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A Mão Esquerda Da Escuridão - Ursula K. Le Guin
A Mão Esquerda Da Escuridão - Ursula K. Le Guin
NOTAS DE RODAPÉ
CRÉDITOS
Nota dos editores
No princípio não havia nada, senão gelo e o sol. Por muitos anos o
sol brilhou e derreteu uma grande fenda no gelo. Nas laterais desta
fenda havia grandes formas de gelo, e não havia fundo. Gotas de
água derreteram das formas de gelo nas laterais dos abismos e
caíram lá embaixo. Uma das formas de gelo disse “Eu sangro”.
Outra forma de gelo disse “Eu choro”. Uma terceira disse “Eu
transpiro”.
As formas de gelo subiram pelo abismo, escalando-o até
chegarem à planície de gelo. Aquele que disse “Eu sangro”
estendeu os braços para o sol e puxou punhados de excremento
das entranhas do sol, e com eles criou as montanhas e os vales da
terra. Aquele que disse “Eu choro” soprou sobre o gelo e o derreteu,
criando os mares e rios. Aquele que disse “Eu transpiro” juntou terra
e água do mar e com elas criou árvores, plantas, ervas e sementes
do campo, animais e homens. As plantas cresciam na terra e no
mar, os animais corriam na terra e nadavam no mar, mas os homens
não despertavam. Havia trinta e nove homens. Eles dormiam no
gelo, e não se moviam.
Então as três formas de gelo curvaram-se e deitaram-se com
seus joelhos para cima, e deixaram que o sol as derretesse. Como
leite derreteram, e o leite escorreu para as bocas dos adormecidos,
e os adormecidos despertaram. Esse leite é bebido apenas pelos
filhos dos homens, e sem ele os homens não despertam para a
vida.
O primeiro a despertar foi Edondurath. Tão alto era que, quando
se levantou, sua cabeça rachou o céu, e a neve caiu. Ele viu os
outros se mexendo e acordando e teve medo quando se moveram,
então matou um a um com um golpe de seu punho. Trinta e seis ele
matou. Mas um deles, o penúltimo, fugiu correndo. Haharath era seu
nome. Para longe correu, sobre a planície de gelo e sobre as terras.
Edondurath correu atrás dele e o alcançou, e finalmente o golpeou.
Haharath morreu. Então Edondurath retornou ao Local de
Nascimento, no Gelo Gobrin, onde os corpos dos outros jaziam,
mas o último se fora: escapara enquanto Edondurath perseguia
Haharath.
Edondurath construiu uma casa com os corpos congelados de
seus irmãos e lá esperou, dentro da casa, até que o último voltasse.
Todo dia um dos cadáveres falava, dizendo: “Ele arde? Ele arde?”.
Todos os outros cadáveres respondiam com línguas congeladas:
“Não, não.”. Então Edondurath entrou no kemmer enquanto dormia,
e se mexeu e falou alto em sonhos, e quando acordou todos os
cadáveres diziam: “Ele arde! Ele arde!”. E o último irmão, o mais
novo, ouviu o que diziam e entrou na casa feita de corpos e lá se
deitou com Edondurath. Dos dois nasceram as nações de homens,
da carne de Edondurath, do ventre de Edondurath. O nome do
outro, o irmão mais novo, o pai, seu nome é desconhecido.
Cada filho nascido deles carregava um pedaço de escuridão que
o seguia onde quer que fosse à luz do dia. Edondurath perguntou:
“Por que meus filhos são seguidos assim, pela escuridão?”. Seu
kemmering disse: “Porque nasceram na casa de carne, portanto a
morte está sempre atrás deles. Eles estão no meio do tempo. No
princípio havia o sol e o gelo, e não havia sombra. No fim, quando
tudo estiver terminado para nós, o sol irá devorar a si mesmo e a
sombra engolirá a luz, e não restará nada senão o gelo e a
escuridão.”.
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Sobre o Gelo
[9] Os handdaratas.
TÍTULO ORIGINAL:
The Left Hand of Darkness
COPIDESQUE:
Carlos Orsi Martinho
REVISÃO:
Ana Cristina Teixeira
Isabela Talarico
CAPA:
Giovanna Cianelli
PROJETO GRÁFICO:
RS2 Comunicação
DIAGRAMAÇÃO:
Desenho Editorial
ILUSTRAÇÃO DE CAPA:
Marcela Cantuaria
DIREÇÃO EXECUTIVA:
Betty Fromer
DIREÇÃO EDITORIAL:
Adriano Fromer Piazzi
DIREÇÃO DE CONTEÚDO:
Luciana Fracchetta
EDITORIAL:
Daniel Lameira
Andréa Bergamaschi
Renato Ritto
COMUNICAÇÃO:
Leandro Saioneti
Nathália Bergocce
COMERCIAL:
Giovani das Graças
Lidiana Pessoa
Roberta Saraiva
Gustavo Mendonça
FINANCEIRO:
Roberta Martins
Sandro Hannes