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A natureza dos objectos de estudo, nesta investigação, configurou a primeira opção

metodológica. A complexidade de que se revestem segundo (Cohen et al., 2000); Em


1988, Davila Merriam apontou que, claramente, para uma abordagem
interpretativa/qualitativa que permita uma visão holística, uma vez que a realidade a que
se reportam é multifacetada, dependendo de interacções humanas e do evoluir de
acontecimentos que não se submetem a leis universais e não podem, por isso, ser alvo
de medição.
A investigação interpretativa/qualitativa constitui, “um conceito tipo chapéu de chuva
que cobre diversas formas de investigação que nos ajudam a compreender e explicar o
significado de fenómenos sociais, com o mínimo de alteração possível nas estruturas
naturais” (Merriam, 1998, p. 5). A investigação interpretativa/qualitativa envolve, pois,
“uma abordagem naturalista, interpretativa, do mundo” (Denzin e Lincoln, 2003, p. 4), o
que coloca o investigador no terreno, em contexto, “tentando compreender ou
interpretar os fenómenos em função do sentido que as pessoas lhes atribuem” (Denzin e
Lincoln, 2003, p. 5). Caracteriza-se por ser indutiva, descritiva, sistemática e exaustiva
na análise das fontes, recorrendo a diversos instrumentos de recolha de dados; orienta-se
em função do objecto de estudo, constituindo um processo aberto e flexível, de modo a
poder ir integrando novas descobertas ou novos indícios, surgidos ao longo do estudo de
Creswell em 2002, de Davila em 1995, de Merriam entre 1988 e 1998, e de Patton entre
1990 e 2002.
Patton considera que “Uma abordagem ao campo de trabalho sem o constrangimento
de categorias de análise pré-determinadas, contribui para a profundidade, abertura e
detalhe da investigação qualitativa.” (Patton, 2002, p. 14). Assim, a abordagem
utilizada para o desenvolvimento deste estudo, tendo em conta os objectivos
identificados, resultou de um primeiro desenho investigativo que, desde o início,
assumimos como inacabado, em que se introduziram ajustamentos progressivos à
medida que o trabalho avançava e se abriam novas perspectivas sendo que as próprias
categorias de análise foram surgindo ao ritmo das evidências recolhidas.
Importa salientar, neste tipo de investigação, a relevância do papel do investigador.
Segundo estudo de Merriam realizado entre 1988 e 1998 e Patton entre 1990 e 2002, o
investigador é “o instrumento” da investigação qualitativa ou, “é o lugar onde a
informação se converte em significação (e em sentido)” (Davila, 1995, p. 77): a ele
compete mediar os dados , segundo Merriam (1988), ser sensível a aspectos
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inicialmente não previstos e alterar o processo de recolha de dados quando o considere
oportuno em função, muitas vezes, do que sente ou intui; a ele cabe, também, produzir
uma narrativa, recontar uma história de Ochberg. De acordo com Patton “a credibilidade
da investigação qualitativa depende, em grande parte, da perícia, competência e rigor da
pessoa que realiza o trabalho de campo” (Patton, 2002, p. 14).
Em 2002, Patton, acrescenta: “Uma vez que, na investigação qualitativa, o ser
humano é o instrumento da recolha de dados, exige-se que o investigador reflicta
cuidadosamente, assuma e refira as potenciais fontes de preconceito ou de erro”. Nesta
perspectiva, partilhada por Creswell em 2007 e Merriam entre 1988 e 1998, entre
outros, importa sublinhar a antecipada admiração da investigadora por Teresa de
Saldanha, bem como a proximidade e o conhecimento prévio que apropriara,
relativamente às escolas actuais a estudar na 2.ª parte deste trabalho, permitida pelos
anos que nelas participou e nelas se envolveu, pessoal e profissionalmente.
A atribuição deste papel fulcral ao investigador representa, pois, uma grande
responsabilidade e acarreta consigo a necessidade de um esforço redobrado de atenção,
uma vez que a recolha de informação depende da sua capacidade de observação, da sua
sensibilidade própria e da sua história pessoal, assim como de um particular cuidado na
selecção das fontes e na análise crítica dos dados recolhidos, procurando exercer um
controlo atento sobre as suas próprias interpretações, por meio de uma fundamentação
consistente e da triangulação interpretativa, sobretudo dos dados obtidos através de
diferentes instrumentos.
A triangulação é uma das formas de validação que os investigadores, usando
abordagens interpretativas/qualitativas, podem utilizar. “Tipicamente – afirma o autor –
este processo envolve a corroboração de evidências provenientes de fontes diferentes
por forma a iluminar um tema ou perspectiva” (Creswell, 2007, p. 208). Creswell em
2007 apresenta ainda, mais sete formas de validação, propondo que o investigador
utilize, pelo menos, duas delas em cada estudo. De entre estas, salientamos três, que nos
parece serem as mais adequadas ao presente estudo: a) o envolvimento prolongado e a
observação persistente no terreno, com a finalidade de ganhar a confiança dos
participantes ou informantes, quando existam, compreender a cultura vigente, e analisar
as informações fornecidas/recolhidas, o que se aplica, também à análise documental; b)
a sujeição, ao longo do processo de investigação, à crítica de outros investigadores, quer
no que se refere aos métodos e à aplicação dos instrumentos quer à interpretação dos
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dados recolhidos; c) a descrição pormenorizada, densa e rica, como meio de permitir
que os leitores tomem as suas próprias decisões.
Em 2002, Richardson, apostou na metáfora do cristal, em vez do triângulo,
reconhecendo que existem mais do que três lados através dos quais podemos abordar o
mundo: “Proponho que a imagem central para a “validade”, nos textos pós-modernos,
não seja o triângulo – um objecto bidimensional, fixo, rígido (...) [mas] o cristal, que
combina simetria e matéria com uma infinita variedade de formas, essências,
transmutações, multidimensionalidades e ângulos de abordagem. Os cristais crescem,
mudam, alteram-se, mas não são amorfos. Os cristais são prismas que reflectem
externalidades e as refractam para dentro de si mesmos, criando diferentes cores,
padrões, fileiras, projectando-os em diversas direcções. O que vemos, depende do
ângulo em que nos colocamos.” (Richardson, 2002, p. 517).
Usando quer a metáfora do triângulo quer a do cristal não existe uma forma ‘correcta’
de contar um incidente:
Cada narrativa (...) reflecte uma perspectiva diferente
desse incidente (Denzin e Lincoln, 2003, p. 8).
Estas considerações sugerem-nos dois comentários: por um lado, a investigação de
carácter interpretativo/qualitativo procura assegurar uma compreensão em profundidade
de um fenómeno, assumindo que “a realidade objectiva nunca pode ser inteiramente
captada” (Denzin e Lincoln, 2003, p. 8); por outro lado, o produto de uma tal
investigação resulta de um processo construtivo, levado a efeito pelo investigador a
partir dos dados recolhidos, a que procura dar sentido, num dado contexto, como se se
tratasse de pequenas peças que reúne, metodicamente, encaixando-as como num puzzle.
Este entendimento do processo investigativo como de ‘construção’, particularmente de
‘construção de sentidos’ a partir dos dados recolhidos através de diversos instrumentos,
explicará que diversos autores tenham adoptado a metáfora da bricolage para designar a
investigação de carácter interpretativo/qualitativo e aplicado ao respectivo investigador,
a designação de bricoleur (Denzin et al., 2003).
Importa, ainda, considerar que, dentro desta primeira decisão de utilizar uma abordagem
interpretativa/qualitativa para este estudo, as duas partes que o constituem exigiram a
escolha de métodos específicos. Assim, no que se refere à primeira parte do trabalho, a
distância temporal que nos separa do objecto do estudo configurava a utilização de uma
metodologia de investigação histórica, ainda que de inspiração etnográfica, como
veremos, baseada, sobretudo, na recolha e na análise de documentos. Quanto à segunda
parte do trabalho, tratando-se do estudo de duas instituições escolares actuais, em que se
pretendia compreender, com a profundidade possível, as relações interpessoais
estabelecidas e as escolhas pedagógicas, formal ou informalmente reconhecidas e postas
em prática no quotidiano escolar segundo estudo de Merriam entre 1988 e 1998 e do
estudo de Yin em 2003, optámos pelo estudo de caso, de inspiração etnográfica, assente
na recolha de dados através de instrumentos diversos, que adiante referiremos

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detalhadamente e dentre os quais destacamos: a observação de diferentes situações,
entrevistas, documentos e materiais audiovisuais.

Bibliografia
References

Cohen, E. H. (2006). Research in religious education: Content and methods for

the postmodern and global era. Religious Education (Chicago,

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4
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education. Jossey-Bass.

Ochberg, R. L. (2014). Interpreting life stories. In Ethics and Process in the

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Yin, R. (2003). Case study research: design and methods. Sage Publications.

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