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Jesus estava nos últimos meses do seu ministério terrestre.

Os discípulos já o haviam
acompanhado durante quase três anos, nos quais a opinião pública havia passado
por várias fases: admiração, oposição, afastamento, divisão de opiniões, etc.

Quando chegamos a este período da história, percebemos que os próprios discípulos


estavam numa montanha-russa de emoções, tentando compreender alguma coisa
da missão e dos planos de Jesus.

É neste contexto que encontramos um dos acontecimentos mais impressionantes de


toda a vida terrestre de Jesus: a transfiguração.

Os Discípulos: Convictos e Confusos! (Mateus 16)

Para compreender bem o significado da transfiguração de Jesus, precisamos


observar o contexto. Os três relatos deste evento – nos livros de Mateus, Marcos e
Lucas – apresentam basicamente a mesma sequência de acontecimentos. Neste
estudo, vamos seguir o relato de Mateus 16 e 17.

No começo do capítulo 16, observamos o conflito entre Jesus e os líderes das


principais denominações judaicas da época (16:1-4). Apesar de terem visto diversas
evidências apresentadas por Jesus para apoiar suas afirmações e seus ensinamentos,
os fariseus e saduceus pediram mais um sinal. O comportamento deles, como o de
muitos que negam as evidências das Escrituras hoje, foi o de ignorar as provas
oferecidas e sempre levantar mais uma pergunta ou objeção. Jesus repreendeu estes
líderes a avisou os seus discípulos do perigo de serem enganados por eles.

Depois de frisar a rejeição pelas autoridades religiosas, Jesus passou a perguntar


sobre as opiniões do povo em geral (16:13-14). Talvez a melhor palavra para
descrever o povo neste momento seja “confuso”: sabiam que Jesus era alguém
importante, talvez um dos profetas, mas ainda estavam chegando à fé.

Em seguida, Jesus perguntou aos próprios apóstolos sobre o entendimento deles a


respeito do seu Mestre (16:15). Pedro não hesitou em fazer uma das maiores
confissões de todos os tempos: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (16:16). Jesus
elogiou esta afirmação impressionante (16:17-20).

Mas a fé de Pedro e dos outros apóstolos ainda não estava tão sólida. Uma outra
conversa revelou a confusão de Pedro. Se ele entendesse totalmente a posição de
Jesus como o divino Cristo, como seria capaz de questionar qualquer palavra do seu
Senhor? Mas quando Jesus falou de morrer em Jerusalém, Pedro se colocou como
adversário e repreendeu o próprio Senhor (16:21-23). O contraste entre os versículos
17 e 23 explica bem a confusão de Pedro, como também de muitos outros: quando
o homem valoriza a revelação divina, faz bem; quando valoriza mais a opinião
humana, vira-se contra Deus e tropeça. No contexto deste período do ministério de
Jesus, este contraste mostra a mistura de convicção e confusão que os apóstolos
estavam vivendo.
Jesus poderia ter respondido às dúvidas dos apóstolos com palavras suaves e
compassivas. Podemos ficar surpresos e até espantados com sua abordagem
desafiadora: “Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a
si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (16:24). Em outras palavras: “Pedro,
se você achou difícil falar do sacrifício da minha vida, vamos falar sobre o sacrifício
que você e os outros discípulos farão!”

Ao invés de amenizar as exigências, Jesus foi bem direto em chamar os discípulos ao


sacrifício total de se entregar para o Senhor. Um homem poderia ser persuadido a
sacrificar sua própria vida? Sabemos que sim, como acontece todos os dias quando
policiais, bombeiros, soldados e outros se sacrificam para salvar outras pessoas ou
defender causas que consideram nobres. É neste ponto que achamos uma chave
para apreciar o significado do que acontece depois. Os discípulos precisavam ter
certeza da verdade das afirmações de Jesus e da nobreza da causa que ele
apresentou. Eles precisavam da convicção total de que Jesus é “o Cristo, o Filho do
Deus vivo” (16:16). A resposta divina a esta necessidade vem no começo do capítulo
17.

A Resposta Divina: A Transfiguração de Jesus (Mateus 17:1-8)

Jesus levou Pedro, Tiago e João a um monte, onde ele foi transfigurado. Jesus sempre
teve a glória divina, porque ele “é o resplendor da glória e a expressão exata do seu
Ser” (Hebreus 1:3). Ele “é a imagem do Deus invisível” porque nele reside “toda a
plenitude da Divindade” (Colossenses 2:9). Mas, naquele dia no monte, esta glória
se tornou visível aos olhos naturais dos três apóstolos que o acompanhavam.

Tente imaginar esta cena. Jesus levou consigo três homens criados em famílias
judias, com conhecimento das histórias de grandes figuras do Antigo Testamento.
Estes já haviam tido três anos para se acostumar com a presença de Jesus, mas
provavelmente nunca imaginaram estar um dia na presença de Moisés, o homem
usado por Deus para libertar o povo e revelar a Lei, ou de Elias, o homem que
inaugurou o período dos principais profetas do Antigo Testamento.

Diante desta situação incrível, Pedro sugeriu que fossem feitas três tendas para
honrar estes personagens: Jesus, Moisés e Elias. O que ele estava pensando? Jesus
não perguntou nada sobre as intenções deste apóstolo, pois o Pai agiu de imediato
para tirar qualquer dúvida sobre a primazia de Jesus. Antes de Pedro terminar de
falar, uma nuvem luminosa os envolveu e o Pai declarou: “Este é o meu Filho amado,
em quem me comprazo; a ele ouvi” (17:5). Deus havia feito uma declaração parecida
quando Jesus foi batizado (3:17), mas, no monte, frisou a autoridade da palavra de
Jesus (veja Deuteronômio 18:18-19).

A mensagem falada foi reforçada visualmente. Quando os apóstolos se levantaram,


Moisés e Elias haviam sumido. Permaneceu somente Jesus, aquele que cumpriu a Lei
e os Profetas, e em quem reside toda a autoridade (28:18).
Simbolicamente, o aparecimento de Moisés e Elias representava a Lei e os Profetas.
Entretanto, a voz de Deus do céu - "Ouçam a Ele!" - mostrou claramente que a Lei e
os Profetas deviam dar lugar a Jesus. Aquele que é o novo e vivo caminho está
substituindo o antigo; Ele é o cumprimento da Lei e das inúmeras profecias no Antigo
Testamento. Além disso, em Sua forma glorificada eles tiveram uma breve
visualização da Sua glorificação e entronização vindoura como Rei dos reis e Senhor
dos senhores.

Os discípulos nunca esqueceram o que acontecera naquele dia na montanha e sem


dúvida essa era a intenção. João escreveu em seu evangelho: "Vimos a sua glória,
glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade.” Pedro também
escreveu: “De fato, não seguimos fábulas engenhosamente inventadas, quando lhes
falamos a respeito do poder e da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo; pelo contrário,
nós fomos testemunhas oculares da sua majestade. Ele recebeu honra e glória da
parte de Deus Pai, quando da suprema glória lhe foi dirigida a voz que disse: ‘Este é
o meu filho amado, em quem me agrado’. Nós mesmos ouvimos essa voz vinda do
céu, quando estávamos com ele no monte santo" (2 Pedro 1:16-18). Aqueles que
testemunharam a transfiguração deram o seu testemunho aos outros discípulos e
incontáveis milhões através dos séculos.

O Efeito na Vida destes Apóstolos

Os apóstolos que subiram ao monte confusos desceram convictos. Ao longo da vida


destes três, percebemos a convicção que levou todos eles a se entregarem por
completo ao Senhor. Jesus havia os convidado a tomar a cruz e lhe seguir.

Tiago foi o primeiro apóstolo morto por sua fé (Atos 12:1-2). Mesmo assim, os
outros, inclusive seu próprio irmão, João, continuaram na sua dedicação a Jesus.

João provavelmente foi o último dos apóstolos a morrer. Ele serviu ao ponto de ser
exilado por causa da sua fé, mas não abandonou a sua convicção. Este apóstolo fez
várias afirmações que mostram sua certeza absoluta da divindade e autoridade
daquele que mostrou a sua glória no monte (veja João 1:14; 20:30-31; 21:24-25).

Pedro sofreu bastante, mas nunca desistiu da sua missão e nunca esqueceu daquele
momento no monte. No final da sua vida ele incentivou os outros a serem fiéis e
escreveu estas palavras: “Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de
nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós
mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade, pois ele recebeu, da parte
de Deus Pai, honra e glória, quando pela Glória Excelsa lhe foi enviada a seguinte
voz: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. Ora, esta voz, vinda do céu,
nós a ouvimos quando estávamos com ele no monte santo. Temos, assim, tanto
mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la....” (2 Pedro 1:16-
19).

Nós Precisamos Contemplar a Glória da Majestade de Cristo


Nós, também, vivemos num mundo confuso. Muitos rejeitam e zombam de Jesus,
optando por crenças mais modernas que se encaixam melhor nas tendências da
sociedade atual. Mas a mensagem de Jesus não se ajusta aos desejos dos homens.
Enquanto muitos buscam a realização dos seus sonhos, ele ainda exige nosso
sacrifício total. Qual possível motivo teríamos para suportar tentações, provações e
privações no serviço a Jesus? A única coisa que nos move a isto e pode nos dar a
vitória diante destes desafios constantes é a fé verdadeira em Cristo (1 João 5:4). Por
meio destes relatos, nós também “vimos a sua glória, glória como do unigênito do
Pai” (João 1:14).

Apreciar a verdadeira glória de Jesus nos leva a entender e compartilhar o


sentimento de Paulo, que se dedicou à pregação do evangelho, revelando o mistério
de Cristo aos santos, “aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da
glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da
glória” (Colossenses 1:27).

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