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Universidade Federal Do Rio de Janeiro

Discente: Nick Paz Peñagaricano Garcia de Medeiros Docente: Liza Santos


DRE: 121047848 Lab. Quanti. Quali - 2023.2

Referência
DE OLIVEIRA, F. L. Triangulação metodológica e abordagem multimétodo na pesquisa
sociológica: vantagens e desafios. Ciências Sociais Unisinos, v. 51, n. 2, 6 fev. 2015.

● ‌Objetivo da obra

“O tema deste artigo é a combinação de métodos quantitativos e qualitativos na


pesquisa sociológica, e em ciências sociais, de maneira geral, a partir da abordagem
multimétodo – também chamada de triangulação metodológica. O argumento apresentado
aqui é o de que a abordagem multimétodo é uma das formas mais completas de pesquisa
empírica, (...)” (resumo)

● Argumentos principais da autora

Apresentação

“Uma clivagem central na Sociologia, e nas Ciências Sociais, de maneira geral, é


a metodológica, expressa na dicotomia quantitativo versus qualitativo, com uma terceira via
(ou terceiro paradigma metodológico) propondo a combinação dos dois métodos,
designada como triangulação ou abordagem multimétodo (também chamada de métodos
mistos).” (p. 134)

O texto pretende tratar da abordagem multimétodo, evidenciando o porquê da


combinação quali/quant, problemas que ela pode suscitar e como resolvê-los.

Métodos quantitativos e qualitativos e sua combinação

“A configuração da Sociologia como disciplina foi marcada desde seu surgimento


pela necessidade de definir e precisar sua metodologia, buscando o distanciamento de
análises especulativas e impressionistas acerca da sociedade e dos fenômenos sociais.” (p.
134)
↳ Busca de legitimar a Sociologia como ciência. Boa parte da escrita dos clássicos foi
sobre método. Durkheim privilegiou o quantitativo, Weber o qualitativo. (Apesar do
favorecimento, ambos empreenderam os dois métodos, em níveis variantes)

“A diferenciação entre métodos quantitativos e qualitativos costuma ser traduzida de


forma simples na diferenciação que Wilhelm Dilthey propôs entre explicação, método
próprio das ciências naturais, baseado na identificação da causalidade em uma perspectiva
mecanicista, e compreensão, método próprio das ciências humanas, baseado na apreensão de
sentido (cf. Turner, 2007).” (p. 134-135)

Método quantitativo é associado ao paradigma positivista. Baseado em medidas


numéricas, análises estatísticas, variáveis e relações entre variáveis, intuito de descrever
padrões, testar teorias e fazer predições. Foco na descoberta de regularidade dos fenômenos
através de metodologia dedutiva, afirmando a imparcialidade. Métodos principais:
experimental, quase-experimental, survey e análise de dados em grande escala. Exemplos
clássicos: O Suicídio, de Durkheim, e The American Soldier, de Samuel Stouffer.

Críticas ao método quantitativo: reducionista, descontextualizado, incapaz de


apreender significado.

Método qualitativo é associado ao paradigma interpretativista. Busca semelhanças


sistemáticas entre casos analisados. Baseado em linguagem discursiva, na busca pelo
conhecimento em profundidade e na investigação do significado. Visa elaborar imagens e
conceitos, “dar voz” e avançar teorias. Metodologia indutiva, ênfase na proximidade
pesquisador-pesquisado. Pesquisa de campo e imersão do pesquisador no ambiente visando à
descoberta de significado. Métodos principais: entrevista em profundidade, observação
participante e etnografia. Exemplos clássicos: Escola de Chicago e Outsiders, do Becker.

Críticas ao método qualitativo: excesso de subjetividade, proximidade


pesquisador-pesquisado e caráter descritivo e narrativo dos resultados.

Disputa positivismo/pós-positivismo vs. interpretativismo/construtivismo. Visão


dualista.

“Uma terceira via, ortogonal a esse debate, entende que a divisão entre métodos
quantitativos x qualitativos é inerentemente ambígua e, portanto, uma distração dos
propósitos da pesquisa em Ciências Sociais, defendendo a integração desses métodos, em
uma abordagem pluralista, mais comumente chamada de multimétodo (...)” (p. 136)

↳ De que forma combinar esses métodos? Quais são as implicações metodológicas?

“Em termos epistemológicos, a abordagem multimétodo se alinha ao pragmatismo,


que, de acordo com Creswell e Clark (2011), prioriza as consequências da pesquisa, o
primado das perguntas e do problema de pesquisa, mais do que o método. (...) é um desenho
completo de pesquisa, que assume múltiplas formas de dar sentido ao mundo, (...)” (p. 136)

“Considerando “o que combinar”, deve-se pensar o que constituem dados e quais os


tipos de dados a serem combinados, sejam eles qualitativos (áudio, texto, imagem, vídeo),
como falas transcritas, gravações, textos jornalísticos, documentos oficiais, anotações de
campo, entre outros, ou quantitativos (mensurações numéricas), como registros estatísticos,
etc. Já o “como combinar”, refere-se às formas de coleta ou geração de dados, como a
combinação de técnicas quantitativas e qualitativas, incluindo entrevistas estruturadas
(questionário), entrevistas em profundidade, observação participante, experimentos, grupos
focais, investigação arquivística, etc.” (p. 137)

Em que momento combinar 一 Desenho sequencial: primeiro um método, depois


outro, que o sucede. Desenho concomitante: ambos implementados simultaneamente. Esses
tipos de combinação podem dar-se no momento de geração de dados ou no momento de sua
análise.

A integração de métodos deve ser implementada contextualmente, quando somente


um método não “dá conta” de um problema de pesquisa.

Por que combinar quanti e quali? Vantagens e desafios

“Alega-se que a combinação de métodos quantitativos e qualitativos contribui para


reduzir deficiências ou fraquezas específicas de cada método, (...). Mas a visão dominante na
literatura hoje não é a de compensação mútua, e sim a de complementaridade ou amplitude,
no sentido de que a abordagem multimétodo combina a força das grandes amostras com a
força dos estudos de caso.” (p. 138, adaptado)
“A primeira e mais difundida acepção de abordagem multimétodo é a da triangulação,
entendida como o emprego de diferentes métodos para verificar, validar ou confirmar um ao
outro. A ideia é permitir a compreensão de um fenômeno social a partir de diferentes pontos
de vista (métodos). A triangulação busca a corroboração.” (p. 138)

↳ Objetivo central: convergência de resultados, garantir que as descobertas não


dependam da técnica adotada.

“E nisso reside o principal problema da combinação de métodos, pois, ao se trabalhar


com a perspectiva de corroboração, pode-se ter como consequência a não corroboração, ou
seja, a possibilidade de se chegar a resultados diferentes (e divergentes) a partir de cada
método aplicado.” (p. 138)

↳ Axioma: métodos diferentes produzem resultados diferentes. Não podem verificar


um ao outro. A expectativa de corroboração é uma motivação frágil demais para optar pela
triangulação. É necessário ampliar o conceito.

É possível identificar pelo menos três entendimentos diferentes acerca da ideia de


triangulação (Kelle, 2005).

1. Validação mútua/corroboração. Sentido mais comum e mais criticado. A


premissa é que os pontos fracos de cada método serão compensados pelo
outro.
2. Complementaridade. “Ao observar o mesmo fenômeno de diferentes pontos de
vista, consegue-se construir uma descrição e explicação mais completas.” p.
139)
3. Amplitude. Observação de diferentes ângulos do fenômeno a partir de
diferentes métodos visando a uma compreensão mais extensa e refinada.
Entendimento mais rico para a pesquisa sociológica 一 maior abrangência e
alcance. Considera-se quais questões serão melhor respondidas por dados
quant. ou quali., quais por ambos. Resultados obtidos podem se dar em três
sentidos:
a. Resultados obtidos convergem;
b. Dados quali/quant dizem respeito a aspectos diferentes, mas podem ser
complementares;
c. Resultados obtidos divergem ou são contraditórios. Na acepção de
amplitude, esse cenário pode levar ao reexame de algum aspecto
conceitual.

Exemplos de pesquisa multimétodo

“Um dos estudos mais completos a utilizar a combinação de métodos quantitativos e


qualitativos foi o que deu origem à obra Distinção – Crítica Social do Julgamento, de
Bourdieu.” (p. 140) → é a obra de Bourdieu que argumenta que os gostos individuais são
determinados pela aquisição de capital cultural, social e econômico, a partir de processos
socializadores 一 escola e família sobretudo.

↳ Bourdieu + colaboradores usaram nesse estudo dados de survey, estatísticas


nacionais, documentos, entrevistas qualitativas em profundidade, observação etnográfica, etc.

“Para testar e refinar o argumento, o estudo se baseia, inicialmente, em entrevistas em


profundidade e observações etnográficas, com o objetivo de analisar as variações de práticas
e opiniões acerca das escolhas nos domínios estéticos e culturais. Com base nessa sondagem
inicial, Bourdieu segue para a elaboração dos instrumentos de coleta de dados via survey.” (p.
140)

“Em conclusão, afirmo, junto com a literatura referenciada, que a abordagem


multimétodo é a mais rica opção metodológica quando voltada a responder às questões
centrais de uma pesquisa, desde que contextualizada a partir de um enquadramento
teórico-conceitual e adequada à especificação dos diversos aspectos do problema de pesquisa
proposto, considerando a ressalva já feita de que diferentes métodos contribuem com
diferentes tipos de dados e resultam em diferentes níveis de conhecimento acerca dos
fenômenos sociais.” (p. 142)

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