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ISSN: 2525-8761
RESUMO
Este artigo tem como objetivo identificar a natureza da monstruosidade sob a perspectiva
do narrador-personagem no conto “La Casa de Asterión” – uma releitura ao mito grego
do Minotauro que está localizada na coleção de contos de Jorge Luís Borges, O Aleph
(1949). Para tanto, trabalhamos com alguns conceitos de operadores de leitura da
narrativa descritos por Arnaldo Franco (2005), dentre os quais destacam-se, para a
teorização deste trabalho, as definições de narrador e focalização. A escolha do referido
conjunto de operadores de leitura é resultado das contribuições de textos de teoria e crítica
vinculados ao Formalismo Russo e ao New Criticism, uma vez que priorizam o estudo da
materialidade verbal do texto no desenvolvimento dos estudos literários. Assim,
metodologicamente o trabalho segue a base teórica dos estudos de Franco (2005),
Campbell (2001), Rocha (1986), Durand (1977), Jolles (1976) entre outros intelectuais
que no âmbito dos estudos literários e no campo de leituras de narrativas mitológicas
versam sobre as possibilidades de análise da releitura do mito. Assim, visando contribuir
para mais debates sobre o tema – mito e a perspectiva do narrador - este trabalho tenciona
subsidiar novas pesquisas que tenham como objetivo o desenvolvimento de trabalhos que
teorizam a literatura produzida sob o viés mitológico e antagônico na atividade da
releitura.
ABSTRACT
This article aims to identify the nature of monstrosity from the perspective of the narrator-
character in the short story “La Casa de Asterión” – a reinterpretation of the Greek myth
of the Minotaur that is located in the collection of short stories by Jorge Luís Borges, O
Aleph ( 1949). Therefore, we work with some concepts of narrative reading operators
described by Arnaldo Franco (2005), among which, for the theorizing of this work, the
definitions of narrator and focusing stand out. The choice of this set of reading operators
is the result of contributions from theoretical and critical texts linked to Russian
Formalism and New Criticism, as they prioritize the study of the text's verbal materiality
in the development of literary studies. Thus, methodologically the work follows the
theoretical basis of the studies of Franco (2005), Campbell (2001), Rocha (1986), Durand
(1977), Jolles (1976) among other intellectuals in the field of literary studies and in the
field of readings. of mythological narratives deal with the possibilities of analyzing the
re-reading of the myth. Thus, aiming to contribute to more debates on the theme - myth
and the narrator's perspective - this work intends to subsidize new researches that have as
objective the development of works that theorize the literature produced under the
mythological and antagonistic bias in the rereading activity.
1 INTRODUÇÃO
No aguardes la embestida del toro
que es un hombre y cuya extraña
forma plural da horror a la maraña
de interminable piedra entretejida.
No existe. Nada esperes. Ni siquiera
en el negro crepúsculo la fiera.
O mito teria uma forma alegórica que “deixa entrever um fato natural, histórico
ou filosófico” [...] A partir dessa ideia, podemos pensar que o mito carrega
consigo uma mensagem que não está dita diretamente. Uma mensagem cifrada.
O mito esconde alguma coisa. O que ele procura dizer não é explicado
literalmente. Não está “na cara”. O mito “não é objetivo”. Tipo pão, pão,
queijo, queijo. O que ele afirma o faz, de toda evidência com muita sutileza. O
mito fala enviesado, fala bonito, fala poético. Fala sério sem ser direto e óbvio.
(ROCHA, 1986. p.15)
pensamento ocidental, ganha destaque por seu valor prático na formação do homem, dá-
se a perpetuação do mito.
Dito isto, esse artigo tenta identificar a natureza da monstruosidade sob a
perspectiva do narrador-personagem no conto “La Casa de Asterión” – uma releitura ao
mito grego do Minotauro que está localizada na coleção de contos de Jorge Luís Borges,
O Aleph (1949). Para tanto, buscou-se os conceitos de operadores de leitura da narrativa,
descritos por Arnaldo Franco (2005), dentre os quais destacam-se as definições de
narrador e focalização.
A escolha do referido conjunto de operadores de leitura é resultado das
contribuições de textos de teoria e crítica vinculados ao Formalismo Russo e ao New
Criticism, uma vez que priorizam o estudo da materialidade verbal do texto no
desenvolvimento dos estudos literários.
Assim, metodologicamente o trabalho segue a base teórica dos estudos de Franco
(2005), Aguiar e Silva (1988), Rocha (1986), entre outros intelectuais que, no âmbito dos
estudos literários e no campo de leituras de narrativas mitológicas, versam sobre as
possibilidades de análise da releitura do mito. Portanto, visando contribuir para mais
debates sobre o tema – mito e a perspectiva do narrador – tenciona-se subsidiar novas
pesquisas que tenham como objetivo o desenvolvimento de trabalhos que teorizam a
literatura produzida sob o viés mitológico e antagônico na atividade da releitura.
Tal classificação requer, no entanto, uma boa dose de rigor no que se refere à
sua utilização. Não se pode estabelecer uma relação direta entre o uso da 1º ou
da 3º pessoa do discurso e o grau de participação do narrador na história que
narra. É possível imaginar, por exemplo, que a testemunha que conta em um
tribunal um crime que presenciou deva elaborar sua história valendo-se da 1º
pessoa do discurso. Tal testemunha terá de contar aos presentes algo que viveu,
mas não na condição de protagonista (posição necessariamente ocupada pelo
réu e pela vítima). Desse modo, tal testemunha será um narrador que narra em
1º pessoa, mas não participa da história narrada, senão numa posição
secundária, periférica ou, mesmo, neutra no que se refere à constituição e ao
desenvolvimento do conflito dramático da história narrada. Do mesmo modo,
pode-se imaginar que um cientista narre o conjunto de estudos e experiências
que realizou durante o desenvolvimento de uma pesquisa, valendo-se da 3º
pessoa do discurso. Nesse caso, ele será um narrador que participa
fundamentalmente da história narrada, embora minimize o seu grau de
envolvimento com os fatos que constituem tal história, privilegiando a
apresentação dos fatos que caracterizam a pesquisa, em detrimento de seu alto
grau de envolvimento na realização da mesma. Tais exemplos, embora
extremos, servem para nos alertar do perigo de estabelecer uma relação direta
entre a pessoa do discurso utilizada pelo narrador e o seu grau de participação
na história que narra. (FRANCO JÚNIOR, 2005, p. 39-40)
Por esse ângulo, Aguiar e Silva (1988) explica que, ainda possuindo um caráter
um tanto quanto ambíguo, o narrador continua a ter papel fundamental no texto narrativo,
uma vez que se tornou o agente de um processo de focalização que acaba afetando toda a
história narrada. Para o estudioso em teoria literária:
Diante dessas questões, Leite (1985) aponta que geralmente o narrador utiliza a
estratégia de focalização para destacar um dos seguintes pontos: autor onisciente intruso,
narrador onisciente neutro, eu como testemunha, narrador protagonista, onisciência
seletiva múltipla, onisciência seletiva, modo dramático ou a câmera como tentativa mais
radical de eliminação da presença do autor no texto. No caso do corpus de análise para a
construção desse trabalho, observa-se que a focalização está posta diante do próprio
narrador protagonista e em sua condição de prisioneiro.
Poseidon que lhe mandasse um sinal. O deus dos mares ao atendê-lo, determinou que o
animal que faria surgir do mar lhe fosse oferecido em sacrifício. Assim, aparece o touro
branco, mas Minos, apesar da promessa que fez a Poseidon, o poupa e com essa ação
provoca a ira de Poseidon. Assunção (2011, p. 02), ressalta que
É verdade que não saio de minha casa, mas também é verdade que suas portas
(cujo número é infinito*) estão abertas dia e noite aos homens e também aos
animais. Que entre quem quiser. Não encontrará aqui pompas feminis nem o
bizarro aparato dos palácios, mas sim a quietude e a solidão. (Asterión)
(BORGES, 2021, p.38)
Claro que não me faltam distrações. Igual ao carneiro que vai investir, corro
pelas galerias de pedra até rolar ao chão, nauseado. Escondo-me à sombra de
uma cisterna ou à volta de um corredor e finjo que me procuram. Existem
terraços de onde me deixo cair até me ensangüentar. A qualquer hora posso
fingir que estou adormecido, com os olhos fechados e a respiração poderosa.
(Asterión) (BORGES, 2021, p. 38)
[...] Mas, de tantas brincadeiras, a que prefiro é a do outro Astérion. Finjo que
vem visitar-me e que lhe mostro a casa. Com grandes reverências digo-lhe:
Agora voltamos à encruzilhada anterior ou Agora desembocamos em outro
pátio ou Bem dizia eu que te agradaria o canalete ou Agora verás uma cisterna
que se encheu de areia ou Já verás como o porão se bifurca. Às vezes me
confundo e nos rimos agradavelmente os dois. (Asterión). (BORGES, 2021,
p.38)
Assim, sobre o foco narrativo, podemos dizer que foram identificados três. Um
que evidencia os pensamentos de Asterión nos cinco primeiros parágrafos. Outro breve
que pensamos ser finalmente o pronunciamento do narrador e ainda, um último que não
sabemos se seria o quarto foco, na voz do Borges (2021): A Marta Mosquera Eastman.
Constatamos, a partir da análise feita, que o conto em questão trata-se de uma obra
valiosa. Borges (2021), além de despertar no leitor o imaginário com um mundo
desconhecido, também aflora um sentimento de compaixão e piedade pela situação em
que vive o monstro aprisionado e em dados momentos este sentimento nos leva a imaginar
nossa própria condição de ser humano.
Por fim, podemos concluir que temos neste conto, um protagonista que sonda a
mente humana. Ele nos revela não somente a angústia que é ser condenado e amaldiçoado
a viver dentro de um labirinto, mas para além disto, nos mostra o sofrimento que é viver
na solidão, sob a maldição que é viver rejeitado e aterrorizado o que, pois, acaba causando
no leitor um certo sofrimento também.
2 CONCLUSÃO
O mito do Minotauro é um clássico da literatura grega e, ao longo dos anos, tem
ganhado notoriedade tanto por sua história, cercada de mistérios e fantasias, quanto pelo
poder sedutor que este tem em despertar a curiosidade e imaginação de diversos leitores
há milhares de anos. Ao revisitar o referido mito em “La Casa de Asterión”, Jorge Luís
Borges reinventa o mito grego e coloca o personagem principal no lugar de narrador da
própria história, fato que instiga, ainda mais, a vontade em conhecê-lo e o modo como
este vive em seu mundo de solidão.
REFERÊNCIAS
FRIEDMAN, 1955 apud LEITE, 1985. O foco narrativo. São Paulo: Ática, 1985. p. 25.
ROCHA, P. Guimarães. O que é mito. 2ªed. Coleção Primeiros Passos. Editora
brasiliense. São Paulo, 1986. p. 15.
ZAPPONE, Mirian Hisae Yaegashi e WIELEWICKI, Vera Helena Gomes. Afinal, o que
é literatura?. In: BONNICI, Thomas; ZOLIN, Lúcia Osana; et al. (org). Teoria literária:
abordagens históricas e tendências contemporâneas. Maringá, Eduem, 2005, p. 33-56.