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ESCOLA DE MÚSICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA
DOUTORADO
ANTEPROJETO DE PESQUISA
Xisto Bahia, sua música e os processos de transmissão
Por
seu nome definitivamente gravado na história das artes musicais e cênicas no Brasil,
pela sua contribuição como compositor e ator. Ora tido como fundamental à evolução
da canção brasileira (Mariz 1985, 44), de talento espontâneo e instintivo, com produção
ingênuo do povo brasileiro (Mello 1908); ora reconhecido como o maior ator baiano e
uma das maiores figuras da cena nacional (Souza 1959), primeiro artista brasileiro a
alcançar, ainda em vida, projeção nacional (Cruz 1997), ator nacional por excelência,
desconhecido.
forma geral, e com a sobrevivência de poucos escritos de sua autoria3, afirma-se com
freqüência (Boccanera 1915 e Sales 1994) que Xisto escreveu várias comédias e outros
textos para encenação teatral. É relativamente conhecido o seu percurso como ator:
sabe-se com uma certa precisão da sua trajetória por vários estados do país, as
papéis nos quais atuou (Souza 1954) e as repercussões que tiveram suas atuações
1
Enciclopédia da Musica Brasileira, 3ª ed., 2000, p. 58.
2
Em reportagem no Correio da Bahia, 28 Jul. 2005, caderno especial “Domingo Repórter”, p. 4, Adriana
Jacob refere-se a pronunciamento de Arthur Azevedo sem citar a fonte.
3
Na reportagem referida acima há notícia de uma cópia da comédia “Duas Páginas de um Livro”, escrita
por Xisto, que se encontra no Centro de Documentação e Informação Cultural da Fundação Clemente
Mariani, em Salvador. É possível que no acervo do Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, haja uma
cópia de “O capadocio: scena comica brazileira”, uma outra comédia de sua autoria.
3
(Magalhães 1956 e Bião et al. 2003, 144), podendo-se, mesmo que com restrições, ter
uma idéia de sua importância como intérprete teatral e de seus conflitos e decepções
com a profissão5.
(violão), que teriam sido constatadas nas serenatas das quais tomava parte durante a
sua grande parte, além de alguns outros poucos gêneros. Dessas referidas peças, a
maioria é atribuída ou associada a ele, por uma ou outra razão insuficiente para
biógrafos o colocassem num patamar de figura das mais importantes do que se pode
4
O artigo transcreve carta de Artur Azevedo que teria sido publicada em O País, 7 nov. 1964 [sic].
5
Como na carta enviada ao amigo Tomaz Antônio Espiúca, cuja reprodução pode ser encontrada no
Anuário da Casa dos Artistas, 1942, p. 108 e no próprio artigo da Revista da Bahia, supra citado, onde
Xisto desencorajava-o a largar a sua profissão atual e retomar suas atividades como ator.
6
Cf. em anexo a este documento lista com as músicas identificadas até o momento.
7
Em A Música no Brasil, Guilherme de Mello traz uma relativamente extensa “análise” de Ainda e
Sempre, o Quiz Debalde. O texto, mesmo fazendo referência a alguns aspectos técnicos, é colocado de
forma contemplativa, quase apaixonada, do que ele chama de “verdadeira epopéia de seu sentimento
lírico”, bem ao gosto de certas visões analíticas antiquadas lançadas sobre obras de Mozart e do repertório
da ópera italiana, dentre outros.
4
Questões e objetivos
de sua pequena mas expressiva produção? Em que se lastreia tal consenso? Nos
processos de transmissão oral, com indícios de folclorização, que parte dessa produção
tem tido até os dias atuais? Seria Xisto continuador, no Brasil do século XIX, de um
assim, uma legitimação de um fazer musical antes considerado espúrio? Teria Xisto
Popular Brasileira?
revelar o seu arcabouço estilístico, na trilha dos seus eventuais modelos pré-
forma minuciosa e viável, também se fará fundamental para contextualizar tal repertório
Pressuposições Teóricas
Bahia. Desde quando há indícios de que Xisto não conhecia a notação musical (Mello
transmissão basicamente oral. Entenda-se aqui transmissão oral num sentido mais
sendo esta o que se poderia considerar como processo natural de transmissão de música.
Por outro lado, se o registro escrito é utilizado para a execução, pode passar a interferir
intimamente nos processos mentais dos próprios músicos, tornando-se, neste caso,
significativo. A assimilação, que parece ser mais passiva, de uma informação musical
advinda da audição de um disco, por exemplo, também pode afetar a transmissão já que
parece importar mais a relação entre o oral e o escrito do que uma diferença radical
entre eles. Numa visão cognitiva, a transmissão musical poderia ser vista como um
mudança alguma ocorra, mas envolvendo os diversos estágios do contato entre culturas
Metodologia
levantamento e reflexão sobre o que foi publicado acerca Xisto Bahia, sua música e seu
contexto histórico.
2. Estudo biográfico que estabeleça cronologias e traga novos dados para fatos já
onde Xisto viveu e atuou como Salvador, Rio de Janeiro e Belém do Pará, entre
outros;
de sua lavra.
informações sobre Xisto e seu derredor e/ou que também sejam representativas de
meios onde processos de transmissão oral relacionados à sua música possam ocorrer.
Este procedimento deve ser feito não só localmente (Bahia) como também em outros
7
centros onde haja efetivas pistas da disseminação da produção relacionada a ele, como
Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo, que inclusive, a partir das informações
Apêndice
Uma ligeira reflexão acerca do lundu Isto é Bom e sua disseminação pela
oralidade, a partir das quadras utilizadas e de seus contornos melódicos, nas várias
versões consultadas.
Existe farta tradição que atribui o Isto é Bom à autoria de Xisto Bahia: a
maioria das fontes consultadas para este trabalho concorda com isso. Não se pretende
aqui, porém, defender ou atacar tal tese. O que é incontestável é a tradição em torno
deste famoso lundu. E para reforçá-la, uma suposta vocação para estar em algumas
Figner, proprietário da Casa Edison, dava início assim à história da nossa indústria
fonográfica. Figner vivia nos Estados Unidos desde 1882 e aportou no Brasil por Belém
do Pará em 1891, chegando finalmente à capital carioca em 1892, com então 26 anos de
8
Há indícios ainda não comprovados que Isto é Bom estaria associada aos primórdios do carnaval
paulista, fazendo parte do repertório de sua primeira escola de samba, já como peça representativa do
repertório oral daquela região.
9
Na realidade a maioria dos autores afirma ter sido Isto é Bom o primeiro fonograma gravado no Brasil.
O que se sabe, porém, é que houve cerca de 200 gravações feitas na primeira leva. A afirmação,
insistentemente repetida, deve-se ao fato de que, no catálogo publicado dando notícia das gravações, Isto
é Bom, interpretada pelo cantor Manuel Pedro dos Santos, o Bahiano, e lançada pela marca Zon-O-Phone,
aparece com a numeração 10.001, primeira da lista.
8
década de 1880, escreveu em seu livro Na Roda de Samba (Rio: Typ. São Benedicto,
cantor e palhaço muito popular na época das primeiras gravações feitas pela Casa
Edison:
Eduardo foi o primeiro que pisou no palco, para cantar ao violão, no Theatro
Apollo, n'um grande festival de um outro genio que se chamou Xisto Bahia –
mulato de qualidade! Foi o successo da noite ! Nem o benificiado, nem o saudoso
actor França, que eram eximios no violão, sobrepujaram-no.
(...)
E, sem vacilações, sem dar tempo a que o velho Xisto sahisse de scena, o então
palhaço, ferindo as cordas do seu piano, que vulgo chamava o seu violão, cantou
uma modinha [sic] da lavra do proprio Xisto e que sempre foi um dos grandes
successos do querido actor:
Mesmo não citando datas, Vagalume descreve uma possível cena, acontecida
provavelmente nos últimos anos de Xisto (falecido em 1894) e refere-se ao Isto é Bom,
afirmando que “sempre foi um dos grandes sucessos do querido ator”. Pode-se
depreender então que naquela altura já seria sucesso consolidado, o que poderia recuar
O que parece ser o registro mais antigo do Isto é Bom, dos recolhidos para
este trabalho, também não pôde ser datado, apesar dos esforços até aqui despendidos.
verbete “Impressão Musical no Brasil”, escrito pela musicóloga Mercedes Reis Pequeno
(1921), não trás qualquer referência. Por se tratar de uma litografia, pode-se acreditar
que a impressão tenha sido feita no final do século XIX, havendo possibilidade de
quadras dos textos como aparecem em cada um deles e dos contornos melódicos de uma
10
das quadras mais incidentes (A saia da Carolina / Me custou cinco mil réis / Levanta a
saia mulata / Qu’eu dou mais cinco e são dez), agrupando-se os registros de natureza
expor, a título de exemplo, alguns dos aspectos que se deseja estudar neste projeto de
pesquisa. Esta finalidade foi também aguçada pela leitura de trecho do livro do
(Lisboa: Editora Caminho, 1997) no qual o autor afirma que Xisto Bahia teria se
apropriado de quadra setecentista (Seu brigar com meus amores / Não se intrometa
ninguém / Que acabados os arrufos / Ou eu vou ou ela vem), publicada em mais de uma
publicação do livro, bem maior que as quatro citadas10 e de observar que o mesmo
“esqueceu” os registros gráficos (partituras) para fazer tal afirmação, mas de salientar
que desta forma não se leva em consideração algo que, neste contexto, parece ser
cinco grupos distintos a utilização de quadras diferentes nos textos dos 10 registros
10
Como se pode constatar na relação de registros do Isto é Bom, exposta acima, os identificados com data
até 1997 são em número de 12, entre eles 9 gravações. É, inclusive, sensato supor que houve muitos
outros.
11
utilizados neste estudo11. Considerou-se como de grupo diferente, versões que usem as
mesmas quadras mas em outra ordem. Desconsiderou-se, dentro de uma mesma quadra,
renda custa dinheiro” e “A saia custa dinheiro”, por exemplo, colocando-as num mesmo
grupo, caso a ordem fosse a mesma. Isto porque, nesses casos, a quadra “matriz” parece
ser a mesma. Suprimiu-se o refrão, comum a todas as versões, por não haver, no
momento, razão para mantê-lo. Cada quadra reincidente ganhou uma cor diferente,
apareceu em um dos grupos, então esta não foi colorida. É importante frisar também que
não houve nenhuma indução nem deliberação na escolha das versões utilizadas para este
estudo (fala-se da totalidade). Esta seleção é fruto do acaso, do que se conseguiu coletar
até então. Observa-se porém um certo equilíbrio cronológico (a maioria das décadas,
desde o mais antigo registro identificado, tem representante) e uma boa variedade de
contextos.
11
Dos 13 registros disponíveis, três não foram considerados: o nº 13 por ser reprodução nº 3, com
supressão de uma das quadras; o nº 6 por também ser reprodução quase exata do nº 1 e o nº 7, que embora
seja de arranjo diferente do nº 8, é gravação cantada pela mesma intérprete, com utilização das mesmas
quadras, não havendo, portanto, nos aspectos salientados, variantes significativas.
Exemplo 1 - Quadro comparativo de utilização de quadras diferentes em 10 versões (8 gravações e 2 partituras) do Isto é Bom
Hollender (<1900?)
Houston Péret (1930)
V. Orico (1954)
Nara Leão (1977)
Anticália (1984)
Andréa Daltro (1997) Bahiano (entre 1902 e 1904) E. Neves (entre 1907 e 1912) O. Cuíca (1999) V. Trindade e C. Caçapava (2001)
1 Iaiá você quer morrer A renda de tua saia O inverno é rigoroso A saia da Carolina A saia da Carolina
Quando morrer, morramos juntos Vale bem cinco mil réis Bem dizia a minha avó Me custou cinco mil réis Custou-me cinco mil réis
Qu’eu quero ver como cabem Arrasta mulata a saia Quem dorme junto tem frio Levanta a saia mulata Levanta a saia mulata
Numa cova dois defuntos Qu’eu te dou cinco e são dez Quanto mais quem dorme só Qu’eu dou cinco e dou mais dez Qu’eu dou cinco e dou mais dez
2 A saia da Carolina Levanta a saia mulata Se eu brigar com meus amores Levanta a saia mulata Mulata levanta a saia
Me custou cinco mil réis Não deixe a renda arrastar Não se intrometa ninguém Não deixe a renda arrastar Não deixe a renda arrastar
Levanta morena a saia A renda custa dinheiro Que acabados os arrufos A renda custa dinheiro Que renda custa dinheiro
Qu’eu dou mais cinco e são dez Dinheiro custa ganhar Ou eu vou ou ela vem Dinheiro custa ganhar Dinheiro custa ganhar
3 Mulata levanta a saia Iaiá você quer morrer Quem vê mulata bonita Quem vê mulata bonita Os padres gostam de moças
Não deixe a renda arrastar Se morrer, morramos juntos Bater no chão com o pezinho Bater no chão com o pezinho E os solteiros também
A renda custa dinheiro Qu’eu quero ver como cabem No sapateado a meio No sapateado meigo E eu como rapaz solteiro
Dinheiro custa ganhar Numa cova dois defuntos Mata meu coraçãozinho Mata meu coraçãozinho Gosto mais do que ninguém
4 Os padres gostam de moças O inverno é rigoroso Minha mulata bonita Mulata quando eu morrer
E os solteiros também Bem dizia a minha avó Vamos ao mundo girar Quando eu morrer, morramos juntos
E eu como rapaz solteiro Quem dorme junto tem frio Vamos ver a nossa sorte Qu’eu quero ver como cabem
Gosto mais do que ninguém Que fará quem dorme só Que Deus tem para nos dar Numa cova dois defuntos
5 Os padres gostam de moças Minha mulata bonita
E os solteiros também Quem te deu tamanha sorte
E eu como rapaz solteiro Foi um soldado de Minas,
Gosto mais do que ninguém Do Rio Grande do Norte
6 Se eu brigar com meus amores Minha viola de pinho
Não se intrometa ninguém Eu mesmo fui o pinheiro
Que acabados os arrufos Quem quiser ter cousa boa
Ou eu vou ou ela vem Não tenha dó de dinheiro
7 Me prendam a sete chaves
Que assim mesmo hei de sair
Não posso ficar em casa
Não posso em casa dormir
A primeira e óbvia constatação: na realidade, tem-se apenas um grupo, que
reúne seis das 10 versões consideradas. Os outros “grupos” são versões “dissidentes”:
Bahiano (nº 2), Neves (nº 3), Cuíca (nº 14) e Trindade e Caçapava (nº 16). E mesmo
quadras das do “grupo das seis”, apenas trocando a ordem: a que aparece em primeiro
lugar lá, pula, ali, para o último. Mesmo a versão de Cuíca, que só utiliza três quadras,
tem duas delas constantes nas do “grupo das seis”. A restante veio da versão de Neves,
interessante observar que Neves usa quadras completamente diferentes das outras
versões, seis ao todo, e, ao contrário de Bahiano, não utiliza, além do refrão, nenhuma
quadra das do “grupo das seis”. Bahiano e Neves, gravações mais antigas, são as que
improvisatório. Ao que parece, quanto mais quadras fossem cantadas melhor. Por
último, vale falar que a gravação de Bahiano, anterior à de Neves, utiliza duas quadras
da deste último, entre elas a citada por Tinhorão para justificar a suposta apropriação de
Xisto.
transmissão oral é o praticado pela maioria, com pequenas variações de texto, e que não
tem a quadra citada por Tinhorão. Aliás, as únicas duas versões que contemplam tal
quadra são as de Bahiano e Neves. Como já foi citado, as seis do grande grupo são de
contextos variados: uma partitura editada, ao que parece por um alemão, provavelmente
no final do século XIX; uma versão publicada em uma coleção de cantos populares do
Brasil, em Paris de 1930; uma gravação feita um pouco mais tarde pela atriz, cantora e
ativista política Vanja Orico; outra gravação feita na década de 70 do século XX por
14
Nara Leão e duas mais recentes feitas pelo grupo Anticália e por Andréa Daltro.
nº 14 e Costa, 1999, nº 13, que, já se justificou, não foi incluída nesta comparação. A
explicação pode vir do fato de, até pouco tempo atrás – antes da era do som digital e da
aos discos de 78 RPM e outros meios dos primórdios da fonografia, era restrito a
ambos cantores contratados pela Casa Edison, vivendo na mesma cidade, o Rio de
que a criação original não tem responsabilidade sobre o fato. Evidencia-se porém a
No exemplo 2 todas as melodias foram transcritas e em seguida transpostas para uma tonalidade comum: dó maior. O aspecto rítmico,
fundamental num estudo mais aprofundado, não será abordado por este trabalho ter caráter preliminar. Pela mesma razão na se entra no mérito,
neste momento, de especificidades interpretativas, métricas e outras que serão obrigatórias no trabalho relacionado ao projeto aqui proposto.
Pode-se dizer que a observação dos contornos melódicos traz conclusões análogas às das quadras. Mais uma vez acontece um grande
grupo que se contrapõe a Bahiano e a Neves. Bahiano como uma versão melodicamente intermediária, que preserva os pontos de descanso e três
das quatro notas de finais de verso do grande grupo, além de ter notas coincidentes em muitos outros pontos, podendo ser vista como uma
variante. Seu contorno melódico é também semelhante à do grande grupo, só que menos sinuoso. Uma diferença a se notar é a ausência em
Bahiano do salto ascendente de nona (quarta neste caso) que trás para a linha melódica da versão do grande grupo um saliente diferencial. Mas é
interessante verificar que este salto de quarta (único como o de nona da melodia do grande grupo e no mesmo lugar) pode ser visto também como
um diferencial.
16
Já que Neves, como já foi dito, não contempla nenhuma quadra da versão do
grande grupo, optou-se por colocar para comparação, a primeira que aparece na gravação (O
inverno é rigoroso / Bem dizia minha avó / Quem dorme junto tem frio / Quanto mais quem
dorme só). Vê-se aqui uma versão melodicamente diferenciada. Embora guarde coincidências
com a do grande grupo, principalmente nas notas de início de verso, sua melodia transcorre
sempre numa região mais baixa. Com exceção de um único salto de quarta, acontecido entre
um verso e outro, o que atenua seu efeito, progride em segundas quase sempre. Assim, o
saltos parece ser importante na transformação advinda pela transmissão oral, pois está em
estágio intermediário na versão de Bahiano, que, inclusive, tem trechos que se insinuam em
recitativo, com algumas seqüências de notas rebatidas. Mais uma vez, chega-se à observação
versões caracterizam-se por notas repetidas, tratamento seqüencial, ao contrário das versões
marcadas por saltos característicos e até mesmo vocalmente difíceis, com tratamento estrófico.
Fica claro também que uma possível versão original, mais próxima da do grande grupo, se
instituiu através da transmissão oral, percorrendo todo século XX e chegando até os nossos
dias.
Caçapava têm alguns diferenciais em relação a todas as demais: pode-se ver, no exemplo
acima, que as últimas cinco notas do grande grupo têm uma outra linha melódica destacada.
Todas as outras versões, ao contrário, fazem este mesmo movimento à dominante. São
também as duas únicas versões que começam pelo refrão, antes de cantarem qualquer quadra.
Os intérpretes envolvidos são contemporâneos e oriundos do estado de São Paulo. Tudo isto
pode ser indício de especificidades próprias na transmissão oral do Isto é Bom nesta região.
17
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1984 Modinha e Lundu: Bahia Musical, sec. XVIII e XIX. Encarte explicativo de LP
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1998 O Estudo da Modinha Brasileira. Latin Americ Music Review v. 19, n. 1: 47-91
Anexo – Lista de músicas atribuídas ou associadas a Xisto Bahia