23/03/24, 09:34 Como a ayahuasca e a meditação me livraram dos vícios | by Caroline Apple | Medium

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Caroline Apple · Follow

6 min read · May 7, 2018

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Como a ayahuasca e a meditação me livraram dos vícios

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Os vícios são prisões. Eles se manifestam quando nos tornamos pequenas caixas
apertadas para a magnitude do nosso ser. É quando criamos um enredo sobre
nossas vidas e acreditamos nele como verdade absoluta que eles despertam.

Eu tinha certeza que eu era a pessoa que só sabia se divertir bebendo e usando
drogas. Eu tinha certeza que comer loucamente um monte de porcaria fazia parte
da minha trajetória. Eu tinha certeza que qualquer raiva ou revolta provinda de mim
era fruto de algo externo. Eu vivia sem querer a crença do eu incapaz
(parafraseando a letra da música do Chandra Lamcobe).

Quando meu processo de autoconhecimento começou, minha primeira ferramenta

de expansão da mente foi a meditação. Ela foi essencial para eu silenciar e ouvir
minha intuição. O primeiro insight foi buscar auxílio em um grupo de Santo Daime
que eu conhecia.

Ensaiei anos para ir. Havia recebido inúmeros convites. Todos negados, apesar de
saber que um dia eu experimentaria.

Quando silenciei foi que pude ouvir esse chamado. Então decidi numa terça-feira de
outubro de 2017 e no sábado eu estava lá e, então, minha vida começou a mudar.

Alimentação

A experiência foi intensa. Eu era ateia e muito do que eu ouvia nos hinos não fazia
sentido pra mim. Fui na observação.

Muita gente sabe e tem medo dos efeitos de limpeza da ayahuasca. Eu não vomitei
neste dia, mas meu intestino começou a borbulhar de uma maneira que eu jamais
havia sentido. Eram barulhos altos. Tudo se mexia dentro de mim. Dava pra ouvir de
longe, sem exagero.

Então tive uma peia (como chama a limpeza) intestinal. Parecia que eu estava
limpando anos de sujeira que havia colocado para dentro. Mas não foi só no dia.
Comecei a notar que toda vez que eu comia porcaria me dava diarreia. E demorei
três meses para entender que a alimentação estava no meu caminho de
autoconhecimento.

Mudei radicalmente o que eu comia. Eu não aguentava mais comer e ir direto para o
banheiro. Era a ayahuasca dizendo: “Chega”. Então passei a ouví-la. Foram 16 kg

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embora e, até hoje, se saio minimamente do caminho por alguns dias, a peia
reaparece para me lembrar da lição já aprendida.

Claro que ela não jogou isso no meu colo e mandou eu me virar. A meditação e os
trabalhos no Santo Daime foram me ajudando a ficar mais equilibrada. E a
ansiedade que me levava a gula foi sendo transmutada. Então deixar de comer de
forma impulsiva não foi um esforço. Passei a ter a liberdade de escolher
conscientemente o que eu como. E isso é fantástico.

Drogas

Eu sempre usei muita droga. Mas era uma pessoa funcional. Trabalhava, estudava,
tinha uma vida social agitada, amigos, família estruturada, companheiro, filha. Uma
vida aparentemente normal.

Mas eu bebia demais e fumava. As drogas mais pesadas eu já havia diminuido o

ritmo, mas esporadicamente acontecia, mesmo me deixando arrasada no dia
seguinte. Essas foram as primeiras a serem banidas sem esforço.

Mas o álcool e o cigarro continuavam lá. E, com certeza, o álcool foi a droga que
mais me fez ter contato direto com meu Eu inferior.

Eu me colocava em risco periodicamente de muitas

formas, fora a agressividade que despertava. E eu era do tipo que bebia bem. Tinha
resistência. Passava a noite bebendo muito sem cair. Eu era a tal da “forte pra
bebida”.

Mas eu sabia que a repressão não era o caminho. Eu queria entender o que me
levava a beber e fumar. E, mais uma vez, a meditação e a ayahuasca me mostraram
os buracos que eu tentava tapar com essas substâncias. Foi então que naturalmente
eu parei.

Beber e fumar deixaram de ter sentido quando expandi minha consciência. Pude
me enxergar por outro prisma e quando ampliei o foco eu percebi que eu era muito
mais do que aqueles hábitos nocivos à minha saúde física, mental e espiritual.

Claro que cada um tem uma relação diferente com essas substâncias, mas pra mim
é assim.

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Fácil no foi, mas em outro sentido. Ressignificar a vida social foi um desafio, afinal
foram anos sendo a pessoa que agitava o role, que aparecia com cartela de LSD e que
sabia onde comprar droga em qualquer lugar da cidade.

Deu medo. Mas fui com medo mesmo. Ficar naquela situação não era uma opção e
eu estava disposta a fazer qualquer coisa pra sair daquilo.

Não aguentava mais. Tava chato. Usar tudo isso no meu tempo livre era tipo o banho
de sol de preso. Eu não era livre, mesmo achando que sair quando queria e beber o
quanto queria eram sinônimos de independência. Eu era refém daqueles hábitos. Se
você precisa de algo além de você mesmo para se divertir é melhor reavaliar. Foi o
que eu fiz.

Emoções

A revolta, a raiva e a agressividade sem dúvida eram vícios. A gente vicia na

negatividade.

Antes eu culpava, sem consciência, pessoas e situações por sentir essas emoções.
Bebida, companheiro, filha, política e etc.

Doeu demais quando a expansão da consciência me fez perceber que, nesse caso,
não importava quem apertava o gatilho. Aquilo tudo estava dentro de mim.

Primeiro passei a entender o poder da gratidão. Comecei a agradecer a cada pessoa

ou situação que me davam a chance de ver quem eu era realmente. Chamei pra mim
a responsabilidade e, por consequência, o empoderamento para transmutar.

Não deixei um minuto de ser quem eu era. Mas em vez de andar com uma faca
empunhada o tempo todo, achando que era tudo um grande complô para me tirar
do sério, eu guardei a faca. Ela ainda é minha. Essa força impulsionadora que é a
raiva faz parte de mim, mas ela não me domina mais. Se eu preciso dela,
rapidamente posso voltar a puxar essa faca. Mas quem decide isso agora sou eu e
não a impulsividade.

Foi num trabalho no Santo Daime que essa raiva se apresentou. E foi lá que passei a
questionar e ver o quanto era bobo da minha parte toda
aquela sensação inquietante. Era uma revolta sem causa. Era cansativo viver
daquela maneira. Era uma paranoia achar que seria atacada a qualquer momento.
Eu era arisca. Tinha hora que ninguém entendia nada, nem eu.
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Mas depois de 10 horas no trabalho de Daime olhando profundamente para essa

questão que tudo mudou. Claro que não é num passe de mágica. Mas o problema
estava na mesa e assim, exposto, eu passei a trabalha-lo. Deixar o vício de odiar foi o
processo mais desintoxicante dessa recente trajetória. Afinal, os excessos também
demonstram ódio, inclusive o de si mesmo.

Considerações

O que esses processos têm em comum é a naturalidade do desenvolvimento. Eu

busquei antes de tudo o entendimento. Repressão não serve pra nada. Só prejudica
o caminho.

Se quiser resolver algo definitivamente procure a fonte. É cliché? É sim, mas é na

simplicidade de tudo que é dito durante gerações em que está a sabedoria.

Complexo é dizer não quando se quer dizer sim, seja lá para o que for. A mente
entra em parafuso. Não a confunda, a discipline para que ela jogue no seu time.

Primeiro passo é se acolher para depois organizar a bagunça.

Procurar um caminho para expandir a mente é se dar a chance de vibrar em outra

frequência. Isso não tem nada a ver com religião ou algo místico. Tem a ver com o
poder do ser humano de viver melhor do que hoje ele vive.

Sentar em silêncio é uma opção do indivíduo. Mas o bom é que a meditação é um

cavalo de Troia. Ela chega como algo com o poder de silenciar, mas ao mesmo
tempo abre sua mente a ponto de você ver o que até então negava.

E o que é a ayahuasca senão uma medicina para aqueles que veem urgência em seus
processos de evolução? Lembrando que urgência não é pressa. Pressa pula etapas.
Urgência é rápida, mas respeita os passos do processo.

O caminho é pessoal e intransferível. Encontre o seu.

Autoconhecimento Ayahuasca Santo Daime Vício

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