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As memórias podem servir como grande aporte para o historiador ao analisar as

representações e as sensibilidades em torno de lugares que fazem a cidade. O bar Gellati


desperta uma série de representações de um tempo em que “ser jovem” significava estar
frentes aos mais diversos processos de captura social – seja ela a frente política, marcada pela
frequência aos grêmios estudantis, fosse o desbunde. No caso do Nós & Elis, o bar ficou na
memória como uma boa lembrança para aqueles que puderam um dia ir lá, ouvir música,
comer moela ao molho de ketchup, como lembra Albert Piauí, ou tomar cachaça Mangueira, e
tendo certeza de que como lembrou o poeta Durvalino Couto Filho que no Nós & Elis “a
gente era feliz – e sabia”.
Teresina possuía ainda muitos outros espaços de sociabilidade como o River, o Jockey Clube,
a Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), o IATE Clube, o clube Tabajara e o Clube
das Classes Produtoras, onde haviam as tertúlias e as manhãs de sol, além de algumas
churrascarias como a Churrascaria Avenida e a Churrascaria Beira-rio, onde havia uma boate
homônima, como lembra Alves. Os cinemas também se mostraram como locais de
sociabilidade onde jovens, além de assistir os filmes iam para esses lugares a fim de conseguir
algum sucesso no campo amoroso.
Com os espaços de sociabilidade aqui discutidos procurou-se estabelecer algumas
possibilidades de “ler” Teresina. Ler a cidade, para além de observá-la, é parte de um
processo de problematizá-la. Como figuras existentes no espaço urbano de Teresina, tanto os
jovens da década de 1970 quanto os da década de 1980, atuavam “nas fissuras do sistema”,
através das quais alterava os mecanismos disciplinadores, “consumindo o espaço, o tempo e a
arte de uma forma, quando não inversa, pelo menos contestatória à convenção
São de Geraldo Brito alguns dos primeiros escritos sobre música do Piauí, em um momento
onde o pragmatismo do mundo moderno parece fazer com que algumas disciplinas tenham
(ilusoriamente) seu poder de atração minorizado, tais como a filosofia, a sociologia e a
história, os escritos de GB são de suma importância para que propõe lançar-se na seara de
resgatar algumas histórias que venham compor um mosaico maior, o de contribuir para a
escrita, divulgação e maior consciência histórica por nosso legado cultural.
Nos anos 1980 foram publicados dois artigos na revista Cadernos de Teresina, e outro nos
anos 1990, na mesma revista, assinados por Brito intitulados, respectivamente, Música no
Piauí anos 60, Música no Piauí anos 70 e Música no Piauí anos 80, onde Brito trazia em seus
textos alguns nomes, algumas datas e alguns acontecimentos que marcaram as três décadas no
Piauí no que diz respeito ao campo musical. Autores, intérpretes, conjuntos vocais e a
importância que as rádios tiveram na divulgação de uma música popular piauiense são
temáticas que aparecem nos textos a cima citados.
trazendo aos nossos olhos a capacidade de perceber outros sujeitos e mostrar lugares para
novas buscas, lugares de cultura e de memória, sendo que a escola nos aparece como esse
lugar de história, cultura e de memória..
projeto criador e construtor de uma memória oficial, o Estado “inventa tradições” quando, por
exemplo, cria um calendário cívico específico para celebrações escolares, que altera o
cotidiano escolar e da cidade, sacralizando o Estado.
Em nossa revisão bibliográfica notamos que existe uma considerável produção
bibliográfica sobre a capital piauiense escrita no recorte temporal dos anos 1970. Estes
trabalhos serviram pra apontar diversos temas ligados às linguagens artísticas, à política e à
modernização urbana e ajudar a traçar um cenário mais amplo da época. Entre os diferentes
trabalhos, cito como exemplos :ARAÚJO (2015): Teresina (In) desejada e pulsante: Pobreza,
Modernização e Memórias da capital na década De 1970, BRANDÃO JÚNIOR(2011) :Um
formigueiro sobre a grama: a produção histórica da subjetividade underground em Teresina-PI
na década de 1970; e BRITO(2013) Torquato Neto e seus contemporâneos: vivências juvenis,
experimentalismo e guerrilha semântica em Teresina. FONTINELES (2009) O recinto do
elogio e da crítica: maneiras de durar de Alberto Silva na memória e na história do Piauí;
MONTE (2010). A cidade esquecida: (res) sentimentos e representações dos pobres em
Teresina na década de 1970. SILVA (2013) Cajuína e coca-cola: identidades e estéticas
juvenis em Teresina nas décadas de 1970 e 1980; COSTA (2012) Seu gosto na berlinda: Um
estudo sobre a produção e o consumo musicais nos anos 1970; MEDEIROS (2020) Do U Dy
Grudy ao Cantares: as vozes e os acordes da moderna canção popular em Teresina (1973-
1988); CRUZ (2016). Artífices da canção: história e memória de artistas nos festivais de
música popular em Teresina; entre vários outros trabalhos.
Ao observarmos os títulos vimos que existe um número expressivo de pesquisas
sobre temas que evidenciam uma abordagem multifacetada para compreender Teresina
explorando questões sociais, culturais, políticas e históricas que contribuíram para a
configuração da identidade da cidade. A historiografia produzida sobre o período revela
também um anseio crescente por mudança, um desejo por um Piauí que não apenas rompesse
com estereótipos negativos, mas que se posicionasse como protagonista na construção de uma
identidade renovada

“Ora, o tempo histórico, porque não se exprime 'á maior parte das vezes em termos narrativos,
ao nível do historiador ou ao da memória coletiva, comporta uma referência constante ao
presente, uma focalização implícita no presente. Isto é acima de tudo válido para a história
tradicional, que durante muito tempo foi, preferencialmente, uma história-conto, uma
narração. Daí a ambiguidade dos discursos históricos que parecem privilegiar o passado,
como o programa de Michelet: a história como "ressurreição integral do passado".

Além desses festivais, outras iniciativas culturais que se destacaram na época traziam em sua
programação a música como um dos elementos de agregação de público, como é o caso do
Salão de Humor do Piauí e a Feira de Arte Popular realizada na praça Saraiva, centro de
Teresina. Outra iniciativa que merece ser mencionada é o projeto Torquato Neto criado pela
secretaria de cultura do Estado do Piauí que tinha como objetivo a promoção da música
piauiense (Medeiros
No âmbito cultural da cidade, particularmente no que diz respeito à música piauiense
destacamos os trabalhos de Fernando Muratori (2012)1 e Marcelo Silva Cruz(2016)2 que em
suas pesquisas fornecem uma análise sobre as preferências e o consumo musical da cidade. Os
autores exploram o diálogo e a tensão em Teresina, destacando a interação entre seus
elementos tradicionais e a influência da importação de ritmos modernos provenientes de
metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo e de outros centros capitalistas globais.
Mostrando que estes centros não apenas funcionam como grandes polos geradores de
produtos de entretenimento, mas também desempenham um papel crucial na introdução de
novos sentidos e estilos musicais na dinâmica cultural da cidade. Com uma análise das
músicas, e de estilos que marcaram o período, incluindo a MPB, o rock e a música brega e os
depoimentos de artistas locais percussores da “canção popular Piauiense”.
A avaliação realizada pelos autores evidenciou que o Brasil exibe uma multiplicidade de
contextos musicais singulares, cada um caracterizado por suas próprias peculiaridades e
estruturas de consumo. Em Teresina, particularmente, essas mesmas estruturas, características
e contextos também se fazem presentes, embora não de maneira rigidamente distinta. Sobre
essa observação Cruz (2016, p.55) assinala que o diversificado turbilhão musical, originado
na Era dos Festivais no eixo Rio-São Paulo, durante a segunda metade da década de 1960 e a
primeira metade da década de 1970, de alguma maneira reverberou na produção musical dos
teresinenses.

1
MURATORI COSTA, Fernando. Seu gosto na berlinda: um estudo sobre a produção e o consumo musicais
nos anos 1970. Dissertação de mestrado (Mestrado em História do Brasil) –Centro de Ciências Humanas e
Letras, Universidade Federal do Piauí. Teresina, 2012.
2
CRUZ, Marcelo Silva. Artífices da canção: história e memória de artistas nos festivais de música popular
em Teresina (décadas de 1970 e 1980). 2016. Dissertação (Mestrado em História do Brasil )2016.

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