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História Econômica Geral

ERA DOS EXTREMOS


O breve século XX
1914-1991

Os Anos Dourados

Roberto R. Simiqueli
roberto.simiqueli@feac.ufal.br
Os Anos Dourados

Período de excepcional crescimento (1945-1973) que se segue à Era da
Catástrofe.

Consolidação das estruturas políticas e econômicas no pós-guerra
– Guerra-Fria: bem-estar como ferramenta de dissuasão
– Partidos comunistas estabelecidos (Itália e França)
– Políticas de gasto público e incentivo ao investimento - recuperação
– EUA: desaceleração de trajetória de crescimento iniciada em 1933
– Benefícios materiais do crescimento se tornam palpáveis em meados da
década de 1950 ou nos anos 1960

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“Era de Ouro” pertenceu fundamentalmente a países capitalistas desenvolvidos (EUA, GB,
França, Alemanha, Itália, Japão)

Taxa de crescimento na URSS em 1950 é mais veloz que a de qualquer país ocidental. Jogo se
reverte na década de 1960.

Terceiro Mundo: crescimento acelerado e eliminação da fome endêmica; aumento da
expectativa de vida

Generalização e expansão da produção industrial (Espanha e Finlândia; Bulgária e Romênia;
Am. Latina)

Prod. mundial de manufaturas quadruplica entre 1950 e 1970

Comércio internacional de manufaturados aumenta 10x

Elevação da produtividade agrícola (2x grãos/hectare)

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“Um dos motivos pelos quais a Era de Ouro foi de ouro é que o preço do
barril de petróleo saudita custava em média menos de dois dólares durante
todo o período de 1950 a 1973, com isso tornando a energia ridiculamente
barata, e barateando-a cada vez mais. Ironicamente, só depois de 1973,
quando o cartel de produtores de petróleo, a OPEP, decidiu finalmente cobrar
o que o mercado podia pagar, os ecologistas deram séria atenção aos efeitos
da consequente explosão no tráfego movido a petróleo, que já escurecia os
céus acima das grandes cidades nas partes motorizadas do mundo, em
particular na americana. A poluição da atmosfera foi, compreensivelmente, a
preocupação imediata.” (Hobsbawm, 1996:605-606)

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Questão central é generalização de modelo de produção e consumo de massas:

“O modelo de produção em massa de Henry Ford espalhou-se para indústrias do
outro lado dos oceanos, enquanto nos EUA o princípio fordista ampliava-se para
novos tipos de produção, da construção de habitações à chamada junk food (o
McDonald’s foi uma história de sucesso do pós-guerra). Bens e serviços antes
restritos a minorias eram agora produzidos para um mercado de massa, como no
setor de viagens a praias ensolaradas. (...) O que antes era um luxo tornou-se o
padrão do conforto desejado, pelo menos nos países ricos: a geladeira, a lavadora de
roupas automática, o telefone. (...) Em suma, era agora possível o cidadão médio
desses países viver como só os muito ricos tinham vivido no tempo de seus pais —
a não ser, claro, pela mecanização que substituíra os criados pessoais.”(Hobsbawm,
1996:609)

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Revolução tecnológica: plásticos, televisão, fita magnética
– Demandas de alta tecnologia do período de guerras
– Concentração do capital e departamentos de pesquisa e desenvolvimento
– Tecnologia do século XIX era ultrapassada de forma definitiva

Três elementos de importância:
– Transformação na vida cotidiana
– Cadeias de inovação e incorporação se tornavam mais longas
– Novas tecnologias eram intensivas em capital (mecanização/robotização)

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“A reestruturação do capitalismo e o avanço na internacionalização da economia
foram fundamentais. Não é tão seguro que a revolução tecnológica explique a Era de
Ouro, embora fosse expressiva. Como foi mostrado, muito da industrialização nessas
décadas deveu-se à disseminação a novos países de processos baseados em velhas
tecnologias: a industrialização de carvão, ferro e aço do século XIX estendeu-se aos
países socialistas agrários; as indústrias americanas de petróleo e motores de
combustão interna do século XX chegaram aos países europeus. O impacto da
tecnologia gerada pela alta pesquisa na indústria civil provavelmente só se “tornou
substancial nas Décadas de Crise depois de 1973, quando se deu a grande inovação na
tecnologia de informação e na engenharia genética, além de vários outros saltos no
desconhecido. As principais inovações que começaram a transformar o mundo assim
que a guerra acabou talvez tenham sido as do setor químico e farmacêutico.”
(Hobsbawm, 1996:622-623)

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Planejamento econômico e regulação são fonte importante da prosperidade e
estabilidade do pós-guerra:
– Catástrofe do entre-guerras era fruto do colapso do sistema comercial e
financeiro global
– Estabilidade anterior fora garantida pela hegemonia britânica (séc. XIX) e
institucionalidade garantida às finanças
– Grande Depressão se devera ao fracasso do livre-mercado irrestrito
– Mercado deveria ser suplementado pelo esquema de planejamento público e
administração econômica
– Retorno ao desemprego em massa era inadmissível

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“Em suma, por diversos motivos, os políticos, autoridades e mesmo muitos dos homens
de negócios do Ocidente do pós-guerra se achavam convencidos de que um retorno ao
laissez-faire e ao livre mercado original estava fora de questão. Alguns objetivos políticos
— pleno emprego, contenção do comunismo, modernização de economias atrasadas, ou
em declínio, ou em ruínas — tinham absoluta prioridade e justificavam a presença mais
forte do governo. Mesmo regimes dedicados ao liberalismo econômico e político podiam
agora, e precisavam, dirigir suas economias de uma maneira que antes seria rejeitada
como “socialista”. Afinal, fora assim que a Grã-Bretanha e mesmo os EUA haviam
orientado suas economias de guerra. O futuro estava na “economia mista”. Embora
houvesse momentos em que as velhas ortodoxias de retidão fiscal, moedas e preços
estáveis ainda contassem, não eram mais absolutamente obrigatórias. Desde 1933 os
espantalhos da inflação e financiamento de dívida não espantavam mais os passarinhos
dos campos econômicos, mas as safras ainda pareciam crescer.”(Hobsbawm, 1996:755)

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Desenvolvimento dos mercados financeiros internacionais
– Institucionalidade marcada pela garantia da primazia norte-americana
(Keynes vs White; origens do FMI)
– Empréstimos condicionados a alinhamento político (recrudescimento da
guerra-fria)

Mercados de capitais são fundamentais para espraiamento da grande
indústria para o terceiro-mundo
– Financiamento externo e industrialização brasileira
– Desestruturação dos mercados de capitais a partir do choque do petróleo

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