem
razão explicável. Muitos desses veículos foram encontrados vazios, sem
vestígios de passageiros. Um curioso emocionalmente abalado disse as
seguintes palavras: "Meu Deus, eu fiquei! O inferno está logo ali na
esquina!" É claro que este comentário é de um jovem profundamente
perturbado.
Ken tentou conter sua respiração. Pôs as mãos sob a mesa e
estalou os dedos.
— O diabo está às soltas pelas ruas. Cidadãos correm para cima e
para baixo pelas ruas da vizinhança, gritando ansiosamente por seus
entes queridos. Repórteres continuam correndo de lá para cá com
notícias de fogos incontroláveis se espalhando pelas subdivisões. Solicita-
se que os moradores permaneçam calmos.
Ken colocou a cópia das notícias na mesa e olhou seriamente para
a câmara.
— Eu seguramente acredito que descobriremos a razão que está
por trás do desaparecimento de tantas pessoas em St. Louis e no mundo.
O diretor começou a rodar o vídeo do acidente de um avião.
— Este é o cenário que temos a alguns quarteirões de nossa torre
de notícias.
Ken folheou uma pilha de papéis acumulados sobre sua mesa.
Desabotoou o colarinho, afrouxou a gravata e dobrou as mangas. O calor
das luzes fazia seu rosto suar. O olho humano não podia — e nem
gostaria — de ver a criatura que pairava sobre Ken. O assistente diabólico
de Blasfêmia, Judas, havia entrado na estação de notícias e começado a
fazer uma lavagem cerebral em Ken, levando-o a crer na versão satânica
da história. Judas estava determinado a distorcer toda e qualquer idéia
cristã que pudesse começar a sair da boca de Ken, que passava a ideia
pervertida das notícias para seu público.
CAPÍTULO DOIS
O Grande Sumiço

O horizonte em Frankfurt, na Alemanha, reluzia enquanto o sol se


punha lentamente nas colinas arborizadas da cidade. A manhã se fora.
Grande parte da população mundial se sentia ameaçada pelo número
assustador de pessoas que haviam desaparecido sobrenaturalmente em
razão do arrebatamento da Igreja. A Alemanha foi levemente atingida
pela tempestade que varreu a civilização.
O país continuava lentamente seu caminho rumo à recessão.
Era mais difícil encontrar um emprego do que um diamante em
uma mina de carvão. Os alemães acusavam os Estados Unidos, o Japão, a
Rússia e os fundamentalistas islâmicos pela invasão ilegal de suas
fronteiras em números surpreendentes.
Immanuel Bernstate era uma figura desconhecida para a média
dos alemães. Era o gigante que estava por trás dos bastidores apenas da
elite política. O homem ou a mulher comum acreditava que o chanceler
recém-eleito tinha o poder de mudar a Alemanha, contudo, os
esclarecidos conheciam o quadro realista e crítico do país. O poder que os
políticos cobiçavam sempre tinha suas raízes no dinheiro.
Immanuel deu uma passada no escritório de Helmut Blitzkrieg. O
novo chanceler tinha a inteligência política de uma serpente e a
personalidade de um touro. No entanto, por trás de sua imagem de
buldogue, estava um homem de 49 anos que bajularia até um porco se
nele visse dinheiro para bancar seus fundos de campanha. Immanuel era
a rainha das porcas, e Helmut era seu porquinho mais fiel.
Helmut havia chegado a um cargo público nas costas de um
pânico econômico. Os menos favorecidos da sociedade já estavam tão
fartos do estado atual que teriam eleito o próprio Satanás para acabar
com a lei da ganância e das mentiras. Com a ajuda não notificada da rede
secreta de Immanuel, formada por banqueiros tratantes, Helmut recebeu
72% dos votos da população.
A secretária particular do SI. Blitzkrieg cumprimentou Immanuel.
— Olá, Sr. Bernstate — disse Helen Stawlinski, quase letárgica,
cuidadosamente folheando a agenda do chefe... e amante. Olhou a
programação do dia. Uma mão passava pelos eventos programados para
o dia, enquanto a outra segurava firme os óculos para leitura. Immanuel
olhava fixamente para as grandes sombras que balançavam com as
árvores pela enorme janela oval da recepção.
Nervosa, Helen se remexia em seu assento. Foi preciso usar toda a
sua energia para olhar na direção de Immanuel. Teve receio de olhar em
seus olhos.
— Sr. Bernstate, não consigo encontrar o horário marcado pelo
senhor na agenda do Sr. Blitzkrieg. Tenho certeza de que se trata de um
simples equívoco... um... uh... erro na hora de marcar a hora.
O tom de Immanuel fez o mundo de Helen desmoronar.
— Ele irá me ver agora mesmo. Diga a ele que cheguei e que quero
uma reunião frente a frente imediatamente!
— Sim, senhor, agora mesmo — recuou Helen, que pegou o
telefone e discou o ramal do chefe. Ela não tinha alternativa.
Helmut atendeu ao telefone.
— Eu disse à senhora para não me incomodar quando estivesse
com alguém aqui, principalmente quando esse alguém fosse Lorde
Birmingham. Faça isso de novo e farei com que passe a trabalhar na linha
de montagem!
Helmut Blitzkrieg bateu o telefone, em parte porque era
repugnante e, em parte, porque queria dar seu show.
— Você nunca se dará bem com ela tratando-a como um cachorro
— observou Lorde Birmingham.
Helen tentou falar. Immanuel despreocupadamente ergueu o dedo
e balançou a cabeça.
— Não se preocupe em dar explicações que justifiquem a
arrogância de seu amante. Se fosse você, encontraria um homem com um
pouco de firmeza de caráter.
Immanuel arrumou a gravata enquanto se dirigia à porta fechada
da sala de Helmut. Passou pela porta fazendo muito barulho. Helmut,
que estava inclinado para trás em sua poltrona executiva, quase caiu de
costas. Immanuel desfez o sorriso malicioso e sádico que trazia no rosto.
— Olá, meu amigo — disse Immanuel, usando o melhor tom de
arrogância que conhecia. Olhou para Helmut como se ele fosse algo
descartável. Lorde Birmingham estava de costas para ele. Immanuel
assumiu um comportamento mais elegante e de um homem de negócios.
— É bom vê-lo, Lorde Birmingham. Quanto tempo! Acabo de
matar dois coelhos com uma cajadada.
Ambos se levantaram para cumprimentar Immanuel.
— É bom ver que você ainda está por perto — sorriu Lorde
Birmingham dando tapinhas nas costas de Immanuel. — Pensei que
tivesse desaparecido com os outros rebeldes do mundo.
Immanuel simplesmente sorriu e ponderou a próxima resposta.
Seria prudente contar-lhes a verdade sobre o desaparecimento de toda
aquela gente ou sua versão dessa verdade? Examinou os dois simples
mortais. Decidiu esperar e deixar que ouvissem a notícia no noticiário da
noite. Por enquanto, sua mente estava no dinheiro.
— Para alegria dos senhores, estou vivo e muito bem! — cantou de
galo Immanuel.
Lorde Birmingham sentia aversão à atitude de poder de
Immanuel, mas não tanto quanto aos seus poderes psicocinéticos. Uma
demonstração era suficiente para a vida toda.
— Sim, estamos emocionados em tê-lo na nossa equipe —
alcovitou Lorde Birmingham.
Helmut correu para o outro lado do escritório para buscar uma
cadeira, uma peça da mobília que seu avô havia usado para entreter a
realeza.
— Sente-se — adulou Helmut, colocando a relíquia bem atrás de
Immanuel.
Os três se sentaram, contudo, apenas Immanuel relaxou.
— O que podemos fazer por você nesta bela manhã? — perguntou
Helmut.
Immanuel gostou do tratamento real.
— É hora de colocar meus planos em prática — afirmou Immanuel
sem rodeios.
Estava nítido para os dois senhores que ele não estava pedindo
apoio, ele estava exigindo que o apoiassem.
Immanuel abriu sua pasta de couro.
— Que planos são estes? — arriscou o chanceler. Immanuel fingiu
estar surpreso.
— Oh, eu não lhe contei? — fingiu. Lorde Birmingham decidiu
entrar no jogo.
— Não, você não contou nada — disse Lorde Birmingham. Mas
tenho certeza de que, independente do que seja, será algo brilhante.
Embora não pudesse ler a mente de uma pessoa sem a ajuda de
Blasfêmia, Immanuel ainda era mestre em discernir os verdadeiros
motivos.
— Você está certo — afirmou Immanuel, que se levantou e
começou a andar ao redor da sala com as mãos para trás.
— Meu plano chama-se Operação Arranca Dinheiro. — Lorde
Birmingham aguçou os ouvidos. As mãos de Helmut suavam.
— Vejam, vejam! Um assunto que sempre conforta minha alma —
casquinou Helmut.
Immanuel tirou um documento da pasta e o colocou bem no meio
da mesa de Helmut. Depois puxou uma caneta da camisa, inclinou-se
sobre a escrivaninha e começou a escrever no contrato.
— Este é o plano, senhores — mostrou Immanuel — Lorde
Birmingham, oriente seus amigos para que tirem todas as suas fortunas
da bolsa de valores e dos títulos do governo e as apliquem em ouro, prata
e platina.
Lorde Birmingham levantou-se às pressas da cadeira sem medir
as consequências.
— Meu Deus, Immanuel! Você tem idéia do que isso poderia
causar na economia mundial?
Sendo o político que era, Helmut tomava partido de quem quer
que fosse.
— O que isso vai significar para a situação política na Alemanha e
no mundo todo? — perguntou Helmut.
Immanuel esperava e admirava a colocação egocêntrica de
Helmut, sabendo que seu plano seria sinônimo de desastre para qualquer
político que ocupasse um cargo público. Quando a base da economia
mundial caísse, os políticos seriam responsabilizados por todos.
Helmut Blitzkrieg era apenas um idiota que fazia parte do jogo.
Sabia que seria acusado por um desastre econômico, mesmo que os
controles estivessem nas mãos dos banqueiros.
— Como este plano afetaria minha estabilidade no emprego e
minha base de poder? — intrigou Helmut.
Immanuel deu as costas para Lorde Birmingham e voltou-se para
Helmut.
— Seu emprego está em minhas mãos. Se cooperar comigo em
tudo, irei garantir-lhe um poder que vai além de seus maiores sonhos. —
Immanuel tirou os olhos de Helmut, preferindo olhar fixo pela janela. —
Do contrário — prometeu Immanuel —, minha fórmula para controlar a
moeda do mundo prosseguirá sem você.
Helmut sabia quem estava com a maior vantagem, mas temia que
o plano de Immanuel pudesse falhar.
— Eu compreendo — esforçou-se Helmut. - Sou qualquer coisa,
menos um gênio em finanças, e não entendo todas as implicações de um
passo desses, por isso, confio que você fará a coisa certa.
Immanuel estava satisfeito.
— No entanto, conheço muito bem este assunto. Os outros nove
líderes políticos que fazem parte desses dez países confederados serão
muito mais difíceis de convencer do que a mim!
Immanuel esfregou os lábios. Tentou ser autoritário, porém
político. Tinha o poder para destruir esses homens, mas preferiu que eles
embarcassem nessa. As coisas avançariam mais rápido e mais fácil com
eles sob seu controle.
— Deixe que eu tomo conta disso! Se fosse você, eu me
concentraria em Helmut, e apenas nele.
O líder alemão lançou a sorte.
— Estou nessa — anunciou Helmut, indiferente.
Immanuel voltou sua atenção para o adversário mais temível. O
lorde estava sentado com as pernas cruzadas e os punhos cerrados sobre
seu colo.
— Lorde Birmingham, compreendo perfeitamente e posso me
sensibilizar com seu encargo pelo futuro da humanidade — considerou
Immanuel. — Deixe-me explicar na íntegra o meu plano para o sucesso.
O bilionário fez um gesto indicando seu consentimento.
Um observador o teria visto ranger os dentes.
— O mundo deve tornar-se um só em pensamento, em feito e em
ação. Desde o início da história, o homem tem se esforçado para acolher
seus irmãos sob o mesmo guarda-chuva. Repetidas vezes, ele não
conseguiu realizar essa proeza. As pessoas certas não tentaram fazê-lo até
aqui. Muitos líderes deixaram que o poder chegasse à cabeça. Tornaram-
se irracionais, deixando que as emoções controlassem sua mente. Não
tolerarei esse tipo de fraqueza. Emoção é sinal de fracasso!
Immanuel conseguira a atenção nítida de ambos.
— Preciso de uma moeda universal, um governo universal e um
sistema moral universal de leis e valores. Para alcançar este objetivo,
uma moeda universal deve ser estabelecida. A tecnologia para se obter
esta transformação já está aí há anos. No entanto, a tecnologia sempre
esteve à frente do intelecto e da vontade humana. Isso, meus amigos,
mudará. Os países ricos têm resistido a essa idéia porque ela
naturalmente iria forçá-los a descer em seu estilo de vida para acomodar
os países do Terceiro Mundo. Uma moeda universal literalmente escoaria
o dinheiro dos países ricos para os pobres. Então, a pergunta é: como
convencer esses países ricos a participar de nossa equipe? Quem estaria
disposto a abrir mão desse poder unilateral? Nenhum país em sã
consciência faria uma coisa dessas.
Fez uma pausa.
— É fácil. Fazemos com que esses países fiquem pobres.
— Você tem um pingo de decência humana nessas suas veias? —
atacou Birmingham.

O sorriso moldado de Immanuel se transformou em uma carranca


sádica. A hipocrisia de Lorde Birmingham teria causado inveja nos
fariseus da época de Jesus. Ele venderia a alma de sua mãe para
conseguir mais um ou dois conglomerados internacionais.
— Ê claro que tenho. No entanto, é uma decência de longo prazo.
Qualquer desconforto de curto prazo para nossos companheiros cidadãos
pode ser tolerado quando pensamos no bem deles à longo prazo.
Estava claro para Immanuel que esses homens não se importavam
com os pobres, a menos, é claro, que, de repente, se tornassem um deles.
Eis o ponto em que ele deveria oferecer segurança. Precisavam saber que
na tempestade que viria pela frente, eles continuariam com sua
confortável posição de riqueza e poder.
— Meu plano é simples e provocará apenas uma interrupção
pequena e momentânea. Eu garanto que vocês nem mesmo irão senti-la.
— disse, percebendo o medo dos dois.
— Cada um de vocês deve pegar o dinheiro que tem e comprar
uma grande quantidade de barras de ouro. Todos que estão no nosso
círculo interno farão o mesmo. As bolsas de valores no mundo todo
entrarão em pânico assim que perceberem esta enorme liquidação. As
operações cambiais cairão desde Tóquio até Wall Street. A reação
psicológica se desencadeará assim que os investidores virem no ouro e na
prata o lugar certo para fazer seus investimentos. Uma vez provocada
uma crise no fornecimento desses recursos financeiros, a demanda
aumenta. As pessoas, com medo de perder a roupa do próprio corpo, irão
retirar suas ações das bolsas e acabar com os metais preciosos. Vocês
farão uma fortuna, tudo dentro da lei! Assim que as taxas de juros
subirem, os governos do mundo todo perceberão que não têm dinheiro
suficiente para financiar seus débitos. Eles irão imprimir dinheiro,
desvalorizá-lo e lançar a si mesmos em uma crise econômica mundial.
Immanuel sorriu e sentou-se.
— Percebem? O trabalho dura um dia. Um piscar de olhos e... puf!
Como um passe de mágica. É a hiperinflação. A economia mundial está
destruída, e as nações ricas e resistentes se calam.
Embora Helmut parecesse estupefato com a avalanche de
informações, sua mente agarrou-se a algo. Quando as economias fossem
reduzidas a pó, o marco alemão seria enterrado sob os escombros.
— O dólar americano morrerá, o marco alemão será pisoteado e o
iene japonês afundará no mar — previu Immanuel.
— Você devia ter sido poeta — gracejou Lorde Birmingham.
Immanuel ignorou a espetadinha. Estava concentrado no líder alemão,
que parecia ter todo o sangue do corpo tirado.
— Não, não, não — murmurou Helmut, assim que o choque deu
lugar à raiva.
— Helmut, ouça-me! — advertiu Immanuel com uma cara feia. —
O marco alemão deve cair.
A única maneira possível de capturar o mercado mundial é por
meio deste plano. Meus mestres espirituais me ajudaram a maquinar este
esquema, e eu prometo a vocês que ele não falhará!
— O que acontecerá após a crise? — gritou Helmut. — Fome?
Confusão? Terceira Guerra Mundial?
Immanuel foi ágil em enrolar Helmut. Era preciso fazer algo
rápido. Tinha outras nove reuniões marcadas com os líderes de estado
europeus. Helmut era moleza. Eram necessários reforços, sem tempo a
perder.

Ken Action estava de ressaca na cama. Ora assistia à televisão, ora


observava um mosquito no teto. Queria examinar os noticiários da
manhã na esperança de encontrar algumas respostas.
Sally se fora, provavelmente para sempre. A atuação de Ken na
noite anterior começara brilhante, mas teve um final sinistro.
Ken começou a alternar entre os noticiários nacionais e
internacionais. A RNP, Rede de Notícias Planetária, era
indiscutivelmente sua favorita. Oitenta por cento dos âncoras de
programas de notícias eram mulheres. Oitenta e cinco por cento delas
eram deslumbrantes. Para Ken, a forma mais fácil de esquecer uma
mulher era substituí-la. As belas âncoras lhe fariam companhia, pensou
Ken, voltando sua atenção para uma mulher que apresentava as notícias.

— Os Estados Unidos, grande parte da América do Sul e da Coréia


do Sul estão registrando os maiores índices de desaparecidos desde o
incidente histórico ocorrido na noite de ontem. Já se passaram dezesseis
horas desde aquela "terrível hora", e pessoas de todas as partes do
mundo continuam a resmungar e a fazer as mesmas perguntas. Para
onde eles foram? Por que tantas pessoas, tanto jovens como idosos?
Como eles simplesmente desapareceram da face da terra? Por que isto
aconteceu? Se houver um, quem é o responsável?
Ken levantou-se da cama e sentou-se com as costas apoiadas nos
travesseiros, aumentando o volume da televisão.
— Em pé aqui do meu lado estão três pessoas que dizem poder
explicar este mistério. Antes de apresentarmos nossos convidados,
gostaríamos de lembrar nossos telespectadores que nós, aqui da RNP,
não defendemos qualquer ponto de vista apresentado neste bloco.
— Nosso primeiro convidado é o Dr. Herbert Stain, atualmente
um dos principais cientistas biológicos do mundo. Doutor, gostaríamos
de começar com o senhor.
Nervoso, o cientista com cara de idiota sorria enquanto a câmara
vinha em sua direção. Herbert Stain era um homem calmo e franzino que
usava lentes bifocais grossas que escondiam seus olhos ágeis e
acinzentados. Usava uma gravata marrom com poás laranja-claro, que
era irregularmente pequena e estava torta como a torre inclinada de Pisa.
A âncora de vez em quando olhava para o papel que imitava a
folha de notícias, procurando as perguntas que seu produtor havia
redigido para ela.
— Sr. Stain, o senhor acredita que exista uma explicação científica
razoável para o que aconteceu?
O câmera fechou a imagem no especialista que se autodenominava
como tal. A imagem estava tão aproximada que se podia ver os pelos do
nariz que apontavam de suas narinas.
— Sim, senhora, há uma justificativa científica perfeitamente
plausível para os eventos que aconteceram ontem. Creio que tenho a
resposta. Permita-me elaborá-la.
A âncora simplesmente olhou para ele. Tinha dificuldades para
conversar com pessoas lerdas.
— Tenho certeza de que a senhora ficou sabendo da combustão
espontânea. É o princípio que descreve uma pessoa que literalmente vira
uma bola de cinzas. Tudo acontece em questão de segundos. Após
intensa pesquisa e testes frequentes, descobri o catalisador que provocou
essa reação espontânea.
A âncora do programa de notícias tentou não rir.
— Sr. Stain, estou um pouco confusa. O que isto tem a ver com o
desaparecimento dessas vítimas?
O especialista continuou seu discurso arranjado como se a âncora
nada tivesse dito.
— Estou certo de que os mecanismos para a ocorrência desta
combustão espontânea em seres bumanos são únicos e os mesmos que
chamarei de "desaparecimento espontâneo". Embora muitos possam
mencionar a falta de restos de cinzas no local do desastre como prova
contrária, minhas teorias foram além. A estrutura atômica poderia ser
representada, a ionização negativa da força da vida poderia ser uma
chave ou até a intensa deterioração isotérmica poderia nos dar algumas
pistas. Inúmeros teoremas plausíveis estão disponíveis para a pesquisa, e
posso acrescentar que estarei trabalhando dia e noite para encontrar a
resposta para a confusão deste mistério.
Como o cientista continuou a falar sem parar, a âncora
discretamente encerrou o que considerava ser outra tortura para seus
telespectadores.
— Bem, obrigada pelo senhor comparecer em nosso programa esta
manhã. Vamos deixá-lo ir para que possa voltar a desenvolver suas
teorias.
Encerrada a entrevista que colocava os dois em foco, a âncora
reapareceu. Mais uma vez, fez uma pausa para juntar outros dados ao seu
script.
Ken Action limpou os olhos e passou os dedos nos cabelos.
Esperava agora por algumas notícias mais realistas.
— Neste momento estamos com o Reverendo Horrace Darden. Ele
é pastor da Igreja da Inglaterra. Seja bem-vindo, Rev. Darden.
A camera aproximou-se de um homem obeso e de aparência
alegre que vestia um terno preto tradicional. Parecia ter quase 60 anos de
idade, e trazia uma enorme cruz em volta do pescoço. Ele piscava
descontroladamente.
— Obrigado por me dar esta oportunidade de compartilhar
minhas crenças com vocês nesta manhã sobre o trágico incidente de
ontem — discursou o Rev. Darden.
Sua figura parecia deixar a âncora à vontade.
— Entendo que o senhor acredita que este acontecimento, na
verdade, estava previsto há uns dois mil anos. O senhor poderia explicar
esse ponto de vista para nossos milhões de telespectadores? É bastante
interessante, a julgar pelo que entendo.
— Jesus Cristo profetizou no Novo Testamento que chegaria o
tempo em que algumas pessoas seriam "arrebatadas", ou seja, levadas
para as alturas com nosso Senhor. Elas deixariam esta terra de repente e
de uma vez, assim como aconteceu ontem. Na verdade, a Bíblia diz que
duas pessoas estariam trabalhando no campo; uma seria levada por
nosso Senhor e a outra, deixada.
Os olhos vermelhos do reverendo começaram a se encher de
lágrimas.
— Reverendo, acredito que todos podem ver que isto está
causando uma reação profundamente emotiva no senhor. Por quê?
— Por causa do significado desses versículos que acabei de citar
para você. A Bíblia é indiscutível. Quando compartilhar a Palavra de
Deus da forma que tem de ser, algo que nunca fiz, você logo descobrirá a
verdade. As pessoas que deixaram a terra eram os verdadeiros filhos do
Deus Altíssimo. O mesmo não podemos dizer das pessoas que foram
deixadas.
Ela rapidamente interveio. Parecia-lhe que ele havia acabado de
condenar todas as pessoas que assistiam ao programa, o que não a
agradou porque ela era uma delas.
— Se isso é verdade, reverendo, então, como é que o senhor está
aqui falando sobre esse assunto? O senhor não deveria ter ido com eles
também? — escarneceu a âncora.
Suas palavras foram como uma espada de dois gumes a atravessar
o íntimo do reverendo.
— Senhorita, este é o motivo de eu estar tão perturbado. Eu vinha
vivendo uma mentira! Fingi ser cristão, um filho de Deus, um salvo, por
40 anos. Eu nunca entreguei de verdade o meu coração, ou a minha vida,
ao Senhor do universo, Jesus Cristo.
Ken pegou os dois travesseiros e os apertou contra os ouvidos para
tentar não ouvir as palavras do reverendo.
— Vejam, eu estava brincando de religioso em vez de viver uma
vida transformada.
A âncora não acreditava que seu público estava interessado nas
confissões de um laranja. Uma voz baixinha na sua consciência insistia
que ela encerrasse a entrevista o mais rápido possível.
— Meus sentimentos, reverendo. Deixaremos que o senhor se
recomponha enquanto continuamos com o próximo convidado.
Desesperado, o reverendo Darden tentou dar uma palavra final.
— Por favor, por favor, se você ainda não entregou seu coração
para Jesus Cristo, o Filho de Deus, o Salvador do mundo, faça isso agora
antes que seja tarde demais! A Bíblia diz que...
Seus lábios continuaram a se mexer, mas o som foi abruptamente
cortado. A rede desligara seu microfone, e acabara com sua chance de
compartilhar a verdade. Em um piscar de olhos, o câmera estava voltado
novamente para a âncora.
— Obrigada, reverendo Darden, por participar do nosso programa.
— Os olhos da âncora brilharam assim que leu o nome do próximo
convidado. — Nosso último convidado é um professor de História da
Universidade de Harvard, em Boston, Massachusetts. Seu nome é Dr.
Thomas Hurley. Obrigada por reservar um tempo para estar aqui
conosco.
— É um prazer estar aqui, principalmente após o episódio
cataclísmico das últimas 24 horas. Estar vivo e seguro no planeta Terra é
uma bênção que talvez nunca mais recebamos de novo!
O doutor exibia uma barba elegante. Um topete postiço escondia
sua calvície. Ninguém tinha coragem de lhe dizer que parecia haver um
rato morto em cima de sua cabeça. O doutor era da opinião de que não
havia absolutos neste mundo em constante transformação. Pessoas
igualmente perspicazes podiam fazer uma leitura de quase todos os
períodos da História e chegar a opiniões diversas.
— Dr. Hurley, como professor de História em uma das
universidades mais respeitadas do mundo, reconheço que algumas de
suas opiniões não são nada convencionais.
O doutor riu à socapa. Ken bocejou.
— Desde o início dos tempos, o homem tem sido obcecado pela
ideia da vastidão do espaço e por quem pode ocupá-lo. Estou aqui para
dizer-lhe hoje que há vida em outros planetas, que tenho provas secretas
do que estou falando e que esta é uma peça do quebra-cabeça que estava
faltando na nossa busca da verdade. Vejam, eles vêm visitando nosso
planeta desde o início de tudo. Eles ficaram fora de cena até agora. No
entanto, eles não podem e não irão recuar e assistir à nossa própria
destruição!
— A guerra nuclear é um botão longe de atomizar nossa
existência! Já fomos testemunhas, com horror, do que diversas bombas
nucleares podem fazer. Vocês sabem que uma gota de certos produtos
químicos altamente tóxicos pode poluir nosso fornecimento de água e
matar milhões, tudo isso em questão de horas? Vejam a situação difícil
da nossa superpopulação. Ela ameaça matar de fome grande parte do
Terceiro Mundo. Acreditem em mim, a civilização ocidental não ficará
atrás. Os alienígenas reconhecem nosso dilema e estão dispostos a
ajudar. Lembrem-se, eles são pensadores extremamente avançados.
Conhecem as respostas para os nossos problemas.
Ken estava com os olhos fixos na televisão. Estava fascinado e
acreditava em todas as palavras que ouvia.
— Estou aqui para lhes dizer que eles já nos ajudaram, e nós nem
nos damos conta disso.
— Como eles nos ajudaram? — perguntou a repórter.
O doutor sorriu maliciosamente assim que se imaginou sendo
aplaudido pela descoberta da grande revelação.
— Esses alienígenas são responsáveis pelos desaparecimentos.
Eles estão tentando criar uma Mãe Terra segura e habitável da qual todos
nós possamos desfrutar — sem medo. Centenas de milhões, talvez um
bilhão ou mais, se foram, livrando nosso planeta de suas condições de
superlotação.
A repórter adorou a ideia de alienígenas pacíficos e amorosos.
— É isso. Parece lógico, mas que evidência sólida o senhor tem
disso?
Ken não havia arredado o pé por mais de três minutos.
Estava louco à procura do significado da vida.
O doutor mostrou uma coleção de fotos secretas da NASA. Ele as
havia conseguido com um amigo de um amigo de outro amigo.
— Aqui está sua prova! — esnobou o professor, colocando a
primeira foto em pé na mesa da entrevistadora.
— A primeira imagem que vocês veem é uma vista aérea de um
objeto no fundo do Oceano Atlântico. Agora temos recursos para tirar
uma foto meio clara pelas águas do oceano e visualizar o fundo do mar.
Seus telespectadores podem nitidamente ver um OVNI de verdade. —
disse o professor, usando um lápis para mostrar os contornos. — Na
verdade, a aeronave deste alienígena tem forma esférica. Aqui estão o
que parecem ser cinco ou provavelmente seis motores localizados na
parte inferior das laterais da nave espacial. A nave parece ser feita de
algum tipo de liga metal inidentificável, resistente aos efeitos corrosivos
da água do mar. Certamente, não foi feita por homens!
Ken aproximou-se da televisão.
— A foto parece desfocada — disse a âncora enquanto dava uma
olhada. — Estou curiosa: o que são esses objetos ao redor do disco?
Dr. Hurley mostrou entusiasmo.
— Parecem ser partes da nave. È provável que a enorme pressão
que exista a oito mil metros abaixo do nível do mar tenha feito com que
elas implodissem, formando bolas de metal — disse, tirando a foto de
foco e substituindo-a pela foto de outro satélite em um deserto.
— Agora, prossigo com alguma evidência histórica de sequestros
realizados por alienígenas desde a grande dinastia egípcia. Observe esta
linha larga nas dunas entre essas duas montanhas.
Ele indicava cada umas das características como se estivesse
liderando uma discussão em sala de aula.
— Minha estimativa mais próxima é a de que esta linha tenha
aproximadamente 24 quilômetros de extensão e um quilômetro e meio
de largura. A natureza jamais teria traçado estes pontos detalhados.
A âncora curvou-se para frente para ver mais de perto.
— O que o senhor sugere? — perguntou ela.
— Bem, eu sei que isto pode parecer absurdo, mas acredito que
seja uma pista de pouso e decolagem para aeronaves de alienígenas.
Deixe-me mostrar-lhe como cheguei a esta conclusão.
Mostrou a próxima foto para a câmera.
— Esta é uma visão bem mais ampliada da mesma pista de pouso
e decolagem. Como vocês podem ver, o olho nu não pode ver nitidamente
este aeroporto de alienígenas vindo do espaço cósmico. Este é o lugar
ideal para se fazer uma aterrissagem se você quiser se esconder da
humanidade. Fica no meio do nada.
— Tenho de confessar que sempre fui fascinada pela ideia de vida
em outros planetas — confessou a âncora que, silenciosamente, batia os
dedos de uma mão contra os da outra. — Mas que prova decisiva o
senhor tem de que o incidente de ontem tenha sido um autêntico
sequestro realizado por alienígenas?
O doutor parecia perturbado com a incredulidade da âncora.
Pegou com cuidado uma foto e a ergueu bem alto.
— Anda logo com isso! — gritou Ken, enquanto o doutor virava
lentamente a foto para a luz.
— Esta obra-prima da tecnologia moderna foi concluída em meu
computador há alguns dias.
O câmera aproximou-se do trabalho do doutor. Parecia um mapa
digitalizado da Terra feito do espaço. Pontos vermelhos em movimento
cobriam a atmosfera ao redor da Terra.
— O satélite da NASA tirou esta foto espetacular do nosso planeta.
Esta é a principal informação secreta, que eu não deveria estar lhe
mostrando; no entanto, momentos de desespero merecem avaliações
precipitadas. Tenho conexões de alto nível com aquela agência espacial
que concordou em rastrear atividades de meteoritos para mim nos
últimos anos. Eu disse a eles que precisava saber quantas daquelas
pedras estavam impactando nossa atmosfera em uma base diária.
— No entanto, menti para eles. Tinha outra coisa em mente.
Vejam, o equipamento no satélite tem a capacidade de distinguir a
composição desses escombros espaciais. Contudo, sua capacidade nunca
foi utilizada ao máximo. Sempre admitiram que estavam à procura de
meteoritos, mas esses objetos eram muito planos para ser meteoros.
Eram OVNIS!
O doutor continuou sua colocação antes mesmo de a âncora ter
chance de contestar.
— Ao longo dos últimos meses, essas assim chamadas pedras
espaciais aumentaram em número. Na verdade, as descobertas tiveram
um aumento exponencial. De fato, este foi um grande acontecimento!
A âncora não tinha palavras. Dias antes, este homem teria sido
rotulado de cachola, maluco e sonhador, mas os tempos haviam mudado.
— Os pequenos pontos vermelhos nessa foto são realmente uma
aeronave de alienígenas? — perguntou a repórter desconfiada.
— Eu convido qualquer cientista respeitável para analisar os dados
— desafiou o doutor. Não tinha ideia do impacto que estava causando no
futuro da civilização humana. Logo em seguida, mostrou uma sequência
em animação recebida da câmera espacial.
— Este mapa é de janeiro passado. Aproximadamente 30 objetos
não identificados como meteoritos, ou talvez frutos de descobertas de
OVNIS, aparecem aqui. Após aquela primeira descoberta, percebi que
um número cada vez maior estava aparecendo, quase que diariamente.
Ele sacudiu as fotos.
— Este mapa foi compilado um pouco antes do incidente de
ontem. O tempo total para expiração desses dados é de apenas uma
semana. Vejam, centenas de pontos vermelhos em movimento estão
passando pelas nossas lentes e em nossa atmosfera. Todos os pontos que
ficam por último apresentaram os mesmos.
CAPÍTULO TRÊS
Paciência inexplicável

O mestre do mal passou como um meteoro pelo céu azul-claro. No


seu rastro estavam seus amigos mais íntimos e maiores inimigos.
Satanás, também conhecido como Lúcifer, o Diabo, o Príncipe das
Trevas e o grande dragão, estava em uma missão autodesignada vinda do
inferno. Seu coração, que era extremamente perverso, ansiava por
riqueza e poder. Grande parte desse sonho ambicioso ele já havia
conquistado; contudo, queria mais. Dinheiro, prestígio e influência
apenas aguçavam sua sede insaciável por pensamentos e alegrias. Em sua
mente pervertida, seu mais novo plano, o plano, finalmente lhe daria o
que sempre havia desejado e merecido. Queria ser adorado como o Deus
Todo-Poderoso por todos os homens, mulheres e crianças da face da
terra.
Fitou os olhos na terra abaixo, procurando a cidade onde
estabeleceria seu império religioso.
— Nosso destino está bem à frente — gritou Satanás para seus
conspiradores de alto nível que partilhavam de suas idéias.
O Rei do Engano olhou por sobre os ombros e encarou um de seus
generais que estava a resmungar.
— Não tolerarei qualquer ato de insubmissão às minhas ordens!
Entendeu? — advertiu Satanás.
O imprudente general arrependeu-se. A fila de demônios seguiu o
Diabo até uma colina rochosa que ficava no centro de Roma, Itália, no
local das antigas ruínas romanas.
Satanás mergulhou de cabeça para o topo do templo religioso
parcialmente em pedaços, onde a deusa Diana havia sido adorada. Esta
seria a reunião mais importante de sua vida.
Em sequência, cada um dos demônios desceu, curvou-se diante de
seu mestre, fechou as asas negras e fez sentido. Satanás examinou as
tropas. A medida que se sentavam, os demônios formavam um Círculo
perfeito ao redor de seu líder.
Satanás não perdeu tempo com suas encenações comuns de
domínio e grandeza.
— Companheiros, o relógio está rodando agora. Descobri uma
forma de acabar de vez com o inimigo. Não seremos derrotados!
Ergueu suas garras recém-afiadas para o céu escuro que indicava
ser meia-noite.
— Cada um de vocês será renomeado para um posto de comando
estratégico. Os deveres de cada um serão consideravelmente
reformulados para a grande maioria. O Oriente Médio e os Estados
Unidos da Europa agora são nossos principais alvos para a enxurrada de
propagandas demoníacas do tipo mais perverso que houver. Satanás
sibilou.
— Reforçarei nossas tropas três vezes mais nessas áreas. Vocês
devem confiar em mim ou correr o risco de morrer. Decidi concentrar-
me em três frentes. Primeiro, no movimento religioso universal que irá
espalhar o paganismo pelo mundo. Segundo, o movimento pela paz
mundial deve ser impulsionado para o centro do palco. E, por último,
quero que os veículos de comunicação estejam repletos de partidários do
globalismo. Acabem com as pessoas que acreditam que sua nação deve
ser amada mais do que o mundo. Quero que todos os homens que se
recusarem a seguir nossa visão sejam rotulados como rebeldes
antipatriotas.
De repente, um pensamento divergente passou pelas frestas ocas
de sua cabeça.
— Milhões de pessoas farão oposição aos nossos esforços, mesmo
sem a presença do Deus Jeová. O mundo não aceitará a morte dessas
pessoas, por isso, quero que elas sejam secretamente eliminadas da
maneira mais cruel e desumana possível!
Os demônios saltaram de alegria.
— Nosso amigo Adolf Hitler realizou um trabalho magnífico ao
ocultar mortes secretas da vista do mundo. Quero que os mesmos três
generais que formularam o plano do político alemão supervisionem essa
campanha de terror.
Lúcifer apegou-se às suas ordens e fez sinal para que suas tropas
as aceitassem da forma servil de sempre. Como no movimento de um
relógio, cada oficial lentamente veio planando aos pés de Satanás,
rastejando de quatro até um determinado ponto ao pé de seu líder e se
curvando até cobrir o rosto de lama.
A alma de Satanás se deleitava nesses momentos. A cerimônia
durou trinta minutos.
— Suas ordens foram claras. Qualquer um que for pego
questionando ou desobedecendo a qualquer uma dessas diretrizes será
severamente repreendido.
O Príncipe das Trevas saiu planando em direção ao céu.
— Adiante, soldados de Satanás!
Como um enxame de gafanhotos sequiosos por um campo repleto
de brotinhos, as tropas das trevas desenfreadamente marcharam em
direção a seus postos com idéias de total destruição na mente.

— "Depois destas coisas, olhei, e eis não somente uma porta aberta
no céu, como também a primeira voz que ouvi, como de trombeta ao falar
comigo, dizendo: Sobe para aqui, e te mostrarei o que deve acontecer
depois destas coisas. Imediatamente, eu me achei em espírito, e eis
armado no céu um trono, e, no trono, alguém sentado; e esse que se acha
assentado é semelhante, no aspecto, a pedra de jaspe e de sardônio, e, ao
redor, do trono, há um arco-íris semelhante, no aspecto, a esmeralda. Ao
redor do trono, há também 24 tronos, e assentados neles, 24 anciãos
vestidos de branco, em cujas cabeças estão coroas de ouro. Do trono
saem relâmpagos, vozes e trovões, e, diante do trono, ardem sete tochas
de fogo, que são os sete espíritos de Deus. Há diante do trono um como
que mar de vidro, semelhante ao cristal, e também, no meio do trono e à
volta do trono, quatro seres viventes cheios de olhos por diante e por
detrás".
Pôde-se ouvir Timothy engolir a saliva quando fechou sua Bíblia.
Seu coração crepitava à vista da hoste celestial que cercava Daniel e a ele
mesmo. Estava extasiado com as palavras que acabara de ler em
Apocalipse 4, o último livro da Bíblia. As profecias bíblicas estavam-se
cumprindo bem ali diante de seus olhos. Daniel estava com muito temor.
— Onde estamos na Bíblia neste exato momento? — perguntou
Daniel curioso.
— Bem, devemos estar em algum lugar bem aqui entre os
capítulos 4 e 5 de Apocalipse — deduziu Timothy, apontando para os
quatro seres viventes que estavam em volta de Deus. Então, Timothy
orientou Daniel para que lançasse os olhos nos 24 anciãos assentados ao
redor do trono de Deus. Os dois estavam tendo dificuldade para ver o que
se passava. Milhões de milhões de anjos, muitos mais altos do que eles,
se amontoavam ao redor do trono.
— A Bíblia diz que esses quatro seres sempre estiveram ao lado do
Deus Todo-Poderoso, proclamando Sua santidade — explicou Timothy.
O tamanho de Daniel estava começando a perturbá-lo. Ele não
queria perder nada do que estava acontecendo. O anjo mais velho estava
contente em ver o entusiasmo de Daniel. Pegou o jovem anjo e o colocou
sobre os ombros, instruindo-o a olhar na direção dos anciãos que
representavam a Igreja cristã.
— Eis a prova de que estamos entre os capítulos 4 e 5. Os anciãos
do céu não aparecem antes do capítulo 4 de Apocalipse. Devemos estar
no começo do capítulo 5, porque ali fala do Cordeiro de Deus! O Cordeiro
é Jesus Cristo — sussurrou Timothy.
Exatamente como profetizara a Bíblia, Jesus Cristo aproximou-se
do Pai da Criação, o Deus Jeová. Bem no meio do clímax da cerimônia
celestial, o choro de um homem desviou a atenção dos anjos. A enorme
multidão distraiu-se com o pranto. Deus Jeová fez um sinal para um de
seus anciãos para que acalmasse os temores do homem.
— O que um homem está fazendo aqui? — rogou Daniel. Timothy
abriu sua Bíblia em Apocalipse 5.4 e a colocou nas mãos do companheiro.
— É o apóstolo João, autor do livro de Apocalipse. Deus, de forma
sobrenatural, o transportou pelo tempo para que ele pudesse escrever o
livro a partir de sua própria experiência — respondeu Timothy.
Daniel balançou a cabeça, mantendo os olhos fixos no ancião que
estava conversando com o apóstolo João. O pranto cessou no mesmo
instante.
Timothy colocou o dedo no versículo seguinte do livro que contava
a História das histórias.
— Leio o próximo versículo.
— Oh! Ele está perturbado com o fato de ninguém ser digno de
abrir o livro de Deus — percebeu Daniel, que olhava de soslaio. — O que
há de tão importante nesse livro? — perguntou ele. Timothy tirou o anjo
de seus ombros.
—- O livro é o juízo de Deus sobre a terra. Jesus Cristo é o único
Homem que sempre viveu uma vida perfeita e sem pecado. Portanto, Ele
é o Único que legitimamente pode abrir o livro do juízo e pronunciar a
sentença para Seus súditos. Ele ganhou o direito de condenar as pessoas
da terra e os anjos pelo mal que praticaram e pela falta de
arrependimento.
O vislumbre dos tesouros do céu era um sonho realizado.
O mal e o pecado jamais poderiam participar desta celebração
espetacular de poder e majestade. O mar de cristal cobria os quatro
cantos do céu. As cores brilhantes do arco-íris de Deus emitiam ondas de
temor para todos os seres humanos.
Os olhos de todos os anjos assistiam aos movimentos de Jesus
Cristo. O Filho de Deus começou a aproximar-se do Deus Todo-
Poderoso. A paz que excede todo entendimento resplandecia no rosto do
Deus Jeová e de Jesus. Deus Pai segurava o livro com as duas mãos,
enquanto, gentilmente, o passava para as mãos de Jesus. Embora cada
um tivesse Seu próprio corpo, estava claro que os dois eram um na
mente, nas emoções, na alma e no espírito. As únicas imperfeições que
podiam ser distinguidas eram os furos nas mãos e nos pés de Jesus, as
marcas dos cravos na Sua crucificação há dois mil anos.
Jesus estendeu as mãos e tomou o livro das mãos do Deus Todo-
Poderoso. Outro qualquer que fizesse isso seria reduzido a cinzas no
mesmo instante por causa da santidade de Deus. Em um piscar de olhos,
os quatro seres deixaram de olhar para o Deus Pai e voltaram sua atenção
para o Deus Filho.
Os 24 tronos que cercavam o trono de Deus ficaram vazios uma
vez que os anciãos se reuniram em torno de Jesus. Cada ancião tinha
uma harpa de ouro. Em perfeita harmonia, todos caíram de joelhos para
prestar homenagem ao seu Criador e Salvador. A pureza da melodia e do
cântico era extraordinária.
Timothy e Daniel estavam fascinados.
O coro celestial podia ser ouvido por todo o universo. Ninguém
percebeu uma minúscula mancha negra que emergia da superfície da
terra. Satanás havia acabado de concluir sua sessão de estratégias e
estava a caminho do sol, seu lugar favorito na galáxia. Os louvores a Deus
e à seu Filho atravessaram o coração negro de Satanás. O terrível
Príncipe do Mundo sufocava seu ódio à medida que voava rumo ao sol.

Enquanto Dominic estava sendo apresentado para a multidão, as


palavras de sabedoria de sua mãe ressoavam em sua mente: "Você não
servirá a ninguém, a não ser a si mesmo, na estrada da vida. Escreva o
seu próprio destino. Se suas intenções forem boas, então os fins sempre
justificarão os meios", instruíra sua mãe.
O som dos aplausos o fascinava. Percebeu que os remanescentes
da congregação, que não haviam sido arrebatados, estavam em pé em
sinal de tributo à sua vida no ministério. Era sua vez de brilhar.
Pôs-se em pé e subiu humildemente ao púlpito, com as mãos
juntas como se estivesse segurando uma bola. Assim que contemplou a
multidão, percebeu que seus olhos se encheram de lágrimas. Aquelas
pessoas estavam colocando suas esperanças e sonhos em suas mãos.
Olhavam para ele como se fosse o salvador da pátria.
— Meus amigos de Roma e do mundo todo — começou Dominic.
A cerimônia contava com a presença de centenas de câmeras de
televisão do mundo todo. Dominic Rosario estava sereno e era confiável.
— Meu desejo mais sincero é ver nosso mundo em paz.
Era difícil dizer se a multidão estava saltando de alegria ou
chorando de tristeza.
— Queremos uma paz que seja firme, ardente, e que esteja
edificada na rocha inabalável. Ela deve ter raízes! A paz é a única solução
para nossa incessante existência!
Dominic teve de sobrelevar a voz para vencer a multidão.
— Ou vamos morrer em guerras sem fim ou assumir um
compromisso com a paz! Quero um mundo que trabalhe em união, sim,
em união, para que você alcance seus sonhos e todos os homens,
mulheres e crianças por toda a Mãe Terra alcancem os seus. Quero um
mundo onde você possa se voltar para seu próximo e pedir ajuda sem
receber um olhar frio de indiferença ou ódio!
As palavras de Dominic penetravam no coração da multidão. Ele
fazia um esforço conjunto para concentrar-se nas câmeras. Immanuel
havia-lhe dado dicas sobre os principais pontos de intimidade com a
televisão. Tratar a câmera como se ela fosse seu aliado mais próximo,
ensinara Immanuel.
— Nesse dia, lamentamos aqueles que se foram, desde o próprio
Papa, em toda a sua glória, até ao menino que participava do coro da
igreja. Quero dar os pêsames e oferecer meus sentimentos mais sinceros
a todos os familiares e amigos. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto.
— A esta altura, gostaria de aproveitar esta oportunidade para
fazer um minuto de silêncio. Quero que nos lembremos de nossos entes
queridos que se foram, e sonhemos com um mundo novo sem guerras,
crimes e miséria.
O novo sucessor baixou a cabeça e a multidão fez o mesmo.
Um silêncio intenso se estendeu por toda a multidão.
Como uma aranha descendo de sua teia, Blasfêmia desceu
devagarzinho do teto.
Dominic sentiu sua presença. Anos de resistência ao verdadeiro
Espírito de santidade proveniente do Deus Jeová deixara sua alma nas
cinzas. Ele era capaz de responder a um único tipo de espírito, que não
era o Espírito Santo.
— Deixe que minhas palavras cheguem ao profundo de seu ser —
arrulhou Blasfêmia.
Dominic respondeu em espírito. Não era necessário dizer palavras
com os lábios.
— Fale comigo, senhor. Use-me para expansão de seu reino na
terra — orou o Falso Profeta.
Blasfêmia ficou a alguns metros acima da cabeça de Dominic.
Um sorriso malicioso atravessava seu rosto enquanto alisava as
unhas de dez centímetros de comprimento. Ele as esfregava no rosto à
medida que se deliciava com seu próprio toque. Ergueu as garras para o
alto e as cravou na cabeça do Falso Profeta. Blasfêmia massageava as
pontas de suas antenas espirituais, certificando-se de que seu espírito
estava ligado à mente de Dominic. Colocou a boca bem perto dos ouvidos
de sua presa.
— Immanuel é Deus — disse Blasfêmia.
— Immanuel é Deus — repetiu Dominic, erguendo a cabeça.
Sentia uma nova forma de energia passando pelas veias. Sua
mente estava cheia de incríveis doses de conhecimento e sabedoria.
— As guerras têm sido uma forma de vida para a raça humana —
disse ele à multidão. — A história nos ensina que milhares de guerras
foram travadas desde o início da modernidade, que resultaram no
massacre desnecessário e desumano de milhões e milhões de inocentes,
tudo em nome da liberdade. Não podemos mais nos calar e permitir que
isso continue. A Igreja deve permanecer firme. Temos de resgatar o
mundo!
Todos ficaram em pé de uma só vez, mostrando que apoiavam as
palavras de Dominic. Era hora de as pessoas boas e dignas fazerem a
diferença. Os aplausos seguiam enquanto as sementes de mentira
lançadas por ele caíam no coração do povo.
A multidão de demônios invadiu o salão. Havia seis demônios
para cada pessoa, como ordenara o alto comando de Satanás em Roma.
Cada um dos espíritos se posicionava ao redor de pessoas que haviam
sido escolhidas de antemão. Todos foram orientados a capturar e destruir
qualquer pensamento que não servisse aos objetivos de Satanás. A
escuridão espiritual recaiu sobre a multidão. Os aplausos sumiram, e
apenas os ecos de um estado de fascinação continuavam a ser ouvidos.
Blasfêmia estava ao volante de um rolo compressor, operando a máquina
sem piedade. Dominic estava literalmente possuído por um demônio.
— A religião oferece ao mundo a esperança de que ele precisa para
sair bem do leito da morte da insensatez e do egoísmo — exclamou
Dominic, erguendo a mão para o céu. — A política é o veículo de que
precisamos para chegar à terra prometida. Com isso, proponho que o
mundo deixe de lado suas diferenças religiosas, que tão facilmente nos
confundem. A natureza de dissensão de diversas religiões produz os
frutos mais amargos do ódio, da violência e das guerras! Uma religião
mundial solidificada nas crenças comuns a todas as grandes religiões do
mundo pode nos levar a uma nova ordem mundial. Pode ser um novo
milênio do céu na terra!
Uma febre utópica apoderava-se da multidão à medida que o
sermão de Dominic enfeitiçava o pensamento do povo. Ele era a faísca
que colocaria fogo no mundo.
— Uma árvore não cresce da noite para o dia; um arranha-céu não
pode ser levantado em uma semana. Nem nosso sonho será realidade
amanhã. Vocês podem fazer a diferença na luta entre o bem e o mal. Não
importa se moram em Hong Kong, Bangladesh, Tóquio, Berlim, Londres,
Los Angeles, Montreal ou na Cidade do México. Vocês têm poder para
mudar o mundo.
Blasfêmia fez um sinal, e os demônios designados para cuidar dos
câmeras se colocaram em ação. Começaram a falar em seus ouvidos que
aproximassem o zoom do líder religioso. As televisões do mundo inteiro
podiam literalmente ver o vapor que saía das narinas de Dominic.
— O que tenho a dizer não é apenas para os presentes neste salão
medieval. Minha visão de uma nova ordem mundial pode afetar de forma
positiva todos os seres humanos que me ouvem!
Blasfêmia orgulhou-se de sua mais nova criação. A sinceridade de
Dominic era incontestável, ainda que o ateu ou nacionalista mais
convicto quisesse colocá-la à prova.
— O objeto da crença de vocês afeta seu modo de agir, e afeta o
modo de agir do governo de seu país. Por favor, comecem a pensar no
mundo como um todo e a agir no bairro em que moram. Sei que vocês
têm ouvido falar desses temas divinos há anos, mas desta vez quero que
coloquem em prática o que ouviram! Pressionem os representantes de
seu governo para que reformulem os princípios morais nas legislaturas,
nos tribunais, nas igrejas e nas ruas assoladas.
O Falso Profeta olhou de relance para suas anotações, mordeu a
pele seca dos lábios, fechou os olhos e respirou fundo.
Blasfêmia quase chorou quando viu o projeto da fraude aberto
bem embaixo das mãos de Dominic. O líder dos demônios havia
cultivado um campo de medo na cabeça de seu possuído. Com isso, ele
era capaz de plantar a pior das sementes. Conseguiu plantar as sementes
do seu lema "o bem é mau, e o mal é bom".
Dominic pegou as anotações, controlando sua raiva, e as levantou
para o alto. A multidão, iludida, começou a murmurar. Estava
acostumada a ter líderes mais reservados e devotos.
— Meus amigos, estou em uma terrível luta com meu espírito.
Deus me ungiu, mas estou com medo! Vejam, recebi uma mensagem do
Deus Todo-Poderoso, mas não entendo suas implicações!
Suor pingava de sua testa. A multidão pedia-lhe para compartilhar
sua revelação.
— Fale, iluminado! — gritava a congregação.
— Meu coração está pesaroso porque conheço a verdade! —
exclamou Dominic.
Olhou ao redor do santuário na esperança de ver se a multidão iria
morder a isca.
— Diga a verdade! — gritou um homem que estava em pé no fundo
do salão.
— Nós confiamos no senhor — gritou outro.
Dominic levantou um pouco a mão e inclinou a cabeça levemente
para frente. Sua postura agora era a de um homem religioso, embora sua
mente estivesse possuída por um demônio.
— Será difícil acreditar na verdade sem questionada. Na realidade,
eu mesmo estou tendo dificuldade para lidar com essa revelação. Ela toca
tão profundo na ferida que é capaz de acabar com todos nós.
Dominic não tinha ideia do poder que tinha em mãos.
— O êxodo em massa de nossos amigos e familiares ontem foi
determinado, ordenado e realizado por Deus!
A multidão ficou em silêncio. Era um tipo de silêncio que faz
qualquer pessoa pensar e ter medo. Seu comentário arrepiou os pelos e
levantou perguntas na mente dos ouvintes. Por que Deus arrebataria
tantas pessoas, jovens e idosos, entre eles o Papa? Por que ele permitiria
que milhões de famílias gritassem por seus entes queridos?
Dominic parecia confiante, inspirado e, sobretudo, confiável. —
Meus companheiros, cidadãos do mundo, Deus tem um propósito divino
nesse grande arrebatamento que arrancou as pessoas da terra. Ele tem
duas razões, mas um propósito central — disse ele, inclinando-se contra o
púlpito.
— Ele deseja, mais do que qualquer coisa, ver nosso mundo em
paz; afinal, Ele é o Deus de paz. Segundo o Seu juízo, os desaparecidos
não mereciam continuar a viver. Ele os criou e tem todo o direito de se
livrar deles! É claro que nosso querido Papa não era um deles. Deus
também quis chamar alguns de seus patriotas para o lar. Quanto aos
outros, eles usavam Deus como uma arma de guerra. Deus assistia do
Céu e chorava por causa da sua arrogância e da sua atitude judiciosa. Eles
pregavam um Deus pobre de espírito e um Deus que pune as pessoas por
pensarem de forma errada. Se você não concordasse com um deles,
então, recebia pedradas e era considerado um humanista mundano ou
um seguidor do Diabo!
A nuvem negra de demônios impedia completamente a entrada da
luz espiritual de Deus.
— Eles eram separatistas, que resistiram até a morte à verdade de
um mundo unido em busca de paz. Eles se opunham a tudo que o nosso
Deus representa porque seu mestre era o Pai da Mentira, o próprio
Satanás. Condenavam todas as outras grandes religiões mundiais com
uma atitude judiciosa que era uma verdadeira blasfêmia.
Blasfêmia ficou arrebatado ao ouvir seu nome.
— Nós sabemos que religiões incríveis, como o budismo, o
hinduísmo, o islamismo, seguem o mesmo Deus que seguimos, só que de
maneira diferente. Contudo, os fanáticos dessas religiões eram
semeadores de discórdia que sustentavam uma interpretação rígida da
Bíblia, enquanto destruíam a fé do próximo. Não percebiam que para
amar o próximo era necessário abrir mão de alguns princípios de suas
crenças para o bem de toda a humanidade. Eram exibicionistas
hipócritas que tinham esperança de fazer uma lavagem cerebral em vocês
e em seus filhos.
Dominic tomou um gole de água. Sem a ajuda de seu guia, suas
forças teriam se acabado.
— Eles assassinaram médicos que cometiam abortos em nome da
vida! Existem mais de seis bilhões de pessoas na face da terra. Milhões
estão morrendo de fome nesse momento, e eles se sentiam heróis por
salvarem um feto em vez de uma criança desnutrida na África ou na
Índia. Eram cegos, não só por causa da ignorância, mas por causa de um
orgulho obstinado. A maioria era formada por capitalistas que queriam
proteger os ricos às custas dos pobres. Como alguém poderia suportar os
gananciosos em vez dos desamparados? Será que Deus representa isso?
A multidão bramiu em uma só voz:
— Não!
— Eles acreditavam na conversão das pessoas à sua ideologia
mediante o uso da intimidação, do medo e da culpa sem piedade. Nós
não precisamos nos "salvar" de nós mesmos, mas sim nos "salvar" deles!
Agradeço ao meu Deus por Ele ter feito isso. Eles eram seguidores
psicóticos de uma religião sangrenta, violenta e antagônica que não tem
lugar no reino de Deus. Eles brincavam com palavras, e eu agradeço a
Deus que seus dias de brincadeira com o mundo acabaram!
Mais gritos de júbilo se ouviram. A rede de demônios espalhada
pelo mundo todo estava fazendo todo o esforço para trazer o maior
número possível de pessoas para a frente da televisão. Por todo o mundo,
o exército de Satanás tinha total domínio para enganar as pessoas
ingênuas da terra. Multidões de demônios atormentadores, centenas de
milhões deles, batizavam todos os cantos da terra. Com todos os anjos e
cristãos diante do trono de Deus no céu prestando reverência a Ele, os
demônios podiam facilmente atacar e fazer uma lavagem cerebral nas
pessoas da terra. Satanás estava determinado a tirar o melhor proveito
desta oportunidade.
O tumulto na antiga catedral lembrava um show de rock.
Ninguém estava sentado. A balbúrdia dominava o ambiente à
medida que o entusiasmo religioso e político levava o povo a um
turbulento clímax. Toda alma perdida no santuário convenceu-se da
veracidade do sermão de Dominic, que discutia temas como justiça social
e paz mundial.
As empresas que mediam o ibope dos programas de televisão do
mundo todo estavam registrando índices astronômicos. Quase metade do
planeta estava assistindo ao evento ensaiado. Blasfêmia estava satisfeito.
— Dominic Rosario para presidente! — gritava o público
fascinado.
O líder religioso recém-ordenado sentia-se lisonjeado, porém
receoso. Sabia que Immanuel estava na disputa pela posição de líder
mundial. A tentação era atraente, mas as consequências seriam fatais.
Ele jamais se esqueceria do que Immanuel havia-lhe revelado na reunião
particular que haviam feito há alguns dias, a qual mudou sua vida para
sempre. Ele temia mais Immanuel do que a própria morte.
Dominic tentou reconquistar a atenção da multidão, colocando a
boca bem próxima ao microfone.
— Posso falar? — perguntou ele de forma amável.
A agitação cessou. Dominic aproveitou a oportunidade.
— Isso é importante, meus amigos — gritou Dominic. Não se ouviu
um ruído.
— A mensagem final que Deus me revelou fez meu coração saltar
de alegria. A Bíblia sempre profetizou que o Salvador do mundo viria à
Mãe Terra e salvaria o planeta. Deus confirmou que esse evento profético
logo se cumprirá. Ele não revelou a hora nem o dia exato em que ele
aparecerá, mas me disse que será em breve, muito em breve!
CAPÍTULO QUATRO
Paz passageira

Um jatinho particular de cor branca passou deslizando em direção


à pista de pouso que ficava em uma pequena faixa no deserto do
continente africano. O sol acabara de nascer há uma hora, contudo, os
termômetros já marcavam 53°C. Assim que as rodas do avião encostaram
no chão, pôde-se ouvir o ranger dos pneus de borracha na pista seca. A
bordo do impecável avião estava Immanuel, dormindo na suíte principal.
O interior do jato lembrava um apartamento luxuoso de Manhattan, com
acomodações de vários níveis, três quartos de luxo, cozinha e dois chefes
que trabalhavam em período integral: um oriental e um ocidental. Os
engenheiros particulares, que desenvolveram o projeto original do avião
exclusivamente para Immanuel, recusaram-se a mexer no princípio
aerodinâmico; assim, ele não poderia ter toneladas de ouro e marfim
adornando sua sala de estar. Immanuel demitiu esses engenheiros.
Depois, encontrou cientistas apropriados que projetaram e construíram
sua fortaleza no céu. Ouro, prata, marfim, couro e pedras preciosas
abarrotavam os alojamentos. O valor das mobílias excedia o custo do
avião de vários milhões de dólares.
Uma sirene acordou o gigante adormecido. Os olhos de Immanuel
abriram-se no mesmo instante. Não havia tempo para sonecas nem café.
Immanuel suspirou. Pela primeira vez na vida, teve de lidar com o fato de
que não estava mais no comando geral. Blasfêmia, seu mestre espiritual,
o estava lembrando disso. Uma reunião importante, na qual Immanuel
planejara encontrar-se com os líderes de estado da Europa, havia sido
abruptamente cancelada na última hora. Blasfêmia levara Immanuel a
este buraco de areia, poeira, guerra entre tribos e pobreza. A confiança
que o bilionário tinha no demônio minguava aos poucos. Ele sabia que a
próxima jogada a ser feita no tabuleiro de xadrez da vida dependia da
instrução de Blasfêmia. A voz do piloto soou no sistema de comunicação
interno.
— A limusine que o senhor solicitou já chegou. O motorista me
disse que a viagem durará exatas duas horas e meia, sem levar em conta
as tempestades de areia e os percursos feitos a camelo. Ah, a propósito, o
senhor gostaria de tomar o café da manhã?
— Não — disse Immanuel, sem parar de pensar na situação
desagradável em que se encontrava. Não se lembrava de ter embarcado
no avião nem tinha a menor idéia de onde estava ou para onde estava
indo.
Immanuel notou que suas mãos tremiam enquanto ajeitava o nó
de sua gravata de seda árabe. Será que seu guia espiritual o havia traído?
Fechou os olhos e tentou recompor sua compostura. Logo, abriu a porta
do quarto e dirigiu-se para a saída.
Ao pé das escadas aquecidas pelo sol, um recepcionista do avião
ofereceu-lhe um turbante. Era necessário cobrir a cabeça naquele deserto
escaldante. Immanuel ignorou o homem e entrou na limusine.
Preencheria seu tempo concentrando suas energias na fase dois do plano.
No exato momento em que fez um sinal para seu guia espiritual,
Blasfêmia apareceu cruzando o chão do deserto. O extravagante general
trazia um documento na mão. Assim que entrou no veículo, o coração de
Immanuel começou a disparar. O magnata fechou os olhos e ergueu as
mãos para o alto. Era sua forma de adorar seu pastor. Blasfêmia
mostrava os dentes enquanto sorria da submissão de Immanuel.
— Você passou no seu primeiro teste de fé, meu amigo —
cumprimentou-o o demônio. Sua voz tornou-se áspera. — No entanto,
seu coração está profundamente dividido. Ouvi você questionar nosso
relacionamento. Lembre-se, homem, posso ler todos os seus
pensamentos e sentir suas emoções vazias — desdenhou Blasfêmia. —
Tenho a capacidade de transcender no tempo, estar em todos os lugares
ao mesmo tempo — blasfemou ele. — Para fazer de você um grande líder,
o mais forte e mais corajoso que o mundo já viu e verá, exijo firme
devoção. Você tem um longo caminho pela frente antes de passar em
meus outros testes!
Em uma atitude de servidão inesperada, Immanuel implorou por
uma chance.
— Dê-me o privilégio de ser testado novamente. Encha-me de sua
sabedoria eterna, de seu conhecimento onisciente e de sua percepção
onipotente. Use-me, mestre.
O motorista tinha dificuldades para manobrar a limusine no
deserto. Ficou com cara de tacho ao ver Immanuel adorando o teto.
"Quanto mais ricos, mais loucos eles ficam", pensou ele.
Após 26 anos sem derramar uma lágrima, Immanuel começou a
chorar. Como uma criança que acabara de ter seu doce arrancado, ele
estava determinado a ter tudo ou a não ter nada. O poder parcial já o
havia corrompido. Era o que qualquer um supunha que o poder absoluto
poderia fazer. Immanuel nada temia, exceto o fracasso de não conseguir
alcançar seu sonho de conquistar o mundo.
— Preciso de mais. Por favor! Meu apetite é insaciável — suplicou
Immanuel.
O banqueiro não estava acostumado a rastejar; ele só o fazia em
circunstâncias extremas.
Blasfêmia alisava a pele do queixo alongado. Uma atitude de
submissão lhe agradava mais do que travar uma boa batalha com um dos
anjos do Deus Jeová.
— Muito bem, seu status será mantido, por enquanto. Considere
isso que você submeteu à minha autoridade ou irei esmagado como se
fosse uma barata surpreendida pela luz! — ameaçou o espírito.
— Seu desejo é uma ordem — disse Immanuel.
— Ótimo. Hoje, você irá se encontrar com o homem que dará um
empurrão em sua imagem na mídia. Venho bajulando esse homem para
que seja seu porta-voz. Ele tem as ligações dentro da mídia necessárias
para torná-lo famoso.
Blasfêmia colocou o documento que trazia no colo de Immanuel.
Os olhos de Immanuel ainda estavam fechados quando ele sentiu o odor
repugnante do demônio, que cheirava a pele queimada e peixe podre. O
mau cheiro fez Immanuel abrir rapidamente os olhos. Sua reação natural
foi observar o que acontecia do lado de fora do carro. Assim que
contorceu o corpo para ver a estrada, sentiu algo em seu colo. Immanuel
olhou ao redor e encontrou um documento antigo. Ficou hipnotizado ao
ver que o documento havia aparecido de forma sobrenatural.
Blasfêmia divertia-se. Era-lhe gratificante ver os homens sentirem
por experiência própria o poder que ele possuía. Isso era apenas o
começo. O demônio pegou o documento, que parecia levitar sem ajuda
humana. Immanuel era esperto o bastante para saber que Blasfêmia
estava por trás daquilo.
— Meu poder é tão imenso quanto a energia do sol — iludia
Blasfêmia. — Este documento é meu plano para atrair o mundo para que
siga o verdadeiro provedor de riquezas, sabedoria e armistício. Consuma
a sabedoria contida nele. Obedeça-me e viva!
— Tenho algumas idéias sobre nossa nova ordem mundial —
propôs Immanuel, impaciente.
Blasfêmia não estava interessado na contribuição de Immanuel.
— Não perca seu tempo nem me faça perder o meu com seus
próprios planos. Quero que você passe todos os minutos do dia tentando
influenciar e, conseqüentemente, mudar o coração das pessoas que têm
posição e poder para nos ajudar em nossa busca da recompensa. Vá atrás
dos ricos e poderosos. Encontre essas pessoas que irão nos ajudar a
alcançar a terra prometida nos quatro cantos da terra. Confie em mim.
Estarei por perto para protegê-lo de qualquer um que tente impedir
nossa missão.
O motorista da limusine estava extasiado com o documento que
não parava de voar. Infelizmente, não soube ver o que era prioritário,
porque não percebeu o carro que se aproximava rapidamente, vindo do
leste.

Satanás espreguiçava-se em seu trono, usando um palito para


remover dos horripilantes caninos pedaços de alma dos homens.
Roubara quase dez mil homens de Deus na última hora, devorando a
alma deles e cuspindo partes dela para dentro do abismo de horrores. O
aguilhão da morte era doce para Satanás. Seu gosto por doces era
insaciável. Ele tinha uma das chaves da morte, e tinha sede por outra. O
Deus Jeová havia-lhe passado a perna há uns dois mil anos com a morte
e a ressurreição de Jesus. Satanás jamais perdoaria Deus por isso. Estava
determinado a destruir tudo o que Deus amava, principalmente a
humanidade.
Seu sonho foi abruptamente interrompido por uns intrusos
indesejáveis. Os arcanjos Miguel e Gabriel já estavam bem à sua frente
antes mesmo de ele ter tempo para ajustar o foco dos olhos.
Suas espadas estavam desembainhadas, em posição de defesa.
— Lúcifer! O Deus Todo-Poderoso quer que você desista dos
terríveis planos para assumir o controle da terra! — repetiu Miguel.
Satanás não conseguiu evitar as gargalhadas, embora não tivesse
tentado.
Os arcanjos estavam acostumados com o comportamento
irreverente do demônio. Olharam um para o outro com um olhar de
piedade.
O dragão sentou-se em seu trono na tentativa de parecer-se mais
com um rei.
— Deixe-me ver se entendi bem. O Deus Jeová quer que eu
interrompa meus planos antes de Ele ser derrotado? Ele quer que eu me
renda e volte para casa com Ele, como aconteceu naquela repugnante
história do filho pródigo? Ele não é um homem de palavra? Vocês,
companheiros, são tremendos guerreiros que devotam lealdade à pessoa
errada. Tenho belas lembranças de brigas com vocês. Por que vocês não
renunciam a sua aliança com Jeová, ou, melhor ainda: por que não se
tornam espiões do lado onde está a força e o vigor?
Os anjos mostraram uma ira justificada, contudo, lembraram-se
de deixar o julgamento para o Senhor.
— Não vou perder meu tempo respondendo suas perguntas —
continuou Miguel. — O relógio está rodando; o estopim já foi aceso. Você
tem menos de sete anos para ser julgado. Tenho certeza de que se lembra
do momento em que Jesus declarou você e um terço dos anjos culpados
por alta traição há dois mil anos. Vocês zombaram Dele porque
nesciamente pensaram que Ele não tinha coragem ou poder para colocar
em prática o que havia dito.
Satanás interrompeu o arcanjo de Deus.
— O Deus Jeová é um racista e um tirano. Ele não acredita na
igualdade nem nas conquistas. Pensa que todos nós devemos ficar felizes
por adorá-Lo aos pés, dizendo: "Obrigado, Nossa Santidade; bendito seja,
Nossa Majestade; nós O adoramos, nosso Criador; honra e poder e blá-
blá-blá" — escarneceu Lúcifer.
Miguel e Gabriel sempre se surpreendiam com a atitude
pervertida de Satanás. Queriam saber como uma das criações de Deus
ficara tão amarga.
— Nosso objetivo é advertido sobre o juízo que está por vir. Abaixe
suas armas de guerra, ou o Deus Jeová e Seus anjos de justiça irão fazê-lo
por você! Isto não é uma ameaça: é uma promessa!
Satanás olhou com desdém ao desembainhar sua espada. Os
arcanjos reposicionaram suas armas. Elas seriam usadas apenas se fosse
necessário. Cada um dos poderosos anjos de Deus esperou que Lúcifer
recuasse. No entanto, ele preferiu desistir. Miguel resumiu a mensagem
de Deus.
— No livro de Apocalipse, Deus destacou a Sua estratégia, as Suas
razões e a Sua sentença final nos próximos anos. Se você tivesse a
humildade para ler o livro e crer... — exortou o anjo.
Eles lentamente foram se distanciando do líder dos demônios,
examinando todos os seus movimentos com cautela. Quando já estavam
seguros a certa distância, eles se viraram de frente para o buraco de saída
dos vermes. Satanás era do tipo que dava a última palavra, independente
da circunstância.
— Quando eu tiver terminado, não haverá mais uma Bíblia
impressa nesse planeta. Eu mesmo vou me certificar disso! — gritou
Satanás.

Os olhos do motorista quase saltaram para fora quando ele


percebeu que estava na pista errada e que outro carro se vinha
aproximando. Os veículos estavam a menos de trinta metros de distância
quando Blasfêmia ergueu os olhos e segurou a roda. Seu plano não
incluía a morte de suas duas principais estrelas na jogada do milênio.
Blasfêmia deu um supetão no motorista inconsciente e jogou a roda para
a esquerda. Assim que pisou nos freios, a limusine começou a derrapar
fazendo um som estridente. Ele saiu voando para o outro carro, deu um
soco no estômago do motorista e parou o carro alugado apenas a alguns
metros de distância da limusine.
Immanuel praguejou ao bater a cabeça. Abriu o vidro que o
separava do motorista, que estava desacordado.
Blasfêmia observava com cuidado as ondas de pensamento de
Immanuel, cujo coração provava ser leal ao demônio. Pensar que
Blasfêmia havia tramado esse fiasco nunca passou pela mente de
Immanuel. Ele estava mais preocupado com o caminho de volta para o
avião.
Immanuel saiu de seu ninho confortável para examinar o estrago.
Pela primeira vez em vários anos, ele mesmo abriu a porta do carro. No
mesmo instante sofreu um golpe de ar quente insuportável. Arrancou a
jaqueta e a gravata, e as jogou dentro do carro. Sua camisa de algodão
exorbitantemente cara, que ostentava a capacidade de transpiração em
climas extremamente quentes, oferecia pouca resistência ao calor do
deserto africano. Immanuel foi até a parte da frente da limusine e,
despreocupadamente, notou o outro veículo, ignorando o ocupante.
Estava preocupado com a habilidade do motorista que deveria atender às
suas necessidades. Abriu lentamente a porta do lado do motorista.
— Esqueça esse perdedor — dizia Blasfêmia. — Quero que você se
encontre com uma pessoa.
Immanuel batia de leve no rosto do motorista, esperando uma
resposta. Rapidamente procurou verificar a pulsação no pescoço.
— Deixe esse ingrato para lá! — gritou Blasfêmia com toda a força
de seus pulmões. — Há algo à sua espera no outro carro. Vá até lá, agora!
— Mensagem recebida — suspirou Immanuel, que atravessou
correndo a estrada e bateu no vidro colorido do carro.
— Você está ferido? — perguntou Immanuel.
Não teve resposta, embora pudesse ver algum movimento no
interior do carro. Bateu no vidro novamente. Gotas de suor escorriam-lhe
pelo rosto chegando aos lábios. De repente, a trava da porta do sedã azul
fez um estalido deixando a porta meio aberta. Immanuel pôde ouvir um
gemido que vinha lá de dentro. Sua adrenalina aumentou ao abrir
suavemente a porta.
— Este homem será seu cachorrinho na mídia — revelou
Blasfêmia.
Assim que abriu a porta, percebeu que o rosto daquele homem lhe
parecia vagamente familiar.
— Com licença, você está bem? — perguntou Immanuel.
— É, acho que sim — disse o homem, saindo devagar do carro.
— Ken Action, de St. Louis, Missouri — apresentou-se o repórter
enquanto apertava a mão do gigante no ramo bancário.
— Immanuel Bernstate. Prazer em conhecê-lo.
Blasfêmia voou até o carro alugado e começou a mexer no motor.
Ken voltou para dentro do carro.
— Por que você não se senta um pouquinho comigo na limusine?
Tenho uma história que pode fazer sua carreira decolar — tentou
Immanuel.
Ken ficou assustado com a declaração. Apesar de sentir-se atraído
pela oferta, este estranho o estava deixando pouco à vontade.
— Não, obrigado. Já consegui uma história que vale por uma vida
toda. Não consigo trabalhar com mais de uma, pelo menos não nesta
semana! — disse Ken, nervoso.
Fechou a porta e girou a chave na ignição. Nada aconteceu.
Immanuel sorria para o entusiástico repórter enquanto lhe abria a porta.
— Acho que sua história vai ter de esperar, não? Por que você não
espera na limusine, que tem ar condicionado, enquanto vejo como está o
meu motorista.
Por alguma razão, Ken percebeu que não tinha escolha. Sem
contestar, entrou na limusine de Immanuel, que seguiu na lateral do
carro e encontrou seu motorista bem aturdido.
— Você pode nos levar de volta? — perguntou Immanuel.
— Sim, senhor, mas acho que vou precisar de uns minutos.
Immanuel sorria com elegância enquanto fechava a porta do
motorista.
Foi para a parte de trás da limusine, esperando receber uma
irradiação de Blasfêmia para obter sabedoria e orientação.
— Ofereça-lhe um emprego com um salário irresistível. A única
coisa que ele ama na vida, além de si mesmo, é dinheiro! — sussurrou o
demônio.
Immanuel abriu a porta do carro e sentiu uma corrente agradável
de ar frio.
-— O motorista estará pronto em alguns minutos. Ele ficou um
pouco enjoado com esse transtorno todo — disse Immanuel.
Ken parecia mais relaxado. Se soubesse quem o estava cortejando,
Ken Action cairia de joelhos, pensou Immanuel.
— Estou muito interessado em ouvir sua história do século —
começou Immanuel. — É por isso que está no meio do deserto?
Ken não queria conversar.
— Pode confiar em Immanuel — repetiu diversas vezes Blasfêmia.
— Ele comprará seu passe para a fama — disse o demônio, fazendo uma
lavagem cerebral no repórter.
Ken normalmente não se abria para estranhos, principalmente no
que dizia respeito a segredos que poderiam render milhões.
— Conte tudo — cantarolava o demônio. Ken obedeceu.
— Você pode achar difícil acreditar nisso — preparou-o Ken —,
mas tenho provas concretas de que seres alienígenas estão visitando este
planeta e têm planos de colonizá-lo!
Immanuel aparentemente permaneceu calmo, mas, por dentro,
perguntava-se como este homem lhe poderia ser útil.
— Confie em mim, Immanuel. Não deixe escapar essa bola das
mãos. Vou guiá-lo — concitava Blasfêmia.
— Que prova você tem do que acabou de dizer? — investigou
Immanuel.
— Está a 24 minutos daqui — disse o repórter.

Em Wall Street, uma enorme quantia de dinheiro invadia o


mercado. Ninguém tinha a menor ideia de sua procedência e, na verdade,
ninguém estava nem um pouco preocupado com isso. O mercado subia
como um foguete que parecia ter uma quantidade ilimitada de
combustível. No início da tarde, o valor do índice Dow Jones foi lançado
à órbita. Os aliados mais próximos de Immanuel haviam comprado quase
todas as ações imagináveis na abertura do dia de negociações. Menos de
cinco horas depois, o preço dessas empresas havia aumentado quase
50%.
Lorde Birmingham estava pronto para vender suas ações.
O mercado se comportava como um jato comercial alcançando sua
altitude máxima com apenas algumas gotas de combustível no tanque.
Ao mesmo tempo, tragando um charuto cubano e bebendo um Martini,
Birmingham parecia e se sentia sob controle. Ele estava no topo do
mundo. Séculos de trabalho e suor estavam prestes a fazê-lo colher sua
merecida recompensa. O banqueiro solitário reclinava-se
confortavelmente em sua cadeira de couro preta. Seu escritório elegante
estava repleto de telas de televisão e computadores, e tinha um capacho
de pele de urso que cumprimentava os visitantes mostrando os dentes.
Doze monitores de televisão estavam dispostos em semicírculo à frente
de sua mesa. Cada monitor estava conectado a um de seus conselheiros
de operações bancárias, que aparecia nas telas encarando o líder com
inveja.
Uma tela de computador maior exibia o rali contínuo do mercado
que estremecia os Estados Unidos. Despreocupado, Lorde Birmingham
acomodou-se em sua cadeira e deu uma última olhada nos resultados que
ajudara a criar. O aumento de 50% mantinha-se firme naquele índice. O
banqueiro deu um último trago no charuto e depois o apertou no
cinzeiro.
— Senhores, creio que este é nosso momento de glória!
Algum dissidente? — perguntou Lorde Birmingham, enquanto a
fumaça do charuto saía de suas narinas.
Esticou a mão até o painel de controle do telefone e colocou o
dedo no sensor, dando uma última olhada para seus velhos amigos nos
monitores de televisão, que trocavam entre si olhares referentes às
ordens dadas antes de partirem para a guerra.
Lorde Birmingham aproximou os olhos do telefone e apertou o
botão.
— Venda! — ordenou o perito em finanças.
— Quanto, senhor? — perguntou a voz nervosa do outro lado da
linha.
— Tudo! — ordenou o chefe, examinando com cuidado as reações
de seus amigos. Cada um deles reagiu da mesma forma demonstrando
sua avareza em um olhar furioso e impassível. Lorde Birmingham
esperava uma resposta de seu corretor particular.
— Ouvi o senhor dizer "tudo"? — perguntou curioso o assistente
com uma voz de espanto.
Lorde Birmingham não estava acostumado com os gestos de
desobediência de seus cães, nem mesmo com um deles questionando
suas ordens.
— Você tem alguma coisa a ver com isso? — gritou o conspirador.
— Bem, não, senhor. Mas acho que o senhor não deveria apostar
todas as suas fichas nesse negócio. É sempre inteligente apostar na
diversidade de opções. O mercado vem-se desvalorizando há anos por
causa daquela mórbida guerra civil. Mas se o senhor vender todas as
ações do seu e dos portfólios de seus sócios, isso poderá arruinar o
mercado! Estamos falando de dezenas de trilhões de dólares! Onde o
senhor depositaria os lucros, e até onde isso seria bom antes de sofrer
uma queda junto com os de outra pessoa?
Lorde Birmingham inclinou-se para frente, colocou uma porção
de caviar na boca e começou a rir. Era um tipo de risada que deixaria
uma pessoa educada pouco à vontade.
— Eu estou me lixando para a opinião de um rato imbecil sobre o
mercado. Tem vezes que o dinheiro não é meu principal objetivo! Afinal
de contas, acabamos de ganhar quase quatro trilhões de dólares em
menos de cinco horas! — bufou o lorde, enquanto tornava grave e erguia
a voz. — Venda tudo! Compre ouro, prata e platina. Em alguns dias, nós
praticamente seremos donos do mundo! — berrou um homem que não
estava a fim de ser contrariado.
Lorde Birmingham estalou os dedos. Logo em seguida, um criado
de meia-idade vestindo smoking aproximou-se com outra obra-prima
cubana.
— Posso cortá-lo e acendê-lo para o senhor? — perguntou
delicadamente o homem contratado.
O nobre banqueiro balançou a cabeça num "sim".
Lorde Birmingham voltou a atenção para seus cúmplices. — Os
senhores sabem que tenho
minhas restrições, profundas restrições, com relação ao nosso
amigo, Immanuel.
Os gangsteres modernos riram em voz baixa.
— Devo dizer, no entanto, que o plano dele é nos deixar mais ricos
do que jamais pudemos imaginar. Suas ideias são brilhantes — disse,
erguendo o copo de cristal esculpido à mão para as imagens que vinham
da televisão.
— Um brinde ao homem que nos ensinou como ganhar dinheiro
fácil.
Todos compartilharam de sua alegria. Era uma experiência
profundamente comovente para os bruxos de Wall Street.

Assim que pressionou a tecla enter de seu computador, o corretor


do grupo sentiu um nó na garganta do tamanho de uma rã. A
transferência eletrônica fora mais rápida do que um piscar de olhos. A
ordem de venda nada mais era do que um simples ponto em linguagem
de computador. Era incapaz de fazer o bem ou o mal, mas estava
destinada a fazer com que homens e mulheres saltassem de prédios altos
por todo o país.
No andar da Bolsa de Valores de Nova Iorque, um corretor estava
até o pescoço executando ordens comerciais. Era o dia mais hilariante de
sua vida profissional. Ele estava ocupado cumprindo ordens quando, de
repente, um alarme soou do terminal de seu computador. Uma queda de
50 pontos foi exibida rapidamente pela máquina. "Simples rendimentos",
pensou o corretor. De repente, horrorizado, ele caiu sentado e assistiu o
mercado tendo uma queda súbita das taxas cambiais em questão de
segundos. Como cada segundo era precioso, outros dez pontos já se
tinham ido. A Dow Jones estava mergulhando em um grande abismo
como um paraquedista sem paraquedas. O ganho de 50% tinha
desaparecido no vento. Em menos de uma hora, a riqueza inventada
havia se transformado em um embuste cruel, uma miragem no deserto.
A ordem de venda de Lorde Birmingham fez o mercado entrar em
parafuso. Era simplesmente a lei da oferta e da procura. A oferta das
ações aumentou assim que ele as vendeu, fazendo a procura cair. Quando
a procura de um produto é pequena, o preço cai.
Levou menos de dez minutos para o mercado americano perder
um adicional de 6% de seu valor. O relógio parou às 14h06. As
negociações do dia estavam encerradas.
Os noticiários chamavam as negociações da Bolsa de Valores de "a
montanha-russa de Wall Street". A mídia informou que o encerramento
antecipado se dera em razão de um problema no sistema de
computadores. A maioria dos investidores engoliu a mentira — alguns
com suas economias —; no entanto, os mais astutos sabiam que os
computadores das operações cambiais haviam sido atualizados mediante
o uso da mais avançada tecnologia. A informação que o mundo recebera
era a de que os computadores não conseguiam manipular dezenas de
bilhões de ações que estavam sendo negociadas. Muitos principiantes no
mercado financeiro haviam confiado seu dinheiro aos gerentes. Agora a
notícia da crise pegou todos de surpresa. Comprar fazia sentido, mesmo
se os investidores tivessem de fazer um empréstimo.
Havia outras más notícias. Os títulos que os governos vendiam
para financiar sua irresponsável dívida não foram vendidos. Com a
expansão dessa dívida por Lorde Birmingham logo cedo e a aglomeração
das pessoas nas bolsas de valores, os oficiais do tesouro do mundo todo
estavam ficando nervosos e preocupados em ter de elevar as taxas de
juros para atrair investidores. A queda do mercado no fim do dia de
negociações fez com que eles se sentissem melhor. A regra era simples.
Se todos estavam aplicando seu dinheiro nas bolsas, não havia dinheiro
suficiente para comprar títulos. As dívidas do país poderiam explodir se
as taxas de juros subissem demais. Uma fusão financeira de âmbito
mundial assombrava a mente deles.

Immanuel olhou para o relógio e franziu a testa.


— Qual é a sua dúvida? — analisou Immanuel.
— Alienígenas na terra é uma matéria esmagadora, você não acha?
— perguntou Ken em contrapartida.
Immanuel não estava convencido.
— Não é um assunto relevante. Os governos vêm encobrindo esses
fatos há anos.
Os olhos de Immanuel pareciam fazer um raio-x da alma de Ken.
— O que mais passa pela sua mente? — forçou Immanuel. Ken
tentou enrolar a pergunta.
— Por que você acha que alguma coisa está me incomodando?
Essa descoberta levanta uma série de sinais de perigo. De onde eles
vêm?, por que estão aqui?, são amigos?, eles querem jantar com a gente?
— Ken estava à beira do ridículo, um sinal nítido de que Immanuel havia
tocado na ferida.
— O que mais passa pela sua mente? — repetiu Immanuel. Ken
ficou pálido.
— Talvez eu não tenha mais um emprego quando voltar para os
Estados Unidos. Se eu for demitido pela gerência de minha estação,
ninguém nas redes irá se impressionar com a minha história. Eles não
me levarão a sério e chegarão à conclusão de que estou inventando essa
história para conseguir outro emprego — desabafou Ken, desanimado.
Immanuel sentia-se pouco à vontade em ser o ombro amigo em
que alguém podia encostar e chorar.
— Por que você não trouxe equipamento de filmagem na viagem?
Com certeza, você esperava deparar com um grande acontecimento —
perguntou Immanuel, sem tom de ameaça.
Um sorriso nervoso formou-se no rosto de Ken.
— Eu trouxe! Ninguém teve o trabalho de me avisar que o circuito
de minha câmera não aguentaria esse calor. — Ken fez uma pausa para
engolir um nó na garganta. — Veja bem, fiz uma parada para colocar
gasolina no carro e fazer um lanche. Deixei os vidros fechados e me
ausentei por cinco minutos, mas quando voltei, dentro do carro parecia
chegar aos 65°C. Era como se estivesse dentro de um forno! Mesmo
assim, nem me lembrei da câmera. Estava preocupado comigo. Não
pensei muito nela até a hora em que tentei ligá-la.
— Não se preocupe. Irei ajudá-lo. Tenho ligações.
— O que você quer dizer com isso? — disse Ken de modo abrupto,
pois tinha sido ameaçado por pessoas que traziam presentes que não
tinha merecido. Isso fez com que se lembrasse de Sally entregando sua
vida para Cristo. Ela havia dito que o presente da vida eterna era para
todos, independente do passado dessas pessoas, e que ninguém a
merecia. "Presentes sem nada em troca são para aqueles que acreditam
em Papai Noel", pensou Ken.
Immanuel pôde contornar aquela situação delicada com
facilidade.
— Preciso de um jornalista jovem e de boa aparência que esteja à
par das coisas, que possa controlar as feras da mídia — deu as cartas
Immanuel.
— Você está me fazendo uma proposta de trabalho? — brincou
Ken.
Se o que você diz é verdade, sim, eu estou — afirmou Immanuel.
— Você pode cobrir meu salário de trezentos mil dólares em St.
Louis? — blefou Ken.
— Um milhão de dólares como salário inicial, com exceção de
benefícios ou bonificações mensais — replicou Immanuel.
A generosidade de Immanuel surpreendeu o repórter, acostumado
a brigas violentas durante as negociações contratuais. A oferta de
Immanuel era um ponto de partida agradável.
— Sua oferta é mais do que tentadora — começou Ken, tendo
dificuldade para encarar o repulsivo bilionário nos olhos. — Acho difícil
acreditar que você ofereceria um emprego com uma cifra de sete
algarismos para alguém que acabou de conhecer!
Ken deu uma olhada ao redor da cabina assim que seu coração
começou a palpitar.
—Tenho orgulho em me envolver com pessoas que me ajudarão a
construir meu império. Apenas candidatos motivados, extremamente
intelectuais e muito qualificados são levados em conta.
A língua de Immanuel era afiada como uma navalha.
— Você me mostrou que é capaz de enfrentar tudo que atravessar
o seu caminho para alcançar seus sonhos. Suas fitas demo chegaram ao
meu escritório várias vezes.
— Eu nunca lhe enviei uma fita como currículo — corrigiu Ken.
Um sorriso malicioso atravessou a expressão inanimada de
Immanuel.
— Meu pessoal grava os noticiários dos principais 25 mercados
televisivos dos Estados Unidos e do mundo. Eles vêm realizando uma
busca exaustiva, que já dura seis meses, para encontrar o porta-voz
perfeito para minha causa. Seu nome esteve quase em primeiro lugar em
todas as listas que eles me apresentaram.
As objeções de Ken pareciam restolhos para as chamas. Ele
estendeu a mão para fechar o negócio.
— Você me fez uma oferta que, em sã consciência, é irrecusável —
sorriu Ken.
Immanuel estava satisfeito. O dinheiro era o óleo que fazia sua
máquina política funcionar.
— Foi a decisão mais acertada que você já fez, Sr. Action. Minha
equipe sempre aparece em primeiro lugar!
Ambos olharam ao redor para a paisagem estéril que rapidamente
ficava para trás. De repente, Ken reconheceu um ponto de referência.
Uma palmeira solitária marcava a entrada de uma estrada de terra
batida.
— Dê uma olhava naquela árvore — mostrou Ken. Sua atenção
logo se voltou para seu novo chefe.
— Bem ali naquela duna — apontou Ken — está o ponto onde vi
tudo acontecer.
O comportamento apreensivo de Ken era compensado pelo estado
de relaxamento de Immanuel.
— Ken, o que você acha de um governo mundial? — investigou
Immanuel.

O recém-eleito primeiro-ministro de Israel estava com a cabeça


enterrada entre as mãos trêmulas. De nada serviam as lágrimas, o medo
se espalhava pela terra e a guerra estava prestes a acontecer. O político
profundamente religioso era uma espécie rara de líder em Israel. Uma
longa estirpe de primeiros-ministros tentara evitar o casamento da
política com o judaísmo desde que o país recuperara a vida após a
Segunda Guerra Mundial. David Hoffman havia tranquilamente usado a
fricção crescente entre a florescente religião judaica e o movimento
socialista politicamente correto para abocanhar um cargo público.
Promoveu-se como um homem de princípios que estava doente e
cansado do compromisso político com os árabes e as Nações Unidas.
Sabia que os árabes não parariam de fazer pressões para conquistar a
terra até que conseguissem Jerusalém. "A quantidade de sangue
derramado alcançará as rédeas dos cavalos antes que isso ocorresse",
pensou David, lembrando-se da profecia bíblica.
Não era fácil influenciar David. Usava primeiro a cabeça, depois o
coração. Seguiu um curso restrito que levara à abolição da reforma social,
financeira e política. Era conhecido entre os judeus e desprezado entre os
árabes. Tinha a capacidade singular de espantar os árabes com algumas
formas de submissão. Não hesitou em ameaçar os
países do Oriente Médio com repercussões mili' tares rápidas e
prejudiciais, caso avançassem um centímetro em seu território. O
terrorismo patrocinado pelo estado fora rapidamente extinto em seu
governo. Nenhum grupo do Oriente Médio tinha determinação para
reivindicar responsabilidade pelas ações de seus mortos. Carros-bomba
eram comuns, mas não uma reivindicação arrogante de posse. Eles
sinceramente acreditavam que o primeiro-ministro Hoffman tinha um
dedo no gatilho e uma mente perspicaz. Era o tipo de líder que colocava
obstáculos semelhantes a uma fortaleza no caminho dos partidários do
globalismo que sonhavam com um governo mundial e um vazio mundial
causado pela guerra.
Hoffman era descendente da tribo de Judá e parente distante do
próprio rei Davi. O povo havia votado nele porque abraçava a fantasia de
que ele era o rei Davi em uma versão moderna. Espantosamente, tinha
l,90m de altura. Seu físico era firme, porém, envelhecido.
Sua filosofia de vida estava centrada no Antigo Testamento: tratar
as pessoas como se gostaria de ser tratado, disciplinar com amor e sorrir
sempre.
Seus índices na pesquisa estavam na casa dos 85% — seu maior
índice de aprovação. Algumas bombas estrategicamente colocadas em
países vizinhos haviam dado um empurrão em sua popularidade. O
homem tinha um punho de ferro, mas poucas vezes o usava.
— O que seu relatório diz hoje? — perguntou David ao seu
conselheiro. — Algum outro sinal de movimento de tropas?
O conselheiro fincou os olhos em suas anotações. A notícia, sem
dúvida, era importuna.
— Os russos reuniram quase cem mil homens, juntamente com
centenas de tanques e o mais recente armamento antiaéreo, em suas
fronteiras mais ao sul. Tenho razões para crer que o Irã, o Iraque, a
Jordânia e a Síria talvez cooperem.
O conselheiro militar enfiou o nariz na papelada. David sabia que
ele não estava lendo, mas se escondendo.
— E as Nações Unidas? — disse David.
Seu conselheiro não moveu um músculo, exceto a parte superior
dos lábios, que costumava contrair em situações de estresse.
— Dizem ser observadores neutros e pacíficos que querem paz a
todo custo. Mas é claro que essa conversa não condiz com sua conduta.
Nada novo por lá — concluiu o estrategista.
— Pode-se pensar que eles esconderiam melhor suas mentiras —
desabafou o primeiro-ministro.
Seu conselheiro riu.
— Quando se fica ouvindo as mentiras que eles dizem por muito
tempo, começa-se a acreditar nelas — observou ele.
— No que aqueles globalistas estão envolvidos? — perguntou
David.
— Meus informantes dizem que eles estão tentando desbloquear
nossas fronteiras ao norte e ao leste. Querem nos ver afundar!
David colocou uma das pontas do aro dos óculos na boca e
começou a mordê-la.
— Que recursos temos? — examinou David, infelizmente já
sabendo a resposta. Orava à procura de alguma revelação milagrosa
vinda dos céus, na esperança de que seu conselheiro fosse o profeta.
— Estamos encurralados, senhor. Nossa única defesa é partir para
um forte ataque. Temos de atacar pesado e não afrouxar até que recuem!

O presidente Colt bateu a mão na mesa oval. Sentado à sua frente


estava seu velho amigo de escola, Patrick Bonney, o Secretário do
Tesouro. O tesoureiro dos Estados Unidos parecia um homem morto
esperando pelo sepultamento.
— O senhor não entende, presidente. Oitenta por cento de nossos
títulos a curto prazo foram vendidos a preço de banana. Não me resta
dúvida alguma de que teremos de oferecer índices astronomicamente
altos de compensação para atrair investidores.
O argumento bastante emotivo, porém inteligente, entrou por um
ouvido e saiu pelo outro. O presidente parecia totalmente desinteressado
no jogo de números.
— Então, o quê? Vamos oferecer um índice alto para que as
pessoas possam ganhar algum dinheiro. Temos programas sociais para
todos. Por que não ajudar aqueles que abriram falência em Wall Street?
— devolveu o testa de ferro.
— Senhor, com todo o respeito que lhe é devido, isso faria com que
nossas dívidas aumentassem em um desenfreado efeito espiral. Em
menos de um ano, estaremos em um caos financeiro e provavelmente
social — anunciou seu amigo.
O presidente encolheu-se.
— Somos donos das máquinas de impressão. Vamos simplesmente
imprimir o dinheiro de que precisamos.
— Imprimir dinheiro será um tipo diferente de morte. O índice de
inflação irá disparar como um foguete, o que chamamos de hiperinflação!
O presidente Colt pegou uma caneta e a lançou na direção de seu
chefe.
— Eu sei o que é hiperinflação, seu idiota!
— Desculpe-me, senhor — sujeitou-se Patrick. — Amo meu país e
quero o melhor para ele. Se chegarmos a ter uma hiperinflação, as
pessoas verão que o valor do dólar será cada vez menor. A mídia irá fuçar
em toda a história como urubus na carniça. Nossa administração será
essa carniça. As pessoas acreditarão nela! Percepção é tudo na frente
econômica!
O presidente Colt levantou-se devagar com uma pose de
presidente. Seu sorriso amarelo deixou o amigo pouco à vontade.
— Quero que você imprima apenas um pouco de dinheiro, algo em
torno de um trilhão.
Tente esconder isso do mercado de qualquer maneira possível.
Quando, enfim, essa medida for descoberta, inicie uma campanha de
relações públicas. Convença o mercado de que a impressão deste
dinheiro foi o melhor passo a longo prazo que podíamos ter tomado.
Pinte o quadro de estabilidade e deixe os furacões para aqueles
constitucionalistas.
O Secretário do Tesouro olhava espantado. O presidente estava
passivamente esperando por uma resposta. Patrick Bonney rapidamente
se levantou e fitou os olhos no velho amigo como se ele fosse um
estranho.
— Não o conheço mais! — começou Patrick.
O presidente Colt estava perplexo.
— Você não quis dizer isso, Patrick.
O principal oficial do tesouro estava chocado com a mudança de
caráter que havia ocorrido em seu amigo.
— Você só pensa em si mesmo e em como pode ficar no topo da
pirâmide. Suas prioridades estão confusas! Você não se lembra daquelas
longas noites na casa de fraternidade em que falou em mudar o mundo?
Você disse que se colocaria à frente de um canhão se isso ajudasse este
país.
— Isso ainda é verdade — insistiu o presidente.
— Gostaria que fosse! Você está mais preocupado em juntar este
país, que outrora foi grande, às Nações Unidas. Todos em Capitol Hill
sabem que você está andando às cegas. Talvez você se torne o primeiro
Presidente do Mundo sob o disfarce da democracia das Nações Unidas,
mas terá de destruir este país para conseguir isso. Sei que nunca
entraremos em um consenso quanto ao verdadeiro intento da proposta
de um governo mundial, e que minha opinião faz parte da minoria dentro
do Círculo, mas serei fiel à minha convicção de que as Nações Unidas não
são a resposta!
O Secretário do Tesouro dirigiu-se à porta sem pedir para ser
dispensado.
— Eu me recuso a vender minha alma cm troca de poder. Acho
lamentável você oprimir seus compatriotas em busca de uma utopia que
está destinada ao fracasso!
O presidente Colt estava fervendo de raiva. Amigo ou não, ele não
tinha o direito de falar naquele tom ou daquela maneira com o presidente
dos Estados Unidos. O problema era que o presidente Colt sabia que seu
amigo estava certo. Ele o admirava por ter peito para lhe dizer isso na
cara.
— Não consigo acreditar que você ficaria assistindo de camarote
uma tempestade nos engolir e chamaria isso de bonança! — bateu de
frente Patrick. — Quando nossa moeda virar pó e meu país morrer, pelo
menos poderei me colocar diante de Deus e dizer que me recusei a fazer
parte disso. Com isso, eu me demito de meu cargo como Secretário do
Tesouro!
Patrick Bonney abriu a porta. O presidente Colt correu para seu
assento. Ele estava soltando fogo pelas ventas.
— Você está cometendo um grande erro, Patrick. Ninguém cruza o
meu caminho!

Immanuel e Ken estavam em pé ao lado da limu-sine. Suor descia


sem parar pelo corpo dos dois. Ambos estavam cuidadosamente
observando a miragem, curiosos para saber se ela era real.
— Você vê aquela água ou miragem naquele vale entre aquelas
duas grandes colinas? Foi ali que vi as naves pousando — lembrou Ken.
Immanuel queria acreditar em seu novo funcionário. Afinal de
contas, quem gostaria de ter uma pessoa desequilibrada trabalhando
para apresentar sua imagem às grandes massas?
Como uma pulga em um cachorro, Blasfêmia estava grudado em
Immanuel. Sabia que era hora de começar os fogos de artifícios. Meteu a
mão em uma bolsa escura. Uma caixa vazia do tamanho de um aparelho
receptor e portátil usado por crianças apareceu do nada. Blasfêmia bateu
no dispositivo seis vezes. A caixa vazia ficou cheia de rostos distorcidos.
Os rostos pareciam meio humanos e meio extraterrestres. Como que em
um milagre, eles pareciam um cruzamento entre um mortal e o típico
"ET".
Blasfêmia sempre se comunicava com alguns dos principais
produtores de Hollywood. Ele lhes fornecia informações sobre seus
agentes especiais.
Na realidade, as supostas criaturas vindas de outros mundos eram
simplesmente demônios com o poder de se materializar em um espectro
visível. Contudo, o plano do general andava como o mecanismo de um
relógio. As pessoas haviam se acostumado com a ideia de alienígenas
engraçadinhos e carinhosos, que eram espertos o bastante para nos levar
para uma nova era de paz, amor e harmonia.
— O que exatamente você viu aqui? — perguntou Immanuel. Ken
Action apontou na direção do vale.
— Bem, eles eram redondos e feitos de um tipo estranho de metal
que nunca vi antes. Eles não giravam; apenas pairavam no ar! E não
faziam nenhum barulho. Eram do tipo misterioso. Uh, eles, uh, eram do
tipo, bem... quero dizer, era como se eles apenas... e, quando pousaram,
eu vi essas coisas, você sabe, uh, como...
Ken estava apontando para todos os lados, tentando desenhar
uma imagem.
Blasfêmia examinou seu relógio atômico de cristal, fechou os
olhos, dobrou os dedos e pronunciou um feitiço. Energia eletrostática
saía da ponta de seus dedos e ia para a cápsula quadrada e depois para o
horizonte no oriente. A transferência de íons levou alguns segundos.
De repente, seis naves apareceram no horizonte. Ken Action foi o
primeiro a localizar as cápsulas.
— Olhe, bem ali, à sua esquerda! — arquejou Ken.
A nave rapidamente aproximou-se dos dois. Ken Action sentiu-se
justificado, embora um pouco ameaçado. Immanuel agarrou o braço de
Ken.
— Bem, Ken, pensei que você tivesse um parafuso solto!
Ken não ouviu uma palavra que ele disse.
— O que faremos agora: — disse Immanuel.
Ken começou a atravessar a areia funda e ríspida. Os objetos
arredondados pousaram a cerca de 180 metros de distância. Immanuel
seguiu Ken, mantendo uma boa distância do corajoso âncora.
As seis naves eram exatamente como Ken as descrevera.
Eles não podiam ouvi-las, cheirá-las, experimentá-las, nem senti-
las, mas podiam vê-las. O padrão de pouso dos OVNIs parecia estar em
um Círculo desigual. Não havia sinal de vida.
Sem pensar, Ken começou a correr a toda velocidade.
Immanuel seguia seus passos, mas não tão rápido. Ken diminuiu
os passos assim que se aproximou de uma das naves. Esticou a mão
trêmula na direção do gigante de metal. Quando estava para fazer um
contato, Blasfêmia gritou em sua direção e o lançou uns seis metros para
trás. Ken saiu voando pelo ar e foi parar de costas bem em frente de
Immanuel. A areia amorteceu sua queda, mas não seus nervos.
Immanuel franziu a testa. Ken pôs-se em pé, ofegante. Não parecia estar
seriamente machucado, apenas abalado.
— Não acho que vou tentar fazer isso! — observou Immanuel,
pouco emocionado.
O obstinado âncora recuperou as forças e bateu a areia quente de
sua camisa.
— Acho que deve haver algum tipo de campo de força que os
protege de ataques externos — presumiu Ken.
O demônio grandalhão dava risadinhas. Blasfêmia sabia que as
naves eram simplesmente projeções espirituais sem massa. Jamais
poderiam ser tocadas. Os objetos voadores não identificados apareciam
no radar, mas só porque os espíritos de Satanás podiam alterar os
códigos dos computadores. Eram apenas uma miragem, fruto da
habilidade de um demônio. Milhares de pessoas haviam testemunhado
esse fenômeno, contudo, ninguém conhecia a verdadeira origem ou
objetivo que estava por trás disso. Satanás havia designado um pequeno
grupo de demônios, liderados por Blasfêmia, para familiarizar o mundo
com criaturas vindas de outros planetas.
A porta da nave que estava mais próxima deles começou a descer
em silêncio. O coração de Ken batia forte contra o peito. — A porta está se
abrindo! — titubeou Ken.
Immanuel queria saber como tudo isso se encaixaria. Não era sua
hora de morrer. Ele não havia dominado o mundo ainda. Suas metas
ainda não tinham sido alcançadas. Balançou a cabeça e se concentrou na
aeronave.
Blasfêmia saiu do OVNI. Quando ele reapareceu, Ken e Immanuel
deram dois passos rápidos para trás. Blasfêmia estava mancando de uma
perna como se estivesse ferido. No entanto, o que Ken e Immanuel viam
não era Blasfêmia, mas um alienígena. O alienígena começou a pairar
sobre a cabina de sua máquina das estrelas.
Ken e Immanuel caíram de joelhos. O holograma parecia real. Eles
olhavam um para o outro como dois meninos que estavam prestes a
entrar em uma casa mal-assombrada. A tentativa de Immanuel de ficar
em pé foi frustrada. Um dos amigos de Blasfêmia pulava em seus ombros
como se ele fosse um trampolim. O extraterrestre começou a planar na
direção dos dois.
A criatura parecia ter um semblante de paz. Immanuel nunca
tinha visto tamanho contentamento. Parecia insensível às condições
desagradáveis do deserto. O desempenho de Blasfêmia na arte de
enganar era espetacular.
Nem Immanuel nem Ken ousaram dizer uma palavra ou mesmo
mover um músculo. Seus lábios estavam cerrados de medo. Enquanto
Blasfêmia se aproximava dos dois, seus olhos do tamanho de uma bola de
beisebol emitiam uma mensagem espiritual.
— Não temam. Vim trazer boas notícias para a terra. Seus desejos
foram ouvidos e atendidos. Meu povo me enviou para prenunciar um
novo mundo, livre de guerras.
Seu sinal transcendental ficava registrado no coração dos dois.
Immanuel deu um passo à frente.
— Eu represento as Nações Unidas do mundo. Como posso ajudá-
lo?
A criatura examinou Immanuel. Parecia estar processando alguma
forma de informação. Immanuel esperava que esse incidente não fosse
fruto de seus pensamentos. O insensível banqueiro tentou devolver a
intimidação, mas sem sucesso. Não tinha idéia de que Blasfêmia estava
pregando mais uma de suas peças.
— Eu represento os Mundos Unidos do universo. Seu planeta está
à beira de um colapso e eu vim para ajudar — afirmou o demônio
recatado e astuto.
Os olhos de Ken se arregalaram assim que ele começou a pensar
na vida saudável do espaço cósmico.
— Como você pretende nos ajudar? — sondou Immanuel.
— Os terráqueos são pessoas obstinadas!
O disfarce de Blasfêmia fazia com que os dois palhaços se
mostrassem submissos.
— As pessoas da Mãe Terra devem se unir como uma família.
Todo homem, toda mulher, toda criança e todo animal deve olhar para o
seu próximo como se ambos tivessem o mesmo corpo. Afinal, a terra é
uma só. Todos nós estamos ligados a um espírito universal de bondade e
paz.
O alienígena fez uma pausa, como se estive captando um sinal.
Immanuel observava todos os movimentos da criatura em busca de
pontos fracos.
— Seu líder, Lorde Birmingham, tem um presente dos deuses cujo
dono deve ser você. Você é o único que tem o intelecto para saber o que
fazer com ele.
Ken parecia confuso, mas Immanuel estava curioso.
— Seu guia espiritual lhe dirá o que fazer. Não cometa erros! —
advertiu o alienígena impostor.
Blasfêmia, no mesmo instante, percebeu a cara de interrogação de
Immanuel.
— Somos uma espécie extremamente evoluída. Grande parte do
universo está anos-luz à frente da Terra em seu caminho de evolução
rumo à divindade. A terra é o câncer que precisa ser curado ou
exterminado. As pessoas do planeta terra são empecilhos para os
restantes à herança do universo.
Blasfêmia pairava perigosamente próximo aos mortais. Ken logo
saiu rastejando para longe do extraterrestre. OVNIs, guias espirituais e o
caráter deste tal de Immanuel eram mais do que ele podia suportar.
Immanuel mantinha firme sua posição, desafiando a criatura a ajustar
sua atitude. Blasfêmia já estava farto da ostentação de Immanuel. Pegou
um cristal que trazia consigo para momentos como este. O globalista
piscava, na esperança de dar uma boa olhada na pedra misteriosa. A
criatura colocou-a entre os dois dedos. Esmagou o cristal na areia e
lançou as partículas na direção de Immanuel. Cada partícula tinha uma
lembrança própria. Elas rapidamente entraram no sistema de Immanuel
pelo nariz, ouvidos, boca e olhos.
Levou menos de seis segundos para Immanuel começar a ter
alucinações. Ele estava na boca do inferno. Era realmente o lugar que
Deus havia revelado para todos os anjos, bons ou maus. Ken assistia
apavorado enquanto Immanuel rangia os dentes, arranhava o rosto e
gania como um lobo furioso. Assim que surtiram o efeito desejado, os
cristais saíram. Após juntarem-se novamente na palma da mão do
alienígena, eles desapareceram.
— Para aqueles que confiam nos meus sábios caminhos, eu sou
um amigo. Para aqueles que se opõem às minhas soluções para a
enfermidade do mundo, sou um inimigo — assustava o espírito,
enquanto se aproximava de Immanuel.
Ken estava derretendo de calor, e Blasfêmia enternecia seus
desejos.
— Vocês vão aparecer para o povo deste mundo? — inseriu Ken. O
alienígena, que não tinha emoção, voltou-se para o repórter.
— Nós iremos nos revelar se — e quando — julgarmos necessário.
Até lá, espero a colaboração total das Nações Unidas!
Immanuel levantou a mão, não para contestar, mas para pedir
permissão para falar. O espírito fez um sinal de aprovação.
— Estou ansioso para trabalhar com você em um futuro próximo
— bajulou Immanuel.
Blasfêmia ignorou seu alcoviteiro, enquanto planava de volta à
nave.
— Soltem os prisioneiros — ordenou Blasfêmia em espírito. Os
demônios obedeceram, contudo, estavam extremamente desapontados
por não poderem usar seus fantoches para praticar tiro ao alvo.
Immanuel tomou a iniciativa e se levantou. Ken Action
rapidamente fez o mesmo.
Blasfêmia chegou à nave e virou-se para encarar seus servos.
— Lembrem-se: vocês são simples parasitas na escada da evolução
do universo. Vocês devem aprender qual é o seu lugar no corpo antes de
servirem para alguma coisa. Nunca usamos a força, a menos que
tenhamos de disciplinar. Guerra gera guerra! Aquele que é contra nós, na
verdade, é contra si mesmo e não reconhece isso porque é
espiritualmente cego para a verdade. A ignorância das leis naturais dos
céus provoca o desespero e a destruição!
Suas palavras comoveram a alma dos dois. Sua mensagem
continuaria na mente desses homens por anos e anos, destilando seu
veneno repetidas vezes.
— Já dura dois dias o "massacre da bolsa de valores" ou a "fusão
do dinheiro", como chamam alguns — informou a bela âncora da Rede de
Notícias Globais.
Os termos fusão e massacre faziam parte de uma decisão editorial
para dissimular a notícia. Esta decisão premeditada fez um número
maior de pessoas assistirem ao programa, o que levou os anunciantes a
comprar pontos comerciais, sinônimo de mais dinheiro para as novas
equipes de trabalho. A disseminação exata das informações raramente
ficava no caminho de novas investidas.
O mercado americano havia perdido menos de 10% de seu valor,
longe de uma "fusão" ou um "massacre". As chocarrices vindas da mídia
de língua inglesa traduziam o evento para uma profecia de tristeza e
destruição que se cumpria por si só. A distorção era vista como verdade,
o que levou à ação baseada na falsidade que, por sua vez, fez da mentira
uma realidade.
— As bolsas de valores do mundo todo estão registrando um
segundo dia de transações recordes e quedas horrendas. A Bolsa de
Valores de Nova York caiu outros 8% antes de ser forçada a encerrar o
dia seis horas mais cedo. A percepção pública do fechamento antecipado
do mercado está pesando sobre os investidores e o governo dos Estados
Unidos. Mercados do mundo inteiro estão respondendo à crise mediante
a venda de dólares em quantidades recordes.
Lorde Birmingham ria em silêncio como um lince pronto para
devorar um coelho indefeso. A má notícia sobre a economia mundial era
boa para ele. Enquanto bebia um Bloody Mary, ele
lançava os olhos para o relógio. Em seguida, fez uma carranca.
— Bem, senhores, nosso amigo Immanuel Bernstate parece estar
correndo contra o tempo. Tenho certeza de que qualquer que seja o
motivo de seu atraso, deve ser algo de extrema importância. Antes de
começar oficialmente nossa reunião, estou curioso para saber se alguém
pensou em uma forma de juntarmos os políticos europeus? Sem dúvida,
esta questão será estritamente confidencial — anunciou Lorde
Birmingham.
Os onze figurões do ramo bancário ponderaram a pergunta do
lorde. Douglas McSwath, diretor-executivo das monstruosas empresas de
investimentos da Inglaterra, limpou a garganta.
— Lorde Birmingham, nosso plano está correndo bem. Não vejo
necessidade de se preocupar com esses cães desgarrados. Advertimos
esses políticos que o fim do papel-moeda estava bem próximo. È hora de
depenar e fritar o frango! Esses políticos precisam aprender uma boa
lição sobre quem controla suas economias. Tudo de que precisamos é
tempo. Ou eles se juntam ao time ou pulam fora do campo de jogo!
— O tempo pode amadurecer seis, talvez sete, dos dez — previu o
lorde. — Inglaterra, Suíça, França e Alemanha estão resmungando
interrogações a esta altura. Minha intuição é a seguinte: esses homens
irão para a sepultura antes de renunciar ao poder em nosso favor. Sua
soberania é mais importante para eles do que comida e água.
— Talvez essa não seja uma má idéia — considerou McSwath.
— Podemos facilmente organizar algum tipo de revolução
econômica nesses regimes dissidentes. Durante as revoluções, nós
simplesmente arrancamos esses tumores. Tenho uma lista de matadores
profissionais que poderiam fazer o trabalho de forma impecável, sem
deixar pistas.
Os homens estavam espantados com sua franqueza. Todos eles já
haviam cometido assassinatos em nome da iniciativa privada, mas nunca
falaram disso em termos tão desumanos. Para eles, era a lei do "bem
maior para o maior número possível", um conceito do qual Lenin havia-
se apoderado sob o sistema comunista. Ele assassinou dezenas de
milhões para que centenas de milhões pudessem supostamente estar em
situação melhor. Nunca falar em assassinatos era uma lei fundada nos
costumes; apenas cometa e varra a sujeira para debaixo do tapete.
— Ouçam. Nós colocamos a culpa em alguns fanáticos da direita.
Promovemos lutas entre as classes, enchemos os meios de comunicação
com nossa versão da verdade e apresentamos o salvador em uma bandeja
de ouro.
McSwath examinou a atitude dos homens na sala. Talvez tivessem
extrapolado em termos de sinceridade e ido longe e depressa demais.
Decidiu proteger-se.
— Devo dizer-lhes que esta idéia não é minha — mentiu McSwath.
— E daí?! Gostei! Faz sentido! — declarou Lorde Birmingham.
— Devemos andar logo com isso, a menos que Immanuel encontre
algum defeito em nossa lógica.
McSwath prendeu a respiração e começou a bater de leve o nó dos
dedos lisos e grosseiros na mesa.
— Immanuel certamente gostará disso, uma vez que a ideia partiu
dele! — admitiu McSwath. — Estou apenas passando adiante sua ideia
porque ele não está aqui ainda.
Uma explosão de risos ouvia-se de todos os lados do escritório. —
Essa foi ótima. Immanuel provavelmente mandaria cair um raio na
cabeça de vocês se soubesse que deram crédito a uma de suas idéias.
McSwath forçou um sorriso largo.
Uma luz piscava silenciosamente no telefone particular de Lorde
Birmingham. Ele passou a ligação para o viva-voz.
— Birmingham, é Immanuel.
A expressão de Lorde Birmingham tornou-se abatida e turva.
— Estamos prontos para começar a reunião — comentou o
magnata.
— Ouça, tive de fazer uma pequena mudança em minha agenda
que me impedirá de comparecer à reunião.
Todos fizeram uma expressão de alívio. Immanuel tinha um jeito
de intimidar esses grandes enrolões.
— Acabei de contratar nosso novo porta-voz da mídia, que será
responsável por nossa imagem pública. Na semana que vem, o mundo
estará na ruína fiscal! Você sabe que alguns direitistas da mídia estarão
reunidos de dois em dois. Será um verdadeiro circo. Não precisamos
desse escrutínio para continuarmos sem disputa. Este homem tem o tipo
de talento de que precisamos para a situação.
O anúncio do líder diminuiu alguns de seus temores.
— Onde podemos encontrá-lo se acontecer alguma situação
imprevista? — perguntou Lorde Birmingham.
— Estarei em Israel. Entre em contato com o escritório do
primeiro-ministro se deparar-se com algo que exija minha atenção
imediata.
A linha telefônica foi abruptamente interrompida. Immanuel não
era um homem de etiquetas.
Immanuel apertou o sensor de seu telefone novamente. Uma voz
baixa respondeu do outro lado da linha.
— Sim.
Immanuel mordeu os lábios.
— Tenho um trabalho para você.
— Ótimo — disse o americano.
— Você precisará de muitos homens.
— Quantos?
— No mínimo cinquenta — disse Immanuel.
— Sem problema.
— Pessoas vão morrer — previu o Anticristo.
— Legal! — resmungou o homem.

A ajudante excepcionalmente atraente observava todos os


detalhes com um cuidado minucioso. Tudo tinha de estar impecável.
Estendeu as mãos longas e delicadas para endireitar a gravata, movendo-
a um centímetro para a esquerda.
— Assim está melhor, Sr. Presidente. O senhor está muito elegante
— seduziu a mulher.
O presidente Colt tentava concentrar-se em seu discurso, em vez
de dar atenção a sua prostituta particular.
— Trinta segundos para entrar no ar — gritou uma voz que vinha
detrás da câmera.
O presidente constantemente limpava a garganta.
— Dez segundos e pronto.
O presidente Colt endireitou a postura. Parecia um ilustre, porém
medíocre, americano. A luz vermelha em cima da câmera começou a
piscar.
— Boa noite, companheiros americanos. Solicitei esta coletiva
especial por duas razões muito importantes. Meu objetivo esta noite é
dirimir algumas dúvidas sobre alguns eventos em curso. A primeira
questão é a instabilidade financeira que tem surgido nos últimos dias.
Quero aplaudir aqueles que depositaram suas economias em nossas
fortes bolsas de valores e em nossos títulos do tesouro. Os Estados
Unidos da América é um navio que tem resistido a muitas tempestades.
Sempre vimos à tona mais fortes e mais seguros. Às vezes alguém tem de
passar por provações para que sua força e agilidade sejam testadas.
O presidente inclinou-se na direção da câmera.
— Vocês sabem que se uma árvore em crescimento nunca se
deparar com uma rajada de vento ou uma tempestade, no primeiro
temporal, ela irá ao chão. No entanto, deixem uma árvore desenvolvida
passar por tempestades constantes e seus galhos se curvarem e
balançarem com as correntes. Ela permanecerá firme quando o furacão
arrasador passar! Ela foi testada e aprovada. Nós estamos sendo testados
como essa árvore! A vida de nossa história está repleta de tempestades, e
este grande país sempre resistiu a elas — disse ele, ajeitando-se na
cadeira.
— Nosso país está tão firme hoje quanto o estava na semana
passada. Na verdade, creio que seu alicerce está mais forte! Nada mudou
para fazer com que nossos mercados reagissem como se o mundo
estivesse por acabar. O que mudou é nossa percepção, nossa crença. Se
todos quiserem que nosso sistema financeiro entre em colapso, então,
infelizmente, ele entrará. Sim, vocês me ouviram bem. Se os Estados
Unidos querem a autodestruição, ela virá! Mas por que alguém em sã
consciência iria querer ver uma coisa dessas acontecer à maior nação que
já agraciou este planeta?
As lições dramatizadas do presidente estavam rendendo enormes
dividendos. Ele olhava para suas anotações, visivelmente abalado com a
ideia. Centenas de milhões de pessoas assistiam à coletiva enquanto o
presidente resistia às lágrimas ensaiadas.
— Tudo de que precisamos para voltar ao caminho é confiança!
Precisamos da fé que pode mover montanhas! Creio que todos os
americanos não entrarão em pânico e farão a coisa certa — disse ele,
apontando o dedo para a câmera, sem tom de ameaça. A corja da
imprensa furiosamente escrevia em seus blocos de anotações.
— Justamente hoje demiti meu Secretário do Tesouro. Creio que
suas políticas são parcialmente responsáveis pelo fiasco no qual nos
encontramos. Não me levem a mal. Não sou do tipo que joga a culpa no
outro. Não sou um covarde. Sou comandante supremo e assumo total
responsabilidade pelas ações de minha equipe. Creio que as semanas
seguintes oferecem esperança e encorajamento para nosso sistema
monetário e nosso modo de vida.
Ele olhou para suas anotações.
— Segundo, tenho orgulho em anunciar que os Estados Unidos
concordaram em enviar 200 mil tropas para ajudar a pôr um fim em
nosso conflito civil. Entendo perfeitamente por que muitos de nossos
bravos homens e mulheres do Exército se recusam a disparar fogo em
seus compatriotas. Eles não terão de fazê-lo agora. Deixe-me
conscientizá-los dos constitucionalistas que se recusam a baixar suas
armas: os Estados Unidos não terão piedade de seu entusiasmo
nacionalista inadequado! Desistam agora mesmo! Dentro de semanas,
creio que nosso conflito terá ficado para a história. Nossos mercados
mais uma vez serão prósperos, e nosso coração estará em paz!
Mantenham a fé, e que Deus abençoe os Estados Unidos!
Algumas horas depois, Immanuel encontrava-se do lado de fora
do escritório do primeiro-ministro, no centro de Jerusalém.
A cidade de pedra estava dividida por religiões e épocas. O antigo
centro da cidade, destruído pelos romanos durante os tempos bíblicos,
dava testemunho do espírito inflexível do povo judeu. A Jerusalém dos
tempos modernos era uma cidade agitada de meio milhão de habitantes.
Por anos seguidos, os judeus e muçulmanos profundamente religiosos
haviam desesperadamente tentado viver em harmonia. Com o passar do
tempo, as tensões continuaram. Os dois grupos declaravam direitos
exclusivos sobre esta cidade histórica como um centro de adoração.
Muitos estavam dispostos a morrer por este minúsculo pedaço de terra.
Era sua fortaleza religiosa, seu céu na terra. Na mente deles, o
compromisso era para covardes. Era um milagre a guerra não ter ainda
destruído este país.
Este ano, o clima de harmonia estava mudando. Todas as
semanas, milhares de judeus deixavam a terra cada vez mais totalitária
da Rússia para buscar refúgio em Israel. Muitos eram judeus ortodoxos
dedicados ao seu Deus, e recusavam a ideia da riqueza material como um
caminho para alcançar a felicidade. Eram sinceros em acreditar que a
mentalidade secular era a razão pela qual os profetas dos tempos antigos
condenaram os judeus de seu tempo. Os judeus seculares viam os judeus
ortodoxos como uma bomba com estopim curto. Eles os consideravam
retrógrados e simples.
Enquanto isso, os muçulmanos estavam cada vez mais agitados
com as políticas governamentais de Israel, que favoreciam os cidadãos
judeus em seu lugar, dando tratamento preferencial a esses
colonizadores. A terra dos muçulmanos estava sendo confiscada por uma
fração de seu valor e entregue aos imigrantes. Como espinhos crepitando
em um incêndio aberto, em apenas uma questão de tempo a nação
explodiria, lançando cardos de violência que se espalhariam por toda a
terra.
Immanuel estava meditando com Blasfêmia quando o primeiro-
ministro David Hoffman o cumprimentou com um forte aperto de mão.
— Sr. Immanuel Bernstate, é um prazer conhecê-lo — mentiu o
político instruído.
Immanuel percebeu o fingimento, contudo, preferiu fazer o jogo.
— Sou um profundo admirador de sua incomparável ascensão ao
poder. De fato, bastante impressionante! — prosseguiu Immanuel.
O líder de Israel empurrou o representante das Nações Unidas
para dentro de seu escritório. Não queria ser visto tolerando o inimigo
em solo israelense.
— Sente-se, por favor, Sr. Bernstate — pediu David. Immanuel
concordou sem dizer uma palavra.
David olhou para o relógio, o que Immanuel tomou como um
insulto.
— Eu sei que seu tempo é importante, Sr. primeiro-ministro. Creio
que faz parte de seus melhores interesses para o país não levar em conta
o que tenho a dizer de forma inconsequente — advertiu o chefe político.
David balançou a cabeça, não para concordar, mas para
reconhecer que ele havia ouvido o globalista. Permaneceu em silêncio,
pouco à vontade.
Immanuel abriu sua pasta de couro preto, tirou um contrato e o
entregou para o líder de Israel.
— Sr. Hoffman, este é um tratado de paz que as Nações Unidas
estão graciosamente oferecendo ao seu povo.
David nem se deu ao luxo de olhar para o contrato antes de lançá-
lo ao colo de Immanuel.
— Esse documento não me serve para nada. É necessário guerrear
antes de firmar um tratado de paz.
A calma de Immanuel estava a ponto de vir abaixo. O menor
tremor poderia levar o vulcão inativo à erupção.
— Meu país é uma nação soberana governada por Deus. Vocês, das
Nações Unidas, se contentam em brincar de Deus com países pequenos.
Vocês, burocratas, são simples brigões tentando atormentar os
aparentemente fracos e indefesos. Nós não somos nada disso.
David bateu a mão na mesa.
— Deixe-me assegurar-lhe que estamos determinados a lutar com
o mundo todo, se preciso for, para ficar com a terra que nos foi dada por
Deus. Cada metro quadrado de nossa pátria, desde o Mar Morto até Tel
Aviv, é zona proibida para você e seus capangas! — David fez uma pausa
enquanto media Immanuel. — Eu sei que você deu sinal verde à Rússia
para cuidar deste espinho em sua carne!
Immanuel interrompeu o primeiro-ministro.
— Este tratado de paz garante proteção das Nações Unidas contra
todos, estrangeiros e nativos — repetiu o internacionalista, delicado. —
Isso inclui os muçulmanos!
O primeiro-ministro continuou a franzir a testa, sem se intimidar
com o discurso de Immanuel.
— A única forma de ter paz nesta região é desarmar os cidadãos,
armar as Nações Unidas e reconstruir o templo de Davi! — revelou
Immanuel.
David Hoffman não podia acreditar no que ouvia. Esta oferta
significava a perda dos muçulmanos de um de seus templos sagrados, o
Domo da Rocha.
— Isso é loucura! Os muçulmanos lutariam até a morte antes de
permitirem uma coisa dessas!
Immanuel não pareceu se intimidar com a lógica do líder.
— Sr. Hoffman, as Nações Unidas já apresentaram uma proposta
de paz ao povo islâmico. Temos negociado a escritura do Domo da Rocha
por algo ainda mais valioso para eles. Posso lhe assegurar que eles não
ficarão em nosso caminho! — conversava Immanuel com o líder israelita
como se ele fosse um irmão. — As Nações Unidas fornecerão os fundos —
por baixo do pano, é claro — para a reconstrução do templo que seu povo
tanto anseia. Queremos ver o povo judeu adorando o seu Deus com
alegria!
O primeiro-ministro olhava como um falcão para aquele que
parecia ser um pacificador. Com certeza estava desconfiado.
— Estou curioso — começou David, enquanto mudava de posição
na cadeira. — Por que você e as Nações Unidas estão preocupados com os
judeus? Pelo que conheço de sua história, somos um estorvo para que
alcancem seus objetivos — cutucou David.
Immanuel não hesitou em dar a resposta. Esperava por uma
barragem de dúvidas.
— Nós odiamos a guerra! É degradante para o espirito humano. As
Nações Unidas querem trazer uma nova era de paz para este frágil
planeta — posicionou-se o globalista.
— Não me venha com esse lixo! Conheço sua agenda! Qualquer
idiota por aí conhece seu jogo. Todos nós queremos paz, mas a pergunta
é: a que preço? Minha intuição me diz que você tem um enorme desejo
por poder, não por paz!
— É claro que o senhor é o único que quer o conflito respondeu
Immanuel. — Tentei de boa fé lhe oferecer um presente sem restrições.
O primeiro-ministro ria em silêncio da tentativa de Immanuel de
distorcer a verdade.
— Serei honesto com o senhor. — exclamou Immanuel — Nós
temos um motivo mais profundo! Muitos países estão barrando nosso
plano de alcançar a paz mundial. Todos eles parecem acreditar que não
somos capazes de gerar uma paz permanente no mundo. Eu não os
censuro! Precisamos de um local para realizar o teste. O Oriente Médio
tem sido um berço de hostilidade por quase dois mil anos. Se pudermos
fazê-lo aqui, então, poderemos fazê-lo em qualquer lugar do mundo!
O tom de Immanuel passou do de um diplomata para o de um
amigo íntimo.
— A paz mundial só será atingida se, e somente se, o conflito entre
israelenses e árabes for amenizado. Resumindo, a paz mundial está sobre
nós. Se pudermos convencê-los a resolver suas diferenças, uma paz
infinita poderá, então, ser alcançada!
A franqueza do banqueiro não combina-va muito com o primeiro-
ministro. Faltava alguma coisa, como a verdade. Ele fazia o jogo, na
esperança de descobrir o que estava nas entrelinhas.
— Então, você está disposto a derrubar o Domo da Rocha e
reconstruir nosso templo ali? E você pode garantir que não haverá
sangue?
Immanuel parecia ter mais cuidado com as palavras.
— Não posso lhe garantir que alguns fanáticos religiosos isolados
não causarão algum tumulto, mas posso dar minha palavra em nome dos
governos muçulmanos. Eles estão com a situação garantida.
Immanuel não teve ousadia de conversar sobre a arca ou os Dez
Mandamentos com o primeiro-ministro, que daria seu braço direito pelos
tesouros religiosos. E continuou a falar:
— Eles irão controlar seus membros da melhor forma possível.
Lembre-se, Sr. Hoffman, de que eles usam métodos de tortura contra
qualquer um que discorde deles, até contra seus membros errantes!
O primeiro-ministro ainda não confiava em Immanuel, embora
suas palavras fossem sugestivas. David achou engraçado o fato de
Immanuel pensar que poderia fazê-lo acreditar que poderia controlar os
governos árabes.
Immanuel lançou o tratado de paz no rosto de David.
— Assinar esse documento garante um futuro próspero para seu
país e para sua carreira! Ele também é o catalisador para a paz mundial
que, segundo o que sei, é o desejo do seu Deus para o povo Dele!
David colocou-o de volta na pasta de Immanuel, sem assiná-lo.
— Minha opinião à seu respeito e a respeito de sua confusa
organização não pode ser mudada da noite para o dia! — irritou-se David
Hoffman.
Immanuel não se intimidou.
— Você acredita em Deus? — sondou Immanuel.
David olhou para ele.
— Uma pergunta como esta dispensa meus comentários! — tornou
a irritar-se o homem de Deus.
Immanuel pegou a pasta com uma cara extremamente séria.
— Prepare-se para encontrar-se com o seu Criador hoje à meia-
noite — disse Immanuel, sereno.
A língua do primeiro-ministro deu um estalo.
— Como ousa a ameaçar de morte um líder de estado? — irritou-se
David.
Immanuel abriu a porta.
— Não foi uma ameaça!

***

Satanás planava no horizonte vindo do sul, com o fedor da morte


no seu rastro. Já estava quase na hora de colher os frutos de seus planos
para uma nova ordem mundial, embora algumas partes deles estivessem
apodrecendo na vinha.
Ele havia acabado de dar as caras nas Nações Unidas, onde havia
plantado sementes espirituais de sedução.
Seus olhos escarlates examinavam os buracos de areia, à procura
de Blasfêmia na paisagem suíça abaixo. Lúcifer deixou escapar um grito
tão forte que os pássaros chegaram a perder penas a uns 160 quilômetros
de distância.
Blasfêmia, que estava se espreguiçando no teto de uma igreja da
Nova Era, quase caiu duro. Sabia que estava com problemas. O Senhor
das Trevas localizara seu vice-comandante a 30 quilômetros de distância.
— Blasfêmia, o que você está fazendo? — lançou o dragão.
Satanás mergulhou de nariz na direção do lânguido general.
O oficial com cinco insígnias não teve tempo para pensar. Em vez
de cair de joelhos e implorar por misericórdia, ele disparou para o
planeta mais próximo. Seu corpo estalou assim que decolou em linha reta
da viga da igreja. Satanás voou a todo vapor e cravou suas garras
venenosas nos cabelos chamuscados de Blasfêmia. O demônio traidor
gritou. O punho de Satanás prendia-se ainda mais aos seus cabelos. Ele
aproveitou a outra mão, que estava livre, e a passou em volta do pescoço
contorcido de Blasfêmia. Misericórdia era uma palavra cujo significado o
Diabo não entendia. Sua força esmagava o pescoço de Blasfêmia.
— Eu lhe dei ordens expressas para proteger Immanuel. Por causa
de sua insubordinação, aquele israelense cabeçudo desprezou nosso
contrato de paz!
Satanás continuou a solapar o espírito de Blasfêmia. As palavras
atrasadas do general reduziram-se a um alto e esquisito suspiro.
— Não pensei que ele...
O Maligno o esmurrou como se ele fosse um saco de pancadas. —
Isso mesmo! Você não pensou! Tenho menos de sete anos para me
defender do nosso mordaz Criador, e você nos faz retroceder meses ou
até anos!
Blasfêmia sabiamente caiu de joelhos em sinal de submissão.
Satanás recusou-se a se abaixar com ele. Isso deixou o demônio
dependurado no ar. Ele estava quase perdendo a consciência.
— O Deus Jeová sempre protegeu o Sr. Hoffman com o arcanjo
Miguel — conjeturou Satanás. — Será melhor para você se eu conseguir
acabar com as linhas do inimigo e chegar a ele antes que seja tarde
demais!
O grande dragão deixou Blasfêmia cair como se fosse um saco de
lixo. Em seguida, saiu voando com uma terrível raiva, indo direto para
Jerusalém.

O relógio na parede da Bolsa de Valores de Nova York marcava


9h21. No início do terceiro dia do "grande acerto de contas", o mercado
chocou analistas por lançar um adicional de 12% em apenas 21 minutos.
A campainha tocou em sinal de desaprovação uma vez que as
negociações estavam antecipadamente encerradas pelo terceiro dia
consecutivo. A história estava sendo formada. Os corretores de Wall
Street estavam sendo perseguidos pelos especuladores e recebendo
cartão vermelho. Na realidade, eram os corretores que tinham os
especuladores pendurados em suas paredes, cheios de seu próprio
orgulho.
Grande parte do dinheiro que deixava o mercado era destinado a
fundos de metais preciosos, principalmente de ouro. Aquele teste de
desempenho de sistema havia acabado de chegar à marca de mil dólares
em Nova Iorque. Os investidores faziam fila para comprar ouro, e
Birmingham e seus agentes detinham quase 95% dele. O valor da liga
pura estava impressionando o mundo. Os banqueiros europeus tinham
cinco ases guardados no punho.
Lorde Birmingham olhava fixo para a tela do computador.
Analisava os números. Tudo, desde fundos mútuos de
investimentos a ações, títulos, dividendos e cifras de metais preciosos
aparecia na tela simplesmente apertando um botão.
— Quando os senhores acreditarem que o mundo estará
espalhando que eles estão imprimindo dinheiro, não haverá amanhã.
Birmingham fez uma pausa para observar as reações de seus
desprezíveis consumidores de dinheiro, seus cúmplices por toda a vida. O
diretor do maior banco da Alemanha começou a falar.
— Eu dou duas semanas! Não vai demorar muito para que alguns
dos cães mais aguçados por aí encontrem um rato. Daí então, umas
poucas gramas de ouro deverão ser vendidas a cinco mil dólares! Uma
vez que a verdade sobre aquelas máquinas de impressão hiperativas
venha à tona, a maioria das pessoas terá seu portfólio total em ouro. Elas
irão seguir o plano até à beira do desfiladeiro, sem perguntas! Calculo
que os títulos do governo terão de triplicar da noite para o dia, fazendo
com que um monte de idiotas invista em papel sem valor. A hiperinflação
deverá esmagar a maioria deles. O sistema mundial deverá entrar em
colapso, assim como o da Alemanha nos anos de 1920! Minha única
preocupação é: o que faremos com todo esse ouro? Será que
fortaleceremos a moeda comum européia com ele?
O alemão olhou para Lorde Birmingham a fim de receber
orientação. O lorde balançou os ombros.
— Não sei ao certo como Immanuel prevê o uso de todo esse
dinheiro e poder — recuou Lorde Birmingham. — Eu, por minha parte,
preferiria não lhe dar uma segunda chance.

***

David Hoffman olhava para o teto, com visões de uma aniquilação


nuclear atacando sua mente. Estava encolhido em sua cama tamanho
gigante, coberto com um acolchoado. Coberta e ressonando ao seu lado
estava sua querida esposa de 35 anos. Em vez de contar carneirinhos, ele
contava tanques de inimigos na fronteira do Irã.
De repente, uma imagem fantasmagórica materializou-se no teto
bem acima dele. David pensou que estivesse tendo um pesadelo. Ele
beliscou-se, mas de nada adiantou.
O relógio de seu avô no corredor começou abater. Era meia-noite,
e a hora mágica era oportuna. A sombra vaga transformou-se em um
anjo de luz. Parecia o patriarca Moisés, de barba, cajado e sandálias.
— Quando tirei seus antepassados do Egito, eu o fiz em paz. Eu,
Moisés, lhe peço para buscar o caminho da paz! Vim para mostrar-lhe
que o caminho do bem abre as portas do céu. Immanuel mostrou-lhe o
caminho para a paz, mas você o desprezou. Ao repreendê-lo, você
repreende nosso Pai do Céu.
Satanás exagerava. David Hoffman esfregou os olhos, dando a
entender que estava incrédulo. Olhou para sua esposa, que estava em
profundo sono.
— Immanuel é um demônio. Ele deve ser executado — dramatizou
o primeiro-ministro.
A imagem de Moisés ergueu o cajado para o alto.
— Você é igual à seus pais! Seu desejo é matar os profetas que vêm
trazer a verdade. Ela consome a sua alma porque seu pai é Satanás!
A consciência outrora receptiva de David ficou estática.
O espírito estava certo. Muitos dos profetas haviam sido
executados por seus compatriotas por proclamarem a vontade de Deus.
Eles foram mal interpretados pelo povo da época, de modo que não se
arrependeram. Será que ele poderia estar tão enganado?
— Se o que você diz é verdade, como Immanuel poderia estar
envolvido com uma organização tão pecaminosa? — perguntou o
primeiro-ministro.
Um brilho vermelho brotou nos olhos de Moisés. A dor esquentou
o sistema nervoso de David como línguas de fogo.
— A Palavra de Deus diz que um Ungido viria trazer a paz. O leão e
o cordeiro brincarão juntos. Por que você acha que Immanuel está se
oferecendo para reconstruir o templo de Davi? Confie nele, e tudo ficará
bem!
A teologia pervertida do dragão estava colando como uma cola
poderosa. David sempre quis seguir Deus de todo o seu coração. O
Príncipe das Trevas percebeu a dúvida de David.
Um tornado negro com as vozes de uns mil demônios baixou na
sala. Dentro do redemoinho apareceram amigos e familiares falecidos,
implorando que ele desse ouvidos. Seus rostos desconjuntados e
queimados apareceram de uma vez. Sua aparição selou o destino de
David. Ele fechou os olhos e chorou amargamente. O dardo de Satanás
havia perfurado seu coração.
— Tudo bem! Chega! Farei! Eu irei assinar o maldito tratado de
paz!
Lúcifer desapareceu sem deixar rastro ou um obrigado. A visão
que David tinha de Deus e de Immanuel nunca seria a mesma
novamente.

Continua no volume 3: O Mergulho no Abismo

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