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Pastoral
ISSN: 1984-3755
pistis.praxis@pucpr.br
Pontifícia Universidade Católica do
Paraná
Brasil
Kuzma, Cesar
Crer no mundo de hoje: um estudo a partir do método de Joseph Ratzinger (Bento XVI)
para explicar o “crer” em sua obra Introdução ao Cristianismo
Revista Pistis & Praxis: Teologia e Pastoral, vol. 2, núm. 2, julio-diciembre, 2010, pp. 503-
513
Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Curitiba, Brasil
(T)
Crer no mundo de hoje: um estudo a partir
do método de Joseph Ratzinger (Bento XVI)
para explicar o “crer” em sua
obra Introdução ao Cristianismo
(I)
To believe in the present world: a study from of the
method by Joseph Ratzinger (Bento XVI) to explain the
“believing” in his work Introduction to Christianity
(A)
Cesar Kuzma
(R)
Resumo
O artigo apresentado neste trabalho de pesquisa procura acentuar
a questão do “crer” para o mundo de hoje. Pretende-se demonstrar
com isso a importância da fé para a teologia e o modo como a
teologia dialoga com o mundo atual. Utilizamos para isso as reflexões
apresentadas pelo teólogo Joseph Ratzinger, hoje Bento XVI. O
artigo está dividido em três partes: a primeira traz uma reflexão sobre
o ser humano diante de Deus, colocando o dilema da dúvida e da fé;
a segunda apresenta o caminho que pode ser feito da dúvida para a
fé; por fim, a terceira nos mostra como que é crer no mundo de hoje,
levando em conta o que foi apresentado nas duas etapas anteriores.
Temos consciência de que o artigo não é uma resposta final para o
tema em questão, mas aponta caminhos que podem ser observados
pela teologia e pela fé cristã de um modo geral.
(P)
Palabras-chave: Crer. Fé. Teologia. Mundo atual. Joseph Ratzinger.
(B)
Abstract
The article presented in this research seeks to accentuate the question of the
“believing” to the world today. The paper intends to demonstrate the importance
of the faith to the theology and the way theology dialogs with the present world.
For this, it utilizes the reflections presented by theologian Joseph Ratzinger, today
Bento XVI. The article is divided in three parts: the first part brings a reflection
about the human being before God, placing the doubt and faith dilemma; the
second part shows the way that can be traced from the doubt to the faith; and in
the end, the third part shows how it is believe in word today, taking on account
what was presented in the two previous stages. We have conscience that the article
is not a final answer to the thematic in question, but it indicates paths that can
to be observed by theology and by the Christian faith, generally.
(K)
Keywords: Believing. Faith. Theology. Present world. Joseph Ratzinger.
Introdução
parte de sua obra que coincida com essa questão,1 levando a caminhar
primeiramente a partir da situação atual em que se encontra o ser humano
diante de Deus. O método que ele utiliza, mesmo compreendendo para
isso o ser humano a partir da realidade, é o do conceito de fé e o que isto
significa para o ser humano concreto. Parte, portanto, de uma visão teológica
para dentro da realidade. Esse ser humano de que ele fala está no mundo,
e a maneira como esse Deus é apresentado ao mundo e entendido por ele
pode, em alguns casos, tornar-se um tanto estranha à realidade. Ele aponta
que esse ser humano vive num dilema conflituoso entre a dúvida e a fé,
que num segundo momento pode saltar definitivamente para a fé, a partir
de uma experiência verdadeira, algo sem igual neste mundo. Por fim, a
proposta de Ratzinger com essa obra é confrontar o que consiste a fé para
o ser humano moderno, como ele pode crer e o que isto implica em sua
vida concreta e em seu destino.
1
A obra de Joseph Ratzinger (2005) aborda toda a questão do crer, refletida a partir do Símbolo Apostólico.
Ele aprofunda a noção do que consiste e o que implica na verdade a expressão eu creio. Porém, no presente
trabalho será utilizada apenas a introdução do artigo, que ainda não entra no Símbolo, mas que reflete a situ-
ação do ser humano atual diante da questão de Deus e, consequentemente, do seu crer. O que será exposto
concentra-se propriamente nas páginas 31-44.
teólogo traz (a teologia) não é algo elaborado por ele a partir de um contexto
puramente seu, mas uma verdade revelada que é refletida e amadurecida
por uma experiência de fé. Se a teologia não parte desse princípio (fé), ela
perde o seu rumo e o seu foco.2 Ao fazer a comparação do teólogo com o
palhaço3 – texto de Kierkegaard, também contado por Harvey Cox –, ele
comenta da dificuldade que a teologia tem nos dias de hoje de apresentar
um discurso capaz de desfazer alguns estereótipos de pensamentos muito
bem consolidados na sociedade. Dentro dessa perspectiva, o teólogo tem
uma grande causa ao se defrontar com o mundo atual e assumir que a
teologia trata de um assunto da maior importância para a vida humana
(RATZINGER, 2005, p. 31-32).
Sem dúvida, isso leva a um enfrentamento com o mundo, no qual se
situam a dúvida e a fé. Ao se inserirem no mundo para levar sua mensagem,
o cristão ou o teólogo veem-se confrontados num mundo diferente, num
mundo com outras posturas e desejos, que faz com que se sintam diferentes,
estranhos, “fora dos padrões” daquela sociedade. Em outras palavras,
podem parecer-se com o “palhaço” citado anteriormente. Nesse caso, há
o risco de um distanciamento do discurso, o que não é o propósito da fé
cristã. No entanto, se ele se despir totalmente para encontrar-se com o
mundo, aquela aproximação que pode ser feita pode também não ocorrer,
pois periga perder algo essencial para a sua comunicação: a verdade de fé
na qual se sustenta. Para o princípio bíblico da encarnação, despojar-se não
é o mesmo que anular-se. Percebemos, então, que não basta despir-se, há
que se confrontar com o mundo; para tal, faz-se necessária a verdade da fé.
Apontamos aqui que o método de Ratzinger, proposto nesse livro, sempre
leva a fé e a verdade que ela traz para um confronto com a realidade, não
2
Esse é um ponto básico para toda a teologia cristã, que reflete a partir da fé. Sem ela não se produz teologia,
porque perde o que lhe é essencial. Essa mesma abordagem – numa perspectiva metodológica – aparece na
obra de Clodovis Boff sobre o método, que diz: “o que desperta a teologia é a fé e o espírito crente. Mas antes
de qualquer determinação particular (visão, experiência, prática), a fé, em sua raiz mais profunda, é irrupção
do ‘ser novo’, da ‘vida nova’. É novo nascimento. Numa palavra, fé significa ‘conversão’, como transforma-
ção profunda do ser, como morte e ressurreição. Tal é a fé em sua unidade e globalidade: um novo modo de
existir” (BOFF, 1999, p. 28).
3
Esta história que Ratzinger reproduz em seu livro conta sobre um palhaço que vai a uma vila mais próxima
para comunicar de um incêndio que se aproximava. Quando lá chegou para dar a notícia, os habitantes da vila
não acreditaram que era verdade o que ele contava, pois viam o palhaço trajado com seu figurino e maquila-
gem e entendiam como se fosse uma representação. Por mais que o palhaço se esforçasse, a verdade que ele
trazia não era perceptível para aquelas pessoas. O trágico fim é que o fogo alcançou a vila e, como já era tarde,
destruiu-a por completo (RATZINGER, 2005, p. 31).
o contrário. Para ele, essa fé tem algo a dizer, e este algo é só ela que pode
fazer. Nesse caso, a teologia tem um papel preponderante.
Aqui entra a questão do crer que ele apresenta neste livro. Esse crer
traz uma resposta da pessoa completa e dirige-se àquilo que é inatingível.
Portanto, se a realidade interpela é porque exige da teologia uma resposta
que deve ser dada dentro de um horizonte próprio da teologia, pois esta
também a questiona. É aqui que entra o crer e o diferencial que este traz;
o que não quer dizer que para crer não deva inculturar-se no mundo para
um melhor empreendimento. Lembramos que esse crer é realizado dentro
deste mundo e não fora, parte de uma experiência que leva o ser humano a
uma visão transcendente da própria realidade. Porém, a teologia, alimentada
pela fé que a produz, não é sua refém, mas se destina a algo além dela.
Sobre isso, diz Ratzinger:
Da dúvida para a fé
4
Uma breve reflexão atual sobre a cristologia de Ratzinger, embora a obra não traga um tratado completo,
encontra-se em RATZINGER, 2007.
5
Ver também MOLTMANN, 2005.
6
Indica-se LIBANIO, 1992.
sua essência ousa especular para algo além da realidade apresentada, cujos
discursos não alcançam significativamente: “O que os olhos não viram, os
ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu, tudo o que
Deus preparou para os que o amam” (1Cor 2,9).
Diante de situações assim, o discurso teológico necessita,
urgentemente, de maior solidez e firmeza naquilo que se propõe. Não pode ser
algo vazio ou sem perspectiva, nem mesmo mera repetição. Ao contrário,
deve impulsionar a fé para dentro da realidade a ponto de dar testemunho
convicto da sua verdade, mesmo que o mundo e a sociedade atuais afirmem
que ela é algo supérfluo ou desnecessário. Na verdade, solidez e firmeza no
discurso são características que pede a teologia e é a isso que ela se propõe.
Como nos diz Clodovis Boff: “A pessoa de fé quer naturalmente saber o
que é mesmo aquilo que acredita, se é verdade ou não. Quer saber também
o que implica tudo aquilo em sua vida concreta e em seu destino” (BOFF,
1999, p. 25). Concluindo com Ratzinger: “Só a verdade é o fundamento
adequado em que o ser humano pode firmar-se” (RATZINGER, 2005, p.
57). E a verdade cristã só é encontrada pela fé.
Conclusão
Referências
Recebido: 12/03/2010
Received: 03/12/2010
Aprovado: 25/05/2010
Approved: 05/25/2010