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Parecer n.

º E-6/04
29 DE ABRIL, 2005 SUMÁRIO:

I) A criação de um curso de técnico de serviços jurídicos, corresponde à formação de quadros intermédios, ao nível do 12º ano, encontrando-se previsto na
Portaria nº 948/99, de 27 de Outubro, alterado pela Portaria nº 1348/2002, de 12 de Outubro;

II) Nenhum técnico de serviços jurídicos poderá exercer competências que correspondam aos actos próprios dos advogados e dos solicitadores, no interesse de
terceiros e no âmbito de uma actividade profissional;

III) O técnico de serviços jurídicos apenas pode ser auxiliar e subordinado de um advogado ou solicitador e, nesta medida, a definição das competências
previstas pela Associação de Ensino XXX deverá explicitar melhor este sentido de falta de autonomia;

IV) O curso profissional de nível III, designado por “Técnico de Serviços Jurídicos”, no âmbito do concurso público aberto pelo Ministério da Educação, financiado
pelo PROLAG, mostra-se pertinente, devendo, no entanto, ter-se em conta que as competências dos formandos nunca poderão ir além de auxiliares, sem
autonomia, e sempre na dependência de advogado ou de solicitador, no que aos actos próprios dos advogados e dos solicitadores se refira.

1. Por ofício, datado de 29 de Janeiro de 2004, enviado por fax, a Associação de Ensino XXX, proprietária da Escola SSS, solicitou ao Conselho Distrital de Faro
da Ordem dos Advogados, parecer sobre o curso profissional que pretende ministrar, de nível III, designado por Técnico de Serviços Jurídicos, no âmbito do
Concurso Público aberto pelo Ministério da Educação, financiados pelo PROALG, já que uma das exigências do mesmo concurso é a emissão de um parecer de
várias entidades, no sentido da pertinência do funcionamento deste curso.

Em reunião de 5 de Fevereiro de 2004, o Conselho Distrital de Faro deliberou remeter este pedido de parecer ao Conselho Geral, dado a questão ultrapassar o
âmbito das competências do Conselho Distrital.

2. No seu pedido de parecer, a referida Associação refere o perfil do formando, onde se destaca o de conhecer e dominar as técnicas que permitem prestar aos
Magistrados e Advogados a necessária assistência, designadamente às audiências e diligências em que estes intervenham; realizar o serviço de apoio a um
Cartório Notarial ou Conservatória do Registo Civil, Comercial ou Predial; executar o serviço de apoio a um escritório, gabinete jurídico ou secção de processos
de um Tribunal; conhecer as questões fundamentais do Direito, bem como dos seus vários ramos e especialidades; conhecer o funcionamento e competências
das várias instituições judiciárias bem como a Administração da Justiça; fazer a autuação da distribuição de processos; movimentar processos e cumprir actos
processuais; assegurar a execução do serviço externo, como pagar guias, efectuar citações, notificações e penhoras; e efectuar o atendimento público, dando
todo o tipo de informações disponíveis.

Esclarece-se que o referencial de emprego será o de preencher as carências de pessoal, com conhecimentos específicos da área do Direito, necessário aos

gabinetes jurídicos das empresas; dar apoio aos profissionais liberais do foro (advogados e solicitadores); preencher os lugares de base da carreira de oficiais
dos registos e do notariado (escriturário); e preencher os lugares de base da carreira de oficial de justiça.

Define-se o plano curricular, regulado pela Portaria 1348/2002, de 12 de Outubro, onde se destacam as disciplinas de Direito, Organização Jurídica/Organização
e Gestão de Serviços dos Registos e Notariado, Processo Penal, Processo Civil e Processo de Trabalho.

Quanto a equipamentos e recursos humanos, a Associação refere dispor de instalações, equipamentos e materiais para a leccionação do curso e ter vários
protocolos com várias entidades no sentido de proporcionar visitas de estudo, para aquisição de conhecimentos práticos. Dispõe ainda, segundo refere, de
professores habilitados para a leccionação de todas as disciplinas do currículo.

Foi solicitada, em Junho de 2004, informação sobre o enquadramento do curso e as habilitações que, em concreto, nele se legitimarão, tendo a referida
Associação, por ofício de 9 de Junho de 2004, referido que se trata de formação de quadros intermédios que irão colmatar um vazio no que respeita à existência
de pessoal qualificado para trabalhar em gabinetes jurídicos de empresas, gabinetes de advogados e solicitadores, bem como pretende ser um dos requisitos
legais exigidos para o ingresso de Oficiais dos Registos e do Notariado e da carreira de Oficial de Justiça. Mais se refere que as habilitações que o curso
proporciona são o 12º ano.

3. Isto posto, cumpre-nos apreciar os pressupostos do projectado curso, as competências e saídas profissionais resultantes do mesmo e, por último, a sua
pertinência.

4. Comecemos, pois, pelos seus pressupostos.


Refere-se no pedido de parecer que se pretende preencher as carências de pessoal, com conhecimentos específicos da área do Direito, necessário aos
gabinetes jurídicos das empresas; dar apoio aos profissionais liberais do foro (advogados e solicitadores); preencher os lugares de base da carreira de oficiais
dos registos e do notariado (escriturário); e preencher os lugares de base da carreira de oficial de justiça. Mais se refere, em informação complementar, que as
habilitações que o curso proporciona são o 12º ano.

Tendo em consideração o aludido pela referida associação, parece-nos que a razão de ser do curso é a criação de quadros intermédios, ao nível do 12º ano. E
corresponderá ao curso de técnico de serviços jurídicos, criado pela Portaria nº 948/99, de 27 de Outubro e alterado pela Portaria nº 1348/2002, de 12 de
Outubro.

Trata-se, como decorre do preâmbulo da Portaria nº 948/99, de 27 de Outubro, de um curso inserido na criação, organização e funcionamento das escolas
profissionais, no âmbito do ensino não superior. Visa, para além do desenvolvimento de formação profissional inserida no mercado de emprego, promover a
formação profissional, enquanto modalidade especial de educação escolar.

Este curso integra-se na área de administração, serviços e comércio.


Têm acesso ao curso, de acordo com o previsto no parágrafo 3º da Portaria nº 948/99, de 27 de Outubro, os alunos que concluíram o 3º ciclo do ensino básico
ou equivalente e que procuram um percurso educativo, predominantemente orientado para a inserção no mundo do trabalho.

A conclusão do curso, com aproveitamento, confere a qualificação e certificação profissional de nível 3, equivalente ao diploma do 12º ano de escolaridade.

O plano de curso, apresentado pela Associação de Ensino XXX, corresponde ao previsto na Portaria 1348/2002, de 12 de Outubro.

5.Quanto às competências e saídas profissionais resultantes do curso, a aludida Associação refere que visa dotar os formandos de conhecimentos e domínio das
técnicas que permitam prestar aos Magistrados e Advogados a necessária assistência, designadamente às audiências e diligências em que estes intervenham;
realizar o serviço de apoio a um Cartório Notarial ou Conservatória do Registo Civil, Comercial ou Predial; executar o serviço de apoio a um escritório, gabinete
jurídico ou secção de processos de um Tribunal; conhecer as questões fundamentais do Direito, bem como dos seus vários ramos e especialidades; conhecer o
funcionamento e competências das várias instituições judiciárias bem como a Administração da Justiça; fazer a autuação da distribuição de processos;
movimentar processos e cumprir actos processuais; assegurar a execução do serviço externo, como pagar guias, efectuar citações, notificações e penhoras; e
efectuar o atendimento público, dando todo o tipo de informações disponíveis.

E, solicitados esclarecimentos, foi complementarmente referido que se trata de formação de quadros intermédios para trabalhar em gabinetes jurídicos de
empresas, nos gabinetes de advogados e solicitadores, bem como pretende ser um dos requisitos legais exigidos para o ingresso de Oficiais dos Registos e do
Notariado e da carreira de Oficial de Justiça.

Parece-nos haver imprecisão em algumas das competências e, relativamente a outras, finalidades ambiciosas e não adequadas ao nível de formação que se
pretende.

Com efeito, relativamente ao empregado forense, o seu trabalho não é, de forma significativa, de assistência ao advogado e solicitador para as audiências e
diligências, mas sim, sobretudo, o de tratamento de texto, organização e arquivo do escritório, organização da agenda de diligências e consultas e prática de
actos materiais de natureza processual, sob a direcção e subordinação a um advogado ou solicitador.

Por outro lado, ao referir-se a pretensão de dar formação e competência em questões fundamentais do Direito, bem como dos seus vários ramos e
especialidades, na movimentação de processos e no cumprimento dos actos processuais, na efectuação de citações, notificações e penhoras e em todo o tipo
de informações disponíveis, parece-nos excessivo e perigoso.

Com efeito, tratando-se de formação de quadros intermédios, ao nível do 12º ano, as referidas competências poderão suscitar alguma invasão preocupante, na
esfera dos actos próprios dos advogados e dos solicitadores.

São actos próprios dos advogados e dos solicitadores, sujeitos estes últimos aos limites do seu estatuto e da legislação processual, entre outros, a consulta

jurídica, o mandato forense, a elaboração de contratos e de actos preparatórios tendentes à constituição, alteração ou extinção de negócios jurídicos,
designadamente os praticados junto de conservatórias e cartórios notariais e o de acompanhar os cidadãos perante qualquer autoridade (Cfr. Art. 1º da Lei nº
49/2004, de 24 de Agosto).

O técnico de serviços jurídicos apenas pode ser auxiliar e subordinado de um advogado ou solicitador e, nesta medida, a definição das competências previstas
pela Associação de Ensino XXX deverá explicitar melhor este sentido de falta de autonomia.

6. Finalmente, quanto à pertinência do curso, tendo em consideração os seus pressupostos, parece-nos que preencherá um vazio de formação nas áreas dos
denominados empregados forenses, dos lugares de base da carreira de oficiais dos registos e do notariado (escriturário) e dos lugares de base da carreira de
oficial de justiça, o que nos parece legítimo.

No entanto, deverá ter-se em consideração que se tratam de quadros intermédios e que as suas competências nunca poderão ir além de meros auxiliares, sem
autonomia, e sempre na dependência de advogado ou solicitador, no que aos actos próprios dos advogados e dos solicitadores se refira.

7. Em conclusão e s.m.o., é meu parecer que o curso profissional de nível III, designado por “Técnico de Serviços Jurídicos”, no âmbito do concurso público
aberto pelo Ministério da Educação, financiado pelo PROLAG, mostra-se pertinente, devendo, no entanto, ter-se em conta que as competências dos formandos
nunca poderão ir além de auxiliares, sem autonomia, e sempre na dependência de advogado ou solicitador, no que aos actos próprios dos advogados e dos
solicitadores se refira.

À sessão do Conselho Geral da Ordem dos Advogados.

Vila Nova de Gaia, 26 de Abril de 2005

Relator: Almeida Correia

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