Você está na página 1de 8

Como escrever um artigo científico passo-a-passo

Como escrever um artigo científico é uma dúvida muito comum entre estudantes de
graduação e de pós-graduação. Afinal, a publicação de artigos faz parte do cotidiano de quem
trabalha com Ciência, e tem sido motivo de muita pressão para estudantes e pesquisadores.

Mas antes de começar a discussão sobre como escrever um artigo científico, faz-se necessário
dois avisos:

1. A estrutura de artigo científico adotada neste texto é mais adequada às pesquisas


experimentais. As Ciências Sociais e as Ciências Humanas, por exemplo, podem adotar
estruturas e estilos de redação diferentes.

2. Não existem regras rígidas ou receitas prontas para escrever um artigo científico. Utilize
essa discussão apenas como ponto de partida e de reflexão sobre a elaboração de trabalhos
acadêmicos.

Para escrever um artigo científico de qualidade é preciso ter primeiro um bom conhecimento
sobre o método científico. Ao estudar determinado tema, você encontrou um problema
interessante. Fez uma revisão bibliográfica e não encontrou a solução para este problema.
Assim, você decidiu encontrar uma resposta. Elaborou um projeto de pesquisa, realizou a
pesquisa e acredita ter encontrado uma solução adequada. Por fim, é preciso divulgar sua
descoberta à comunidade acadêmica, para ser discutida e avaliada por outros cientistas
(Volpato, 2013).

Esta última etapa é realizada por meio da publicação de artigos científicos, e constitui o
principal motivo para escrever um artigo científico.

É importante ressaltar que o “enriquecimento” do seu currículo na Plataforma Lattes, a


melhor classificação do seu Programa de Pós-Graduação na Avaliação da Capes e uma
eventual progressão funcional, só para citar alguns exemplos, são apenas consequências
naturais da prática da Ciência de alto nível. Estes não são, portanto, bons motivos para
escrever um artigo científico.
Agora que você já sabe os motivos para escrever um artigo científico, vamos às dicas.

Escolha o periódico antes de começar a escrever um artigo científico


Escolher a revista científica adequada para a publicação do seu artigo antes de começar a
escrevê-lo irá lhe poupar muito tempo em adequações às normas e ao estilo da revista, pois o
artigo já será escrito, desde o início, de acordo com estes critérios (VOLPATO, 2013).

Além da economia de tempo, escrever o artigo de acordo com as características e orientações


do periódico científico desejado pode aumentar consideravelmente as chances do artigo ser
aceito para publicação.

Para escolher a revista científica mais adequada para a submissão do seu artigo, verifique
entre as revistas que são referência na sua área, quais publicam artigos com o mesmo enfoque
da sua pesquisa. Informe-se sobre a abrangência, considere as áreas de trabalho dos membros
do comitê editorial e conheça o público-alvo da revista. Assegure-se que o problema e o tipo
de pesquisa do seu trabalho estão de acordo com o escopo da revista.

Procure o Fator de Impacto da revista para ter uma noção do grau de novidade esperado para
o artigo. O Fator de Impacto pode ser consultado no Journal Citation Reports (com o acesso
via proxy ao Portal de Periódicos da Capes ou de um computador de uma instituição
conveniada, clique em “establish a new session“). Verifique também a classificação do
periódico no Qualis da Capes.

Faça uma média do intervalo de tempo decorrido entre a submissão e a publicação dos artigos
publicados nos últimos números da revisa. Por fim, observe se existe a cobrança de taxa de
submissão, e se será possível arcar com as despesas de submissão e, eventualmente, de
tradução do artigo.

Após escolher o periódico científico, leia atentamente os últimos artigos publicados, repare na
forma de apresentação das informações, gráficos e tabelas; leia também a página “instruções
aos autores“, verifique o formato das citações e das referências bibliográficas, as normas
editoriais e os critérios de avaliação dos artigos.

A sequência da redação não precisa ser a mesma das seções do artigo


Embora a maioria dos artigos obedeçam a uma sequência padrão (Introdução, Material e
Métodos, Resultados, Discussão, Conclusões e Referências Bibliográficas), a redação do
artigo não precisa necessariamente seguir essa mesma ordem.

Alguns autores sugerem que você comece a escrever um artigo científico pelos objetivos e
pelas conclusões do trabalho, de acordo com a análise crítica dos resultados encontrados.
Desta forma, é possível ter uma visão clara da pergunta que você gostaria de responder com a
sua pesquisa (objetivos) e quais respostas você encontrou (conclusões). As conclusões são o
ponto forte do seu estudo e o guia para a estruturação do texto. Com as conclusões em mente,
será mais fácil identificar e discutir os resultados que sustentam essas conclusões
(FERREIRA, 2011).

Já outros autores acreditam que seja melhor começar a escrever um artigo científico pelo seu
resumo. Com isso, você não iniciaria a redação de um artigo científico antes de ter uma noção
clara do que pretende escrever (SANTOS, 2011).

Mas a forma mais produtiva de escrever um artigo científico é começar pelas partes com as
quais você se sente mais confortável. E você pode escrever outras partes do artigo à medida
em que pensa nelas.

Em algum momento, você estará escrevendo em várias sessões. Desta maneira, você baseia
sua construção naqueles aspectos do seu estudo que lhe parecem mais interessantes. Ou seja,
pense naquilo que interessa a você, comece escrevendo sobre isso e então prossiga
construindo a partir daí.

Para não perder a sequência lógica entre os assuntos de uma seção do artigo, faça em uma
folha à parte um roteiro prévio, elencando as informações e discussões que aquela seção
deverá conter, e a ondem em que elas aparecerão no texto.

A redação do artigo científico


1. Introdução
A introdução, como o próprio nome sugere, serve para introduzir o leitor ao tema da pesquisa,
ao problema estudado, aos principais conceitos envolvidos e aos trabalhos já realizados até o
momento (Reiz, 2013). É aquela seção em você “vende o seu peixe“, esclarece a importância
da pesquisa e a relevância para a área. Faça uma descrição sucinta de pesquisas anteriores. No
último parágrafo, comece por ressaltar o ineditismo da pesquisa e descreva claramente o
objetivo proposto para a pesquisa.

Embora esteja disposta nas páginas iniciais de um artigo científico, a introdução é mais
facilmente elaborada quando a discussão e as conclusões já tiverem sido redigidas, ou seja,
quando já se tem uma visão do conjunto do trabalho. O texto de introdução, além de bem
escrito, deverá se constituir em um convite atrativo para a continuidade da leitura do artigo
(MARCONI E LAKATOS, 2011). Alguns poucos parágrafos serão suficientes.

Uma maneira prática de saber se a introdução de um artigo científico ficou bem redigida é
apagar a parte dos objetivos da pesquisa e entregar o texto de introdução para outra pessoa
que também seja da área ler. Se ao ler apenas a introdução, a pessoa conseguir acertar qual
problema de pesquisa foi estudado, parabéns! Você fez um excelente trabalho!

Estrutura básica:
– Antecedentes do problema.
– Descrição do problema.
– Trabalhos já realizados.
– Aplicabilidade e originalidade da pesquisa.
– Objetivo (problema de pesquisa).

Erros comuns:
– Orientação mais empírica que teórica.
– Introdução muito longa, incluindo trechos que poderiam ser melhor utilizados na discussão.
– Detalhes excessivos na descrição de estudos prévios.
– “Reinvenção da roda”, especialmente na primeira sentença ou parágrafo.
– Omissão de estudos diretamente relevantes.
– Terminologia confusa.
– Citações incorretas.

2. Material e métodos
Se você preparou um projeto de pesquisa detalhado, agora será recompensado! Pegue o
projeto e comece a conferir a seção “material e métodos”. Troque o tempo do verbo, do futuro
para o passado, e então faça as inclusões ou mudanças de maneira que essa seção reflita
verdadeiramente aquilo que você realizou em sua pesquisa.

A seção “material e métodos” deve possibilitar ao leitor avaliar o delineamento da pesquisa, o


tamanho da amostra e como ela foi determinada, os materiais e procedimentos utilizados, as
variáveis analisadas e as análises estatísticas realizadas. Questões éticas ou de consentimento,
quando necessárias, também devem ser informadas. As informações dessa seção são
fundamentais para compreender os resultados encontrados, pois revelam a forma como eles
foram obtidos, e possibilitam a replicabilidade da pesquisa (SANTOS, 2011).

Estrutura básica:
– Local e condições experimentais.
– Delineamento e tratamentos.
– Controle das condições experimentais.
– Variáveis (avaliações).
– Análise estatística.

Erros comuns:
– Informação inadequada para avaliação ou replicação.
– Descrições detalhadas de métodos padronizados e publicados.
– Deixar de explicar análises estatísticas não usuais.
– Participantes muito heterogêneos.
– Medidas não validadas; de confiabilidade fraca ou desconhecida.

3. Resultados
Na apresentação dos resultados, gráficos e figuras geralmente facilitam a observação dos
efeitos, se comparados com as tabelas. Entretanto, as tabelas levam vantagem quando valores
numéricos específicos são importantes. Nestes casos, artigos com tabelas irão obter um maior
número de citações, porque outros pesquisadores podem usar seus dados como base de
comparação (Reiz, 2013).

Procure promover descrições claras e organizadas dos resultados, sem repetir no texto os
dados já expostos em gráficos e tabelas. Ao escrever um artigo científico, inclua na redação
final apenas os resultados que são necessários para a corroboração de suas conclusões.
Estrutura básica:
– Resultados da análise estatística.
– Estatísticas descritivas (médias, desvio padrão e correlações)
– Estatísticas inferenciais
– Relatar a significância e a amplitude dos dados.
– Análises adicionais (usualmente post hoc).

Erros comuns:
– Tabelas e figuras complexas, incompreensíveis.
– Repetição dos dados no texto, nas tabelas e nas figuras.
– Não utilizar o mesmo estilo de redação da introdução e do material e métodos.
– Não apresentar os dados prometidos na seção material e métodos.
– Análise estatística inadequada ou inapropriada.

4. Discussão
A discussão é a parte mais complexa e mais difícil de escrever em um artigo científico. Deve
ser redigida com a finalidade de apresentar e interpretar conclusões, enfatizar os resultados
mais importantes e comparar os resultados obtidos na sua pesquisa com os resultados obtidos
por outros pesquisadores.

Estrutura básica:
– Relacionar os resultados com as hipóteses.
– Interpretações: esperadas versus alternativas.
– Implicações teóricas, para a pesquisa e para a prática.
– Limitações do estudo: aproximação com o estudo ideal.
– Confiança estimada das conclusões.
– Explicitação de possíveis restrições para as conclusões.
– Identificação de procedimentos metodológicos pertinentes aos resultados.
– Recomendações para pesquisas futuras.

Erros comuns:
– Repetição da introdução.
– Repetição dos resultados.
– Discussão não baseada nos propósitos do estudo.
– Não esclarecer as implicações teóricas e práticas dos resultados.
– Discussão não baseada nos resultados.
– Hipóteses não discutidas explicitamente.
– Apresentação de novos dados.
– Repetição da revisão da literatura.
– Especulações não fundamentadas.
– Recomendações não baseadas nos resultados.

5. Conclusões
Ao escrever as conclusões da sua pesquisa, certifique-se de apresentar realmente apenas
conclusões. Pode parecer um pouco óbvio, mas essa seção muitas vezes é utilizada, de
maneira equivocada, para meramente reafirmar os resultados da pesquisa. Não faça o leitor
perder tempo: ele já leu os resultados e a discussão. Agora, nas conclusões, quer entender de
forma clara a solução do seu problema de pesquisa.

Após elaborar as conclusões, critique-as e procure derrubá-las. As conclusões que você não
conseguir derrubar serão a base de seu artigo. Limite-se às conclusões que têm embasamento
nos resultados que você obteve e que respondem às questões da pesquisa, ou seja, que estão
de acordo com os objetivos (VOLPATO, 2013).

Não se pode esquecer que as conclusões, como produto final de uma pesquisa, devem ser
consideradas provisórias e aproximativas. Por mais brilhantes que sejam, em se tratando de
Ciência, as conclusões podem superar o conhecimento prévio e, por sua vez, também podem
ser superadas com o avanço do conhecimento (SANTOS, 2011).

Últimas sugestões
– Faça um título curto, que chame a atenção e que, além de tudo, reflita o tema principal do
artigo. Lembre–se que muitos artigos não são lidos porque os leitores não se interessaram
pelo título.

– Procure utilizar a fórmula “sujeito + verbo + predicado” (SVP) para construir suas frases.
Utilizar esta fórmula simples para escrever um artigo científico torna o texto mais claro,
encurta as sentenças e diminui a possibilidade de cometer erros de concordância, entre outras
vantagens.

– Mantenha suas sentenças curtas. Para isso, a solução é simples: abuse dos pontos finais, pois
eles são gratuitos, não estão ameaçados de extinção e organizam seu texto. Sentenças longas
exigem o uso excessivo de recursos como vírgulas, dois pontos, pontos e virgulas, travessões
e parênteses, além de tornar a leitura cansativa.

– Ao escrever um artigo científico, cada palavra deve traduzir exatamente o pensamento que
se deseja transmitir, ou seja, não deve haver margem para interpretações. Evite utilizar
linguagem muito rebuscada ou termos desnecessários.

– Um bom artigo científico deve ter quantas páginas? Apenas as necessárias! Prefira
qualidade ao invés de quantidade. De maneira geral, os editores de revistas científicas
preferem artigos inovadores e concisos.

– Ao terminar de escrever um artigo científico, espere alguns dias antes de submetê-lo ao


periódico selecionado. Depois de alguns dias sem pensar no assunto, faça uma revisão do
artigo.

Fonte<http://www.periodicos.capes.gov.br/?option=com_pnews&view=pnewsclipping&cid=
351&mn=71>

Você também pode gostar