Você está na página 1de 137

2 Universidade

| Aberta

=
EST a =CYINONOSTONIVHE =

A,
MACROEO ONOMIA

(1 ANA MARIA SOTOMAYOR


sen: o78.972674-4863 || ANA CRISTINA LINO MARQUES
+ Vem
ANA MARIA SOTOMAYOR

Licenciou-se em Gestão pela


Universidade Católica em 1981 e
em Economia pelo Instituto Supe-
rior de Economia (actual ISEG) em
1983. Obteve o grau de Mestre em
Gestão pelo Instituto Superior de
Gestão (com a classificação de
Muito Bom) em 1999, com uma tese
sobre ética e responsabilidade social
da empresa aplicada ao caso do
balanço social. Doutorou-se em
Gestão pelo Instituto Superior de
Economia e Gestão (ISEG) em
2006, com uma tese que versava a
temática das percepções de justiça
organizacional na avaliação de
desempenho e suas consequências
sobre o compromisso organi-
zacional e o compromisso face ao
superior hierárquico.
Actualmente é professora-
adjunta do Instituto Superior de
Contabilidade e Administração de
Lisboa (ISCAL), leccionando e
sendo regente da unidade curricular
de Macroeconomia.
Ana Maria Sotomayor
Ana Cristina Lino Marques

MACROECONOMIA

Universidade Aberta
2007
Capa: Esperança Marques.

NOTA DAS AUTORAS

Os capítulos 1 a 6, excepto o subcapítulo 3.5, foram elaborados por Ana Maria Sotomayor.

O subcapítulo 3.5 e o capítulo 7 foram elaborados por Ana Cristina Lino Marques.

Copyright & UNIVERSIDADE ABERTA — 2007


Palácio Ceia * Rua da Escola Politécnica, 147
1269-001 Lisboa — Portugal
www.univ-ab.pt
e-mail: cvendas Quniv-ab.pt

TEXTOS DE BASE (cursos formais); N.º 301


DL: 263400/07

ISBN: 978-972-674-486-3
Macroeconomia

1. Introdução

Os objectivos da macroeconomia

As abordagens neoclássica e keynesiana

2. O Mercado Real

Lo O modelo simples
25 A procura efectiva e o nível de emprego

21 As funções consumo e poupança

32 Outras teorias da função consumo

45 A função investimento

50 Determinação do rendimento de equilíbrio num modelo a dois sectores: definição


e equações

53 O multiplicador: noção e aplicações

56 O modelo a três sectores

56 Objectivos económicos e sociais da intervenção governamental

56 Determinação do rendimento de equilíbrio num modelo a três sectores: definição


e equações

66 Efeitos multiplicadores dos instrumentos de política económica

72 O orçamento: saldo orçamental e equilíbrio orçamental

73 Incompatibilidade entre variáveis objectivo macroeconómicas

76 O multiplicador do orçamento equilibrado: o teorema de Haavelmo

78 O orçamento de pleno emprego e a política orçamental

79 Estabilizadores automáticos

84 O modelo a quatro sectores


84 A balança de pagamentos

85 Determinação do rendimento de equilíbrio num modelo a quatro sectores:


definição e equações

93 Os multiplicadores do comércio externo

3. O Mercado Monetário

105 As componentes do stock de moeda

107 As funções da moeda

107 A procura de moeda


107 A procura por saldos reais 217 A função de produção

108 A teoria neoclássica da procura real de moeda 219 Dedução da oferta agregada: modelo neoclássico e modelo keynesiano

109 A teoria da preferência pela liquidez 223 Produto potencial e taxa natural de desemprego

Ho As teorias de Tobin e Baumol 224 Determinantes da oferta agregada e deslocações da oferta agregada

15 A velocidade de circulação da moeda: teoria quantitativa da moeda 227 O equilíbrio do modelo

118 A oferta de moeda


118 Definição de oferta de moeda 6. Inflação e Desemprego
9 A base monetária 235 Tipos de inflação
9 O multiplicador da base monetária: definição e casos extremos 235 A inflação pela procura: causas e efeitos
128 Os instrumentos de controlo monetário 237 A inflação pela oferta: causas e efeitos
131 O Sistema Europeu de Bancos Centrais e o Eurosistema 238 A curva de Phillips

4. O Modelo IS-LM ou Modelo a Preços Constantes 7. Consequências para Portugal da Introdução do Euro
141 O mercado real: a função IS 257 Enquadramento geral
141 O equilíbrio no mercado real: definição e equações Política orçamental
258
142 Determinação da inclinação da IS Políticas monetária e cambial
261
145 Determinantes da função IS e deslocações da IS Política monetária
261
151 O mercado monetário: a função LM 265 Política cambial
151 O equilíbrio no mercado monetário: definição e equações
266 Políticas social e de emprego
152 Determinação da inclinação da LM

155 Determinantes da função LM e deslocações da LM

157 O equilíbrio do modelo

168 Análise das alterações do ponto de equilíbrio


175 A eficácia das políticas orçamental e monetária
180 O financiamento do défice orçamental

5. O Modelo AD-AS ou Modelo a Preços Variáveis


201 A procura agregada

201 Determinação da expressão analítica da procura agregada

202 Determinação da inclinação da procura agregada

206 Determinantes da procura agregada e deslocações da procura agregada

209 A oferta agregada


209 O mercado de trabalho: procura e oferta de trabalho
1. Introdução
Objectivos de aprendizagem

Após a leitura do capítulo 1, o estudande/leitor deverá ser capaz de:

e Identificar os principais objectivos macroeconómicos.

e Analisar cada um dos objectivos macroecónomicos.

º* Enunciar e analisar algumas das hipóteses da teoria neoclássica.

e Enunciar e analisar algumas das hipóteses da teoria keynesiana.

e* Definir o conceito de rendimento de pleno emprego.

e Definir o conceito de ciclo económico.


1.1 Os objectivos da macroeconomia

A Economia, enquanto ciência, isto é, com um objecto e método próprios,


surge com Adam Smith. O seu livro Riqueza das Nações! (1776) é um marco "O título original era An
Inguiry Into the Nature and
importante para a Ciência Económica. Por isso, Adam Smith é considerado Causes of the Wealth of
por muitos economistas como o “pai” da Ciência Económica. Na mesma Nations. Posteriormente,
passou a designar-se, somente,
linha de raciocínio, seguiram-se os autores clássicos como David Ricardo e por Riqueza das Nações.
Jean Baptiste Say.

No século XIX surgiram autores, como Jevons, Menger, Walras e Marshall


que se preocuparam com o estudo do comportamento de pequenos agentes
económicos (famílias, empresas). Esta preocupação resultou, em grande parte,
de se estar a viver sob o lema do liberalismo total e o papel do indivíduo ser
preponderante. Estes autores são denominados de neoclássicos.

Com a crise de 1929-1930 nos Estados Unidos da América a teoria neoclássica


entrou em ruptura, pois as soluções preconizadas para ultrapassar a crise não
surtiam efeitos: baseavam-se na flexibilidade dos preços para atingir o
equilíbrio e não na intervenção governamental. A depressão agravou-se e
foi, então, que se aplicou uma nova teoria ligada ao economista John Maynard
Keynes, cujo livro The General Theory of Employment, Interest and Rate
(1936), constitui um ponto de viragem na Teoria Económica. Com Keynes
surge a distinção entre a microeconomia (centrada na análise marginalista
dos autores que antecederam Keynes) e a macroeconomia (consubstanciada
na teoria keynesiana).

Usualmente, os objectivos da macroeconomia são agrupados em torno de


três grandes temas: produto, desemprego e nível de preços. Há autores, como
Belbute (2003)?, que referem um quarto objectivo ligado ao comércio 2? Belbute, J. M. M. (2003).
Princípios de Macroeco-
internacional e à temática da estabilidade cambial”. nomia. Lisboa: Gradiva
Publicações Lda..
Um dos objectivos da macroeconomia refere-se ao produto. Segundo Keynes,
o rendimento da economia é inferior ao rendimento de pleno emprego. Por * Não vamos analisar este
objectivo macroeconómico.
definição, o rendimento de pleno emprego, ou produto potencial, ou produto
de pleno emprego é o rendimento correspondente à produção máxima possível
de uma economia, utilizando totalmente os recursos existentes (terra, trabalho
e capital), para a tecnologia em vigor nessa economia, ou seja, utilizando os
Tecursos da forma mais eficiente possível. Deste modo, se o rendimento
efectivo da economia (medido pelo Produto Interno Bruto — PIB) é inferior
ao rendimento potencial, um dos objectivos da política macroeconómica é
tentar alcançar essa produção máxima. Mais ainda, a taxa de crescimento do
produto deve ser elevada, por forma a se alcançar o rendimento de pleno
emprego num espaço de tempo, o mais reduzido possível.

Relacionado com este objectivo, surge o segundo objectivo macroeconómico:


nível de emprego elevado, ou seja, taxa de desemprego baixa. A análise
keynesiana é, basicamente, uma análise de curto prazo. Como tal, podemos quantidade procurada ou excesso de quantidade oferecida). Um outro
afirmar que há uma relação directa entre crescimento do produto e crescimento mercado é o mercado monetário, em que, do lado da procura, se
do emprego, ou seja, redução do desemprego. De facto, no curto prazo, nem encontram as famílias e as empresas e, do lado da oferta, o banco
os recursos, nem a tecnologia sofrem alterações, pelo que um nível de produto central ou banco emissor ou autoridade monetária; a variável flexível
mais elevado significa que, para a mesma tecnologia, se estão a utilizar mais deste mercado é a taxa de juro. Por último, temos o mercado de
recursos; de entre eles, está o factor trabalho, o que nos leva a concluir que o trabalho (mais genericamente, mercado de factores produtivos, dos
emprego aumenta. Assim, o objectivo é reduzir a taxa de desemprego até ao quais é o factor trabalho que nos interessa analisar, ou seja, assumem-
mínimo possível, que é a taxa natural de desemprego (taxa de desemprego se constantes os factores terra e capital), em que, do lado da procura,
correspondente ao rendimento de pleno emprego, como iremos analisar em se encontram as empresas e, do lado da oferta, as famílias; o salário
capítulos posteriores). é a variável preço deste mercado.

O terceiro objectivo macroeconómico é a estabilidade do índice de preços. Para os neoclássicos, os três mercados tendiam sistematicamente para o
Por outras palavras, pretende-se que a taxa de inflação (medida pela taxa de equilíbrio e se, por mero acaso, não se encontrassem em equilíbrio, os
crescimento do Índice de Preços no Consumidor — IPC) seja baixa. Com correspondentes preços de cada mercado ao subirem ou descerem, respecti-
efeito, a inflação gera desigualdades sociais, já que não afecta de igual modo vamente, em situações de excesso de quantidade procurada e excesso
toda a população. Por exemplo, os indivíduos que têm rendimentos fixos de quantidade oferecida, permitiam o restabelecimento do equilíbrio.
(como os reformados) ficam mais prejudicados, porque o valor real desses Além do mais, esses equilíbrios parciais são totalmente compatíveis,
rendimentos diminui. Deste modo, a estabilidade do nível de preços é um isto é, a quantidade transaccionada no mercado de bens e serviços é
objectivo a atingir, já que isso faz com que o sistema de mercado funcione produzida com a força de trabalho de equilíbrio do mercado de
com maior transparência e maior eficiência. trabalho e adquirida com a quantidade de moeda de equilíbrio do
mercado monetário. Por outras palavras, basta determinar um dos
pontos de equilíbrio (ou seja, o ponto de equilíbrio de um dos três
mercados) para que, de forma automática, os restantes pontos de
1.2 As abordagens neoclássica e keynesiana equilíbrio estejam determinados.

Vamos analisar algumas das hipóteses das teorias neoclássica e keynesiana. O equilíbrio é sempre de pleno emprego.
O tema não será esgotado; pretende-se, somente, referir um subconjunto de
A compatibilização dos vários equilíbrios parciais consegue-se,
hipóteses, necessário para se entender as análises que serão desenvolvidas
porque o equilíbrio é sempre de pleno emprego.
ao longo deste livro.
Não há desemprego.
A) Algumas hipóteses da teoria neoclássica
Esta proposição resulta de estarmos a trabalhar em pleno emprego,
* Aceitação da lei de Say que diz que “a oferta cria a sua própria pelo que, estando todos os recursos totalmente empregues e, mais
procura”, isto é, a análise é feita pelo lado da oferta, da produção. As especificamente, o factor trabalho, não há desemprego.
empresas não necessitam de planear o que produzir; basta produzirem
que o mercado irá absorver toda a sua produção. Preconizam a não intervenção governamental.

* Osequilíbrios nos três mercados da economia são parciais e totalmente A teoria do laisser faire, laisser passer traduziu-se, na economia,
compatíveis. numa defesa do liberalismo económico. Nesta perspectiva, estes
autores defendiam que o Estado se deveria circunscrever às activi-
Na economia há três grandes mercados. Mercado de bens e serviços dades que não fossem aliciantes para a iniciativa privada (empresas)
(ou mercado real ou mercado de produtos), em que, do lado da procura, o que, de uma forma simplista, se resumia às actividades de defesa e
se encontram as famílias ou consumidores e, do lado da oferta, as segurança nacionais. A não intervenção governamental pretende
empresas ou produtores. O preço de venda do bem ou serviço é a significar que o Estado não vai intervir na actividade económica e,
variável flexível que permite o restabelecimento do equilíbrio, sempre muito particularmente, não vai fixar preços de venda (estamos no
que o mercado estiver em situação de desequilíbrio (excesso de

17
modelo em que a flexibilidade dos preços nos vários mercados permite e Há desemprego.
que o equilíbrio seja restabelecido).
Uma vez que não se está a trabalhar em pleno emprego, significa que
B) Algumas hipóteses da teoria keynesiana os factores produtivos não estão totalmente utilizados e, em particular,
o factor trabalho. Há desemprego involuntário, para além do desem-
e Rejeição da lei de Say. prego voluntário, que é usual em qualquer economia.
Keynes alterou o eixo da análise, considerando que esta tem de ser e Defesa da intervenção governamental.
feita do lado da procura, através do ajustamento da produção à procura
planeada dos consumidores. Surge, então, o conceito de procura Keynes considera que a intervenção do governo na economia é
agregada planeada. fundamental, sobretudo em períodos de recessão, já que os agentes
económicos, por si só, não conseguem encontrar soluções para
* Valorização do consumo: a denominada lei psicológica de Keynes. ultrapassar as crises económicas. O governo deverá ter um papel
determinante e efectivo na resolução dos grandes problemas
Keynes considera que, para além da análise dever ser feita do lado da
macroeconómicos, como o desemprego e a inflação, ou seja, a teoria
procura, deve ser dada particular relevância a uma das suas compo-
keynesiana defende o forte papel interventivo do governo.
nentes: o consumo. Deste modo, as empresas, antes de produzirem,
devem estimar qual o consumo das famílias para o próximo período, A teoria keynesiana abriu caminho para o aparecimento do conceito de ciclo
produzindo em conformidade com essa previsão feita. económico.
* Os equilíbrios nos três mercados não são automaticamente Ao contrário dos neoclássicos, que consideravam que as economias se
compatíveis; têm de ser compatibilizados. encontravam sempre em equilíbrio ao nível do rendimento de pleno emprego,
Ao contrário dos neoclássicos, Keynes considerava que os equilíbrios Keynes considerava que as economias tanto se aproximavam desse
nos mercados real, monetário e de trabalho tinham de ser compati- rendimento de equilíbrio, como se afastavam dele.
bilizados. Deste modo, o equilíbrio no mercado de bens e serviços,
Os períodos em que o rendimento está a aumentar são denominados de
traduzido pela função IS, conjuntamente com o equilíbrio no mercado
períodos de expansão; o crescimento do rendimento está limitado (supe-
monetário, traduzido pela função LM, permitiam a definição da curva
riormente) pela barreira do pleno emprego. Os períodos em que o rendimento
de procura agregada (AD). A conjugação do equilíbrio no mercado
está a diminuir, são denominados de períodos de recessão ou crise; o
de trabalho com a função de produção, permitia a definição da curva
decréscimo do rendimento está limitado (inferiormente) pelo rendimento
de oferta agregada (AS). O equilíbrio da economia (a preços variáveis)
mínimo de subsistência ou de sobrevivência.
resultava da conjugação das funções procura e oferta agregadas. No
entanto, podia haver uma compatibilização, a preços constantes, A esta sequência de períodos de expansão e de recessão denominou-se ciclo
somente com a consideração dos mercados real e monetário: é o económico. A duração e amplitude de cada ciclo económico é variável, mas
denominado modelo IS-LM ou modelo a preços constantes, que denota-se uma tendência crescente no modo de formação dos ciclos, isto é,
permite fazer análises sobre a variação da taxa de juro de equilíbrio. apesar dos ciclos económicos, as economias tendem para o pleno emprego,
pelo que, o limite superior do ciclo vai aumentando ao longo do tempo.
* O equilíbrio não é necessariamente de pleno emprego.

Keynes considerava que as economias se situavam em equilíbrio


abaixo do pleno emprego, à semelhança do que ocorria nos EUA na
década de 30 do século passado. Deste modo, o governo tinha um
papel determinante na economia, pois, através da manobra de
variáveis de política orçamental, iria gerar um aumento do produto,
aproximando-o dos níveis de pleno emprego (esta temática será várias
vezes abordada ao longo do programa como, por exemplo, aquando
da análise da eficácia das políticas orçamental e monetária).
Exercícios de revisão

1. Quais os três principais objectivos da macroeconomia?

2. Enuncie e analise algumas das hipóteses da teoria neoclássica.

3. Enuncie e analise algumas das hipóteses da teoria keynesiana.

Leituras complementares

BELBUTE, J.M.M.
2003 Princípios de Macroeconomia. Lisboa: Gradiva Publicações Lda.,
p. 20-28.

SAMUELSON, P. A., e NORDHAUS, W. D.


2005 Macroeconomia. 18.º ed., Lisboa: McGraw-Hill, p. 408-411.

2. O Mercado Real

20
Objectivos de aprendizagem

Após a leitura do capítulo 2, o estudande/leitor deverá ser capaz de:

* Enunciar à função consumo keynesiana e definir os seus parâmetros.

* Deduzir a equação de comportamento da poupança e definir os seus


parâmetros.

* Definir os conceitos de propensões médias a consumir e a poupar.

e* Relacionar os conceitos de propensões marginais e propensões médias


a consumir e a poupar.

* Definir o conceito de limiar da poupança e identificar os valores


assumidos pelas propensões médias a consumir e a poupar no limiar
e fora do mesmo.

* Enunciar as expressões analíticas da função consumo nas teorias do


IR ciclo de vida, do rendimento permanente e do rendimento relativo e
explicar o seu significado.

* Enunciar a função investimento keynesiana e identificar os determi-


nantes da mesma, explicando o modo como a mesma foi deduzida.

e Identificar variáveis objectivo e variáveis estratégicas nos vários


modelos estudados (dois sectores, três sectores e quatro sectores).

e Identificar formas estruturais e deduzir as correspondentes formas


reduzidas nos vários modelos estudados (dois sectores, três sectores
e quatro sectores).

e Definir e calcular a expressão analítica dos multiplicadores das


diferentes variáveis estratégicas em cada uma das variáveis objectivo.

º* Definir saldo orçamental de equilíbrio e saldo orçamental de pleno


emprego e relacionar os dois conceitos.

e Definir estabilizador automático, identificar os principais


estabilizadores e explicar o seu funcionamento.

* Explicar a utilidade do teorema de Haavelmo e mostrar que o


multiplicador do orçamento equilibrado é igual à unidade.

* Analisar a incompatibilidade entre as variáveis objectivo quando são


manobradas, uma de cada vez, as variáveis de política orçamental.

º* Fazer a representação gráfica do rendimento de equilíbrio, saldo


orçamental e saldo da balança corrente.
2.1 O modelo simples
2.1.1 A procura efectiva e o nível de emprego

Ao iniciar o estudo do modelo keynesiano, importa recordar que Keynes


rejeitou a lei de Say que refere que “a oferta cria a sua própria procura”.
Keynes vai focalizar a sua análise do lado da procura, introduzindo um
conceito chave de toda a economia: a procura agregada, isto é, a procura de
todos os sectores da economia.

Para iniciar o estudo do modelo keynesiano considere-se uma economia


simples, sem sector Estado e sem sector externo. Deste modo, a procura
agregada será a soma da procura das famílias (consumo) com a das empresas
(investimento). Por outro lado, a contabilidade nacional fornece uma
igualdade ex-post, efectiva ou observada entre o produto, rendimento ou oferta
da economia (Y) e a procura efectiva dos vários agentes (D).

Ora, a produção de uma economia é decidida pelas empresas, mas elas


produzem para satisfazer a procura das famílias. Assim, as empresas começam
por estimar o consumo das famílias para o próximo período e produzem em

ê
conformidade com essa estimativa.

Se o consumo estimado pelas empresas for maior que o consumo efectivo


(aquele que realmente ocorreu, o observado ou ex-post, fornecido pelos dados
estatísticos nacionais), significa que as empresas produziram mais do que
foi procurado, pelo que não conseguiram vender toda a sua produção; registou-
-se uma acumulação involuntária de stocks (para além do nível óptimo de
stocks definido pelas empresas, em função da aplicação de métodos de gestão
de stocks como, por exemplo, o ponto de encomenda ou o ciclo de revisão
constante). Se o consumo estimado for inferior ao consumo efectivo, significa
que as empresas venderam mais do que produziram nesse período, pelo que
tiveram de vender parte dos seus stocks mínimos ou de segurança; registou-
-se uma desacumulação involuntária de stocks.

Qualquer das duas situações descritas anteriormente não é favorável para as


empresas. O ideal é que o consumo planeado coincida com o consumo
efectivo, ou seja, a variação de stocks é nula.

Os dois casos anteriormente citados têm reflexos no investimento, pois:

[= FBCF + A Stocks

em que:

I = Investimento efectivo

FBCF = Formação bruta de capital fixo = Investimento planeado (Ip)

A Stocks = Variação de stocks ou de existências = Investimento não planeado

25
Formalizando: Ora, quanto maior for o produto de equilíbrio, mais ele se aproxima do nível
de pleno emprego e, portanto, menor o desemprego. Regista-se, pois, uma
[esto lã Procura agregada (ou despesa) planeada
relação directa entre o produto da economia e o nível de emprego, ou seja,
Teç+H] Oferta agregada efectiva entre a procura efectiva e o nível de emprego. Dito de outro modo, regista-se
uma relação inversa entre o rendimento da economia e o nível de desemprego.
I=Ip+ A Stocks Investimento total De salientar que estas relações só ocorrem no curto prazo.

Substituindo:

T=C+I
2.1.2 As funções consumo e poupança
Y=C+Ip+A Stocks
A função consumo em Keynes é função directa do rendimento, apresentando ! Keynes considerou que o
consumo era função do
Y=D+HA Stocks a seguinte expressão analítica: rendimento disponível, ou
seja, o rendimento líquido de
ou seja, A Stocks =Y — D C=C+cY impostos e adicionado das
transferências do governo
Se a variável efectiva for superior à variável planeada, ou seja, a oferta superior O parâmetro C representa o consumo autónomo, isto é, o consumo que não para os particulares. Como
não estamos a considerar o
à procura, então a variação de stocks é positiva; há acumulação involuntária depende do rendimento. Deste modo, este parâmetro traduz o consumo sector Estado, o rendimento
de stocks. Se a variável efectiva for inferior à variável planeada, ou seja, a mínimo de subsistência ou sobrevivência da economia. Apresenta valores disponível coincide com o
rendimento.
oferta inferior à procura, então a variação de stocks é negativa; registou-se positivos e diferentes de zero e não é susceptível de ser alterado no curto
uma desacumulação involuntária de stocks. prazo; no longo prazo, tende a aumentar, já que traduz o consumo mínimo
de subsistência da economia.
A situação de equilíbrio ocorre quando a variável efectiva e a variável planeada
coincidem, ou seja, quando a variação de stocks é nula. Deste modo, o O montante do consumo autónomo, por si só, não permite dizer se a economia
equilíbrio define-se como o nível de produto para o qual a procura é igual à está muito ou pouco desenvolvida. A interpretação do seu valor é feita através
oferta, de forma a que a variação de stocks seja nula e o consumo planeado de uma análise comparativa que pode ser de dois tipos:
das famílias coincida com o efectivo.
* Comparação em termos temporais: ao longo do tempo, numa dada
Graficamente: economia, o valor do consumo autónomo tende a aumentar.

Y=D e Comparação em termos espaciais: se compararmos os consumos


D AN autónomos de duas economias no mesmo período de tempo, em
D>Y princípio, a economia mais desenvolvida é a que apresenta um
D<Y consumo autónomo mais elevado.

O parâmetro c denomina-se propensão marginal a consumir ou propensão


D D marginal ao consumo. Traduz a inclinação ou declive da recta do consumo,
pelo que corresponde ao valor da derivada do consumo em ordem ao
0 - ' rendimento.
>
Ye Y A propensão marginal a consumir mede a variação do consumo quando o
rendimento varia de uma unidade monetária. Apresenta valores entre zero e
O modelo keynesiano considera que o rendimento de equilíbrio (Ye) não um. Traduz a denominada lei psicológica de Keynes: quando o rendimento
coincide necessariamente com o de pleno emprego, pelo que os recursos não varia, O consumo varia no mesmo sentido, mas num montante menor.
estão totalmente utilizados, em particular, o factor trabalho. Keynes admite,
O valor da propensão marginal a consumir já é interpretável por si só: em
pois, a existência de desemprego (para além do considerado voluntário).
princípio, quanto mais desenvolvida for a economia, menor será o valor deste

21
parâmetro. Normalmente, assume valor
es entre 0,6 e 0,9 (teoricamente
está O parâmetro S (ou - C) representa a poupança autón
entre zero e um). Deste modo, se uma econ oma, isto é, a poupança
omia apresentar um valor da que é independente do rendimento. Assume valore
propensão marginal a consumir próximo s negativos (endivida-
de 0,9, em princípio, será uma mento) e é o simétrico do consumo autónomo. Com
economia pouco desenvolvida, ao passo efeito, quando não há
que se ela apresentar um valor rendimento na economia, há que garantir o consu
próximo de 0,6, será uma economia muit
o desenvolvida.
mo mínimo; para isso, é
necessário um endividamento nesse mesmo montante.
É um parâmetro estável
A comparação dos valores da propensão marg no curto prazo.
inal a consumir pode ser feita
de dois modos:
O parâmetro (1-c) é a propensão marginal a poupar
(s). A propensão marginal
* Comparação em termos temporais: tal como a poupar mede a variação da poupança quando o
já foi referido, no longo rendimento varia de uma
prazo, à propensão marginal a consumir tende unidade monetária.
a assumir valores mais
baixos.
l-c=s= dS/dY
* Comparação em termos espaciais: no mesmo período de temp
o, se A propensão marginal a poupar assume valores entre
compararmos os zero e um (os valores
valores das propensões marginais a cons mais usuais situam-se entre 0,1 e 0,4) e é estáve
umir de l no curto prazo. A inter-
duas economias, em princípio, a mais desenvolvida apresent
ará um pretação deste valor é semelhante à da propensão margi
valor mais baixo nal a consumir. Assim,
da propensão marginal a consumir. quanto mais desenvolvida for a economia, em
princípio, maior será o valor
A representação gráfica da função consumo da propensão marginal a poupar; comparando duas
é a seguinte: economias, no mesmo
período de tempo, aquela que apresentar um valor
mais elevado da propensão
C A marginal a poupar será, em princípio, a mais desenvolvi
da.
Repare-se que a soma das propensões marginais a
consumir e a poupar totaliza
a unidade:

propensão marginal a consumir + propensão marginal


a poupar = 1
A demonstração pode ser feita de duas maneiras:
QI

* A partir das definições dos conceitos das duas prope


nsões marginais

Y dd ds d(C+S) ay
=>— =1
O rendimento da economia não se desti dy dy dy dY
na só ao consumo; o que não é
consumido é poupado. Deste modo, o rend * Aplicando os conceitos anteriormente referidos, às
imento reparte-se em consumo funções consumo
(C) e poupança (S). A equação de definição e poupança keynesianas
da repartição do rendimento tem
a seguinte expressão analítica:
s=1-c
Y=C+s c+rs=c+(l-c)=c+1-c=1
A partir desta equação, vamos deduzir Graficamente, a função poupança vem:
à equação de comportamento da
poupança:

Y=C+s

Y=C+cY+s
(o)

Y
Des all 6)F né Y1 E
S=S+sY
28

29
Repare-se que a função poupança
é o reverso da medalha da função
Para níveis baixos de rendiment consumo. A demonstração pode ser feita
o (inferiores a Y1) a poupança de dois modos:
isto é, o consumo excede o ren é negativa,
dimento; a partir de Y 1, a Poupan
ser positiva, isto é, o consumo é ça passa a * Através da definição dos concei
inferior ao rendimento. tos das propensões médias
Associados às funções consum PMC =C/Y e PMS=S/Y
o e poupança surgem os con
propensões médias a consumir ceitos de
e à poupar, para além dos con
propensões marginais a consumir ceitos de
e à poupar, já anteriormente anal
PMC+PMSsEC,= S. C+S
isados. Yo Y Y
A propensão média a consumir * Aplicando os conceitos anteri
(PMC) mede o consumo, em médi ormente definidos às funções
cada unidade monetária do rendim a, por consumo
ento: € poupança keynesianas

PMC = C/Y
PMC = Lc e pMs=-
Para a função consumo considerada, bd E (1-0)
a expressão analítica da propensão EA
a consumir será: média
PMC + PMs = € +c+(- (leg
k É pga É qu ni
Ed kg Y

Para terminar a análise das fun


ções consumo e poupança key
enunciar o conceito de limiar nesianas vamos
da poupança.
rendimento de equilíbrio da eco O limiar da poupança traduz o
nomia. nível de rendimento para o qual
nula, ou seja, o consumo a poupança é
À propensão média a poupar (PMS) coincide com o rendimento
mede a Poupança, em média, por (Y = C).
monetária do rendimento: unidade
Graficamente:

PMS = S/Y
Para a função poupança considerada,
a expressão analítica da propensão
a poupar vem: média

PMS = [C+Q-cY »

Y al É
Y,
Y

PMs =- E (1-0)
Y em que E representa o rendim
ento correspondente ao limi
ar da poupança.
A propensão média a Poupar apre Analiticamente:
senta valores inferiores aos da
marginal a poupar, qualquer que propensão
seja o valor do rendimento de equi
economia. líbrio da S =0
-
-C+I-)Y=0 E
De referir que a soma das propen %=—
sões médias a consumir e a pou
a unidade: par totaliza p
l-c
Importa analisar os valores
das propensões médias à con
PMC + PMS = 1 quando o rendimento sumir e a poupar
de equilíbrio
coincide com o rendimento
Poupança e quando estes dois do limiar da
valores do rendimento diferem.

31
No limiar da poupança, como C =Y, ou seja, S = 0, então
a propensão média No entanto, em 1946, Kuznets analisou a evolução desta propensão
a poupar é nula e a propensão média a consumir iguala e observou
a unidade.
a sua constância ao longo dos anos, pondo em causa à formulação keynes
iana
PMS =S/Y=0/Y=0 da função consumo.

PMC =CY =] Foi, assim, que se abriu caminho para o aparecimento de outras
teorias do
consumo que faziam a distinção entre propensão marginal a
De referir, uma vez mais, que a soma das propensões médias consumir de
a consumir e a curto e longo prazos.
poupar totaliza a unidade.
Para além dos estudos empíricos feitos sobre a função consumo
Para níveis de rendimento inferiores ao rendimento corre keynesiana,
spondente ao limiar dos quais os mais significativos e mais vezes referidos são
da poupança, verifica-se que se está na zona em que o consu os de Kuznets,
mo é superior ao registaram-se, também, desenvolvimentos teóricos, que
se revelaram muito
rendimento. Logo, a propensão média a consumir é superi
or à unidade. Como importantes.
a soma das duas propensões médias, a consumir e à poupar,
totaliza a unidade,
então a propensão média a poupar assume valores negati Um desses estudos foi levado a cabo por Kaldor e desenv
vos. olvido entre as
décadas de trinta e cinquenta do século passado. Convém salient
Para níveis de rendimento superiores ao rendimento corresponden ar que Kaldor
te ao limiar é um dos autores pioneiros do desenvolvimento da teoria
da poupança, verifica-se que se está na zona em que o consu keynesiana.
mo é inferior ao
rendimento. Deste modo, a propensão média a consumir Kaldor introduziu a hipótese, aliás já implicitamente referid
assume valores a por Keynes no
inferiores à unidade, mas positivos, ou seja, valores
entre zero e um. Como a seu livro Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda
, da propensão

E
soma das duas propensões médias totaliza a unidade, então a marginal a consumir poder assumir valores diferentes consoa
propensão média nte a origem
a poupar assume, também, valores entre zero e um. dos rendimentos.

Graficamente: Um outro estudo feito a partir da teoria keynesiana


do consumo foi
desenvolvido por Duesenberry, em 1949, denominado
de hipótese do
rendimento relativo, que iremos abordar mais adiant
e.
De forma sumária, importa referir que Duesenberry dá
uma grande ênfase às
condicionantes sociais do consumo. Ele considera que as
decisões de consumo
dos indivíduos não são independentes, dependendo
, entre outros elementos,
de níveis de rendimento alcançados no passado. Os
padrões de consumo
são, pois, irreversíveis no tempo.
NA

Deste modo, uma diminuição do rendimento provoca uma


diminuição menos
que proporcional do consumo, uma vez que os indivíduos
não estão dispostos
a reduzir o seu consumo para níveis inferiores aos Já alcan
çados no passado.
Como iremos verificar mais à frente, uma das parcelas
2.1.3 Outras teorias da função consumo da função consumo
desta teoria, refere-se ao nível de rendimento máxim
o alcançado no passado,
pelo que uma redução do rendimento não se reflecte integ
No seu livro Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda ralmente na redução
, de 1936, Keynes do consumo.
considerou que o consumo era função directa do rendi
mento disponível,
estabelecendo uma relação que era inovadora para a época. Estes são, em resumo, alguns dos desenvolvimento
s da função consumo
keynesiana que têm em comum o facto de nenhum
Introduzindo o conceito de propensão média a consumir deles retomar a análise
e determinando a neoclássica, já que não se volta a abordar a quest
sua expressão analítica a partir da equação de consumo keynes ão da optimização
iana, observa- intertemporal. Um bom exemplo disso, é que não
-Se que à medida que o rendimento disponível aumen há qualquer referência à
ta, os valores da taxa de juro; o rendimento actual é a variável explic
propensão média a consumir tendem a diminuir. ativa mais relevante.

32

33
No entanto, há outras teorias, como as hipóteses do ciclo de vida e do De referir que este raciocínio difere substancialmente do keynesiano, já que
rendimento permanente, que estabelecem ligações com a teoria neoclássica. se admite o recurso ao crédito e, como tal, a taxa de juro volta a ter um papel
Vão ser analisadas três teorias: teoria do ciclo de vida, teoria do rendimento significativo na análise, uma vez que dela depende o valor actualizado dos
permanente e teoria do rendimento relativo. Será feita uma breve referência rendimentos esperados ao longo da vida do indivíduo.
ao passeio aleatório de Hall.
As principais hipóteses desta teoria são, em síntese, as seguintes:
A) Teoria do Ciclo de Vida e Cada indivíduo tem um fluxo de rendimentos típico ao longo da sua
A hipótese do ciclo de vida foi proposta por autores como Modigliani, vida: relativamente baixos no início desta (quando a sua produtividade
Brumberg e Albert Ando. Modigliani e Brumberg apresentaram uma primeira é baixa), mais elevados quando está no auge da sua vida activa (já
versão em 1954, que foi desenvolvida em 1963 por Modigliani e Ando. que tem mais maturidade, experiência e qualificações profissionais)
e com tendência a decrescer quando entra na reforma. É o denominado
Esta teoria constitui um importante marco na teoria económica, já que se ciclo de vida. Por outras palavras, o indivíduo terá, no início da sua
revela como um corte com os pressupostos da teoria keynesiana e um retorno vida activa, uma menor produtividade e, consequentemente, menores
aos pressupostos neoclássicos, no que se refere ao comportamento do rendimentos, atingindo uma produtividade máxima entre os 30 e 50
consumidor. anos; a partir daí, esta decresce. Assim, ele vai transferir rendimentos
do período em que aufere rendimentos mais elevados, para o período
De acordo com estes autores, as decisões de consumo dos indivíduos têm
em que eles são mais baixos.
como horizonte temporal, não uma unidade de tempo predefinida, mas sim

sm
toda a sua vida. Deste modo, os agentes económicos definem o período de * Oindivíduo conhece, com exactidão e sem nenhum grau de incerteza,
vida que esperam vir a ter e decidem o modo como irão repartir o seu consumo o número de anos de vida que vai viver (designado por L), dos quais
ao longo desse período. N são passados a trabalhar (N designa o número de anos de vida
activa do indivíduo).
O objectivo dos consumidores é o de obter um fluxo de consumo o mais
estável possível. O pressuposto inerente a este tipo de raciocínio é o de que Como parêntesis, importa referir que o número de anos de vida do
grandes variações do nível de consumo conduziriam a que a utilidade marginal indivíduo é uma variável crucial em toda a análise; qualquer
dos consumidores fosse muito alta em períodos de escassez e muito reduzida modificação da mesma, implica uma alteração do padrão de consumo
em períodos de abundância. Deste modo, poder-se-ia aumentar a utilidade do agente em estudo.
marginal do consumidor através de uma reafectação do consumo ao longo * O primeiro ano considerado na análise é o ano em que o indivíduo
do tempo. começa a trabalhar.
Por outro lado, estes autores consideram que o consumidor médio tem um * Oindivíduo, durante o período de vida activa, realiza poupanças que
fluxo de rendimentos do trabalho crescente ao longo da sua vida activa e irá gastar no período da reforma.
estacionário no período de reforma. Assim, durante o seu período de vida
activa ele vai acumular riquezas, que depois utilizará no período de reforma, * Oindivíduo não recebe, nem deixa heranças; tudo o que aufere durante
permitindo-lhe manter um determinado padrão de consumo ao longo de toda a sua vida activa é gasto em consumo.
a sua vida. A acumulação de riquezas tem somente esta finalidade, já que os
* O indivíduo só aufere rendimentos do trabalho (ou seja, somente
consumidores não vão deixar heranças, como iremos referir mais à frente.
enquanto se encontra no período de vida activa).
A maneira de se conseguir conciliar um fluxo estável de consumo com um
* As taxas de juro são constantes durante o período em análise.
fluxo irregular de rendimentos do trabalho passa pela consideração do
mercado de capitais. Com efeito, os indivíduos podem colocar as suas * -Oindivíduo pretende ter um padrão de consumo homogéneo ao longo
poupanças no mercado, nos períodos em que o consumo é inferior ao da sua vida ou, então, assegurar um crescimento constante do mesmo.
rendimento obtido; podem, igualmente, contrair empréstimos, quando a
situação se inverte. O indivíduo planeia o seu consumo e a sua poupança ao longo do período
estimado de vida, por forma a manter um nível desejável de consumo, mesmo

34 35
quando já se encontra na fase de reforma, em que os seus rendimentos já não Deste modo, as suas possibilidades de consumo global ao longo da sua vida
sofrem grandes flutuações (porque já não tem direito a promoções, prémios são as seguintes:
de produtividade, entre outras formas de aumentar os seus rendimentos).
Consumo nos anos de vida = Riqueza que o indivíduo possui + rendimentos
Como parêntesis, importa salientar que esta perspectiva segue a linha de que lhe restam acumulados
raciocínio desenvolvida por Irving Fisher que refere, de forma muito sintética do trabalho
(a análise mais geral reporta-se ao estudo do processo de escolha intertemporal
do consumidor, designado por forward looking theory of consumption), que C(L-T)=W+4(N-T)Z
a perspectiva intertemporal segundo a qual os consumidores tomam decisões Logo:
sobre os seus consumos corrente e futuro faz com que a trajectória do seu
consumo ao longo da vida seja muito mais suave, comparativamente à Es NE Z
L-T L-T
trajectória dos consumos de curto prazo.
Se se considerar que 1/(L-T) = a e que (N-T)/(L-T) = c, então a equação
Assim, no início da sua vida, o indivíduo contrai dívidas para realizar o seu
vem com a seguinte expressão analítica:
consumo. Na fase de maturidade, o indivíduo paga as suas dívidas e realiza
poupanças. Após a reforma, o indivíduo gasta as poupanças acumuladas. C=aW+cZ

Em termos simplistas e só para exemplificar os moldes em que esta teoria se em que:


desenrola, consideremos um indivíduo que espera viver durante L anos e
trabalhar durante N anos (L > N). Deste modo, significa que ele vive
* O parâmetro a é a propensão marginal a consumir da riqueza.
aposentado durante (L-N) anos. Mede a variação do consumo quando a riqueza real varia de uma
unidade monetária, mantendo o rendimento disponível constante. É
De igual modo, o indivíduo aufere um rendimento anual Z que, de acordo
um parâmetro que assume valores entre zero e um e não se altera no
com as hipóteses simplificadoras colocadas, é oriundo, exclusivamente, do
curto prazo.
seu trabalho. Como ele trabalha N anos, então o rendimento global é ZN.
* O parâmetro c é a propensão marginal a consumir do rendimento
Sabendo que o indivíduo vai distribuir equitativamente o consumo ao longo disponível.
da sua vida temos:
Mede a variação do consumo quando o rendimento disponível varia
Consumo global (durante a sua vida) = Rendimento global de uma unidade monetária, mantendo a riqueza real constante. É um
parâmetro que assume valores entre zero e um e não se altera no
CL =ZN curto prazo.
C=ZN/L * Céo consumo num dado período de tempo.

Deste modo, o consumo em cada ano (C) é uma percentagem (N/L) do e Weéariqueza real inicial.
rendimento desse período (Z,).
* Zé o rendimento do trabalho, ou seja, o rendimento disponível (Y d).
Vai-se introduzir uma maior sofisticação no modelo, considerando que o
Deste modo, a equação do consumo da hipótese do ciclo de vida tem a seguinte
indivíduo possui uma dada riqueza inicial, que vai ser considerada na |
expressão analítica:
determinação do padrão de consumo ao longo da sua vida.
C=aW+cYd
Considere-se que o indivíduo, num determinado momento T da sua vida,
tem uma dada riqueza real W. Os seus rendimentos de trabalho, Z, vão ser Como se pode observar, os valores das propensões marginais a consumir
acumulados nos anos em que ele espera ainda trabalhar, ou seja, (N - T), em dependem da localização do indivíduo relativamente ao final da sua vida.
que N>T. Paralelamente, ele espera viver L anos, o que equivale a dizer que Por exemplo, quanto mais próximo o indivíduo estiver do fim da sua vida,
lhe restam (L - T) anos de vida. maior será o valor do parâmetro a (embora assumindo sempre valores
positivos e inferiores à unidade).

36 37
Por último, é importante referir que o modelo em causa trabalha com hipóteses B) Teoria do Rendimento Permanente
simplificadoras muito fortes e, como tal, poder-se-ia pensar que estas iriam
distorcer a realidade. Assim, o modelo pode ser ampliado, retirando-se algu- A hipótese do rendimento permanente foi apresentada por Milton Friedman,
em 1957, na sua obra A Theory of the Consumption Function.
mas dessas hipóteses. No entanto, continuamos a ter o consumo como função do
rendimento disponível do período e da riqueza real, não se alterando as par- Esta teoria retoma os fundamentos neoclássicos da teoria económica,
ticularidades da expressão analítica da função consumo anteriormente referida. afastando-se da teoria keynesiana e, nomeadamente, da importância dada ao
rendimento corrente na determinação do consumo.
Vamos mencionar, embora de forma breve, algumas das possíveis extensões
do modelo descrito. Considera como hipótese de base que os indivíduos pautam o seu consumo
pelo seu rendimento permanente, isto é, o rendimento de longo prazo (ao
Uma das extensões possíveis é considerar que a poupança rende juros e que,
contrário das análises de curto prazo que consideravam que o consumo era
no futuro, o capital poupado é superior ao actual.
função do rendimento disponível). É um conceito subjectivo de rendimento,
Um outro desenvolvimento consiste no facto de se considerar que os cuja principal característica é a estabilidade do seu valor esperado.
indivíduos não têm a certeza absoluta do número de anos que irão viver.
O argumento dado por Milton Friedman é que o indivíduo recebe o seu
Para além disso, podem querer deixar heranças. Neste caso, não iriam planear
rendimento num determinado momento bem definido (num determinado dia
o consumo total de todos os seus recursos, mas somente uma parte deles,
da semana ou do mês) e não o gasta todo nesse momento; vai reparti-lo ao
deixando o resto sob a forma de herança.
longo do período em causa (semana ou mês).
O modelo pode, também, ser ampliado, considerando alterações à composição
Mais uma vez está presente a hipótese de que o indivíduo prefere ter um
do agregado familiar ao longo do tempo: maior número de filhos, mais pessoas
consumo uniforme ao longo do tempo, em vez de consumir muito num
a trabalhar, membros do agregado que entram na reforma, por exemplo.
determinado período e pouco ou nada noutro período.
Por fim, outro desenvolvimento possível tem a ver com a incerteza quanto
Friedman, ao contrário de Modigliani, não define o horizonte temporal do
aos rendimentos do trabalho auferidos ao longo da vida activa do indivíduo.
consumidor. No entanto, pode-se considerar que as hipóteses subjacentes às
Aliás, esta é uma das principais críticas feitas à hipótese do ciclo de vida,
duas teorias são semelhantes e, como tal, o horizonte temporal considerado
pois considera que não há qualquer grau de incerteza no que se refere a estes
será o período de vida do consumidor.
rendimentos.
Repare-se que, quanto aos objectivos dos consumidores, as duas teorias são
Se se introduzir um grau de incerteza quanto aos rendimentos de trabalho
também semelhantes, já que Friedman considera que os indivíduos pretendem
auferidos, então os planos de consumo terão de ser suportados em previsões
maximizar a sua utilidade, mantendo um fluxo de consumo tão estável quanto
sobre a evolução desses mesmos rendimentos de trabalho. E a questão que
possível.
se coloca é: como prever esses rendimentos? A resposta pode ser encontrada
na teoria do rendimento permanente de Milton Friedman, já que o rendimento Friedman considera que os consumidores planeiam consumir uma
permanente é uma estimativa do rendimento global ao longo da vida do percentagem do seu rendimento permanente, percentagem essa que depende,
indivíduo. entre outros factores, dos gostos dos consumidores e da taxa de juro.

Ao contrário das extensões ao modelo inicial, referidas anteriormente, esta Este autor considera, igualmente, que o consumo e o rendimento de cada
pode levar a uma modificação da equação de base referida, modificação essa período podem ser decompostos em duas parcelas distintas. O rendimento é
que se traduzirá pelo alargamento da função, resultante da introdução de a soma do rendimento permanente com o rendimento transitório. Quanto ao
novas variáveis. consumo, também ele é composto por duas parcelas: o consumo permanente
(que é o consumo planeado) e o consumo transitório.
Contudo, as variáveis explicativas já mencionadas (rendimento disponível
do período e riqueza real) continuam presentes na equação de comportamento No entanto, Friedman considera que não há qualquer ligação, nem entre as
do consumo subjacente à hipótese do ciclo de vida, quer se trate da versão parcelas transitórias destas duas variáveis (consumo transitório e rendimento
original ou de desenvolvimentos posteriores. transitório), nem entre os valores permanentes e transitórios destas mesmas

38 39
variáveis. Apenas se estabelece uma relação entre consumo e rendimento Apesar destas críticas, esta metodologia para a determinação do rendimento
permanente, pois são estas as únicas variáveis relevantes para o consumidor. permanente é a mais utilizada e a que reúne uma aceitabilidade mais
generalizada.
Deste modo, a função consumo de Friedman terá a seguinte expressão
analítica: Deste modo e considerando somente dois períodos, a expressão analítica do
rendimento permanente é a seguinte:
C=cYp
Yp=Y,+40(Y-Y)=0Y+(-0)Y,
em que:

e Yp representa o rendimento (disponível) permanente. em que 6 assume valores entre zero e um.

º C representa o consumo num determinado período. Assim, o rendimento permanente aparece como uma média ponderada entre
rendimentos passado e presente. No caso extremo em que O seja igual à
e O parâmetro c representa a propensão marginal a consumir. Mede a unidade, então o rendimento permanente coincide com o rendimento actual.
variação do consumo resultante da variação de uma unidade monetária
no rendimento permanente. É um valor estável no curto prazo e Como é óbvio, a estimativa do rendimento permanente considerando somente
assume valores entre zero e um. dois períodos revela-se muito fraca. Milton Friedman considerou os rendi-
mentos de muitos períodos, atribuindo ponderadores mais elevados aos
Duas questões se colocam de imediato: rendimentos mais recentes e indo decrescendo os valores dos ponderadores,
à medida que o horizonte temporal se afastava do momento presente.
* O que considerar como rendimento permanente?
Importa referir que não há qualquer teoria que defina quais devem ser os
º Como medir o rendimento permanente?
pesos a atribuir aos diferentes rendimentos ao longo do tempo.
Quanto à primeira questão, o que considerar como rendimento permanente,
No entanto, há que ter em consideração dois aspectos:
é evidente que rendimentos como os resultantes de horas extraordinárias,
rendimentos de jogo, de lotarias e outros tipos de rendimentos que não tenham * Os rendimentos de períodos passados deverão ter menor influência
um carácter duradouro, não são considerados como rendimento permanente, sobre o rendimento permanente, comparativamente aos rendimentos
já que a sua probabilidade de ocorrência é praticamente nula. Já promoções mais recentes.
no emprego, aumentos de vencimento, por exemplo, são considerados como
rendimento permanente. * O rendimento corrente deverá ter um peso inferior à unidade, a fim
de podermos também incluir na estimativa do rendimento permanente,
Quanto ao problema da estimativa do rendimento permanente, este pode ser os rendimentos de períodos anteriores.
considerado como o rendimento passado acrescido de uma fracção da
diferença de rendimentos entre o ano em curso e o ano anterior. Voltando à equação do rendimento permanente:

No entanto, convém referir que este procedimento tem sido alvo de críticas Yp=0Y+(1-0)Y,
por parte de alguns autores. As principais críticas são as seguintes:
Repare-se que se o rendimento do período actual for igual ao do período
* A medida do rendimento permanente proposta leva a que seja estabe- anterior, então o rendimento permanente é igual a qualquer um deles. Por
lecida uma relação entre as parcelas permanente e transitória do rendi- outro lado, se o rendimento presente aumentar face ao rendimento do período
mento e entre o consumo e o rendimento transitório, o que contraria anterior, então o rendimento permanente aumenta, mas menos do que o
algumas das hipóteses básicas do modelo, já referidas anteriormente. aumento do rendimento presente, já que se tem de salvaguardar o factor
incerteza relativamente à permanência futura desse novo rendimento
* Esta metodologia não está de acordo com as hipóteses de comporta-
(analiticamente esse acréscimo do rendimento vem multiplicado por um
mento do consumidor que suportam esta teoria, na medida em que os seus
parâmetro, 0, que assume valores entre zero e um).
fundamentos não podem ser encontrados na microeconomia tradicional,

40 41
Resta, agora, inserir a equação do rendimento permanente na função consumo Duesenberry considera a hipótese do rendimento relativo, segundo a qual os
de Milton Friedman: indivíduos estão preocupados, não com o valor absoluto do rendimento, mas
sim com a sua posição relativa na distribuição do rendimento global da
C=cYp
economia em que se encontram inseridos.
C=c[oY+(1-0)Y,]
Uma segunda hipótese colocada por Duesenberry é a de que o nível de
C=c0Y+c(l-0)Y,
consumo actual não depende somente do rendimento do período e desse
rendimento relativamente ao da restante população. Depende, igualmente,
De recordar que Y representa rendimentos disponíveis, independentemente
dos níveis máximos de consumo atingidos no passado. O que este autor
do período em questão.
argumenta é que se torna muito difícil para um consumidor reduzir os seus
A propensão marginal a consumir do rendimento presente (6 C/6 Y) é dada níveis de consumo, comparativamente a níveis já alcançados em períodos
por c0, assumindo valores mais baixos que a propensão marginal a consumir anteriores. É mais fácil reduzir a poupança.
no longo prazo que é designada por c. Como nota, importa não esquecer que,
Esta hipótese leva-nos a concluir que a relação entre a poupança e o
no longo prazo, não há alteração do rendimento, pelo que os rendimentos
rendimento (disponível) é função do rácio entre o rendimento do período e o
actuais e passados são praticamente iguais. Como tal, obtém-se:
nível máximo de rendimento do passado.
C=cY ocuseja C=cYd
Analiticamente:

C) Teoria do Rendimento Relativo


— =açta,—
A hipótese do rendimento relativo, de 1949, foi desenvolvida por James Yd Y'd
Duesenberry no seu livro Income, Savings and the Theory of Consumer
em que Y'd representa o nível máximo de rendimento (disponível) do passado.
Behavior. O objectivo deste autor era tentar conciliar as funções consumo de
curto e longo prazos. De notar que se o rendimento presente for superior ao nível máximo do
mesmo atingido em períodos anteriores, então a propensão média a poupar
Ao contrário da anterior, esta teoria preocupa-se, não com a manutenção
(S/Yd) aumentará.
dum nível constante ou crescente de consumo, mas sim com o facto dos
indivíduos não pretenderem baixar o seu padrão de consumo face a níveis já Sabendo que a soma das propensões médias a consumir e a poupar totaliza a
alcançados no passado. unidade, podemos deduzir a expressão analítica da propensão média a
consumir (C/Y'd):
Deste modo, quando o rendimento baixa, os consumidores só efectuam um
pequeno ajustamento relativamente a esta situação. No entanto, quando o
rendimento sobe, relativamente aos valores máximos atingidos no passado, PMC=1-PMS
o consumo aumenta de imediato, levando à adopção de um padrão de consumo Cus
mais elevado. Yd Yd
Cc 6]
Esta assimetria de comportamentos do consumo, consoante o rendimento — =(l-a a, —
aumenta ou diminui, é uma das principais críticas a esta teoria. Yd (I-ão) "vid

De referir que este ponto de partida da teoria de Duesenberry é distinto do em que Y'd representa o nível máximo de rendimento (disponível) atingido
ponto de partida das teorias anteriores. Com efeito, os modelos de Modigliani no passado e a, e a, representam parâmetros da função consumo, apresentando
e de Friedman baseiam-se na escolha do consumidor, considerando que este valores entre zero e um.
tem um comportamento racional, maximizando a sua utilidade (função dos
níveis de consumo intertemporais), face à restrição do valor actual dos seus Se o rendimento se expandir ao longo da tendência de longo prazo, então o
rendimentos ao longo do tempo. Nestes modelos, só se considera o consumo valor máximo do rendimento é sempre o do ano transacto, pelo que o rácio
individual. Yd/Y'd será igual a (1 + taxa de crescimento do rendimento), em que essa taxa

42 43
de crescimento assume valores entre zero e um. Então, a propensão média a Em síntese, as teorias de Modigliani e de Friedman apresentam grandes
consumir será constante, tal como Kuznets tinha concluído das suas observações. diferenças relativamente à teoria keynesiana, já que têm como ponto de partida
a teoria do comportamento do consumidor, ou seja, têm fundamentos
Resolvendo esta equação em ordem ao consumo, teremos a seguinte expressão
microeconómicos.
analítica:
Yd? Estas teorias são, na sua essência, semelhantes, apesar de darem origem a
C=(l-a)Yd-a, — funções consumo com expressões analíticas distintas. Como nota, importa
(mao) "vd
referir que há autores que as consideram como as duas faces da mesma moeda.
D) Modelo do passeio aleatório do consumo Qualquer uma destas teorias tem como hipótese comum que o consumidor
pretende maximizar a sua função de utilidade intertemporal, tendo como
De acordo com a hipótese do ciclo de vida e da teoria do rendimento perma- restrição o fluxo de rendimentos esperados ao longo do tempo. Esta hipótese
nente, os consumidores pretendem maximizar a utilidade ao longo da sua vai gerar uma relação entre o consumo e o valor actualizado dos rendimentos.
vida (que é a soma das utilidades de cada período dessa mesma vida), tendo
Já Duesenberry, apesar de ter como ponto de partida da sua análise a teoria
como restrição orçamental ao longo da sua vida que o somatório de todos os
do comportamento do consumidor, não considera a relação entre o consumo
seus consumos tem de igualar o somatório dos rendimentos mais a riqueza
e o valor actual dos rendimentos. Como já vimos anteriormente, a sua análise
(ou seja, os seus recursos ao longo da vida).
parte de hipóteses referentes ao rendimento relativo.
Vamos designar por L o número de anos de vida que o indivíduo espera
Quanto à perspectiva do passeio aleatório de Hall carece de maior
viver, por Y o rendimento disponível e por U a utilidade ao longo da vida.
desenvolvimento para ser aplicável.
Esquematicamente:
No que se refere à aceitabilidade destas teorias pela maioria dos economistas,
Max. U=U(C)+U(C,)+..+U(C,) parece que as teorias de Modigliani e de Friedman são melhor aceites e menos
criticadas, do que a teoria de Duesenberry.
sa:C+C, +... +C =Riqueza+Y +Y,, +... +Y,
Aliás, a hipótese do rendimento permanente de Friedman tem uma aceitabili-
A escolha óptima é obtida para a trajectória em que as utilidades marginais dade generalizada, porque os economistas consideram que uma das hipóteses que
de todos os períodos são iguais. suporta esta teoria e que diz que os indivíduos baseiam as suas decisões actuais
de consumo e poupança em algo mais do que apenas valores passados e presentes
No entanto, as utilidades marginais não são conhecidas, isto é, num período
de rendimentos e de activos, tem uma aderência muito grande à realidade.
t, as utilidades marginais de (t + 1)... (t + L) são desconhecidas. Moder-
namente, esta regra foi modificada, utilizando-se não as utilidades marginais, Por outro lado, o modelo de Modigliani também tem uma grande aceita-
mas sim os valores esperados das mesmas. Mas o problema subsiste, já que bilidade, nomeadamente na determinação dos fenómenos geradores de flutua-
os valores esperados também não são observáveis. ções do consumo presente, pois ele refere explicitamente o rendimento
presente e os activos na explicação do consumo.
Em finais da década de 70 do século passado, Robert Hall (1978) aplicou a
teoria das expectativas racionais na resolução deste problema, naquilo a que Há mesmo autores que defendem que a melhor solução para explicar o
se designou por modelo do passeio aleatório de Hall: comportamento do consumo é considerar o modelo de Modigliani e impor-
-lhe restrições em casos de flutuações temporárias do nível de rendimento e
CH=C+e de activos, tal como sugere o modelo de Friedman.

em que & é um erro aleatório, ou seja, contempla as situações imprevisíveis


que irão alterar o consumo.

Assim, os consumidores vão reajustar o seu consumo em função das 2.1.4 A função investimento
informações que dispõem em cada momento e só alteram o seu consumo
quando ocorrem situações inesperadas, ou seja, não planeadas. A função investimento keynesiana depende inversamente da taxa de juro de
mercado.

de
Keynes definiu esta função a partir da análise do modo como nas empresas lhos emprestou; por outro lado, se ele vai usar capitais próprios, tem de saber
se aprovam projectos de investimento. qual a remuneração que deixou de auferir pelo facto de aplicar esse dinheiro
no projecto, retirando-o do banco onde o tinha investido.
Considere-se, pois, um dado projecto de investimento. Ele é caracterizado
por três elementos: Vamos, pois, reportar todos os valores ao mesmo período. O período escolhido
é o ano base ou período actual (período 0).
e Investimento associado ao projecto (1)
Períodos Investimento Cash-Flows de Exploração
Para simplificar a análise vai-se considerar que as despesas de investi-
mento se realizam todas no período zero ou período actual. Convém 0 I
referir que as despesas de investimento que englobam, por exemplo,
o estudo de pré-viabilidade do projecto, a aquisição do terreno, cons- R=Ê,
trução da fábrica, compra de equipamentos, entre outras, repartem- Lt
-se ao longo de um período, normalmente de dois a sete anos. Esta
, R$-C,
simplificação facilita a compreensão e não distorce a análise.
+r
e Número de anos considerado para a análise (n)

Quando se efectua um estudo de viabilidade de um projecto de


investimento é fundamental definir o horizonte temporal desse mesmo
n
m” R n = a”

estudo, pois é em função desse período de tempo que se irão estimar (+)
as receitas e despesas de exploração do projecto.
A partir daqui já se podem comparar os valores:
e Receitas e despesas de exploração do projecto ou, mais correctamente,
cash-flows de exploração do projecto (R-C)
q RG o, R,-€ | (RC,
Repartem-se ao longo do período de exploração previamente definido. I =
l+r 1 +r) (+17)
Esquematicamente tem-se:
A taxa r é a denominada taxa interna de rentabilidade (TIR) ou, como Keynes
Períodos Investimento Cash-Flows de Exploração lhe chamou, a eficiência marginal do capital (emc). É a taxa de remuneração
dos capitais investidos no projecto. É fixa para cada projecto e depende de
0 I três factores, que são os elementos que caracterizam o projecto: investimento
associado ao projecto; receitas e despesas de exploração do projecto; e número
l Ri-Cl
de anos considerado para a análise.
2 R2 - C2
Para se decidir da implementação ou não do projecto vai-se comparar a
eficiência marginal do capital desse projecto com a taxa de juro de mercado.
n Rn-Cn Esta taxa de juro de mercado, que resulta da média ponderada das várias
taxas de juro das diferentes aplicações financeiras, vai ser designada pela
Repare-se que os valores do quadro não são comparáveis, pois reportam-se a
letra 1.
períodos de tempo diferentes. Com efeito, para se poder tirar alguma
conclusão sobre a viabilidade do projecto, importa reportar tudo ao mesmo Só são implementados projectos para os quais a eficiência marginal do capital
período de tempo, pois uma unidade monetária hoje, não tem o mesmo valor Seja superior à taxa de juro de mercado. Deste modo, a regra de aceitabilidade
amanhã e uma unidade monetária a receber no futuro não vale o mesmo de implementação dos projectos de investimento é emc > i.
hoje. Tal situação está directamente relacionada com o facto de existir um
sistema bancário. Assim, se o empresário, para implementar o projecto, Generalizando esta análise para o conjunto da economia, considere-se que
necessitar de capitais alheios, então ele terá que pagar juros ao banco que há cinco projectos de investimento, cada um com a sua eficiência marginal

46 47
do capital e o seu investimento associado. O valor da eficiência marginal do Graficamente tem-se:
capital não pode ser alterado, pois ele é característico de cada projecto de
investimento; o que pode variar é o valor da taxa de juro de mercado.

Projectos Investimento Eficiência Marginal do Capital I/e


(em milhares de euros) (emc)

A 5 000 10%

B 8000 12%

Cc 10 000 8%
A função investimento keynesiana considera que a taxa de juro afecta
D 6 000 15%
inversamente o investimento.
E 11000 20%
No entanto, a taxa de juro de mercado não é o único determinante da função
Vamos analisar o montante do investimento da economia para diferentes investimento. Há três determinantes da função investimento: taxa de juro de
valores da taxa de juro de mercado: mercado; eficiência marginal do capital; e expectativas dos empresários.

A taxa de juro afecta inversamente a função investimento, mantendo cons-


Taxa de Juro Investimento Projectos realizados
tantes os demais determinantes da função. A eficiência marginal, ceteris
(em milhares de euros) (eme >)
paribus, afecta directamente o investimento: se, por exemplo, a eficiência
5% 40 000 Todos marginal do capital aumenta, mantendo constantes a taxa de juro e as expecta-
tivas dos empresários, o investimento total aumenta. Quanto às expectativas
9% 30 000 A,B,D, E dos empresários, se estas forem favoráveis, independentemente da taxa de
11% 25 000 B,D, E juro de mercado, o investimento aumenta e se elas forem desfavoráveis,
independentemente da taxa de juro de mercado, o investimento diminui,
18% 11000 E
Keynes referiu que as expectativas dos empresários, ou seja, o modo como
Verifica-se que, à medida que a taxa de juro sobe, menos projectos são os investidores perspectivam a evolução da conjuntura nacional e interna-
implementados (pois cada vez menos projectos respeitam a regra de aceita- cional, é um dos determinantes com maior poder explicativo da função investi-
bilidade) e o investimento global diminui. Logo, o investimento varia mento. No entanto, as expectativas são um determinante subjectivo e de
inversamente com a taxa de juro e esta é, para Keynes, a única variável difícil contabilização.
explicativa que figura explicitamente na função investimento.
Às expectativas dos empresários são o factor responsável por se considerar
Deste modo, a função investimento keynesiana tem a seguinte expressão que a função investimento é uma função instável. Assim, pode-se constatar
analítica: que, quando a taxa de juro desce, o investimento tanto pode aumentar como
diminuir. Do mesmo modo, quando a taxa de juro sobe, por vezes o inves-
timento desce, respeitando a relação keynesiana mas, noutras ocasiões, sobe,
desrespeitando a teoria keynesiana. Esta situação foi designada por insta-
O parâmetro [ é o investimento autónomo, isto é, o investimento que é inde-
bilidade da função investimento. Com efeito, face a uma dada variação da
pendente da taxa de juro de mercado. Engloba, basicamente, os investimentos
taxa de juro, por vezes o investimento varia em sentido oposto, tal como
de substituição e de produtividade. Assume valores positivos e pode ser alte-
Keynes tinha demonstrado e, noutras situações, o Investimento varia no
rável no curto prazo, sendo essa decisão da competência das empresas.
mesmo sentido, contrariando a teoria keynesiana. O caso português é um
O parâmetro e representa a propensão marginal a investir. Mede a variação bom exemplo desta instabilidade, se analisarmos as relações entre a taxa de
do investimento quando a taxa de juro varia de um ponto percentual. E um juro de mercado e o investimento no início da década de oitenta ou na década
valor positivo e estável no curto prazo. de noventa do século passado.

48 49
inclusivamente, identificar variáveis objectivo e variáveis estratégicas. No
Esta instabilidade resulta, tal como foi referido, da não consideração explícita
na função investimento de uma variável explicativa do mesmo, que é crucial: entanto, não permite quantificar o impacto da alteração de uma variável
as expectativas dos empresários. estratégica sobre uma variável objectivo, ou seja, calcular o respectivo
multiplicador. Tal só pode ser feito com a determinação da forma reduzida
Esta variável, apesar de ter um elevado poder explicativo do fenómeno em do modelo.
estudo, não pode ser considerada nas diferentes formulações das funções
Para o efeito, vai-se resolver o sistema e determinar a forma reduzida do modelo:
investimento, devido à impossibilidade da sua quantificação, pois é uma
variável altamente subjectiva. No entanto, importa referir que Keynes já tinha
Y=D
mencionado esta variável explicativa do investimento, referindo-se ao seu
elevado poder explicativo, mas chamando a atenção para a impossibilidade Y=C+cY+I
de a quantificar.
yo C+1
No entanto, pode-se tentar minimizar as expectativas desfavoráveis e reforçar l-c
as favoráveis, através de manobras na taxa de juro de mercado. O resultado
final será sempre ditado pelo tipo de expectativas em causa, ou seja, se estas Surge, agora, a necessidade de se introduzirem dois conceitos novos: variáveis
forem favoráveis o investimento sobe e se estas forem desfavoráveis o objectivo e variáveis estratégicas.
investimento diminui.
As variáveis objectivo são aquelas para as quais se pretendem alcançar
Assim, se as expectativas forem desfavoráveis, a taxa de juro deve descer, determinados valores. No modelo em estudo a única variável objectivo é o
para contrabalançar esses efeitos negativos no investimento. De igual modo, rendimento.
se as expectativas forem favoráveis, então podem ser reforçadas com a descida As variáveis estratégicas ou de política económica ou instrumentais são
da taxa de juro. variáveis que afectam o cálculo das variáveis objectivo (em particular o
rendimento) e podem ser alteradas no curto prazo por uma entidade.

No modelo, observando a forma reduzida do mesmo, verifica-se que há cinco


2.1.5 Determinação do rendimento de equilíbrio num modelo a dois variáveis que afectam o cálculo do rendimento. Contudo, só há uma que
sectores: definição e equações pode ser alterada no curto prazo, sendo controlada pelas empresas: é o
investimento autónomo.
Uma vez analisados os dois elementos que integram a despesa agregada ou
procura agregada (D) numa economia fechada e sem sector Estado, já se Graficamente o ponto de equilíbrio determina-se do seguinte modo:
pode escrever a forma estrutural representativa do modelo referente ao
mercado de bens e serviços ou mercado real com dois sectores. FIN
Y=D
D,C,1 EÀ D=CH
Nesta análise mais simplista vamos considerar que a propensão marginal a
investir (e) é nula, ou seja, o investimento é todo autónomo.

Y=D Equação de equilíbrio


C+i Ci c
i I
D=C+I Equação de definição C !
C=C+eY Equação de comportamento
0 s
I=1 Equação de comportamento Ye Y

A forma estrutural, tal como o nome indica, dá a estrutura do modelo. Permite O equilíbrio ocorre no ponto E; todos os pontos acima ou abaixo de E são de
identificar o mercado em estudo, os sectores considerados (no caso do desequilíbrio (respectivamente, Y< De Y >D).
mercado de bens e serviços), as equações de comportamento consideradas e,

51
50
Retomando a expressão analítica referente à determinação do rendimento de empresas produzem em função das suas estimativas do consumo; conse-
equilíbrio, observa-se que esta não é única: a alteração de qualquer das quentemente, menor será o rendimento de equilíbrio da economia.
equações de comportamento da forma estrutural (em particular, a equação
de comportamento do investimento, passando-se a considerar a equação de O paradoxo da poupança pode ser demonstrado graficamente, através da
investimento keynesiana) vai gerar uma nova forma reduzida. equação de equilíbrio universal, I=S.

Deste modo, surge a necessidade de se deduzir uma equação que traduza o Consideremos a situação inicial designada pelo índice 1; o rendimento de
equilíbrio neste modelo, mas que seja independente das equações de compor- equilíbrio é Y 1. Vai-se assumir que a poupança aumentou (S2 > S1), gerando
tamento do modelo. É a denominada equação de equilíbrio universal num uma deslocação da função para cima. O aumento da poupança pode ser feito
modelo a dois sectores. Na sua dedução só se podem utilizar equações de à custa, ou de uma alteração da poupança autónoma (ou seja, do consumo
definição e a equação de equilíbrio. autónomo), ou de uma alteração da propensão marginal a poupar (melhor
dizendo, da propensão marginal a consumir), ou de uma alteração de ambos
Y=D Equação de equilíbrio os parâmetros. A primeira situação gera deslocações paralelas da função
poupança, ao passo que as duas outras situações geram deslocações não
D=C+I Equação de definição
paralelas da função poupança, respectivamente, centradas na ordenada na
Y=C+sS Equação de definição origem ou alterando & própria ordenada na origem. No gráfico que se
apresenta, pressupõe-se que foi somente a poupança autónoma que se alterou,
Resolvendo o sistema:
ou seja, a função poupança sofreu uma deslocação paralela.
Y=D
LS s2
C+S=C+1 TT Sl

Logo: I=S
0
j
1
j
q
Graficamente:
-€ TT Y2 yI y
PAN

LS S
I e I
Ô) À > Com efeito, um aumento da poupança (S2 > S1) gera uma diminuição do
rendimento de equilíbrio (Y2 <Y1).
€ Ye Y

Após a determinação do rendimento de equilíbrio, podemos enunciar o 2.1.6 O multiplicador: noção e aplicações
paradoxo da poupança ou da parcimónia.
Vamos retomar a forma estrutural anteriormente considerada. A corres-
O paradoxo da poupança ou da parcimónia diz que quando a poupança varia,
pondente forma reduzida é a seguinte:
o rendimento de equilíbrio da economia varia em sentido inverso.

Com efeito, este paradoxo está em conformidade com os princípios da teoria Y


“CH
I-c
keynesiana, em que a análise é feita do lado da procura e dando particular
ênfase a uma das suas componentes, o consumo. As empresas antes de Tal como já foi anteriormente referido, a forma estrutural tem interesse, na
produzirem, estimam qual será o consumo das famílias para o período futuro. medida em que indica qual o mercado considerado, as equações de
Se as empresas estimam que as famílias, por exemplo, vão consumir menos comportamento em causa e permite identificar as variáveis objectivo e as
(ou seja, vão poupar mais), então elas vão reduzir a sua produção, pois as estratégicas. Possibilita, inclusivamente, estudar o modo como as variáveis

53
estratégicas influenciam as variáveis objectivo (mera análise qualitativa). Seguidamente vamos deduzir a expressão analítica do multiplicador. Para o
Só não permite a quantificação dessa relação, quantificação essa que é efeito, vai ser considerada uma análise temporal, em que o período zero é o
período de referência. No período um, o investimento vai variar e nunca
essencial no modelo keynesiano e que foi designada por multiplicador. Essa
quantificação é feita a partir da forma reduzida do modelo. mais regista alterações. O objectivo é determinar, passados muitos períodos
(n períodos), qual o impacto dessa variação do investimento sobre o rendi-
Em primeiro lugar vamos apresentar uma definição genérica de multiplicador, mento de equilíbrio.
que pode ser utilizada, qualquer que seja a variável estratégica em análise e
a variável objectivo considerada. Períodos Consumo Investimento Rendimento

Multiplicador de uma variável estratégica numa dada variável objectivo mede O) CG Ia Y=C+h
as variações da variável objectivo quando a variável estratégica considerada
10 C=C=C+eY, I=1I+4] Y,=C+L=Y,+4]
varia de uma unidade (monetária ou percentual), mantendo constantes as
demais variáveis estratégicas do modelo. Y, =C+L

No modelo em estudo, há somente uma variável objectivo (rendimento) e > C=CfcY = L=1=1,441
Vo= Cote Al+I+A]
uma estratégica (investimento autónomo), pelo que só há um multiplicador: =C+cAl Y% =Y+Al+cAI
é o multiplicador do investimento autónomo.
A partir daqui já é possível deduzir o modo como se forma o rendimento no
Quando a variável objectivo em análise é o rendimento, pode-se omitir a período n:
correspondente referência. Para as outras variáveis objectivo (que serão
introduzidas nos próximos subpontos do presente capítulo) terá que se Y,=Y+Al+cAl+c
Al+c Al+... te"! Al
mencionar a mesma.
Y,-Y=A(d+rere + c++ ce")
O multiplicador do investimento autónomo mede as variações do rendimento
quando o investimento autónomo varia de uma unidade monetária. Os valores que se encontram dentro do parêntesis representam a soma de uma
progressão geométrica de razão c. Genericamente, a soma de uma progressão geomé-
Analiticamente: trica de razão r (com r entre - 1 e 1) é dada pelo primeiro termo menos o último
vezes a razão, sobre a unidade menos a razão. Aplicando ao caso em estudo vem:
Multiplicador do investimento autónomo = AY/AI
n-i
ou Yo -% =AL( l-c xe )
1l-c
Multiplicador do investimento autónomo = “+ =T.
av=aÃS.)
-c
Repare-se que o multiplicador não é mais do que uma derivada e é o inverso
da propensão marginal a poupar. Como a propensão marginal a consumir é um valor entre zero e um, então
elevada a um valor n que tende para mais infinito, a potência tende para zero
É um valor sempre maior que a unidade, pois é o inverso de um valor que e vem:
está entre zero e um; por isso se chama multiplicador. Por outras palavras, |
AY =AL(—)
quando o investimento autónomo varia de uma unidade, o rendimento varia -C
mais do que uma unidade e essa variação será tanto maior, quanto maior O De referir que o multiplicador foi deduzido considerando que o intervalo de
valor do multiplicador. tempo que medeia entre a variação do investimento e os efeitos sobre o
rendimento é muito grande. Aliás, esta dedução da expressão analítica do
Este multiplicador depende exclusivamente do valor da propensão marginal
multiplicador do investimento autónomo tem como objectivo alertar para o
a consumir e na razão directa. Deste modo, quanto maior for a propensão
facto de que o efeito multiplicador não é imediato, mas sim um efeito de
marginal a consumir (em países pouco desenvolvidos, por exemplo), maior
o valor do multiplicador. longo prazo.

55
54
2.2 | O modelo a três sectores Assim:

22.1 Objectivos económicos e sociais da intervenção governamental C=C+cYd


em que € é o consumo autónomo, ou seja, o consumo que não depende do
O modelo anteriormente estudado tinha um carácter meramente didáctico,
rendimento disponível; representa o mínimo de subsistência ou de sobre-
já que não havia uma autoridade para controlar a economia. Permitiu o estudo
vivência da economia. É um valor positivo e estável no curto prazo; no longo
das bases da teoria keynesiana e, muito particularmente, o funcionamento
prazo e para uma dada economia, este valor tende a aumentar.
do multiplicador.
O parâmetro c é a propensão marginal a consumir: mede a variação do
No entanto, Keynes é um forte defensor da intervenção governamental, como
consumo quando o rendimento disponível varia de uma unidade monetária.
meio de regulação da economia, pelo que importa considerar um modelo
Apresenta valores entre zero e um e é estável no curto prazo.
mais adequado à realidade, ou seja, um modelo com o sector Estado.
c=AC/AYd ou c=dC/dYd
O governo intervém na economia, com vista a atingir não só objectivos
económicos, mas também objectivos sociais. Nessa intervenção, o governo A partir da função consumo podemos deduzir a função poupança, sabendo
realiza despesas e obtém receitas que visam financiar as suas despesas. As que, agora, é o rendimento disponível que se reparte em consumo e poupança.
receitas do governo advêm dos impostos: são as denominadas receitas fiscais.
As despesas do governo podem ser de dois tipos: gastos públicos, ou seja, Yd= C+sS Equação de definição da repartição do
despesas correntes do governo (com a aquisição de, por exemplo, viaturas, rendimento disponível
com o pagamento dos funcionários públicos) e o investimento público; e as
Yd=C+cYd+S
transferências unilaterais do governo para os particulares (por exemplo,
abonos de família, pensões de reforma, pensões de invalidez e subsídios de =-C+(I-oYd
desemprego).
em que (— C)éa poupança autónoma, isto é, a poupança que não depende
do rendimento disponível (é, como foi referido anteriormente, simétrica do
consumo autónomo) e (1 —c) é a propensão marginal a poupar (s). A propensão
22.2 Determinação do rendimento de equilíbrio num modelo a três marginal a poupar mede a variação da poupança quando o rendimento
sectores: definição e equações disponível varia de uma unidade monetária; é um valor positivo e inferior à
unidade (ou seja, está entre zero e um) e é estável no curto prazo.
A consideração do sector Estado vai implicar alterações no modelo já
A soma das propensões marginais a consumir e a poupar totaliza a unidade.
estudado. São elas:
Propensão marginal a consumir + propensão marginal a poupar = 1
a) Alteração da equação de definição da procura agregada ou despesa
agregada (D) A demonstração desta relação, tal como já referimos anteriormente, pode ser
feita de dois modos:
D=C+I+G
e Socorrendo-nos dos conceitos das duas propensões marginais
em que G são os gastos públicos ou despesas públicas ou consumo público.
dC ds
b) Alteração da equação de comportamento do consumo cms —— e s=l-c= ——
dYd dYd
Como já tinha sido referido anteriormente, Keynes considerou que o consumo c+ts=
dC +
dS d(C+S) dyd =
privado era função directa do rendimento disponível (Yd). Mas este conceito dYd dYd dYd dYd
só faz sentido ser referido numa economia com sector Estado, pois, por
definição, o rendimento disponível é o rendimento líquido de impostos e
* Aplicando os conceitos anteriormente referidos às equações
adicionado das transferências que o governo efectua para Os particulares.
keynesianas do consumo e da poupança
Por este motivo, não tinha sido, ainda, considerado este conceito. cts=c+(d-c)=1
A partir das funções consumo e poupança podemos definir os conceitos de d) Equações de comportamento dos impostos (1)
propensões médias a consumir e a poupar.
di) Impostos todos autónomos
A propensão média a consumir (PMC) mede, em média, o consumo por
Uma possível equação de comportamento dos impostos é considerar que são
cada unidade monetária do rendimento disponível. Assume valores superiores
ao valor da propensão marginal a consumir, qualquer que seja o rendimento todos autónomos, isto é, cada indivíduo paga um montante de impostos, inde-
pendentemente do seu rendimento e o governo determina o total de impostos
disponível da economia.
cobrados multiplicando o montante individual pelo número de contribuintes.

PMC=— = ————— = — +€ T=T


Yd Yd Yd
Do ponto de vista de justiça social, esta equação de comportamento é
A propensão média a poupar (PMS) mede a poupança, em média, por cada altamente questionável, mas, do ponto de vista do modelo, simplifica muito
unidade monetária do rendimento disponível e apresenta valores inferiores à a sua análise.
propensão marginal a poupar, qualquer que seja o rendimento disponível da
economia. d2) Impostos função do rendimento e sem termo autónomo

PMS = = -C+(I-c)Yd - Esta situação contempla os sistemas fiscais com taxas de imposto únicas,
e +(d-c) qualquer que seja o nível de rendimento do contribuinte. Consideram-se,
Yd Yd Yd
somente, os impostos induzidos, ou seja, não há impostos autónomos.
A soma das propensões médias a consumir e a poupar totaliza a unidade:
T=tY
PMC + PMS = 1.
em que t é a taxa de imposto ou taxa marginal de imposto.
A demonstração desta relação pode ser feita de dois modos:
A taxa de imposto mede a variação dos impostos quando o rendimento varia
e Através dos conceitos de propensões médias a consumir e a poupar
de uma unidade monetária. É um valor positivo e entre zero e um e pode ser
PMC =C/Yd e PMS=S/Yd alterado no curto prazo pelo governo, em função dos seus objectivos de
política orçamental.
PMC + PMS = Ep 8. C+S Md,
Yd Yd Yd Ydo Do ponto de vista da equidade social, já se nota uma melhoria relativamente
à equação de comportamento anterior, apesar dos sistemas fiscais actuais
e Aplicando estes conceitos às funções consumo e poupança keynesianas terem taxa variável. São os chamados sistemas fiscais progressivos, em que
a taxa de incidência vai aumentando, à medida que avançamos para escalões
pMC= C+c e pMS=- Lado) de rendimento mais elevados.
Yd Yd
d3) Impostos função do rendimento e com parte autónoma
PMC + PMS = o +e+(- Cs+ -C)= c +c- CL 41-c=]
Yd Yd Yd Yd É uma combinação das duas equações de comportamento anteriores: os
impostos são função do rendimento e têm uma parte que é autónoma,
c) Equação de definição do rendimento disponível (Yd) contemplando os impostos que não dependem do rendimento como, por
exemplo, o imposto de selo, o imposto sobre o consumo de tabaco e o IVA.
O rendimento disponível é o que fica para as famílias consumirem ou
pouparem, após pagarem os impostos (T) e receberem as transferências que, T = Impostos autónomos + Impostos induzidos
unilateralmente, o governo lhes concede (Tr).
T=T+tY
Yd=Y-T+Tr

58 59
O parâmetro T (impostos autónomos) representa os impostos que não dependem transferências quando o rendimento varia de uma unidade monetária; pode
do rendimento. Assume valores positivos e pode ser alterado no curto prazo ser alterado pelo governo no curto prazo, em função dos seus objectivos de
pelo governo, ou seja, é uma variável estratégica controlada pelo governo. política orçamental.

De referir que as variáveis estratégicas controladas pelo governo denominam- d=dTrvdyY ou d=AT/AY
-se variáveis de política orçamental.
f) Equação de comportamento dos gastos públicos (6)
O parâmetro t é a taxa marginal de imposto. Mede a variação dos impostos
Em muitos modelos, os gastos públicos são considerados autónomos, pois o
cobrados quando o rendimento varia de uma unidade monetária. Assume
governo decide qual o seu montante (repartido pelas várias rubricas) que fica
valores entre zero e um e pode ser alterada no curto prazo pelo governo, ou
definido no orçamento de estado. Daí que, para o modelo, o valor seja exógeno.
seja, é uma variável de política orçamental.
G=6
t=dT/dY ou t=AT/AY
Importa referir que há modelos que consideram a despesa governamental
e) Equações de comportamento das transferências (Tr) como sendo contra-cíclica, ou seja, quando o rendimento aumenta os gastos
diminuem e vice-versa. Estas variações são tanto maiores, quanto maior for
el) Transferências todas autónomas
a diferença entre o rendimento de equilíbrio da economia e o rendimento de
A maior parte das transferências do governo para os particulares são autó- pleno emprego.
nomas, ou seja, não dependem do rendimento. Como exemplos, podemos
A equação de comportamento dos gastos públicos será:
referir o caso dos abonos de família, pensões de invalidez, pensões de reforma
e subsídios de aleitação. G=G+z(Ype-Y)

Tr= Tr O parâmetro G representa os gastos públicos autónomos, ou seja, os gastos


públicos que não dependem do rendimento. O parâmetro z não tem designação
e2) Transferências função do rendimento em especial e mede a variação dos gastos públicos quando a diferença entre
o rendimento de pleno emprego e o de equilíbrio varia de uma unidade
A equação de comportamento anterior não engloba as transferências que são
monetária. É um valor entre zero e um.
função do rendimento, ou seja, o caso dos subsídios de desemprego. Para
incluirmos este tipo de transferências temos de considerar que as mesmas Nos nossos modelos não iremos considerar esta equação de comportamento
são função inversa do rendimento. Com efeito, quando o rendimento aumenta, dos gastos públicos, ou seja, os gastos públicos serão sempre autónomos.
significa que se aproxima do rendimento de pleno emprego; o emprego
A partir das equações de comportamento referidas anteriormente já podemos
aumenta, ou seja, o desemprego desce. Logo, o montante pago pelo governo
construir a forma estrutural do modelo representativo de uma economia a
a título de subsídios de desemprego diminui, já que o número de desem-
três sectores. Importa salientar que não há uma só forma estrutural, mas uma
pregados decresce. Daí que as transferências são função inversa do rendi-
variedade de formas estruturais, consoante as equações de comportamento
mento. Como nota, importa salientar que o raciocínio desenvolvido ante-
consideradas, basicamente, para as transferências e os impostos (continuamos
riormente pressupõe uma análise feita no curto prazo, Já que nem os recursos
a assumir que o investimento é todo autónomo). Vamos, aqui, considerar
se alteram, em particular o factor trabalho, nem a tecnologia. Daí que se
algumas dessas formas estruturais.
pode afirmar que quando o rendimento aumenta o emprego aumenta.

Tr= Tr-dY A) Economia fechada em que os impostos e as transferências são


autónomos
O parâmetro Tr representa as transferências autónomas, ou seja, as
transferências que não dependem do rendimento. Assume valores positivos A forma estrutural do modelo é a seguinte:
e pode ser alterado no curto prazo pelo governo, ou seja, é uma variável de Y=D Equação de equilíbrio
política orçamental. O parâmetro d é um parâmetro que não tem uma
designação especial. Assume valores entre zero e um € mede a variação das D=C+1I+G Equação de definição

61
60
C=C+eYd Equação de comportamento B) Economia fechada, em que os impostos são função do rendimento e
as transferências são autónomas
Yd=Y-T+Tr Equação de definição
A forma estrutural deste modelo é a seguinte:
T=T Equação de comportamento
Y=D Equação de equilíbrio
Tr= Tr Equação de comportamento
D=C+1I+G Equação de definição
I=1 Equação de comportamento
C=C+cYd Equação de comportamento
G=G Equação de comportamento
Yd=Y-T+Tr Equação de definição
A correspondente forma reduzida vem:
T=T+tY Equação de comportamento
1 CicT+cTr+1I+G
Y Tr= Tr Equação de comportamento
E l-c
l=1 Equação de comportamento
Vamos identificar as variáveis objectivo e as variáveis estratégicas deste modelo.
G=G Equação de comportamento
As variáveis objectivo são o rendimento (Y) e o saldo orçamental (SO).
A correspondente forma reduzida é a seguinte:
O saldo orçamental (SO) é um dos indicadores da actividade do governo e
mede a diferença entre as suas receitas e as suas despesas. A equação de yo CrcTreTr+1+G
definição do saldo orçamental é a seguinte: 1-c (1-1)
SO = Receitas — Despesas = T — (G + Tr) As variáveis objectivo deste modelo são o rendimento e o saldo orçamental.
Apesar da equação de definição do saldo orçamental não se ter alterado, a
Aplicando ao nosso modelo, a correspondente equação de comportamento correspondente equação de comportamento é diferente, uma vez que foram
do saldo orçamental vem: alteradas algumas das equações de comportamento das variáveis que integram
a definição deste indicador.

As variáveis estratégicas são as seguintes: impostos autónomos, transferências


SO=T+tY-G-Tr
autónomas, gastos públicos e investimento autónomo. As três primeiras são O saldo orçamental é, agora, função directa do rendimento, ou seja, temos
as denominadas variáveis de política orçamental, ou seja, variáveis estraté- uma variável objectivo dependente de outra variável objectivo (este aspecto
gicas controladas pelo governo; a última é uma variável controlada pelas é particularmente significativo quando estudarmos os multiplicadores do saldo
empresas (o governo não a controla directamente, mas pode criar incentivos orçamental).
ou desincentivos ao investimento).
As variáveis estratégicas deste modelo são: impostos autónomos, transferên-
Pela forma reduzida do modelo podemos observar que as transferências cias autónomas, gastos públicos, taxa de imposto (quatro variáveis de política
autónomas, os gastos públicos e o investimento autónomo afectam directa- orçamental) e investimento autónomo (variável controlada pelas empresas).
mente o rendimento, ao passo que os impostos autónomos afectam inver-
samente o rendimento. Repare-se que os impostos autónomos e a taxa de imposto afectam inversa-
mente o rendimento, ao passo que as restantes variáveis estratégicas afectam
directamente o rendimento.

63
62
€C) Economia fechada, em que os impostos e as transferências são Acabámos de ver três formas estruturais possíveis representativas de uma
função do rendimento economia fechada com sector Estado.

A forma estrutural deste modelo é a seguinte: Observe-se que a cada uma delas corresponde uma equação para a
determinação do rendimento de equilíbrio (forma reduzida), o que nos levanta
Y=D Equação de equilíbrio dois problemas. Por um lado, não temos uma única maneira de calcular o
D=C+I+G Equação de definição rendimento e, por outro lado, a representação gráfica do equilíbrio e,
sobretudo, a análise gráfica das alterações do rendimento de equilíbrio
C=C4cyd Equação de comportamento resultantes da variação das variáveis estratégicas (ou seja, a representação
gráfica dos efeitos multiplicadores) torna-se muito complexa.
Yd=Y-T+Tr Equação de definição

T=T+tY Equação de comportamento Por isso, vamos deduzir a equação de equilíbrio universal num modelo a três
sectores. Como sabemos, só podemos utilizar equações de definição e a
Tr= Tr-dY Equação de comportamento equação de equilíbrio.
l=1 Equação de comportamento
Y=D Equação de equilíbrio
G=G Equação de comportamento
D=C+I+G Equação de definição
A correspondente forma reduzida tem a seguinte expressão analítica: Yd=C+sS Equação de definição

, TcTreT+i+G Yd=Y-T+Tr Equação de definição


l-c-t-d)
Juntando tudo vem:
As variáveis objectivo deste modelo são o rendimento e o saldo orçamental.
Yd=C+sS
Tal como já foi referido anteriormente, a equação de comportamento do saldo
Y-T+T=C+S
orçamental para este modelo volta a ter uma expressão analítica diferente
das anteriores, pois houve alteração das equações de comportamento das variá- D-T+Tr=C+S
veis que integram a definição de saldo orçamental. Para este modelo temos:
C+1I+6-T+Tr=CA+S
S0=T+tY-G-Tr+dY I+6+Tr=S+T
SO=T+(t+)Y-G- Tr Graficamente:
O saldo orçamental é função directa do rendimento.
sS+T
As variáveis estratégicas deste modelo são: impostos autónomos, transfe- LGTEST É
rências autónomas, gastos públicos, taxa de imposto, parâmetro d das
I + G o Tr I+G+ Tr
transferências e investimento autónomo. As primeiras cinco variáveis
0 pa >
estratégicas são denominadas variáveis de política orçamental e estão no
-CrcT+H( -c)Tr Ye Y
âmbito de controlo do governo; a última variável mencionada está no âmbito
de controlo das empresas.

Os impostos autónomos, a taxa de imposto e o parâmetro d das transferências em que, tendo como ponto de referência as equações de comportamento
afectam inversamente o rendimento; as restantes variáveis estratégicas consideradas no segundo modelo apresentado (impostos com parte autó-
afectam directamente o rendimento. noma e parte induzida, transferências todas autónomas e gastos públicos
autónomos):

64 65
[+G+Tr=1+G+4 Tr e Analiticamente:

S+T=-C+(-)Yd+T+tY oY l

S4T=-CAd- JS TAYV+ATOAT+LY
S+T=-C+cT+(1-o) Tr+[l-ed-0]Y Repare-se que este multiplicador continua a ser positivo e superior à unidade,
apesar de ser inferior ao anterior multiplicador de base, pois foi incluída a
taxa de imposto (que é um estabilizador automático, como veremos mais
adiante). Assim:
22.3 Efeitos multiplicadores dos instrumentos de política económica
Ns l l>i-c(-t 0>-c(l
-t) Condição sempre
Vamos considerar um dos modelos referidos anteriormente, representativos I-c(l-t) verdadeira
de uma economia fechada, com sector Estado: é o modelo em que os impostos
l i
têm uma parte autónoma e uma parte induzida, as transferências são todas <
autónomas e os gastos públicos são autónomos. I-c(d-t) 1-c

Recordemos a correspondente forma reduzida do modelo: Os factores que afectam o multiplicador de base são os seguintes:
o C-cT+cTr+I+G * Propensão marginal a consumir (c)
Y
l-c(1-t)
Quando a propensão marginal a consumir, por exemplo, aumenta (as
As variáveis objectivo do modelo são o rendimento e o saldo orçamental. As variações só são possíveis no longo prazo), ceteris paribus, O
variáveis estratégicas deste modelo são: impostos autónomos, transferências multiplicador de base vem com um valor superior: a relação é directa.
autónomas, gastos públicos, taxa de imposto e investimento autónomo.
e Taxa de imposto ou taxa marginal de imposto (t)
Vamos quantificar o impacto de variações nas variáveis estratégicas sobre as
Quando a taxa de imposto, por exemplo, aumenta, ceteris paribus, O
variáveis objectivo, ou seja, vamos calcular os respectivos multiplicadores.
multiplicador de base diminui: a relação é inversa.
A análise vai-se iniciar com os multiplicadores no rendimento.
Em síntese, o multiplicador de base depende directamente da propensão
A) Multiplicadores no rendimento marginal a consumir e depende inversamente da taxa de imposto.

O primeiro multiplicador a calcular é o denominado multiplicador de base. A2) Multiplicador das transferências autónomas
Usualmente é considerado o multiplicador dos gastos públicos, muito embora
o multiplicador do investimento autónomo também seja o multiplicador de O multiplicador das transferências autónomas mede a variação do rendimento
base. A razão da escolha da variável de política orçamental para o cálculo do quando as transferências autónomas variam de uma unidade monetária,
multiplicador de base prende-se com o facto de ser o governo (e não as mantendo constantes os gastos públicos, os impostos autónomos, a taxa de
empresas) que está preocupado em atingir os objectivos macroeconómicos. imposto e o investimento autónomo.
Daí que o multiplicador de base também seja designado por multiplicador
Analiticamente:
da política orçamental. Todos os demais multiplicadores são obtidos a partir
do multiplicador de base, aplicando as regras de construção dos mesmos. Yo c

Al) Multiplicador dos gastos públicos ôTr I-c(d-t)

O multiplicador dos gastos públicos mede a variação do rendimento quando E obtido através do produto do multiplicador de base pela propensão marginal
os gastos públicos variam de uma unidade monetária, mantendo constantes a consumir € assume valores positivos.
os impostos autónomos, as transferências autónomas, a taxa de imposto e o
investimento autónomo.

67
66
A3) Multiplicador dos impostos autónomos B) Multiplicadores no saldo orçamental

O multiplicador dos impostos autónomos mede a variação do rendimento Como referimos anteriormente, o saldo orçamental é um dos indicadores da
quando os impostos autónomos variam de uma unidade monetária, mantendo actividade do governo e é obtido pela diferença entre as suas receitas e as
constantes os gastos públicos, as transferências autónomas, a taxa de imposto suas despesas.
e O investimento autónomo.
S0=T-G-Tr
Analiticamente:
Para as equações de comportamento do modelo em estudo temos:

S0=T+tY-G-Tr
Como se pode observar, não são somente as variáveis de política orçamental
É obtido através do produto do multiplicador de base pelo simétrico da
que afectam o valor do saldo orçamental: as variações do investimento
propensão marginal a consumir e assume valores negativos. Observe-se que
autónomo, ceteris paribus, também vão alterar o montante do saldo orça-
os valores dos multiplicadores das transferências autónomas e dos impostos
mental, Já que afectam os impostos induzidos.
autónomos são simétricos.
B1) Multiplicador dos gastos públicos no saldo orçamental
A4) Multiplicador da taxa de imposto

O multiplicador da taxa de imposto mede a variação do rendimento quando O multiplicador dos gastos públicos no saldo orçamental mede as variações
a taxa de imposto varia de um ponto percentual, mantendo constantes os do saldo orçamental quando os gastos públicos variam de uma unidade
gastos públicos, as transferências autónomas, os impostos autónomos e O monetária, mantendo constantes as transferências autónomas, os impostos
investimento autónomo. autónomos, a taxa de imposto e o investimento autónomo.

Analiticamente é obtido pela derivada de um quociente (não esquecer que a Uma variação nos gastos públicos, ceteris paribus, vai gerar uma variação
derivada do numerador é nula): no saldo orçamental, não só pela posição que esta variável ocupa na expressão
analítica do saldo orçamental, mas também porque afecta o rendimento e,
oY «c(CocT+cTr+1+6) c C-cT+cTr+I+G -— -
c como tal, os impostos induzidos. Suponhamos que os gastos públicos
Dm um - x x

dt (I-c+et) I-c+ct I-cret I-c(1-t) aumentam, ceteris paribus. O saldo orçamental vai-se deteriorar, mas num
montante inferior, em módulo, à variação dos gastos públicos, já que, em
É obtido pelo produto do multiplicador de base pelo rendimento e pelo simultâneo, o aumento dos gastos públicos vai gerar um aumento do
simétrico da propensão marginal a consumir. Assume valores negativos pois, rendimento e, consequentemente, dos impostos induzidos. Assim, o efeito
como já tínhamos referido anteriormente, a taxa de imposto afecta inversa- mais forte no saldo orçamental é o causado pela variação dos gastos públicos;
mente o rendimento. a variação (de sinal contrário) dos impostos induzidos é mais fraca. Por outras
palavras, o multiplicador dos gastos públicos no saldo orçamental assume
AS) Multiplicador do investimento autónomo valores negativos, mas entre (—1) € zero.

O multiplicador do investimento autónomo mede a variação do rendimento Analiticamente:


quando o investimento autónomo varia de uma unidade monetária, mantendo
constantes os gastos públicos, as transferências autónomas, OS impostos SO : o “e t “|
autónomos e a taxa de imposto. 6 oG I-c(l-t)

Analiticamente: Vamos demonstrar que o multiplicador é negativo e assume valores entre


(-1) e zero.

t po fI+ed-O IoeQ-0-t
Êo multiplicador de base e, como tal, assume valores positivos e superiores
I-c(LD o I-cd-D o I-c(d-f
à unidade.

69
68
B3) Multiplicador dos impostos autónomos no saldo orçamental
Nesta fracção, considerada em módulo, observa-se que o numerador é inferior
ao denominador. Logo, a fracção apresenta valores entre zero e um (em O multiplicador dos impostos autónomos no saldo orçamental mede as
módulo). Vamos, agora, demonstrar que a fracção assume valores negativos. variações do saldo orçamental quando os impostos autónomos variam de
uma unidade monetária, mantendo constantes os gastos públicos, as transfe-
º I-c-d-t o -D-c(l-t) - A-d(-c)
rências autónomas, a taxa de imposto e o investimento autónomo.
I-c(l-t) I-c(l-t) l-c(l-t)
Este multiplicador assume valores positivos. No entanto, aplicando a mesma
Repare-se que, quer o numerador, quer o denominador assumem valores
lógica interpretativa dos dois casos anteriores, este multiplicador irá apresentar
positivos, pelo que a fracção é positiva. Contudo, como é antecedida por um valores entre zero e um.
sinal negativo, a fracção é negativa.
Analiticamente:
Conjugando as duas informações temos que o multiplicador dos gastos
públicos no saldo orçamental assume valores negativos, mas entre (-1) e so N 5Y Lelo txc J-c(A-D-ct I-cret-cro l-c
zero, tal como já tínhamos anteriormente concluído. T I-c(1-1) I-c(d-t I-cd-0 I-c(l-t)

Importa ressalvar que no caso de considerarmos um modelo em que os Como se pode constatar, o numerador da fracção é inferior ao denominador.
impostos, as transferências e os gastos públicos são todos autónomos, O Logo, o multiplicador dos impostos autónomos no saldo orçamental assume
multiplicador dos gastos públicos no saldo orçamental assume o valor (-1). valores entre zero e um.
Por outras palavras, uma variação nos gastos públicos, ceteris paribus, vai
De salientar que os multiplicadores das transferências autónomas e dos
gerar uma variação de sinal contrário, mas de montante igual, no valor do
impostos autónomos no saldo orçamental assumem valores simétricos.
saldo orçamental.
Importa referir, à semelhança da análise anterior, que se considerarmos um
B2) Multiplicador das transferências autónomas no saldo orçamental
modelo em que os impostos, as transferências e os gastos públicos são todos
O multiplicador das transferências autónomas no saldo orçamental mede as autónomos, o multiplicador dos impostos autónomos no saldo orçamental
variações do saldo orçamental quando as transferências autónomas variam é unitário.
de uma unidade monetária, mantendo constantes os gastos públicos, os
B4) Multiplicador da taxa de imposto no saldo orçamental
impostos autónomos, a taxa de imposto e o investimento autónomo.
O multiplicador da taxa de imposto no saldo orçamental mede as variações
Tal como no caso anterior e seguindo o mesmo raciocínio, também este
do saldo orçamental quando a taxa de imposto varia de um ponto percentual,
multiplicador apresenta valores negativos e entre (-1) e zero.
mantendo constantes os gastos públicos, as transferências autónomas, os
Analiticamente: impostos autónomos e o investimento autónomo.

980 oY | txc te-l+c(-t I-cret-ct o 1-c À sua expressão analítica é a seguinte:


eee = mo peneiad
mem 7 fo e = =
ôTr I-c(1-0 I-c(d-t l-c4-t I-c(1-t
ôTr

Como se pode constatar, o multiplicador assume valores negativos. No


entanto, o numerador da fracção é inferior ao denominador. Logo, o
O multiplicador assume valores positivos.
multiplicador das transferências autónomas no saldo orçamental assume
valores negativos e entre (—-1) e zero. B5) Multiplicador do investimento autónomo no saldo orçamental

Tal como no multiplicador anterior, importa referir que se considerarmos O multiplicador do investimento autónomo no saldo orçamental mede as
um modelo em que os impostos, as transferências e os gastos públicos são variações do saldo orçamental quando o investimento autónomo varia de
todos autónomos, o multiplicador das transferências autónomas no saldo
uma unidade monetária, mantendo constantes os gastos públicos, as transfe-
orçamental assume o valor (1). rências autónomas, os impostos autónomos e a taxa de imposto.

A
70
As variações do investimento autónomo afectam o saldo orçamental, porque Graficamente:

afectam o rendimento e, consequentemente, geram alterações nos impostos


PAIN
induzidos.
SO TT SO
So 5Y
1 61 I-c(d-t TO E >
eee eee ,
T-G-Tr [TT y1 y
Este multiplicador assume valores positivos. No entanto, pode ser igual a
zero, se considerarmos um modelo em que os impostos, as transferências e
os gastos públicos são todos autónomos.
Quando o rendimento de equilíbrio coincide com Y' 1, o saldo orçamental é
O facto de alterações no investimento autónomo afectarem o montante do nulo; diz-se que o orçamento está equilibrado.
saldo orçamental levanta-nos questões sobre qual deverá ser O indicador mais Quando o rendimento de equilíbrio é inferior a Y 1, o saldo orçamental assume
correcto da actividade do governo.
valores negativos; diz-se que o orçamento está deficitário ou apresenta um défice.
Repare-se que um observador que não possua todas as informações sobre as Quando o rendimento de equilíbrio é superior a Y 1, o saldo orçamental assume
políticas económicas conduzidas na economia em estudo, pode tirar conclu- valores positivos; diz-se que o orçamento é superavitário ou que apresenta
sões erróneas sobre a actividade do governo. Suponhamos que o governo um superávite.
não manobrou nenhuma das suas variáveis de controlo. No entanto, os
empresários tinham expectativas favoráveis sobre a evolução da conjuntura Nas nossas economias, o saldo orçamental normalmente é deficitário, devido
nacional é internacional e aumentaram o investimento autónomo. Como tal, à forte intervenção governamental preconizada pela teoria keynesiana.
o saldo orçamental melhorou. Enquanto os neoclássicos consideram que o governo não deve intervir na
economia, para além das suas funções específicas (basicamente defesa e
Um observador que só possua informações sobre a evolução do saldo orça- segurança nacional), deixando aos agentes económicos a regulação do
mental, ao observar que este registou uma melhoria e utilizando os seus mercado, pelas leis da procura e da oferta, Keynes considera que esses mesmos
conhecimentos sobre os multiplicadores, pode ser levado a concluir que o agentes económicos não são capazes de se entender, sendo necessária a
governo implementou uma política orçamental contraccionista. Com efeito, intervenção de uma entidade supra nacional que regule a sua actividade.
não foi isso que ocorreu, como sabemos. Daí que surgiu a necessidade de se Paralelamente, o rendimento de equilíbrio não coincide, por regra, com o de
encontrarem outros indicadores da actividade do governo, um dos quais vamos pleno emprego e, como tal, há desemprego e os agentes económicos, só por
ver mais adiante e que se denomina saldo orçamental de pleno emprego. si, não conseguem resolver esta situação. Daí a necessidade da intervenção
do governo, sendo que essa intervenção deverá ser tanto mais forte quanto
maior for a discrepância entre o rendimento de equilíbrio e o rendimento de
pleno emprego.
224 O orçamento: saldo orçamental e equilíbrio orçamental
O papel interventor do governo nas nossas economias reflecte-se no valor
do saldo orçamental, que pode apresentar défices, por vezes, elevados, valores
Como foi referido anteriormente, o saldo orçamental mede a diferença entre
esses que são calculados em percentagem do Produto Interno Bruto (PIB),
as receitas e as despesas do governo. Considerando o mesmo modelo que nos
por forma a permitir comparações internacionais.
suportou a análise dos multiplicadores, a sua expressão analítica é a seguinte:

SO =T+1Y-G — Tr
2.2.5 Incompatibilidade entre variáveis objectivo macroeconómicas
SO=T-6G-Tr+tY
Após terem sido analisados os efeitos de alterações em cada uma das variáveis
O saldo orçamental é função directa do rendimento, apresentando uma
estratégicas do modelo, ceteris paribus, em cada uma das duas variáveis
ordenada na origem negativa (T— G — Tr) e uma inclinação entre zero €
objectivo, importa juntar toda a informação e fazer a sua leitura sob uma
um, dada pela taxa de imposto (1).
Outra perspectiva.

13
2
Variáveis estratégicas Rendimento Saldo orçamental
Primeiramente, vamos começar por definir os conceitos de política expan-
(manobradas numa óptica (Y) (SO)
sionista e política contraccionista.
expansionista)
Uma política diz-se expansionista quando gera aumentos do rendimento. É
o caso de, ceteris paribus, um aumento dos gastos públicos, um aumento das
G? É) b
transferências autónomas, uma diminuição dos impostos autónomos, uma Tr ? f b
diminuição da taxa de imposto, ou um aumento do investimento autónomo.
A manobra das quatro primeiras variáveis designa-se por política orçamental To 7 b
expansionista. td f L
Uma política diz-se contraccionista se gera diminuições do rendimento. É o caso 17 f f
de uma diminuição dos gastos públicos, uma diminuição das transferências
autónomas, um aumento dos impostos autónomos, um aumento da taxa de Da observação do esquema anterior, conclui-se que sempre que são mano-
imposto, ou uma diminuição do investimento autónomo. A manobra das bradas, uma de cada vez, as variáveis de política orçamental, gera-se uma
quatro primeiras variáveis designa-se por política orçamental contraccionista. incompatibilidade entre as variáveis objectivo rendimento e saldo orçamental.
Assim, se o governo pretender melhorar o rendimento (ou seja, reduzir a
Como já foi anteriormente referido, o rendimento de equilíbrio encontra-se taxa de desemprego), o saldo orçamental deteriora-se; de igual modo, se
abaixo do pleno emprego, ou seja, há desemprego. O governo é a única pretender melhorar o saldo orçamental, o rendimento diminui, ou seja, agrava-
! Vamos, posteriormente, entidade estudada até ao momento !, que tem como uma das suas prioridades se o desemprego.
verificar que há uma outra macroeconómicas a redução da taxa de desemprego. As empresas têm outros
entidade que também se
preocupa com os grandes objectivos, como sejam, a maximização do lucro, a obtenção de maior quota Se a variável manobrada for o investimento autónomo, ceteris paribus, não
problemas macroeconómicos: de mercado, a internacionalização, ou a melhoria da sua imagem no mercado, se regista qualquer incompatibilidade entre o rendimento e o saldo orçamental:
é o banco central ou autori-
dade monetária. através de, por exemplo, a assumpção de maiores responsabilidades sociais. a manobra numa óptica expansionista desta variável gera uma melhoria do
Por este motivo, vamos analisar prioritariamente as variáveis de política rendimento e do saldo orçamental e a condução de uma política contrac-
orçamental, apesar de referirmos, também, as variáveis que são controladas cionista por parte das empresas gera uma deterioração do rendimento e do
pelas empresas. saldo orçamental.

2 Não esquecer que as análises Para aumentar o rendimento, ou seja, diminuir a taxa de desemprego? o Imediatamente se coloca a seguinte questão: será que o governo não pode
feitas são análises de curto
prazo. Nesta óptica, nem a
governo vai implementar uma política orçamental expansionista, mano- melhorar, em simultâneo, as duas variáveis objectivo? Esta incompatibilidade
tecnologia, nem os recursos brando, uma de cada vez, as suas variáveis de controlo. No entanto, essa é inevitável?
existentes, em particular
factor trabalho, sofrem qual-
o
variação vai gerar uma deterioração do saldo orçamental. De igual modo, a
Se o for, traz um grande inconveniente para a condução da política orçamental
quer alteração. Daí que se pode condução de uma política orçamental contraccionista vai gerar uma melhoria
de um país. Por um lado, importa aumentar o PIB da economia, aproximando-
do saldo orçamental. Por outras palavras, ocorre uma incompatibilidade entre
referir que um aumento (dimi-
nuição) do rendimento gera
-o do produto de pleno emprego, a fim de reduzir o desemprego. Por outro
uma diminuição (um aumento) as variáveis objectivo rendimento e saldo orçamental quando são manobradas,
lado, o saldo orçamental não pode apresentar défices cada vez maiores, pois
da taxa de desemprego.
uma de cada vez, as variáveis de política orçamental.
a ocorrência de défices estruturais do orçamento traz graves problemas à
Vamos, esquematicamente, considerar a condução de uma política expan- economia, não só a nível do desenvolvimento económico, mas também, entre
sionista (incluindo a variável controlada pelas empresas): outros, no controlo da inflação, no controlo das taxas de juro e na repartição
dos rendimentos. Aliás, no caso da economia portuguesa e, mais generi-
camente, no caso das economias dos países da União Europeia, há regras
muito precisas, definidas no Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC), no
2 Para uma análise mais
que se refere ao défice orçamental: o critério do défice refere que cada país, detalhada desta temática, ver
anualmente, não pode apresentar um défice que exceda 3% do PIB. o capítulo 7.

15

O multiplicador do orçamento equilibrado: o teorema de Deste modo, o multiplicador do orçamento equilibrado assume o valor de um.
2.2.6
Haavelmo Vamos demonstrar a segunda parte do teorema, ou seja, 4 SO =0.

Face ao exposto anteriormente, é pertinente saber se essa incompatibilidade S0O=T-G6-Tr


entre rendimento e saldo orçamental, que ocorre sempre que são manobradas,
ASO=AT-AG-ATr=0
ceteris paribus, as variáveis de política orçamental, é algo inevitável.
As transferências autónomas não se alteram, pelo que a sua variação é nula;
Haavelmo descobriu a solução, ao manobrar mais do que uma variável de
como as variações dos gastos públicos e dos impostos autónomos são iguais,
política orçamental ao mesmo tempo.
então a variação do saldo orçamental é nula.
Vamos, pois, enunciar o teorema de Haavelmo ou multiplicador do orçamento
A questão que se pode colocar neste momento é a seguinte: o enunciado do
equilibrado: considerando que os impostos são todos autónomos, se se
teorema de Haavelmo é muito interessante e útil. Só que parte de uma premissa
variarem os impostos autónomos e os gastos públicos no mesmo montante €
que não tem qualquer aplicabilidade nas nossas economias que é a obriga-
no mesmo sentido, o rendimento vem alterado nesse montante e nesse sentido
toriedade de termos os impostos todos autónomos. Será que com uma equação
e o saldo orçamental não se altera.
de comportamento dos impostos como função do rendimento estas conclusões
Para demonstrarmos o teorema de Haavelmo vamos considerar o primeiro continuam válidas, ou seja, continuamos a não ter necessariamente incom-
modelo estudado, ou seja, o modelo em que os impostos, as transferências € patibilidades entre o rendimento e o saldo orçamental quando manobramos
os gastos públicos são autónomos. De referir que Haavelmo não incluiu as variáveis de política orçamental?
transferências; na nossa análise vamos considerá-las e assumir que são Apesar do teorema de Haavelmo já não ter aplicabilidade num modelo com
exógenas ao modelo. Haavelmo também considerava que o saldo orçamental impostos induzidos os seus ensinamentos continuam válidos, ou seja, conti-
estava equilibrado e que a variação dos gastos públicos e dos impostos nuamos a registar que é possível conduzir, por exemplo, uma política
autónomos no mesmo montante e no mesmo sentido, não alterava o equilíbrio orçamental expansionista sem deteriorar o saldo orçamental. Mais ainda,
do orçamento. Na nossa análise não vamos considerar, obrigatoriamente, neste caso, consegue-se melhorar o valor do saldo orçamental.
que o saldo orçamental é nulo: seja qual for o seu valor e de acordo com o
teorema de Haavelmo, esse valor não será alterado. Para o demonstrar vamo-nos suportar no segundo modelo que estudámos,
ou seja, um modelo em que os impostos têm parte autónoma e parte induzida
Recordemos a forma reduzida do modelo que suporta este teorema: e as transferências são todas autónomas. Vamos continuar a assumir que os
gastos públicos e os impostos autónomos variam no mesmo montante e no
Y=
C -cT 4+cTr+I+G mesmo sentido. Com base neste ponto de partida, vamos estudar qual a
I-c variação do rendimento e qual a variação do saldo orçamental.
Esquematicamente, o teorema de Haavelmo diz que, quando T = T , então se
AG=AT,temos AY=AG=ATeASO=0. A) Variação do rendimento

Vamos demonstrar a primeira parte do teorema, ou seja, AY = AG = AT

A Y = multiplic. dos gastos públicos x 4 G + multiplic. dos impostos


autónomos x À T

O multiplicador conjunto já não é um, como era o multiplicador do orçamento


equilibrado, mas é positivo e assume valores entre zero e um. Significa que
Como, À G=AT , vem:
quando os gastos públicos e os impostos autónomos variam no mesmo
Av= E AG= CAT ou seja AY=AG=AT montante e no mesmo sentido, mantendo as demais variáveis estratégicas
-€ -€ constantes, o rendimento varia nesse sentido, mas num montante menor,

"1
716
B) Variação do saldo orçamental Deste modo, necessitamos de criar um indicador da actividade do governo
que seja imune às variações do investimento autónomo ou, mais generi-
SO=T+tY-G-Tr camente, às variações das variáveis controladas pelas empresas (e também à
ASO=AT+IAY-AG-ATr variável de política monetária, como iremos ver no próximo capítulo). Como
estas influenciam o saldo orçamental através dos impostos induzidos, ou
Como as transferências autónomas estão constantes, a sua variação é nula. seja, do rendimento, vamos substituir o rendimento de equilíbrio, por outro
Quanto aos impostos autónomos e aos gastos públicos, as respectivas que seja inalterável no curto prazo: o de pleno emprego.
variações, como são de sinal contrário, anulam-se. Logo, temos:
Surge, pois, o conceito de saldo orçamental de pleno emprego. O saldo
A SQ=LAY orçamental de pleno emprego é um dos indicadores da actividade do governo
e mede a diferença entre as suas receitas e as suas despesas obtidas a partir
(1-cot AG = (1-c)t AT
A SO = do rendimento potencial ou de pleno emprego.
l-c(-t I-c(d-t)
Para as equações de comportamento do segundo modelo referido (impostos
Como se observa, o multiplicador conjunto no saldo orçamental já não é com parte autónoma e parte induzida, gastos públicos autónomos e
nulo, como no teorema de Haavelmo, mas assume valores positivos e entre transferências autónomas) temos:
zero e um. Significa que quando os impostos autónomos e os gastos públicos
variam no mesmo montante e no mesmo sentido, o saldo orçamental varia SO pe =T+tY.—-G-Tr
pe

nesse sentido, mas num montante menor.


O saldo orçamental de pleno emprego só é influenciado pela manobra de
Concretizando para o caso de uma política orçamental expansionista. O variáveis de política orçamental.
governo aumenta de igual montante os impostos autónomos e os gastos A comparação entre as variações do saldo orçamental de equilíbrio e as
públicos. O rendimento vem aumentado num montante menor e o saldo variações do saldo orçamental de pleno emprego permite concluir o seguinte:
orçamental melhora num montante ainda menor. Como se observa, podemos
melhorar o produto da economia (PIB) e reduzir o défice orçamental. Os a) Se o saldo orçamental de equilíbrio sofreu alterações e o saldo
Orçamentos de Estado portugueses de 1999 e do ano 2000 são um bom orçamental de pleno emprego também, então as variáveis manobradas
exemplo desta realidade. foram as variáveis de política orçamental, uma de cada vez.

b) Se o saldo orçamental de equilíbrio sofreu alterações, mas o saldo


orçamental de pleno emprego permaneceu inalterável, então a variável
manobrada foi o investimento autónomo, ceteris paribus.
227 O orçamento de pleno emprego e a política orçamental

Como vimos anteriormente, o saldo orçamental é influenciado não só por


variáveis de política orçamental, mas também pelo investimento autónomo. 2.28 Estabilizadores automáticos

Assim, tal como já foi referido (e pressupondo uma análise ceteris paribus), Estabilizador automático é um instrumento de política económica (uma
podemos ter uma situação em que o governo não teve qualquer actuação na variável estratégica) que actua automaticamente sobre o rendimento,
economia, mas os investidores, ao aumentarem o investimento autónomo, reduzindo o impacto de variações autónomas na procura agregada sobre o
geram um aumento do saldo orçamental, fazendo-nos concluir que o governo rendimento de equilíbrio.
implementou uma política orçamental contraccionista, tendo em vista a
Os estabilizadores automáticos mais conhecidos são a taxa de imposto, os
redução do seu défice orçamental. Por outro lado, se as expectativas dos
empresários forem desfavoráveis, o investimento desce, ocasionando uma subsídios de desemprego, o imposto sobre os lucros das empresas e a
deterioração do saldo orçamental, levando-nos a concluir que o governo imple- distribuição de dividendos.
mentou medidas de política orçamental expansionistas, tendentes a reduzir a Vamos analisar o funcionamento de dois dos estabilizadores citados
taxa de desemprego e cujo resultado foi um agravamento do défice orçamental. anteriormente: taxa de imposto e subsídios de desemprego.

78 19
A metodologia utilizada para efectuar esta análise é a que passamos a expor. l l
<
Consideramos, inicialmente, um modelo em que não há estabilizadores e I-c(dl-t) I-c
determinamos a expressão analítica do multiplicador de base, ou seja, do
multiplicador dos gastos públicos. Seguidamente consideramos um modelo A taxa de imposto tem, pois, um efeito estabilizador automático. Estabilizador,
em que figura o estabilizador automático em estudo, determinamos a porque atenua o impacto de alterações das variáveis estratégicas sobre o
expressão analítica do multiplicador de base e comparamos este multiplicador rendimento de equilíbrio, ou seja, diminui o valor do multiplicador de base.
com o obtido no modelo sem estabilizadores. Automático, porque entra em funcionamento sem que nenhuma entidade, e
em particular o governo, o accione.
A) Funcionamento do estabilizador taxa de imposto
Vamos analisar o mecanismo de funcionamento deste estabilizador auto-
Vamos considerar um modelo em que não há qualquer estabilizador mático comparando os efeitos sobre o rendimento resultantes de, por exemplo,
automático, ou seja, um modelo a três sectores com impostos autónomos, um aumento dos gastos públicos num modelo com e sem estabilizadores
transferências autónomas e gastos públicos autónomos (corresponde ao automáticos.
primeiro modelo apresentado no ponto 2.2.2).
Um aumento dos gastos públicos, ceteris paribus, numa primeira fase afecta
A forma reduzida do modelo tem a seguinte expressão analítica: directamente a procura agregada ou despesa aumentando-a e esta, em

Y
E cT+cT+i+G equilíbrio, tem de ser igual ao rendimento, pelo que este sobe também. No
entanto, o efeito não se esgota aqui, pois a subida do rendimento, numa
l-c segunda fase, faz aumentar os impostos induzidos (num montante inferior
A expressão analítica do multiplicador dos gastos públicos é a seguinte: ao aumento do rendimento, já que o aumento do rendimento vai ser
multiplicado pela taxa de imposto que é um valor entre zero e um), ou seja,
oY 1
faz aumentar os impostos cobrados que, por seu turno, geram uma redução
56 1-c do rendimento disponível e, consequentemente, do consumo (também neste
Assim, uma variação dos gastos públicos, ceteris paribus, vai gerar uma caso num montante menor, pois o rendimento disponível está a multiplicar
variação na procura agregada. Como, em equilíbrio, a procura agregada tem pela propensão marginal a consumir, um parâmetro que assume valores entre
de igualar o rendimento (D = Y), então o rendimento regista uma variação zero e um). Como o consumo diminui, então a procura agregada baixa e,
nesse mesmo sentido. também, o rendimento desce. Temos, pois, um aumento inicial do rendimento
e, por fim, uma diminuição do rendimento, mais fraca que o aumento inicial
Vamos, agora, introduzir o estabilizador taxa de imposto. Para o efeito gerado pelo acréscimo dos gastos públicos.
considere-se um modelo em que os impostos são função do rendimento, as
transferências são autónomas e os gastos públicos são autónomos (por O aumento inicial do rendimento é mais forte do que a diminuição gerada
exemplo, o segundo modelo estudado anteriormente). A correspondente forma pelo efeito estabilizador, pelo que o rendimento de equilíbrio aumenta, mas
reduzida é a seguinte: menos do que se não houvesse o efeito estabilizador.

y C-cT+cTr+I+G Esquematicamente, o mecanismo do estabilizador funciona da seguinte


maneira:
l-c(d-t
O multiplicador dos gastos públicos apresenta a seguinte expressão analítica, 6fsDTsYy7T
tal como vimos anteriormente:
1)
nas I
56 1I-c(l-t) TTsyvial=>cls> DL Syd

Como se pode observar este multiplicador assume valores mais baixos que o Numa situação de pleno emprego, se os gastos públicos aumentarem,
correspondente multiplicador num modelo sem estabilizadores: causando uma subida do nível de preços e do produto nacional monetário, a
receita dos impostos também aumenta, o que tem um efeito contraccionista

80 81
e limita o efeito inflacionista do aumento dos gastos públicos. De igual modo, paribus, a variável gastos públicos. O correspondente multiplicador tem a
se os gastos públicos diminuírem, provocando uma redução do nível da expressão analítica referida anteriormente.
procura agregada e do produto nacional, a receita dos impostos também Seguidamente, vamos considerar um modelo representativo do mercado real
diminui, o que tem um efeito expansionista e limita o efeito contraccionista de uma economia em que há somente o estabilizador automático subsídios
da redução do investimento. A variação dos impostos faz com que a variação de desemprego, ou seja, um modelo em que os impostos são autónomos, os
do rendimento disponível seja menor do que a variação do produto, o que gastos públicos são autónomos e as transferências são função inversa do
limita a variação das despesas de consumo e, deste modo, exerce um efeito rendimento. A correspondente forma reduzida do modelo é a seguinte:
estabilizador, que é automático, já que não depende da actuação do governo.
Para além disso, o governo também pode exercer uma política de estabilização Y= C-cT+cTr+1+G
activa, alterando a taxa de imposto. l-c(l-d)

O efeito estabilizador automático da taxa de imposto é tanto maior quanto O multiplicador dos gastos públicos (multiplicador de base) tem a seguinte
maior for a variação da receita fiscal, em resposta a variações do produto expressão analítica:
nacional. No modelo estudado, a taxa de imposto é fixa e independente do Yo l
rendimento; um sistema fiscal deste tipo designa-se por sistema fiscal
5G 1-c(l-d)
proporcional. O fenómeno da estabilização automática é maior se estivermos
num sistema fiscal progressivo, em que a taxa de imposto aumenta à medida Quando, em resultado de uma subida dos gastos públicos, ceteris paribus, O
que avançamos para escalões de rendimento mais elevados. Assim, quando rendimento sobe, o desemprego diminui e diminui, também, o montante de

o rendimento aumenta (devido, por exemplo, à subida dos gastos públicos, subsídios de desemprego a pagar pelo governo, o que atenua o efeito
ceteris paribus) as receitas fiscais aumentam por duas vias: por um lado, expansionista da subida dos gastos públicos.
porque o rendimento (a base de tributação) aumentou e, por outro lado, porque No entanto, importa referir que este estabilizador é menos potente que o da
ao aumentar o rendimento, houve contribuintes que passaram a ser tributados
taxa de imposto, já que o parâmetro d assume valores mais baixos do que a
por taxas de incidência mais elevadas.
taxa de imposto.
Deste modo, num sistema fiscal progressivo o efeito estabilizador é maior Como se pode observar, o multiplicador de base dum modelo em que há o
do que num sistema fiscal proporcional, ou seja, se pudéssemos encontrar à estabilizador automático subsídios de desemprego assume valores mais baixos
expressão analítica do multiplicador dos gastos públicos, este teria um valor que o correspondente multiplicador de uma economia sem estabilizadores
mais baixo num sistema fiscal progressivo (porque o efeito estabilizador é automáticos.
mais forte), do que num sistema fiscal proporcional.
l l
<
Em síntese, quanto mais baixo for o valor do multiplicador de base, maior é O I-c(d-d) l-c
efeito estabilizador gerado por alterações nas variáveis estratégicas da economia.
Esquematicamente, o mecanismo do estabilizador funciona da seguinte
Ainda dentro da temática do estabilizador taxa de imposto, importa referir maneira:
que, para efeitos de estabilização automática, a receita fiscal deve responder
sem atrasos às variações do nível de rendimento; daí, que seja conveniente 6Tf=5DT sy?
que a cobrança de impostos se faça por retenção na fonte.
U
Se o imposto cobrado num ano se refere ao rendimento recebido no ano
Trls>ydils5scl>5 DL =>YS
anterior, a receita dos impostos pode estar a subir quando o rendimento já
está a descer, ou estar a baixar quando o rendimento já está a subir. De notar, que a subida inicial do rendimento, resultante do aumento dos
gastos públicos, ceteris paribus, é contrabalançada pela descida, numa
B) Funcionamento do estabilizador subsídios de desemprego
segunda fase, do rendimento, fruto do mecanismo do estabilizador, pelo que
A análise é semelhante à anterior. Em primeiro lugar vamos considerar uma o efeito final é a subida do rendimento, mas mais fraca do que num modelo
economia em que não há estabilizadores automáticos e vamos alterar, ceteris sem este estabilizador.

83
82
Para finalizar, importa referir as vantagens e desvantagens dos estabilizadores óptica do país, ou seja, exportações menos importações (sejam elas de bens,
automáticos. A principal vantagem dos estabilizadores ocorre nos períodos serviços ou capitais).
de recessão, porque o rendimento não diminui tanto como diminuiria se não
houvesse estabilizadores (o multiplicador é menor). A principal desvantagem A balança de pagamentos é composta por três grandes rubricas: balança
dos estabilizadores verifica-se nos períodos de expansão, em que o rendimento corrente, balança de capitais e balança financeira.
não cresce tanto (não atinge tão rapidamente o rendimento de pleno emprego),
Na balança corrente registam-se todas as operações entre a economia e o
quanto cresceria se não houvesse estabilizadores. Deste modo, a redução
exterior em mercadorias (ou bens), serviços, rendimentos e transferências
das variáveis de política fiscal (impostos autónomos ou taxa de imposto) ou
unilaterais (neste caso e tal como o nome indica estas transacções não têm
o aumento das despesas públicas (gastos públicos ou transferências autó-
contrapartida em bens ou serviços; incluem, por exemplo, as remessas de
nomas) necessários para alcançar o rendimento de pleno emprego são maiores,
emigrantes e imigrantes, transferências correntes da União Europeia e os
quando na economia existem estabilizadores automáticos, comparativamente
fluxos financeiros relacionados com a cooperação entre países).
a uma economia (hipotética) em que não há estabilizadores automáticos.
Na balança de capitais, tal como o nome indica, registam-se as operações de
Por isso se diz que os estabilizadores automáticos atenuam a amplitude dos
capital, mais especificamente as transferências de capital (como, por exemplo,
ciclos económicos.
as transferências da União Europeia para financiar a construção de infra-
* Silva, A.A. C. e Neves, J.€. Como referem Silva e Neves (1992, p. 224) *, “os estabilizadores automáticos estruturas) e a aquisição ou cedência de activos não financeiros não produzidos
(1992). Finanças Públicas e
constituem uma resposta benéfica a movimentos inflacionistas ou depressio- (como, por exemplo, aquisição e cedência de patentes e a aquisição de
Política Macroeconómica.
Lisboa: Universidade Nova de nários, mas não dispensam a necessidade de realizar variações deliberadas edifícios para a instalação de organismos estrangeiros ou de embaixadas).
nos instrumentos de política económica para garantirem a estabilidade
Lisboa, Faculdade de Economia.
Na balança financeira registam-se as operações que se enquadram em cinco
económica. É precisamente quando se tem presente esta necessidade que se
rubricas: investimento directo, investimento de carteira, derivados financeiros,
verifica que os estabilizadores automáticos têm também um lado negativo,
outros investimentos e activos de reserva,
na medida em que reduzem a eficiência das despesas e dos impostos para
combater uma inflação ou depressão. Os estabilizadores automáticos cons- Atendendo a que estamos a analisar o mercado real ou de bens e Serviços, SÓ
tituem uma resistência a que a economia se afaste da posição desejada, mas nos interessa considerar o saldo da balança corrente.
uma vez que a economia não se encontre nessa posição constituem igualmente
uma resistência a que a mesma seja atingida”.

2.3.2 Determinação do rendimento de equilíbrio num modelo a quatro


sectores: definição e equações
2.3 O modelo a quatro sectores
Com a introdução do quarto sector, o sector externo, temos de proceder a
23.1 A balança de pagamentos algumas alterações no modelo que suportou a análise a três sectores.

Para finalizar a nossa análise do mercado de bens e serviços ou mercado real São elas:
vamos introduzir o quarto sector: o sector externo.
a) Alteração da equação de definição da procura agregada (D)
A introdução deste sector torna a análise mais realista, já que contempla as
Respeitando a identidade da contabilidade nacional, a procura agregada (D)
relações da economia em causa com o exterior ou resto do mundo. Essas
relações são definidas pela balança de pagamentos. tem a seguinte expressão analítica:

A balança de pagamentos é o registo contabilístico de todas as transacções D=C+I+G+4X-Z


de um país com o resto do mundo, num dado período (por norma, o ano),
em que X designa as exportações da economia em bens e serviços e Z refere-
pelo que, como registo contabilístico que é, respeita o método das partidas
-Se às importações de bens e serviços da economia.
dobradas. Qualquer sub-balança que a compõe é sempre contabilizada na

84 e
|
b) Equação de comportamento das exportações (X) O parâmetro m é a propensão marginal a importar e mede, tal como definido
anteriormente, a variação das importações quando o rendimento varia de
As exportações são consideradas exógenas ao modelo e controladas pelas uma unidade monetária. Assume valores entre zero e um e é um parâmetro
empresas, sendo alteráveis no curto prazo. Logo: estável no curto prazo.

X=X Após termos introduzido as alterações ao modelo resultantes da inclusão do


sector externo, vamos ver uma forma estrutural possível, representativa de
c) Equações de comportamento das importações (Z) uma economia a quatro sectores. Tal como foi referido aquando da análise
cl) Importações todas autónomas do modelo referente ao mercado real de uma economia com três sectores,
também no caso de uma economia com quatro sectores podemos ter múltiplas
Uma possível equação de comportamento das importações considera que as formas estruturais, consoante o tipo de equações de comportamento utilizadas,
mesmas são todas autónomas, ou seja, independentes do rendimento da basicamente, as equações de comportamento dos gastos públicos, das
economia. Neste caso, estamos, somente, a incluir as importações de bens transferências, dos impostos e das importações”. * Não esquecer que neste
capítulo vamos considerar
de consumo final.
sempre que a propensão
Uma forma estrutural possível e que corresponde à abertura ao exterior da forma marginal a investir é nula, ou
Z=7 estrutural que foi utilizada, regra geral, no subcapítulo anterior, é a seguinte: seja, o investimento é todo
autónomo.

c2) Importações função do rendimento e sem termo autónomo Y=D Equação de equilíbrio

Esta equação de comportamento contempla, unicamente, as importações D=C+I+6+X-Z Equação de definição


induzidas, ou seja, as importações de matérias primas, componentes, bens C=C+cYd Equação de comportamento
intermédios e outros inputs para o processo produtivo. Assim, as importações
terão de ser função directa do rendimento. Yd=Y-T+T Equação de definição

Z=mY T=T+tY Equação de comportamento

Tr= Tr Equação de comportamento


em que m é a propensão marginal a importar. Mede a variação das importações
quando o rendimento varia de uma unidade monetária. Assume valores entre I=1 Equação de comportamento
zero e um e, normalmente, valores relativamente baixos. E um parâmetro
estável no curto prazo, já que depende da tecnologia existente, uma vez que G=G Equação de comportamento
este parâmetro está associado às importações induzidas, ou seja, importações X=X Equação de comportamento
de bens destinados a serem incorporados no processo produtivo.
Z=Z+mY Equação de comportamento
c3) Importações função do rendimento e com termo autónomo
À correspondente forma reduzida vem:
Corresponde a uma conjugação das duas equações de comportamento
anteriores. Deste modo, considera-se que as importações têm uma parcela Y
CeTecT41+0+X-Z
autónoma (importações de bens de consumo final) e uma parte induzida l-cd-D+m
(importações de bens destinados ao processo produtivo).
As variáveis objectivo deste modelo são: rendimento (Y), saldo orçamental
Z=Z+mY (SO) e saldo da balança corrente (BC).

O parâmetro Z, representa as importações autónomas, isto é, as importações Surge, aqui, uma nova variável objectivo que convém analisar. Como já vimos
que não dependem do rendimento, como sejam, as importações de bens de anteriormente, a balança corrente reflecte as transacções em mercadorias e
consumo final. Assume valores positivos e é uma variável alterável no curto serviços entre esta economia e o resto do mundo. E obtida por:
prazo pelas empresas.
BC=X-Z

86 87
que, para as equações de comportamento do nosso modelo, vem: equações de comportamento consideradas e, por outro lado, permite fazer as
representações gráficas do rendimento de equilíbrio e, também, analisar grafi-
BC=X -(Z +mY) ocouseja BC= X-Z-mY camente o impacto de variações das variáveis estratégicas no rendimento
(os efeitos multiplicadores).
Repare-se que o saldo da balança corrente é função inversa do rendimento, com
uma ordenada na origem positiva (X — Z) e uma inclinação negativa e infe- Na determinação da equação de equilíbrio universal num modelo a quatro
rior a 45º, correspondente ao simétrico da propensão marginal a importar (11). sectores só podem ser utilizadas equações de definição e a equação de
equilíbrio. Assim:
Graficamente:
PN Y=D Equação de equilíbrio

D=C+I+6+X-Z Equação de definição

Yd=C+sS Equação de definição

Yd=Y-T+Tr Equação de definição


So

W
Resolvendo o sistema obtemos:
Yl BC Y
1+6G6++X=5S+T+Z

Quando o rendimento de equilíbrio coincide com o rendimento Y1, diz-se Graficamente:


que a balança corrente está equilibrada ou tem um saldo nulo.
A
S+T+Z
Para rendimentos de equilíbrio superiores a Y 1, o saldo da balança corrente LG, T,XS, T,Z

assume valores negativos, ou seja, as importações são superiores às exporta-
HGA+Tr+X ; 1+G+Tr+X
ções; diz-se que a balança corrente está deficitária ou que apresenta um défice.
0 TO
Para rendimentos de equilíbrio inferiores a Y1, o saldo da balança corrente -C+cT+(] -)Tr+Z aaa á
Ye Y
apresenta valores positivos, isto é, as exportações são superiores às importa-
ções; diz-se que a balança está superavitária ou que regista um superávite.
em que, para as equações de comportamento consideradas:
No que se refere às variáveis estratégicas, neste modelo temos os impostos
autónomos, as transferências autónomas, a taxa de imposto, os gastos I+6+T7+X=14+G+Tr+X e
públicos, o investimento autónomo, as exportações autónomas e as impor-
S+T+Z=-C4cT+0-)Tr+Z+[l-c(A-D+m]Y
tações autónomas. As primeiras quatro variáveis são denominadas variáveis
de política orçamental (controladas pelo governo) e as restantes três variáveis Voltando à forma estrutural enunciada inicialmente, bem como à corres-
são controladas pelas empresas. pondente forma reduzida, vamos quantificar as relações, já identificadas,
entre as variáveis estratégicas do modelo e a variável objectivo rendimento,
Verifica-se que os impostos autónomos, a taxa de imposto e as importações
através do conceito de multiplicador. No que se refere à variável objectivo
autónomas afectam inversamente o rendimento, ao passo que as restantes
saldo orçamental, não vamos recalcular os multiplicadores. Para as novas
variáveis estratégicas afectam o rendimento de forma directa.
variáveis estratégicas, resultantes da introdução do sector externo (exportações
O modelo considerado é um dos possíveis modelos representativos do autónomas e importações autónomas), elas vão afectar o valor do saldo
mercado real ou de bens e serviços de uma economia aberta. Deste modo, orçamental, porque afectam o rendimento e, consequentemente, alteram o
nunca sabemos qual a equação que traduz o equilíbrio neste mercado. Para o montante dos impostos induzidos. Para modelos em que os gastos públicos,
conseguirmos, vamos deduzir a equação de equilíbrio universal num modelo as transferências e os impostos sejam todos autónomos, nem as exportações
a quatro sectores, que nos traz duas vantagens: por um lado, passamos a autónomas, nem as importações autónomas afectam o saldo orçamental, ou
saber como determinar o rendimento de equilíbrio, independentemente das seja, os respectivos multiplicadores no saldo orçamental são nulos.

89
88
Retomando o modelo apresentado inicialmente vamos calcular os multipli- Em síntese, o multiplicador de base depende directamente da propensão
cadores no rendimento, iniciando a análise com o multiplicador dos gastos marginal a consumir e depende inversamente da taxa de imposto e da
públicos, por ser considerado o multiplicador de base das variáveis do propensão marginal a importar.
mercado real.
B) Multiplicador das transferências autónomas
A) Multiplicador dos gastos públicos
O multiplicador das transferências autónomas mede a variação do rendimento
O multiplicador dos gastos públicos mede a variação do rendimento quando quando as transferências autónomas variam de uma unidade monetária,
os gastos públicos variam de uma unidade monetária, mantendo constantes os mantendo constantes os gastos públicos, os impostos autónomos, a taxa de
impostos autónomos, as transferências autónomas, a taxa de imposto, o Inves- imposto, o investimento autónomo, as exportações autónomas e as impor-
timento autónomo, as exportações autónomas e as importações autónomas. tações autónomas.

Analiticamente: Analiticamente:

oY l Yo c
06 I-c(d-D+m STr 1I-c(A-D+m

Repare-se que este multiplicador continua a ser positivo e superior à unidade, Respeita a regra de construção do multiplicador, enunciada anteriormente.
apesar de ser inferior aos anteriores multiplicadores de base, pois o denomina-
dor aumentou devido à inclusão da propensão marginal a importar. De salien- C) Multiplicador dos impostos autónomos
tar que, apesar do multiplicador de base ser inferior aos anteriores, a propensão O multiplicador dos impostos autónomos mede a variação do rendimento
marginal a importar não é um estabilizador automático, porque não respeita quando os impostos autónomos variam de uma unidade monetária, mantendo
um dos requisitos para o ser: não é uma variável estratégica. Assim: constantes os gastos públicos, as transferências autónomas, a taxa de imposto,
l < l o l o investimento autónomo, as exportações autónomas e as importações
l-cd-D+m dI-c(d-) dI-c
autónomas.

Analiticamente:
A medida que introduzimos maior sofisticação e maior realismo ao modelo,
o valor do multiplicador de base diminui. Yo c
5T l-c(l-D+m
Os factores que afectam o multiplicador de base são os seguintes:
Tal como seria expectável, este multiplicador não só respeita a regra de
º* Propensão marginal a consumir (c)
construção já referida anteriormente, mas apresenta, igualmente, valores
Quando a propensão marginal a consumir, por exemplo, aumenta (as simétricos dos valores do multiplicador das transferências autónomas.
variações só são possíveis no longo prazo), ceteris paribus, O
D) Multiplicador da taxa de imposto
multiplicador de base vem com um valor superior: a relação é directa.
O multiplicador da taxa de imposto mede a variação do rendimento quando
* Taxa de imposto ou taxa marginal de imposto (t)
a taxa de imposto varia de um ponto percentual, mantendo constantes os
Quando a taxa de imposto, por exemplo, aumenta, ceteris paribus, O gastos públicos, as transferências autónomas, os impostos autónomos, o inves-
multiplicador de base diminui: a relação é inversa. timento autónomo, as exportações autónomas e as importações autónomas.

Vamos aplicar a regra de contrução deste multiplicador:


* Propensão marginal a importar (m)
oY c
Quando a propensão marginal a importar, por exemplo, aumenta (as —— E = xY
ot l-c(dl-D+m
variações só são possíveis no longo prazo), ceteris paribus, o multipli-
cador de base assume um valor inferior: a relação é inversa. Assume valores negativos pois, como já tínhamos referido anteriormente, a
taxa de imposto afecta inversamente o rendimento.

90
E) Multiplicador do investimento autónomo 23.3 Os multiplicadores do comércio externo

O multiplicador do investimento autónomo mede a variação do rendimento Vamos, agora, analisar os multiplicadores das variáveis estratégicas no saldo
quando o investimento autónomo varia de uma unidade monetária, mantendo da balança corrente. Para o efeito, comecemos por recordar a expressão
constantes os gastos públicos, as transferências autónomas, os impostos autó- analítica desta variável objectivo, tendo em consideração as equações de
nomos, a taxa de imposto, as exportações autónomas e as importações autónomas. comportamento do modelo em estudo.

Analiticamente: BC=X-Z-mY
oY l
Às variáveis que afectam expressamente o saido da balança corrente são as
1 1I-c(l-D+m importações autónomas e as exportações autónomas. No entanto, as restantes
variáveis estratégicas também afectam o saldo da balança, via rendimento,
E o multiplicador de base e, como tal, assume valores positivos e superiores
ou seja, através das importações induzidas.
à unidade.
Vamos, pois, medir esses efeitos, através dos correspondentes multiplicadores.
F) Multiplicador das exportações autónomas
A análise vai ser iniciada com os multiplicadores das variáveis que aparecem
O multiplicador das exportações autónomas mede a variação do rendimento explicitamente no saldo da balança corrente. Para as restantes variáveis
quando as exportações autónomas variam de uma unidade monetária, estratégicas (variáveis de política orçamental e o investimento autónomo),
mantendo constantes os gastos públicos, as transferências autónomas, os vamos apresentar uma expressão analítica genérica que permite, caso a caso,
impostos autónomos, a taxa de imposto, o investimento autónomo e as calcular os multiplicadores dessas variáveis no saldo da balança corrente.
importações autónomas.
A) Multiplicador das exportações autónomas no saldo da balança corrente
Analiticamente:
O multiplicador das exportações autónomas no saldo da balança corrente
6Y l mede as variações do saldo da balança corrente quando as exportações
ox 1I-cd-D+m autónomas variam de uma unidade monetária, mantendo constantes os gastos
públicos, as transferências autónomas, os impostos autónomos, a taxa de
E o multiplicador de base, assumindo valores positivos e superiores à unidade.
imposto, o investimento autónomo e as importações autónomas.
G) Multiplicador das importações autónomas Suponhamos que as exportações autónomas, por exemplo, aumentam, ceteris
paribus. Esta variação vai gerar um aumento do saldo da balança corrente,
O multiplicador das importações autónomas mede a variação do rendimento
devido à posição que esta variável ocupa na expressão analítica do saldo da
quando as importações autónomas variam de uma unidade monetária,
balança corrente. Contudo, o efeito não se esgota aqui, pois um aumento das
mantendo constantes os gastos públicos, as transferências autónomas, os
exportações autónomas vai, igualmente, gerar um aumento do rendimento e,
impostos autónomos, a taxa de imposto, o investimento autónomo e as
consequentemente, das importações induzidas, variação esta que vai atenuar
exportações autónomas.
o impacto inicial no saldo da balança corrente, derivado do aumento das
Analiticamente: exportações autónomas. O resultado final é uma melhoria do saldo da balança
corrente, mas num montante inferior ao do aumento das exportações
oY l
autónomas. Por outras palavras, o multiplicador das exportações autónomas
872º I-c(l-D4+m no saldo da balança corrente assume valores positivos, mas entre zero e um.
E o simétrico do multiplicador de base e, como tal, assume valores negativos
Com efeito,
e inferiores a (- 1). Observe-se que os multiplicadores das exportações
autónomas e das importações autónomas assumem valores simétricos. ôBC La m d-cQA-dtemem I-c(l-t)
-—= =l-m
8X 8X I-c(l-D+m 1I-cd-D+m I-c(l-D+m

92 93
Verifica-se que o numerador e o denominador do multiplicador assumem C) Multiplicador da variável estratégica ALFA no saldo da balança corrente
valores positivos, pelo que o multiplicador é positivo. Paralelamente, o
numerador é inferior ao denominador, pelo que a fracção apresenta valores A variável estratégica ALFA pode ser ou os gastos públicos, ou as transfe-
entre zero e um. Deste modo, tal como já anteriormente tínhamos concluído, rências autónomas, ou os impostos autónomos, ou a taxa de imposto, ou o
o multiplicador das exportações autónomas no saldo da balança corrente investimento autónomo.
assume valores positivos e entre zero e um. O multiplicador da variável estratégica ALFA no saldo da balança corrente
mede as variações do saldo da balança corrente quando a variável estratégica
De referir que no caso de se considerar um modelo em que as importações
ALFA varia de uma unidade (monetária ou percentual, para o caso da taxa de
são todas autónomas, então este multiplicador é unitário.
imposto), mantendo constantes as demais variáveis estratégicas do modelo.
B) Multiplicador das importações autónomas no saldo da balança corrente Tal como já foi mencionado anteriormente, as restantes variáveis estratégicas
(as variáveis de política orçamental e o investimento autónomo) somente
O multiplicador das importações autónomas no saldo da balança corrente
afectam o saldo da balança corrente, via rendimento, ou seja, através das
mede as variações do saldo da balança corrente quando as importações
importações induzidas. Assim, podemos generalizar esses multiplicadores
autónomas variam de uma unidade monetária, mantendo constantes os gastos
no saldo da balança corrente.
públicos, as transferências autónomas, os impostos autónomos, a taxa de
imposto, o investimento autónomo e as exportações autónomas. BC 4 5Y
Seguindo o mesmo raciocínio feito para no caso anterior, um aumento, por
SALFA — SALFA
exemplo, das importações autónomas, ceteris paribus, vai gerar uma Importa referir que no caso de se considerar um modelo em que as importações
deterioração do saldo da balança corrente, devido ao facto desta variável são todas autónomas, então uma alteração nas variáveis de política orçamental
aparecer com um sinal negativo na expressão analítica do saldo da balança ou no investimento autónomo, ceteris paribus, não vai afectar o valor do
corrente. No entanto, um aumento das importações autónomas vai, igual- saldo da balança corrente, pelo que os respectivos multiplicadores são nulos.
mente, gerar uma diminuição do rendimento e, como tal, das importações
Porúltimo e para terminar a análise do mercado real ou mercado de bens e serviços,
induzidas ocasionando, por esta via, uma melhoria do valor do saldo da
vamos estudar a relação entre as variáveis estratégicas e cada uma das três variá-
balança corrente. Só que o efeito mais forte é o que resulta do aumento das
veis objectivo (rendimento, saldo orçamental e saldo da balança corrente) e, depois,
importações autónomas; a diminuição do rendimento vai ser atenuada, porque
vamos comparar as variáveis objectivo entre si, para cada variável estratégica,
está a multiplicar pela propensão marginal a importar, parâmetro que assume
ou seja, vamos proceder a um alargamento da análise que já efectuámos no
valores entre zero e um. Deste modo, o efeito final é a deterioração do saldo
modelo a três sectores. Tal como nessa análise, também aqui vamos considerar
da balança corrente, mas num montante inferior ao do aumento das
que as variáveis estratégicas vão ser manobradas numa óptica expansionista.
importações autónomas: o multiplicador das importações autónomas no saldo
da balança corrente assume valores negativos, mas entre (-1) e zero. Esquematicamente:

Analiticamente: Variáveis estratégicas Rendimento Saldo Saldo da BC


orçamental
BC | mL N m o d-cd-Dtmem l-c(l-t)
5Z 8Zz I-c(l-)+m I-c-D+m I-c(l-D)+m G 7 f L L
Observe-se que este multiplicador é o simétrico do multiplicador das expor- Tr 1 f L L
tações autónomas no saldo da balança corrente. A fracção é negativa e o Td f , L
numerador é inferior ao denominador. Logo, o multiplicador das importações
autónomas no saldo da balança corrente assume valores entre (-1) e zero. Ls f L ,

De salientar que no caso de se considerar um modelo em que as importações 1? f 7 b


são todas autónomas, então este multiplicador assume o valor (—1). x 7 ) 7 )
Z 7 f f
94 95
Em síntese, sempre que são manobradas, uma de cada vez, as variáveis de Exercícios de revisão
política orçamental gera-se uma incompatibilidade entre o rendimento e o
saldo orçamental e entre o rendimento e o saldo da balança corrente. Concre- l. Face às afirmações seguintes, diga se as mesmas são verdadeiras ou
tizando, quando o governo implementa medidas de política orçamental expan- falsas e justifique a sua resposta.
sionistas (aumento dos gastos públicos, ou aumento das transferências autó- a) Qualquer que seja o rendimento disponível de equilíbrio de uma
nomas, ou diminuição dos impostos autónomos, ou diminuição da taxa de dada economia, a propensão média a consumir assume sempre
imposto), gera-se uma deterioração do saldo orçamental e uma deterioração valores superiores aos da propensão marginal a consumir.
do saldo da balança corrente. De igual modo, quando o governo implementa
medidas de política orçamental contraccionistas (diminuição dos gastos b) A eficiência marginal do capital é o único determinante da função
públicos, ou diminuição das transferências autónomas, ou aumento dos investimento.
impostos autónomos, ou aumento da taxa de imposto), gera-se uma melhoria c) Um aumento das transferências autónomas, ceteris paribus, gera uma
do saldo orçamental e uma melhoria do saldo da balança corrente. De referir diminuição de igual montante no valor do saldo orçamental.
que entre o saldo orçamental e o saldo da balança corrente não há qualquer
d) Se, numa dada economia, não existirem importações induzidas, a
incompatibilidade quando são manobradas, ceteris paribus, as variáveis de
política orçamental. implementação de medidas de política orçamental tem um impacto
nulo no montante do saldo da balança corrente.
Quando se manobram, uma de cada vez, as variáveis controladas pelas
e) A existência de estabilizadores automáticos atenua a amplitude dos
empresas não há qualquer incompatibilidade entre o rendimento e o saldo
ciclos económicos.
orçamental. Concretizando, quando o investimento autónomo aumenta, ou
as exportações autónomas aumentam, ou as importações autónomas dimi- f) O multiplicador do orçamento equilibrado é unitário.
nuem, ceteris paribus, o saldo orçamental melhora. Por outro lado, quando o
Para cada questão que lhe é proposta, dispõe de quatro alternativas de
investimento autónomo diminui, ou as exportações autónomas diminuem,
resposta, das quais somente uma está correcta. Diga qual a alternativa
ou as importações autónomas aumentam, ceteris paribus, o saldo orçamental
que, no seu entender, está correcta,
deteriora-se.
2.1 Quando o rendimento de equilíbrio é inferior ao rendimento do limiar
No que se refere à relação entre o rendimento e o saldo da balança corrente,
da poupança, a propensão média a poupar assume
só há incompatibilidades entre estas duas variáveis objectivo se a variável
manobrada for o investimento autónomo. Assim e numa óptica expansionista, a) o valor um.
quando as exportações autónomas aumentam, ou as importações autónomas
b) o valor zero.
diminuem, ceteris paribus, o saldo da balança corrente melhora. Já quando
o investimento autónomo aumenta, ceteris paribus, o saldo da balança ce) valores entre zero e um.
corrente deteriora-se. Do mesmo modo, quando as exportações autónomas
d) valores entre (-1) e zero.
diminuem, ou as importações autónomas aumentam (política contraccionista),
ceteris paribus, o saldo da balança corrente deteriora-se. Se a política 2.2 Uma diminuição da eficiência marginal do capital, mantendo constante
contraccionista resultar de uma diminuição do investimento autónomo, ceteris a taxa de juro, gera
paribus, o saldo da balança corrente melhora.
a) uma diminuição do investimento.

b) um aumento do consumo.

c) um aumento do investimento.

d) uma diminuição do consumo.

2.3 Quando o rendimento de uma dada economia respeita a igualdade


1+6+Tr+X=S+TA+Z, significa que

97
96
a) a economia se encontra em equilíbrio ao nível do rendimento de São conhecidas as seguintes informações referentes a uma dada economia
pleno emprego. aberta:

b) a economia se encontra em equilíbrio. e Função consumo: € = 90+ 0,8 Yd;

c) o orçamento está equilibrado. e O investimento é autónomo e no montante de 700 u.m.;


d) o saldo da balança corrente é nulo. eº As transferências são todas autónomas e no montante de 60 u.m.;

2.4 Sabendo que o rendimento disponível aumentou 10 u.m., o consumo e Os impostos são função directa do rendimento, apresentando um
poderá ter termo autónomo de 40 u.m.: os impostos induzidos representam 25%
do rendimento;
a) aumentado 8 u.m..
e Os gastos públicos são autónomos e no valor de 1000 u.m.;
b) diminuído 8 u.m..

c) aumentado 20 u.m.. e As exportações são todas autónomas e no montante de 240 u.m.;

d) registado uma variação nula. e Às importações são função directa do rendimento, com um termo
autónomo de 30 u.m.; as importações induzidas representam 10% do
2.5 Alguns dos estabilizadores automáticos mais citados são: rendimento.
a) a propensão marginal a consumir, a taxa de imposto e os subsídios
a) Determine os valores de equilíbrio das variáveis objectivo desta
de desemprego. economia e faça as correspondentes representações gráficas.
b) apropensão marginal a importar, a taxa de imposto e os subsídios de b) O governo pretende equilibrar o orçamento, utilizando como variável
desemprego. estratégica os gastos públicos. Qual a variação dos mesmos, por forma
c) ataxa de imposto e os subsídios de desemprego. a atingir o objectivo definido? Comente o resultado obtido.

d) a propensão marginal a consumir e a taxa de imposto. c) Suponha que as exportações autónomas aumentaram 60 u.m., ceteris
paribus. Determine a variação do saldo da balança corrente e comente
2.6 Suponha que, numa dada economia, se regista um défice orçamental. os resultados obtidos.
Para reduzir o défice o governo pode, ceteris paribus,

a) aumentar os gastos públicos.

b) diminuir a taxa de imposto.

c) aumentar o montante do subsídio de desemprego. Leituras complementares

d) aumentar o imposto sobre o tabaco. BELBUTE, J.M. M.


2003 Princípios de Macroeconomia. Lisboa: Gradiva Publicações Lda.,
2.7 O governo pretende aumentar o rendimento em 20 u.m., utilizando como
p. 39-92.
variáveis estratégicas as transferências autónomas e os impostos autó-
nomos. Sabendo que os impostos autónomos aumentaram 10 um. e o
multiplicador das transferências autónomas assume o valor 2, o aumento DORNBUSH, R., FISCHER, S., e STARTZ, R.
das transferências autónomas deverá ser: 1998 Macroeconomia. 7º ed., Lisboa: McGraw-Hill, p. 189-208; 299-314.

a) nulo.
SAMUELSON, P. A., e NORDHAUS, W. D.
b) 10 u.m..
2005 Macroeconomia. 18.* ed., Lisboa: McGraw-Hill, p. 450-463;
ce) 20 um. 481-498.

d) 40 u.m..
99
98
3. O Mercado Monetário
Objectivos de aprendizagem

Após a leitura do capítulo 3, o estudande/leitor deverá ser capaz de:

e Identificar e descrever as funções da moeda.

* Identificar as diferentes formas de moeda.

º Identificar os motivos da procura real de moeda na teoria neoclássica.

º Identificar os motivos da procura real de moeda na teoria da


preferência pela liquidez.

* Deduzir as expressões analíticas da procura de moeda por motivo


transacção e por motivo precaução na teoria de Tobin e Baumol.

* Definir o conceito de velocidade de circulação da moeda.

* Escrever a equação das trocas e explicar o seu significado.

º* Demonstrar que, na teoria neoclássica, a velocidade de circulação da


moeda é constante e que, na teoria keynesiana, a velocidade de
circulação da moeda depende do valor da elasticidade rendimento.

e Definir os conceitos de massa monetária e base monetária.

-º Identificar os factores que afectam a base monetária.

* Definir e identificar os factores que afectam o coeficiente circulação-


-depósitos e a taxa de reservas.

* Deduzir, definir e interpretar o significado de multiplicador da base


monetária.

º* Demonstrar que o multiplicador da base monetária pode assumir


valores compreendidos entre a unidade e o inverso da taxa de reservas
legais.

* Identificar os instrumentos de controlo monetário e mostrar em que


sentido os mesmos afectam a massa monetária.

* Caracterizar e distinguir entre o Sistema Europeu de Bancos Centrais


e o Eurosistema.

e Identificar a autoridade monetária na área do euro.

* Identificar os órgãos de decisão do Sistema Europeu de Bancos


Centrais e do Eurosistema.

103
3.1 As componentes do stock de moeda

Depois se ter analisado o mercado real, vamos introduzir um outro mercado


na economia: o mercado de activos financeiros. É o mercado onde se
transaccionam moeda, títulos, acções e outras formas de riqueza. Vamos
concentrar essa riqueza em dois grandes grupos: moeda e activos que rendem
juros ou, mais genericamente, títulos.

Título é uma promessa de pagamento ao portador, de uma certa quantia,


numa data futura fixada à partida, quantia essa que não coincide com a que
foi emprestada, já que, entretanto, decorreu um certo período de tempo, em
que o detentor do dinheiro ficou privado dele, pelo que tem de ser devidamente
compensado.

Vamos considerar que um indivíduo detém uma certa riqueza e que vai ter
de decidir qual a parte que vai deixar sob a forma mais líquida possível
(moeda), sabendo que esta não lhe rende juros, e qual a parte que vai deixar
sob a forma menos líquida (títulos), mas que, em contrapartida, lhe vai render
juros. Este tipo de decisões denominam-se decisões de porifolio ou de carteira
de títulos.

Assim, a riqueza de um indivíduo é a soma da moeda com os activos financeiros.

Antes de iniciarmos a análise deste mercado, importa realçar que Keynes, à


semelhança do que já ocorria com os neoclássicos, considerava que os agentes
económicos neste mercado não sofriam de ilusão monetária, ou seja,
procuravam moeda e títulos em termos reais.

Vamos considerar a repartição da riqueza planeada ou ex-ante de um


indivíduo. Ele pretende deixar uma parte da sua riqueza sob a forma mais
líquida e, para tal, procura moeda; a outra parte ficará sob a forma menos
líquida e ele irá procurar títulos. Vamos designar por L a procura real de
moeda e por V, a procura real de títulos.

Assim, temos:

W
—=L+V,
P

em que W/P representa o quociente entre a riqueza nominal do indivíduo


(W) e o índice de preços (P), ou seja, a riqueza real.

No entanto, há uma distinção entre aquilo que o indivíduo planeia fazer com
a sua riqueza real, e a forma como ele, de facto, a vai repartir nos dois tipos
de activos.

Assim, na economia há uma dada oferta de moeda e uma dada oferta de títulos.

105
De referir que a oferta de títulos é feita em termos reais, ao passo que a oferta 3.2 As funções da moeda
de moeda é feita em termos nominais (pelo banco central ou banco emissor
ou autoridade monetária), pelo que tem de ser deflacionada pelo índice de A introdução da moeda veio separar dois actos: o de compra e o de venda.
preços da economia. Estes dois actos apareciam associados nas sociedades de troca directa, em que se
Deste modo, a riqueza efectiva ou observada ou ex-post do indivíduo vem: tinha de verificar uma dupla coincidência de interesses entre comprador e vendedor.
Deste modo, o produtor do bem X que estivesse interessado em comprar o bem
Y, tinha de encontrar um produtor de Y que estivesse interessado em comprar X.
MM.
P Po Ora, à medida que as sociedades se foram tornando mais complexas e as
trocas se tornaram mais sofisticadas, esta dupla coincidência de interesses
em que V, é a oferta real de títulos e M é a oferta nominal de moeda ou stock
foi sendo cada vez mais difícil de obter.
de moeda ou massa monetária.
A moeda veio resolver esta situação, separando os actos de compra e de
Para que haja equilíbrio neste mercado, é preciso que as análises ex-ante ou venda que, até então, estavam misturados.
planeada e ex-post ou efectiva coincidam:
A moeda assumiu várias formas, começando por ser moeda mercadoria (conchas,
w (W gado, sal, entre outros, foram bens que funcionaram como moeda), até às moder-
P Plancada P Efectiva nas formas de moeda, que são moeda metálica, papel moeda e moeda escritural.

Substituindo: No entanto, qualquer que seja a forma assumida pela moeda, ela tem de
respeitar, cumulativamente, quatro funções:
M
L+Vo = P + Y e Meio de troca
Tem de ser reconhecida, por todos os agentes, como intermediária
nas trocas.
e (Vo Vo) =0
e Reserva de valor
Mercado monetário Mercado de títulos
Deve poder ser conservada para o futuro, como meio de acumulação
Quando o mercado monetário está equilibrado (L = M/P), o mercado de de riqueza.
títulos também está equilibrado (V, = V() e vice-versa.
º Unidade de conta
Se, no mercado monetário, se regista uma situação de excesso de quantidade Todos os preços devem ser referidos na moeda em causa.
procurada de moeda num dado montante (L > M/P) então, no mercado de
títulos, ocorre uma situação de excesso de quantidade oferecida de títulos no e Meio de pagamento diferido
mesmo montante (V, > V,). Deve possibilitar pagamentos futuros. Esta função, no fundo, é um
corolário lógico das anteriores, pois a moeda como meio de pagamento
Se, no mercado monetário, se regista uma situação de excesso de quantidade
e reserva de valor, deve possibilitar pagamentos diferidos no tempo.
oferecida de moeda num determinado montante (M/P > L) então, no mercado
de títulos, regista-se um excesso de quantidade procurada de títulos nesse
montante (V, > Vç).

Basta, pois, saber em que situação está um dos mercados para, automa-
3.3 A procura de moeda
ticamente, saber em que situação está o outro mercado. Daí que é desne-
3.3.1 A procura por saldos reais
cessário estudar os dois mercados e vamo-nos centrar naquele que é, à partida,
mais simples: o mercado monetário. Os neoclássicos foram os primeiros autores a estudarem com mais detalhe o
mercado monetário. Consideravam que os agentes económicos que procuravam

106 107
moeda, ou seja, as famílias e as empresas, faziam-no em termos reais, isto é, não 3.3.3 Ateoria da preferência pela liquidez
sofriam de ilusão monetária. Por outras palavras, famílias e empresas preocupavam-
-se com a quantidade de bens e serviços que podiam comprar com uma dada Keynes ao elaborar a sua teoria sobre a procura de moeda, denominada teoria
quantidade de moeda e não com a quantidade de moeda em si mesma. da preferência pela liquidez, considerou, igualmente, que os agentes
económicos não sofriam de ilusão monetária ao procurarem moeda e faziam-
Deste modo, para os neoclássicos a procura de moeda era uma procura real no por três motivos: motivo transacção, motivo precaução e motivo
de moeda. especulação. Os dois primeiros motivos para a procura real de moeda tinham
Keynes segue esta mesma linha de raciocínio, afirmando, igualmente, que sido enunciados pela teoria neoclássica.
famílias e empresas procuravam moeda em termos reais. Deste modo, a procura real de moeda por motivo transacção é a procura real
de moeda para fazer face a despesas plancadas do período. É função directa
do rendimento.
3.3.2 Ateoria neoclássica da procura real de moeda À procura real de moeda por motivo especulação é a procura real de moeda
para fazer face a despesas não plancadas do período. E, também, função
Para os neoclássicos os agentes económicos procuravam moeda por dois directa do rendimento.
motivos: motivo transacção e motivo precaução.
A procura real de moeda por motivo especulação é procura real de moeda
A procura real de moeda por motivo transacção é procura real de moeda para
para especular, isto é, para comprar títulos ou outros activos financeiros e
fazer face a pagamentos usuais, correntes, planeados no período considerado
revendê-los. Depende da taxa de juro de mercado e é função inversa desta
como sejam, por exemplo, os pagamentos das compras do supermercado, da
porque, se a taxa de juro está a subir, os agentes económicos sabem que,
renda da casa, dos transportes (no caso das famílias), dos salários dos
mais tarde ou mais cedo, ela irá descer e vão perder dinheiro com a venda
empregados, dos fornecedores e da electricidade (no caso das empresas).
dos títulos; por isso procuram menos moeda para este fim. Do mesmo modo,
Este motivo para procurar moeda é função directa do rendimento.
se a taxa de juro está a descer, os agentes económicos sabem que ela vai ter
A procura real de moeda por motivo precaução é a procura real de moeda de subir (não pode descer indefinidamente, mais que não seja devido à
para fazer face a despesas imprevistas, não planeadas no período como sejam, armadilha da liquidez) e, portanto, vão vender os seus títulos mais caros,
por exemplo, uma doença súbita, a avaria do automóvel, a avaria da máquina ganhando nessa transacção; por isso, procuram mais moeda para este fim.
de lavar loiça (no caso das famílias), a avaria não prevista de um equipamento
Assim, a procura real de moeda na teoria keynesiana, ou seja, na teoria da
da fábrica, uma greve não prevista e um atraso nas entregas dos fornecedores
preferência pela liquidez, é obtida pela soma da procura real de moeda pelos
(no caso das empresas). É, também, função directa do rendimento.
motivos transacção, precaução e especulação. Os dois primeiros, como são
Assim, para os neoclássicos, a procura real de moeda era somente função do ambos função do rendimento e função directa do mesmo, podem ser agregados
rendimento e função directa do mesmo, com a seguinte expressão analítica: e vamos denominá-los de Lt (procura real de moeda por motivos transacção
L=kY. e precaução). Quanto à procura real de moeda por motivo especulação vamos
designá-la por Ls.
O parâmetro k mede a variação da procura real de moeda quando o rendimento
varia de uma unidade monetária. E um parâmetro positivo, assumindo valores Deste modo: L=It+Ls
entre zero e um e é estável no curto prazo.
em que Lt=kY e Ls=h-hi
Graficamente:
O parâmetro k mede a variação da procura real de moeda quando o rendimento
varia de uma unidade monetária, tal como referimos anteriormente. É um
parâmetro que assume valores entre zero e um e é estável no curto prazo.

0 = O parâmetro h representa a parte autónoma da procura real de moeda


W

por motivo especulação, ou seja, é a procura real de moeda por motivo

109
108
especulação que é independente da taxa de juro de mercado. Serve para um rendimento Yn (rendimento nominal) e que o transfere, de imediato, da
contemplar aqueles especuladores que especulam pelo mero prazer de sua conta de depósitos à ordem para a conta de depósitos a prazo, já que a
especular, ou seja, que não têm aversão ao risco. E um parâmetro positivo e primeira não lhe rende juros, ao passo que a segunda rende-lhe juros. Quando
estável no curto prazo. o seu dinheiro está na conta de depósitos a prazo rende mensalmente juros a
uma taxa í, quando o indivíduo necessita de dinheiro, transfere o que entender
O parâmetro h mede a variação da procura real de moeda por motivo da sua conta de depósitos a prazo para a de depósitos à ordem e, nessa
especulação quando a taxa de juro varia de um ponto percentual. Assume transferência, paga um custo de corretagem, designado pela letra b.
valores positivos e não se altera no curto prazo.
Vamos considerar, igualmente, que o indivíduo gasta o seu dinheiro de forma
Reunindo toda a informação, a procura real de moeda na teoria da preferência uniforme ao longo do período e gasta-o todo no período, ou seja, não deixa
pela liquidez tem a seguinte expressão analítica: nada para o período seguinte.

L=kY+h-hi Com base nestas informações, o indivíduo vai decidir quanto é que irá trans-
ferir de cada vez da sua conta de depósitos a prazo para a conta de depósitos
É função directa do rendimento e função inversa da taxa de juro de mercado.
à ordem (não esquecer que o montante das transferências é o mesmo, pois,
Graficamente e fixando o rendimento num dado valor Y1, temos: por hipótese, o rendimento é gasto a uma taxa uniforme) e qual o número de
vezes que Irá efectuar esta operação (de relembrar que, no final do período,
Procura real de moeda Equilíbrio no mercado monetário ele tem de ter gasto todo o seu rendimento, indo receber um novo rendimento,
que irá reabastecer a sua conta de depósitos a prazo).
i À : PEN
M/P Vamos designar por n o número de transferências que o indivíduo efectua no
período em causa e por Z o montante de cada uma delas. Assim:

L=f(Y1,1) . L=f(Y1,1) Z = Yn/n


Ie Ra

Interessa saber qual o montante médio de moeda que o indivíduo vai deter
0 —s 0 > ao longo do mês, pois isso equivale a juros não ganhos de aplicações
alternativas de capital (é um custo de oportunidade).
L M L, M/P

P Se o indivíduo retirar de uma só vez todo o seu rendimento da conta de


depósitos a prazo, ou seja, há uma só transferência, então Z = Yn e o valor,
em média, detido pelo indivíduo é de Yn/2, ou seja, 2/2.

3.3.4 Asteorias de Tobin e Baumol Se o indivíduo retirar o dinheiro por duas vezes, então Z = Yn/2 e, em média,
terá 2/2, ou seja, Yn/4.
A teoria da preferência pela liquidez considera que a procura real de moeda
é realizada pelos motivos transacção, precaução e especulação, dependendo Generalizando, se o indivíduo efectuar n transferências no período, então
directamente do rendimento e inversamente da taxa de juro de mercado. No Z = Yn/n e, em média, irá deter Z/2, ou seja, Yn/2n. De salientar que o
entanto, há outros autores que consideram que os mesmos três motivos que montante médio é calculado pela soma do primeiro levantamento mais o
1 Tobin, James (1956). “The levam os agentes económicos, famílias e empresas, a procurar moeda podem último a dividir por dois.
Interest Elasticity of
não depender somente destas duas variáveis. Neste contexto, vamos analisar
Transactions Demand for
Cash”. Review of Economics a teoria de James Tobin (1956)! e de William Baumol (1952)? Neste caso, o primeiro levantamento é feito no início do período e é Yn/n e
and Statistics, August. o último é feito no final do período e é nulo, pois ele tem de gastar todo o seu
A) A procura de moeda por motivo transacção rendimento, dado que essa é uma das hipóteses do modelo.
2 Baumol, W. (1952). “The
Transactions Demand for
Cash: An Inventory Theoretic As hipóteses que estão subjacentes a esta teoria são as seguintes. Vamos Estamos, agora, em condições de calcular o custo associado à detenção de
Approach”. Quarterly Journal considerar que um indivíduo recebe, mensalmente e por depósito bancário, moeda por motivo transacção, designado pela letra €. E obtido pela soma do
of Economics, November.

Ho
custo de oportunidade de deter moeda (isto é, os juros que não se ganham, pelo De referir que a condição de 2.º ordem está salvaguardada. A condição de
facto do dinheiro estar na conta de depósitos à ordem, em vez de estar na conta 2.º ordem refere que a segunda derivada tem de ser positiva e ela, de facto, é
de depósitos a prazo, a render juros) adicionado ao custo de levantar o dinheiro, positiva, pois os elementos que a compõem são positivos e diferentes de
ou seja, o custo de corretagem total (obtido pelo produto do custo de zero, como se pode demonstrar.
corretagem unitário, b, pelo número de vezes, n, que se vai ao banco efectuar
A partir desta fórmula da raiz quadrada de Tobin e Baumol e, sabendo que
as transferências do dinheiro de depósitos a prazo para depósitos à ordem).
M = Yn/2n, pode-se calcular o número de vezes (óptimo) que o indivíduo
vai ao banco:
Assim: Cai nb
20
Yn
n=——
Deste modo, o custo total depende de n e de b, já que o rendimento nominal 2M
(Yn) e a taxa de juro (1) são dados do problema.

O objectivo do indivíduo é minimizar este custo total. A partir da equação de Tobin e Baumol podemos, igualmente, calcular as
respectivas elasticidades.
Mim Ca nb
2n A elasticidade rendimento da procura de moeda por motivo transacção mede
as variações percentuais da procura de moeda por motivo transacção
Condição de 1.º ordem resultantes de variações percentuais unitárias do rendimento nominal do
indivíduo, mantendo constantes a taxa de juro e o custo de corretagem.
dd MM são Mm) b
12
dn 2n 2n 1 o oM Yn 1b/bYn) Yn l
Elasticidade rendimento = -—— x —+ = — 5 ET
ôYn - M 221121 bYny 2
Vamos multiplicar ambos os membros por Yn/2. Temos:
2
Yn Yn bYn
A elasticidade da procura de moeda por motivo transacção face à taxa de
X remar

2n 2n 21
juro mede as variações percentuais da procura de moeda por motivo tran-
Vamos designar por M, o montante médio na posse do indivíduo, ou seja: sacção resultantes de variações percentuais unitárias da taxa de juro, mantendo
constantes o custo de corretagem e o rendimento nominal do indivíduo.
Z Yn
2 2n . AR .

2 Elasticidade da taxa de juro = *M x 1 2 1 fo bYn) (bn Le


» (Yn ôi M 2 21º 21 bYny 2
Se elevarmos ao quadrado ambos os membros temos: Mº = En
n 2i
Substituindo na equação anterior vem: A elasticidade da procura de moeda face ao custo de corretagem mede as
variações percentuais da procura de moeda por motivo transacção resultantes
Mº = bYn
de variações percentuais unitárias do custo de corretagem, mantendo cons-
21
tantes a taxa de juro e o rendimento nominal do indivíduo.
M= bin
12
21
Elasticidade do custo de corretagem = M x b = i an b Xn b = = l
b M 2 1 21 [ Yn ] E 2
É a fórmula da raiz quadrada de Tobin e Baumol, que nos dá a equação da
* De referir que a equação tem procura (nominal) de moeda por motivo transacção”.
duas raízes (positiva e nega-
tiva), mas, por razões óbvias, Para terminar a análise faltam-nos referir dois problemas.
só se escolhe a raiz positiva. À procura de moeda por motivo transacção depende directamente do custo
de corretagem, b e do rendimento nominal do indivíduo, Yn e depende O primeiro deles tem a ver com o número de transacções a efectuar. A apli-
inversamente da taxa de juro, i. cação da fórmula da raiz quadrada de Tobin e Baumol só por muita

12 113
coincidência é que nos dá um número de transacções, n, inteiro. Normalmente Custos esperados =1M + c P(M, 0)
vamos ter que ajustar o número de transacções a efectuar, considerando o
Tal como na situação anterior, o indivíduo vai minimizar estes custos espe-
número inteiro imediatamente anterior e imediatamente a seguir ao número
óptimo de transacções dado pela fórmula da raiz quadrada. Depois calculamos rados. Só que aqui envolve probabilidades, o que dificulta a análise. Assim,
vamos somente analisar os custos esperados.
os custos totais face a esses dois valores inteiros para o número de transacções
e escolhemos o valor mais baixo. No entanto, tal situação vai ter conse- Eles dependem da taxa de juro (1), do grau de incerteza referente aos paga-
quências sobre os valores das elasticidades. Assim, a elasticidade rendimento mentos líquidos (6) e do custo unitário associado à falta de liquidez (c).
vai assumir valores entre 1/2 e um, a elasticidade face à taxa de juro vai
assumir valores entre (— 1/2) e zero c a elasticidade face ao custo de corretagem Quanto maior for a taxa de juro, mantendo constantes o grau de incerteza e o
vai assumir valores entre 1/2 e um. custo unitário, maiores serão os custos esperados e menor será a quantidade
de moeda que o indivíduo deseja deter por motivo precaução; a relação é
A segunda questão tem a ver com as limitações desta análise. As principais inversa.
limitações são as seguintes: E.
Quanto maior for o grau de incerteza, o, mantendo constantes a taxa de juro
* Oindivíduo tem uma despesa uniforme ao longo do período.
e o custo unitário, maior será a quantidade de moeda que o indivíduo deseja
e Conhecimento exacto das transacções. deter por motivo precaução; a relação é directa.

e Ordenado pago por conta bancária e transferência imediata do dinheiro Quanto maior for o custo unitário por falta de liquidez, mantendo constantes
para a conta de depósitos a prazo. a taxa de juro e o grau de incerteza, maior será a quantidade de moeda que o
indivíduo deseja deter por motivo precaução; a relação é directa.
B) Procura de moeda por motivo precaução
C) Procura de moeda por motivo especulação
É a procura de moeda para fazer face a despesas imprevistas (não plancadas)
no período. Quanto maior for a quantidade de moeda que o indivíduo detém, No que se refere a este motivo para os agentes económicos procurarem moeda,
menos provável será que ele incorra em custos por falta de liquidez mas, em Tobin e Baumol consideram que ele se centra numa das funções da moeda: a
contrapartida, deixa de ganhar juros. moeda como reserva de valor. Os agentes económicos vão pretender deter
uma carteira de activos financeiros (decisões de portfolio, referidas anterior-
Vamos, uma vez mais, analisar qual o custo total que um agente económico mente) e uma parte dessa carteira deve ser composta por um activo seguro,
vai suportar, pelo facto de deter um dado montante de moeda, M, pelo motivo isto é, um activo cujo valor nominal é certo, ou seja, se conhece com um
em estudo. grau de incerteza nulo; esse activo é a moeda.
Neste caso, os custos não são reais, mas sim esperados, pois são custos para Assim, a procura de moeda vai depender dos rendimentos esperados dos
fazer face à incerteza, ou seja, para evitar que o indivíduo tenha de pedir outros activos e do risco associado aos mesmos. Por exemplo, um aumento
emprestado, caso necessite de moeda para despesas imprevistas. do rendimento esperado dos outros activos (que se traduz num aumento do
custo de oportunidade de deter moeda, já que é um activo seguro, mas que
Vamos considerar como P (M, 6) a probabilidade da falta de liquidez do
não rende juros) gera uma diminuição da procura de moeda. Por outro lado,
indivíduo durante o período considerado, que depende do nível de moeda
um aumento do risco associado aos rendimentos dos outros activos gera um
que ele detém, M (em termos nominais) e do grau de incerteza sobre os
aumento da procura de moeda pelo motivo em estudo.
pagamentos líquidos que serão efectuados no período, o. À probabilidade
varia inversamente com M e directamente com 0.

Vamos designar por c o custo unitário associado à falta de liquidez.


3.3.5 A velocidade de circulação da moeda: teoria quantitativa
Deste modo, os custos esperados são a soma do custo de oportunidade de da moeda
deter moeda, isto é, os juros que o indivíduo deixa de ganhar pelo facto de
ter o dinheiro em depósitos à ordem, para fazer face a emergências, com os A teoria quantitativa da moeda foi introduzida pelos neoclássicos e um dos
custos associados à falta de liquidez: conceitos da mesma é o de velocidade de circulação da moeda.

14
A velocidade de circulação da moeda mede o número de vezes que o stock Se considerarmos a fórmula anterior resolvida em ordem ao índice de preços (P)
de moeda ou massa monetária ou oferta nominal de moeda circula numa temos: P=V M/Y, Nesta perspectiva, as variações da oferta nominal de moeda
dada economia, num dado período de tempo (regra geral, o ano) para financiar traduzir-se-ão em variações proporcionais do rendimento nominal (PY).
o fluxo de rendimento nominal dessa economia,
Em síntese, a teoria quantitativa da moeda fornece um modo simples de
V=Yn/M avaliar a relação existente entre moeda, preços e rendimento (produto).

em que V representa a velocidade de circulação da moeda, Yn é o rendimento Vamos, agora, demonstrar que a velocidade de circulação da moeda, para os
nominal da economia e M a massa monetária ou oferta nominal de moeda. neoclássicos, é constante.
Como facilmente se deduz, a velocidade de circulação da moeda é positiva e
Partindo da equação de definição da velocidade de circulação da moeda:
assume valores superiores à unidade, já que para financiar um dado montante
de rendimento nominal numa economia durante um dado período, não é V = Yn/M
necessário esse mesmo montante de massa monetária, mas sim um montante
menor, dado que a massa monetária circula na economia. V=YP/M

Voltando à definição de velocidade de circulação da moeda vamos substituir Em equilíbrio no mercado monetário, a procura real de moeda (L) iguala a
o rendimento nominal pelo rendimento real multiplicado pelo índice de oferta real de moeda (M/P), ou seja:
preços. Com efeito, o rendimento real (Y) é o rendimento nominal (Yn)
L=M/P
deflacionado pelo índice de preços (P): Yn/P. Resolvendo em ordem a Yn
temos: Yn=Y P Substituindo L pela equação de comportamento da procura real de moeda
nos neoclássicos temos:
Substituindo na equação de definição de velocidade de circulação da moeda:
kY =M/P
V=Yn/M
M=kYP
V=YP/M
Substituindo na equação da velocidade de circulação da moeda:
MV=YP

Val
YP YP
l= Da —
|
Esta é a chamada equação de Fisher ou equação das trocas ou equação da
M kYP
escola de Cambridge. Relaciona o nível de preços e o nível do rendimento
com a massa monetária. O parâmetro k é conhecido e estável no curto prazo, assumindo valores entre
zero e um. Deste modo, a velocidade de circulação da moeda é estável no
A teoria quantitativa considerava que os agentes económicos detinham moeda curto prazo e assume sempre valores superiores à unidade.
em quantidade proporcional à totalidade das transacções (P x Y), indepen-
dentemente da taxa de juro de mercado. Importa referir que, para Keynes, a velocidade de circulação da moeda não é
constante. Com efeito:
Para os neoclássicos o rendimento era constante, pois a economia encontrava-
se em equilíbrio ao nível do rendimento de pleno emprego. À velocidade de vem YPO YPO Y
circulação da moeda também era constante (iremos demonstrar já de seguida). M LP L(G,DP LO,
Deste modo, se tanto V como Y são fixos, então uma variação do nível de
preços seria proporcional à variação da massa monetária. Por outras palavras, A velocidade de circulação da moeda é, para Keynes, função do rendimento
se a massa monetária aumentar x%, o nível de preços aumenta x%; se a e da taxa de juro de mercado.
massa monetária diminuir 29, o nível de preços diminui z%. Há, pois, uma No que se refere à taxa de juro de mercado, a relação é directa.
relação proporcional e directa entre a variação da massa monetária e a
variação do índice de preços. Por isso se diz que a teoria quantitativa é uma No que se refere ao rendimento, a relação irá depender do valor da elasticidade
teoria da inflação. rendimento, já que o rendimento aparece no numerador e no denominador

116
da fracção. Recorde-se que esta elasticidade assume valores entre 1/2 e 1 º Agregado M3
(teoricamente o seu valor deveria ser Y2, mas como a aplicação da fórmula da Tem, ainda, menor liquidez que os anteriores e é obtido pela soma do
raiz quadrada, só por muita coincidência, dá um número exacto de transacções, agregado M2 com os instrumentos negociáveis (IN). Os instrumentos
então o valor da elasticidade rendimento pode variar no intervalo entre /2 e um). negociáveis incluem os acordos de recompra, acções e títulos mone-
tários e títulos da dívida até dois anos.
Se a elasticidade for igual a um, significa que se o rendimento aumenta x%,
a procura real de moeda aumenta, também, x%; logo, as variações do nume- M3 = M2 + IN = Cm + Dep + IN.
rador e do denominador são iguais, pelo que a velocidade de circulação da
moeda é constante. A oferta de moeda vai coincidir com o agregado M2.

Se a elasticidade rendimento variar entre 1 e 1/2, então uma variação de x% A oferta nominal de moeda ou massa monetária ou stock de moeda é a soma
do rendimento gerará uma variação no mesmo sentido, mas de valor inferior, da circulação monetária (moeda metálica e papel moeda em circulação) com
da procura real de moeda, ou seja, o numerador cresce mais rapidamente que o total de depósitos.
o denominador. Logo, a velocidade de circulação da moeda varia directamente M2 = Cm + Dep
com as variações do rendimento; não é constante.

342 A base monetária


3.4 A oferta de moeda
A oferta nominal de moeda é controlada pelo banco central. Contudo, pela
3.41 Definição de oferta de moeda definição de oferta nominal de moeda não é possível analisar o modo como
O banco central a controla, uma vez que os elementos que a compõem escapam
A oferta de moeda é controlada, em termos nominais, pelo banco central ou ao seu controlo directo.
banco emissor ou autoridade monetária.
Deste modo, vamos introduzir dois elementos, a fim de conseguirmos
Para sabermos qual a definição de massa monetária, temos de analisar os identificar os instrumentos de controlo monetário, isto é, os instrumentos
vários agregados monetários, dos quais só vamos referir os seguintes: utilizados pelo banco central para controlar a oferta nominal de moeda. Esses
elementos são um agregado monetário (base monetária) e dois indicadores
e Agregado Mi monetários (coeficiente circulação-depósitos e taxa de reservas).
É o agregado que tem o maior grau de liquidez. É composto pelo O primeiro elemento a introduzir é a base monetária.
somatório da circulação monetária (Cm) com os depósitos à ordem
(DO). A circulação monetária, por definição, é obtida pela soma da À base monetária (H) é a soma da circulação monetária (Cm) com o total das
reservas (R):
moeda metálica (moedas) e do papel-moeda (notas) em circulação
na economia. H=Cm+R

MI =Cm+DO As reservas totais são a fatia dos depósitos que os bancos comerciais têm
depositada no banco central. São a soma das reservas legais ou de caixa ou
e Agregado M2
obrigatórias (Rr) com as reservas livres, facultativas ou voluntárias (RJ).
Tem um grau de liquidez menor que o anterior e é obtido pela soma
do agregado MI com os depósitos a prazo (DP).

M2 =M1 + DP =Cm+ DO + DP= Cm+ Dep 3.4.3 Omultiplicador da base monetária: definição e casos extremos

em que Dep é o total dos depósitos (à ordem e a prazo, qualquer que Vamos, agora, introduzir os conceitos dos dois indicadores monetários
seja o tipo de depósitos). referidos anteriormente.

118 19
A) Coeficiente circulação-depósitos (cd) B) Taxa de reservas (r)

Estabelece a relação entre a circulação monetária e os depósitos totais, ou E o quociente entre as reservas e o total dos depósitos, ou seja, é a percentagem
seja, dá-nos indicação do modo como a massa monetária está repartida nestes dos depósitos que os bancos comerciais, de forma voluntária ou obrigatória,
dois elementos. depositam na respectiva conta junto do banco central.
cd = Cm/Dep A taxa de reservas é a soma da taxa de reservas legais ou obrigatórias ou de
O coeficiente circulação-depósitos assume valores positivos e estáveis no caixa (rr) e a taxa de reservas livres ou facultativas ou voluntárias (rl).
curto prazo.
Deste modo:
Quanto mais desenvolvida for a economia ou o sistema bancário da mesma, r=R/Dep
menor será o valor do coeficiente circulação-depósitos, ou seja, o público
prefere andar com pouco dinheiro (tê-lo depositado nos bancos) e efectuar R Rr+RIL Rr N RI
r= =rr+1l
pagamentos com cartões de débito, cartões de crédito ou cheques, ou outras Dep Dep Dep Dep
* De salientar que, em formas alternativas de moeda”.
Portugal, a moeda plástica A taxa de reservas legais é definida pelo banco central e, como veremos
(cartões de débito e de cré- Se o coeficiente circulação-depósitos for igual a um, significa que metade da
dito) ainda não é considerada mais à frente, é um instrumento de controlo monetário. A filosofia que norteou
moeda: está na fase de quase- massa monetária é composta por circulação monetária e a outra metade por a introdução desta taxa foi a de proteger os interesses dos depositantes. Os
-moeda. depósitos. Se o coeficiente circulação-depósitos assumir valores inferiores à
bancos cativam depósitos para os emprestar posteriormente, mediante o
unidade, significa que a cirgulação monetária é inferior aos depósitos, o que pagamento de juros a uma taxa superior à que pagam aos depositantes. Ora,
denota um sistema bancário já evoluído e, tanto mais avançado, quanto mais
quanto mais os bancos emprestarem, mais ganham (o crédito a conceder
baixo for este coeficiente. Sexo coeficiente circulação-depósitos assumir pelos bancos é a diferença entre os depósitos e as reservas). Se não houver
valores superiores à unidade, sighifica que a circulação monetária é superior
limitações aos empréstimos, os bancos podem ter a tentação de emprestar
aos depósitos, indicativo de um sistema bancário pouco desenvolvido. todos os depósitos. Daí que o banco central impôs, inicialmente, esta medida
O coeficiente circulação-depósitos é um parâmetro estável no curto prazo, para proteger os depositantes. Hoje em dia, a filosofia já é diferente e funciona,
positivo e depende de dois factores. São eles: basicamente, como um instrumento de controlo monetário.
*
E cá
e Hábitos de pagamento Quanto à taxa de reservas livres, são os próprios bancos comerciais que a
definem em função das suas estratégias. Normalmente, assume valores muito
Se, numa dada economia, os agentes económicos estão habituados a
baixos e há mesmo bancos comerciais que não definem taxa de reservas
fazer pagamentos em dinheiro, o coeficiente circulação-depósitos
livres. A taxa de reservas livres dá, também, uma certa margem de manobra
assume valores elevados. Se estão habituados a pagar em cheque ou
aos bancos comerciais para eventuais afluências de clientes a fazerem
cartões de crédito ou de débito, o coeficiente circulação-depósitos
levantamentos, situação que ocorre em períodos bem definidos do mês ou
assume valores mais baixos.
da semana ou mesmo do ano.
e Sazonalidade ou factor tempo
Importa referir que a taxa de reservas assume valores positivos e entre zero e um.
O factor tempo afecta os valores do coeficiente circulação-depósitos,
muito embora, actualmente, essa influência seja cada vez menor, A taxa de reservas depende dos seguintes factores:
devido às formas alternativas de pagamento. No entanto, o coeficiente
e Taxa de reservas legais (rr)
circulação-depósitos tende a registar valores mais elevados nos
meses de Verão (Julho e Agosto), na época do Natal (Novembro e Quanto maior for a taxa de reservas imposta pelo banco central, maior
Dezembro), nos finais e princípios da semana e no princípio do mês. será a taxa de reservas, mantendo constante a taxa de reservas livres;
a relação é directa. Actualmente, a taxa de reservas legais definida
Qualquer destes dois factores que afectam o coeficiente circulação-depósitos são
pelo Banco Central Europeu (BCE) é de 2%.
subjectivos e não quantificáveis, pelo que não os vamos introduzir na análise.
Além do mais, o coeficiente circulação-depósitos é inalterável no curto prazo.

120
e Grau de incerteza no que se refere ao fluxo líquido de depósitos (o) Dividindo numerador e denominador pelo total dos depósitos (Dep) vem:

É um factor que afecta a taxa de reservas, via taxa de reservas livres €m + Dep Cm | Dep
ou voluntárias. Quanto mais elevado for o grau de incerteza no que
M Dep | M Dep Dep M cd+l
se refere ao fluxo líquido de depósitos (depósitos menos levanta-
Ho Cm+R H Cm R., H cd+r
mentos num dado período, que pode ser, por exemplo, o dia, a semana Dep Dep Dep
ou o mês), maior será a taxa de reservas livres que os bancos
comerciais querem deter e, como tal, maior será a taxa de reservas, Logo:
mantendo constante a taxa de reservas legais; a relação é directa.
M= St qu am= Stay
cd+r cd+r
e Taxa de redesconto ou de desconto (1D )

É a taxa que o banco central cobra aos bancos comerciais quando Esta relação evidencia um elemento muito importante que é o multiplicador
estes lhe pedem dinheiro emprestado. Quanto maior for esta taxa, da base monetária (mm):
mais “caro” sai aos bancos comerciais pedir dinheiro emprestado ao
cd+1
banco central e, portanto, maior é o incentivo para deterem mais mm = e —
cd+r
reservas livres. A taxa de reservas vai aumentar, mantendo constante
a taxa de reservas legais; a relação é directa. Em Junho de 2007, a O multiplicador da base monetária mede a variação da massa monetária
taxa de redesconto do BCE foi fixada em 4,00%. quando a base monetária varia de uma unidade monetária.

e Taxa de juro de mercado (1) Assume valores positivos e superiores à unidade, pois o numerador é superior
ao denominador. Se o banco central injectar uma unidade monetária no
Quanto maior é a remuneração que os bancos comerciais têm quando
sistema, via base monetária, a oferta nominal de moeda aumenta mais do
emprestam dinheiro, menor é a sua apetência para cativar reservas
que uma unidade monetária e tanto mais, quanto mais desenvolvido for o
de forma voluntária e, portanto, a taxa de reservas livres vai diminuir.
sistema bancário da economia. É o fenómeno da criação de moeda. O sistema
Como tal e mantendo constante a taxa de reservas legais, a taxa de
bancário cria moeda, através do efeito multiplicador ou, por outras palavras,
reservas vai diminuir; a relação é inversa.
através da concessão de crédito.
Esquematicamente:
Graficamente:
cd = cd (hábitos de pagamento, factor tempo)
AN
r=r(1r, o,1D,1) H
W cd+r
+ + + — cd+l

Vamos, agora, relacionar os conceitos de massa monetária e base monetária,


tendo em consideração os dois agregados monetários já definidos.
T +
À H
(O) ! >

M=Cm+Dep e H=Cm+R
M M
Fazendo o quociente entre estes dois agregados, temos:
De seguida iremos deduzir o multiplicador da base monetária, considerando
n períodos de tempo. O objectivo desta análise é mostrar, tal como tinha sido
M Cm+Dep feito no mercado real para o multiplicador do investimento autónomo, que a
H Cm +R variação da massa monetária dada pelo efeito multiplicador só ocorre passado
um número muito elevado de períodos; não é um impacto que ocorra no
curto prazo.

122 123
Para o efeito vamos considerar que o banco central injectou uma unidade Repare-se que em qualquer destas colunas há uma soma que é comum a
monetária no sistema bancário. Os agentes económicos vão deter cd/(cd + 1) todas (independentemente de estar a multiplicar por outros factores) e que é:
sob a forma de circulação monetária e 1/(cd + 1) sob a forma de depósitos,
2 1
ou seja, com um grau de liquidez menor. Jr ler L-r
SOMA = 1 + + Fado | ——
cd+1 cd+1 cd+1
O aumento de 1/(cd + 1) nos depósitos, leva a que os bancos comerciais
detenham uma fracção r desse aumento, ou seja, r/(cd + 1).
Repare-se que é uma progressão geométrica de razão (1 — r)/(cd + 1). Então:
Sabendo que o crédito (CC) é a diferença entre os depósitos (Dep) e as reservas

clase) [asa)
. nd la
(R), então a variação do crédito é igual à variação dos depósitos menos a
variação das reservas. SOMA = cd + 1 + - 1 cd+1

CC = Dep
- R

ACC=ADep-AR
Agora vamos multiplicar esta soma por cada um dos factores que foi posto
f em evidência em cada coluna:
-
Como A Dep p =- cd+l ee AR = cal
s ACm= cd q Cdr d cd
então: cd+1 cd+r cd+r

ACC=ADep-AR= A! Z ADep= i w edi l


cd+1
cd+1 cd+r cd+r
Significa que há um acréscimo do crédito bancário em (1-r)/(cd + 1), do qual
os indivíduos vão deter uma fatia cd/(cd+1) em moeda, com liquidez máxima,
e 1/(cd + 1) em depósitos e o processo repete-se, como podemos ver pelo
quadro seguinte, em que A H representa o aumento da base monetária que
vai ocorrer, exclusivamente no período 1, A Cm representa o aumento da
circulação monetária, A R representa o aumento das reservas e ACC representa Mede a variação da massa monetária quando a base monetária varia de uma
o aumento do crédito concedido. unidade monetária, ou seja:

Períodos AH ACm ADep AR ACC AM — cd+l


I 1 cd l r l-r ] cd+r

cd+1 cd+1 cd+] cd+1 Generalizando, vem:


2
) cd lr l l=r I l-r l-r AM o. cd+1
x x x = mm
cd+1 cd+l cd+1 cd+l cd+t cd+l ecd+1 AH cd+r

3 cd x
(Ir 1 x
fr x
(Ya) Temos, pois, uma outra visão para o multiplicador da base monetária. Mostra,
igualmente, como e quando o sistema bancário aumenta o crédito, resultante
cd+1 | cd+] cd+1 | cd+i) cd+l | cd+l cd+1
de um aumento da base monetária pelo banco central.

Por isso, a este processo se chama expansão múltipla dos depósitos bancários:
d 1 . n-1 I 1 . n-1 r Lx n-] | . n
mostra como um aumento dos depósitos leva a mais depósitos, ou seja, como
n Cc x 1 x -[ x -J
funciona o multiplicador. Ora, se não houvesse sistema bancário, o aumento
cd+1 | cd+] cd+1] lcd+1 ) cd+l | cd+l cd+1 de uma unidade na base monetária ficaria em circulação e limitar-se-ia a
aumentar a massa monetária em uma unidade monetária. Quando há um

124
sistema bancário, a massa monetária aumenta mais do que uma unidade A) Uma economia em que não há sistema bancário
monetária, pois o sistema cria moeda, via concessão de crédito.
Neste caso, não existem depósitos, porque não há bancos comerciais (existe
Voltando ao multiplicador da base monetária: somente o banco central). Por outras palavras, a massa monetária é composta,
exclusivamente, por circulação monetária. Só se utilizam moeda metálica e
cd+1 papel moeda.
mm =
cd+r
Neste caso hipotético, o coeficiente circulação-depósitos tende para mais
O multiplicador da base monetária depende dos seguintes elementos: infinito e a taxa de reservas é nula.

e Coeficiente circulação-depósitos (cd) Assim, o multiplicador da base monetária vem:

Repare-se que este indicador monetário aparece no numerador e no cd+1 cd+1


mm = =
denominador da fracção, pelo que, para estudarmos a sua influência cd+r cd
no multiplicador, temos de dividir numerador e denominador por cd.
Ficamos com uma indeterminação, dado que o coeficiente circulação-
cd+1
mm 1 dm
1 depósitos tende para mais infinito. Para levantar a indeterminação vamos
cd + Í cd cd
dividir numerador e denominador por cd.
mm = cd+r E cd+r
cd+1 4 ÀI
cd cd cd + 1

Quando o coeficiente circulação-depósitos, por exemplo, aumenta,


mm = SI = —ed 4 do]
cd cd cd
ceteris paribus, tanto numerador como denominador diminuem, mas cd
o numerador decresce mais rapidamente que o denominador, pois a
unidade (que aparece em 1/cd) é superior à taxa de reservas (que O multiplicador é um, pelo que não há criação de moeda.
aparece em r/cd); logo, a fracção diminui. À relação é inversa.
B) Uma economia com um sistema bancário muito desenvolvido, em que
Por seu turno, o coeficiente circulação-depósitos depende, como já
só se utilizam moeda escritural e moeda plástica
vimos, dos hábitos de pagamento e do factor tempo, elementos que
não são susceptíveis de serem quantificados. Neste caso, não há circulação monetária, ou seja, a massa monetária é com-
posta, somente, por depósitos. Como não há circulação monetária, o coefi-
e Taxa de reservas (1)
ciente circulação-depósitos é nulo. O multiplicador da base monetária vem:
Quando a taxa de reservas aumenta, por exemplo, ceteris paribus, O
cd +] 0+1 l l |
multiplicador da base monetária diminui. A relação é inversa. mm = = = ho =
cd+r 0+r r rr +] Ir
A taxa de reservas, por seu turno, depende, como já estudámos, da taxa
O multiplicador seria o inverso da taxa de reservas, sendo esta a soma da taxa
de reservas legais, do grau de incerteza no que se refere ao fluxo líquido
de reservas legais com a taxa de reservas livres. Neste contexto, os bancos
de depósitos, da taxa de redesconto e da taxa de juro de mercado.
comerciais não têm qualquer interesse em deter reservas livres, pois os seus
Em síntese, o multiplicador da base monetária depende inversamente do clientes nunca fazem levantamentos; logo, a taxa de reservas livres é nula.
coeficiente circulação-depósitos e da taxa de reservas. Deste modo, o multiplicador passa a ser o inverso da taxa de reservas legais.

O multiplicador da base monetária pode assumir dois valores extremos, con- É o valor máximo que o multiplicador da base monetária pode assumir e é
soante o grau de desenvolvimento do sistema bancário da economia em estudo. designado por multiplicador de crédito. Esta denominação prende-se com o facto
de se estar no caso extremo em que a criação de moeda é máxima. Como a
criação de moeda advem da concessão de crédito, por isso se designa este
caso extremo do multiplicador da base monetária, por multiplicador de crédito.

127
Tendo em atenção estes dois casos extremos podemos concluir que O Em síntese, o coeficiente circulação-depósitos, a taxa de reservas legais, O
grau de incerteza no que se refere ao fluxo líquido de depósitos e a taxa de
multiplicador da base monetária assume valores entre 1 (valor mais baixo
redesconto afectam inversamente o multiplicador da base monetária e, conse-
correspondente a uma economia em que não há sistema bancário) e o inverso
quentemente, afectam inversamente a massa monetária. A taxa de juro de
da taxa de reservas legais, ou seja, o multiplicador de crédito (caso em que 0
mercado afecta directamente o multiplicador da base monetária e, como tal,
sistema bancário apresenta a maior sofisticação possível, utilizando-se
afecta directamente a massa monetária.
somente moeda escritural e moeda plástica):
cd+1 l Por último falta ver o segundo elemento que afecta a massa monetária: a
|< mnm=z-—— So — base monetária.
cd+r rf
A base monetária é a soma da circulação monetária (Cm) com as reservas
totais (R). Depende, entre outros, dos seguintes elementos*: * Se se reparar, a base mone-
tária é também influenciada
344 Os instrumentos de controlo monetário pelo coeficiente circulação-
* Taxa de reservas legais (rr) -depósitos, pela taxa de juro

Já estabelecemos a relação entre a massa monetária e a base monetária, via


de mercado ou pelo grau de
Quando a taxa de reservas legais, por exemplo, aumenta, ceteris incerteza no que se refere ao
multiplicador da base monetária. Estamos, agora, em condições de identificar paribus, aumenta a taxa de reservas, o que gera um aumento das fluxo líquido de depósitos.
Contudo, como o objectivo é
os instrumentos de controlo monetário. reservas. Logo, a base monetária aumenta; a relação é directa. identificar os instrumentos de
controlo monetário, não vamos
M= cd+1 H
e Taxa de desconto ou de redesconto (1D) referir estes elementos dado
que não são alteráveis no
cd+r
curto prazo, nem tão pouco
Quando a taxa de redesconto aumenta, ceteris paribus, aumenta a
A massa monetária é influenciada directamente pelo multiplicador da base
são controláveis pelo banco
taxa de reservas, gerando um aumento das reservas. Este aumento central.
monetária e, também directamente, pela base monetária. Se estudarmos quais vai ocasionar um aumento da base monetária; a relação é directa.
os factores que afectam cada um destes dois elementos, poderemos identificar
os instrumentos de controlo monetário. * Operações de open market

Vamos recordar os factores que afectam o multiplicador da base monetária Consistem na compra ou venda, por parte do banco central, de títulos
(mm): coeficiente circulação-depósitos e taxa de reservas legais. Ambos os da dívida pública, a particulares, empresas, instituições financeiras
factores afectam inversamente o multiplicador em estudo. ou outras.

As operações de open market de compra consistem na compra de


Esquematicamente:
títulos da dívida pública por parte do banco central.
mm = mm (cd, 1)
O processo pode decorrer de dois modos, mas o efeito é sempre o
mesmo: gera um aumento da base monetária. Assim, o banco central,
contra a entrega dos títulos, pode pagar em dinheiro (é uma situação
meramente teórica; na prática não ocorre), levando a um aumento da
circulação monetária, que gera um aumento da base monetária. Uma
cd = cd (hábitos de pagamento, factor tempo)
outra maneira é o banco central, contra a entrega dos títulos, fazer o
r=r (rr, 6,1D,1) pagamento via transferência bancária, gerando um aumento dos
depósitos, que terá como consequência um aumento das reservas.
++ + — Este aumento vai gerar um aumento da base monetária.

Substituindo no multiplicador da base monetária temos: As operações de open market de venda consistem na venda por parte
do banco central de títulos da dívida pública.
mm = mm (cd, rr, o, iD, 1)
O processo pode decorrer de dois modos distintos, mas o efeito final
= 0 0 & é sempre o mesmo: gera uma diminuição da base monetária. Uma

128
maneira possível, mas pouco usual, é o banco central receber o de redesconto, ou realizar operações de open market de compra. Se o objectivo
pagamento dos títulos em dinheiro, que foi retirado da circulação for diminuir a massa monetária, o banco central pode, ou aumentar a taxa de
monetária. Logo, esta diminuiu, gerando uma diminuição da base reservas legais, ou aumentar a taxa de redesconto, ou realizar operações de
monetária. A segunda via, que é a que ocorre na prática, é o pagamento open market de venda.
ao banco central ser feito via transferência bancária. Logo, os
depósitos baixam, gerando uma diminuição das reservas e, como tal,
da base monetária.
3.5 O Sistema Europeu de Bancos Centrais e o Eurosistema
Resumindo, de forma esquematizada, toda esta informação, temos:
Em 1 de Janeiro de 1999, deu-se início à terceira (e última) fase da União
M = mm (cd, Ir, 6,1D,1) H (rr, iD, operações de open market)
Económica e Monetária (UEM), o que trouxe alterações profundas em termos
— — + + + — compra => aumento da M do enquadramento institucional da oferta de moeda na área do euro, designa-
damente: (1) a fixação irrevogável das taxas de câmbio dos onze Estados-
venda = diminuição da M Membros que inicialmente participaram na UEM, passando o euro a ser a * Bélgica, Alemanha, França,
Espanha, Irlanda, Itália,
moeda única destes países e (2) a adopção de uma política monetária única
Pela análise dos factores que afectam a massa monetária podemos observar Luxemburgo, Países Baixos,
na área do euro sob a responsabilidade do Banco Central Europeu (BCE). Áustria, Portugal e Finlândia.
que há somente três que são susceptíveis de serem alterados no curto prazo
e, simultaneamente, são controlados pelo banco central. São os denominados O Tratado que instituíu a Comunidade Europeia (Tratado CE) e os Estatutos
instrumentos de controlo monetário: do Sistema Europeu de Bancos Centrais e do Banco Central Europeu (Esta-
tutos do SEBC) ' constituem a base jurídica do Banco Central Europeu (BCE) * Anexados como Protocolo ao
e Taxa de reservas legais (rr) Tratado CE.
e do Sistema Europeu de Bancos Centrais (SEBC), criados formalmente em
1 de Junho de 1998.
A taxa de reservas legais afecta a massa monetária por duas vias e
em sentidos opostos: inversamente, via multiplicador da base mone- O SEBC é formado pelo BCE e pelos bancos centrais nacionais (BCN) dos
tária e, directamente, via base monetária. No entanto, nas sociedades 21 Estados-Membros da União Europeia. Isto significa que o SEBC inclui
actuais, caracterizadas por sistemas bancários bastante desenvolvidos, BCN de Estados-Membros que não adoptaram o euro?, mantendo a sua moeda * Em 31 de Março de 2007,
o efeito mais forte é o do multiplicador. nacional e que prosseguem a sua própria política monetária, não participando Dinamarca e Reino Unido
(por estatuto especial),

Assim, a taxa de reservas legais afecta inversamente a massa nas decisões relativas à política monetária da área do euro. Assim, para Suécia, República Checa,
Estónia, Chipre, Letónia,
monetária. destrinçar estas duas realidades, passou a utilizar-se o termo Eurosistema
Lituânia, Hungria, Malta,
para referir o BCE e os BCN dos Estados-Membros que adoptaram o euro”. Polónia, Eslováquia, Bulgária
e Roménia (por derrogação,
e Taxa de redesconto ou de desconto (GD)
O Eurosistema é, presentemente, a autoridade monetária para a área do euro, isto é, por não cumprirem as
condições necessárias para
A situação da taxa de redesconto é idêntica à da taxa de reservas pois o Tratado CE (no n.º 2 do artigo 105.º) e os Estatutos do SEBC (no adoptar o euro).
legais, pelo que o efeito mais forte é o do multiplicador da base artigo 3.º-1) conferem-lhe como competências fundamentais e exclusivas !º:
* Em 31 de Março de 2007,
monetária. Logo, a taxa de redesconto afecta inversamente a massa “a definição e execução da política monetária única na área do euro” (dado o Bélgica, Alemanha, França,

monetária. seu controlo total sobre a base monetária), “a realização de operações cam- Espanha, Irlanda, Itália,
Luxemburgo, Países Baixos,
biais, a detenção e gestão das reservas cambiais oficiais dos Estados-Membros Áustria, Portugal, Finlândia,
* Operações de open market e a promoção do bom funcionamento dos sistemas de pagamento”. Além Grécia e Eslovénia.

destas atribuições básicas do Eurosistema, este deve ainda contribuir para “a


As operações de open market de compra geram um aumento da massa “ Em boa verdade, o artigo
boa condução das políticas desenvolvidas pelas autoridades competentes no 105.º do Tratado CE refere-se
monetária, ao passo que as de venda geram uma diminuição da ao SEBC, pois tinha como
que se refere à supervisão prudencial das instituições de crédito e à esta-
massa monetária. pressuposto que todos os
bilidade do sistema financeiro” (n.º 5 do artigo 105.º do Tratado CE). Estados-Membros da UE
teriam adoptado o euro.
Em resumo, se o banco central pretender aumentar a massa monetária pode
O Eurosistema (e o SEBC) não tem personalidade jurídica própria, nem órgãos
utilizar uma das seguintes alternativas (ou mais do que uma, deste que seja
de decisão próprios, pelo que é o BCE e os BCN da área do euro (instituições
no sentido indicado): diminuir a taxa de reservas legais, ou diminuir a taxa
com personalidade jurídica) que executam as funções básicas do Eurosistema.

131
A ordem monetária na área do euro está fundamentada na independência
De acordo com o artigo 9.º-3 dos Estatutos do SEBC, o Eurosistema e o
(institucional, legal, pessoal dos membros dos seus órgãos de decisão,
SEBC são dirigidos pelos dois principais órgãos de decisão do BCE: o Con-
funcional e operacional, financeira e organizacional) de influências políticas
selho do BCE e a Comissão Executiva do BCE. Mas, enquanto o Eurosistema
do BCE e dos BCN que constituem o Eurosistema.
não coincidir com o SEBC, existe ainda um terceiro órgão de decisão do
BCE - o Conselho Geral do BCE (artigo 45.º dos referidos Estatutos). A independência institucional decorre da proibição de o BCE e dos BCN da
área do euro e dos respectivos elementos dos órgão de decisão, receberem
O Conselho do BCE tem como principal atribuição a definição da política
ou solicitarem instruções de qualquer órgão nacional ou internacional, quer
monetária única e das orientações necessárias à sua execução. É o principal
seja público, quer seja privado (artigo 108.º do Tratado CE).
orgão de decisão do BCE e, actualmente, é constituído por 19 membros:
os da Comissão Executiva e os governadores dos 13 bancos centrais do A independência legal ocorre pelo facto de o BCE e os BCN do Eurosistema
Eurosistema. terem personalidade jurídica própria.

Na maioria das situações, as deliberações são tomadas por maioria simples A independência pessoal dos membros dos órgãos de decisão do BCE é
dos votos dos elementos do Conselho do BCE que estão presentes nas reuniões assegurada pelos mandatos fixos relativamente longos.
e, à excepção de algumas questões de natureza financeira, cada elemento do
Conselho do BCE representa um voto. Esta situação será alterada, passando A independência funcional e operacional está consubstanciada em diversas
os governadores dos BCN a ter um regime de rotatividade dos direitos de disposições dos Estatutos do SEBC, designadamente as que possibilitam o
voto, quando a área do euro incluir mais de 15 Estados-Membros. controlo total por parte do BCE sobre a base monetária da área do euro e a
que proibe o financiamento monetário do défice orçamental.
A Comissão Executiva do BCE é o órgão de decisão operacional do BCE,
sendo da sua competência exclusiva, a execução da política monetária única, A independência financeira e organizacional decorre de o BCE e os BCN
para o que dará as instruções necessárias aos BCN competentes para o efeito da área do euro disporem de recursos financeiros e rendimentos próprios.
(artigo 12.º dos Estatutos do SEBC). É responsável por todas as decisões O capital do BCE é subscrito pelos BCN do Eurosistema e o orçamento do
que têm de ser tomadas diariamente, para evitar os atrasos de reconhecimento BCE é independente do orçamento comunitário.
e externo na implementação da política monetária única.

A Comissão Executiva do BCE é constituída por seis membros (o presidente


e o vice-presidente do BCE e quatro vogais) nomeados, de comum acordo,
Exercícios de revisão
pelos governos dos Estados-Membros que integram o Eurosistema, a nível
de chefes de Estado ou de Governo (artigo 11.º-2 dos Estatutos do SEBC).
À. Face às afirmações seguintes, diga se as mesmas são verdadeiras ou
A maioria das deliberações da Comissão Executiva do BCE é tomada por falsas e justifique a sua resposta.
maioria simples dos votos expressos, tendo o presidente voto de qualidade
em caso de empate. a) Não há diferenças entre a teoria neoclássica referente à procura real
de moeda e a teoria da preferência pela liquidez.
O Conselho Geral do BCE é a instituição que faz a ligação entre o Eurosistema
e os BCN dos Estados-Membros que não pertencem à área do euro. Tem b) A procura de moeda por motivo transacção na teoria de Tobin e
como atribuições principais, o reforço da coordenação das políticas monetárias Baumol depende somente da taxa de juro de mercado.
destes Estados-Membros com a política monetária única e é responsável
pelo aconselhamento sobre os preparativos necessários à adesão ao euro. c) O multiplicador da base monetária depende inversamente do
coeficiente circulação-depósitos e da taxa de reservas.
O Conselho Geral do BCE é, actualmente, constituído por 29 elementos: o
presidente e o vice-presidente do BCE e ainda todos os governadores dos d) O valor do multiplicador de crédito coincide sempre com o valor do
BCN da União Europeia (UE). Este órgão será dissolvido quando todos os multiplicador da base monetária.
Estados-Membros da UE tiverem aderido à moeda única. e) O aumento da taxa de reservas legais, ceteris paribus, gera uma redu-
ção da base monetária e um aumento do multiplicador da base monetária.

133
f) A velocidade de circulação da moeda na teoria quantitativa da moeda 2.5 Numa dada economia, a taxa de reservas é 10%, o coeficiente circulação-
é constante e na teoria da preferência pela liquidez depende do valor -depósitos assume o valor de 0,7 e a base monetária é de 1000 u.m..
da elasticidade rendimento. A massa monetária desta economia atinge o valor de

2 Para cada questão que lhe é proposta, dispõe de quatro alternativas de a) 2125 um. io hoy
resposta, das quais somente uma está correcta. Diga qual a alternativa b) 4444 um..
que, no seu entender, está correcta.
e) 1700 um.
21 Na teoria da preferência pela liquidez, a procura real de moeda depende
d) 1600 um.
a) directamente do rendimento e da taxa de juro.
2.6 A independência legal do BCE e dos BCN da área do euro decorre de
b) directamente do rendimento e inversamente da taxa de juro. 4
a) o BCÊ e os BCN do Eurosistema estarem dotados de personalidade
c) inversamente do rendimento e da taxa de juro. Jurídica própria.
d) inversamente do rendimento e directamente da taxa de juro. b) oBCEcosBCN da área do euro terem personalidade jurídica própria.

2.2 Numa economia em que não há circulação monetária, o multiplicador c) o BCE estar dotado de personalidade jurídica própria.
da base monetária é
d) o Eurosistema estar dotado de personalidade jurídica própria.
a) igual ao inverso da taxa de reservas legais.
2.7 A independência funcional e operacional está consubstanciada em
b) nulo. diversas disposições dos Estatutos do SEBC, designadamente as que
c) unitário. possibilitam o controle total por parte do BCE

d) negativo. a) da base monetária da União Europeia.

b) da massa monetária da área do euro.


2.3 O multiplicador da base monetária mede
c) da oferta de moeda da área do euro.
a) a massa monetária por variação de uma unidade monetária da base
monetária. d) da base monetária da área do euro.

b) a variação da massa monetária por cada unidade monetária da base


monetária.

c) a variação da base monetária quando a massa monetária varia de


uma unidade monetária. Leituras complementares
d) a variação da massa monetária quando a base monetária varia de
Eid
ABREU, M., FERREIRA, C., BARATA, L. e ESCÁRIA, V.
uma unidade monetária. +
2007 Economia Monetária e Financeira. Lisboa: Escolar Editora,
2.4 Os instrumentos de controlo monetário são: p. 165-168.

a) a taxa de reservas legais, a taxa de redesconto e as operações de


BANCO CENTRAL EUROPEU
open market de compra.
2004 A Política Monetária do BCE — 2004. Lisboa, p. 9-16.
b) a taxa de reservas legais, a taxa de redesconto e as operações de
open market.
BELBUTE,J.M. M.
c) ataxa de reservas legais e a taxa de redesconto. 2003 Princípios de Macroeconomia. Lisboa: Gradiva Publicações Lda.,
d) ataxa de reservas legais e as operações de open market. p. 124-148.
DORNBUSH,R., FISCHER, S., e STARTZ, R.
1998 — Macroeconomia. 7º ed., Lisboa: McGraw-Hill, p. 349-386.

SAMUELSON, P. A., e NORDHAUS, W. D.


2005 Macroeconomia. 18º ed., Lisboa: McGraw-Hill, p. 511-520,
694-696.

SCHELLER, H. K.
2004 — O Banco Central Europeu - História, Papel e Funções. Banco Central
Europeu, p. 41-75, 122-127, 165-191.

4. O Modelo IS-LM ou Modelo a Preços Constantes

136
Objectivos de aprendizagem

Após a leitura do capítulo 4, o estudande/leitor deverá ser capaz de:

e Definir o conceito de função IS e função LM.

e Deduzir as expressões analíticas das funções IS e LM.

* Deduzir, gráfica e analiticamente, a inclinação da função IS.

º Deduzir, gráfica e analiticamente, a inclinação da função LM.

e Identificar os factores que afectam a inclinação da função IS.

e Identificar os factores que afectam a inclinação da função LM.

e Identificar os determinantes da função IS.

e Identificar os determinantes da função LM.

* Explicar o modo como a alteração das variáveis de política orçamental


c a alteração das variáveis controladas pelas empresas fazem deslocar
a função IS.

* Explicar o modo como a alteração dos instrumentos de controlo


monetário afectam a função LM.

e Determinar, gráfica e analiticamente, o ponto de equilíbrio a preços


constantes e interpretar o seu significado.

e Analisar os impactos sobre o ponto de equilíbrio resultantes da


alteração das variáveis de política orçamental, das variáveis
controladas pelas empresas e da variável de política monetária.

e Definir política de acomodação.

e Definir política económica eficaz, ineficaz e totalmente eficaz.

e Identificar e explicar a configuração da função LM na zona da


armadilha da liquidez e no caso neoclássico.

e Analisar a eficácia das políticas orçamental e monetária nas três zonas


da função LM.

* Explicar o conceito de efeito crowding out e mostrar que este efeito


é nulo na zona da armadilha da liquidez, é total na zona neoclássica
e é parcial quando a LM tem inclinação positiva.

e Definir o conceito de restrição orçamental do governo.


Identificar as formas de financiamento do défice orçamental. 4.1 O mercado real: a função IS
Mostrar, graficamente e através do cálculo dos respectivos multipli- 411 O equilíbrio no mercado real: definição e equações
cadores dos gastos públicos, que a variação do rendimento é, em
termos comparativos, menor quando o financiamento do défice Vamos retomar o modelo referente ao mercado real ou mercado de bens e
orçamental é feito com dívida pública e é mais elevada quando o serviços e vamos abandonar a hipótese colocada no capítulo 2, ou seja, a
financiamento do défice é feito com emissão de moeda (total ou hipótese que a propensão marginal a investir é nula. Deste modo, vamos
parcialmente). retomar a equação keynesiana do investimento, função inversa da taxa de
juro de mercado.
Mostrar que quando a IS é vertical ou quando a LM é horizontal é
indiferente, do ponto de vista da variação do rendimento, financiar o Na análise que vamos desenvolver, vamos considerar uma economia aberta,
défice orçamental com dívida pública ou com emissão de moeda e em que os gastos públicos são autónomos, as transferências são autónomas,
impostos induzidos. os impostos são função do rendimento com parte autónoma e as importações
são função do rendimento com parte autónoma (um dos muitos modelos
Explicar o significado da equivalência ricardiana e enunciar as críticas
possíveis no mercado de bens e serviços).
tecidas à mesma.
Y=D Equação de equilíbrio
Explicar o conceito de senhoriagem.
D=C+I+G+X-Z Equação de definição

C=C+cYd Equação de comportamento

Yd=Y-T+Tr Equação de definição

T=T+tY Equação de comportamento

Tr= Tr Equação de comportamento

I=1-ei Equação de comportamento

G=G Equação de comportamento

X=X Equação de comportamento

Z=7Z+mY Equação de comportamento

Recorde-se que as variáveis objectivo deste modelo são o rendimento (Y), o


saldo orçamental (SO) e o saldo da balança corrente (BC) e as variáveis
estratégicas são os gastos públicos, as transferências autónomas, os impostos
autónomos, a taxa de imposto, o investimento autónomo, as exportações
autónomas e as importações autónomas.

A correspondente forma reduzida é a seguinte:

C-cT+cTr+I+G+X-Z e
Y
l-cd-D+m I-c(A-D+m

Esta equação define a função IS: IS = f(Y,1).

140
A função IS é o lugar geométrico dos pares de valores rendimento e taxa de Os factores que afectam a inclinação da IS, considerada em módulo, são os
juro que equilibram o mercado real ou mercado de bens e serviços ou mercado seguintes:
de produtos.
* Propensão marginal a consumir (c)
É constituída por todos os pontos em quel+6+Tr+X=S+T+Z.
Quando a propensão marginal a consumir, por exemplo, aumenta,
ceteris paribus, a inclinação da IS diminui, Isto é, a IS fica mais
próxima da horizontal. A relação é inversa.

41.2 Determinação da inclinação da IS Como sabemos, a propensão marginal a consumir é um parâmetro


estável no curto prazo, mas, no longo prazo, tende a diminuir, pelo
Pela análise da expressão analítica da IS observa-se que a taxa de juro é a que, no longo prazo, a função IS de uma dada economia fica cada
única variável explicativa considerada e que sempre que esta, por exemplo, vez mais próxima da vertical.
aumenta, mantendo constantes as variáveis estratégicas do modelo, o
e Taxa de imposto (t)
rendimento diminui e vice-versa: existe uma relação inversa entre o rendi-
mento e a taxa de juro. Esta relação inversa pode, também, ser deduzida a Quando a taxa de imposto, por exemplo, aumenta, ceteris paribus, a
partir da forma estrutural do modelo: quando a taxa de juro aumenta, o inclinação da IS aumenta, isto é, a IS aproxima-se da posição vertical.
investimento diminui e este, como componente que é da procura agregada, A relação é directa.
gera uma diminuição da procura agregada e, como tal, do rendimento de
equilíbrio (em equilíbrio, a procura agregada é igual ao rendimento). Como À taxa de imposto é uma medida de política orçamental. Quando o
tal, a IS tem inclinação negativa. governo implementa uma política orçamental expansionista, através
de uma diminuição da taxa de imposto, a IS tende a ficar menos
Para estudarmos analiticamente a inclinação da IS, vamos resolver a equação inclinada. De igual modo, quando o governo implementa uma política
em ordem à taxa de juro: orçamental contraccionista, através de um aumento da taxa de
imposto, a IS tende a ficar mais inclinada.
o C-cT+cTr+I+G+X-Z. l-c(d-D+m y
i=
[o e º Propensão marginal a importar (m)

em que o primeiro termo é a ordenada na origem e o termo associado ao Quando a propensão marginal a importar, por exemplo, aumenta,
rendimento é o declive ou inclinação. Repare-se que a inclinação é negativa, ceteris paribus, aumenta a inclinação da IS. A relação é directa. A
pois é afectada por um sinal negativo antes da fracção e os respectivos propensão marginal a importar é um parâmetro estável no curto prazo
numerador e denominador da fracção assumem valores positivos. mas, no longo prazo, tende a diminuir, pelo que a IS tende a ficar
menos inclinada.
Graficamente:
e Propensão marginal a investir (e)

Quando a propensão marginal a investir, por exemplo, aumenta,


ceteris paribus, a inclinação da IS diminui. A relação é inversa.
C-cT+CTIHHG+X-Z
e IS De salientar que no primeiro modelo estudado, em que o investimento
era todo autónomo (I = 1), a propensão marginal a investir era nula
[as]

(hipótese considerada, tendo como objectivo determinar o nível de


Y equilíbrio do rendimento no mercado real, sem ter de se arbitrar
valores para a taxa de juro), pelo que a IS era uma recta vertical,
Vamos analisar mais em pormenor a inclinação da IS, fazendo essa análise ao nível do rendimento de equilíbrio (a inclinação da IS tendia
por duas vias: estudo dos factores que afectam a inclinação da IS e dedução
para infinito). A propensão marginal a investir não é alterável no
gráfica dessa mesma inclinação. curto prazo.

l42
Em síntese, a propensão marginal a consumir e a propensão marginal a investir 1 +G+Tr+X) fica determinado. Como, em equilíbrio, tem de se registar
afectam inversamente a inclinação da IS; a taxa de imposto e a propensão uma igualdade entre 1 +6G+Tr+X) e(S+T+Z), então conhece-se o valor
marginal a importar afectam directamente a inclinação da IS. do segundo membro da equação de equilíbrio universal. A partir daqui
determina-se qual o nível de rendimento que gera esse valor de (S + T+ 2);
Vamos, agora, deduzir graficamente a inclinação da IS, através do método foi designado por Y 1.
dos quatro quadrantes. Cada um dos quadrantes tem coordenadas positivas,
apesar da respectiva configuração. De salientar que o objectivo desta análise Seguidamente variou-se a taxa de juro de mercado, mais concretamente
não é determinar a expressão analítica da inclinação da função IS, mas aumentou-se a taxa de juro, passando a ser 12 (12 > 11), mantendo constantes
somente demonstrar que esta inclinação é negativa. todas as variáveis estratégicas do modelo. Com o aumento da taxa de juro de
mercado, o investimento decresceu e, consequentemente, o valor do primeiro
Para fazermos esta dedução vamo-nos socorrer da equação de equilíbrio membro da equação de equilíbrio universal diminuiu. Como, em equilíbrio,
universal num modelo a quatro sectores, já anteriormente referida: | + O + há uma igualdade entre 1 +G+Tr+X)ec(S + T+ 2), então o segundo
Tr+X=S+T+Z. No primeiro quadrante vai ser deduzida a inclinação da membro da equação de equilíbrio universal diminuiu, pelo que o rendimento
função IS. No segundo e quarto quadrantes vão ser representados, de equilíbrio diminuiu, passando para o valor Y2 (Y2 <Y1).
respectivamente, o primeiro e segundo membros da equação de equilíbrio
universal. O primeiro membro da equação de equilíbrio universal é função Assim, observou-se que, inicialmente, se tinha um par de valores (Y 1, il)
inversa da taxa de juro de mercado; o segundo membro da equação de que equilibrava o mercado real. Após um aumento da taxa de juro de mercado,
equilíbrio universal é função directa do rendimento. No terceiro quadrante obteve-se o par de valores (Y2, 12), que também equilibra o mercado real.
vai ser representada a equação de equilíbrio universal, ou seja, a igualdade Registou-se um aumento da taxa de juro (122 > 11) e uma diminuição do
entre 1+6G+Tr+X) e(S + T+ Z). Deste modo, a recta que representa esta rendimento de equilíbrio (Y2 < Y1), ou seja, há uma relação inversa entre
igualdade é a bissetriz do quadrante. estas duas variáveis: a função IS tem inclinação negativa.
/

4.1.3 Determinantes da função IS e deslocações da IS

Os determinantes da função IS são os seguintes:

HG+TA+X e Taxa de juro de mercado (1).

a
a
e Variáveis de política orçamental (G, Tr, Tet).

1+G+Tr+X e Variáveis controladas pelas empresas (LXeZ).

As alterações da taxa de juro, ceteris paribus, geram deslocações ao longo


da mesma IS, ou seja, deslocações na IS; as alterações das variáveis estra-
S+T+Z tégicas, ceteris paribus, geram a passagem de uma IS para outra IS, ou seja,
geram deslocações da IS.
HG+T+-X=S+T+Z
vo S+T+Z Vamos analisar as deslocações da função IS.

A) Alteração dos gastos públicos, mantendo constantes os impostos


Em primeiro lugar, importa recordar que todas as variáveis estratégicas estão
autónomos, as transferências autónomas, a taxa de imposto, o inves-
constantes e somente se vai alterar a taxa de juro de mercado e analisar a
timento autónomo, as exportações autónomas, as importações autó-
variação do rendimento decorrente desta alteração. Inicialmente, fixa-se a
nomas e a taxa de juro (ao nível inicialmente considerado).
taxa de juro no valor il. Para esse valor da taxa de juro, o investimento fica
determinado. Logo, o primeiro membro da equação de equilíbrio universal

144 l45
14 C) Alteração dos impostos autónomos, mantendo constantes os gastos
públicos, as transferências autónomas, a taxa de imposto, o investimento
C-cT+cTIH+O» 4X-

Ni
autónomo, as exportações autónomas, as importações autónomas e a
= . e a o taxa de juro (ao nível inicialmente considerado).
o
e
il
CT tc TIA GAK-Z
e
Cet, +CTIH+G+X-Z
aa e
pad

O) Yi Ya Y

Como se pode ver pelo gráfico, considerou-se inicialmente um ponto na


primeira IS (1S1): a uma taxa de juro ii corresponde o rendimento Y1. Registou- Yo Yi Y
-se um aumento dos gastos públicos (Go > 61), mantendo constantes as
demais variáveis estratégicas, que gerou, à mesma taxa de juro, um aumento Considerou-se inicialmente uma IS (1S1) e um ponto nessa IS: à taxa de juro
do rendimento para Y2 (Y2 > Y1). Este novo ponto (Y2, 11) não pertence à 11 corresponde o rendimento Y1. Registou-se um aumento dos impostos
primeira IS, mas a outra posicionada mais à direita. A deslocação foi paralela, autónomos (T> > T;), mantendo constantes as demais variáveis estratégicas
pois os gastos públicos só afectaram a ordenada na origem (ver expressão c à mesma taxa de juro. Esta medida de política orçamental contraccionista
analítica da inclinação da IS). gerou uma diminuição do rendimento para a posição Y2 (Y2<Y1). O novo
ponto (Y2, 11) não pertence à primeira IS, mas sim a outra posicionada mais
B) Alteração das transferências autónomas, mantendo constantes os gastos
à esquerda. A deslocação da IS para a esquerda foi uma deslocação paralela,
públicos, os impostos autónomos, a taxa de imposto, o investimento
pois a alteração dos impostos autónomos não afecta a inclinação da IS, mas
autónomo, as exportações autónomas, as importações autónomas e a
somente a ordenada na origem.
taxa de juro (ao nível inicialmente considerado).

Considerou-se inicialmente uma IS (IS1) e um ponto nessa IS: (Yi, 11). D) Alteração da taxa de imposto, mantendo constantes os gastos públicos,
Registou-se um aumento das transferências autónomas (Tra > Tr), os impostos autónomos, as transferências autónomas, o investimento
mantendo constantes as restantes variáveis estratégicas e à mesma taxa de autónomo, as exportações autónomas, as importações autónomas e a
juro, situação que gerou um novo rendimento, superior ao anterior (Y2>Y1). taxa de juro (ao nível inicialmente considerado).
Este novo ponto (Y2, 11) não pertence à primeira IS, mas a uma outra
posicionada mais à direita. Registou-se uma deslocação paralela da IS (para PN
a direita), pois a alteração das transferências autónomas só afectou a ordenada
na origem da IS.

IS1
e
H

W
W
Considere-se uma primeira IS (1S1) e um ponto nessa IS: à taxa de juro 11 F) Alteração das exportações autónomas, mantendo constantes os gastos
corresponde o rendimento Y1. Registou-se um aumento da taxa de imposto públicos, as transferências autónomas, os impostos autónomos, a taxa
(t2 > t1), à mesma taxa de juro, mantendo constantes as restantes variáveis de imposto, o investimento autónomo, as importações autónomas e a
estratégicas. Esta medida de política orçamental gerou uma diminuição do taxa de juro (ao nível inicialmente considerado).
rendimento, passando paraY2 (Y2<Y1). O novo ponto (Y2,11) já não pertence i AN
à IS inicial, mas a uma outra posicionada mais à esquerda. A deslocação não
foi paralela, pois a alteração da taxa de imposto afectou a inclinação da IS.
CcT+CTI+H+G+X,-Z
Com efeito, a taxa de imposto, tal como analisámos anteriormente, afecta e
directamente a inclinação da IS. Neste caso, a taxa de imposto aumentou, C-cT+cTIH+G+X, -Z
pelo que a inclinação da IS aumentou.
e ] 1

E
lI-ecdl-t)+m
| Inclinação da IS | = mo IS
e 0 + F >

l-ed-ty)+m Yi Ya Y
| Inclinação da IS, | =
É e
Considerou-se uma primeira IS (1S1) e um ponto nessa IS: à taxa de juro ii
Como a taxa de imposto aumentou, ceteris paribus, a inclinação da IS, é corresponde o rendimento Y1. Registou-se um aumento das exportações
superior à inclinação da IS. autónomas (X, >X, ) que, mantendo constantes as demais variáveis estra-
tégicas e à mesma taxa de juro, gerou um aumento do rendimento para o
E) Alteração do investimento autónomo, mantendo constantes os gastos
nível Y2 (Y2 >Y1). O novo ponto (Y2, ii) não pertence à primeira IS, mas a
públicos, as transferências autónomas, os impostos autónomos, a taxa
uma outra posicionada mais à direita (deslocação paralela, pois a inclinação
de imposto, as exportações autónomas, as importações autónomas e a
da IS não sofreu alteração).
taxa de juro (ao nível inicialmente considerado).
G) Alteração das importações autónomas, mantendo constantes os gastos
: À
| públicos, as transferências autónomas, os impostos autónomos, a taxa
C-cT+cTr+o +G+X-Z de imposto, o investimento autónomo, as exportações autónomas e a
e taxa de juro (ao nível inicialmente considerado).
CcTecTr+h +G+X-Z TO
ex Tm

º il [Esseeeaco rm nm De Er IS2

| Tas
0 | | >
Yi Yao Y e
it
IS1
Considerou-se inicialmente uma IS (181) e um ponto nessa IS: à taxa de juro
11 corresponde o rendimento Y1. Registou-se um aumento do investimento
autónomo (1, > 1, ), à mesma taxa de juro, mantendo constantes as demais 0
Da
variáveis estratégicas, situação que gerou um aumento do rendimento, ad

passando para Y2 (Y2>Y1). O novo ponto (Y2, 11) não pertence à primeira Y2 Yi Y
IS, mas a uma outra posicionada mais à direita. A deslocação foi paralela,
pois esta variável não afecta a inclinação da IS. Considerou-se uma IS inicial (1S1) e um ponto nessa IS: à taxa de juro ii
corresponde o rendimento Y1. Registou-se um aumento das importações autó-

148
nomas (Z, > Z, ), que, mantendo constantes as demais variáveis estratégicas Repare-se que de El para E2 registou-se uma diminuição da taxa de juro de
e à mesma taxa de juro, gerou uma diminuição do rendimento, passando mercado. No entanto, todas as variáveis estratégicas do modelo estão constantes.
para o nível Y2 (Y2<Y1). O novo ponto (Y2, it) não pertence à primeira IS,
Tanto El como E2 são pontos de equilíbrio do mercado de bens e serviços,
mas a uma outra posicionada mais à esquerda. A deslocação foi paralela,
Já que estão sobre a IS. Consideremos o ponto E3: é um ponto de desequilíbrio
pois as importações autónomas só alteram a ordenada na origem da IS.
em que se regista a mesma taxa de juro do que em E2 e o mesmo rendimento
Face às análises feitas anteriormente, vamos generalizar as conclusões para que em El. É um ponto que se situa na zona em que a procura é superior à
qualquer variação das variáveis estratégicas do modelo. oferta (D > Y), ou seja, regista-se um excesso de procura de bens e serviços.

A implementação de medidas de política expansionistas (aumentos dos gastos Consideremos, agora, o ponto E4: é um ponto de desequilíbrio em que se
públicos, ou das transferências autónomas, ou do investimento autónomo, ou das regista a mesma taxa de juro do que em El e o mesmo rendimento do ponto
exportações autónomas, ou diminuições da taxa de imposto, ou dos impostos autó- E2. É um ponto que se situa na zona em que a oferta é superior à procura
nomos, ou das importações autónomas) gera deslocações da IS para a direita, que (Y >D), ou seja, regista-se um excesso de oferta de bens e serviços.
são, regra geral, paralelas, excepto se a variável manobrada é a taxa de imposto.
Em conclusão, todos os pontos que se situarem à direita da IS representam
A implementação de medidas de política contraccionistas (diminuições dos gastos
pontos de desequilíbrio, caracterizados por excesso de oferta de bens e
públicos, ou das transferências autónomas, ou do investimento autónomo, ou das
serviços (ESB) e todos os pontos que se situarem à esquerda da IS representam
exportações autónomas, ou aumentos dos impostos autónomos, ou da taxa de imposto,
pontos de desequilíbrio, caracterizados por excesso de procura de bens e
ou das importações autónomas) gera deslocações da IS para a esquerda, que são,
serviços (EDB).
regra geral, paralelas, excepto se a variável manobrada é a taxa de imposto.
Graficamente:
A amplitude de deslocação da IS será medida pelo correspondente multipli-
cador da variável estratégica que deu origem a essa deslocação.

Para finalizar o estudo do mercado real falta analisar os pontos de desequilíbrio i ESB
no mercado de bens e serviços.

A função IS traduz os pares de valores rendimento, taxa de juro que equilibram


o mercado de bens e serviços. Todos os pontos que ficarem para a direita ou EDB
IS
para a esquerda dessa função são pontos de desequilíbrio, isto é, pontos onde
o rendimento não coincide com a procura agregada.

NY
Graficamente:

4.2 O mercado monetário: a função LM

421 O equilíbrio no mercado monetário: definição e equações


O)
No ponto 3 estudámos o mercado monetário. Estamos, pois, em condições
i para apresentar a forma estrutural do modelo que caracteriza o mercado
monetário. E a seguinte:
1
ip)
L=M/P Equação de equilíbrio

L=Lt+Ls Equação de definição


é)
Lt=kY Equação de comportamento

151
150
Ls=h-hi Equação de comportamento Resolvendo a equação em ordem à taxa de juro temos:

M x . 1 M h k
— Equação de comportamento

vz!
I=-— — + +
Pp h P

A variável objectivo deste modelo é o rendimento (Y) e só há uma variável em que os primeiros dois termos representam a ordenada na origem e o termo
estratégica que é a massa monetária (M), controlada pelo banco central associado ao rendimento é a inclinação ou declive. Repare-se que a ordenada
através da manobra dos instrumentos de controlo monetário. Os restantes na origem assume valores negativos, ao passo que a inclinação é positiva.
elementos que figuram na forma estrutural são parâmetros, inalteráveis no
Graficamente:
curto prazo e não controláveis pelo banco central.
PAN
A forma reduzida deste modelo é a seguinte: l LM
TT
mm

0 Lee o
É a expressão analítica da LM. A função LM é o lugar geométrico dos pares
- — e
IM ho
de —
pm Y
de valores rendimento, taxa de juro que equilibram o mercado monetário. h P h

Enquanto que na análise da função IS não foram recordados os multiplicadores


das variáveis estratégicas, uma vez que os mesmos já tinham sido deduzidos
no capítulo 2, o mesmo não se passa com a função LM. Vamos deduzir o
Vamos analisar a inclinação da LM em duas vertentes: os factores que afectam
único multiplicador que existe no mercado monetário (só há uma variável
a inclinação da LM e dedução gráfica desta mesma inclinação.
objectivo e uma variável estratégica, pelo que só há um multiplicador),
denominado multiplicador monetário ou multiplicador da massa monetária. Começando pela primeira análise:

O multiplicador monetário ou multiplicador da massa monetária mede as o k


Inclinação da LM = a
variações do rendimento quando a massa monetária varia de uma unidade
monetária,
Os factores que afectam a inclinação da LM são os seguintes:
Analiticamente:
e Parâmetro k
nr e dY 1
Multiplicador da massa monetária = — = E
Quanto maior for o valor do parâmetro k, maior é a inclinação da
LM, ou seja, mais próxima da vertical fica a LM. A relação é directa.
Assume valores superiores à unidade, pois o parâmetro k tem valores
e Parâmetro h
compreendidos entre zero e um.
Quanto maior for o parâmetro h, menor a inclinação da LM, ou seja,
mais próxima da horizontal. A relação é inversa.

Recorde-se que os neoclássicos não consideravam o motivo especula-


42.2 Determinação da inclinação da LM
ção na procura real de moeda, pelo que o parâmetro h será nulo.
A função LM, cuja expressão analítica foi determinada anteriormente, tem
Logo, a inclinação da LM passaria a ser infinita, ou seja, uma recta
inclinação positiva, pois quando a taxa de juro, por exemplo, sobe, mantendo vertical, ao nível do rendimento de equilíbrio (que, como sabemos, é

constante a massa monetária, o rendimento aumenta (relação directa). o de pleno emprego). Este aspecto liga-se com o facto da velocidade
de circulação da moeda ser constante e com a interpretação da equação
das trocas.

152
direita. A deslocação é paralela, pois a inclinação da LM não foi alterada Em conclusão, todos os pontos situados à direita da LM são pontos de dese-
(nem nunca será, no curto prazo, pois os elementos que a definem só podem quilíbrio caracterizados por excesso de procura real de moeda (EDM) e todos
ser alterados no longo prazo). os pontos situados à esquerda da LM são pontos de desequilíbrio
caracterizados por excesso de oferta real de moeda (ESM).
Em síntese, quando o banco central implementa medidas de política monetária
expansionistas (aumento da massa monetária através, ou da descida da taxa Graficamente:
de reservas legais, ou da taxa de redesconto, ou da realização de operações
de open market de compra), a LM sofre uma deslocação para a direita. ; —
ESM EM
4 — EDM
TT

Quando o banco central implementa medidas de política monetária contrac-


e. TT
cionistas (diminuição da massa monetária através, ou do aumento da taxa de
0) e >
reservas legais, ou da taxa de redesconto, ou da realização de operações de o
adia
open market de venda), a LM sofre uma deslocação para a esquerda.

Para terminar esta análise, falta fazer referência aos pontos de desequilíbrio
do mercado monetário.

Todos os pontos situados sobre a LM representam pontos em que a procura


real de moeda iguala a oferta real de moeda; os pontos à direita e à esquerda
da LM são pontos de desequilíbrio.
43 O equilíbrio do modelo

Os pontos El e E2 são pontos de equilíbrio no mercado monetário. Considere- Como se pode constatar da análise feita nos pontos anteriores, com a
se o ponto E3: é um ponto de desequilíbrio, em que a taxa de juro corresponde consideração exclusiva da IS ou da LM não se pode determinar o ponto de
à do ponto El, mas o rendimento é o do ponto E2. Está situado na zona em equilíbrio da economia, pois qualquer uma destas funções apresenta duas
que a procura real de moeda é superior à oferta real de moeda (está à direita variáveis: o rendimento e a taxa de juro de mercado. Aliás, a taxa de juro de
da recta M/P), ou seja, é um ponto caracterizado por excesso de procura real mercado é a variável que faz a ligação entre os mercados real e monetário,
de moeda. Considere-se o ponto E4: é um ponto de desequilíbrio, em que a pois aparece, no mercado real, como variável explicativa do investimento e,
taxa de juro corresponde à do ponto E2 e o rendimento é igual ao do ponto no mercado monetário, como a variável explicativa da procura real de moeda
El. Está situado na zona em que a oferta real de moeda é superior à procura por motivo especulação.
real de moeda (está à esquerda da recta M/P), ou seja, é um ponto caracterizado
Deste modo, e tal como já tínhamos referido nas hipóteses do modelo
por excesso de oferta real de moeda.
keynesiano, vamos fazer a primeira compatibilização entre os mercados real
e monetário. Para isso, vamos considerar as seguintes hipóteses:
M/P
* Os preços estão constantes ao nível P.

* As empresas estão dispostas a oferecer qualquer quantidade de


produto a este nível de preços.

Vamos formalizar o modelo a preços constantes ou modelo IS-LM. Tal como


referimos em capítulos anteriores, a forma estrutural considerada é uma forma
estrutural possível, já que se se considerarem outras equações de compor-
tamento, nomeadamente para as variáveis do mercado real, teremos outras
formas estruturais.

Y=D Equação de equilíbrio

D=C+HI+G+X-Z Equação de definição

157
C=C+cYd Equação de comportamento Repare-se que nesta equação só há parâmetros e variáveis estratégicas, pelo
que se consegue determinar o par de valores rendimento e taxa de juro que
Yd=Y-T+Tr Equação de definição
equilibram, a preços constantes, os mercados real e monetário.
T=T+tY Equação de comportamento
Graficamente:
Tr= Tr Equação de comportamento
I=]-ei Equação de comportamento LM
G=G Equação de comportamento

X=X Equação de comportamento

Z=Z+mY Equação de comportamento

L=M/P Equação de equilíbrio

W
o
L=It+Ls Equação de definição Ye Y

Lt=kY Equação de comportamento


Há uma e uma só taxa de juro (ie) para a qual os rendimentos nos mercados
Ls=h-hi Equação de comportamento real (Yr) e monetário (Ym) coincidem (Yr = Ym = Ye), mantendo constantes

MM Equação de comportamento
os gastos públicos, as transferências autónomas, os impostos autónomos, a
taxa de imposto, o investimento autónomo, as exportações autónomas, as
importações autónomas e a massa monetária.
À correspondente forma reduzida é a seguinte:
As variáveis objectivo deste modelo são o rendimento (Y), o saldo orçamental
C-cT+cTr+I+G+X-Z e . (SO) e o saldo da balança corrente (BC).
IS Y= - 1
l-c(A-D+m l-c(dl-D+m
As variáveis estratégicas deste modelo são: variáveis
de política orçamental
(G, Tr, Tet), variáveis controladas pelas empresas (1, X eZ) e a variável de
LM y=iM hoh, política monetária (M, controlada pelo banco central através da manobra
k P k «k
dos instrumentos de controlo monetário: taxa de reservas legais, taxa de
Resolvendo a função LM em ordem à taxa de juro e substituindo a taxa de redesconto e operações de open market).
juro na função IS temos:
O ponto de equilíbrio é único (unicidade do ponto de equilíbrio) para as
variáveis estratégicas que estão constantes. Deste modo, se uma destas
C-cT+cTr+I+G+X-Z-e|-— — + variáveis estratégicas for alterada, o ponto de equilíbrio sofre uma alteração.
Y=
I-cd-D+m Com a consideração, em simultâneo, dos equilíbrios nos mercados real e
monetário, as expressões analíticas dos multiplicadores das variáveis estra-
Y[l-cd-D+m|=C-cT+cTr+1I4+G+X-Z+— =... Y tégicas nas diferentes variáveis objectivo alteraram-se, muito embora as
considerações que tinham sido tecidas anteriormente se mantenham válidas,
nomeadamente quanto ao valor dos multiplicadores.
ek =0m — + > emM eh
Yil-cl-D+m+— |=C-cT+cTr+I+G+X-Z+—
= - —
h h P h Vamos, pois, recalcular esses multiplicadores.

Lo
yo CreTacTrrl+G+X-Z
c e ch
h M |. h
Ie onam+ SE Le (lg tms SE P Leg +m+ SE
2) 1 1
A) Multiplicadores no rendimento A2) Multiplicador das transferências autónomas

Al) Multiplicador dos gastos públicos Mede a variação do rendimento quando as transferências autónomas variam
de uma unidade monetária, mantendo constantes G, T, LLX,Ze M.
Mede a variação do rendimento quando os gastos públicos variam de uma
unidade monetária, mantendo constantes Tr, T,LLX,ZeM. oY c
ek
l-c(d-D+m+ —
h
06 -c ( " t) +m+ ek
Assume valores positivos e é obtido pelo produto do multiplicador de base
pela propensão marginal a consumir.
Este multiplicador é o denominado multiplicador de base das variáveis do
A3) Multiplicador dos impostos autónomos
mercado real do modelo IS-LM (ou também designado por multiplicador de
base da política orçamental), ou seja, é a partir dele que se obtêm os outros Mede a variação do rendimento quando os impostos autónomos variam de
multiplicadores no rendimento para as variáveis do mercado real. Assume
uma unidade monetária, mantendo constantes G, Tr, LtLX,Ze M.
valores superiores à unidade, apesar de apresentar valores inferiores ao
correspondente multiplicador referente somente ao mercado real. Com efeito: Yo c

1 l ST l-c(d-D+m+ “e
o!
l-cd-D+m
I-c(dl-0)0+m+ se
Assume valores negativos e é o simétrico do multiplicador das transferências
autónomas. E obtido pelo produto do multiplicador de base pelo simétrico
O multiplicador de base das variáveis do mercado real do modelo IS-LM da propensão marginal a consumir.
assume valores mais baixos que o correspondente multiplicador referente
somente ao mercado real, pois foram introduzidos filtros resultantes da A4) Multiplicador da taxa de imposto
conjugação dos equilíbrios nos mercados real e monetário. Esses filtros são
a inclinação da LM, dada por k/h e a propensão marginal a investir (e), que é Mede a variação do rendimento quando a taxa de imposto varia de um ponto
o parâmetro da função investimento que se encontra associado à taxa de juro
de mercado. Assim, a variação do rendimento deriva do facto de, por exemplo,
Y cY
um aumento dos gastos públicos, ceteris paribus, induzir uma diminuição
ek
do investimento. Com efeito, um aumento dos gastos públicos provoca um lI-cAl-D+m+ —
aumento do rendimento (medido pelo multiplicador só do mercado real) que, h
por sua vez, induz um aumento da procura real de moeda por motivos Assume valores negativos e é obtido pelo produto do multiplicador de base
transacção e precaução. Como a oferta real de moeda não se altera, então a pelo simétrico da propensão marginal a consumir e pelo rendimento.
taxa de juro terá de aumentar, para que a procura real de moeda por motivo
especulação diminua e compense o aumento da procura real de moeda por AS) Multiplicador do investimento autónomo
motivos transacção e precaução, restabelecendo-se o equilíbrio no mercado
Mede a variação do rendimento quando o investimento autónomo varia de
monetário. Contudo, a subida da taxa de juro de mercado vai induzir uma
uma unidade monetária, mantendo constantes Tr, T, LO, X,Ze M.
diminuição do investimento e, como tal, do rendimento de equilíbrio, pelo
que o multiplicador de base do mercado real do modelo IS-LM apresenta oY l
valores mais baixos (mas superiores à unidade), comparativamente ao
respectivo multiplicador só do mercado real. Leo(l-) ama SE
8!

E o multiplicador de base das variáveis do mercado real do modelo IS-LM e,


como tal, assume valores superiores à unidade.

160 161
A6) Multiplicador das exportações autónomas Tal como no caso do multiplicador de base das variáveis do mercado real
também este multiplicador assume valores mais baixos que o correspondente
Mede a variação do rendimento quando as exportações autónomas variam multiplicador do mercado monetário, pois foram introduzidos filtros
de uma unidade monetária, mantendo constantes Tr, LtG,LZeM. resultantes da conjugação dos equilíbrios nos mercados real e monetário.
Esses filtros são a inclinação da IS (em módulo, pois esta é negativa), dada
oY l
por [| -c(1 —t) + m]/e, e o parâmetro da procura real de moeda por motivo
ek
l-c(d-D+m+ E especulação que está associado à taxa de juro (h). Deste modo, quando se
) regista, por exemplo, um aumento da massa monetária (através, ou da
Êo multiplicador de base das variáveis do mercado real do modelo 1S-LM, diminuição da taxa de reservas legais, ou da diminuição da taxa de redesconto,
assumindo valores superiores à unidade. ou da realização de operações de open market de compra) o rendimento do
mercado monetário aumenta, induzindo uma diminuição na taxa de juro,
AT) Multiplicador das importações autónomas que, por seu turno vai gerar um aumento do investimento no mercado real.

Mede a variação do rendimento quando as importações autónomas variam


B) Multiplicadores no saldo orçamental
de uma unidade monetária, mantendo constantes Tr, TtG,L,XeM.
O saldo orçamental mede a diferença entre as receitas e as despesas do governo.
Yo ]

zo É—
k S0O=T-G-Tr
oz I-cd-)Am+
Para as equações de comportamento do modelo que suporta esta análise temos:
Assume valores negativos e é o simétrico do multiplicador de base. Deste
modo, assume valores inferiores a (— 1). SO=T+tY-G-Tr
Como foi referido no capítulo 2, não são somente as alterações da variáveis
A8) Multiplicador da massa monetária
de política orçamental que afectam o saldo orçamental: as variações nas
Mede a variação do rendimento quando a massa monetária varia de uma restantes variáveis estratégicas também o fazem, excepto se estivermos num
modelo em que os gastos públicos, as transferências e os impostos sejam
unidade monetária, mantendo constantes Tr, T,L,G,LX e Z.
todos autónomos.

6Y h B1) Multiplicador dos gastos públicos no saldo orçamental


Mo l-cd-D+m+
ek
E

É o multiplicador monetário do modelo IS-LM; assume valores positivos e


superiores à unidade. Observe-se que este multiplicador é inferior ao corres- 980 oY t
e vt -l= o
pondente multiplicador monetário só do mercado monetário. Com efeito,
L-c(l-D+ma So
n
Assume valores negativos e entre (— 1) e zero, como já anteriormente tínhamos
h l
h deduzido. Assim,
L-e(l-0+m+ SÉ [-e(l-D+m) O +k

Iee(l km ek
SE
L t
=. 1
1 !
k
«d=-|1-
3 k
Leon am+ SS Lre(l-0+ma + e Leg tm+ SE
[-cd-D+m] Dk o y !
e

162 163
Na fracção que se encontra entre parêntesis rectos observa-se que o numerador B4) Multiplicador da taxa de imposto no saldo orçamental
é inferior ao denominador e, como tal, a fracção assume valores entre zero e
Mede a variação do saldo orçamental quando a taxa de imposto varia de um
um. Resta saber se a fracção assume valores positivos. Se colocarmos em
evidência o termo (1 — t) temos, ponto percentual, mantendo constantes G, Tr,T,1,X,Z e M. Assume valores
positivos.
L-e(-Dam+ SE dt -0) ma Sé
o! y
ôs I-cim+
Lee -gtm+ SE Leg tm+ SE
n ot ot
8! -c(l-D+r+m+ n l-cA-D+m+ ce
)
Como se pode observar, quer numerador, quer denominador assumem valores
positivos. Como na análise anterior já se concluiu que a fracção apresenta B5) Multiplicador do investimento autónomo no saldo orçamental
um numerador inferior ao denominador e sabendo que a fracção é negativa,
então demonstra-se que o multiplicador dos gastos públicos no saldo Mede a variação do saldo orçamental quando o investimento autónomo varia
orçamental assume valores entre (- 1) e zero. de uma unidade monetária, mantendo constantes Tr, T,t,G,X, ZeM.

B2) Multiplicador das transferências autónomas no saldo orçamental

Mede a variação do saldo orçamental quando as transferências autónomas l-cd-D+m+ e


n
vartam de uma unidade monetária, mantendo constantes G, T, LLX,ZeM,
Assume valores positivos.

So SY tc cn B6) Multiplicador das exportações autónomas no saldo orçamental


NS -J=-

ôTr dir l-cd-D+m+ e Leg m+ SE


Mede a variação do saldo orçamental quando as exportações autónomas
variam de uma unidade monetária, mantendo constantes Tr, T, L G, LZe M.
Assume valores negativos e entre (—- 1) e zero. Como se pode observar, nume-
rador e denominador assumem valores positivos, pelo que o multiplicador é
negativo. Paralelamente, o numerador é inferior ao denominador.

B3) Multiplicador dos impostos autónomos no saldo orçamental


Assume valores positivos.
Mede a variação do saldo orçamental quando os impostos autónomos variam
de uma unidade monetária, mantendo constantes G, TrtLxXx,Ze M. B7) Multiplicador das importações autónomas no saldo orçamental

l-c+m+ —— Mede a variação do saldo orçamental quando as importações autónomas


SO 48 nao (e = - h variam de uma unidade monetária, mantendo constantes Tr JT, LO, LXe M.

ot oT L-e(1-D+m+ Sé Leg ms SE
o!

Assume valores positivos e entre zero e um, como anteriormente tínhamos L-c(1-)+m+ SE
deduzido. Observe-se, igualmente, que é o simétrico do multiplicador das
transferências autónomas no saldo orçamental.
Assume valores negativos e simétricos dos valores registados pelo
multiplicador das exportações autónomas no saldo orçamental.

164
B8) Multiplicador da massa monetária no saldo orçamental cv ek
SBC E SY m l-c(d-D+ np
Mede a variação do saldo orçamental quando a massa monetária varia de
Le (l-Dams SE Le(l-04+m+ SS
uma unidade monetária, mantendo constantes Tr, T,t,G,LXe Z. q

E um multiplicador que assume valores positivos e entre zero e um, tal como
YO anteriormente já tínhamos referido.
M sM ek
l-c(l-D+m+ E
q] C2) Multiplicador das importações autónomas no saldo da balança corrente
Assume valores positivos, o que significa que a implementação de medidas
Mede a variação do saldo da balança corrente quando as importações autó-
de política monetária expansionistas (aumento da massa monetária através,
nomas variam de uma unidade monetária, mantendo constantes Tr, T,t,G,LX eM.
ou de uma diminuição da taxa de reservas legais, ou de uma diminuição da
taxa de redesconto, ou da realização de operações de open market de compra)
ek
vai gerar melhorias do saldo orçamental, De igual modo, a implementação ôBC —-8Y m I-c(d-)+
.
o =dlem = =-1+ E
de medidas de política monetária contraccionistas (diminuição da massa
7 5Z Lre(l-Dam+ do Ire(l-Dama k
monetária através, ou de um aumento da taxa de reservas legais, ou de um
1 q
aumento da taxa de redesconto, ou da realização de operações de open market
de venda) vai gerar deteriorações do saldo orçamental. É um multiplicador que assume valores negativos e entre (- 1) e zero, tal
como foi deduzido anteriormente. Além do mais, assume valores que são
C) Multiplicadores no saldo da balança corrente ou multiplicadores simétricos dos valores assumidos pelo multiplicador das exportações
do comércio externo autónomas no saldo da balança corrente.
O saldo da balança corrente tem a seguinte expressão analítica, para as C3) Multiplicadores das variáveis de política orçamental, da variável de polí-
equações de comportamento do modelo considerado: tica monetária e do investimento autónomo no saldo da balança corrente
BC=X-Z-mY
Cada multiplicador mede a variação do saldo da balança corrente resultante
da variação de uma unidade na variável estratégica escolhida, mantendo as
Como foi referido no capítulo 2, não são somente as variações das exportações
autónomas e das importações autónomas que afectam o saldo da balança demais variáveis estratégicas constantes.
corrente; as alterações nas restantes variáveis estratégicas também afectam Genericamente temos:
o saldo da balança corrente, excepto se estivermos num modelo em que as
C oY
importações são todas autónomas. Multiplicador da variável estratégica ALFA = ———— =-m ———
0ALFA SALFA
Deste modo, vamos deduzir as expressões analíticas dos multiplicadores das
duas variáveis estratégicas que aparecem explicitamente no saldo da balança em que ALFA pode ser qualquer uma das seguintes variáveis estratégicas
corrente; para as restantes basta uma fórmula que abranja todas as demais (uma de cada vez): Tr, T,tG,LouM.
variáveis estratégicas.
Assim, a implementação de medidas de política orçamental expansionistas
C1) Multiplicador das exportações autónomas no saldo da balança corrente (aumento dos gastos públicos, ou das transferências autónomas, ou dimi-
nuição dos impostos autónomos, ou da taxa de imposto), a implementação
Mede a variação do saldo da balança corrente quando as exportações autó- de medidas de política monetária expansionistas (aumento da massa monetária
nomas variam de uma unidade monetária, mantendo constantes Tr, T,t,G,LZe M. através, ou de uma diminuição da taxa de reservas legais, ou uma diminuição
da taxa de redesconto, ou da realização de operações de open market de
compra), ou o aumento do investimento autónomo geram uma deterioração
do saldo da balança corrente. De igual modo, a implementação de medidas

166 167
de política orçamental ou de política monetária contraccionistas, bem como fizemos anteriormente, vamos agrupar as variáveis estratégicas em três
a diminuição do investimento autónomo geram uma melhoria do saldo da categorias: variáveis de política orçamental, variáveis controladas pelas
balança corrente. empresas e a variável de política monetária.

Tal como foi salientado anteriormente, também neste modelo a análise dos
valores assumidos pelos multiplicadores nas três variáveis objectivo, permite
concluir que se regista uma incompatibilidade entre as variáveis objectivo
rendimento e saldo orçamental e entre as variáveis objectivo rendimento e Consideremos que os gastos públicos aumentam (medida de política orça-
saldo da balança corrente, quando são manobradas, uma de cada vez, as mental expansionista), ceteris paribus, e vamos estudar o impacto sobre o
variáveis de política orçamental. Assim, a implementação de medidas de ponto de equilíbrio, com o correspondente processo de ajustamento.
política orçamental expansionistas, vai gerar uma deterioração do saldo
orçamental e uma deterioração do saldo da balança corrente. Por outro lado,
A IS2
se o objectivo do governo é melhorar o saldo orçamental, então deverá IS] LM
implementar uma política orçamental contraccionista (com o consequente o
agravamento, numa análise de curto prazo, da taxa de desemprego), que irá 1
É]
4
gerar, também, uma melhoria do saldo da balança corrente.
H poo=="">a
jm mm a uam ua ma mam a am a a mm DM a mm a ma mm t mm mm ma ma

Já a intervenção do banco central não gera qualquer incompatibilidade entre


0 ! >
as variáveis objectivo rendimento e saldo orçamental: a implementação de
medidas de política monetária expansionistas (contraccionistas) gera uma Yi y2 Yo Y
melhoria (deterioração) do saldo orçamental. No entanto, já se regista uma
Inicialmente os mercados real e monetário estão em equilíbrio no ponto (Y1,
incompatibilidade entre as variáveis objectivo rendimento e saldo da balança
il), ou seja, há uma e uma só taxa de juro (11), para a qual os rendimentos
corrente: uma política monetária expansionista (contraccionista) gera uma
dos mercados real e monetário coincidem (Yr = Ym = Y1), mantendo
deterioração (melhoria) do saldo da balança corrente.
constantes todas as variáveis estratégicas do modelo.

Os gastos públicos aumentam, mantendo constantes as transferências autó-


nomas, os impostos autónomos, a taxa de imposto, o investimento autónomo,
4.4 Análise das alterações do ponto de equilíbrio as exportações autónomas, as importações autónomas, a massa monetária e
a taxa de juro (ao nível 11). Como consequência, o rendimento do mercado
Antes de estudarmos as alterações ao ponto de equilíbrio, vamos analisar as real aumenta, passando a ser Yrl, mas o rendimento do mercado monetário
situações de desequilíbrio de mercado e os correspondentes processos de não sofre qualquer alteração (Ym = Y1).
ajustamento.
Gera-se uma situação de desequilíbrio, caracterizada pelo facto do rendimento
Sempre que, para uma dada taxa de juro diferente da taxa de juro de equilíbrio, no mercado real ser superior ao rendimento do mercado monetário (Yrl >
se verifica que o rendimento no mercado real excede o rendimento no mercado Ym). O processo de ajustamento é a subida da taxa de juro.
monetário, então o processo de ajustamento traduz-se na subida da taxa de
Com o aumento da taxa de juro, no mercado real, o investimento desce e,
juro de mercado até que o equilíbrio seja retomado.
como é uma das componente da procura agregada, esta diminui, gerando
Sempre que, para uma dada taxa de juro diferente da taxa de juro de equilíbrio, uma diminuição do rendimento neste mercado, pois, em equilíbrio, o rendi-
se verifica que o rendimento no mercado monetário excede o rendimento no mento coincide com a procura agregada.
mercado real, então o processo de ajustamento traduz-se na descida da taxa Com o aumento da taxa de juro, no mercado monetário, a procura real de
de juro de mercado até que o equilíbrio seja retomado. moeda por motivo especulação desce e, como Lt + Ls = MP e a oferta real
de moeda não foi alterada, então a procura real de moeda por motivos
Vamos, agora, estudar as alterações ao ponto de equilíbrio. São conseguidas
transacção e precaução tem de subir, para repor a igualdade. Este aumento é
com a manobra, uma de cada vez, das variáveis estratégicas. Tal como já
conseguido à custa do aumento do rendimento no mercado monetário.

168 169
Como facilmente se observa, o processo é convergente: o rendimento mais que vai originar um aumento da procura real de moeda por motivos transacção
baixo (o rendimento do mercado monetário) aumenta e o rendimento mais e precaução, via aumento do rendimento deste mercado.
elevado (o rendimento do mercado real) desce. O processo de ajustamento
Como se observa, o processo é convergente e só pára quando o excesso for
só termina quando o excesso for nulo e se tiver chegado a uma taxa de juro
eliminado e se tiver chegado ao novo ponto de equilíbrio (Y2, 12), registando-
para a qual os rendimentos nos dois mercados voltem a coincidir.
-se um aumento do rendimento de equilíbrio, bem como da taxa de juro de mercado.
O novo ponto de equilíbrio tem coordenadas (Y2,12) e observa-se que houve um
aumento do rendimento de equilíbrio e um aumento da taxa de juro de equilíbrio. 1 À IS2

Por último, importa salientar que a variação do rendimento é medida pelo


correspondente multiplicador do modelo IS-LM, que é o denominado multi-
plicador de política orçamental (multiplicador de base do modelo IS-LM):

oY l

4
os e K
o I -€ (d a tb) + mA . Y1 Y2 Yril Y
!!
Para finalizar, a variação do rendimento de equilíbrio é medida pelo multi-
A amplitude de deslocação da IS (dada por AY =Yrl -Y1), após a variação
plicador do investimento autónomo do modelo IS-LM, que assume valores
dos gastos públicos, ceteris paribus, é medida pelo multiplicador dos gastos
inferiores ao correspondente multiplicador só do mercado real:
públicos no mercado real, ou seja:
oY l
oY l
Amplitude de deslocação da IS = == = 51 l-c(d-O0+m+ ek
86 d-cd-D+m
h

B) Alterações do ponto de equilíbrio, resultantes de variações de uma Já a amplitude de deslocação da IS é medida pelo correspondente multi-
variável controlada pelas empresas (Lou X ou Z). plicador do investimento autónomo, referente somente ao mercado real:
º Yo l
Vamos considerar um ponto de equilíbrio inicial: à taxa de juro il, os Amplitude de deslocação da IS = 5º 1-cU-D+m
rendimentos dos mercados real e monetário coincidem (e são Y 1), mantendo
constantes todas as variáveis estratégicas do modelo.
C) Alterações do ponto de equilíbrio, resultantes de variações da variável
Vamos considerar que o investimento autónomo aumentou, mantendo-se de política monetária (M ).
constantes os gastos públicos, as transferências autónomas, os impostos
autónomos, a taxa de imposto, as exportações autónomas, as importações Temos inicialmente um ponto de equilíbrio (Y1, il): à taxa de juro 11, os
autónomas, a massa monetária e a taxa de juro, ao nível inicial (11). Gera-se rendimentos nos mercados real e monetário coincidem (e são designados
um aumento do rendimento no mercado real, passando a ser Yrl, apesar do por Y1), mantendo constantes todas as variáveis estratégicas do modelo.
rendimento no mercado monetário permanecer inalterável (Ym =Y1). Assim,
Vamos considerar que a autoridade monetária, ou desceu a taxa de reservas
o rendimento do mercado real é superior ao rendimento do mercado monetário
(Yrl > Ym); é uma situação de desequilíbrio caracterizada por um excesso legais, ou a taxa de redesconto, ou efectuou operações de open market de
compra, que geraram um aumento da massa monetária, mantendo constantes
de rendimento no mercado real.
os gastos públicos, as transferências autónomas, os impostos autónomos, a
O correspondente processo de ajustamento é a subida da taxa de juro, que taxa de imposto, o investimento autónomo, as exportações autónomas, as
desencadeia dois movimentos: no mercado real, esta subida da taxa de juro importações autónomas e a taxa de juro, ao nível inicialmente considerado
gera uma descida do investimento e, como tal, da procura agregada e do (11). O aumento da massa monetária, ceteris paribus, tem como consequência
rendimento deste mercado; no mercado monetário, esta subida da taxa de um aumento do rendimento no mercado monetário (Yml > Y1), mas o
Juro ocasiona uma descida da procura real de moeda por motivo especulação, rendimento do mercado real não foi alterado (Yr = Y 1). Temos uma situação

170
de desequilíbrio, em que o rendimento no mercado monetário é superior ao política contraccionista), rendimento e taxa de juro diminuem. A manobra
do mercado real (Yml > Yr); o processo de ajustamento é a descida da taxa da variável que afecta a LM gera alterações, em sentido oposto, no rendimento
de juro. e na taxa de juro: se a LM se desloca para a direita (devido a uma política
monetária expansionista), o rendimento aumenta e a taxa de juro diminui; se
A descida da taxa de juro vai ocasionar dois movimentos em simultâneo: no a LM se desloca para a esquerda (devido a uma política monetária
mercado real, gera uma subida do investimento, que, por seu turno, vai
contraccionista), o rendimento desce e a taxa de juro sobe.
ocasionar um aumento da procura agregada e, como tal, do rendimento deste
mercado; no mercado monetário, a descida da taxa de juro vai gerar um Por outras palavras, a implementação de medidas de política orçamental
aumento da procura real de moeda por motivo especulação levando a que a expansionistas (aumento dos gastos públicos, ou das transferências autó-
procura real de moeda por motivos transacção e precaução tenha de diminuir nomas, ou diminuição da taxa de imposto, ou dos impostos autónomos) ou a
através de uma diminuição do rendimento neste mercado. alteração das variáveis controladas pelas empresas, numa óptica expansionista
(aumento do investimento autónomo, ou das exportações autónomas, ou
O processo de ajustamento só pára quando se chega ao novo ponto de diminuição das importações autónomas), geram um aumento do rendimento
equilíbrio de coordenadas (Y2, 12). Repare-se que o rendimento de equilíbrio de equilíbrio e da taxa de juro de equilíbrio. A implementação de medidas de
aumentou, mas a taxa de juro de equilíbrio desceu.
política orçamental contraccionistas (diminuição dos gastos públicos, ou das
N LMiI transferências autónomas, ou aumento da taxa de imposto, ou dos impostos
autónomos) ou a manobra, numa óptica contraccionista, das variáveis
LM2 controladas pelas empresas (diminuição do investimento autónomo, ou das
exportações autónomas, ou aumento das importações autónomas) gera uma
diminuição do rendimento de equilíbrio e da taxa de juro de equilíbrio.

A implementação de medidas de política monetária expansionistas (através


da descida da taxa de reservas legais, ou da taxa de redesconto, ou da
yo,
pd
realização de operações de open market de compra) gera um aumento do
ya Y2 Yml Y rendimento de equilíbrio e uma diminuição da taxa de juro de equilíbrio; a
implementação de medidas de política monetária contraccionistas (através
A variação do rendimento de equilíbrio é medida pelo multiplicador da massa do aumento da taxa de reservas legais, ou da taxa de redesconto, ou da
monetária do modelo IS-LM: realização de operações de open market de venda) gera uma diminuição do
e rendimento de equilíbrio e um aumento da taxa de juro de equilíbrio.
5Y h
8M D) Combinação de políticas económicas
I-ed-vam+ SÉ
h
A análise anterior tinha como pressuposto que somente uma variável estra-
A amplitude de deslocação da LM (dada por A Y = Yml-Y1) é medida pelo tégica seria alterada. Contudo, na prática, governo e banco central procedem
correspondente multiplicador do mercado monetário: a uma coordenação de políticas económicas por forma a atingir os objectivos
macroeconómicos definidos.
dY l
Amplitude de deslocação da LM = E
Esta actuação conjunta justifica-se, dado que o impacto da implementação
de medidas de política orçamental e de medidas de política monetária é
Tal como foi anteriormente salientado, o multiplicador monetário do modelo
diferente, nomeadamente na taxa de juro e no valor do saldo orçamental.
IS-LM é inferior ao multiplicador monetário do mercado monetário.
Com efeito, a implementação de medidas de política orçamental, por exemplo,
Em conclusão, a manobra de variáveis que afectam a IS gera alterações, no expansionistas gera uma subida da taxa de juro de equilíbrio, com a
mesmo sentido, da taxa de juro e do rendimento de equilíbrio: se a IS se subsequente diminuição do investimento e gera, igualmente, uma deterioração
desloca para a direita (devido a uma política expansionista), rendimento e do saldo orçamental. Por seu turno, a implementação de medidas de política
taxa de juro aumentam; se a IS se desloca para a esquerda (devido a uma monetária expansionistas gera uma diminuição da taxa de juro de equilíbrio,

Nm
com efeitos positivos na variação do investimento e gera, também, uma A LM LM2 Amplitude de deslocação
melhoria do saldo orçamental. da IS = Amplitude de
deslocação da LM
Vamos considerar o seguinte exemplo: o governo aumenta os gastos públicos
e, em simultâneo, o banco central diminui a taxa de reservas legais, por p=]

forma a aumentar a massa monetária. Temos, em simultâneo, uma política


orçamental expansionista e uma política monetária expansionista. Como tal, O

W
quer a IS, quer a LM vão sofrer deslocações (paralelas) para a direita.
YI Y2 Y
O efeito final sobre o rendimento é óbvio: se ambas as políticas económicas
são expansionistas, o rendimento vai aumentar e, consequentemente, a taxa
Reportando-nos a este terceiro gráfico, estamos em presença duma política econó-
! Não esquecer que as aná- de desemprego diminui !. A questão que se coloca é saber qual o efeito final
mica de acomodação. Uma política económica de acomodação consiste na inter-
Hises, tal como Keynes referiu,
sobre a taxa de juro de equilíbrio, uma vez que a implementação de políticas
são de curto prazo, pelo que venção do banco central ou do governo (embora esta última situação não seja
se podem tirar estas con- orçamentais expansionistas geram um aumento da taxa de juro e a imple-
clusões sobre a variação da
muito usual), tendo por objectivo manter inalterada a taxa de juro de equilíbrio (e,
mentação de políticas monetárias expansionistas geram uma diminuição da
taxa de desemprego. consequentemente, o investimento). Normalmente, é o banco central que, após
taxa de juro. a intervenção do governo, vai conduzir uma política monetária de acomodação,
A resposta a esta questão está dependente da diferença entre as amplitudes política esta que é, regra geral, concertada entre as duas autoridades económicas.
de deslocação das duas funções: se a amplitude de deslocação da IS for
superior à amplitude de deslocação da LM, o efeito final é o aumento da taxa
de juro; se a amplitude de deslocação da IS for inferior à amplitude de
deslocação da LM, o efeito final é a diminuição da taxa de juro; e se as 4.5 A eficácia das políticas orçamental e monetária
amplitudes de deslocação das duas funções forem iguais, a taxa de juro de
Em primeiro lugar vai-se definir o conceito de política económica eficaz e os
equilíbrio não se altera.
casos particulares de eficácia (totalmente eficaz e eficácia nula). Uma política
Graficamente: económica diz-se eficaz se gera alterações do rendimento. Uma política econó-
mica diz-se totalmente eficaz ou com eficácia máxima se só gera alterações
A LM! LM2 Amplitude de deslocação do rendimento (a taxa de juro não se altera). Por fim, uma política económica
i da IS > Amplitude de diz-se ineficaz ou com eficácia nula se não gera alterações do rendimento.
deslocação da LM
A eficácia das políticas orçamental e monetária prende-se com a configuração
i2
il da LM e com a localização do ponto de equilíbrio IS-LM. Até agora só
considerámos o caso mais usual da LM, isto é, LM positivamente inclinada
(modelo de Hicks e Hansen). No entanto, ela assume duas posições extremas:
b) Sp
horizontal, no chamado caso keynesiano ou armadilha da liquidez e vertical,
Yi Y2 Y no denominado caso neoclássico e monetarista.

A) Caso keynesiano ou armadilha da liquidez


A LM1 LM2 Amplitude de deslocação
Keynes considerava que os agentes económicos procuravam moeda, em
i da IS < Amplitude de
termos reais, por três motivos: transacção, precaução e especulação. No
deslocação da LM
entanto, em períodos de forte recessão, em que o rendimento estava muito
il afastado do pleno emprego (elevadas taxas de desemprego), a taxa de juro
i2 descia para níveis muito baixos e os especuladores não tinham qualquer
0 interesse em especular. Além do mais, a intervenção do banco central, via
>
medidas de política monetária, não surtia qualquer efeito, pois os agentes
económicos não tinham interesse nem em investir, nem em especular.

174 175
Nestas circunstâncias o parâmetro h da procura real de moeda por motivo vai gerar uma deslocação da IS para a direita. Como consequência, o
especulação tendia para infinito, ou seja, a procura real de moeda para rendimento de equilíbrio não se altera; só a taxa de juro se altera, aumentando.
especulação era perfeitamente elástica face a variações da taxa de juro: a A política orçamental é, pois, ineficaz.
LM era horizontal. A economia encontrava-se no denominado caso
Estamos em presença do chamado efeito crowding out. O efeito crowding
keynesiano puro ou armadilha da liquidez (liguidity trap).
out diz que se verifica uma troca entre as esferas pública e privada: quanto
4N i PAN maior a intervenção do governo (através de políticas orçamentais expan-
i sionistas), menor a intervenção das empresas privadas (regista-se uma dimi-
IS1 IS2 IS
nuição do Investimento).

il Mm | LMI = LM2 Consideremos, por exemplo, que os gastos públicos aumentam, mantendo

(0)
NOK
i
1
1
!
ul

> (O)
q
i
, a
constantes as demais variáveis estratégicas do modelo. Tal facto gera uma
deslocação da IS para a direita, fazendo com que a taxa de juro aumente,
mas o rendimento permanece inalterado. Estamos perante um efeito crowding
Yi Y2 Y Y1=Y2 Y
out total? Em equilíbrio, verifica-se uma igualdade entre rendimento € 2 Mais à frente iremos analisar
Política orçamental totalmente eficaz Política monetária ineficaz despesa, ou seja, Y=C+I+G+X-Z. o efeito crowding out parcial.

A implementação de medidas de política orçamental, por exemplo, expan- Os gastos públicos aumentam, ceteris paribus, e o rendimento de equilíbrio
sionistas, ceteris paribus, geram uma deslocação da IS para a direita. Como não se altera. Analisando as componentes da procura agregada verifica-se
consequência, o rendimento de equilíbrio aumenta, mas a taxa de juro não se que as exportações não se alteram, as importações e o consumo privado não
altera, como se pode observar no gráfico. A política orçamental é totalmente se alteraram (porque o rendimento não variou). Logo, ficamos com uma
eficaz. Repare-se que esta análise vem ao encontro das hipóteses do modelo desigualdade: no primeiro membro o rendimento não se alterou e no segundo
keynesiano que preconizam a forte intervenção do governo, particularmente membro só os gastos públicos aumentaram. Para que se restabeleça a igual-
em períodos de crise e como impulsionador do crescimento económico. dade, o investimento terá de descer tanto quanto o aumento dos gastos
públicos, situação que ocorre devido ao aumento da taxa dejuro de mercado:
A implementação de medidas de política monetária, por exemplo, expan- é a troca entre as esferas pública e privada.
sionistas, ceteris paribus, não surtem qualquer efeito. O objectivo que norteia
a intervenção da autoridade monetária, por exemplo, diminuindo a taxa de Efeito crowding out total: IA Gl=IA TI
reservas legais, ou a taxa de redesconto é possibilitar aos bancos comerciais
Por outro lado, quando são implementadas medidas de política monetária,
a concessão de mais crédito. Contudo, os agentes económicos não estão
por exemplo, expansionistas, ceteris paribus, a LM sofre uma deslocação
interessados em recorrer ao crédito (estamos num período de recessão prolon-
para a direita, gerando um aumento do rendimento de equilíbrio e uma
gada). Logo, a manobra dos instrumentos de controlo monetário não surte o
diminuição da taxa de juro. A política monetária é eficaz.
efeito desejado, que é aumentar a massa monetária, o que significa que a LM
não se altera. Como tal, nem o rendimento, nem a taxa de juro de equilíbrio
se alteram. A política monetária é ineficaz. 4 Mm A LMI LM2

1 i

B) Caso neoclássico
Dono
E
Os neoclássicos consideravam que os agentes procuravam moeda apenas
por dois motivos: transacção e precaução. Deste modo, a taxa de juro não f a IS2 pod +
influenciava a procura real de moeda, o que se traduzia numa LM vertical. IS
Os neoclássicos preconizavam que o governo não deveria intervir na econo- IS]
mia (só em áreas para as quais não houvesse interesse por parte das empresas, 0 > 0 >
basicamente, segurança e defesa nacionais), pelo que será lógico deduzirmos Yl=Y2 Y Y1 Y2 Y
que a política orçamental é ineficaz. Com efeito, a implementação de uma
medida de política orçamental, por exemplo, expansionista, ceteris paribus, Política orçamental ineficaz Política monetária eficaz

176 rr
Estamos, pois, em condições de juntar esta informação e de podermos analisar Assim, se o ponto de equilíbrio da economia se situar próximo da armadilha
a eficácia das políticas orçamental e monetária, qualquer que seja o valor do da liquidez (rendimento de equilíbrio afastado do rendimento de pleno
rendimento de equilíbrio da economia. A eficácia de uma dada política emprego), ambas as políticas são eficazes, mas a política orçamental é compa-
económica depende da zona da LM em que se situa o ponto de equilíbrio da rativamente mais eficaz do que a política monetária. Deve, pois, dar-se prio-
2 A eficácia das políticas economia”. ridade à implementação de medidas de política orçamental (expansionistas),
económicas depende, igual-
apesar do banco central também poder implementar medidas de política
A LM tem três zonas: horizontal, denominada zona keynesiana pura ou zona
mente, da configuração da IS.
Contudo, não vamos estudar monetária (expansionistas). De salientar que, nesta zona, não faz sentido
este caso, a não ser na análise da armadilha da liquidez; zona em que a LM é positivamente inclinada ou, falar-se de medidas de política económica contraccionistas, uma vez que a
também designada, por zona intermédia; e zona neoclássica, em que a LM é
dos valores dos multipli-
cadores, feita no final deste taxa de desemprego é já muito elevada. Se o ponto de equilíbrio da economia
subcapítulo. vertical, ao nível do rendimento de pleno emprego (Y pe).
se situar na zona em que o rendimento de equilíbrio é muito elevado (próximo
Graficamente:
do produto potencial), ambas as políticas são eficazes, mas a política mone-
tária é comparativamente mais eficaz do que a orçamental, Deve dar-se
prevalência à intervenção do banco central, em detrimento da intervenção
governamental.

À medida que avançamos da zona com rendimentos baixos para a zona com
rendimentos mais elevados, a política orçamental torna-se, comparativamente,
menos eficaz e a política monetária torna-se, em termos relativos, mais eficaz
e vice-versa. Pode, pois, concluir-se que o grau de eficácia das medidas de
política orçamental e de política monetária (que é medido pelo correspondente

W
valor dos multiplicadores, de política orçamental e monetária) depende do
grau de desenvolvimento da economia, ou seja, depende do valor da taxa de
desemprego dessa mesma economia,
Temos três situações possíveis:
Repare-se que aqui também ocorre o efeito crowding out, pois quando o
A) ATS intersecta a LM na zona da armadilha da liquidez, ou seja, o ponto governo implementa medidas de política orçamental expansionistas, o
de equilíbrio da economia encontra-se na zona da armadilha da liquidez investimento diminui (a taxa de juro aumenta, gerando uma diminuição do
investimento). Só que a alteração da variável de política orçamental (nomea-
Como analisámos anteriormente, a política orçamental é totalmente eficaz e
damente os gastos públicos, as transferências autónomas e os impostos autó-
a política monetária é ineficaz. Consequentemente, só faz sentido a inter-
nomos*) é, em módulo, superior à variação, em módulo, do investimento. * Não se pode tirar estas
venção do governo levando, via políticas orçamentais expansionistas, a
É o denominado efeito crowding out parcial. conclusões para a variável
economia para níveis de rendimento mais elevados. taxa de imposto, já que esta
variável está em percentagem,
C) AS intersecta a LM na zona vertical, isto é, ao nível do rendimento de ao passo que o investimento
Nesta situação, o efeito crowding out é nulo, porque uma política orçamental é uma variável em unidades
pleno emprego
não gera qualquer alteração da taxa de juro de equilíbrio e, como tal, do monetárias.

investimento. A política orçamental é ineficaz (ocorre um efeito crowding out total) e a


política monetária é eficaz. Assim, quando o rendimento de equilíbrio da
B) AIS intersecta a LM na zona em que a LM tem inclinação positiva, ou
economia coincide com o rendimento de pleno emprego, só o banco central
seja, o ponto de equilíbrio da economia encontra-se na zona intermédia
deve intervir na economia.
Nesta situação, que é a mais usual no que se refere ao posicionamento do
Para concluirmos o estudo da eficácia das políticas orçamental e monetária,
ponto de equilíbrio da economia, ambas as políticas são eficazes, muito
vamos analisar os valores mínimos e máximos que os multiplicadores de
embora uma delas seja, normalmente, mais eficaz do que a outra, dependendo
política orçamental (ou multiplicador de base) e monetária do modelo IS-
da inclinação da IS e da LM no ponto de equilíbrio e da maior ou menor
-LM podem assumir. De recordar que uma política económica é tanto mais
proximidade do rendimento de equilíbrio face ao rendimento de pleno
eficaz, quanto maior for a variação do rendimento gerada pela mesma, varia-
emprego (ou seja, consoante o valor da taxa de desemprego da economia).
ção essa que é medida pelo correspondente multiplicador do modelo IS-LM.

178 179
Se analisarmos as expressões analíticas dos dois multiplicadores referidos Face a esta análise a questão que se coloca é saber como é que o governo vai
anteriormente, observamos que os valores mínimos e máximos dos mesmos financiar este défice, ou seja, esta questão prende-se com a temática do
dependem dos valores da propensão marginal a investir (e) e do parâmetro h financiamento do défice orçamental.
da procura real de moeda por motivo especulação. Com efeito, o numerador
Em primeiro lugar importa introduzir o conceito de restrição orçamental do
do multiplicador de política orçamental é um, ao passo que o numerador do
governo. Esta restrição diz que o somatório dos gastos públicos com as trans-
multiplicador monetário é e/h; os denominadores são iguais.
ferências do governo para os particulares tem de igualar o somatório das
Deste modo, se o investimento for todo autónomo, ou seja, se a propensão receitas do governo (impostos cobrados) com a variação da dívida pública
marginal a investir for nula (o que corresponde a uma IS vertical, tal como (ADP) e com a variação da base monetária (A H).
referimos anteriormente), o multiplicador da política orçamental assume o
G+Tr=T+ ADP+ AH
seu valor máximo que é de 1/[1 -c (1 -) + m]. Se o investimento for infi-
nitamente elástico em relação à taxa de juro, ou seja, se a propensão marginal As hipóteses subjacentes à análise são as seguintes:
a investir for igual a es, o que corresponde a uma IS horizontal, o multiplicador
da política orçamental assume o seu valor mínimo que é zero. Neste caso, o * Preços constantes (ou seja, o modelo que suporta a análise é o modelo
multiplicador monetário assume o seu valor máximo que é de 1/X. IS-LM).

Se o parâmetro h da procura real de moeda por motivo especulação for nulo * Índice de preços igual a um (P = 1).
(só existe procura real de moeda por motivos transacção e precaução, ou
* O multiplicador da base monetária é igual à unidade.
seja, estamos no caso neoclássico em que a LM é vertical), o multiplicador
da política orçamental é nulo (política orçamental ineficaz) e o multiplicador * Inicialmente, o saldo orçamental está equilibrado.
monetário assume o seu valor máximo que é de 1/k (porque só a política
monetária é eficaz). º Osaldo orçamental registará um défice devido ao aumento dos gastos
públicos, mantendo constantes as demais variáveis do modelo
Por outro lado, na armadilha da liquidez, em que a LM é horizontal (o
(Tr, T,LIX,ZM), ou seja, os gastos públicos são a variável de
parâmetro h tende para es) o multiplicador da política orçamental assume o
política orçamental que vai ser alterada.
seu valor máximo que é de 1/[l - c (1 — t) + m] (a política orçamental é
totalmente eficaz) e o multiplicador monetário assume o seu valor mínimo * À taxa de imposto nunca se altera.
que é zero (a política monetária é ineficaz).
Considere-se uma das hipóteses desta análise: o multiplicador da base
Em síntese, a eficácia relativa das políticas orçamental e monetária pode ser monetária é unitário. Esta hipótese significa que a variação da base monetária
analisada de forma objectiva e fundamentada, através dos valores assumidos é igual à variação da massa monetária.
pelos multiplicadores de política orçamental e da massa monetária.
Analiticamente: AM = cd + 1 AH
cd+r

Como, por hipótese, o multiplicador da base monetária (mm) é igual a um, então
46 O financiamento do défice orçamental
cd +
mm = ——— -=] => AH= AM
Sabe-se que a implementação de medidas de política orçamental expan-
sionistas (aumento dos gastos públicos, ou aumento das transferências autó- Esta hipótese tem subjacente que a taxa de reservas (7) é igual a um (100%).
nomas, ou diminuição dos impostos autónomos, ou diminuição da taxa de
imposto) vai gerar uma deterioração do montante do saldo orçamental (incom- Assim, a restrição orçamental do governo vem:
patibilidade entre rendimento e saldo orçamental quando são manobradas,
G+Tr=T+ ADP+ AM
uma de cada vez, as variáveis de política orçamental). Se o saldo orçamental,
à partida, já é deficitário, então há um agravamento do seu défice. Substituindo as variáveis G, Tr, Te M pelas correspondentes equações de
comportamento do modelo, obtém-se:

181
180
G+Tr=T+tY+ADP+AM Como À Tr=0,AT=0,AM-=O, então: AG=tAy+ADP
em que
Observando a restrição orçamental do governo verifica-se que uma manobra
nas variáveis de política orçamental não pode ser entendida de uma forma AY =
= l =
AG
tão simplista como a que foi feita até aqui. Com efeito, há seis variáveis ek
lI-c(l-D+m+ —
(G, Tr, T, t, DP e M ) que não são independentes umas das outras. O governo h
pode fixar cinco delas, mas a sexta variável é determinada endogenamente,
por forma a respeitar a restrição orçamental. Neste contexto, um aumento Logo:
dos gastos públicos, ceteris paribus, ao gerar um défice orçamental vai levar
ADP
= AG -tAY
a que esse mesmo défice tenha de ser financiado de forma a respeitar a
restrição orçamental. Ora isso significa que pode não se registar somente
uma deslocação da IS (devido à variação dos gastos públicos); a LM pode ADP = AG - ! AG
também sofrer deslocações consoante a forma de financiamento adoptada. I-cd-Dam+ SÉ
h
Considere-se uma outra hipótese da análise: o saldo orçamental está
equilibrado, ou seja, t -—
ADP = |1- AG
ek
S0=0 T=G+Tr T+tY=6+Tr I-cA-D+m+ mn
n
Se se registar um aumento dos gastos públicos (outras das hipóteses da
análise), mantendo as demais variáveis estratégicas constantes, então esta Repare-se que ADP/ AG é o simétrico do multiplicador dos gastos públicos
situação vai gerar um défice orçamental, no saldo orçamental, como seria expectável.

Há duas formas de financiar este défice: via dívida pública ou através de Como se pode observar, a análise efectuada no capítulo 2 tinha como
emissão de moeda. pressuposto que o financiamento do défice orçamental seria feito através da
dívida pública.
A) Financiamento do défice orçamental através de dívida pública
Graficamente:
Partindo da restrição orçamental do governo e substituindo os gastos públicos,
as transferências, os impostos e a massa monetária pelas correspondentes LM
equações de comportamento do modelo tem-se: 1

G+Tr=T+tY+ADP+AM 12

Calculando as variações obtém-se: il Is2

(0)
AG + ATr=
AT +t AY + ADP+AM Sa
pd

O financiamento do défice é feito somente através do aumento da dívida Yi Y2 Y

pública e esta variação não afecta nem a IS, nem a LM, Assim, somente a IS
Por último, importa referir que o financiamento das despesas públicas com
sofre uma deslocação para a direita, aquando do aumento dos gastos públicos,
dívida pública leva à denominada equivalência ricardiana.
mantendo constantes as transferências autónomas, os impostos autónomos,
a taxa de imposto, o investimento autónomo, as exportações autónomas, as A equivalência ricardiana ou proposição de Barro-Ricardo diz que o finan-
importações autónomas e a massa monetária. ciamento do défice orçamental através da dívida pública é equivalente a um
imposto (corrente), uma vez que se limita a adiar o aumento dos impostos.

182
v8l
IRA 9PJv) sTeuI “vorjqnd vprarp too eIoUeUIy so o soorqnd soysvs so eyuoume
O V> NV :oquourojuonbosuos) OUIDAOS O Opurno) 'sojsodurr o vorqud epiasp omuo [emos vrotugpeambo
eum OUIOS PISTA JOS opod euripiror erougpeambo v 'ounsor ur “urssy
AVICOV=WNV no WNV+AVI=OV
“eorqud eprarp
vp sSoTmn so aquowrprowuou 'omgas elas o soinfepuol soy onb o8pe rerduioo
:onbiod “ST ep ogóeoojsap 2 anb 1ouou 9 INT vp ogdeoo|sop e aonb as-a419sgo
eIvd epezon tos rea (opivory-oueg op opórsodold vp soysodnssard sop um
PIRIOUOUI BSSLUI PP opueirentoo 'zopinbr op sogómnsal tg) onb vD Iozey o ered sopeprunçodo
OBÍBLIVA R OPIA9P OLÍLIO|SOP CLIN SIJOS JAM 2 UI9quiv) seu “soorqnd soyseg ug) ogu onbiod “urourosuoo ogu sejo onb ojuaupuol op eney ejso 'ogoT
Sop ojusume Um € OPIAdp 2OOJSop os onb ST 2 ojuatros 9 ogu pl “oseo ajsoN “soUmSspIdiIo I93J0 Op sosojodry ug) ogu onbrod 'aquouruad oquounpuol nos
op ovôun] U1o UIOUIOSUOD Og SLOSsod sejimuu onb orojor vonLio epundos gun
AVI-DV=NV no NV+AVI=OV :080"T
“TeS vd op 19) OBA Sojuopusosop snos so
0=daV 90=LVO=4LV onb no reged op 199 oga anb sojsodurr sop og)sonb v u1oo urdnooord os ogu
“quegtod 'o opIvIso O UIgquir) quere onb Iestod opa OgU seara Op]So aloy onh
:SOUIO) “SOPIZNPpUI seossad se “ojurjuo oN 'vorqnd vpiatp e Jeppes ered sojsodur sreui reged op 199
SOJSodtur 9 EPIOUI Op OBSSTUIO LOS OPLIDURUI[ OS IRA DILJOP 9]S9 onb opôuoje OBIL 9 SEAIA OBIRISO BqURUI? onb seuisou se OgS “SZAIA Op]S9 9fouy onb seossod
UIS OPUS) 9 soomqud sojse3 sop oquatune op soaenr [euorreõro sorjgp um se onb ogdnssoId ogórsodoJd visa e1Q 'sivuu rednod oga sejo ogiuo 'sojsodurr
vIas as onb o opeigiqnbo vaso jejuouiváro opyes o “aquouperorur 'onb urstojor sop Ojuatune UM op vISNO E ONO] JOS IRA OSSI O ON] OU Sopeppes 19s op
onb se ajuourepeouiou “osifgur q sojuoorlqns sosajodiy se opurioprsuo) 19) OZA SOfmn snos so onb uroqooIode as seossod se os onb axojor sejop ruin
"opivoryroureg op vrougpeambo op ogóisodoId v seomgLo sopuvis senp vH
WV+daV+AVIAIV=ILV+DV
“zopmbr, op sogôLnsol UIg] OpU SoIoprunsuoo sO
:SOUIS] SOOÍBIIRA SE OpUR|nojro o ojopour op ojuourerodiroo op sogôenbo
SE[9d SIDAPLIBA SE OPUIN]NSQUE “OUIVAOS OP [EJUDLIVÔIO OBÍLISOL ? OpUBtuOjoY "ONU 9 SON] SOJUSUIPU9I SOP SSJOJLA SO SIGOS EZOJI9OUL Op NeIB O
soprznpur soysodur "OJULIPpUOL Op Quoururiod ejoored vp sogôriope sep ogduny uio
9 VP9OUI Op OBSSIUIO Op S9ARNL [ejUoTIvÔIO D91Jop Op oquswurrroueury (TO OUINSTOS Op SogIped snas so ureysnfe os soroprunsuoo so “wemiporr]
IO OPIONL GC| "OLIQNSULI) OJUSUIpu9l o qquoueulod ojusunpuor
"BP9OLI OP OBSSILUO OP S9AENL OJUDLIPAISNOXO :sejoorrd senp 10d ojsoduroo 9 ojuaturpuos O (Quourunod ojuoupuar
9OIFPP OP OJuouiriourul; o sopiznpur sojsodurr 2 vpoour op ogssiuro op o 9 dxonb ur “dA o = 9) juouruciod ojusurpuol op vjoomrp ogôun]o
S9ALIL DOTJ9P OP OJuouierouRuI :sogóengs senp ingunsip vjsodurr “osvo 99soN ounsuoS O (/,S61) UIP op juouruniod ojusurpuor op osojodry
eU 9SPQ LUOO SEJIO] OBS SIIOPIUMSUOS SOPp OUINSUOD Op SOQSIDOp Sy o
EP9OUI 9P OBSSTUIO 9p SALE [euouráio JITJ9P OP OJUSUTRIOUBUL (g
“enno vird ogôrios vum op vzonbri op serougiosuem
"QUISOLI OP UIonNIpNsn vu onb z9A eum “sojruIgur sreroduio) SOJUozIONW UIQ) SONPIAIPUI SO
anb sejo ogs onb gl “ooqud ojusuinsoAur osso reroueur, ered sotiyssooou
soysodur so IeSede sermny sogóvios se urelos anb ojoa1roo q 2 ozeide soyrojo “OprroryrOLeg
UIQ) INS OS “SODT[QNA SOJuSuInsSAUI SOpurIs so Iejnonred uro “sejop seymuu stod ap ovôisodoId no euripreor erougpeambo q seproo) seonno siediounid senp
“seoriqnd sesodsop sep osado erpe op vjoaLioo puros pum 19s opod “ojuvjuo oN se IjUouIepuny ered soLigssooou so ogs anb “onenb iLiojos vjrodur srenb sop
“so91199] sojsodnssoId op ojunfuoo umu eprosevg 9 vurrpreon vrougjeambo y
"BpIaIp ep soumf so “ojuouiengr “eged os-oga jejidro op ogdezn1oure
vp uope vid “opre sreur “onbrod “alo trerresged as onb soponbe onb op "sojsoduir op (oImny) ojusume
sojsodui sreur reged os-oga oImnj OU “epure sreja 'sojsodtr op ojuonrerpr um Sp S9ALIL ONO BIOS OSSI 9 OIMINF OU SOPLP[eS JOS Op OgI9) SOjnym snos
OI9UI um ouro? “stod *euoroung vonqud eprarp y 'sojsodurr sop ojuatune so onb ttagootode os sonprarpur so onb gl “epinbry ezonbir utomnsuoo ogu
OP SQALH O[-PJ 9 porqnd epratp euisour esso Iegrd ered oxroqurp Iojgo op 19) oprisg op sopmn so onb op ogôrroprsuoo e pjsa opórsodoJd ejso v ajustouT
Graficamente:
I-cd-Dam+ É (k+0 14 €
LMI LM2 Ay º = b AG
Led-g+m+ SE Led-vam+ SÉ
h h

AY = h AG
+ - eua

12
Le(l-D+m+ o (6+0
] IS2
2 E:

(O) E" A variação do rendimento, no caso do financiamento do défice orçamental


>
ser feito com emissão de moeda e impostos induzidos, é superior à variação
Yi Y2 Y
do rendimento obtida numa situação em que o financiamento do défice é
feito com o recurso à emissão de dívida pública (cujo multiplicador
Para se determinar a variação do rendimento resultante desta forma de
corresponde ao multiplicador dos gastos públicos do modelo IS-LM conven-
financiamento do défice orçamental, vão-se utilizar os respectivos
cional, como foi visto anteriormente), ou seja:
multiplicadores:
e
l+ —
OY = 5Y h l
AY ==> AG + <= AM
5G 5M [ed -Dtm+ e
o (k+D 7
Ie ams ek
o
B Q
Substituindo pelos multiplicadores tem-se:
e Para que tal aconteça é preciso que:
AY = AG + h AM
ek ek ek e
l-c(l-D+m+ —
h
l-c(A-D+m+ —
h
(4 S[l-e(-g+m+ E > -0 mA
l-cd-D+m+-—(k+t )

Como AM =A G -tA Y, substituindo tem-se:


Ieed-vemeE Lica geme
ek

Es liced game
a

e ELE
h h h h h
AY = AG + h (AG
- LAY)
ek ek
l-cl-D+m+ — l-cA-D+m+—
h h Shcd-gyeme É), E
h h h
e et
AY = | 7 46 + h 7 AG. h E AY
I-cd-)+m+ ES L-cd-D+m+ SÉ I-e(l-)4+m+ SÉ ek
h h h l-c0l-Dem+-— 5 4
h

et | 4 E =

AY [1+ h - h AG ek . cm
ek ek d-)d-)+m+ nº> 0) Esta condição verifica-se sempre.
l-c(d-D+m+ — I-c(l-D+m+ ——
L h h
- Ca Assim, em síntese, o financiamento do défice orçamental através de emissão
I-cl-D+m+ É =— pet 1+ É = de moeda e impostos induzidos gera uma variação do rendimento superior à
AY h h o h AG obtida quando o financiamento é feito somente por dívida pública; o efeito
ek ek expansionista é superior.
I-cd-D+m+ n l-cã-D)D+m+ n

186 187
Paralelamente, o impacto sobre a taxa de juro de equilíbrio é menor, já que * Se a amplitude de deslocação da LM for superior à amplitude de
numa situação de financiamento do défice orçamental através de emissão de deslocação da IS, a taxa de juro de equilíbrio diminui.
moeda e impostos induzidos, como a LM também sofre uma deslocação
para a direita, a taxa de juro não aumenta tanto quanto aumentaria caso o * Sea amplitude de deslocação da IS for igual à da LM, a taxa de juro
financiamento fosse feito somente por dívida pública; o impacto negativo de equilíbrio não se altera (política de acomodação).
sobre o investimento vem atenuado.
Para se determinar a variação do rendimento resultante desta forma de
B2) Financiamento do défice orçamental através, exclusivamente, de emissão
financiamento do défice orçamental, vão-se utilizar os respectivos
de moeda
multiplicadores:

Retomando a restrição orçamental do governo, substituindo as variáveis pelas av= Lag Lama AT
equações de comportamento do modelo e calculando as variações temos: 6) M ST

AG + ATr= AT +t AY + ADP+AM Substituindo pelos multiplicadores tem-se:

Considerando as hipóteses subjacentes à análise, nomeadamente as que e

referem que, inicialmente, o saldo orçamental está equilibrado e que se gera AY = AG + h AM 7 c AT


ek ek ek
um défice orçamental através do aumento dos gastos públicos e tendo em Lre(l-Dem+ o I-e(l-g+ma É Lre(-ytm+ S
h! O! q
atenção que este défice vai ser financiado integralmente com emissão de
moeda, temos:
Como AG =AM ,, substituindo tem-se:
A Tr=0€e ADP=0
e
1+ — o
Logo: AG=AT+HAY+AM.,
AY = h AG - c AT
ek ek
Para que AG = AM(o financiamento é feito somente com emissão de l-cA-D)D+m+ —— lI-c(l-D+m+ —
h h
moeda) é preciso que A T +tAY =0O,ouseja,A T=-tAY.

Neste caso, a LM sofre uma maior deslocação para a direita comparativamente Como AT =-1 AY, substituindo obtém-se a seguinte expressão:
ao caso anterior, dado que ÃG = AM. O efeito sobre a taxa de juro de equilf-
1+ É =
brio não está completamente definido: a taxa de juro de equilíbrio tanto pode
aumentar, como diminuir, como ficar inalterada. A sua variação irá depender
AY = h AG + ct E AY
L-c(l-0+m+ É— I-c(d-D+m+ é—
dos valores dos parâmetros que integram os multiplicadores dos gastos h h
públicos e da massa monetária. Por outras palavras, a variação da taxa de
ct 1 + e =
Juro vai depender da relação existente entre a amplitude de deslocação da IS
e a amplitude de deslocação da LM. AY |1- c|= h 7 AG
L-cd-D+m+ EL L-c(-D+m+ É—
L h h
Amplitude de deslocação da IS: ay = AG
lI-c(l-D+m
l-ctm+ — [+ É =
Amplitude de deslocação da LM: Ay = uy AM AY = h AG
k e ek
I-c(-D+m+ — [e Dtm+
Como AG = AM, então a variação da taxa de juro irá depender da relação
existente entre as amplitudes de deslocação da IS e da LM:
AY = 1 €
AG
* Se a amplitude de deslocação da IS for superior à amplitude de
l-crm+ —
deslocação da LM, a taxa de juro de equilíbrio aumenta. h

189
A variação do rendimento nesta forma de financiamento do défice orçamental da variação do rendimento, ou seja, a variação do rendimento é a mesma,
é superior à obtida quando o défice orçamental é financiado com emissão de qualquer que seja o modo de financiamento do défice orçamental.
moeda e impostos induzidos.
São eles:
1+& [+ É
h " h * A propensão marginal a investir é nula (e = 0), ou seja, a IS é vertical.
ek e
|-etm+ ted Dama (k + t) * LMé horizontal, ou seja, o ponto de equilíbrio da economia encontra-
3! 8!
se na zona da armadilha da liquidez (h = o).
Os numeradores das duas fracções são iguais e o denominador da primeira
Vamos passar à análise de cada uma das situações descritas.
fracção é inferior ao denominador da segunda fracção (este último tem mais
duas parcelas positivas: ct e et/h). Logo, o multiplicador dos gastos públicos Começando com o caso em que a IS é vertical, significa que o investimento
na situação em que o financiamento do défice é feito integralmente com é inelástico em relação à taxa de juro, ou seja, a propensão marginal a investir
emissão de moeda é superior ao multiplicador dos gastos públicos no caso é nula (e = 0). Logo, o investimento é todo autónomo.
em que o financiamento do défice é feito com emissão de moeda e impostos
induzidos. Graficamente:

Comparando as variações do rendimento nas três formas de financiamento Financiamento do défice com DP Financiamento do défice com emissão
do défice analisadas, verifica-se que o efeito expansionista dum aumento de moeda e impostos induzidos
dos gastos públicos é maior quando o financiamento do défice é feito inte-
gralmente com emissão de moeda, seguindo-se-lhe a situação em que o A IS1 IS2 LM A IS1 Is2 LM]
financiamento é feito com emissão de moeda e impostos induzidos; o efeito
LM2
expansionista mais fraco ocorre no caso em que o financiamento do défice 2
orçamental é feito através de dívida pública.
12
E
Para finalizar a análise do financiamento do défice orçamental através da il
emissão de moeda falta referir que esta dá origem à denominada senhoriagem.
0 a
A senhoriagem pode ser entendida como a receita que o governo vai obter,
Yi Y2 Y
resultante da criação de moeda e que é igual ao rácio entre a variação da base Yi Y2 Y
monetária (AH) e o nível de preços da economia (P), rácio esse calculado,
normalmente, em percentagem do PIB.
Como se pode observar pelos gráficos a variação do rendimento é a mesma
qualquer que seja a forma de financiamento do défice orçamental.

Senhoriagem = —— Vamos, agora, analisar o caso em que a LM é horizontal, ou seja, o ponto de


PIB
equilíbrio da economia situa-se na zona da armadilha da liquidez. Nesta zona,
a procura real de moeda é perfeitamente elástica em relação à taxa de juro,
Também se pode entender a senhoriagem como a poupança de juros que o
ou seja, o parâmetro h tende para cs: a LM é horizontal.
governo obtém, resultante do facto do banco central emitir moeda (ou seja,
passivos que não rendem juros), em vez de serem emitidos títulos da dívida
pública que rendem juros. O lucro que se retira desta operação pode ser
entendido como receita fiscal.

Para concluir esta análise do financiamento do défice orçamental importa


referir dois casos em que o financiamento do défice por dívida pública ou
por emissão de moeda e impostos induzidos é indiferente do ponto de vista

190 191
Graficamente: g) Financiar o défice orçamental com dívida pública ou com emissão
de moeda tem impactos diferentes sobre a taxa de juro de equilíbrio.
Financiamento do défice com DP Financiamento do défice com emissão
de moeda e impostos induzidos h) Na zona da armadilha da liquidez é indiferente financiar o défice
orçamental através da dívida pública ou com emissão de moeda e
4 A impostos induzidos.
Ist Is2
SI 182 Para cada questão que lhe é proposta, dispõe de quatro alternativas de
resposta, das quais somente uma está correcta. Diga qual a alternativa
que, no seu entender, está correcta.
no N, N, LM
ei
il=i2 N ,N, LMi=LM2
n=12

1
1 i
2.1 A função IS traduz
; ]
t q Õ t
0 f

Y2 Y YI Y2 Y a) o equilíbrio no mercado monetário.


vil
b) o equilíbrio no mercado de títulos.

c) o equilíbrio no mercado real.


Tal como no caso anterior, também nesta situação a variação do rendimento
é a mesma qualquer que seja a forma de financiamento do défice orçamental. d) o equilíbrio conjunto nos mercados real e monetário.

2.2 A função LM traduz

a) o equilíbrio no mercado real.


Exercícios de revisão
b) o equilíbrio no mercado monetário.
1. Face às afirmações seguintes, diga se as mesmas são verdadeiras ou c) o equilíbrio no mercado de títulos.
falsas e justifique a sua resposta.
d) o equilíbrio conjunto nos mercados real e monetário.
a) O multiplicador dos gastos públicos do modelo IS/LM assume valores
superiores aos do correspondente multiplicador referente somente 2.3 Uma operação de open market de compra gera sempre
ao mercado real.
a) um aumento da taxa de juro de mercado.
b) O multiplicador da massa monetária do modelo ISA.M assume
b) uma diminuição da taxa de juro de mercado.
valores inferiores aos do correspondente multiplicador referente
somente ao mercado monetário. c) uma diminuição da taxa de juro de mercado, se a economia se situar
na zona da armadilha da liquidez.
c) Numa economia em que a velocidade de circulação da moeda é
constante, a intervenção da autoridade monetária revela-se ineficaz. d) uma diminuição da taxa de juro de mercado, se, nessa economia,
a procura real de moeda for feita somente por motivos transacção
d) A implementação de medidas de política monetária expansionistas e precaução.
gera sempre um aumento do investimento.
Uma política de acomodação tem como objectivo
e) A implementação de medidas de política orçamental expansionistas
gera sempre uma diminuição da taxa de desemprego. a) manter inalterada a taxa de juro de equilíbrio.

f) A equivalência ricardiana está relacionada com o financiamento do b) manter inalterado o saldo orçamental.
défice orçamental através da dívida pública. c) manter inalterado o consumo de equilíbrio.

d) manter inalterado o nível de rendimento de equilíbrio.


2.5 Não existe efeito crowding out quando Procura real de moeda: L =0,2Y +54 - 2001;

a) o investimento não depende da taxa de juro. A circulação monetária é de 180 u.m.;

b) o ponto de equilíbrio da economia se situa na zona da armadilha da O total de depósitos assume o valor de 300 u.m.;
liquidez. O índice de preços da economia é unitário.
c) a função IS é negativamente inclinada. Determine os valores de equilíbrio das variáveis objectivo desta
d) a procura real de moeda não depende da taxa de juro. economia.

2.6 Face a uma política orçamental expansionista, a autoridade monetária Suponha que o governo pretende reduzir o défice orçamental para
implementou uma política de acomodação, através de 160 u.m., utilizando como variável estratégica os gastos públicos.
Calcule a variação dos mesmos por forma a alcançar o objectivo
a) um aumento da taxa de reservas legais. definido e comente os resultados obtidos.

b) um aumento da taxa de redesconto. c) O governo aumentou as transferências autónomas para o dobro,


ceteris paribus. Determine o montante do efeito crowding out.
c) operações de open market de compra.
d) Após a alteração das transferências autónomas referida na alínea
d) operações de open market de venda.
anterior, o banco central implementou uma política de acomodação.
2.7 Quando o ponto de equilíbrio da economia se situa na zona da armadilha Qual deverá ser a variação da massa monetária necessária para atingir
da liquidez é aconselhável a utilização de o objectivo definido? Justifique a sua resposta.

a) uma política de acomodação.

b) medidas de política orçamental.

c) medidas de política monetária. Leituras complementares


d) medidas de política monetária e de política orçamental.
BELBUTE, J.M. M.
Conhecem-se as seguintes informações relativas a uma dada economia 2003 Princípios de Macroeconomia. Lisboa: Gradiva Publicações Lda.,
aberta a preços constantes: p. 93-97; 105-120; 152-178.

e O consumo autónomo é de 70 um.;


DORNBUSH, R., FISCHER, S., e STARTZ, R.
e A propensão marginal a poupar assume o valor de 0,25; 1998 Macroeconomia. 7.º ed., Lisboa: McGraw-Hill, p. 215-255.

e A função investimento tem a seguinte expressão analítica: 1 = 370 —


100 1; SILVA, A. A. C., e NEVES, J.C,
1992 Finanças Públicas e Política Macroeconómica. Lisboa: Universidade
e As transferências são autónomas e no montante de 30 u.m.;
Nova de Lisboa, Faculdade de Economia, p.77-1 14.
* Osimpostos são função do rendimento, com um parâmetro autónomo
de 10 u.m.; os impostos induzidos representam 20% do rendimento;

e Os gastos públicos são autónomos e no valor de 600 u.m.;

º As exportações são autónomas e no montante de 80 u.m..;

s As importações são função do rendimento, com um parâmetro autónomo


de 10u.m.; as importações induzidas representam 10% do rendimento;

194 195
5. O Modelo AD-AS ou Modelo a Preços Vari £

aAVEIs
Objectivos de aprendizagem

Após a leitura do capítulo 5, o estudande/leitor deverá ser capaz de:

e Definir o conceito de função procura agregada (AD).

* Deduzir a expressão analítica da AD.

* Deduzir, gráfica e analiticamente, a inclinação da AD.

* Identificar os factores que afectam a inclinação da AD.

e Identificar os determinantes da AD.

* Explicar o modo como a alteração das variáveis de política orça-


mental, a alteração das variáveis controladas pelas empresas e a alte-
ração da variável de política monetária fazem deslocar a função AD.

* Definir o conceito de função oferta agregada (AS).

* Deduzir a inclinação da AS a partir do equilíbrio do mercado de


trabalho conjugado com a função de produção, fazendo a distinção
entre os casos neoclássico e keynesisano.

e Identificar os determinantes da AS.

* Explicar o modo como a alteração da tecnologia, ou dos custos de


produção, ou das preferências dos trabalhadores por trabalho versus
lazer fazem deslocar a AS.

* Definir taxa natural de desemprego.

* Representar graficamente o ponto de equilíbrio do modelo a preços


variáveis e interpretar o seu significado.

199
5.1 A procura agregada

5.1.1 Determinação da expressão analítica da procura agregada

Até agora temos considerado uma economia em que os preços estão


constantes; vamos introduzir maior realismo a esta economia, permitindo
que os preços variem, ou seja, vamos considerar a análise a preços variáveis.

O modelo em causa é denominado modelo AD-AS ou modelo a preços variáveis.


À procura agregada (AD) integra os mercados real e monetário; a oferta agre-
gada (AS) integra o mercado de trabalho (genericamente seria o mercado de facto-
res produtivos; atendendo a que o factor que nos interessa analisar é o factor
trabalho, vamos considerar que os factores terra e capital estão constantes).

Começando pelos dois mercados já estudados, observa-se que no mercado real


os preços aparecem de forma implícita nas variáveis consideradas; quanto ao
mercado monetário, os preços aparecem de forma implícita na procura de moeda
(é a procura real de moeda) e de forma explícita na oferta real de moeda.

Uma possível forma estrutural da função procura agregada é a seguinte:

Y=D Equação de equilíbrio

D=C+1I+6G+X-Z Equação de definição

C=C+cyd Equação de comportamento

Yd=Y-T+Tr Equação de definição

T=T+tY Equação de comportamento

Tr= Tr Equação de comportamento

I=I-eci Equação de comportamento

=G Equação de comportamento

Equação de comportamento

Equação de comportamento

Equação de equilíbrio

Equação de definição

Lt=kY Equação de comportamento

Ls=h-hi Equação de comportamento

M - M Equação de comportamento
P P
A correspondente forma reduzida é a seguinte: ek
dP l-c(Al-D+m+ o P
Lo e — eh Inclinação da AD = — = - XxX =—
- CrceTreli+l+G+X-Z) h M h
dy e M
h
Leg ma SE Leg tm+ SÉ P L-e-)4m+ Sé
q 1 p
Como se pode constatar, a inclinação da AD assume valores negativos. Além
É a expressão analítica da função procura agregada: Y = f (P). do mais, a inclinação é função do índice de preços, o que equivale a dizer
que não é constante. Logo, a função AD é uma curva.
A curva de procura agregada (AD) é o lugar geométrico dos pares de valores
rendimento e índice de preços que equilibram, em simultâneo, os mercados A inclinação da AD depende dos seguintes factores:
real e monetário.
e Propensão marginal a consumir (c)
Repare-se que a curva de procura agregada tem inclinação negativa, pois Quando a propensão marginal a consumir, por exemplo, aumenta,
quando os preços aumentam, por exemplo, mantendo constantes todas as ceteris paribus, a inclinação da AD diminui (aproxima-se da
variáveis estratégicas do modelo, o rendimento diminui: há uma relação horizontal). À relação é inversa.
inversa entre índice de preços da economia e rendimento. Aliás, esta relação
é perfeitamente dedutível a partir da forma estrutural do modelo. Quando os e Taxa marginal de imposto (t)
preços, por exemplo, aumentam, ceteris paribus, a oferta real de moeda Quando a taxa de imposto, por exemplo, aumenta, ceteris paribus, a
diminui. Deixamos de estar em equilíbrio no mercado monetário, pois a inclinação da AD aumenta (aproxima-se da vertical). A relação é directa.
procura real de moeda não coincide com a oferta real de moeda que, entretanto,
Importa analisar este factor mais em detalhe, uma vez que se trata de
desceu. Logo, a procura real de moeda terá de descer e isso é feito somente à
uma variável estratégica. Assim, quando o governo conduz uma
custa da procura real de moeda por motivo especulação (como o rendimento
política orçamental expansionista, através da utilização da taxa de
não se altera, a procura real de moeda por motivos transacção e precaução
imposto, a inclinação da AD diminui (para além da AD se deslocar
não se altera) que irá descer, devido a um aumento da taxa de juro de mercado.
para a direita, como iremos ver mais à frente). Quando o governo
Este aumento vai desencadear, no mercado real, uma diminuição do investi-
conduz uma política orçamental contraccionista, através da manobra
mento, como tal da procura agregada e, portanto, do rendimento. O ciclo
da taxa de imposto, a AD torna-se mais inclinada (para além de se
continua e o efeito final é a diminuição do rendimento.
deslocar para a esquerda, como iremos ver).
Recorde-se que as variáveis objectivo deste modelo são o rendimento (Y), o
e Propensão marginal a importar (m)
saldo orçamental (SO) e o saldo da balança corrente (BC). As variáveis
estratégicas deste modelo são os gastos públicos, as transferências autónomas, Quando a propensão marginal a importar, por exemplo, aumenta,
os impostos autónomos, a taxa de imposto, o investimento autónomo, as ceteris paribus, a inclinação da AD aumenta. A relação é directa.
exportações autónomas, as importações autónomas e a massa monetária.
e Propensão marginal a investir (e)
Quando a propensão marginal a investir, por exemplo, aumenta,
ceteris paribus, a inclinação da AD diminui. A relação é inversa.
5.1.2 Determinação da inclinação da procura agregada Para analisarmos esta influência e como a propensão marginal a
investir aparece no numerador e no denominador, dividimos ambos
Vamos, agora, analisar, mais em detalhe, a inclinação da curva de procura os termos da fracção por e:
agregada, nomeadamente considerando os seguintes aspectos: a sua expressão
analítica, os factores que afectam a inclinação da AD e a dedução gráfica da l-cQ-D+m k
inclinação da procura agregada. p?

[Inclinação da AD| = ; x u
Começando por determinar a expressão analítica da inclinação da procura
agregada, temos:

202 203
º Parâmetro k (da procura real de moeda por motivos transacção e LM2 (P2)

precaução) PAN
i LMI (P1)
Quando o parâmetro k, por exemplo, aumenta, ceteris paribus, à
inclinação da AD aumenta. A relação é directa. 9 na MODELO
do IS-LM
* Parâmetro h (da procura real de moeda por motivo especulação) Do o ui rã a a a a a o am

! 4

Quando o parâmetro h, por exemplo, aumenta, ceteris paribus, a


vs
= IS
inclinação da AD aumenta, isto é, a AD fica mais próxima da vertical.
0 U! q
A relação é directa. A >
Y2 div] y
Atendendo a que este parâmetro aparece no numerador e no deno- Va
minador, vamos multiplicar ambos os membros da fracção por A: E
ni
Ê -c(l-D)+m] h+ek ] ]

Inclinação da AD| = x —
] Í

e
A Ut
p UA
] rt CURVA DE PROCURA
e Massa monetária (M )
.
" =
| ]

AGREGADA (AD)
N Va
Quando a massa monetária, por exemplo, aumenta, ceteris paribus, p> Ro Vo
a inclinação da AD diminui. A relação é inversa.
pj [IIIIIIIITIDÃA POLO PN =
AD
Importa analisar mais em detalhe este factor, uma vez que a massa
0 = q
monetária é uma variável estratégica e, portanto, susceptível de ser dá

alterada no curto prazo. Y2 Y] Y


Quando o banco central conduz uma política monetária expansionista,
a inclinação da AD diminui, para além da AD sofrer uma deslocação Consideremos um ponto de equilíbrio inicial (Y 1,11), que foi obtido através
para a direita, como iremos ver mais à frente. Quando o banco central da fixação do nível de preços em P1. Este par de valores (Y1, PI) pertence a
conduz uma política monetária contraccionista, a AD torna-se mais uma curva de procura agregada, uma vez que traduz o equilíbrio simultâneo
inclinada, para além de se deslocar para a esquerda. nos mercados real e monetário.

Vamos, agora, deduzir graficamente a inclinação da curva de procura Vamos supor que o índice de preços sobe para P2, mantendo constantes todas
agregada. Por definição, a curva de procura agregada é o lugar geométrico as variáveis estratégicas do modelo. A IS não sofre qualquer alteração, mas a
dos pares de valores rendimento e índice de preços que equilibram, em LM desloca-se para a esquerda, pois o aumento dos preços vai gerar uma
simultâneo, os mercados real e monetário. Logo, os seus infinitos pontos diminuição da oferta real de moeda e, como tal, do rendimento no mercado
resultam da intersecção, para cada nível de preços, entre a IS e a LM. monetário (porque a massa monetária está constante).

Assim, a um aumento do índice de preços corresponde uma diminuição do


rendimento de equilíbrio nos mercados real e monetário: a AD tem inclinação
negativa. Muito embora a consideração de dois pontos seja insuficiente para
se definir uma curva, foi desenhada a tracejado a função AD, por forma a dar
uma indicação de qual a sua configuração.

De referir que, à medida que se desce ao longo da curva de procura agregada,


a taxa de juro diminui e, do mesmo modo, à medida que se sobe ao longo da
mesma curva de procura agregada, a taxa de juro aumenta.

204 205
5.1.3 Determinantes da procura agregada e deslocações da
procura agregada
PI
Os determinantes da procura agregada são os seguintes:

e Indice de Preços (P).

W
e Variáveis de política orçamental (G,Tr,Tet).

e Variáveis controladas pelas empresas (|, X eZ).

e Variável de política monetária (M ). A amplitude de deslocação da AD é medida pelo correspondente multiplicador


dos gastos públicos, ou seja, o multiplicador do modelo IS-LM:
As alterações no índice de preços, mantendo constantes todas as variáveis
estratégicas do modelo, geram deslocações ao longo da mesma curva de
vo 1
procura agregada, como acabámos de demonstrar; são as denominadas 5G L-e(l-) ama SE
deslocações da procura agregada.

As alterações de qualquer dos outros determinantes geram a passagem de B) Alterações das variáveis controladas pelas empresas (1, ou X,ou Z)
uma curva de procura agregada para outra, ou seja, geram deslocações da
procura agregada. Vamos considerar uma AD inicial e um ponto nessa AD, que foi obtido pelo
equilíbrio conjunto dos mercados real e monetário.
Vamos estudar essas deslocações considerando dentro de cada um dos grupos
anteriormente referidos, uma variável exemplificativa. No final procederemos Vamos supor que o investimento autónomo, por exemplo, aumentou,
à generalização da análise. mantendo constantes os gastos públicos, as transferências autónomas, os
impostos autónomos, a taxa de imposto, as exportações autónomas, as
A) Alterações das variáveis de política orçamental (G , OU Tr , OU T, ou t) importações autónomas, a massa monetária e os preços, ao nível inicialmente
considerado (P1).
Inicialmente, encontramo-nos no ponto da ADI de coordenadas Y1 e Pl.

Vamos supor que os gastos públicos, por exemplo, aumentam, mantendo


Pp
constantes as transferências autónomas, os impostos autónomos, a taxa de
imposto, o investimento autónomo, as exportações autónomas, as importações
autónomas, a massa monetária e os preços, ao nível inicialmente considerado P1 AD2
(P1). O aumento dos gastos públicos, ceteris paribus, é uma medida de política
orçamental expansionista, pelo que, para o mesmo índice de preços, se regista ADI
um aumento do rendimento (Y2 > Y1). Obtém-se um novo par de valores 0 >
(Y2, P1), também resultante do equilíbrio simultâneo nos mercados real e y1 Y2 Y
monetário, só que já não pertence à primeira AD, mas sim a uma outra
posicionada mais à direita (AD2). A deslocação da AD foi paralela, pois os O aumento do investimento autónomo, ceteris paribus, vai gerar um aumento
gastos não afectam a inclinação desta função. do rendimento, ao mesmo índice de preços (P1). Como tal, obtém-se um
novo par de valores (Y2, P1) que também resulta do equilíbrio simultâneo
nos mercados real e monetário, só que já não pertence à primeira AD, mas
sim a uma outra posicionada mais à direita (AD2). A deslocação da AD foi
paralela, pois o investimento autónomo não afecta a inclinação desta função.

206 207
A amplitude de deslocação da AD é medida pelo correspondente multiplicador Em síntese, a implementação de medidas de política expansionistas (aumentos
do investimento autónomo, ou seja, o multiplicador do modelo IS-LM: dos gastos públicos, ou das transferências autónomas, ou do investimento
autónomo, ou das exportações autónomas, ou da massa monetária, ou dimi-
Yo l
nuições dos impostos autónomos, ou da taxa de imposto, ou das importações
ô1 l-c(d-D+m+ ek autónomas) geram deslocações da curva de procura agregada para a direita,
h que são, regra geral, paralelas, excepto se as variáveis manobradas forem a
taxa de imposto e a massa monetária.
C) Alteração da variável de política monetária (M )
A implementação de medidas de política contraccionistas (diminuições dos
Vamos considerar uma AD inicial (ADI) e um ponto nessa AD em que, para gastos públicos, ou das transferências autónomas, ou do investimento autó-
o nível de preços P1, o rendimento que equilibra, em simultâneo, os mercados nomo, ou das exportações autónomas, ou da massa monetária, ou aumentos
real e monetário é Y1. da taxa de imposto, ou dos impostos autónomos, ou das importações autó-
A autoridade monetária, por exemplo, aumentou a massa monetária através, nomas) geram deslocações da curva de procura agregada para a esquerda,
ou da diminuição da taxa de reservas legais, ou da diminuição da taxa de que são, regra geral, paralelas, excepto se as variáveis manobradas forem a
redesconto, ou da realização de operações de open market de compra, taxa de imposto e a massa monetária.
mantendo constantes os gastos públicos, as transferências autónomas, os
impostos autónomos, a taxa de imposto, o investimento autónomo, as
exportações autónomas, as importações autónomas e o índice de preços ao
nível inicialmente considerado (P1). 5.2 A oferta agregada

Este aumento da massa monetária (política monetária expansionista), ceteris 5.2.1 O mercado de trabalho: procura e oferta de trabalho
paribus, gerou um aumento do rendimento, ao mesmo índice de preços, pelo
que se obteve um novo par de valores (Y2, P1), que também traduz o equilíbrio À curva de procura agregada não nos permite determinar o equilíbrio da
simultâneo nos mercados real e monetário, só que já não pertence à AD economia, mais que não seja porque, matematicamente, temos uma equação
inicial, À AD sofreu uma deslocação para a direita, deslocação essa que não e duas incógnitas (Y e P).
é paralela, uma vez que a massa monetária é um dos elementos que afecta a
inclinação da AD. De recordar, que a alteração da massa monetária afecta Assim, falta-nos incluir o terceiro mercado: o mercado de trabalho. Gene-
inversamente a inclinação da procura agregada. Neste caso, como a oferta ricamente, deveria ser o mercado dos factores produtivos: terra e recursos
nominal de moeda aumentou, então a inclinação da AD diminuiu. naturais, trabalho e capital. Mas, atendendo a que o factor produtivo que nos
interessa estudar é o factor trabalho, vamos considerar somente o respectivo
P
mercado, assumindo que os outros dois factores estão constantes.

A análise do mercado de trabalho, conjugada com a função de produção vai-


P1
nos permitir determinar a curva de oferta agregada (AS). A partir desse
momento estaremos em condições para estudar o ponto de equilíbrio da
economia a preços variáveis.
0 >
Y1 y2 Y No mercado de trabalho temos, do lado da procura, as empresas e, do lado
da oferta, os trabalhadores ou famílias.
A amplitude de deslocação da AD é medida pelo correspondente multiplicador
da massa monetária, ou seja, o multiplicador do modelo IS-LM: As teorias neoclássica e keynesiana diferem na análise do mercado de trabalho,
mas somente a nível da oferta de trabalho.

Yo Vamos começar por analisar a procura de trabalho.


8M I-c(-D+m+ se
8!

208 209
A) A procura de trabalho Nas funções de produção com um factor variável, esta propriedade verifica-
se, pois o ponto de máximo lucro ir-se-á situar na zona económica de
Quer os neoclássicos, quer Keynes consideram que as empresas procuram exploração, como iremos ver no ponto seguinte (ponto 5.2.2).
trabalho em função dos salários reais, ou seja, não sofrem de ilusão monetária.
A partir do ponto de máximo lucro da empresa vamos deduzir a configuração
As empresas procuram trabalho, tendo como objectivo maximizar o seu lucro. da função procura de trabalho da empresa (procura de trabalho individual).
Vamos considerar que o único factor produtivo variável é o factor trabalho;
os factores terra e recursos naturais e o capital estão constantes. Consideremos uma situação inicial: pl, w1, uma dada tecnologia e um dado
montante de custos fixos. Aplicando as condições de máximo lucro da
A análise do mercado de trabalho começa pela análise do comportamento da empresa, determinamos o número óptimo de trabalhadores a recrutar, N1.
empresa individual neste mercado e depois generaliza-se para a globalidade
Vamos supor que o salário aumentou (w2 > wl ), mantendo constantes o
do mercado.
preço de venda (pl), a tecnologia e os custos fixos.
As empresas pretendem maximizar o lucro designado por IT, que é a diferença
A condição de equilíbrio deixa de se verificar, pois o salário real aumentou e
entre as suas receitas (R) e os seus custos (C):
o produto marginal manteve o valor inicial. Para que se restabeleça a igualdade
Max. I)=R-C=p Q(N)-(CF+CV)
=p Q(N)— CF — wN é preciso que a produtividade marginal aumente e, como estamos na zona
económica de exploração, onde se verifica a lei das produtividades marginais
em que os custos fixos (CF) são os custos com os factores terra e capital, w decrescentes, então para que a produtividade marginal aumente é preciso que
é o salário nominal médio de cada trabalhador, N representa o número de o número de trabalhadores recrutado baixe, passando a ser N2 (com N2 <N1).
trabalhadores, CV são os custos variáveis (ou seja, o total de salários pagos),
Logo, temos dois pontos da função procura de trabalho que se relacionam
p é o preço de venda unitário e Q(N) é a função de produção (com um factor
inversamente, pelo que a função procura de trabalho individual tem inclinação
variável, o factor trabalho).
negativa. De referir que esta função é uma curva, pelo que no gráfico está
Os elementos conhecidos deste problema são o preço de venda unitário, a representada a tracejado, já que dois pontos são insuficientes para definir
tecnologia, os custos fixos e o salário médio de cada trabalhador. A variável uma curva.
a determinar é N.
PAN
W 1
Condição de 1.º ordem I
N
N
N
do p w=0 Pmgy = — w2 foi AN
dN dN p wi o
Na
SA “o P
| [= Wp =P; LMBn
em que Pmg,, representa o produto marginal do trabalho ou produtividade ! 1
Po
marginal do trabalho e w/p representa o salário real. 0 ! >
N2 Ni N
Condição de 2.º ordem

dPmgy Vamos, agora, generalizar para a globalidade da economia, utilizando a técnica


2º derivada < O <0
dN da agregação horizontal ou pelas quantidades. A função obtida terá, também,
inclinação negativa, tendo a seguinte expressão analítica:
A condição de 1º ordem diz-nos que a empresa recruta trabalhadores até ao
ponto em que a produtividade marginal do trabalho iguala o salário real, na Wo =Pf(N)
zona em que (condição de 2.º ordem) a produtividade marginal do trabalho é
em que, W, representa o índice de salários nominais da economia, P representa
decrescente, ou seja, quando se verifica a lei das produtividades marginais
o índice de preços da economia e N é o volume de emprego da economia
decrescentes ou rendimentos decrescentes.
(ou população activa ou força de trabalho). Por detrás desta função estão
constantes a tecnologia e os custos fixos.

240
Graficamente: horas do dia, menos o período que o trabalhador destina para dormir, para as
refeições e para as deslocações entre a sua casa e o local de trabalho. Este
número de horas nunca pode ser inferior a oito horas, pelo que, no máximo,
o número de horas disponíveis será de dezasseis.

Formalizando:

o Wo =PÍHN) Max. U=U(Y,Z)

saiY=wp(H-Z)

Os elementos conhecidos deste problema são as preferências do trabalhador


por trabalho versus lazer (implícitas na função de utilidade), o salário nominal
(horário, neste caso), o preço e o número de horas disponíveis (H). As variáveis
B) A oferta de trabalho
a determinar são Y (rendimento que vai auferir, fruto do período de trabalho)
No que se refere à oferta de trabalho, as teorias neoclássica e keynesiana e Z (período de lazer).
diferem, pois os neoclássicos consideram que os trabalhadores oferecem
A função objectivo é representada por um mapa de curvas de indiferença,
trabalho em função dos salários reais, não sofrendo de ilusão monetária, ao
com as propriedades usuais das mesmas: convexas em relação à origem,
passo que Keynes considera que os trabalhadores sofrem de ilusão monetária
com inclinação negativa e paralelas entre si.
e oferecem trabalho em função dos salários nominais.
Cada curva de indiferença é o lugar geométrico das combinações de rendi-
Vamos analisar separadamente cada uma das teorias.
mento e lazer que dão ao trabalhador o mesmo nível de utilidade.
B1) Caso neoclássico À restrição orçamental é uma recta com inclinação negativa (a inclinação é
Os trabalhadores não sofrem de ilusão monetária, oferecendo trabalho em
dada pelo simétrico do salário real).
função do seu salário real e tendo como objectivo maximizar a sua utilidade. Graficamente, o ponto de óptimo do trabalhador (2%, Y*) vem:
Tal como na análise anterior, vamos em primeiro lugar estudar o comporta- AN
mento de um trabalhador e depois generalizamos para a globalidade do
mercado.

No que se refere à análise individual vamos considerar que o período de


tempo é o dia, sendo que tal simplificação não vai distorcer a análise (depois,
generaliza-se para o ano).

Deste modo, o trabalhador vai maximizar a sua utilidade que é função do


seu rendimento, Y (função do período em que trabalha) e do período de lazer Z* H Z,
(Z). Entende-se por período de lazer, o tempo em que o indivíduo não tem
um trabalho remunerado e o destina a realizar actividades para as quais não Analiticamente, o ponto de óptimo é o ponto de tangência entre a restrição
aufere remuneração como, por exemplo, descansar, fazer jardinagem, fazer orçamental do trabalhador e uma das curvas de indiferença do mapa de curvas
ginástica e fazer trabalhos de voluntariado. de indiferença do trabalhador. Um ponto de tangência caracteriza-se pela
igualdade entre as inclinações das duas funções que são tangentes. A incli-
No entanto, o trabalhador tem uma restrição que é o período máximo que ele nação da restrição orçamental é dada por w/p (em módulo) e a inclinação da
pode trabalhar e o correspondente rendimento que vai auferir. Surge, então, curva de indiferença é dada pela taxa marginal de substituição, que é o
o conceito de número de horas disponíveis (H) que são o número de horas quociente entre a utilidade marginal associada ao rendimento e a utilidade
que ele pode destinar ao trabalho ou ao lazer. Correspondem às vinte e quatro marginal associada ao período de lazer.

212
A partir desta informação, vamos deduzir a função oferta de trabalho deste a metodologia da agregação horizontal ou pelas quantidades, a função oferta
trabalhador. de trabalho agregada da teoria neoclássica: Ws =P g(N)
AN
y A w W
Wes
w2H1/pl
Ws=Pg(N)
wW2
wIHI/p] wI
Y,

Y,

0) O) E"
A ad

LL Ho Z Ni N2 N N

Consideremos um ponto de equilíbrio inicial: as preferências do trabalhador em que W representa o índice de salários nominais da economia, P representa
por trabalho versus lazer, traduzidas no mapa de curvas de indiferença do o índice de preços e N representa o factor trabalho.
trabalhador, um salário nominal w1, o preço pl e o número de horas dispo- Repare-se, tal como já tinha sido referido anteriormente, que a função oferta
níveis HI. O ponto de equilíbrio, para estes elementos constantes (e que de trabalho é função dos salários reais, pois os neoclássicos consideram que
caracterizam o ponto de óptimo do trabalhador) é dado pelo par de valores os trabalhadores não sofrem de ilusão monetária.
(21, Y1). A partir daqui e sabendo que H= N + Z,ouseja, N=H-Z,
calculamos N1, pois quer o número de horas disponíveis, quer o número de B2) Caso keynesiano
horas do período de lazer são conhecidos.
Keynes considera que os trabalhadores sofrem de ilusão monetária, isto é,
Vamos, agora, por exemplo, aumentar o salário nominal (w2 > w1), mantendo oferecem trabalho em função do salário nominal. Contudo, não permitem que
constantes as preferências do trabalhador por trabalho versus lazer, o preço os salários baixem (os salários são rígidos na baixa), o que correspondia à
(p1) e o número de horas disponíveis (H1). negociação salarial corrente na década de 30 do século passado: os sindicatos
preocupavam-se, basicamente, com a não diminuição dos salários nominais,
A recta do rendimento sofre uma deslocação não paralela para a direita (pois
preocupação derivada do elevado desemprego após a crise de 1929-1930.
a inclinação, w/p, foi alterada) e vai ser tangente a outra curva de indiferença
do mapa de curvas de indiferença do trabalhador, gerando novo ponto de Partindo deste pressuposto, a análise é muito semelhante à anterior.
equilíbrio de coordenadas (22, Y2).
O trabalhador tem como objectivo maximizar a sua utilidade (função do seu
Repare-se que 22 < Z1 e como H não sofreu alteração, então N2 (N2 = HI — Z2) rendimento e das suas horas de lazer), tendo como restrição o seu rendimento,
vai ser superior a NI. calculado com base no salário nominal (horário).

Deste modo, aumentou o salário nominal, ceteris paribus, e o trabalhador Formalizando:


está disposto a trabalhar mais horas, pelo que a função oferta individual tem
Max. U=U(Y,2Z)
inclinação positiva.
saiY=w(H-Z)
De referir que, para salários muito elevados, a curva de oferta individual pode
ter inclinação negativa, pois os indivíduos não estão dispostos a sacrificar as suas Os elementos conhecidos neste problema são as preferências do trabalhador
horas de lazer para ganhar um pouco mais; é a excepção à regra que, obvia- por trabalho versus lazer, o salário nominal (w) e o número de horas dispo-
mente, não vai surgir quando referirmos a curva de oferta de trabalho agregada. níveis (H). As variáveis a determinar são o rendimento e o período de lazer.

Generalizando para a economia no seu conjunto e pressupondo que todos os Vamos considerar um ponto inicial: as preferências do trabalhador por trabalho
trabalhadores se comportam do mesmo modo, vamos determinar, utilizando versus lazer, traduzidas no mapa de curvas de indiferença do trabalhador,
91€
"OU[eqri 107927 O
ejuosardol N 9 PILIOUODO PP SILUTUIOU SOLIPTES Op oorpur o eyuosoldar Aq onb uto
“BAISUQJUI UIOBIPUI PPRUTUIONOP E OpUIUTop “ejnu
N
9 [eurgieiu opeprannposd e “[r30y ompold op ouxeur op ojuod oN
0
AN

"PAISUO]XO UIOBIBLI PPRUITUOUOP P


OPUIUIJOp *(SOJU99S9109P SILUIBILUI SOJUQLITPUOL SOP BUOZ) I09S9109p
v piso [euisivur ommpoid o onb ui vuoz eu o orpour oynpoid op
OUIIXPUI Op Ojuod ou orpour oynpold o rjoastojur [eursireu onpoido e
(ND f=sM
:[eursieol
oympold o o orpou oynpoid o “ogônpoid v anus soyuegrodurr sogõejol senp os- M
NY
-UIDOOJoQLIso ([OABIIRA I0J92] UN UIOD) OLÔNpoId op sogduny seu “opoui ojsogT
“PULISOUÁOY UOBLPIOQL E O PIISSP/900U LIA EPIOQL E AMUO OBÂUNSTP E “BIA EJSO
“2UID|n 2Isop ourxeur op oquod ou orpour ojnpold op ogôung e ejoostogur
10d “922 OS Op UI] 2 'SSJUOIoJIp seno] Inquie soy 10d os-nodo “ooIssejo00u
9 (SMJUG9SSI09P SIeUIBILUI SOpeprannpold sep r9l) vanvgou ogdvurjour 10) É
oseo ou epiznpop (N)S ogôung e onb sopepondoid seursou se ur) (N)fogôuny y
essed “quourepinsos orpou ojnpord op ourrxgur op ojuod op sojue ouxpui
O 98UNT 9 BANISOd Og5LUI|OUI UIOD 0501 OITOmIId um tro) peurgreu ompord (ND [=sM iPURISOUÁOY VLIOD) PP Lpesolge oupeqen op
9p BAINO é “OUN|N 10d "[r)0) oOnpold op ourrxeur op ojuod op saque ourxeui virojo opdung e 'sopepguenb sejod no [ejuoziioy opóesaIge vp pISojopojour r
ap ojuod o opuiBune “opnIoAUI ..N,, US opdrinSiguoo eum uro) p/o orpou OpUrzI[NN “ILUTULIMOP SOUIRA “OpOu OUISSUI Op uRjIOduIO? 98 Setopeypeqen
ompold op ogôun] v alojar os onb ON “vOTUIQUOdO PIOUPIOIJoUT Op ogóemIs so sopo) onb opuodnssaid o ojunfuoo nos ou rrurouodo v vIrd opurzipriouas)
vumn opuiznpen 'vanvsou ogôrurpour 10) v essed opôung e fenb op med e
“ogônpold op ogôun]y vp ouixeur op ojuod o os-aBume stodog "eJuaume [ejo) No UNIN Z IH
ovônpoid x “ergojouo9) » o fejrdeo o pIIo) Sa10J9L] SO Sajurjsuoo opuojueui SS.

A
0 -
“soropeupeqei sreur wreynioor os anb eprpouu w “elos no 'eanisod ogôrurpour
vyuosoIde *o301) orrourid umu “onb tuo vaio vum 9 ogônpord op ogóuny V
NP = SWd
OP
ojumgos e 9 vonipeue ogssoidxo ens y vigojouo9]
M vo A
vo [ejrdeo o pIIo) SaLOJoLJ SO SOjurIsuoo opusjueur 'peuororpr Jopeypegen Jod
W
opônpold vp opôeirra 2 opoui [euigivur opeprannpolrd no jeugicur ojnpoid o Jopeupegen
91S9Pp OU[eqLn op viajo ogôung v IIZNpop sourva “opóvuozur pIsop inIed y
“(eANvSoU ogôLur|our 19) opod sopraopo ojmuu sorrejes
vred) vanIsod ogôrur jour u1o) fenprarpur oypegea op ejrojo ogôung e onb opod
QUOLIvonIeuy Iopeupegrn epero 1od “erpow wo “QUoLIrjooITp ureuoTor[os os onb fenpraIpur oypeqea op ejxojo ogôuny vp sojuod
“ogônpold v opow orpou ompoid O (Surd) [eursrew oynpord o (Jd) orpoui stop souto) onb ojod* IN < tN 9nb ss-a1edow (77 — [H=ZN) ZN sourejnopro
ompold :Sojrouoo sIop sopngo 1os uropod ogônpoid op ovôung vp inied y “Z7 op Wed v o oumndo op ojuod os0u souNgo "(LH) stoaruodsrp sexo op
OISUIIL O 9 19ZP] SAS.194 OUPeqen 10d 1oprypegen op serougiojord se sojueysuoo
“PIBO[OUDO) E OLIOD UIOQ “fejtdro 9 vIIo) SO1OJ9B] SO
opuojueur “(JM < TM) [eurou orpjes o Ireuoune “ojduoxo 10d “sou,
SOJULISUOS OPUMUeUI *OAnNpOId 10J92] 9)S9p OgdezIyn 2 too [oaIssod eurrxpu
ovônpolde gp 'oupeqri 10j9g] O '[9ABIIA 10J92] um u1oo opônpold op ogôuny v (Z-1H=IN)IN
sowrepnopeo mbep intede (1X “1Z) sepeuopirooo op oundo op ojuod orrourid
ovônposd op opdunfy TT o SOUTO “TH sT9Ajuodstp sSEIOU OP OINUMU O 9 TM [eUIIOU OLIRTES UM
A delimitação destas margens permite-nos definir três zonas na função de 5.2.3 Dedução da oferta agregada: modelo neoclássico e modelo
produção (zonas I, Il e JIJ) que apresentam diferenças quanto à sua eficiência keynesiano
técnica e económica. A única zona eficiente (quer do ponto de vista técnico,
quer do ponto de vista económico) é a zona Il e designa-se de zona económica Para determinarmos a função oferta agregada temos de juntar o equilíbrio no
de exploração. É aqui que se irá situar o ponto óptimo da empresa. Nesta mercado de trabalho com a função de produção. Obviamente, há que distinguir
zona, a produtividade marginal está a decrescer, verificando-se a lei das os casos neoclássico e keynesiano, uma vez que se registam diferenças a
produtividades marginais decrescentes ou lei dos rendimentos decrescentes. nível da teorização da oferta de trabalho.
Por outras palavras, a condição de 2.º ordem referente à maximização do
A) Caso neoclássico
lucro da empresa está demonstrada.
Vamos determinar o ponto de equilíbrio no mercado de trabalho. E o ponto
Graficamente temos:
de intersecção entre as funções procura e oferta de trabalho.
AN
Q W Wo =P g(N)
PM HE
Pmg +,
We
Q Wo =P ÍN)

0 ———s
Ne N

Há um e um só salário real para o qual a quantidade de trabalhadores que as


PM empresas querem recrutar coincide com o número de trabalhadores que estão
dispostos a trabalhar a esse salário, mantendo constantes a tecnologia, os
custos fixos, a preferência dos trabalhadores por trabalho versus lazer e o
Nº N2 número de horas disponíveis.
N
Pmg No entanto, só o equilíbrio no mercado de trabalho não nos permite chegar à
função oferta agregada, pois não temos informações sobre o rendimento (Y).
Vamos, pois, juntar a função de produção.
em que NI representa a margem extensiva e N2 representa a margem
intensiva. Assim, vamos substituir o volume óptimo de emprego, Ne, na função de
produção e determinamos a produção óptima. Importa referir que, para os
A zona Té uma zona economicamente eficiente (a produção aumenta, à medida
neoclássicos o rendimento de equilíbrio coincide com o rendimento de pleno
que aumenta o número de trabalhadores recrutados) e tecnicamente ineficiente
emprego, pelo que o número de trabalhadores Ne está associado à produção
(a produção, em média, gerada por cada trabalhador vai aumentando à medida
máxima da economia, ou seja, corresponde ao ponto de máximo da função
que o número de trabalhadores aumenta). A zona III é uma zona
de produção.
economicamente ineficiente (a produção decresce com o aumento do número
de trabalhadores, ou seja, a função de produção tem inclinação negativa) Para analisarmos a configuração da função oferta agregada, vamos alterar o
e tecnicamente eficiente (o produto médio e o produto marginal têm incli- índice de preços, mantendo as demais variáveis constantes.
nações negativas). A zona H reúne as duas vertentes da eficiência, pelo que é
designada por zona económica de exploração. Deste modo vamos, inicialmente, considerar um ponto de equilíbrio no
mercado de trabalho (WI, NI) para o nível de preços Pl. O volume de
emprego óptimo, N1, gera, pela função de produção, o nível de rendimento
Y1, mantendo constantes os demais elementos que afectam a análise.

218
Vamos supor que os preços, por exemplo, aumentam para P2 (P2 > P1), p 4 AS
ceteris paribus. A função procura de trabalho vai-se deslocar para a direita,
pois para preços mais elevados (e para o mesmo salário nominal, W1) gera-
Ed O
-se um desequilíbrio entre a produtividade marginal e os salários reais (Pmg >
Pro dlsiiln oo
W/P); o produto marginal vai ter de descer o que é conseguido, aplicando a 0 '
lei dos rendimentos marginais decrescentes, através de um aumento do volume
de emprego. No que se refere à oferta de trabalho, se os preços aumentam, Y2=Y Y
os salários reais diminuem (não esquecer que os salários nominais não se
alteram) e os trabalhadores não estão dispostos a trabalhar tanto; a função Formalizando o modelo:
oferta de trabalho vai-se deslocar para a esquerda. Mas repare-se que o índice
de preços aparece de forma multiplicativa nas funções procura e oferta de Wo5= Wo Equação de equilíbrio
trabalho, pelo que as amplitudes de deslocação das duas funções são iguais.
Wo=Pf(N) Equação de comportamento

AN Wo We Wo=Pg(N) Equação de comportamento


W
Y = T(N) Equação de comportamento

Da resolução do sistema obtemos duas soluções: o rendimento (de pleno


Wo emprego) e o volume de emprego. Logo, não temos uma relação entre estas
duas variáveis, pelo que a função oferta agregada é vertical (qualquer que
Wi seja o índice de preços, o rendimento é sempre o mesmo).
Di

0 * B) Caso keynesiano
N2=Ni N
A análise é semelhante à efectuada para a teoria neoclássica. Conjugando as
funções procura e oferta de trabalho temos o equilíbrio no mercado de trabalho
v A | keynesiano.

Há e um só salário nominal para o qual o número de trabalhadores que as


Yo=Y)
empresas querem recrutar coincide com o número de trabalhadores que
querem trabalhar a esse salário, mantendo constantes a tecnologia, os custos
fixos, a preferência dos trabalhadores por trabalho versus lazer e o número
Y
de horas disponíveis.

0) A partir da noção de equilíbrio no mercado de trabalho e combinando-a com


a função de produção obtém-se a função oferta agregada.

N2= Ni N Assim, vai-se considerar o ponto de equilíbrio inicial no mercado de trabalho


(Wi, N1), obtido para um dado nível de preços P1, uma dada preferência dos
Deste modo, no novo ponto de equilíbrio (W2, N2), os salários nominais trabalhadores por trabalho versus lazer, uma dada tecnologia e um dado
subiram, mas o volume de emprego é o mesmo, o que significa que a produção número de horas disponíveis. A esse volume de emprego corresponde um
é a mesma (Y2 = Y1): continua a ser a produção máxima da economia, ou rendimento Y1, obtido na função de produção. De referir que, na teoria
seja, o rendimento de pleno emprego. keynesiana, o rendimento de equilíbrio não coincide com o rendimento de
pleno emprego. Consequentemente, o rendimento Y1 encontra-se na zona
Logo, os preços aumentaram, ceteris paribus, mas O rendimento não se
económica de exploração, entre as margens extensiva e intensiva. Temos,
alterou: a função oferta agregada é vertical.
pois, o primeiro ponto da curva de oferta agregada.

220
Formalizando o modelo:

Wo=Wo Equação de equilíbrio

Wo =Pf(N) Equação de comportamento

Wo =J(N) Equação de comportamento

Y=f(N) Equação de comportamento

Da resolução deste sistema determinamos uma função Y = f(P), com


inclinação positiva, que é a oferta agregada.

Podemos, pois, definir o conceito de oferta agregada (AS). A oferta agregada


é o lugar geométrico dos pares de valores rendimento e índice de preços que
equilibram o mercado de trabalho.

5.2.4 Produto potencial e taxa natural de desemprego

O produto potencial ou rendimento de pleno emprego é o rendimento máximo


obtido na economia com a utilização total dos recursos existentes e para a
tecnologia em vigor. A partir da definição de pleno emprego, podemos ser
Ni N N levados a concluir, erroneamente, que a taxa de desemprego para o rendimento
de pleno emprego é nula. Com efeito, tal situação não ocorre: a taxa de
Os preços vão, por exemplo, aumentar passando para P2 (P2 >P1), mantendo desemprego correspondente ao pleno emprego designa-se por taxa natural
as demais variáveis constantes (incluindo os salários nominais). A função de desemprego.
procura de trabalho vai sofrer uma deslocação para a direita, mas a função
À questão do produto potencial relaciona-se com a oferta agregada, na zona
oferta de trabalho não regista qualquer alteração, pois os trabalhadores sofrem
do caso neoclássico.
de ilusão monetária. O novo ponto de equilíbrio é (W2, N2), registando-se
um aumento do volume de emprego e dos salários nominais. A este novo volume Se conjugarmos as teorias neoclássica e keynesiana, obtemos uma função
de emprego, maior, corresponde um rendimento (Y 2), também mais elevado. oferta agregada com duas zonas: uma zona com inclinação positiva, para
níveis de rendimento intermédios (corresponde às análises de curto prazo) e
Assim, Os preços aumentaram, ceteris paribus, e o rendimento também
uma outra zona, correspondente ao rendimento de pleno emprego, em que a
aumentou: a função oferta agregada tem inclinação positiva.
oferta agregada é vertical (corresponde às análises de longo prazo).
Graficamente:
A AS
P

AS

W
222
Importa referir que a função AS tem uma outra zona, denominada caso AS1 AS2
keynesiano puro, em que a oferta agregada é horizontal. Representa as situa-
ções em que a capacidade produtiva é de tal forma excedentária que as empre-
sas estão dispostas a produzir qualquer quantidade de produto ao nível de
preços em vigor. Muitas vezes estas situações ocorrem em períodos de forte crise
económica, em que o rendimento de equilíbrio está muito afastado do produto
Pi
potencial, ou seja, a taxa de desemprego é muito elevada. Importa referir que
não vamos considerar este troço da curva de oferta agregada; somente iremos
considerar as zonas com inclinação positiva (curto prazo) e o troço vertical
na
correspondente ao rendimento de pleno emprego (longo prazo). ad

Yt Ypel Y2 Ypez Y

Posteriormente registou-se um avanço tecnológico, mantendo constantes os


5.2.5 Determinantes da oferta agregada e deslocações da oferta custos de produção, as preferências dos trabalhadores por trabalho versus
agregada lazer e o nível de preços (no ponto inicialmente considerado, P1). O rendi-
mento aumenta, pois um avanço tecnológico significa que, com os mesmos
Os determinantes da oferta agregada resultam dos determinantes da procura inputs, se consegue uma produção maior: o rendimento passou do nível Y1
e da oferta de trabalho e dos determinantes da função de produção. São os para Y2, maior (Y2 > Y1). De referir que o avanço tecnológico gera, em
seguintes: simultâneo, um aumento do rendimento potencial, como se pode observar
no gráfico.
* Índice de preços (P).
Deste modo, temos um aumento do rendimento, para o mesmo nível de preços,
e Custos de produção (dos quais os mais referidos são os custos salariais, pelo que obtemos um novo ponto de uma curva de oferta agregada; só que,
os custos energéticos e os custos com as matérias primas). este ponto já não pertence à primeira AS, mas sim a uma outra posicionada
mais à direita (AS2).
e Nível tecnológico ou tecnologia.

e Preferências dos trabalhadores por trabalho versus lazer. - B) Alterações dos custos de produção

As alterações do índice de preços, mantendo os demais determinantes Vamos considerar inicialmente uma primeira curva de oferta agregada, ASI
constantes, geram deslocações ao longo da mesma curva de oferta agregada, e vamos definir um ponto nessa curva, ou seja, vamos fixar o nível de preços
ou seja, geram deslocações na oferta agregada. em P1, ao qual vai corresponder o rendimento Y1.

As alterações dos outros determinantes, um de cada vez, geram deslocações da Seguidamente, vamos considerar um aumento dos custos de produção,
oferta agregada, ou seja, passagem de uma curva de oferta agregada para outra. mantendo constantes a tecnologia, as preferências dos trabalhadores por
trabalho versus lazer e o nível de preços (no ponto inicialmente considerado,
Vamos analisar as deslocações da oferta agregada. P1). O rendimento diminui, passando do nível Y1 para Y2, menor (Y2 <Y1).
O produto potencial não sofre alterações.
A) Alterações do nível tecnológico ou tecnologia
Deste modo, temos uma diminuição do rendimento, para o mesmo nível de
Vamos considerar uma primeira curva de oferta agregada, AS1 e definir um preços, pelo que obtemos um novo ponto de uma curva de oferta agregada;
ponto nessa função, ou seja, vamos fixar o nível de preços em P1, ao qual vai só que este ponto já não pertence à primeira AS, mas sim a uma outra
corresponder o rendimento Y1. posicionada mais à esquerda (AS 2).

225
|
Do mesmo modo, a curva de oferta agregada desloca-se para a esquerda
devido a “retrocesso” tecnológico (corresponde a situações de catástrofes,
guerras ou qualquer fenómeno que dê origem à destruição dos recursos da
economia; só nestes casos pontuais é que se fala de “retrocesso” tecnológico),
ou aumento dos custos de produção, ou diminuição das preferências dos
P;
trabalhadores por trabalho (ou, dito de outro modo, aumento das preferências
dos trabalhadores por lazer).

W
Yo Yi Ype Y
5.3 O equilíbrio do modelo
C) Alterações das preferências dos trabalhadores por trabalho versus lazer
Uma vez definidas a procura e a oferta agregadas da economia, já é possível
Vamos considerar inicialmente uma primeira curva de oferta agregada, AS] determinar o equilíbrio do modelo, ou seja, a conjugação das duas funções.
e vamos definir um ponto nessa curva, ou seja, vamos fixar o nível de preços O ponto de equilíbrio do modelo a preços variáveis ou modelo AD-AS dá-
em P1, ao qual vai corresponder o rendimento Y1. -nos o par de valores rendimento e índice de preços que equilibra, em simul-
tâneo, os mercados real, monetário e de trabalho, mantendo constantes todas
Seguidamente, vamos considerar um aumento das preferências dos trabalha-
as variáveis estratégicas do modelo.
dores por trabalho (ou seja, diminuição das preferências dos trabalhadores
por lazer), mantendo constantes a tecnologia, os custos de produção e o nível Graficamente:
de preços (no ponto inicialmente considerado, P1). O rendimento aumenta,
passando do nível Y1 para um nível superior, Y2 (Y2>Y1 ). O rendimento de
pleno emprego não sofre alterações.

PA

W
|
|
|
Pri ui 2
Há um e um só nível de preços (Pe) para o qual os rendimentos nos três
I
| mercados coincidem (Ye), mantendo constantes as variáveis de política
|
| orçamental, a variável de política monetária, as variáveis controladas pelas
empresas, a tecnologia, os custos de produção e as preferências dos
Y

Yi Ya Ype Y trabalhadores por trabalho versus lazer.

Deste modo, temos um aumento do rendimento, para o mesmo nível de preços,


pelo que obtemos um novo ponto de uma curva de oferta agregada; só que,
este ponto já não pertence à primeira AS, mas sim a uma outra posicionada
mais à direita (AS2).

Em resumo, a curva de oferta agregada desloca-se para a direita devido a


avanços tecnológicos, ou diminuição dos custos de produção, ou aumento
das preferências dos trabalhadores por trabalho (ou, o que é o mesmo,
diminuição das preferências dos trabalhadores por lazer).

221
Exercícios de revisão 2.4 Numa dada economia registou-se um aumento do preço do barril de
petróleo e, em simultâneo, o banco central diminuiu a taxa de reservas
l. Face às afirmações seguintes, diga se as mesmas são verdadeiras ou
legais. Os efeitos sobre o ponto de equilíbrio foram:
falsas e justifique a sua resposta.
a) um aumento do índice de preços e a taxa de desemprego registou
a) A implementação de medidas de política orçamental expansionistas
uma variação qualquer.
gera uma deslocação paralela da AD para a direita.
b) uma diminuição do índice de preços e uma diminuição da taxa de
b) Numa dada economia quando, em simultâneo, o governo aumenta
desemprego.
os gastos públicos e o banco central diminui a taxa de reservas legais
regista-se um aumento do índice de preços de equilíbrio e uma c) um aumento do índice de preços e um aumento da taxa de desemprego.
diminuição da taxa de desemprego.
d) uma diminuição do índice de preços e a taxa de desemprego registou
c) Numa economia em que a oferta de trabalho é função dos salários uma variação qualquer.
nominais, a AS tem inclinação positiva.
2.5 Numa dada economia registou-se um aumento dos salários nominais.
d) Os custos de produção são o único determinante da função oferta No entanto, o governo pretende que o índice de preços de equilíbrio não
agregada. se altere. Para atingir este objectivo deve, ceteris paribus,
Para cada questão que lhe é proposta, dispõe de quatro alternativas de a) aumentar os gastos públicos.
resposta, das quais somente uma está correcta. Diga qual a alternativa
que, no seu entender, está correcta. b) diminuir os impostos autónomos.

c) aumentar as transferências autónomas.


2.1 A função AD traduz

a) o equilíbrio no mercado monetário. d) aumentar a taxa de imposto.

b) o equilíbrio no mercado de trabalho.

e) o equilíbrio no mercado real.


d) o equilíbrio conjunto nos mercados real e monetário. Leituras complementares
2.2 Numa dada economia em que a oferta de trabalho é função dos salários
BELBUTE,J.M.M.
reais, O governo aumentou as transferências autónomas, ceteris paribus.
2003 Princípios de Macroeconomia. Lisboa: Gradiva Publicações Lda.,
O rendimento de equilíbrio
p. 176-189.
a) aumentou.

b) não se alterou. DORNBUSH, R., FISCHER, S., e STARTZ, R.


1998 Macroeconomia. 7. ed., Lisboa: McGraw-Hill, p. 81-90.
c) diminuiu.

d) registou uma variação qualquer.

2.3 Um aumento da taxa de redesconto, ceteris paribus, gera uma deslocação

a) paralela da AD para a direita.

b) paralela da AD para a esquerda.


c) não paralela da AD para a direita.
d) não paralela da AD para a esquerda.
6. Inflação e Desemprego
Objectivos de aprendizagem

Após a leitura do capítulo 6, o estudande/leitor deverá ser capaz de:

e Definir o conceito de inflação.

* Identificar os factores que geram inflação pela procura.

* Fazer a representação gráfica do fenómeno da inflação pela procura.

* Analisar o impacto da inflação pela procura na taxa de desemprego,


no valor do saldo orçamental e no valor do saldo da balança corrente.

e Identificar os factores que geram inflação pela oferta.

* Fazer a representação gráfica do fenómeno da inflação pela oferta.

* Analisar o impacto da inflação pela oferta na taxa de desemprego, no


valor do saldo orçamental e no valor do saldo da balança corrente.

* Definir o conceito de estagflação e explicar o seu significado.

e Deduzir a expressão analítica da curva de Phillips de curto prazo,


explicar o seu significado e fazer a correspondente representação
gráfica.

e Identificar os factores que geram deslocações ao longo da mesma


curva de Phillips e os que geram deslocações da curva de Phillips.

* Deduzir a expressão analítica da curva de Phillips aumentada das


expectativas.

e Fazer a representação gráfica da curva de Phillips de longo prazo.

O)
E)
0)
6.1 Tipos de inflação

A inflação pode ser definida como a subida generalizada e contínua de preços


na economia.

Há várias classificações de inflação, consoante os objectivos da análise. Vamos


referir três classificações possíveis, que não são mutuamente exclusivas.

e Inflação quanto às causas

Temos a dicotomia entre inflação pela procura e inflação pela oferta.

À inflação pela procura consiste na subida generalizada e contínua


de preços na economia resultante de deslocações da procura agregada.

A inflação pela oferta (ou pelos custos) consiste na subida generalizada


e contínua de preços na economia gerada por deslocações da curva
de oferta agregada.

* Inflação quanto ao tipo

Temos a dicotomia entre inflação interna e inflação importada. A inflação


interna consiste na subida de preços gerada por factores internos como,
por exemplo, políticas orçamentais e/ou monetárias expansionistas.
À inflação importada consiste na subida de preços imputável a factores
externos à economia como, por exemplo, subida de preços das
matérias-primas importadas ou do preço do barril de petróleo.

* Inflação quanto ao seu montante

Podemos considerar três categorias da inflação quanto ao seu valor:


inflação baixa, moderada e galopante. Há autores como, por exemplo,
Samuelson e Nordhaus (2005)! que designam estas mesmas categorias ! Samuelson, P.A., e Nordhaus,
W. D. (2005). Macroeconomia.
de forma diferente, respectivamente, inflação moderada, galopante e
18.'ed., Lisboa: McGraw-Hill.
hiperinflação. Esta grelha de classificação da inflação prende-se com
os valores assumidos pela taxa anual de crescimento do índice de
preços. Contudo, não há qualquer barreira previamente fixada para
delimitar o montante a partir do qual se passa da inflação baixa para
a moderada e desta para a galopante. Depende das características
estruturais e conjunturais de cada economia.

6.2 A inflação pela procura: causas e efeitos

A inflação pela procura é a subida generalizada e contínua de preços na economia,


resultante de deslocações da curva de procura agregada para a direita.
Graficamente: ao saldo da balança corrente este melhora, se as variáveis manobradas forem
as exportações autónomas ou as importações autónomas, ceteris paribus, mas
deteriora-se se a variável manobrada for o investimento autónomo, ceteris paribus.

Se a inflação pela procura for devida à implementação de medidas de política


monetária expansionistas, o saldo orçamental melhora e o saldo da balança
corrente deteriora-se.

Esquematicamente:

Variáveis estratégicas Saldo da BC

w
o
E E E e
35355355
A deslocação da curva de procura agregada para a direita pode ser resultante da
manobra, uma de cada vez, das seguintes variáveis estratégicas, no sentido indicado:

* Aumento dos gastos públicos.

E
* Aumento das transferências autónomas.

e
º Diminuição dos impostos autónomos.

GD
* Diminuição da taxa de imposto.

* Aumento do investimento autónomo.

* Aumento das exportações autónomas.


6.3 A inflação pela oferta: causas e efeitos
* Diminuição das importações autónomas.

* Aumento da massa monetária, conseguido pelo banco central através, A inflação pela oferta ou pelos custos consiste na subida generalizada e
ou da diminuição da taxa de reservas legais, ou da diminuição da taxa contínua de preços na economia, resultante de deslocações da função oferta
de redesconto, ou da realização de operações de open market de compra. agregada para a esquerda.

Repare-se que a inflação pela procura resulta da implementação de políticas Graficamente:


expansionistas, pelo que está associada ao aumento do rendimento, ou seja,
à diminuição da taxa de desemprego.

Os efeitos sobre o saldo orçamental e sobre o saldo da balança corrente são


diferentes consoante a variável estratégica geradora de inflação pela procura.

Assim, se a inflação pela procura for devida à implementação de medidas de


política orçamental expansionistas, o saldo orçamental deteriora-se, bem Pp» E===eecenmeoa
como o saldo da balança corrente. Pp [mm

Se a inflação pela procura for devida à implementação de políticas expan-

W
sionistas pelas empresas, então o saldo orçamental melhora. No que se refere

236
As deslocações da oferta agregada para a esquerda são devidas à manobra Com efeito, em 1958, Phillips publica na revista Economic Journal um artigo
dos seguintes determinantes, um de cada vez: intitulado The Relation Between Unemployment and the Rate of Money Wages
in the United Kindgom, 1861-1957, onde mostra, empiricamente e tendo
* “Retrocesso” tecnológico.
como referência os dados estatísticos do período em causa para o Reino
* Aumento dos custos de produção. Unido, que havia uma relação inversa entre a taxa de crescimento dos salários
nominais e a taxa de desemprego. Segundo Phillips a relação definida era
* Aumento das preferências dos trabalhadores por lazer (ou diminuição
não linear. No entanto, na nossa análise e por forma a simplificar a mesma,
das preferências dos trabalhadores por trabalho).
vamos considerá-la linear.
De todos estes determinantes geradores de inflação pela oferta, o que tem
Vamos deduzir a curva de Phillips (de curto prazo). Para o efeito, partimos
maior realismo, ou seja, que na realidade pode ocorrer, é o aumento dos
do equilíbrio (keynesiano) no mercado de trabalho. Quando se regista um
custos de produção; a alteração das preferências dos trabalhadores é algo
aumento do índice de preços, a função oferta de trabalho não sofre qualquer
não quantificável e o “retrocesso” tecnológico só ocorre em casos muito
alteração (os trabalhadores sofrem de ilusão monetária) e a função procura
pontuais. Por este motivo, a inflação pela oferta é usualmente designada por
de trabalho desloca-se para a direita. Gera-se uma situação de desequilíbrio,
inflação pelos custos.
pois ao nível de salários inicial (W1), que não foi alterado, as empresas estão
A inflação pelos custos gera diminuição do rendimento, ou seja, um aumento dispostas a recrutar N', trabalhadores, mas só N, trabalhadores está disposto
da taxa de desemprego. a trabalhar. Há um excesso de quantidade procurada de trabalho que vai
desencadear um mecanismo de ajustamento, traduzido numa subida dos
A inflação pela oferta, qualquer que seja o determinante que a origine, vai
salários nominais.
deteriorar o montante do saldo orçamental e melhorar o valor do saldo da
balança corrente, pois o efeito que as variáveis geradoras deste tipo de inflação Graficamente:
têm nas duas variáveis objectivo referidas resulta do facto de estas dependerem
do rendimento. O saldo orçamental é função directa do rendimento. Assim,
se o rendimento desce, o saldo orçamental deteriora-se. O saldo da balança w PAN Wai

corrente é função inversa do rendimento: como o rendimento diminui, o


saldo da balança corrente melhora.
Wi do NON Wo, =P, f(N)
Esquematicamente:
0 — Wo; =P EN)
Variáveis estratégicas SO Saldo da BC Fá

“Retrocesso” tecnológico , f No; = Na Np N

Aumento dos custos


de produção 4, 7 Phillips considerou que se estabelecia uma relação directa entre a taxa de
Aumento das preferências crescimento dos salários nominais e o excesso de procura de trabalho. Por
dos trabalhadores por lazer R f outras palavras, quanto maior for o excesso de procura de trabalho, maior
terá de ser o aumento dos salários nominais, a fim de se repor o equilíbrio e,
do mesmo modo, quanto menor for o excesso de procura de trabalho, menor
será a variação dos salários nominais necessária à retoma do equilíbrio.
6.4 A curva de Phillips
Taxa de crescimento dos salários nominais = f (excesso de procura de
trabalho)
Na década de cinquenta do século passado, Phillips estabeleceu uma relação
estável e inversa entre a taxa de variação dos salários nominais e a taxa de O excesso de procura de trabalho é dado por (N, -N ) e a taxa de crescimento
desemprego. dos salários nominais é dada por A W/W.

238 239
Assim: Se determinarmos as correspondentes taxas de variação temos:

AW
EA = (Ny - Ns) AWWo oPAP ATO)
f(N)
Mas o que nos interessa é a taxa de desemprego. Ora, o desemprego é um
excesso de oferta de trabalho e a taxa de desemprego é o quociente entre o Deste modo, a variação dos salários nominais é igual à variação do índice de
preços (taxa de inflação) adicionada da variação da produtividade marginal
excesso de oferta de trabalho e a população activa (de propósito estamos a
omitir o produto por 100, tal como já fizemos na definição de taxa de do trabalho.
crescimento dos salários nominais, pois estes dois valores anulam-se). Vamos considerar, por hipótese, que a variação da produtividade marginal
do trabalho é nula, ou seja, que a produtividade marginal do trabalho está
Deste modo:
constante (na realidade esta situação não ocorre). Assim:
Desemprego
Desemprego = N.-N,. e Taxa de desemprego = u = T :
pres sb pres População activa AW AP AW
—— = — ou —— = Vi
W P W
Logo: Excesso de procura de trabalho = — (Nç— Ny)
ou seja, a taxa de crescimento dos salários nominais é igual à taxa de inflação,
Substituindo:
designada pela letra 7.
AW
w
—— = g(u)
9 (U Substituindo na equação inicial:

Esta função g (u) tem inclinação negativa, pois corresponde à incorporação os. =g(u) ou T=g(u)
do sinal negativo, referente ao simétrico do excesso de procura de trabalho.
Deixou de se designar a função por fe passou a designar-se por g, a fim de A função g (u) tem inclinação negativa (dg/du < 0), pelo que se estabelece
salientar a diferença das variáveis consideradas (o excesso de procura/oferta uma relação inversa entre a taxa de inflação e a taxa de desemprego.
de trabalho é medido em número de indivíduos e a taxa de desemprego é um
valor em percentagem). Um outro modo de efectuar a passagem da taxa de variação dos salários
nominais para a taxa de variação dos preços (taxa de inflação) é considerar,
É a primeira versão da curva de Phillips de curto prazo: relação inversa entre como hipótese, que há uma relação directa e estável no curto prazo entre o
a taxa de crescimento dos salários nominais e a taxa de desemprego. índice de salários nominais e o índice de preços, que resulta da consideração
da igualdade entre a produtividade marginal do trabalho e os salários reais.
Uma versão alternativa da curva de Phillips é considerar a taxa de inflação,
Só que, agora, a produtividade marginal do trabalho assume um valor D,
em vez de se considerar a taxa de crescimento dos salários nominais. Para
positivo e estável no curto prazo.
isso, vamos colocar a seguinte hipótese: há uma relação directa e estável no
curto prazo entre o índice de salários nominais e o índice de preços. W=bP ou WP=b

Com efeito, em concorrência perfeita, a condição de 1.º ordem da maxi- À partir daqui calculam-se as correspondentes taxas de variação:
mização do lucro das empresas diz que a produtividade marginal do trabalho
deve igualar os salários reais. AW Ab N AP
W b P
W/P=f(N) ou W=Pf(N)
em que A P/P é ataxa de variação dos preços, ou seja, a taxa de inflação (7)
Era, aliás, a expressão analítica da função procura de trabalho agregada ou
e Ab/b, como b é constante, assume o valor zero.
de mercado.
AW AP
Logo: W P

240
Substituindo:
em que E é uma constante positiva e A W/W representa a taxa de variação
AP dos salários nominais.
——=g(u) ou m=e(u)
P
Sabendo que, em equilíbrio no mercado de concorrência perfeita, a produ-
Vamos, ainda, referir uma outra via alternativa para se deduzir a expressão tividade marginal do trabalho é igual aos salários reais (tal como referimos
analítica da curva de Phillips de curto prazo. Phillips, tal como já foi anteriormente), então podemos reformular a curva de Phillips, passando a
anteriormente salientado, estabelece uma relação estável e inversa entre a considerá-la função da taxa de inflação.
taxa de variação dos salários nominais e a taxa de desemprego. Esta taxa de
desemprego é usualmente entendida como uma medida do excesso de oferta T=—E (u-u)
no mercado de trabalho.
Quando a taxa de desemprego efectivo (ou observado) coincide com a taxa
Deste modo, vamos definir duas taxas de desemprego:

º* Taxa de desemprego efectivo (u) de procura de trabalho, ou seja, a diferença entre a taxa de desemprego efectivo
e a taxa natural de desemprego é negativa (u — u <0), então a taxa de inflação
É o quociente entre o desemprego efectivo (obtido pela diferença é positiva. Se, por outro lado, se regista excesso de oferta de trabalho, ou
entre a população activa e o nível de emprego efectivo) e a população seja, a diferença entre a taxa de desemprego efectivo e a taxa natural
activa. Pelas mesmas razões referidas anteriormente, vamos omitir a de desemprego é positiva (u — u > 0), então a taxa de variação dos preços
multiplicação por 100 (para termos o valor em percentagem). é negativa.

ue População activa — Nível de emprego efectivo (N) Se abandonarmos a hipótese da produtividade marginal do trabalho ser
População activa constante, temos de alterar a função anteriormente dada, passando a ter:

e Taxa natural de desemprego (u) AW (AP AN)


W o P tN
E a taxa de desemprego correspondente ao rendimento de pleno
emprego. E obtida pelo quociente entre o desemprego de pleno em que A f(NJYÍ(N) representa a taxa de variação da produtividade marginal
emprego (medido pela diferença entre a população activa e o nível do trabalho.
de emprego de pleno emprego) e a população activa.
Deste modo:
Ti População activa — Nível de emprego de pleno emprego
População activa APS TO)
p tHN O=-e(u-u)n SP
Pp um.
e(u-u) DEN) eum DÍN)
FN) n=-e(u-u) FN)

Se a diferença entre a taxa de desemprego efectivo e a taxa natural de


desemprego for positiva (u - u> 0), então ocorre um excesso de oferta de Todas as formulações referidas anteriormente representam a curva de Phillips
trabalho no mercado de trabalho e, consequentemente, os salários nominais
de curto prazo, ou seja, uma função em que se estabelece uma relação inversa
tendem a diminuir. De igual modo, se a anterior diferença for negativa (trade-off) entre taxa de inflação e taxa de desemprego.
(u- u< 0), verifica-se um excesso de procura no mercado de trabalho e os Graficamente:
salários nominais tendem a aumentar.
Curva de Phillips
Deste modo, na primeira formulação da curva de Phillips verifica-se uma relação de curto prazo
inversa (e, para simplificar, vamos considerá-la linear) entre a taxa de
crescimento dos salários nominais e o excesso de oferta de trabalho, ou seja:

—— =-ge(u-u) u

242
243
Analisando a configuração da curva de Phillips observa-se que, quando se
pretende diminuir a taxa de inflação, gera-se um agravamento da taxa de
desemprego e quando se pretende combater o desemprego, o efeito é o
aumento da taxa de inflação.

Repare-se que a inflação que está subjacente à curva de Phillips é a inflação


pelos custos, que, aliás, está bem patente no facto de toda a análise partir do

W
mercado de trabalho e, como tal, dos custos com o factor trabalho (os custos
ul u2 u
de produção são um dos determinantes da oferta agregada).
CPI CP2
As deslocações ao longo da mesma curva de Phillips são consequência da
implementação de medidas de política orçamental e/ou monetária ou da
alteração das variáveis controladas pelas empresas. Com efeito, quando nos
deslocamos para cima numa mesma curva de Phillips (passagem do ponto 1 A relação definida por Phillips mostrou, até ao início da década de setenta do
para o ponto 2), a taxa de inflação aumenta e a taxa de desemprego diminui. século passado, ter aderência à realidade. Com o primeiro choque petrolífero
São dois efeitos possíveis da inflação pela procura causados pela implemen- de 1973-1974 registou-se, em simultâneo, um agravamento do desemprego
tação de medidas de política orçamental e/ou monetária expansionistas ou e da inflação, fenómeno que foi designado por estagflação. A estagflação é
da implementação, pelas empresas, de medidas de política expansionistas. um fenómeno onde se regista inflação acompanhada de um crescimento muito
Do mesmo modo, quando nos deslocamos para baixo numa mesma curva de lento ou mesmo quase estagnação do produto da economia.
Phillips (passagem do ponto 1 para o ponto 3), a taxa de inflação desce e a
taxa de desemprego aumenta. As causas deste fenómeno devem-se ou à Este fenómeno veio pôr em causa o trade-off entre inflação e desemprego
implementação de medidas de política orçamental e/ou monetária contraccio- definido por Phillips, uma vez que se registaram, em simultâneo, taxas de
nistas ou à implementação de medidas de política contraccionistas por parte inflação elevadas e agravamento da taxa de desemprego.
das empresas.
A principal explicação para o fenômeno da estagflação prende-se com as
expectativas inflacionistas dos agentes económicos. Assim, os sindicatos,
T sabendo que para o próximo ano está prevista uma determinada taxa de
nm Curva de inflação, vão exigir aumentos salariais superiores à inflação para conseguirem
Phillips ter algum acréscimo do seu poder de compra. As empresas vão ter de repercutir
1 esses aumentos salariais nos seus preços de venda, fazendo com que a inflação
seja superior à prevista. No ano seguinte, os sindicatos vão exigir um aumento
3 salarial ainda maior do que a inflação prevista, poisjá sabem que a inflação
efectiva vai ser superior à prevista. Só que as empresas prevendo isso e, para
(0) E"

não baixar as suas margens de lucro, vão procurar menos trabalhadores e o
uZ2 ul u3 u desemprego aumenta, em paralelo com a inflação.

Consequentemente, surge o interesse de analisar a curva de Phillips aumentada


As deslocações da curva de Phillips (passagem de uma curva para outra) são das expectativas. De salientar que, muito embora, a curva de Phillips fosse
consequência da inflação pelos custos. Assim, quando passamos de uma curva questionada somente na década de setenta do século passado, com a consta-
para outra (passagem do ponto 1 para o ponto 2) podemos registar um aumento tação do fenómeno da estagflação, já na década de sessenta Edmund Phelps
da taxa de inflação e da taxa de desemprego. Tal situação traduz inflação
e Milton Friedman puseram em causa a relação definida por Phillips.
pelos custos, resultante de um aumento dos custos de produção (ou, hipote-
ticamente, de “retrocesso” tecnológico ou de um aumento das preferências A formulação da curva de Phillips parte do princípio de que os trabalhadores
dos trabalhadores por lazer), ceteris paribus. sofrem de ilusão monetária e, como tal, negoceiam o crescimento dos salários
nominais (não esquecer que o ponto de partida é a análise do equilíbrio

244 245
keynesiano do mercado de trabalho). Substituindo na equação anteriormente referida [A w/w =— € (u— u)] temos:
Tal como já foi mencionado, apesar desta hipótese, que actualmente não tem
cabimento, a relação inversa estabelecida por Phillips entre a taxa de ——AW qt, =-e(u-u)T
W
crescimento dos salários nominais e a taxa de desemprego teve aplicabilidade
durante a década de sessenta do século passado e até ao primeiro choque AW -
——
me To -«-E(U-Uu
petrolífero. Tal situação deveu-se ao facto de, nesse período, a taxa de inflação W e cE (uu)
assumir valores muito baixos e relativamente estáveis e, como tal, as
expectativas referentes à taxa de inflação serem coincidentes com a taxa de
ou, em função da taxa de inflação, considerando que a taxa de variação da
inflação observada. Daí que o fenómeno da ilusão monetária tinha aderência
produtividade marginal do trabalho é nula (ou seja, a produtividade marginal
à realidade.
do trabalho é constante):
No entanto, com o primeiro choque petrolífero a taxa de inflação começou a
q=t.-e(u-u)
assumir valores elevados e flutuantes, pelo que as expectativas referentes à
evolução da taxa de inflação passaram a sofrer variações frequentes e a relação
Para cada valor da taxa de inflação esperada existe uma relação inversa entre
estabelecida por Phillips deixou de ter validade.
a taxa de inflação e a taxa de desemprego. Como tal, a equação anterior
Ora, foi então que as contribuições de Milton Friedman e de Phelps passaram representa uma família de curvas de Phillips (de curto prazo): é a curva de
a ser tidas em consideração. Estes autores, retomando as raízes neoclássicas Phillips aumentada das expectativas. De notar que a curva de Phillips original
da teoria económica, consideram que os trabalhadores não sofrem de ilusão é um caso particular deste mapa de curvas de Phillips, ou seja, corresponde
monetária e oferecem trabalho em função dos salários reais. à situação em que a taxa de inflação esperada é nula.

Deste modo, a relação estabelecida anteriormente [A W/W = — € (u — u)] Não existe uma relação estável entre a taxa de inflação e a taxa de desemprego.
deveria ser: Assim, por exemplo, para se conseguir reduzir a taxa de desemprego, tem de
se aceitar uma maior taxa de inflação. Ora, este acréscimo da variação dos
DP =-e(u-u) preços não é estável, pois à medida que os agentes revêm as suas expectativas,
W para um mesmo nível da taxa de desemprego só se aceitam taxas de inflação
cada vez mais elevadas; significa que a curva de Phillips tende a deslocar-se
em que A w/w é a taxa de variação dos salários reais esperados. Os salários
ao longo do tempo.
reais esperados são o quociente entre os salários nominais e o índice de preços
esperados, ou seja, w = W/Pe, em que Pe representa o índice de preços A partir desta noção foi estabelecido um rácio entre as variáveis em causa,
esperados. denominado rácio de sacrifício que pode ser definido como o valor da taxa
de desemprego em excesso face à taxa natural de desemprego, necessário
Calculando as respectivas variações,
para que a taxa de inflação diminua um ponto percentual. Este rácio depende
da inclinação da curva de Phillips e do modo como os agentes económicos
eme 7 eee 1 ou seja, ——
= ——— q formulam as suas expectativas. Um dos modos para baixar o valor deste
rácio é aumentar o grau de credibilidade da política anti-inflacionista condu-
zida pelo governo, por forma a que as expectativas de inflação diminuam e,
em que T representa a taxa de inflação esperada. Esta é a taxa de inflação
como tal, diminua a taxa de inflação compatível com uma dada taxa de
considerada relevante, pois no momento das negociações salariais os trabalha-
desemprego.
dores não sabem qual a taxa de inflação que irá ocorrer no período seguinte,
ou seja, durante o período onde irão usufruir dos novos salários, fruto das Se considerarmos que, no longo prazo, as taxas de inflação esperada e
negociações em curso; o que eles têm é expectativas sobre o modo como os observada coincidem, então a taxa de desemprego observada vai ser igual à
preços vão evoluir, isto é, sobre a taxa de inflação (taxa de inflação esperada). taxa natural de desemprego e deixa de haver o trade off entre a taxa de inflação
e a taxa de desemprego; a curva de Phillips de longo prazo é vertical, ao
nível da taxa natural de desemprego.

246 247
AN valores mais elevados, a fim de que as variáveis reais permaneçam nos valores
x
Curva de Phillips iniciais. Como se pode observar pelo gráfico, por detrás de cada curva de
de longo prazo Phillips de curto prazo (CPcr) há uma taxa de inflação esperada (7. ). Sempre
que a taxa de inflação esperada coincide com a taxa de inflação observada,
então a taxa de desemprego coincide com a taxa natural de desemprego e
encontramo-nos sobre a curva de Phillips de longo prazo.
0) >
u u

Com efeito, T=1 —E(u-u).Como T=Tc,então 0=-E (uu), ou seja,


u=u. Exercícios de revisão

Por último, relacionando uma família de curvas de Phillips de curto prazo 1. Face às afirmações seguintes, diga se as mesmas são verdadeiras ou
(CPcr) com a curva de Phillips de longo prazo (CP) temos: falsas e justifique a sua resposta.

a) A inflação é um fenómeno indesejável, porque está sempre associada


r CPLp
a um aumento da taxa de desemprego.

b) A implementação de medidas de política monetária expansionistas


5% gera inflação.

c) A inflação pela procura está sempre associada a uma deterioração


PA OO 22 N do saldo orçamental.
d) A inflação pelos custos está sempre associada a uma melhoria do
O) N
saldo da balança corrente.

NA
— CPcr3 (e = 5%) u
CPcr2 (te = 2%) e) Numa economia em que a taxa de desemprego coincide com a taxa
CPeri (me = 0%) natural de desemprego, um aumento das transferências autónomas,
ceteris paribus, gera inflação, mas não afecta o valor do saldo da
balança corrente.
A relação entre taxa de inflação e taxa de desemprego definida pela curva de
Phillips é válida no curto prazo, ou seja, enquanto as expectativas dos agentes f) Qualquer que seja a sua causa, a inflação está sempre associada a
económicos sobre a taxa de inflação não se alterarem. Vamos imaginar que uma deterioração do saldo orçamental e do saldo da balança corrente.
os preços aumentam inesperadamente e, como tal, numa primeira fase, os g) A curva de Phillips estabelece uma relação positiva entre inflação e
salários nominais aumentam, mas não tanto quanto o aumento dos preços; taxa de desemprego.
os salários reais diminuem. A procura e a oferta de trabalho aumentam e,
como tal, este aumento súbito dos preços pode gerar uma diminuição do h) No longo prazo, a curva de Phillips é vertical.
desemprego. Considerando que a taxa de inflação se mantém no novo valor
2. Para cada questão que lhe é proposta, dispõe de quatro alternativas de
(mais elevado que o inicial) os trabalhadores constatam que os seus salários
resposta, das quais somente uma está correcta. Diga qual a alternativa
reais decresceram e obrigam a que eles voltem ao seu nível inicial (ou seja,
que, no seu entender, está correcta.
vão ter de subir). Do mesmo modo, a procura de trabalho também volta ao
seu nível inicial. Por outras palavras, após o aumento repentino dos preços 2.1 A inflação pela procura, qualquer que seja a variável estratégica
que não foi acompanhado pela correspondente subida dos salários nominais manobrada, gera sempre
(registou-se uma breve situação de ilusão monetária), as variáveis reais voltam
aos seus valores iniciais; só a taxa de inflação fica mais elevada. Como tal, a) uma diminuição da taxa de desemprego.
as variáveis nominais não ficaram nos seus valores iniciais, mas sim em
b) uma deterioração do saldo orçamental.

248 249
c) uma melhoria do saldo da balança corrente. Leituras complementares

d) uma diminuição da taxa de juro de equilíbrio.


BELBUTE, J.M.M.
2.2 A inflação pelos custos gera sempre 2003 Princípios de Macroeconomia. Lisboa: Gradiva Publicações Lda.,
p. 227-270.
a) uma diminuição da taxa de desemprego.

b) uma deterioração do saldo orçamental. DORNBUSH, R., FISCHER, S., e STARTZ, R.

c) uma deterioração do saldo da balança corrente. 1998 Macroeconomia. 7º ed., Lisboa: McGraw-Hill, p. 99-120.

d) um aumento das receitas fiscais.


SAMUELSON, P. A., e NORDHAUS, W. D.
23 Numa dada economia regista-se uma inflação pelos custos quando, ceteris 2005 Macroeconomia. 18." ed., Lisboa: McGraw-Hill, p. 667-682.
paribus,

a) os gastos públicos aumentam.

b) as preferências dos trabalhadores por lazer diminuem.

c) os custos de produção aumentam.

d) as preferências dos trabalhadores por trabalho aumentam.

2.4 Numa dada economia regista-se uma inflação pela procura quando,
ceteris paribus,

a) os impostos autónomos aumentam.

b) ataxa de reservas legais diminui.


c) os custos de produção diminuem.

d) o banco central realiza operações de open market de venda.

2.5 Se, numa dada economia, se registar, em simultâneo, uma diminuição


do preço do barril de petróleo e um aumento das exportações autónomas,
observa-se que:

a) o índice de preços aumenta e o saldo orçamental melhora.

b) o índice de preços diminui e o saldo orçamental deteriora-se.

c) o índice de preços diminui e o saldo orçamental pode registar uma


variação qualquer.

d) o índice de preços pode registar uma variação qualquer e o saldo


orçamental melhora.

250 251
7. Consequências para Portugal da Introdução do Euro
Objectivos de aprendizagem

Após a leitura do capítulo 7, o estudande/leitor deverá ser capaz de:

* Identificar os critérios de convergência económica e jurídica para


adopção do euro.

* Aplicar o princípio da subsidariedade.

º Identificar as limitações à política orçamental em Portugal no contexto


da UEM.

* Identificar as disposições comunitárias que asseguram umas finanças


públicas sólidas em cada Estado-Membro.

* Identificar as principais informações a serem disponibilizadas pelos


Estados-Membros nas actualizações dos programas de estabilidade
e crescimento.

º Definir a regra de ouro das finanças públicas.

* Explicitar as condições em que ocorre um défice excessivo e as


respectivas sanções.

e Aplicar a cláusula de no bail-out.

* Identificar e justificar o principal objectivo do Eurosistema.

* Identificar e caracterizar os dois pilares da estratégia da política


monetária do BCE.

e Identificar e caracterizar os instrumentos de controle monetário do


Eurosistema.

* Tipiíficar as operações de mercado aberto.

* Definir as contrapartes elegíveis para as operações monetárias do


Eurosistema.

* Identificar a operação cambial mais importante do Eurosistema.

* Destrinçar os tipos de reservas externas geridos pelos BCN do


Eurosistema.

* Descrever as medidas e os objectivos do Processo do Luxemburgo.

* Explicitar as consequências por Portugal pertencer à área do euro, a


nível de definição e execução das políticas orçamental, monetária,
cambial, social e de emprego.

255
7.1 Enquadramento geral

A terceira e última fase da UEM terminou em 1 de Janeiro de 2002 para os


12 países participantes na União Monetária (entre os quais se encontra
Portugal), com a introdução do euro fiduciário, deixando as respectivas
moedas nacionais de ter curso legal. Para que Isso acontecesse os 12 países
participantes tiveram de cumprir as condições que possibilitavam, por um
lado, um elevado grau de convergência económica sustentável e, por outro,
a convergência jurídica.

A obtenção de um elevado grau de convergência económica sustentável é


aferida por quatro critérios, estabelecidos no artigo 121.º do Tratado CE e no
Protocolo anexo ao Tratado CE, a saber:

* Elevado grau de estabilidade dos preços, o que ocorrerá sempre que


a taxa média de inflação do ano anterior à análise não exceda em
mais de 1,5 p.p. a verificada nos três Estados-Membros com taxas de
inflação mais baixas nesse período.

e À sustentabilidade das finanças públicas, a qual é analisada com base


em dois critérios:

1. O défice orçamental não deve exceder 3% do PIB no ano em


análise, à excepção de duas situações: (1) quando o excesso em
relação ao valor de referência se tratar de uma situação excepcional
e estiver próximo dos 3% ou (11) quando estiver a verificar-se um
decréscimo sustentado do défice orçamental em percentagem do
PIB, de tal forma que se aproxime dos 3%.

2. A dívida pública não deve exceder 60% do PIB para o ano em causa,
a não ser que esteja a verificar-se uma diminuição acentuada do
rácio da dívida pública!, que o faça aproximar-se dos 60% exigidos. "O rácio da dívida pública
corresponde ao quociente
e Convergência das taxas de juro de longo prazo, a qual se observa entre a dívida pública
c o PIB.
quando a taxa de juro nominal média de longo prazo no ano anterior
ao da análise não excede em mais de 2 p.p. a verificada nos três
Estados-Membros com taxas de inflação mais baixas nesse período.

e Estabilidade cambial que é verificada quando o Estado-Membro


participou, nos dois anos anteriores à análise, no mecanismo de taxas
de câmbio do Sistema Monetário Europeu (SME)* sem problemas, e * O SME foi substituído em
ão desvalorizou a sua moeda em relação à dad al * outr 2006 pelo Mecanismo de
não desvalorizou a relação à moeda de qualquer outro Taxas de Câmbio (MTC 11),
Estado-Membro. cujo objectivo é manter a
estabilidade da taxa de câm-

A convergência
8 J
jurídicaa éé assegurada
assegurada sempre
* Pp
que
1
a legislação
Blstaçe
nacional for bio entre o euro e as moedas
dos Estados-Membros da UE
adaptada de modo a eliminar eventuais incompatibilidades com o Tratado que não pertencem à área
. lo euro.
CE e com os Estatutos do SEBC (artigo 109.º do Tratado CE). co eum

257
Ao pertencerem a uma união monetária (a área do euro), estes países sofreram
O PEC foi aprovado em 1997 pelo Conselho Europeu de Amsterdão e entrou
profundas alterações. As que aqui se pretendem evidenciar são as relacionadas
em vigor em 1999, O PEC é considerado o instrumento fundamental da
com a formulação e implementação de políticas económicas. Com efeito, as
disciplina orçamental, impondo aos Estados-Membros um equilíbrio orça-
políticas monetária e cambial passaram a ser supranacionais, enquanto que
mental cíclico e estabelecendo procedimentos para a supervisão e coordenação
as restantes políticas económicas permaneceram da competência de cada das políticas económicas.
Estado-Membro, mas condicionadas pela necessidade de existir uma
coordenação entre elas, para alcançar um objectivo comum: o interesse da O PEC consiste essencialmente em dois regulamentos, um com efeitos 3 Além de uma resolução do
Comunidade. A coordenação das políticas económicas nacionais é assegurada preventivos (braço preventivo) e outro com efeitos correctivos (braço Conselho Europeu.

pelas Orientações Gerais de Política Económica (OGPE), que todos os anos correctivo).
são definidas pelo Conselho Europeu. As OGPE são recomendações espe-
cíficas para cada Estado-Membro e para a Comunidade nas diversas áreas O regulamento com efeitos preventivos respeita à apreciação pela Comissão
de política económica, tais como: finanças públicas, reformas estruturais, Europeia das actualizações dos programas de estabilidade e crescimento
regulamentação do mercado de trabalho e/ou formação, educação e tributação. plurianuais apresentados anualmente pelos Estados-Membros. Destes
programas consta informação obrigatória para os 5 anos, como sejam: o
As diferenças relativas à responsabilidade por cada tipo de política económica objectivo orçamental a médio prazo e a evolução para esse objectivo, em
decorrem da aplicação do princípio de subsidariedade (artigo 5.º do Tratado caso de não existência de equilíbrio orçamental; as principais hipóteses para
CE), segundo o qual a centralização a nível comunitário de políticas econó- as projecções macroeconómicas e orçamentais; as medidas de política
micas apenas se justifica se os objectivos das políticas não puderem ser orçamental e de política económica implementadas para alcançar os objectivos
suficientemente atingidos a nível nacional ou se, a nível comunitário, a orçamentais de médio prazo; as componentes cíclica e estrutural dos saldos
eficácia para os concretizar é maior. orçamentais. Um dos factores a analisar nas finanças públicas de cada Estado-
Membro é o cumprimento da regra de ouro das finanças públicas, a qual
As implicações a nível de definição e execução das políticas orçamental, determina que as despesas públicas correntes devem ser financiadas pelas
monetária, cambial, social e de emprego vão ser exemplificadas para um dos receitas públicas correntes, isto é, apenas as despesas públicas de investimento
Estados-Membros da área do euro: Portugal. podem ser financiadas com dívida pública. A regra de ouro das finanças
públicas é reforçada sempre que o peso do investimento público no PIB é
superior ao peso do défice orçamental no PIB.

7.2 Política orçamental O regulamento com efeitos correctivos é o Procedimento dos Défices
Excessivos (aprovado em 1993 e alterado em 2005 pelo Regulamento CE
A política orçamental continua a ser uma competência exclusiva do governo n.º 1056/2005). De acordo com este regulamento, os Estados-Membros devem
português, mas sujeita a fortes condicionantes. Estas limitações à política evitar os défices excessivos e, caso surjam, devem ser corrigidos rapidamente.
orçamental têm como objectivo uma coordenação das diversas políticas O cumprimento deste requisito é avaliado com base nos critérios do défice
orçamentais dos Estados-Membros que resulte numa política orçamental orçamental e da dívida pública.
global da área do euro que, quando combinada com a política monetária
única, promova a estabilidade macroeconómica da área do euro. Mas o que entender por défice excessivo? Será um défice orçamental superior
a 3% do PIB? Nem sempre. Podem ocorrer dois tipos de situações, em que o
A coordenação das diversas políticas orçamentais na área do euro é garantida défice será considerado excepcional, e não excessivo, a saber:
pelas diversas disposições comunitárias que asseguram a sustentabilidade
das finanças públicas dos Estados-Membros, a saber: o Pacto de Estabilidade * Quando resulte de uma circunstância excepcional fora do controlo
e Crescimento
do Estado-Membro e com repercussões significativas nas finanças
(PEC), as actualizações dos programas de estabilidade e
crescimento plurianuais que os Estados-Membros são obrigados a apresentar públicas do mesmo.
anualmente, a cláusula no bail-out do Tratado CE, as proibições de finan-
* Quando resulte de uma recessão económica grave, designadamente
ciamento monetário do défice orçamental e de quaisquer formas de acesso de uma taxa de crescimento negativa do PIB ou de uma redução
privilegiado às instituições financeiras por parte do sector público.
acumulada da produção durante um período prolongado de cresci-
mento anual muito baixo.
258 259
O défice orçamental excepcional é considerado temporário se as previsões sector público constituem um outro veículo importante para a imposição da
da Comissão indicarem que ele deixará de o ser quando desaparecerem os disciplina orçamental e para a credibilidade da política monetária única. No
factores que o originaram. caso português, uma das formas mais habituais de financiar o défice orça-
mental era justamente por emissão monetária, pelo que a política orçamental
A Comissão Europeia analisa a situação orçamental e económica do Estado- portuguesa ficou muito reduzida nos seus instrumentos.
-Membro relativamente a um eventual défice excessivo e emite um parecer
e uma recomendação ao Conselho Europeu no caso de considerar que se está Face ao exposto, a política orçamental implementada em Portugal está sujeita
perante um défice excessivo. Cabe, no entanto, ao Conselho Europeu, a a restrições muito fortes e, apesar de continuar a ser da competência dos
decisão relativa à existência ou não desse défice excessivo. governos portugueses, estes estão muito limitados na sua actuação. Estas
condicionantes impossibilitam até Portugal de conseguir fazer face a um
Quando o Conselho Europeu decide que existe uma situação de défice eventual choque assimétrico negativo, isto é, um choque adverso sobre a
excessivo, faz uma série de recomendações ao Estado-Membro em causa, produção e o emprego que atinja especificamente Portugal e não atinja de
* Isto é, o défice orçamental entre as quais a de o Estado-Membro reduzir o défice orçamental subjacente * igual forma os restantes Estados-Membros. É por isso, que os Estados-
global corrigido do ciclo e dos
efeitos de medidas extraor-
em pelo menos 0,5 pontos percentuais do PIB. -Membros têm sido aconselhados no sentido de flexibilizar o seu orçamento
dinárias.
e geri-lo com muito rigor, dispôr de um adequado conjunto de estabilizadores
Se o Estado-Membro não aplicar as medidas necessárias para a correcção da
automáticos” e proceder a reformas estruturais. * Embora neste aspecto, as
situação do défice excessivo, ou se a correcção do défice excessivo não ocorrer opiniões dos economistas
dentro dos prazos fixados pelo Conselho Europeu, este pode impôr sanções divirjam. Alguns estudos
empíricos mostraram que em
ao Estado-Membro, as quais consistem, normalmente, na constituição de períodos de recessão, havia
um depósito (com limite máximo de 0,5% do PIB), não remunerado, junto uma deterioração significativa
7.3 Políticas monetária e cambial dos défices orçamentais
da Comunidade. Este depósito compreende uma componente fixa, de 0,2% decorrente do funcionamento
do PIB e outra, variável, igual a um décimo da diferença entre o défice dos estabilizadores automá-
Portugal, como Estado-Membro da zona euro, deixou de ter soberania ticos, que não possibilitaria a
orçamental (expresso em percentagem do PIB do ano em que foi declarado o implementação das políticas
monetária e cambial. Com efeito, a política monetária é única na área do
défice excessivo) e os 3% do PIB. Em cada um dos anos subsequentes, o orçamentais adequadas e,
euro e, como corolário, o mesmo sucede à política cambial, isto é, uma moeda simultancamente, o cumpri-
Conselho pode exigir um depósito suplementar, correspondente ao décimo mento do critério do défice
única apenas tem uma taxa de câmbio, pelo que a política cambial não pode
da diferença entre o défice do ano anterior (expresso como percentagem do orçamental (estudo de Buti,
deixar de ser única. Franco e Ogena (1997), citado
PIB) c o valor de referência (3% do PIB). em Silva (1999), p. 94).

O Banco de Portugal deixou, pois, de ser a autoridade monetária e cambial


Se o défice excessivo não for corrigido no prazo de dois anos, o depósito é
em Portugal. Quais as competências actuais do Banco de Portugal e como
normalmente convertido numa multa, a ser distribuída (proporcionalmente
são conduzidas as políticas monetária e cambial na área do euro, é o que
ao PNB total) pelos Estados-Membros que não tenham um défice excessivo.
passaremos a expor.
Se a decisão relativa à existência de um défice excessivo for revogada, o
Conselho Europeu revogará todas as sanções em vigor (Regulamento CE,
n.º 1467/97).
7.3.1 Política monetária
A cláusula no bail-out do Tratado CE é outro dos instrumentos destinados a
promover a coordenação das políticas orçamentais nacionais. De acordo com Como foi referido no capítulo 3, o Tratado CE atribuíu ao Eurosistema a
esta cláusula, só cada Estado-Membro responde pela sua dívida e nenhuma função de banco central da área do euro*, o que só é possível pelo seu controlo * Em rigor, o Tratado não fala
instituição comunitária é responsável por dívidas dos Estados-Membros. sobre a base monetária da área do euro. de Eurosistema e de área do
euro, mas de SEBC e Comuni-
Logo, a regularização da dívida pública portuguesa permanece uma dade, na medida em que pres-
responsabilidade nacional, o que leva os governos a optar por políticas O principal objectivo do Eurosistema é a manutenção da estabilidade dos supunha que todos os Estados-
“Membros da UE tinham ade-
orçamentais mais prudentes. preços (número 1 do artigo 105.º do Tratado CE), dado que se considera que rido à moeda única.
isso permite melhorar o nível de bem-estar económico e facilita o potencial
As proibições de financiamento monetário do défice orçamental e de quais- crescimento de uma economia, uma vez que:
quer formas de acesso privilegiado às instituições financeiras por parte do

261
|. Aumenta a transparência dos preços relativos e os consumidores e as 2. A análise monetária, que resulta da relação de médio e longo prazo
empresas não sofrem de ilusão monetária. entre o crescimento monetário e a inflação. Como indicador da
evolução monetária o BCE estabeleceu, em 1998, um valor de
2. Reduzos prémios de risco de inflação nas taxas de juro aos credores,
referência para o crescimento do agregado monetário M3 7: 4% 9%. 7 O agregado monetário largo
o que contribui para a eficiência nos mercados de capitais. na área do euro. Para saber a
Este valor de referência foi obtido com base na teoria quantitativa da respectiva composição, ver o
3. Diminui as distorções nos sistemas fiscais e de segurança social, que moeda*, admitindo, por ano, um crescimento real do PIB potencial, ponto 3.4.

resultam da não possibilidade da indexação das taxas de imposto e para a área do euro, entre 2 e 2 4 % e uma redução da velocidade de
* Este valor de referência
contribuições à taxa de inflação. circulação de M3 entre % % e 1%. Na análise monetária, também é para o crescimento do agre-
avaliada a evolução das componentes do agregado M3. gado M3 foi obtido a partir
4. Evita actividades de coberturas de risco desnecessárias e que consti- da chamada equação quan-
titativa da moeda:
tuem decisões de investimento não eficientes. Para decidir sobre a orientação de política monetária adequada, o Conselho AM3=AY+AP-AV.
do BCE faz, assim, uma verificação cruzada das informações resultantes da
5. Aumenta os benefícios de detenção de numerário ao diminuir os análise económica, de curto e médio prazo com as da análise monetária, de
custos de transacção. médio e longo prazo.
6. Impede a redistribuição arbitrária da riqueza e do rendimento, que Para implementar a estratégia de política monetária, o Eurosistema dispõe
decorre da variação não previsível dos preços. de três tipos de instrumentos de controlo monetário: operações de open market
(ou operações de mercado aberto como são habitualmente designadas no
O objectivo da estabilidade de preços não deixa de ser um objectivo natural
sife do BCE), facilidades permanentes e o regime de reservas mínimas.
da política monetária única, uma vez que, em última análise, a política
monetária apenas pode influenciar o nível de preços. As operações de mercado aberto (instrumento com maior relevância) têm
como objectivos influenciar as taxas de juro de curto prazo, gerir a liquidez
A estabilidade de preços foi definida, em termos quantitativos, pelo BCE em
no mercado monetário e sinalizar a orientação da política monetária.
1998, como sendo um aumento homólogo do Índice Harmonizado de Preços
no Consumidor (IHPC) para a área do euro inferior a 2% e deveria ser mantida E habitual tipificar as operações de mercado aberto do Eurosistema em quatro
a médio prazo. Em 2003, o Conselho do BCE especificou que pretende categorias, de acordo com o objectivo, a frequência e os procedimentos
manter, no médio prazo, a taxa de inflação da área do euro num nível inferior adoptados, a saber:
mas próximo de 2%, o que é um indício claro do seu empenhamento em
evitar os riscos de uma deflação (que poderia levar a uma não eficácia da * Operações principais de refinanciamento — são operações reversíveis
política monetária única). A orientação de médio prazo da política monetária de cedência de liquidez, com uma frequência semanal e o prazo de
decorre do atraso (de reconhecimento e externos) com que esta se faz sentir uma semana”. Estas operações são executadas pelos BCN do Euro- 2 A partir de 10 de Março de
2004, Anteriormente, o prazo
no nível de preços. sistema através de leilões normais, fixando o BCE a taxa mínima de
era de duas semanas.
proposta aplicável a essas operações. Constituem o principal instru-
Para prosseguir o seu objectivo de estabilidade dos preços, o BCE adoptou mento de controle monetário do Eurosistema.
uma estratégia de política monetária assente em dois pilares:
º Operações de refinanciamento de prazo alargado — são operações
1. Aanálise económica, que pretende avaliar os factores que no curto e reversíveis de cedência de liquidez, com uma frequência mensal e o
médio prazo podem colocar em causa o objectivo da estabilidade de prazo de três meses. Também estas operações são efectuadas, de forma
preços. Para o efeito, é estudada a evolução do produto global, da descentralizada, através de leilões normais e destinam-se a ceder
procura agregada e das suas componentes, do mercado de trabalho, liquidez a mais longo prazo ao sistema bancário.
da taxa de câmbio, dos indicadores financeiros e do mercado de
capitais, da balança de pagamentos da área do euro, das políticas * Operações ocasionais de regularização — são operações (reversíveis
orçamentais, dos mercados financeiros, dos indicadores de preços e ou não) realizadas numa base ad hoc, que podem ser de absorção ou
custos, etc. de cedência de liquidez. São normalmente executadas, de forma
descentralizada, através de leilões rápidos, mas também podem ser
efectuadas por procedimentos bilaterais (situação em que podem ser

262

as
Cx
o
centralizadas no BCE, em circunstâncias especiais). Têm como As reservas mínimas detidas pelas instituições de crédito são remuneradas à
especial objectivo neutralizar o impacto de flutuações, não esperadas, média ponderada da taxa marginal das operações principais de refinan-
de liquidez no mercado monetário sobre as taxas de juro. ciamento (durante o período de manutenção). Esta remuneração das reservas
obrigatórias visa não penalizar o sistema bancário do Eurosistema.
e Operações estruturais — são operações de absorção ou de cedência de
liquidez, que podem ser efectuadas sob a forma de compras e vendas Quais as contrapartes que são elegíveis para operações de política monetária
definitivas, emissão de certificados de dívida, ou de operações rever- do Eurosistema? “As instituições de crédito sujeitas ao regime de reservas
síveis. Têm como fim ajustar a posição estrutural de liquidez do mínimas do Eurosistema e financeiramente sólidas” e que cumpram “todos
sistema bancário. os critérios operacionais especificados nas disposições contratuais ou regula-
mentares relevantes aplicadas pelo respectivo BCN (ou pelo BCE), por forma
As facilidades permanentes têm como finalidade ceder e absorver liquidez
a assegurar a realização eficiente das operações de política monetária do
pelo prazo overnight (24 horas), definir os limites das taxas de juro do mercado Eurosistema.”(Banco Central Europeu (2004), p. 80).
overnight e sinalizar a orientação da política monetária.
As instituições de crédito elegíveis como contrapartes podem aceder às
As facilidades permanentes são de dois tipos: facilidades permanentes do Eurosistema e participar nas operações de
* Facilidade permanente de cedência de liquidez - concessão de mercado aberto do Eurosistema (essencialmente nas operações principais de
empréstimos pelos BCN do Eurosistema, pelo prazo overnight, contra refinanciamento e nas operações de refinanciamento de prazo alargado)
activos elegíveis a uma taxa de juro previamente fixada. A taxa de realizadas através de leilões normais pelo BCN do respectivo Estado-Membro.
juro da facilidade permanente de cedência de liquidez constitui o A política monetária única definida pelo Conselho do BCE é executada (regra
limite máximo para a taxa de juro overnight do mercado monetário. geral) de forma descentralizada pelos BCN da área do Eurosistema. Assim,
* Facilidade permanente de depósito — constituição de depósitos, pelo uma das competências do Banco de Portugal é executar as operações de
prazo overnight, junto do BCN a uma taxa de juro previamente fixada. política monetária de acordo com as orientações do BCE.
À taxa de juro da facilidade permanente de depósito constitui o limite O Banco de Portugal executa, em Portugal, no Mercado das Operações de
mínimo para a taxa de juro overnight do mercado monetário. Intervenção !º, as operações principais de refinanciamento, as operações de 9 O mercado monetário
português tem dois segmen-
O regime de reservas mínimas do Eurosistema tem como funções principais, refinanciamento de prazo alargado, as operações ocasionais de regularização tos: o Mercado das Operações

a estabilização das taxas de juro no mercado monetário e o aumento da e as facilidades permanentes de cedência de liquidez e de depósito. Por outro de Intervenção, onde se
executam as operações que
escassez estrutural do sistema bancário. lado, é no Banco de Portugal que as contrapartes têm de deter as suas reservas respeitam à execução da
mínimas e é o Banco de Portugal que decide as instituições de crédito que política monetária única, e o
Mercado Monetário Interban-
Às reservas mínimas ou obrigatórias são depósitos obrigatórios que as são elegíveis como contrapartes. cário, onde as instituições
instituições de crédito são obrigadas (pelo BCE) a deter junto dos respectivos participantes transaccionam
liquidez entre si.
bancos centrais.

As reservas mínimas de cada instituição de crédito são determinadas pelo


7.3.2 Política cambial
produto da sua base de incidência (definida em relação às responsabilidades
de curto prazo do respectivo balanço) pelo rácio de reserva. É permitido às Na área do euro, a política cambial é única, como tínhamos referido. Mas, e
instituições de crédito deduzir um montante fixo às reservas obrigatórias. de acordo com o Tratado CE, a responsabilidade da política cambial é do
Para constituir as reservas obrigatórias exigidas, as instituições de crédito BCE e do Conselho de Ministros das Finanças (ECOFIN), tendo o ECOFIN
têm de deter saldos nas contas abertas nos BCN. Para que as instituições de a última palavra.
crédito possam regularizar as flutuações de liquidez diária, o Eurosistema
As orientações gerais para a política cambial na área do euro têm de ser
permite que as contrapartes utilizem cláusulas de média. Isto é, o cumprimento consistentes com o objectivo da estabilidade dos preços e deverão sempre
das reservas obrigatórias por parte das instituições de crédito é baseado na respeitar a independência do SEBC.
média dos valores diários das contas de reserva detidas por um período de
manutenção de um mês.

264 265
O artigo 111.º do Tratado CE define o quadro institucional para a política O Processo do Luxemburgo pretende vincular os Estados-Membros a um
cambial da área do euro. Assim, o Conselho pode celebrar (por unanimidade) certo conjunto de objectivos na área do emprego, baseados em quatro pilares:
acordos formais relativos a um sistema de taxas de câmbio do euro em relação
1. Empregabilidade: designadamente, a luta contra o desemprego de
às moedas não pertencentes à UE (n.º 1 do artigo 111.º do Tratado CE), e
longa duração e o desemprego dos jovens, um acompanhamento
formular (por maioria qualificada) orientações gerais para uma política de
activo dos desempregados e a redução do abandono escolar precoce.
taxas de câmbio na falta de um tal sistema de taxas de câmbio (n.º 2 do artigo
111.º do Tratado CE). 2. Espírito empresarial: em termos da simplificação burocrática para as
pequenas e médias empresas (PME) e adopção de regras transparentes
À intervenção nos mercados cambiais constitui a operação cambial mais e fiáveis na criação e gestão de empresas.
importante no Eurosistema. As operações de intervenção só podem ser
executadas através das reservas externas detidas pelo BCE e podem ser 3. Adaptabilidade: modernização da organização e da flexibilidade do
realizadas em moedas de países não pertencentes à UE. trabalho, apoio à formação nas empresas e funcionamento eficaz do
mercado de trabalho.
O BCE e os BCN detêm e gerem reservas cambiais.
4. Igualdade de oportunidades: luta contra a desigualdade entre homens
As reservas externas do BCE são geridas pelos BCN do Eurosistema, com o e mulheres e aumento do emprego das mulheres, em particular das
objectivo de poderem ser utilizadas pelo BCE numa operação de intervenção. mães, através de políticas que permitam compatibilizar o trabalho e
O BCE transmite as suas decisões de investimento aos BCN que, de forma a família. (in http://guropa.eu/scadplus/leg/pt/cha/c11318.htm).
delegada, as aplicam nos mercados financeiros internacionais.
A Estratégia Europeia de Emprego introduziu um novo método de trabalho
As reservas externas dos BCN do Eurosistema que não foram transferidas intergovernamental: o método aberto de coordenação (MAC), no âmbito do
para o BCE, continuam a ser detidas e geridas pelos BCN. Contudo, a gestão qual os Estados-Membros são avaliados por outros Estados-Membros em
dessas reservas não faz parte da política cambial. certas matérias, como por exemplo, o emprego, a política social, a educação,
a protecção social. A Comissão tem aqui apenas uma função de vigilância.
Assim, o Banco de Portugal, além de deter e gerir as suas próprias reservas
cambiais, gere as reservas cambiais do BCE, intervindo nos mercados No Conselho de Lisboa de 2000, foi fixado o objectivo de em 2010 a UE se
financeiros internacionais, de forma delegada. tornar a “economia baseada no conhecimento mais competitiva e dinâmica
do mundo, capaz de um crescimento económico sustentável com mais e
melhor emprego e maior coesão social” (in http://europa.eu/scadplus/leg/pu
cha/cl1318.htm).
7.4 Políticas social e de emprego
Entre as orientações para as políticas de emprego para os anos 2005-2008
Como foi referido, a coordenação das políticas económicas nacionais é apresentadas pela Comissão Europeia, destacam-se a implementação de
assegurada pelas OGPE. Para cada tipo de política económica foram sendo políticas de emprego para atingir o pleno emprego, a promoção da
desenvolvidos procedimentos específicos de coordenação — os chamados flexibilidade combinada com a segurança no emprego, o aumento do
processos. investimento em recursos humanos, a promoção de uma abordagem do
trabalho baseada no ciclo de vida, a adaptação dos sistemas de educação e
Em termos da coordenação das políticas de emprego, foi adoptado em 1997 formação às novas exigências do mercado de trabalho e o reforço da inclusão
o Processo do Luxemburgo, que lançando a Estratégia Europeia do Emprego, de pessoas desfavorecidas (Decisão (CE) n.º 2005/600/CE do Conselho).
instituíu algumas medidas para uma supervisão multilateral das políticas do
emprego dos Estados-Membros, a saber: a apresentação de um relatório anual A política social encontra-se, pois, associada à do emprego e tem tido, nos
conjunto sobre o emprego, orientações para o emprego que constituem a últimos anos, uma atenção cada vez maior por parte dos decisores políticos
base dos planos nacionais dos Estados-Membros e recomendações do da UE. Assim o comprovam as Agendas de Política Social propostas, a última
Conselho para cada um dos Estados-Membros. para 2006-2010. Na Agenda de Política Social para 2006-2010 encontram-
-se dois temas prioritários: o emprego e a igualdade de oportunidades
e inclusão.

266 267
Concluindo, o governo português, também em termos das políticas social e a) o Pacto de Estabilidade e Crescimento e as actualizações dos
do emprego, se encontra condicionado. Apesar de não existir ainda uma programas de estabilidade e crescimento plurianuais que os Estados-
política única nessas áreas, a verdade é que os esforços no sentido da unifor- -Membros são obrigados a apresentar anualmente.
mização das políticas social e de emprego na UE são muito grandes. Assim,
a actuação do governo português nestes domínios não pode deixar de ter em b) o Pacto de Estabilidade e Crescimento, as actualizações dos
atenção os objectivos comuns da UE, pelo que se assiste cada vez mais a programas de estabilidade e crescimento plurianuais que os Estados-
uma limitação da sua esfera de influência em termos das medidas que o Membros são obrigados a apresentar anualmente, a cláusula no bail-
governo pode tomar. out do Tratado CE, as proibições de financiamento monetário do
défice orçamental e de quaisquer formas de acesso privilegiado às
instituições financeiras por parte do sector público.

o Pacto de Estabilidade e Crescimento, a cláusula no bail-out do


Exercícios de revisão Tratado CE, as proibições de financiamento monetário do défice
orçamental e de quaisquer formas de acesso privilegiado às insti-
1. Face às afirmações seguintes, diga se as mesmas são verdadeiras ou
tuições financeiras por parte do sector público.
falsas e justifique a sua resposta.
d) a cláusula no bail-out do Tratado CE, as proibições de financiamento
a) A sustentabilidade das finanças públicas de um país participante na
monetário do défice orçamental e de quaisquer formas de acesso
UE assegurava o grau de convergência económica necessário para
privilegiado às instituições financeiras por parte do sector público.
esse país pertencer à área do euro.
2.2 O Eurosistema dispõe de três tipos de instrumentos de controle monetário:
b) As diferenças relativas à responsabilidade pela política orçamental
e pela política monetária decorrem do princípio da subsidariedade. a) operações de open market, operações estruturais e taxa de reservas
obrigatórias.
c) Aregra de ouro das finanças públicas significa que o saldo orçamental
corrente está equilibrado. b) operações principais de refinanciamento, operações de refinan-
ciamento de prazo alargado e operações estruturais.
d) Um défice orçamental é considerado excessivo sempre que for
superior a 3% do PIB. c) facilidades permanentes de depósito, regime de reserva mínima e
operações principais de refinanciamento.
e) A cláusula no bail-out proibe o financiamento monetário do défice
orçamental. d) operações de open market, facilidades permanentes e o regime de
reservas mínimas.
f) Oprincipal objectivo do Eurosistema é a manutenção da estabilidade
dos preços. As operações principais de refinanciamento são

g) O Processo do Luxemburgo visa a harmonização das políticas de a) operações não reversíveis de cedência de liquidez, com uma frequên-
emprego da UE. cia semanal e o prazo de uma semana.

2. Para cada questão que lhe é proposta, dispõe de quatro alternativas de b) operações reversíveis de cedência de liquidez, com uma frequência
resposta, das quais somente uma está correcta. Diga qual a alternativa semanal e o prazo de uma semana.
que, no seu entender, está correcta.
c) operações reversíveis de cedência de liquidez, com uma frequência
2.1 A coordenação das diversas políticas orçamentais na área do euro é mensal e o prazo de três meses.
garantida pelas diversas disposições comunitárias que asseguram a
sustentabilidade das finanças públicas dos Estados-Membros e que são: d) operações não reversíveis de cedência de liquidez, com uma frequên-
cia mensal e o prazo de três meses.

268 269
2.4 As operações principais de refinanciamento têm como objectivos Leituras complementares

a) influenciar as taxas de juro de curto prazo, gerir a liquidez no mercado ABREU, M., FERREIRA, C., BARATA, L. e ESCÁRIA, V.
monetário e sinalizar a orientação da política monetária.
2007 Economia Monetária e Financeira. Lisboa: Escolar Editora,
b) ceder e absorver liquidez pelo prazo overnight, definir os limites p. 192-196.
das taxas de juro do mercado overnight e sinalizar a orientação da
política monetária. BANCO CENTRAL EUROPEU
c) influenciar as taxas de juro de curto prazo, definir os limites das 2004 A Política Monetária do BCE — 2004. Lisboa, p. 43-97.
taxas de juro do mercado overnight e sinalizar a orientação da política
monetária. SCHELLER, H. K.
2004 O Banco Central Europeu — História, Papel e F. unções. Banco Central
d) ceder e absorver liquidez pelo prazo overnight, gerir a liquidez no
Europeu, p. 77-98.
mercado monetário e sinalizar a orientação da política monetária.

2.5 As reservas mínimas ou obrigatórias são SILVA, A. €.


a) depósitos facultativos que as instituições de crédito são obrigadas 1999 União Monetária Europeia — Funcionamento e Implicações. Lisboa:
(pelo BCE) a deter junto dos respectivos bancos centrais. Editorial Verbo, p. 47-101.

b) depósitos facultativos que as instituições de crédito são obrigadas a


deter junto do BCE.

c) depósitos obrigatórios que as instituições de crédito são obrigadas a


deter junto do BCE.

d) depósitos obrigatórios que as instituições de crédito são obrigadas


(pelo BCE) a deter junto dos respectivos bancos centrais.

2.6 A responsabilidade da política cambial na área do euro é

a) do BCE.

b) do SEBC.

c) do BCE e do ECOFIN.

d) do ECOFIN e de cada BCN do Eurosistema.

2.7 O Processo do Luxemburgo pretende vincular os Estados-Membros a


um certo conjunto de objectivos na área do emprego, baseados num
certo número de pilares, a saber:

a) empregabilidade e adaptabilidade.

b) igualdade de oportunidades, estabilidade e empregabilidade.

c) igualdade de oportunidades, estabilidade, empregabilidade e espírito


empresarial.

d) igualdade de oportunidades, adaptabilidade, empregabilidade e


espírito empresarial.

210 2H
ANA CRISTINA LINO
MARQUES

Licenciou-se em Economia na
Universidade Livre de Lisboa em
1984. Concluiu o Mestrado em
Economia em 1994, na Univer-
sidade Nova de Lisboa, com uma
tese relativa ao efeito da fiscalidade
na participação das mugmtres
casadas no mercado de trabalho.
Presentemente, prossegue os
trabalhos de doutoramento, tendo
efectuado o registo do tema e do
plano da tese de doutoramento em
Economia na Universidade de
Évora. É docente no Instituto
Superior de Contabilidade e
Administração de Lisboa (ISCAL)
desde 1985, sendo, actualmente,
professora-adjunta na área de
Economia, onde lecciona e é
regente das unidades curriculares
de Finanças Públicas e de Conta-
bilidade Nacional.

Composto e paginado
na UNIVERSIDADE ABERTA

Impresso e acabado
na Europress, Lda.

1.º edição — 1.º impressão — 1000 exemplares

Lisboa, Agosto de 2007

Depósito legal n.º 263400/07

Você também pode gostar