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MANUEL PROENÇA DE CARVALHO


Jurista
Docente Universitário

Título: Ciência Política e Direito Constitucional


• Casos práticos resolvidos• Hipóteses• Testes
2.ª edição (revista e ampliada) CIÊNCIA POLÍTICA
Autor: Manuel Proença de Carvalho E
Editora
DIREITO CONSTITUCIONAL
e Distribuidora: Quid Juris? ® - Sociedade Editora Ld.ª
Rua Sarmento Beires, n.0 45-G
Apartado 9803
• Casos práticos resolvidos
1911-701 Lisboa
telef. 21 840 54 14 /21 840 54 20 • Hipóteses
fax. 21 840 54 23
e-mail: geral@quidjuris.pt • Testes
www.quidjuris.pt

Impressão
e acabamentos: Gráfica Almondina 2.ª edicão
(revista e ampliada)
Depósito legal n.0 287 667/09
ISBN: 978 - 972 - 724 - 416 - 4

■C!1D
Não podem ser reproduzidas ou difundidas, por qualquer processo electrórúco, mecâ rúco ou
fotogrâfico, incluindo fotocópia, quaisquer páginas deste livro, sem autorização da editora..
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nomes do autor e da editora.
QUIDJURIS
SOCECADE EDITORA
.,

NOTA PRÉVIA À 2.ª EDIÇÃO

Esra 2.' edição incorpora o texto revisto e a reformulação e ampliação


da terceira parte da obra.

Lisboa, Janeiro de 2009

5
Fosse por se ter recusado tanto tempo quanto possível
a abandonar a crença de que o direito existepara nosproteger.
(WG. Sebald, in Austerlitz)

NOTA PRÉVIA À i.a EDIÇÃO

Tal como o próprio título indica, a presente obra encontra-se dividida


em três partes - Casos Práticos resolvidos, Hipóteses e Testes.
Opção didáctica ditada por duas razões: A consideração das obras e
manuais elencados em sede de resenha bibliográfica, obviamente não exaus­
tiva mas meramente indicativa e o travejamento comum à cadeira de Ciência
Política e Direito Constitucional ministrada nas diversas Faculdades de Direito
existentes.
Assim, fixou-se um corpo principal, constituído por uma colectânea de
quarenta casos práticos acompanhados das respectivas resoluções, tendo como
finalidade amciliar os alunos na compreensão das matérias jurídicas estudadas
no ãmbiro da cadeira de Ciência Política e Direito Constitucional.
A segunda e terceira partes integram, respectivarnente, uma colectânea
de 25 hipóteses para os alunos poderem testar os seus conhecimentos nas
aulas práticas e, finalmente, os enunciados de 20 possíveis modelos de exames.
Em anexo, incluem-se algumas disposições do Regimento da Assembleia
da República com maior utilidade para os alunos.

Llsboa, Setembro de 2007

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CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS
.l CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS

Caso n.0 1

• Princípio do Estado de direito, princípio democrático e cargos


políticos

Maria, Francisca e Afonso discutiam numa aula o conteúdo de


uma lei sobre incompatibilidades entre cargos políticos que entrando
em vigor no 1.º dia do mês a seguir à sua publicação, preceituava a
impossibilidade de acumulação entre o cargo de deputado ao parla­
mento europeu e o de presidente de câmara municipal.
Assim, e com a entrada em vigor dessa lei, todos aqueles titulares
que exercessem em simultâneo esses dois cargos teriam que optar
imediatamente por um deles.
Opinava Francisca que a referida lei não ia contra o princípio
do estado de direito ou contra o regime específico dos direitos, liber­
dades e garantias, pois que nem sequer era retroactiva, já que a mesma
não retroagia os seus efeitos ao passado; retorquía Maria que, além
de haver violação do princípio do estado de direito e do regime espe­
cífico dos direitos, liberdades e garantias, haveria ainda violação do
princípio democrático.
Finalmente, sustentavaAfonso que o único princípio que estaria
em causa seria o princípio democrático.
a) Tome partido na presente discussão, enunciando a eventual
violação de princípios constitucionais estruturantes da República
Portuguesa e respectivos subprincípios, assim como do regime espe­
cífico dos direitos, liberdades e garantias.
b) Qual seria em seu entender a formulação legal que obstaria
a juízos de inconstitucionalidade?

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CIÊNCIA POúnCA E DIREITO CONSTITUCION AL

l CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS

Resolução em Abril retroage os seus efeitos a 1 de Janeiro), mas também existe retroacti­
vidade quando uma norma jurídica pretendendo vigorar para o futuro acaba
a) Não está em causa a bondade legislativa da medida,já que o exercício por afectar situações desenvolvidas no passado mas ainda existentes.
em simultâneo de dois cargos particularmente exigente s dificilmente assegu­ Era este o caso. E quando assim é, estamos perante um caso de retroacti­
rará padrões mínimos de qualidade, sendo, assim, o interesse público prejudi­ vidad e inautêntica.
cado. Nesta m edida, não tinham razão Francisca eAfonso, sendo, pois, correcta
Em termos constitucionais, há que averiguar agora s e o procedimento a posição de Maria.
adaptado foi o correcto. Tratando-se aqui de cargos públicos, apresenta-se esta situação regulada
Os princípios da segurança jurídica e da protecção da confiança, sub­ pelo artigo 50.º da Constituição (interessando aqui particularmente o n. 1, 05

princípios concretizadores do princípio do estado de direito, princípio estrutu­ que dispõe que todos os cidadãos têm dir eito de acesso, em condições de
rante da República Portuguesa, prescrevem que os indivíduos pod em confiar igualdade e liberdade, aos cargos públicos), e inserindo-se a m esma no Título
que aos seus actos ou às decisões públicas incid ent es sobre os seus direitos II da Parte I da Constituição, com a designação de Direitos, liberdades e ga­
alicerçados em normas jurídicas vigentes se ligam os e feitos jurídicos pre­ rantias (artigos 24.º a 57.0 da Constituição), é disciplinada pelo r egime e spe­
vistos no ordenamento jurídico < 1>. cífico dos direitos, liberdades e garantias.
No caso v ertente, temos que a segurança jurídica e a protecção da Igualmente é regulada pelo artigo 48.º da CRP (Participação na vida
confiança não s e encontravam garantidas. pública), quando s e determina que todos os cidadãos têm o dir eito de tomar
Com efeito, há aqui um claro defraudar de expectativas que se desen­ parte na vida política e na dir ecção dos assuntos públicos do país, preceito
volve em dois sentidos, por um lado, os titular es dos cargos em causa quando que também se inscreve sistematicamente no Título II, com a designação de
foram eleitos tinham a exp ectativa de irem cumprir o seu mandato até ao fim Dir eitos, liberdad es e garantias.
(cinco anos para o Parlamento Europeu; quatro anos para pr esident e da N este sentido, e ao s e cercear no caso em concreto esta participação,
câmara), por outro lado, o mesmo suc edia com o respectivo eleitorado que para além de se e star a atentar contra o princípio democrático inscrito no
via agora um dos mandatos ser abruptamente interrompido. artigo 48.º, que é outro princípio estruturante da República Portuguesa (os
Deste modo, estariam a ser violados os subprincípios concre tizadores outros são para além do princípio do estado de direito, o princípio da sociali­
do estado de direito, s egurança jurídica e protecção da confiança, ou seja, dade e o princípio da unidade do estado, cf. Gomes Canotilho), está-se também
estar-se-ia a dispor contra o disposto no artigo 2.0 da Constituição, cuja epígrafe a infringir o regime específico dos direitos, liberdades e garantias.
assinala p recisamente a referência ao Estado de direito democrático, quando Na r ealidade, e por força do artigo 17.º da CRP, o r egime dos direitos,
se menciona que a R epública Portuguesa é um Estado de direito democrático. liberdades e garantias aplica-se aos enunciados no Título II.
Associado a est es princípios e stá a proibição de normas re troactivas. Sendo assim, e porque estamos perante direitos, liberdades e garantias,
Efectivamente, a r etroactividade não existe só quando se está perante as leis restritivas de dir eitos, liberdades e garantias não podem ter efeitos
uma norma que pretende ter efeitos sobre o passado, vale dizer, retroactividade retroactivos (cfr. n.º 3 do artigo 18.º da CRP), seja, portanto, a chamada retro­
autêntica (imagine-s e, por exemplo, uma qualquer lei penal que publicada actividade autêntica, sejam os casos de retroactividad e inautêntica s empre
que as m e didas legislativas se r evelarem ine speradas ou desproporcionadas.
Dito de outro modo, não se proíbem só leis totalmente retroactivas (isto
1
é, que s e apliquem a situaçõe s e relações já esgotadas), mas também se esta­
< > Cfr. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 5.ª edição.
Coimbra, LivrariaAlmedina, 2002, p. 257. be lece a impossibilidade de existirem leis restritivas parcialmente retroactivas,

12 13
CIÊNCIA POLfTlCA E DIREITO CONSTITUCIONAL CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS

quer dizer, que se apliquem a situações vindas do passado e ainda não ter­
minadas <2>, que era o que sucedia na situação em apreço, pelo que havia aqui
igualmente uma violação do n.0 3 do artigo 18.º.

b) Para evitar que a nova lei pudesse ser ferida de inconstitucionalidades, Caso n.0 2
bastaria que fosse incorporado um preceito final com a seguinte formulação:
"a nova lei só produz os seus efeitos após o decurso dos mandatos actualmente
• Princípio da socialidade e subsídio de desemprego
em vigor para o Parlamento Europeu e câmaras municipais".
Destarte, nunca seriam postas em causa a segurança jurídica e a con­
Para fazer face aos inúmeros encargos com a Segurança Social,
fiança dos cidadãos, seja dos titulares dos cargos, seja do eleitorado, que assim
bem como visando impedir a sua ruptura, imagine que foi publicado
já sabiam com o que poderiam contar em termos futuros.
um decreto-lei alterando o montante do subsídio de desemprego.
Em consequência, inexistiria qualquer efeito inesperado ou despropor­
Assim, e ao invés de 65% sobre a remuneração mensal de
cionado decorrente da medida legislativa, afastando-se, por conseguinte, a
referência, tendo como limite o triplo da retribuição mínima mensal
retroactividade parcial.
garantida, passa o montante do subsídio a fixar-se na percentagem
de 55% sobre aquela remuneração, tendo como limite duas vezes e
meia a retribuição mínima mensal garantida.
Simultaneamente, é alargado o prazo de garantia para a atri­
buição do subsídio de desemprego (600 dias de trabalho por conta
de outrem; contra os anteriores 450 dias de trabalho).
Face ao conteúdo do supracitado decreto-lei, Carolina Maria
perfilha a posição de que o seu conteúdo irá contender com um dos
princípios constitucionais estruturantes da República Portuguesa, a
saber, o princípio da socialidade.
Por seu turno, Manuel Carvalho defende que não haverá qual­
quer incompatibilidade entre aquele diploma e a Lei Fundamental.
Teme partido na discussão, fundamentando a sua posição.

<2> Cfr. JORGE MIRANDA e RUI MEDEIROS, Constituição Portuguesa Anotada, Tomo /,
Coimbra Editora, 2005, p. 163.

14 1�
DO
CIÊNCIA POÚTICA E DIREITO CONSTITUCIONA L CASOS PRÁTICOS RESOLVI S

Resolução A resposta é negativa, estando desta forma correcta a posição perfilhada


por Manuel Carvalho ao defender que não há incompatibilidade entre o
A realização da democracia económica, social e cultural é uma conse­ decreto-lei e a Constituição.
quência política e lógico-material do princípio democrático C3>_ Na verdade, o conteúdo do acto legislativo não tocava na natureza do
Por isso, quase todos os Estados europeus integraram, de uma forma subsídio de desemprego consagrado constitucionalmente, já que o mesmo não
ou outra, o princípio da socialidade (fórmula utilizada na Constituição alemã era eliminado.
e que não encontra recepção textual na Lei Fundamental portuguesa) no núcleo Por outra banda, também não feria o cerne do comando constitucional
firme do Estado constitucional democrático C4>_ em análise, porquanto a maior exigência nos critérios para a sua atribuição e
Inerente ao princípio da socialidade ou da democracia económica e a respectiva redução é, no caso em apreço, perfeitamente aceitável e justifi­
social, está, pois, a proibição do retrocesso social. cável à luz de critérios de razoabilidade.
O princípio do não retrocesso social significa que o núcleo essencial Em contrapartida, já estaríamos perante uma inconstitucionalidade por
de direitos sociais já garantidos através de medidas legislativas não pode ser violação da alínea e) do n.º 1 do artigo 59.º, violando-se, pois, o princípio da
aniquilado. socialidade se, naturalmente, fosse eliminado o subsídio de desemprego.
Note-se, no entanto, que esta proibição do retrocesso social não pode De igual modo, estaria o preceito a ser infringido se a sua redução fosse
ser encarada de uma forma fundamentalista, visto que, nos dias de hoje, e de tal forma acentuada e desproporcionada e/ou aumentassem substancial­
em grande parte devido à alteração da pirâmide demográfica e ao aumento mente de exigência os critérios para a sua atribuição, esvaziando-se, desta forma,
da esperança média de vida, a manutenção e a viabilidade do Estado Social o núcleo essencial do preceito constitucional.
passam, obrigatoriamente, pela existência de reformas que se traduzam na
redução de algumas despesas sociais.
Isto é, com vista a preservar o essencial dos direitos sociais, as políticas
legislativas num quadro de recursos limitados têm que, por vezes, sacrificar
alguns direitos adquiridos, razão pela qual a proibição do retrocesso social é
um princípio datado na sua formulação.
No caso vertente, trata-se de o subsídio de desemprego passar de 65%
para 50% da remuneração mensal de referência, tendo agora como limite
duas vezes e meia a retribuição mensal. Simultaneamente, é alargado o prazo
de garantia para a atribuição do subsídio de desemprego para 600 dias.
Em suma, há que averiguar se a alínea e) do n.º 1 do artigo 59.º da
Constituição, que dispõe que todos os trabalhadores têm direito à assistência
material, quando involuntariamente se encontrem em situação de desemprego,
estaria ser violada e, consequentemente, a ser posto em causa o princípio da
socialidade.

Cl> Cfr. GOMES CANOTILHO, ob cit, p. 333.


4
C > Cfr. GOMES CANOTILHO, ob cit, p. 333.

1 &: 17
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CON CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS
STITUCIONAL

Resolução

Em primeiro lugar, trata-se de indagar se o Governo é o órgão compe­


tente para legislar sobre a matéria.
Caso n.0 3 A resposta é afirmativa, uma vez que se tratando de assunto de direitos,
liberdades e garantias, o Governo legislou através de um decreto autorizado,
precedendo uma autorização legislativa da Assembleia da República.
• Direitos, liberdades e garantias e instalação de alarmes
Na situação em apreço, estamos perante uma matéria com incidência
nos direitos, liberdades e garantias, visto que os proprietários ou possuidores
Visando evitar situações em que são múltiplas as queixas dos
precários dos imóveis são obrigados a autorizar o agente da autoridade a
cidadãos contra o ruído de alarmes anti-roubo fortuitamente acciona­
entrar no edificio onde se encontre instalado o alarme.
dos, presuma que o Governo munido de uma autorização legislativa
da Assembleia da República, elaborou um decreto-lei autorizado, Nesta medida, estão em causa o direito à reserva da intimidade da vida
onde depois de alertar no respectivo preâmbulo que, em casos limite, privada e familiar e a inviolabilidade do domicilio, previstos, respectivamente,
os mesmos só são desactivados aquando da abertura dos estabeleci­ nos artigos 26.º e 34.º da Constituição, inseridos sistematicamente no Título
mentos, decorrido o fim-de-semana ou no regresso de férias dos mora­ II da Parte I da Lei Fundamental, com a designação de Direitos, liberdades e
dores, preceituava: garantias.
"Ao instalar o sistema sonoro de alarme, o proprietário ou Por conseguinte, o Governo legislou ao abrigo do artigo 1 98.0, n.º 1 ,
detentor do imóvel obriga-se, sob pena de coima no valor de 10000 a alínea b), mediante uma autorização legislativa [a Assembleia da República
20000 euros, não só a comunicar o facto, como a autorizar, mediante pode conceder autorizações ao Governo nos termos da alínea d) do artigo
declaração escrita, a entrada a agentes da autoridade por qualquer 1 6 1 .º da CRP], já que estamos face a uma matéria da reserva relativa da
meio adequado no edificio ou instalação onde o aparelho se encontre Assembleia da República, precisamente os direitos, liberdades e garantias,
montado, por forma a que aqueles possam tomar as necessárias provi­ conforme a alínea b) do n.º 1 artigo 1 65.º, e como tal núcleo susceptível de
dências para desligar o aparelho". delegação.
Face à redacção do mencionado diploma, havia quem susten­ Como o caso prático não nos fala em qualquer tipo de prazos, parte-se
tasse a violação de subprincípios atinentes ao Estado de direito, assim do princípio que o Governo legislou dentro do período autorizado pela Assem-
como do regime jurídico de direitos, liberdades e garantias. bleia.
Aplicando-se o regime dos direitos, liberdades e garantias aos direitos
Quid Juris?
mencionados no Título II (cfr. artigo 1 7.º da CRP), temos que ter em consi­
deração o respectivo regime jurídico.
Ora, são traços estruturais do regime específico dos direitos, liberdades
e garantias a exigência de previsão constitucional expressa para a restrição
de direitos, liberdades e garantias (a lei só pode restringir os direitos, liber­
dades e garantias nos casos expressamente previstos na Constituição, cfr. n.º
2 do artigo 1 8.º) e o princípio da proporcionalidade (as restrições devem
limitar-se ao necessário, cfr. n.º 2 do artigo 1 8.º), princípio também associado
ao estado de direito.

18 19
--
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTITUCIONAL CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS

Sucede que não estando em causa a bondade da medida legislativa, a n.º 2 e 4.º); noutros a Constituição limita-se a admitir restrições não especifi­
saber, a preservação do ambiente e qualidade de vida (cfr., artigo 66.º, nomea­ cadas (vg., art. 35.º-4, 47.º- l, 49.º-1 e 270.º).
05

damente a alínea a) do seu n.º 2, prevenção da poluição e seus efeitos, neste Em suma, estas autorizações de restrição visam criar segurançajurídica
caso poluição sonora), e assim a respeitar-se essa norma constitucional, estava­ nos cidadãos, que poderão contar com a inexistência de medidas restritivas
-se simultaneamente a agir de uma forma desproporcionada e injustificada, de direitos fora dos casos expressamente considerados pelas normas constitu­
porquanto os meios previstos no decreto autorizado para alcançar esse objec­ cionais.
tivo revelavam-se excessivos e inadequados. No caso em apreciação, confrontamo-nos com a existência de uma
Ou seja, violou-se o princípio da proibição do excesso (ou princípio da medida legislativa restritiva fora do elenco consagrado constitucionalmente,
proporcionalidade, ditado pelo n.0 2 do artigo 18.º), traço estrutural do regime pelo que o n.º 2 do artigo 18.º era igualmente ferido na parte em que se refere
jurídico supracitado, porque se infringiu o princípio da inviolabilidade do que a lei só pode restringir os direitos, liberdades e garantias nos casos expres­
domicílio (n. 1, 2 e 3 do artigo 34.º) ao obrigarem-se os indivíduos a autoriza­
05
samente previstos na Constituição.
rem a entrada dos agentes da autoridade na sua residência.
Acontece que a entrada no domicílio dos cidadãos contra a sua vontade
só pode ser ordenada pela autoridade judicial competente, nos casos e segundo
as formas previstas na lei, o que não é obviamente o caso (n.º 2 do artigo
34.0).
Acresce ainda que se atentou contra o direito à reserva da intimidade
da vida privada, vertido no art.º 26.0 da Lei Fundamental, ao permitir-se que
os agentes da autoridade tivessem acesso a esse reduto da vida pessoal e fa­
miliar que é a residência de cada um (n.º l do artigo 62.º), direito fundamental
de natureza análoga, direito igualmente beneficiário do regime dos direitos,
liberdades e garantias (cfr. artigo 17.º).
Por último, o acto legislativo em apreço contendia com outro traço
estrutural do regime específico dos direitos, liberdades e garantias, a saber, a
exigência da previsão constitucional expressa da restrição do exercício de di­
reitos, liberdades e garantias (cfr., n.º 2 do artigo 18.º).
Na realidade, há dois tipos de casos previstos na Constituição que
importa sublinhar.
Como ensinam Gomes Canotilho e Vital Moreira <5>, nuns é a própria
Lei Fundamental que prevê directarnente certa e determinada restrição, come­
tendo à lei a sua concretização e delimitação (vide, artigos 27.º, n.º 3 e 34.º

<5> Cfr. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa


Anotada, Volume I, 4.ª edição revista , Coimbra Editora, 2007,p. 391.

20 21
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTITUCIONAL
I' CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS

Resolução

a) A situação em análise encontra-se regulada pelo artigo 55.º da Cons­


tituição da República, precisamente sob a epígrafe Liberdade sindical.
Caso n.0 4
Neste preceito constitucional não é determinado que o voto para as
associações sindicais seja directo (cfr. n.º 3), pelo que estamos perante uma
• Liberdade sindical e eleição de dirigentes sindicais inconstitucionalidade por violação do consagrado no n.º 3 do artigo 55.º, no
tocante ao segmento do diploma que se refere ao voto directo.
Com vista a uma maior democraticidade e funcionalidade, Com efeito, a Constituição não menciona a eleição directa dos órgãos
imagine que foi publicado um diploma que legislando sobre a eleição dirigentes, certamente porque admite formas de democracia representativa,
de dirigentes sindicais e a integração noutras organizações sindicais, em que a direcção seja eleita pela assembleia representativa (6)_
determinava nomeadamente: De igual modo, há uma violação da liberdade de organização e regula­
a) Sempre que se trate de eleições para dirigentes e de delibe­ mentação interna das associações sindicais, que está plasmada na alínea e)
ração sobre integração noutras organizações sindicais ou associação do n.º 2 do artigo 55.º, porquanto a liberdade de organização abrange neces­
com elas, o voto será directo e secreto; sariamente a escolha dos órgãos dirigentes e as uniões sindicais.
h) Nas associações sindicais, o número de titulares do órgão Em contrapartida, a obrigatoriedade em o voto ser secreto já encontra
colegial de administração e do conselho fiscal, incluindo os respectivos acolhimento no n.º 3 do artigo 55.º, não havendo, neste particular, nenhuma
presidentes, será obrigatoriamente ímpar. inconstitucionalidade.
Face a este diploma, Hernan afirma que estamos perante várias h) A imposição de um número ímpar de titulares para o conselho de
inconstitucionalidades. administração e conselho fiscal, vai contra o disposto no mesmo n.º 3 do
Quid Juris? artigo 55.º, contendendo igualmente com o princípio da liberdade de organiza­
ção e regulamentação interna das associações sindicais.
Em suma, Heman tem razão quando afirma que estamos perante várias
inconstitucionalidades.

C6) Cfr. GOMES CANOTILHO E VITAL MOREIRA, ob. cit., p. 735.

22 ?�
CIÊNCIA POÚTICA E DIREITO CONSTITUCIONAL CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS

Resolução

Trata-se, de facto, de uma matéria que tem a ver com os direitos, liber­
dades e garantias.
Caso n.0 5 Senão vejamos.
As pinturas e as inscrições em moradias particulares configuram uma
forma de os indivíduos se poderem exprimir, pelo que estamos aqui em pleno
• Direitos, liberdades e garantias e pinturas em moradias campo da liberdade de expressão.
Efectivamente, todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente 0
A Câmara Municipal de Lisboa deliberou que as pinturas e ins­ seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio (cf.
crições em moradias particulares na área do concelho de Lisboa,
n.º 1 do artigo 37.º da Constituição).
seriam punidas com coima de 7500 a 12500 euros.
Sendo a liberdade de expressão um dos direitos, liberdades e garantias,
Acresce que o agente infractor seria nos 15 dias seguintes à no­ e corno tal integrado no Título II da Parte I da Lei Fundamental, artigos 24.º
tificação pela câmara, obrigado a repor o imóvel no estado em que se a 57.º, precisamente com a designação de Direitos, liberdades e garantias,
encontrava.
goza do respectivo regime jurídico por força do artigo 17. º: o regime dos
Igualmente se estipulava que em caso de incumprimento desta direitos, liberdades e garantias aplica-se aos enunciados no Título II e aos
última obrigação, e independentemente de uma segunda coima no direitos fundamentais de natureza análoga.
valor de 7500 euros, a CML substituir-se-ia ao infractor debitando­ Ora, um dos traços estruturais dos direitos, liberdades e garantias radica
-lhe a respectiva conta.
na reserva de lei, conforme se pode constatar no enunciado do n. º 2 do artigo
À luz do regime juridico dos direitos, liberdades e garantias, 18.º: a lei só pode restringir os direitos, liberdades e garantias.
Teresa Margarida perfilhava que a atitude da Câmara Municipal de Isto é, as matérias de direitos, liberdades e garantias têm que ser regu­
Lisboa seria inconstitucional, assim como o seria da mesma forma ladas por lei da Assembleia da República [alínea b) do n.º 1 do artigo 165.º],
uma lei da Assembleia da República ou um decreto-lei autorizado do ou por decreto-lei autorizado do Governo [alínea b) do n.º 1 do artigo 198.º],
Governo que legislassem no mesmo sentido.
ao abrigo de uma autorização legislativa da Assembleia da República, de
Quid Juris? acordo com o preceituado na alínea b) do n.º 1 do artigo 165.º.
No caso vertente, tinha sido a Câmara Municipal de Lisboa através do
seu poder regulamentar (cfr. artigo 239.º) a disciplinar direitos, liberdades e
garantias, o que não pode suceder.
Neste plano, está o órgão autárquico a contender, portanto, com o prin­
cípio da reserva de lei, um dos vectores essenciais do regime dos direitos, liber­
dades e garantias e, consequentemente, a violar o vertido no n.º 2 do artigo
18.º e na alínea b) do n.0 1 do artigo 165.0•
Em suma, a Câmara Municipal de Lisboa é incompetente para regular
estas matérias, sendo, logo à partida, a sua posição inconstitucional como
professa Teresa Margarida.

?"1 25
CIÊNCIA POLTT!CA E DIREITO CONSTITUCIONAL CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS

Se tivesse sido a Assembleia da República a legislar por lei, ou o


Governo mediante um decreto-lei autorizado, após uma autorização legislativa
que cumprisse todos os requisitos,já não havia um problema de competência
em razão da matéria, pois como acima vimos são aqueles os órgãos compe­
tentes para legislar sobre direitos, liberdades e garantias. Caso n.0 6
No entanto, e independentemente de qual o órgão em causa, teríamos
sempre outras violações da Lei Fundamental, pelo que a posição sufragada
• Direitos, liberdades e garantias e limitação de mandatos autár­
por Teresa Margarida se afigura corno correcta.
quicos
Antes de mais, recorde-se que estamos perante moradias particulares,
não edificios em propriedade horizontal, imóveis públicos ou de imóveis de Uma lei ao determinar a limitação de mandatos dos órgãos exe­
reconhecido interesse público pela sua riqueza histórica, cultural, pictórica cutivos das autarquias locais, postula que o presidente de câmara
ou arquitectónica. municipal e o presidente de junta de freguesia só podem ser eleitos
Em última análise, o próprio proprietário da moradia não poderia, por para quatro mandatos consecutivos ou interpolados.
exemplo, escrever, desenhar ou fazer os grafittis que muito bem entendesse
Não obstante os mandatos em curso não virem a ser prejudi­
na sua moradia, ou dar o consentimento a que um grande ou médio artista cados, poder-se-ão suscitar algumas dúvidas em sede de direitos,
plástico fizesse uma intervenção no seu imóvel. liberdades e garantias, já que, Armando, popular e prestigiado presi­
Isto é, as medidas para preservar a propriedade privada de cada um (cfr. dente duma grande câmara municipal e um dos dirigentes do princi­
n.º 1 do artigo 62.º) e assegurar a qualidade de vida e o ambiente ( cfr. n.º 1 do pal partido da oposição, era o único em todo o país que viria a ser
artigo 66.º), acabavam por se revelar excessivas, desnecessárias e despropor­ abrangido pelo mencionado diploma.
cionadas em função do resultado pretendido, uma vez que tal como se encon­ Ante o exposto, Joaquim afirma que estamos perante uma in­
travam delineadas poderiam levar a efeitos perversos e absurdos, a saber, constitucionalidade.
atentar-se contra a liberdade de expressão do próprio proprietário (violação
do n.º 1 artigo 37.º) e à sua própria propriedade privada (violação do n.º 1 do Quid Juris?
artigo 62.0), na vertente de liberdade de uso e fruição.
Ante o exposto, estava também a atentar-se contra o princípio da pro­
porcionalidade ou da proibição do excesso, ditado pelo n.º 2 do artigo 1 8.º,
outro traço estrutural do regime dos direitos, liberdades e garantias, que con­
sagra que as restrições a estes direitos devem limitar-se ao necessário para
salvaguardar outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos.

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CIÊNCIA POLIT!q>. E DIREITO CONSTITUCIONAL CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS

Resolução

O direito de acesso aos cargos públicos encontra-se regulado pelo artigo


50.º da Constituição, visto que os titulares dos órgãos do poder local são
titulares de cargos públicos, podendo a lei determinar limites à renovação Caso n.0 7
sucessiva de mandatos dos titulares de cargos executivos (cfr. n.º 2 do artigo
1 18.º).
• Sistema de ensino e financiamento pelo Estado
Sendo um dos direitos, liberdades e garantias, beneficia do respectivo
regime, conforme a sua inserção no título II da Parte I da Lei Fundamental
(cfr. artigo 17.º), que vai dos artigos 24.º a 57.º. José Manuel e Rosa discutiam numa aula o presumível finan­
ciamento pelo Estado dos alunos de um pólo de Viseu a ser instituído
Neste contexto, aplica-se a esta situação o artigo 1 8.º, n.º 3, da CRP,
pela Universidade Católica.
quando se postula que as leis restritivas de direitos, liberdades e garantias
têm de revestir carácter geral e abstracto, isto é, destinam-se a um número O Estado alegava em favor da sua opção, que a universidade
indeterminado ou indeterminável de pessoas (destinatários) ou regulam um pública de Viseu não abrangeria um determinado número de facul­
número indeterminado ou indeterminável de casos <7)_ dades consideradas essenciais para o desenvolvimento do país.
Assim sendo, e por força daquele financiamento, os alunos em
Ou seja, face aos dados avançados neste caso prático tudo leva a crer
que se tratava de fazer uma lei que tinha como único objectivo excluir um causa viriam a pagar uma propina equivalente àquela que pagariam
dirigente da oposição do acesso a urna grande câmara municipal. numa universidade estatal.
No caso em concreto, estamos perante uma lei que embora formal ou José Manuel e Rosa perfilhavam, entre outros argumentos, que
aparentemente geral e abstracta, não o é materialmente, porquanto se trata a questão afigurava-se controversa, porquanto os alunos de outras
universidades privadas de Viseu não tinham sido contemplados por
de uma lei individual e concreta camuflada em lei geral e abstracta.
qualquer financiamento.
Ante o exposto, havia uma violação do n.º 3 do artigo 1 8.º da CRP, no
segmento alusivo à generalidade e abstracção das leis restritivas de direitos, Quid Juris?
liberdades e garantias.
Em suma, Joaquim tem razão quando refere que existe urna inconstitu­
cionalidade.

(7) Cfr. GOMES CANOTILHO, ob. cit., p. 450.

"º 29
CIÊNCIA POLITJCA E DIRE
ITO CONSTITUCIONAL
íl CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS

Resolução 11
O Estado tem corno obrigação constitucional criar um sistema público
de ensino para satisfazer todas as necessidades do ensino, conforme prescreve
Caso n.0 8
o n.º 1 do artigo 75.º da Constituição.
No caso em apreço, o Estado está a demitir-se do seu papel de criar uma
rede de estabelecimentos públicos, privilegiando ao mesmo tempo o ensino • Direito à reserva da intimidade da vida privada e protecção
católico e discriminando as outras universidades privadas. da saúde
Nestes termos, está com a sua atitude a colidir com o artigo 75.º da Lei
Fundamental, e simultaneamente a atentar contra o princípio inscrito no n.º Através de um regulamento, a Universidade Clássica de Lisboa
3 do artigo 43.º, mais concretamente a não confessionalidade do ensino público. vem a exigir a obrigatoriedade de sujeição aos testes da sida, hepatite
Este princípio mais não é que o directo corolário dos princípios da não e tuberculose a todos os seus funcionários, professores e alunos, o
confessionalidade da educação e da cultura (cfr. n.º 2 do artigo 43.º) e da que em caso de resultados positivos culminará com o seu afastamento
separação entre o Estado e as Igrejas (cfr. n.0 4 do art.º 41.º). da instituição até à sua cura.
Por outra banda, está a ferir o princípio da igualdade, inserto no n.º 2 Face ao precedente, Maria, aluna do curso de direito, sentindo­
do artigo 1 3.º, ao não financiar os alunos das outras universidades privadas, -se lesada dizia para os colegas que ia solicitar ao Tribunal Constitu­
já que estamos perante a afirmação de um privilégio por motivos religiosos cional a apreciação da fiscalização sucessiva abstracta da constitucio­
quando a explicitação deste último preceito o proíbe. nalidade da mencionada ordem de serviço, ancorando-se não só na
inconstitucionalidade da medida, independentemente do órgão que
a tinha dimanado, como na própria incompetência da universidade
para o fazer.
Por seu turno, Silvina, igualmente aluna do curso de direito,
argumentava que Maria apenas tinha parcialmente razão, visto que
a sujeição aos testes da hepatite e da tuberculose não atentava contra
a Lei Fundamental.
De igual modo, sustentava ainda que o meio sugerido por Maria
não era o adequado, sugerindo, por exemplo, a intervenção do Provedor
de Justiça junto do Tribunal Constitucional.
a) Tome parte nesta polémica, fundamentando a sua posição.
b) Imagine agora que em vez de a Universidade Clássica de
Lisboa, se tratava no caso em concreto de uma universidade privada
a adoptar a mesma conduta.
Quidjuris?

30 31
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTITUCIONAL CASOS PRATICO$ RESULv1uu;:,

Resolução esperma, não havendo, assim, 0 risco de contágio, excepto mediante relações
sexuais ou transfusões de sangue.
a) Maria apenas tem parcialmente razão. Neste contexto, não é necessário fazer testes à sida pondo em causa a
Tem razão quando afuma que a Universidade Clássica não é competente privacidade dos indivíduos, porquanto não há, em situação normal, o risco
para impor, através de um regulamento (ou de qualquer outro meio, note-se), de contágio pelo vírus da sida entre alunos, professores ou funcionários.
a sujeição aos vários testes da sida, hepatite e tuberculose. Em contrapartida, e relativamente aos testes da tuberculose e da hepatite,
Todavia, a sua posição só se apresenta parcialmente como correcta se fosse a Assembleia ou o Governo nas condições acima prescritas a legislar
quando assegura que, independentemente do órgão que a tinha dimanado, a sobre a matéria já não haveria qualquer inconstitucionalidade, visto que aqui o
medida seria sempre inconstitucional, porquanto não se pode pôr no mesmo direito à saúde ou à vida prevaleceria sobre o direito à reserva da intimidade
plano os testes da sida e os da tuberculose e hepatite. da vida privada.
Finalmente, o seu entendimento é incorrecto quando menciona dirigir­ O direito à reserva da intimidade da vida privada está relacionado com
-se ao Tribunal Constitucional para solicitar a fiscalização sucessiva abstracta o direito de impedir o acesso de estranhos a informações sobre a vida privada
da constitucionalidade. e o direito de ninguém divulgar as informações que tenha sobre a vida privada
Como veremos de seguida, é a opinião de Silvina que é defensável. de outrem <8l, o que no caso dos testes da sida não estaria garantido já que o
Em primeiro lugar, os vários testes que são exigidos têm a ver com o afastamento dos contagiados com o vírus da sida acabaria por ser do domínio
direito à reserva da intimidade da vida privada, que está vertido no n.º 1 do público.
artigo 26.º da Constituição, quando é mencionado que a todos é reconhecido Por sua vez, Maria nunca se poderia dirigir ao Tribunal Constitucional
o direito à reserva da intimidade da vida privada. a solicitar a fiscalização sucessiva abstracta da constitucionalidade das normas,
Destarte, trata-se de um dos direitos, liberdades e garantias, integrado porquanto o sistema de fiscalização português não permite aos cidadãos afec­
no Título II da Parte I da Constituição (artigos 24.º a 57.º), gozando do res­ tados por um acto normativo requererem a sua inconstitucionalidade.
pectivo regime jurídico. Nesta sede, só mesmo algumas entidades públicas podem dirigir-se ao
Por conseguinte, compete unicamente à Assembleia da República através Tribunal Constitucional, de acordo com o estipulado no n.º 2 do artigo 281.º,
de lei, ou ao Governo mediante decreto-lei autorizado e munido com a com­ a requerer o instituto.
petente autorização legislativa da Assembleia, legislar sobre a matéria de di­ Ora, o que Maria poderia fazer era exercer o direito de petição, ao abrigo
reitos, liberdades e garantias, conforme n.º 2 do artigo 18.º e alínea b) do n.º 1 do n.º 1 do artigo 52.º, fazendo essa petição individualmente para a autoridade
do artigo 165.º. que é o Provedor de Justiça (artigo 23.º), e este, se assim o entendesse, reque­
Daqui se retira que a Universidade estava a atentar contra o princípio reria a fiscalização sucessiva abstracta [cfr. alínea d) do n.º 2 do artigo 281 .º]
da reserva de lei ao infringir aqueles dois preceitos, não sendo, pois, a entidade ao Tribunal Constitucional.
competente para regular matérias de direitos, liberdades e garantias. Na esteira do requerimento do Provedor de Justiça, o Tribunal Constitu­
Visava-se promover com a obrigatoriedade destes testes, o direito à cional apreciaria e declararia com força obrigatória geral a inconstitucionali­
protecção da saúde, conforme é estatuído no n.º 1 do artigo 64.º (e, por conse­ dade das normas [cfr. alínea a) do n.º 1 do artigo 28 1.º].
quência, até o direito à vida, cfr. artigo 24.º), mas ao invés da hepatite e da No caso em concreto, estamos perante um regulamento de uma entidade
t uberculose, em que o contágio se processa nomeadamente pela mera saliva
ou por gotículas, a propagação da sida só ocorre através do sangue e do
<8> Cfr. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, ob. cit., p. 467.

32 33
CIÊNCIA POÚTICA E DIREITO CONSTITUCIONAi:_ CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS

pública (Universidade Clássica), isto é, objecto de fiscalização pelo Tribunal


Constitucional, pois os regulamentos públicos integram-se no conceito de
normas.

b) Se tivesse sido uma universidade privada a adaptar a supracitada Caso n. 0 9


conduta, valem para aqui todas as considerações e comentários tecidos em a),
com a excepção de que estaríamos perante um regulamento de uma entidade
privada e que este não se integra no conceito de norma. • Princípio da igualdade e partidos políticos
Desta sorte, não podia o mesmo ser objecto de fiscalização da constitu­
Um determinado partido político colocou anúncios em vários
cionalidade pelo Tribunal Constitucional.
órgãos de comunicação social, tendo em vista a admissão de jorna­
Contudo, isso não quer dizer que não exista aqui uma sanção para a ofensa listas para a redacção dos discursos políticos dos seus dirigentes.
da Constituição, vale dizer, que ainda que este regulamento seja excluído do
Na sequência de entrevista e provas de selecção de língua portu­
controlo da constitucionalidade, haveria sempre uma violação da Lei Funda­
guesa, veio a ser admitida Anabela.
mental por motivo de ilegalidade, como tal sancionada nos tribunais comuns.
Face ao exposto, Mário, desempregado e filiado noutro partido
politico, alegando violação do princípio da igualdade, interpôs uma
acção contra aquele partido político, fundamentando-se no facto de
ter sido excluído por estar filiado em partido político düerente, o que
consubstanciaria uma discriminação.
Quid Juris?

34 35
RESOLVIDOS
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTITUCIONAL CASOS PRÁTI COS

Resolução Em suma, no âmbito destas denominadas "empresas ideológicas" (par­


tidos políticos, mas também sindicatos ou congregações religiosas) não se está a
Mário não tem razão, não estando aqui em causa o princípio da igual­ discriminar e a atentar-se contra o princípio da igualdade, maxime, n.º 2 do
dade. artigo 1 3.º, quando se exclui um individuo que é filiado noutro partido político,
De acordo com a aplicação directa dos direitos fundamentais nas rela­ sindicato ou aderente a outro culto religioso, visto que não se estava a discri­
ções privadas (n.º 1 do artigo 18.º da Constituição), o princípio da igualdade minar por discriminar, mas tão-só a optar-se por uma solução de bom senso
enquanto proibição de discriminação, pode impor-se também às entidades que nada tem de inconstitucional e de vexatório para quem é preterido.
privadas. Desta sorte, o que importa é que há aqui uma actuação racional, técnica
Ora, a aplicação do princípio da igualdade no domínio da celebração ou eticamente fundada, que não se discrimina por discriminar 0 1>.
de contratos individuais privados reconduz-se no essencial à compatibilização
entre a igualdade e a liberdade negocial.
Assim, só haverá violação do princípio da igualdade (artigo 13.º da
Constituição) quando a prática efectuada tiver como objectivo discriminar
um indivíduo por este aparecer associado a um determinado grupo, seja em
função da raça, sexo, convicção política, condição social, etc., isto é, excluir
o trabalhador pelo simples facto de este ser mulher, homem, branco, negro,
oriental, católico, protestante, muçulmano, ocidental, árabe, judeu, rico, pobre,
etc. <9>_
Ou, de outra forma, quando atingir intoleravelmente a dignidade hu­
mana dos discriminados, impondo-se o arbítrio.
Nesta medida, caem fora do âmbito da discriminação juridicamente inad­
missível as distinções efectuadas no âmbito de relações que exigem uma
especial comunhão ideológica entre a entidade empregadora e os trabalhadores
que se tem em vista contratar 00>.
No caso em concreto, o partido político por razões que têm a ver com
a actividade a exercer tinha toda a legitimidade para excluir um jornalista
filiado noutro partido político, uma vez que se assim não fosse isso seria pôr
em causa um determinado grau de autonomia privada compatível com o prin­
cípio da igualdade e, consequentemente, virem a alcançar-se efeitos perversos.

<9> Cfr. GUILHERME DRAY, O Princípio da Igualdade no Direito do Trabalho, Livraria 01>Cfr. VIEIRA DE A.L�RADE, Os Direitos Fundamentais na Constituição Portuguesa de
Almedina Coimbra, 1 999, p. 276. 1976, 2.ª Edição, Almedina, 2001, p. 272.
<10> Cfr. GUILHERME DRAY, ob. cit., p. 277.

37

CIÊNCIA POUTICA E DIREITO CONSTITUCIONAL CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS

Resolução

Joaquim não tem razão na sua argumentação, sendo, pois, correcta a


posição defendida por Silvina e Ana Catarina.
Caso n. 0 1 0 Na verdade, não consubstanciam práticas discriminatórias as distinções
efectuadas com base em certas convicções enraizadas na sociedade, ainda
que, note-se, eventualmente ultrapassadas < 12>.
• Princípio da igualdade e convicções enraizadas na sociedade Com efeito, as secretárias, engornadeiras, manicuras e costureiras apa­
recem de um modo geral associadas às trabalhadoras femininas, bem como os
Joaquim afirmava numa aula que determinadas entidades em­ pedreiros, carpinteiros, serralheiros ou estivadores surgem ligados aos tra­
pregadoras ao circunscreverem às trabalhadoras femininas a selec­ balhadores masculinos.
ção de secretárias, engomadeiras, manicuras e costureiras, estão a
Ou seja, não se está a atentar contra a dignidade dos trabalhadores mas­
consubstanciar uma violação do princípio da igualdade relativamente
culinos ao excluí-los de desempenhar actividades em regra desempenhadas
aos trabalhadores masculinos.
por senhoras.
De igual modo, estariam a agir face às trabalhadoras femininas
De igual sorte, não se está a vexar as trabalhadoras femininas ao excluí­
as entidades empregadoras que apenas admitem trabalhadores mas­
-las de desempenhar actividades em regra desempenhadas por homens.
culinos como pedreiros, carpinteiros, serralheiros ou estivadores.
Nesta senda, não se estaria a pôr em causa o princípio da igualdade,
Em contrapartida, Silvina e Ana Catarina defendiam que não
maxime n.º 2 do artigo 1 3.º da Constituição, que é um direito fundamental
havia qualquer discriminação.
aplicável também às entidades privadas por força do n.º 1 do artigo 18.º da
Quid Juris? CRP.
Anote-se que isto não significa a impossibilidade da contratação, por
exemplo, de um homem para secretário ou de uma senhora para carpinteira,
já que no âmbito da liberdade de contratação a entidade empregadora tem a
possibilidade de afastar qualquer estereótipo social porventura existente.
O que importa aqui sublinhar é que a contratação de trabalhadores de
acordo com a natureza da tarefa a desempenhar, com base em convicções
enraizadas na sociedade, ainda que ultrapassadas, não é, à partida, discrimi­
natória.

<12> Cfr. GUILHERME DRAY, oh. cit. p. 277.

39
CIÊNCIA POLITtCA E DIREITO CONSTITUCIONAL CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS

Resolução

Evidentemente que não se está a atentar contra o princípio da igualdade


inscrito no artigo 1 3 .º da Constituição, direito fundamental aplicável também
Caso n.0 1 1 às entidades privadas, conforme o n.º 1 do artigo 1 8.º da CRP. Seria, aliás,
um absurdo sufragar essa posição.
• Princípio da igualdade e natureza da tarefa a desempenhar Não faria qualquer sentido, por exemplo, contratar Morgan Freeman
para representar a figura de Winston Churchill. Do mesmo modo, seria um
Cristina dizia numa aula que seria perfeitamente lícito excluir, absurdo contratar Clint Eastwood para fazer de Nelson Mandela.
por exemplo, a contratação de um indivíduo negro para representar Ou seja, não haveria em qualquer dos casos uma discriminação daquele
uma figura histórica de raça branca, assim como seria lícito não con­ que naturalmente seria preterido.
tratar, por exemplo, um indivíduo branco para representar uma fi­ Admitir, por sua vez, um deficiente motor para conduzir um veículo
gura histórica de raça negra. de pesados seria um acto destituído de qualquer racionalidade.
Nesta linha de indagação, seria também legítimo recusar a con­ Com efeito, as distinções efectuadas com base na natureza da relação
tratação_de um deficiente motor quando se trate de admitir um moto­ laboral que se visa constituir e no tipo de actividade que ela venha a exigir
rista de condução de veículos automóveis. não consubstanciam quaisquer práticas discriminatórias.
João defendia que se tratava, em ambos os casos, de uma dis­ O que está em causa é a adaptação do trabalhador à natureza da tarefa
criminação juridicamente inadmissível,já que se estaria a dispor contra a desempenhar. A motivação para a exclusão dos outros trabalhadores não é
o princípio da igualdade, seja por racismo, seja por se atentar contra arbitrária e não se funda, em suma, numa intenção de "discriminar por discri­
os direitos dos deficientes. minar" 0 3l_
Em conclusão, não consubstanciam práticas discriminatórias certas con­
vicções enraizadas na sociedade (vide caso 10), as distinções efectuadas no
âmbito de relações que exigem uma especial comunhão ideológica entre a
entidade empregadora e os trabalhadores (vide caso 9), bem como as distin­
ções efectuadas com base na natureza da relação laboral que se visa constituir
e no tipo de actividade que ela venha a exigir.
No caso ora em apreciação, é, pois, Cristina que tem razão.

11 i> Cfr. GUILHERME DRAY, ob. cit. p. 282.

40 41
ID
CIÊNCIA POLíTICA E DIREITO CONSTITUCIONAL CASOS PRÁTICOS RESOLV OS

Resoluçã o

Estamos no campo das relações privadas, colocando-se mais uma vez


a articulação entre o princípio da igualdade plasmado na Constituição (artigo
Caso n. 0 1 2 13.º), direito fundamental aplicável às entidades privadas por força do n.º 1
do artigo 18.º, e um certo grau de autonomia privada e liberdade negocial
• Princípio da igualdade e liberdade negocial das entidades conferidos às entidades privadas.
privadas No caso em apreço, a posição juridicamente aceitável é a que é per­
filhada por Maria Margarida, já que os requisitos exigidos no anúncio compa­
Numa aula prática discutia-se o conteúdo de um anúncio publi­ ginam-se perfeitamente com um certo grau de autonomia privada concedido
cado num órgão de comunicação social, em que se exigia como requi­ aos particulares.
sitos para a contratação de uma baby-sitter, que a mesma tivesse De facto, nunca estaria a ser violado o princípio da igualdade, não
mais de 40 anos e , no mínimo, dois filhos com idades superiores a 15 havendo qualquer arbítrio pela opção aí considerada, descortinando-se facil­
anos. mente a sua fundamentação.
Francisco afirmava que se tratava de uma discriminação juri­ Em primeiro lugar, não há qualquer discriminação quanto ao sexo já
dicamente inadmissível. que é, ultrapassada ou não, não vale a pena aqui o discutir, convicção enraizada
Por seu turno, Maria Margarida defendia que não se estava na sociedade que são os elementos do sexo feminino quem geralmente melhor
perante a violação do princípio da igualdade. toma conta de crianças.
Efectivamente, é perfeitamente justificável e aceitável que se possa exigir
Tome posição, fundamentando a sua resposta. uma idade mínima de 40 anos a uma baby-sitter e, pelo menos, dois filhos
com idades superiores a 15 anos, como critérios para aferir, por um lado, a
maturidade de alguém que vai ter a responsabilidade de tomar conta de
crianças e, por outro, uma já longa experiência com aquelas.
Por último, porque ao se exigir um patamar mínimo de 15 anos para os
filhos da baby-sitter está-se também a querer acautelar a sua futura assidui­
dade, visto que filhos muito pequenos implicam, em regra, um natural e com­
preensível maior absentismo dos seus progenitores, principalmente das mães.
Em síntese, há uma perfeita justificação para essas diferenciações, não
se estando aqui a atentar contra a dignidade dos homens, das senhoras com
menos de 40 anos ou daquelas que têm menos de dois filhos.

A '> A�
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTJTUCIONAL CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS

Resolução

Nos três casos há violações do princípio da igualdade, mais concre­


Caso n.0 1 3
tamente do n.º 2 do artigo 1 3.º da Constituição.
Vejamos então.
No primeiro anúncio não há qualquer razão para não serem admitidos
• Princípio da igualdade e entidades privadas elementos do sexo feminino (no respeitante aos conhecimentos de línguas
não há obviamente nenhuma inconstitucionalidade), pelo que a condicionante
Jorge e Ana Valente discutiam o conteúdo de vários anúncios do sexo contraria o disposto no n.º 2 do artigo 13.º (ninguém pode ser pre­
publicados em órgãos de comunicação social. judicado, privado de qualquer direito .... em razão de sexo), ou seja, estamos
Num, um canal de televisão privado abria lugares a elementos aqui perante uma discriminação juridicamente inadmissível relativamente
do sexo masculino para correspondentes em várias capitais europeias, aos elementos do sexo feminino.
com comprovados conhecimentos de francês, inglês, alemão e No que tange ao segundo anúncio, pode-se obviamente exigir boa apre­
espanhol. sentação a um candidato (este requisito não é, obviamente, inconstitucional),
Noutro, uma empresa do sector de vestuário oferecia postos de mas esta pode existir em qualquer raça, daí a condicionante da raça branca
trabalho a elementos do sexo feminino e masculino de raça branca contrariar o preceituado no n.º 2 do artigo 13.º (ninguém pode ser prejudicado,
com boa apresentação e que não fossem daltónicos. privado de qualquer direito ... em razão de raça), isto é, estamos aqui con­
Por fim, um outro anúncio postulava a admissão de trabalha­ frontados com uma discriminação juridicamente inadmissível no respeitante
dores masculinos para uma empresa de construç.ão civil dos Açores, aos elementos de outras raças que não a branca.
mas com a condição de os mesmos terem nascido neste arquipélago. Quanto ao facto dos trabalhadores não serem daltónicos, é um requisito
perfeitamente exigível para trabalhadores de empresas de vestuário, visto que
se trata também de ajudar os clientes a comprar as peças de roupa, pelo que
não haveria aqui qualquer inconstitucionalidade.
No tocante ao terceiro anúncio, não se contraria o vertido no n.º 2 do
artigo 13. 0, o facto de se tratar da contratação de trabalhadores masculinos
para a construção civil (por força da penosidade do trabalho, actividade as­
sociada mais ao sexo masculino e convicção enraizada na sociedade), mas já
atentará contra o postulado no n.º 2 do artigo 1 3.º, o facto de se excluírem os
trabalhadores nascidos fora dos Açores (ninguém pode ser prejudicado, privado
de qualquer direito . . . em razão do território de origem), sem qualquer funda­
mento razoável para tal.
Em suma, nos casos em que houve violação do princípio da igualdade
a vinculatividade da Constituição prevaleceu sobre a autonomia privada (n.º 1
do artigo 18.º), extravasando estas opções do grau de autonomia privada
concedido às entidades particulares.

44 45
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTITUCIONAL CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS

Vale dizer, tratou-se de tratamentos diferenciados repousando não só


sobre razões arbitrárias, porque insuficientes e desrazoáveis, mas ainda sobre
Caso n.0 14
razões contrárias à dignidade humana 0 4), o que é proibido pelo princípio da
igualdade.
• Colisão de direitos, princípio da concordância prática e
património cultural

Uma empresa cujo objecto é a divulgação e a promoção de vários


eventos de índole literária, musical, cinematográfica e artística, a
saber, debates com escritores, realização de óperas e concertos de
música clássica, ciclos de cinema de qualidade e exposições, adquiriu
à Câmara Municipal de Lisboa um belo edifício riscado por um dos
mais conceituados arquitectos portugueses da primeira metade do
século XX.
Acresce ainda que os interiores do citado imóvel são um dos
melhores exemplos da art deco em Portugal.
Assim sendo, esse,imóvel está há muito classificado pelo Estado
como de relevante interesse cultural, razão pela qual a Câmara condi­
cionou a venda do edifício à preservação da sua fachada e interiores,
ao direito de visita por associações culturais ou visitas de estudo,
bem como à prévia autorização daquele órgão autárquico em caso
de realização de quaisquer iniciativas públicas pelo seu proprietário.
Em consequência, e com vista a delinear a sua programação
para o novo ano, a empresa em questão requereu à Câmara a utiliza­
ção do dito imóvel para realizar as actividades acima referidas.
Acontece, porém, que a resposta da autarquia veio no sentido
de indeferir o alargamento da respectiva licença de utilização.
Esta posição ancorava-se no facto de o edifício e os seus inte­
riores constituirem um marco na arquitectura e no design da primeira
metade do século XX, o que seria manifestamente incompatível com
actividades que iriam levar à degradação de um património inesti­
mável.
Face ao exposto, Rui Afonso sustenta que a posição da Câmara
< > Cfr. MARlA GLÓRIA GARCIA, Estudos Sobre o Princípio da Igualdade, Almedina,
14 não tinha sido a mais correcta.
Coimbra, 2005, p. 19.
Quid Juris?

AC: A.7
IDOS
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTITUCIONAL CASOS PRÁTICOS RESOLV

o to
Resolução podem implicar a restrição de um direito fundamental como é direi de
respe ctiva utilização, direito
propriedade, visto que se poderão impor limites à
18>
< só que, no caso em
Em causa está o conflito entre vários direitos fundamentais, a saber, o de visita, obrigação de preservação e conservação,
direito à democratização da cultura (n.º 3 do artigo 73.º da Constituição), concreto, não havia razões para impor limite s que se consu bstanciassem na
que se traduz na concretização do direito de todos à cultura (n.º 1 in fine do proibição das actividades culturais solicitadas.
artigo 73.º), ou seja, o direito de todos à fruição e criação cultural (artigo Na realidade, não se está a ver como é que debates com escritores,
m
78.º) < 15>, a defesa e a valorização do património cultural pelo Estado [2.ª concertos de música clássica, ciclos de cinema ou exposições viesse a des­
parte do n.º 1 do artigo 78. 0 e alínea e) do n.º 2 do artigo 78.º] e o direito à truir o património cultural em referência, vanda lizand o a riquez a da fachada
propriedade privada (n.º 1 do artigo 62.º). ou os interiores do imóvel.
A posição da Câmara ao indeferir o alargamento da licença estava ser Neste contexto, seria a posição da Câmara a deferir o alargamento da
guardar o prin­
restritiva, pois não acautelou o princípio da concordância prática ou da harmo­ licença para os fins pretendidos, a que melhor permitiria salva
todos os direitos
nização, princípio de interpretação constitucional a que se deve recorrer em cípio da concordância prática e, em consequência, a proteger
a e preservação
caso de vários direitos fundamentais em colisão ou conflito. em causa: o direito à propriedade privada, o direito à defes
ral.
Na verdade, este princípio procura harmonizar da melhor maneira os do património cultural e o direito de todos à fruição cultu
preceitos divergentes, em função das circunstâncias concretas em que se põe Em suma, Rui Afonso tem razão.
o problema <16>.
Trata-se, pois, de o sacrificio de cada um dos valores constitucionais
ser adequado e necessário à salvaguarda dos outros, impondo-se que a escolha
entre as diversas maneiras de resolver a questão concreta se faça em termos
de comprimir o menos possível cada um dos valores em causa segundo o
peso na situação concreta < 1 7) _
Com efeito, para assegurar a defesa e a valorização do património
cultural, a Câmara ao indeferir a pretensão da empresa estava a inviabilizar o
direito de todos à fruição e criação cultural que lhe compete assegurar [n.º 1
do artigo 78.º e alíneas a) e b) do n.º 2 do artigo 78.º], direito relacionado,
como vimos acima, com o direito à democratização da cultura e o direito de
todos à cultura (n.º 3 do artigo 73.º e n.º 1 infine do artigo 73.º).
Por outra banda, estava ainda a colidir com o direito à propriedade
privada (n.0 1 do artigo 62.º).
Anote-se que a salvaguarda e a valorização do património cultural

osi Cfr. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, ob. cit, p. 890.


Cl6>Cfr. VIEIRA DE ANDRADE, ob. cit., p. 313. os> Cfr. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, ob. cit., p. 927.
o1> Cfr. VIEIRA DE ANDRADE, ob. cit., p. 3 1 5.

49
48
CIÊNCIA POLfnCA 1; DIREITO CONSTITUCIONAL IDOS
CASOS PRÁTICOS RESOLV

Resolução

A alínea e) do n.º 1 do artigo 59.º da Constituição estabelece que todos


os trabalhadores, sem distinção de idade, sexo, raça, cidadania, território de
Caso n.0 15 origem, religião, convicções políticas ou ideológicas têm direito à assistência
material quando involuntariamente se encontrem em situação de desemprego.
Nestes termos, todos os trabalhadores sem qualquer excepção têm
• Subsídio de desemprego e inconstitucionalidade por omissão
direito ao subsídio de desemprego.
Teresa Margarida afirmava que a Constituição não esteve du­ O que está aqui em causa, não é a existência de uma norma jurídica
rante muito tempo a ser cumprida, uma vez que existia um quadro que vai contra a Constituição, mas o facto de por falta de medidas legislativas
legal em que os investigadores e os professores do ensino superior, a Lei Fundamental não estar a ser cumprida, isto é, não é uma acção legislativa
assim como a generalidade dos funcionários públicos, não tinham que está ferida de inconstitucionalidade mas precisamente a sua inacção.
direito ao subsídio de desemprego. Assim, tem razão Teresa Margarida.
Alegava ainda que o Tribunal Constitucional o tinha verificado Com efeito, não se está só perante inconstitucionalidades quando há
há muito. normas que vão contra a Constituição. Está-se também face a uma inconstitu­
Ao invés, Armando objectava que nunca esteve a ser violada cionalidade quando o legislador não está a cumprir a Lei Fundamental por
nenhuma norma constitucional, visto que, no caso concreto, não exis­ omissão das medidas legislativas necessárias para tomar exequíveis as normas
tia qualquer preceito a dispor contra a Lei Fundamental. constitucionais.
Tome partido na discussão, fundamentando a sua resposta. A este tipo de inconstitucionalidade chama-se inconstitucionalidade
por omissão, conforme é cunhado no artigo 283.º da CRP.
Compete ao Presidente da República, ao Provedor de Justiça ou, com
fundamento em violação de direitos das regiões autónomas, aos presidentes
das Assembleias Legislativas das regiões autónomas, requererem ao Tribunal
Constitucional a apreciação e verificação do não cumprimento da Consti­
tuição.
No presente caso, há a obrigatoriedade de garantir uma assistência
material mínima a todos os trabalhadores da administração pública que se
encontrem involuntariamente desempregados, entre os quais se enquadravam
aqueles professores do ensino superior e os investigadores.
Por conseguinte, estamos perante uma omissão parcial, pois há normas
que prevêem a atribuição do subsídio de desemprego para generalidade dos
trabalhadores que se encontrem temporária e involuntariamente desempre­
gados.

50 51
CIÊNCIA POLITICA E DIRE
ITO CONSTITUCIONAL
CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS

Tendo o Tribunal Constitucional verificado a inconstitucionalidade por


omissão e assim advertido o legislador, em caso de este último não tomar
quaisquer medidas, pode-se considerar um caso de inconstitucionalidade por
omissão parcial agravada.
Caso n.0 1 6

• Processo legislativo e associações políticas

A Assembleia da República por �otos a favor, 60 contra e


12 abstenções, elaborou um decreto em que são estabelecidos os
parâmetros que passarão a reger as. sso � õ olíti as definindo,
entre outras linhas gerais, que apenas serão consentidas aquelas
associações que encarem a reflexão política como uma actividade
não elitista.
Ante o exposto, o Presidente da República enviou o referido
decreto da Assembleia para o Tribunal Constitucional, tendo-se este
órgão pronunciado pela inconstitucionalidade.
Subsequentemente, o mencionado decreto foi devolvido à Assem­
bleia pelo Chefe de Estado.
A AR reaprovou o citado diP-loma p_or 114 votos a favor, 40
çontra e 12 absteniões.
Quid Juris?

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OLVIDOS
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTffiJ CIONAl._ CASOS PRÁTICOS RES

Resolução Efectivamente, o Estado não pode impedir a criação de associações


(excepto as previstas no n.º 4 do artigo 46.º),já que a regra é a liberdade indi­
Nos termos da alínea h) do artigo 164.º da Constituição, é da exclusiva vidual e a liberdade de organização interna sem qualquer interferência do
competência da Assembleia da República legislar sobre a matéria de asso­ -
Estado.
ciações políticas, enquadrando-se a mesma no âmbito da sua reserva absoluta.
Face ao antecedente, a Assembleia persistiu na sua posição fazendo
Trata-se, por sua vez, de uma matéria que é objecto de lei orgânica, agora aprovar o diploma em por 114 votos a favor, 40 contra e 12 abstenções,
conforme estipulado no n.º 2 do artigo 166.º, pois revestem a forma de lei
isto é, confirmou o di lema or mais de dois ter os dos De utados resentes
orgânica os actos previstos na alínea h) do artigo 164.º.
(114 são mais que 111, número este que corresponde aos dois terços os

---
Sendo assim, terá o respectivo decreto da Assembleia de ser aprovado Deputados presentes), só que esse número não é superior à maioria absoluta
por maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções, isto é, 1 I 6 dos Deputados em efectividade de funções, que são 116, conforme postulado
Deputados (os Deputados da Assembleia são 230, conforme respectiva lei nán.0 2 doart1go219.º.- - � �, uY\� vr<ê'. ci.=.:,
eleitoral), de acordo com o consagrado no artigo 168.º, n.º 5, I .ª parte, da Lei Ante o exposto, o decreto é rejeitado definitivamente não podendo ser
Fundamental, que dispõe que é essa a maioria exigível para a aprovação das renovado na mesma sessão legislativa (n.º 4 do artigo 1 67.º), 2orquanto
leis orgânicas, excepção à regra geral constante no n.º 3 do artigo 116.º, que �çãO-definihva' ã proJ:!fmcia pela inconstitucionalidade em fisca­
é a maioria relativa. lização preventiva, não segui�a de co�a9ão e de promulgação pelo Presi­
No caso em análise, o quórum estava preenchido (estavam presentes dente da República.
mais de 116 Deputados na Assembleia, como é previsto no n.º 2 do artigo
116. º), como estava reunida a maioria necessária para a respectiva aprovação,
uma vez que o decreto foi aprovado por 1 3 2 votos a favor (132 é superior a
60, que foi o número dos votos contra, não contando para aqui as 12
abstenções).
Subsequentemente, o Presidente da República exerceujunto do Tribunal
Constitucional a fiscalização preventiva do decreto que lhe tinha sido enviado
para promulgação como lei (n.º 1 do artigo 278.º), porquanto tinha dúvidas
�obre a compatibilidade do mesmo cÕm a Cõnstituição.
O Tribunal Comtiti.lciollãf pronunci�u=�e pela inconstitucionalidade
(n.º 1 do artigo 279.º), tendo o Chefe de Estado exercido o veto juridico (n.º
1 do artigo 279.º), devolvendo o diploma à Assembleia da República, órgão
que o tinha aprovado.
As razões pelas quais o Tribunal Constitucional se terá pronunciado pela
inconstitucionalidade, apontam para a violação do disposto no n.º 1 do artigo
46.º.
De facto, os cidadãos têm o direito de, livremente e sem dependência
de qualquer autorização, constituir associações, conforme é estatuído no n.º 1
do artigo 46.º.

fi5
54
O:.:IENCIA POUTICA E DIREITO CONSTITUCIONAL OLVIDOS
CASOS PRÁTICOS RES

Resolução

t o :-- Trata-se de uma matéria g_ue tem a ver com a liberdade de imprensa,
J -:J
Vl
mais concretamente o direito de fundação de jornais, estabelecido na alínea
Caso n. 0 1 7
'� e) do n.º 2 do artigo 38.º da Constituição.
- - -Nê�t; plano, estamos no campo dos direitos, jjpJ!rdades �garantias
• Processo legislativo e criação de jornais (Tít_1:J.J � !I da_ PaJ!� I da Copsti�ção, q��-':ai dos artigos 24.º ao 57.º). �
Sendo assim, a Assembleia da República é competente \J)ãra legislai e
A Assembleia da República, por 105 votos a favor, 40 contra e (reserva relativa de competência legislativa), conforme alínea b) do n.º 1 do
1 8 abstenções, aprovou, em 10 de Janeiro, um decreto estipulando artigo 1 65.º, porquanto é matéria de direitos, liberdades e garantias.
que apenas seria autorizada a criação de jornais Estava reunido o quórum para deliberação da AR (cfr. n.º 2 do artigo
. que--comprovassem
--
a _sua qualidade i�rnalística. 1 1 6.º), pois encontravam-se presentes 163 Deputados, quando apenas são
No mesmo decreto preceituava-se ainda que só os candidatos necessários 1 1 6.
com uma licenciatura poderiam ser nomeados para a direcção dos O decreto da AR foi correctarnente aprovado, visto que não carece de
órgãos de comunicação social. nenhuma maioria agravada para a sua aprovação, bastando apenas uma mera
Suscitando-se dúvidas relativamente à sua consµtucionalidade, maioria relativa (cfr. n.º 3 do artigo 1 16.0). Nestes termos, 1 05 votos sins é
o Presidente da República requereu em 23 de Janeü-o a apreciação um número superior a 40 votos contra, não contando, pois, as 1 8 abstenções
ao Tribunal Constitucional do decreto da Assembleia, que lhe tinha para a aprovação da maioria. """'----=

chegado a 17 de Janeiro, tendo-se este órgão pronunciado pela incons­ O Chefe de Estado tendo dúvidas sobre a compatibilidade do diploma
titucionalidade em 8 de Fevereiro. com a Lei Fundamental, exerceu o mecanismo da fiscalização preventiva
Face ao sucedido, o PR vetou o diploma em 18 de Fevereiro, [n.º 1 do artigo 278.º e alínea g) do artigo 1 34.º]. O que fez atempadamente,
tendo o diploma devolvido chegado à AR a 20 de Fevereiro. uma vez que ainda não tinham decorrido oito dias após a recepção do diploma
Em 10 de Março, a AR, por 118 votos a favor, 10 contra e 30 (n.º 3 do artigo 278.º): recebeu em 1 7 de Janeiro, solicitou a apreciação
preventiva a 23 de Janeiro.
abstenções, reaprovou o decreto em causa, tendo o Presidente da
República promulgado o diploma. Por sua vez, o Tribunal Constitucional pronunciou-se pela inconstitu­
cionalidade em 8_ de_ t_�vereiro, o que fez igualmente dentro do prazo, por­
Quid Juris? quanto tem 25 dias para assim proceder (J?-.0 8 do artigo 278.º).

-
.-,
--- A inco�stitucionalidade radica na circunstância do diploma contender
com a alínea e) do n.º 2 do artigo 38.º, no segmento em que é referido que a
50
liberdade de imprensa implica o direito de fundação de jomms., independente­
1 ";;_ "'
mente d e <!_ Ufonzação administrativa.
- --- S�bsequentemente, o PR exerceu o veto jurídico (n.º 1 do artigo 279.º),
devolvendo o diploma ao órgão de onde provém, o que fez atempadamente,
já que tem 20 dias para o fazer após a recepção do diploma pelo Tribunal

56 57
CIÊNCIA POLlnCA E DIREITO CONSTITUCIONAL OLVIDOS
CASOS PRÁTICOS RES

Constitucional, aplicando-se aqui por analogia O prazo de 20 dias referido


no n.0 1 do artigo 136.º relativo à promulgação e ao veto político dos diplomas
da Assembleia.
A nova apreciação do diploma pela AR efectuou-se a partir do 15.º dia
posterior ao da recepção do diploma devolvido pelo Presidente da República Caso n.0 1 8
(cf. artigos 1 60.º e 162.º do Regimento da Assembleia da República), o que
se afigura correcto (entre 20 de Fevereiro, recepção do decreto da Assembleia, • Direito à reserva da intimidade da vida privada no local de
e a deliberação da AR de 1 O de Março, tinham passado 18 dias). trabalho
Nos termos do n.º 2 do artigo 279.º da CRP, a Assembleia confirmou o
diploma inconstitucional por maioria de dois terços dos Deputados presentes, A Comissão de Trabalhadores da Antunes, Bordalo, Christie,
votação que é ainda superior à maioria absoluta dos Deputados em efectivi­ Cintra, Hermenegildo e Portugal mecanismos de controlo SA, invo­
dade de funções. cando a norma do Código do Trabalho que prescreve a obriga­
Com efeito, 118 votos a favor são mais do que 106 (dois terços dos toriedade da comunicação à Comissão de Trabalhadores da cele­
Deputados presentes num total de 158) e, por sua vez, mais do que 1 16 votos bração, com a indicação do respectivo fundamento legal, dos contratos
(a maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções, isto é, metade a termo, solicitou ao Departamento de Recursos Humanos da referida
de 230 mais 1). empresa cópias de todos os contratos a termo.
Face ao antecedente, o Presidente da República podia ou não promulgar Solicitou ainda .a CT que lhe fossem facultadas:
o diploma, isto é, há apenas uma faculdade de promulgação, porque nem o a) Informação sobre o número de trabalhadores por escalão
órgão legislativo deve prevalecer sobre o juízo de inconstitucionalidade, nem etário, grupo profissional, tempo de permanência no actual nivel
o Tribunal Constitucional sobre o Parlamento democrático c19>_ salarial e número de contratados a termo;
Ou seja, o Presidente pode neste caso promulgar um diploma inconstitu­ b) Lista individualizada de cada trabalhador, incluindo o tempo
cional, o que fez, anotando-se que ao invés do que sucede com o veto político de permanência no nivel salarial actual, bem como o valor dos prémios
a superação do veto do Chefe do Estado pela AR não torna a promulgação de produtividade atribuídos nos últimos dez anos em função das
obrigatória. avaliações de desempenho.
Quid Juris?

<19> Cfr. JORGE MIRANDA, Manual de Direito ConstilUcional, Tomo V, Coimbra Edirora,
1997, p. 293.

58 59
S
CIÊNCIA POLITICAf_DIREITO CONSTITU CIONA L CASOS PRÁTICOS RESOLVIDO

Resolução como o valor dos prémios de produtividade atribuídos nos últimos dez anos
sem o respectivo consentimento dos trabalhadores, já estaria a colidir com o
Relativamente aos contratos a termo, o Departamento de Recursos direito à reserva da intimidade da vida privada (n.º 1 do artigo 26.º).
Humanos da empresa pode recusar facultar as respectivas cópias à Comissão Na realidade, pode-se compreender que alguns trabalhadores não de­
de Trabalhadores. sejem que se saiba que nunca foram promovidos, ou que o não o são há muito
Na verdade, pode sempre negar a sua entrega com o fundamento de tempo, visto que isso pode comportar o reconhecimento alargado de um
que os contratos incluem elementos que têm a ver com a esfera privada do eventual juízo negativo sobre o seu desempenho.
trabalhador, v.g. morada, número do contribuinte e bilhete de identidade, o Por seu turno, o valor dos prémios de produtividade atribuído a cada tra­
que atentaria contra o direito à reserva da intimidade da vida privada e familiar balhador é algo que igualmente pertence à sua esfera privada, pelo que também
consagrado no n.º l do artigo 26 . º da Constituição, salvo se requeresse e não é matéria que seja objecto de divulgação sem o consentimento dos próprios.
obtivesse o prévio consentimento dos trabalhadores.
Efectivamente, o número do bilhete de identidade, o número do contri­
buinte e a morada são dados pessoais que podem ser objecto de tratamento pela
entidade empregadora, isto é, esta tem legitimidade para o tratamento de dados
necessários à identificação do trabalhador, à sua residência e forma de contacto
(v.g. telefone, fax, e-mail), bem como de informação sobre as capacidades
para o exercício de determinada actividade profissional (domínio de línguas,
conhecimentos de informática ou, por exemplo, carta de condução) <20> .
Situação bem diferente é facultar esses dados a terceiro s.
Acresce, aliás, que para corresponder ao pretendido pela norma do
Código do Trabalho, bastava apenas fornecer uma lista com as fundamen­
tações legais dos contratos a termo, atendendo-se, assim, a princípios de pro­
porcionalidade e adequação ao pretendido.
No concernente à informação sobre o número de trabalhadores por
escalão etário, grupo profissional, tempo de permanência no actual nível salarial
e número de contratados a termo, em nenhuma circunstância o Departamento
de Recursos Humanos, ao corresponder favoravelmente à pretensão da Comis­
são de Trabalhadores, estaria a atentar contra qualquer norma constitucional.
Em contrapartida, a divulgação à Comissão de Trabalhadores duma
lista individualizada com o tempo de permanência em cada nível salarial, assim

C2°> Cfr. GUERRA, AMADEU, A Privacidade no Local de Trabalho, Almedina, Coimbra,


2004, p. 159.

60 n1
CIÊNCIA POúTICA E DIREITO CONSTITUCIONAL CASOS PRÁTICOS RESOLV
IDOS

Resolução

Não se afigura como correcta a posição perfilhada por Maria Baptista,


quando sustenta que como a matéria em causa é da competência exclusiva
Caso n.º 1 9 do Governo, o Chefe de Estado estaria impossibilitado de utilizar o direito
de veto.
Também não procede a argumentação de José Madeira, que alega que
• Competência exclusiva do Governo e veto do Chefe de Estado como se trata de assunto que não é da competência exclusiva do Governo, o
PR já poderá então utilizar o direito de veto.
O Governo procedeu à alteração da sua lei orgânic�, criando o
Na realidade, a �laboração da lei orgânica do Governo é da competência
cargo de Vice-Primeiro Ministro até aí inexistente.
_ le_gislati�exclusiva do Governo, conforme é estatuído no n.º 2 do artigo 198.º
O Chefe de Estado não concordou com o decreto do Governo, da Constituição: é da exclusiva competência legislativa do Governo a matéria
tendo vetado a referida alteração, pois aproximando-se uma cam­ respeitante à sua própria organização e funcionamento.
panha eleitoral para a Assembleia da República, considerou que tal
Assim, e nos termos consagrados no n.º 2 do artigo 1 83.º da CRP, o
facto iria dar uma maior visibilidade ao Executivo na comunicação
Governo pode incluir um ou mais Vice-Primeiros-Ministros.
social, vale dizer, que poderia favorecer o partido que apoia o Go­
verno. Sucede que o PR não concordou com aquela alteração na véspera de
Face a esta situação, Maria Baptista afirmava que o Presidente uma campanha eleitoral, tendo exercido o veto político face ao decreto do
da República não o poderia fazer, já que tal não era da sua compe­ Governo, de acordo com o n.º 4 do artigo 1 36.º da CRP, veto esse que é absoluto
tência, porquanto tratando-se da única matéria que recai no âmbito no caso dos decretos do Governo.
das ompetências exclusivas do Governo o Chefe de Estado não teria Ora, a Constituição não impossibilita o Chefe de Estado de exercer o
aí qualquer intervençao. veto político relativamente à competência exclusiva do Governo, uma vez que
Ao invés, José Madeira referia que a atitude do PR enquadrava­ esse direito pode ser exercido no respeitante a qualquer decreto do Gove!!1o

�-----
-se perfeitamente no âmbito das suas competências, visto que a maté­ (n.º 4 do artig9 1 3§.º).
ria em causa não era da exclusiva com�ência do Governo. Neste sentido, é a posição de Anabela que se afigura correcta.
..._ ___-
Por último,Anabela não concordava com as argumentações ante-
...._----- Assinale-se ainda, que no caso que vimos analisando, nem sequer havia
riores, mencionando a circunstância do Chefe de Estado poder sempre a possibilidade de o Governo transformar o decreto-lei em pro_posta de lei _e
adoptar tal comportamento, t!}_d��ndentem�e_de se tratar de maté­ exercer subsequentemente o seu direito de iniciativa legislativa junto da AR,
ria da competência exclusiva do Governo, que, aliás, aqui existiri
a. · abrigo do n.º 1 do artigo 1§.7.º, e, deste modo, "superar" este veto absoluto.
ao
Com efeito, tratando-se de matéria da exclusiva competência do Governo
Quid Juris? não poderia ser "convertida" em matéria da Assembleia da República [vide
ainda alínea e) do artigo 1 6 1 .º], uma vez que compete à Assembleia da
C\-.. - \ e i �-º l ,V . o 1 '<' º L República fazer leis sobre todas as matérias, salvo as reservadas pela Consti­
V \ 3� -('
O
, tuição ao Governo, como seria o caso.

�? 63
CIÊNCIA POLITIC A E DIREITO CONSTITUCIONAL
CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS

Resolução

O Governo era competente para legislar, tendo-o feito ao abrigo da sua


competência legislativa concorrencial com a Assembleia da República, con­
Caso n.0 20
forme vertido na alínea a) do n.º 1 do artigo 1 98.º da Constituição.
Na verdade, e tratando-se de matéria de direito do trabalho, não se
• Apreciação parlamentar dos decretos-leis e contratos de ta­ encontra regulada nos artigos 1 64.º e 1 65.º da Constituição, pelo que tanto
refa e avença pode legislar o Governo como a Assembleia no âmbito das suas competências
genéricas [cf. alínea e) do artigo 1 6 1 . º].
Em 23 de Setembro foi publicado um decreto-lei do Governo AAssembleia da República desencadeou o instituto da apreciação parla­
sobre matéria de cogtratos de tarefa e a�a, tendente a evitar que mentar dos decretos-leis, conforme postulado no n.º 1 do artigo 1 69.º da
estas figuras jurídica�te utilizadas pelas empresas Constituição. Podia-o fazer.
para fugir às regras da contratação de trabalho a termo. Senão vejamos.
Assim, consagraram-se uma série de critérios, circunscrevendo­ Em primeiro lugar, porque o decreto-lei em causa não foi aprovado no
-se o âmbito daquelas prestações de serviço a circunstâncias bem uso da competência legislativa exclusiva do Governo, o q_ue excluiria a apre­
determinadas. __:_iação parlamentar (n.º 1 do artigo 1 69.º).
..P-<\ Em 15 de Outubro, a Assembleia da República, a requerimento Em segundo lugar, porquanto a apreciação foi feita a requerimento do
> de 28 D e_potados, apreciou o mencionado decreto-lei. número de Deputados suficiente, a saber, 28 Deputados, quando apenas são
Nessa data, por 110 votos a favor, 22 abstenções e 30 votos necessários 1 0 Deputados (novamente, n.º 1 do artigo 1 69.º).
contra, são aditados quatro novos artigos com vista a minimizar, segundo Em terceiro lugar, porque foi exercida atempadamente: tinham decor­
o entendimento daquele órgão de soberania, a rigidez do diploma do rido 22 dias-ªl).Ós a publicação do decreto-lei, quando o instituto pode ser
Governo, pois se assim não fosse, as empresas antes de procederem à desencadeado nos trinta dias subsequentes à publicação (igm!lmente�
contratação de colaboradores teriam excessivas cautelas, o que, segu­ do artigo 1 69.º).
ramente, não contribuiria para baixar o desemprego. No caso em concreto, e com a introdução de quatro novos artigos,
Quid Juris? visava-se alterar o decreto-lei em apreço, nos termos estabelecidos no n.º 1
l l -O do artigo que temos vindo a reproduzir, o que se veio a conseguir.
z... 2
Efectivamente, a AR, por 1 10 votos contra 30 (as 22 abstenções não
..::J
contam) aprovou a respectiva alteração ao decreto-lei, revestindo esta alte­
1o
/ ,_
J ração a forma de lei (n.os 2 e 5 do artigo 1 69.º).

64
65
CIÊNCIA POLITICA E
_ DIREITO CONSTITUCIONAL
OLVIDOS
CASOS PRÁTICOS RES

Resolução

a) O Governo é competente para legislar ao abrigo da alínea b) do


artigo 1 98.º da Constituição, visto que se trata de matéria da reserva relativã
da Assembleia da República, mais concretamente do regime geral do arrenda­
Caso n.0 21

mento rural e urbano, conforme preceituado na alínea h) do n. 1 do artigo


0

• Apreciação parlamentar dos decretos-leis e aumento dos arren- 165.º, tendo sido emitida a respectiva autoriz.ação legislativa.
damentos habitacionais 'esse sentido, o Governo_ legislou através de llI11g.ecreto-lei autorizado.
.P -O . :\
<:, I''. 1 a>-)
. \ "\� y ·º -> �J
Em 24 de Setembro e na sequencia de uma auton.zaçao
A

1 egis
. 1a- b) A Assembleia da República desencadeou o instituto da apreciação
tiv� é publicado no Diário da República um decreto-lei autorizado, parlamentar de actos legislativos, que se funda no -n º 1 do artigo 1 69.º da
dispondo, nomeadamente, que os arrendamentos habitacionais ante­ CRP.
riores a 1980 terão um agravamento entre 50% e 200%, consoante Podia-o fazer, pois não se tratava de um decreto da competência
� exclu-
os valores da renda actual, já que é salientado que nalguns casos os siva do Governo.
montantes das rendas afiguram-se presentemente como perfeitamente Por outro lado, o instituto tinha sido requerido por 1 6 Deputados, quando
irrisórios.
,.,,--1 ok- CLo) bastam 1 O para a sua iniciativa. E ainda porque não tinham passado 30 dias
AAssembleia da República, a requerimento de 16 Deputados, após a publicação do decreto-lei no Diário da República.
com os votos favoráyeis de 104 Deputados, 60 abstenções e 42 votos Por sua vez, a cessação da vigência do decreto-lei foi aprovada porque
contra, aprovou a cessação da sua vigência em 8 de Outubro, tendo 1 04 Deputados são mais do que 42, não contando as 60 abstenções para a
a
�esma sido enviada em 15 de Outubro para a promulgaçãooe- r � o•
doYresi- aprovação do diploma (cfr. n.º 3 do artigo 1 16.º), porquanto a matéria em
V dente da República. l o 'i causa (arrendamento rural e urbano) não necessita nos termos da Constituição
Pergunta-se: 0ó
de �er aprovada por uma maioria qualificada.

a) O Governo era compete�fe iara legislar sobre a matéria? Finalmente, o acto aprovado pela Assembleia para pôr termo à vigência
b) Como enquadra a actuação da AR? ✓ do decreto-lei, espécie de veto resolutivo que a Assembleia faz ao Governo,
e) Se fosse assessor do Chefe de Estado, qual seria o
seu enten­ reveste a forma de resolução, conf..2_rme o n.º 5 do artigo 16�
dimento quanto a uma suposta promulgação?
Justifique.
d) Independentemente da resposta à alínea anterior, e) Tratando-se de uma resolução nunca a mesma seria submetida à apre­
imagine ciação do Presidente da República, porquanto as resoluções são publicadas
que o referido acto da AR era publicado no DR,
com efeitos a 24 de
Setembro? mdependentemente de promulgação (cfr. n.º 6 do artigÜ 1 66.º), logo só poderia
ter sido enviada para o Chefe de Estado por lapso.
Quid Juris?
d) A cessação da vigência do decreto-lei por via da resolução nunca
tem efeitos retroactivos, deixando o decreto-lei de vigorar apenas desde o
dia da publicação da resolução no Diário da República (cfr. n.º 4 do artigo
1 69.º).

66
67
CIÊNCIA POLlnCA
E DIREITO CONSTIT UCIONAL IDOS
CASOS PRÁTICOS RESOLV

Resolução

A Assembleia da República é competente para legislar no âmbito das


suas competências genéricas sobre os acidentes de trabalho, ao abrigo da
Caso n.º 22 alínea e) do artigo 161 .º da Constituição.
Na verdade, e conforme prescreve a alínea./) do n.º 1 do artigo 59.º,
• Regime constitucional dos regulamentos governativos e pen­ todos os trabalhadores têm direito a assistência e justa reparação, quando
sões por motivo de acidentes de trabalho vítimas de acidentes de trabalho ou de doença profissional. Trata-se, pois, de
uma matéria típica de direito do trabalho, mas que não está incluída nos
A Assembleia da República elaborou uma lei sobre direitos, liberdades e garantias (artigos 24.º a 57.º), ao invés do que sucederia
pensões
devidas aos filhos e cônjuges por morte em acidentes se estivesse prevista entre os artigos 53.º a 57.º (direitos, liberdade e garantias
de trabalho,
tendo determinado, nomeadamente, que aquelas serão dos trabalhadores).
sempre cal­
culadas com base nos salários anuais correspondent Na situação em apreço, é enunciado que as dúvidas quanto à execução
es a 12 vezes a
remuneração mínima mensal legalmente fixada para do supracitada lei serão resolvidas por despacho conjunto de vários Ministros,
a categoria que
o trabalhador exerça. isto é, por um regulamento governativo, no âmbito das competências do
r -

Prescrevia ainda o mesmo diploma, que as dúvidas Governo, de acordo com o preceituado na alínea e) do artigo 199.º da Consti­
suscitadas
quanto à sua execução serão resolvidas por "despach tuição, que prescreve que compete ao Governo no âmbito das suas competên­
o conjunto dos
Ministros das Finanç_as, da Segurança Social e cias administrativas fazer os regulamentos necessários à boa execução das
do Trabalho".
Face ao antecedente,� 6 De utados solicitaram leis.

-
f após publicação
no Düírio da Repúb lica a respectiva apreciaç Deste modo, estamos perante um regulamento governativo que está a
ão pelo Tribunal Consti­
tucional. interpretar uma lei, o que não poderá suceder uma vez que decorre do n.º 5
Ante o exposto, Maria, Francisca e Afonso do arti-&2, 112.º, que as leis não podem autorizar que a sua própria interpretação
defendem o procedi-
mento adoptado pelos Deputados. seja efectuada por outro acto que não seja uma outra lei ("nenhuma lei pode
conferir a actos de outra natureza o poder de, com eficácia externa, interpretar
Quid Juris? qualquer um dos seus preceitos"). É o denominado princípio da preferência
ou preeminência da lei <21>.
Como mencionam Gomes Canotilho e Vital Moreira <22>, a proibição
de actos não legislativos de interpretação das leis não exclui obviamente todos
os actos interpretativos, mesmo com eficácia externa, visto que a Adminis­
tração e os tribunais não podem deixar de interpretar as leis quando as aplicam,

l2 1 > Cfr.
GOMES CANOTILHO, ob. cit., p. 829.
(22l Cfr. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa
Anotada, Coimbra Editora, 3.ª Edição Revista, 1993, p. 5 1 1 .

68
69
CIÊNCIA POúTICA E DIREITO CONSTITUCIONAL OLVIDOS
CASOS PRÁTICOS RES

mas sim proibir, por exemplo, a interpretação autentica das leis através de
actos normativos não legislativos, pela via administrativa (vide os regula­
mentos).
E m suma, está-se a infringir o n.º 5 do artigo 112.º.
Os 26 Deputados podiam suscitar a fiscalização sucessiva abstracta Caso n.0 23

junto do Tribunal Constitucional, porquanto o despacho normativo já se encon­


trava publicado, sendo, portanto, normas perfeitas e porque um décimo dos • Regime constitucional dos regulamentos governativos, la­
Deputados o pode fazer, nos termos da alínea ./) do n.º 2 do artigo 281 .º boratórios e Serviço Nacional de Saúde
(bastam, pois, 23 Deputados, isto é, um décimo dos 230 Deputados em
efectividade de funções). Através de despacho do Ministro da Saúde, e sem se citar a res­
Por outra banda, o Tribunal Constitucional aprecia e declara, com força yectiva lei habilitante, vem-se regular o acesso dos delegados de
obrigatória geral, a inconstitucionalidade de quaisquer normas [cfr. alínea a) informação médica aos estabelecimentos e serviços do Serviço
do n.º 1 do artigo 281.º]. Nacional de Saúde, incluindo os hospitais S.A., nos seguintes termos:
Ora, todos os regulamentos da Administração contêm normas, estando, a) O acesso a estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde
consequentemente, sujeitos à fiscalização sucessiva abstracta, qualquer que por parte dos delegados de informação médica, só é permitido quando
seja a entidade de que emanem. os mesmos se apresentem devidamente identificados e credenciados
mediante registo junto do Instituto Nacional de Farmácia e do Medi­
camento);
h) Cada laboratório só poderá realizar até seis visitas por ano a
cada estabelecimento ou serviço do Serviço Nacional de Saúde;
e) Independentemente do laboratório que representem, o nú­
mero máximo de visitas diárias permitido é de dois delegados de
informação médica em cada serviço hospitalar.
Face ao acima preceituado, Ana Valente, Jorge e Margarida
alegam que o despacho do Ministro é inconstitucional.
Quid Juris?

71
70
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTITUCIONA L RESOLVIDOS
---
CASOS PRÁTICOS

Resolução

O despacho do Ministro da Saúde tem a natureza de regulamento go­


vernativo, urna vez que contém regrasjurídicas, gerais e abstractas, editadas
no uso das competências administrativas do Governo [cfr. alínea e) do artigo Caso n. 0 24
1 99.º da Constituição].
No entanto, o despacho do Ministro ao projectar para o exterior os
seus efeitos, contendo, pois, normas com evidente eficácia externa, não nos • Autorizações legislativas em branco
indica a lei com a qual está em relação.
O Presidente da República não querendo atrasar a entrada em
Destarte, está o mesmo a contender com disposto no n.º 7 do artigo vigor da lei do Orçamento para o ano em curso, não utilizou o meca­
I 1 2.º da Constituição, que nos diz que os regulamentos devem indicar expres­ rusmo da fiscalização preventiva, tendo antes optado por requerer
samente as leis que visam regulamentar ou que definem a competência sub­
ao Tribunal Constitucional a fiscalização sucessiva abstracta da consti­
jectiva e objectiva para a sua emissão. !U�dade de várias normas contidas naquele diploma.
Efectivamente, o princípio da precedência de lei é cl aramente afirmado _t As dúvidas da Presidência recaíam, designadamente, no carác-
neste preceito, donde se retira a precedência da lei relativamente a toda a
fl" - · \ - ter vago e genérico das autorizações concedidas ao Governo respei-
actividade regulamentar, assim como o dever de citação da lei habilitante por
r- e- ·.,- tantes à revisão do mecenato e à aprovação de um código de avaliação
parte de todos os regulamentos, pois não existe exercício de poder regula­
da propriedade rústica e urban� assim como no concernente a uma
mentar sem fundamento numa lei prévia anterior C23>. acentuada redução e manifesta desigualdade na distribuição de verbas
Em suma, Ana Valente, Jorge e Margarida têm razão. pelas autarquias locais, reforçando-se as autarquias de mais fortes
recursos em detrimento das mais pobres.
Face aos dados enunciados, Anabela assegura que estamos
perante várias inconstitucionalidades.
Ante o exposto, qual acha que deveria ter sido a posição do Tri­
bunal Constitucional?

C2J> Cfr. GOMES CANOTILHO, ob. cit, p. 83 1 .

73
S
S RESOLVIDO
CASOS PRÁTICO
CIÊNCIA POÚTlCA E DIREITO CONSTITUCIONAL

Resolução

AAssembleia da República aprovou a lei do Orçamento do Estado nos


termos da alínea g) do artigo 1 6 1 .º da Constituição.
Por sua vez, nada impede que o Presidente da República optasse pri­ Caso n.º 25
meiro por promulgar o diploma, e só mais tarde após a publicação da lei do
Orçamento em Diário da República decidisse suscitar a fiscalização sucessiva
abstracta de algumas das suas normas [cfe. alínea a) do n.º 2 do artigo 281 .º]. • Processo legislativo e proporcionalidade nas Ass embleias
Como é sabido, o Tribunal Constitucional aprecia e declara com força M unicipais \ \)
obrigatória geral, a inconstitucionalidade de quaisquer normas [cfr. alínea a) 31
a finalidade de simplificar a
A Assembleia da República com
p:
do n.º 1 do artigo 281.º]. es
to por 118 votos a favor, 36 abstençõ -z._ 2,
Deste modo, a posição do Tribunal Constitucional iria no sentido de de­ vida política, aprovou um decre
uma alteração à lei das autarquia
s
clarar a inconstitucionalidade das normas referentes às autorizações concedidas e 68 votos contra, introduzindo s eleito à ss m-
porcionalidadedo� s s a e
ao Governo, por violação do disposto no n.º 2 do artigo 1 65.º, isto é, por irem com gr aves consequências na pro
contra os limites substanciais do regime jurídico das autorizações legislativas. bleias m unicipais. requereu
esidente da República
Na realidade, qualquer lei de autorização tem de definir tanto o objecto F ace a dúvidas suscitadas, o Pr a Assemb leia.
como o sentido e a extensão da autorização (cfr. n.º 2 do artigo 1 65.º), vale dizer, eciação do de cr eto d
ao Tribunal Constitucional a apr
que não são permitidas as autorizações em branco ou globais, pois estas seguintes questões :
Re sponda, j ustificadamente, às
últimas subverteriam a distribuição constitucional das competências <24>_
em
p ara legislar sobre a matéria
a) A A�é competente
No caso em concreto, trata-se de autorizações vagas e genéricas que
c ausa? Justifique.
não mencionavam qual o sentido, ou seja, o objectivo e o critério da disciplina
b) O decreto da AR foi cor
rectamente aprov ado?
de
legislativa a estabelecer, bem como os aspectos a ter em conta pelo decreto
al foi o m c nis mo con stitucional utilizado pelo Chefe
legislativo do Governo. e) Qu e a

No tocante a uma acentuada redução da distribuição das verbas pelas Estado? nal
ação do Tribunal Constitucio
autarquias locais, o diploma infringiria o preceituado no n.º 2 do artigo 238.º, d) Qual teria sido a fundament
stitucionalidade?
visto que atentaria contra o regime das finanças locais, travejamento jurídico ao pronunciar-se pel a incon a alte-
p ronunciar, a AR p rocedia
este que tem como finalidade o princípio da justa repartição dos recursos e) Suponha que após o TC se amento?
públicos pelo Estado e pelas autarquias e a necessária correcção de desigual­ rações. Podia o PR
voltar a ter o me smo comport
p or enviar uma me
nsagem à AR,
dades entre autarquias do mesmo grau, porquanto se trata também de contri­ j) Imag ine qu e o PR op tav a
o legislativo
buir para o "crescimento equilibrado" de todas as regiões, conforme veiculado tan do a in po rtu nid ad e do decreto, e aquele órgã
ten votos a favor, 30 abs­
sus o
na alínea d) do artigo 8 1 .º <25>. posteriorme nte ea pr ov ava o diploma por 12 4
nismo constitucional ag
r or a
Em suma, Anabela tem razão. v tos c ntr a. Qual foi o meca
çõ es e 20 as consequên s
ten o o cia
lo PR ? Po dia faz ê-lo? E quais ser iam
utilizado pe
da posição da AR?
C2 l Cfr.
4
JORGE MIRANDA e RUl MEDEIROS, Constituição Portuguesa Anotada, Tomo 11,
Coimbra Editora, 2006, p. 539
(25J Cfr. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da R epública Portuguesa
Anotada, 3.ª edição revista, Coimbra Editora, 1993, p. 890.
75
CIÊNCIA POlITJ
- � CA E DIREITO CONSTITUCIONAL DOS
CASOS PRÁTICOS RESOLVI

Resolução
1 13.º), vigorando igualmente para a eleição dos Deputados da Assembleia
da República (n.º 1 do artigo 1 49.º), eleição das Assembleias Legislativas
a) A Assembleia da República é com regionais (n.º 2 do artigo 231 .º), eleição das assembleias regionais das regiões
petente para legislar sobre esta
matéria, ao abrigo da_l .ª parte da alínea l) administrativas (artigo 260.º) e, por fim, incluído nos limites materiais de revisão
do artigo 1 64.º da Constituição.
Na verdade, e no âmbito da reserva absolut [parte final da alínea h) do artigo 288.º].
a deste órgão de soberania,
é da sua exclusiva competência legislar sobre
as eleições dos titulares dos
órgãos do poder local. e) Sim, podia. A AR procedeu à reformulação do diploma, passando a
existir um novo decreto, razão pela qual o PR pode voltar a suscitar a fiscali­
b) O decreto da Assembleia foi correctamen zação preventiva ao Tribunal Constitucional (vide n.º 3 do artigo 279.º).
te aprovado, visto que tra­
tando-se de um acto que reveste a forma de
lei orgânica, conforme resulta do
n.º 2 do artigo 1 66.0 da CRP, pois está J) O Chefe de Estado discordou do conteúdo do diploma, isto é, não se
expressamente mencionado neste
comando constitucional a primeira parte tratava agora de formular dúvidas no que tange à sua compaginação com a
da alínea l) do artigo 1 64.º, seriam
necessários 1 1 6 Deputados para a sua apro Lei Fundamental, mas antes de emitir um juízo de mérito sobre o mesmo. Assim,
vação.
Efectivamente, e de acordo com o n.º 5 do exerceu o veto político solicitando nova apreciação do diploma em mensagem
artigo 1 68.º, as leis orgânicas
carecem de aprovação final por ��ioria fundamentada (n.º 1 do artigo 136.º).
absolu!_a_d(?s ��l!.tados em e.&_ctivi­
dade clêlilnções;-o que veio a suceder.
De facto, 1 18 Deputados votaram a favo Podia-o fazer, pois tratando-se para todos os efeitos de um novo di­
r, o que é superior aos 68 votos
contra, sendo que 1 18 votos é superior a ploma, já que tinha havido reformulação, o processo voltava ao início. Note­
1 16, que é o número que corresponde à
maioria absoluta dos Deputados em
efectividade de funções (metade de -se, também, que mesmo que não houvesse reformulação, podia sempre haver
- número de Deputados estabelecido
pel a lei eleitoral para a Assembleia da
230 um veto político do PR após a AR ter expurgado as normas inconstitucionais,
República - mais 1 ). na sequência de uma fiscalização preventiva e de um veto jurídico.
Na situação em apreço, a AR após uma segunda deliberação confirmou
e) O Chefe de Estado requereu ao o voto, superando assim o veto político do Chefe de Estado.
Tribunal Constitucional a fiscalização
preventiva da constitucionalida
de (n.º 1 do artigo 278.º) do decreto Efectivamente, estando presentes na AR 1 74 Deputados ( 1 24+30+20),
tinha sido enviado para promu que lhe
lgação como lei, pois tinha dúvida
s rela tiva­ este órgão legislativo por 124 votos a favor confirmou o diploma, visto que
mente à sua compatibilidade
com a Constituição. a dois terços dos Deputados presentes correspondem 1 1 6 Deputados, sendo
d) O decreto da Assembleia estaria que 124 são mais do que 1 1 6, número este que coincide aqui com os dois
representação proporcional a colidir com o sistema eleitoral de terços dos Deputados presentes e a maioria absoluta dos Deputados em efecti­
plasmado na Lei Fundamental para a ele
titulares dos órgãos políticos. ição dos vidade de funções, de acordo com o estabelecido no n.º 3 do artigo 136.º: é
exigida a maioria de dois terços dos Deputados presentes, desde que superior
No caso em concreto, atentav
239 .º: as assembleias dos órg
a contra o disposto no n.º 2 do artigo à maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções, para a confir­
de representação proporcio
ãos autárquicos são eleitas segundo
o sistema mação dos decretos que revistam a forma de lei orgânica.
nal. Ante o exposto, o Presidente da República é obrigado a promulgar o
Recorde-se que este sistema eleitor
está incorporado nos princípi al de representação proporcional diploma, porquanto nesta situação há um dever de promulgar por parte do
os gerais de direito eleitoral (n.º Chefe do Estado.
5 do artigo

7C>
77
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTITUCIONAL � RESOL
CASOS P RÁTICOS --
VIDOS

Resolução

p etente para legislar sobre a matéria


a) A Assembleia da República é com
eira p arte da alínea l) do artigo
em causa, nos termos consagrados na prim
ciona "ou outras (eleições)
Caso n.0 26 164.º da Constituição, no segmento em que se men
uma v ez que as el eições para o
realizadas po r sufr ágio directo e universal",
io directo e universal.
Parlamento Europeu são realizadas por sufrág
• Processo legislativo e legislação eleitoral para o Parlamento e é da reserva absoluta
Por conseguinte, estamos perante uma matéria qu
0 Europeu
da AR, detendo este órgão a competência
exclusiva p ara legislar.
ente aprovado.
Em 23 de Setembro, a Assembleia da República aprovou com b) O decreto da Assembleia foi correctam
os votos favoráveis de 117 Deputados, 100 votos contra e 2 abstenções, eliberação.
Por um lado, porque h avia quórum para a d
um decreto contendo alterações à legislação eleitoral para o Parla­ eputados em ef ectividade
De facto, são necessários metade mais l dos D
'!lento Europ_eu. 2 do artigo 58.º do Regimento
de funções (n.º 2 do artigo ll6�da_C.RP e n.º 2,\
Em 8 de Outubro, o Presidente da República salientando a ino­
da Assembleia da República), ou seja'-= , 116, quando estavam presentes 229 -=-
portunidade do mesmo decreto, que tinha recebido em 28 de Setembro,
Deputados.
devolve-o à Assembleia P-ara nova apreciação, salientando em mensã=-­ necessária uma vez que se
Por outro lado, porque foi reunida a maioria
gem fundamentada a inoportunidade das referidas alterações, bem . o fixado pelo n.º 2 do artigo
trata de uma lei orgânica, de harmonia cs>m parte
como a necessidade de concertação em matéria de direito eleitoral. s actos previ_§tos na primeira
166.º: revestegi a forma d�e_ i orgânica o
A AR reaprecia o decreto em questão a 20 de Novembro, que
ãaalínea /) do artigo 164.º.
lhe tinha chegado em 10 de Outubro, aprovando o mesmo por 114 ab soluta dos D eputados em
Assim sendo, carecia�mesma d_e maioria
Deputados, 40 votos contra e 10 abstenções. e acordo com o estatuído no
n.º 5 do artigo 168.º,
efectividade de funções, d
.
Pergunta-se:
o que sucedeu: aprovaç ão- por 117 votos-,- qu ando bastavam 116-
-
a) AAssembleia da República é competentepara legislar sobre
a matéria em causa? Justifique. / <Q,\.\. �6 L{ J } e) O Presidente da República ao de
volver o diploma à AR, salientando
do dip l m a e a necessidad e de conce
rtação em direito elei­
b) O decreto da A�sembleia foi correctamente aprovado? Jus­ a ino por tun id de o
a a emitir um juízo de valor sobre o
a
tifique �\ \) u...ê eo".½,.\..v...¾._ '.U):-- --tç- Y() ,t_\L c.·�_.c.. f CI.,( -<v'- u,,J
• "'1-A-L \ � � " � ( Ho 6 t'-�1-) \P.- ) \ 1� toral em men sagem fundamentada, estav agrado no n.º 1 do
e) Qual foi o mecanismo constitucional �ado pelo Chefe de x cen do, ssim , o di reito de veto político cons
mesm o, e er a

�,,\�ti� r
Estado? Foi o mesmo exercido em devido tempo? E a AR, em segunda artigo 136.º.
, porquanto entre 28 de Setembro
deliberação, agiu atempadamente? E quaü as consequências dessa Este direito foi exercido atempadamente da
tubro (data da devolução) só ain
votação? .Jo� • M /, (data da recepção do diploma) e 8 de Ou dias--para o fazer (n.º
E stado vinte-
tinham passado 1O dias, tendo o Chefe de
if.)
d) Imagine que em vez dos 114 Deputados, tinham votado favo­
c- ravelmente, em 2.ª deliberação, 130 Deputados e 50 Deputados contra. 1 do artigo 136�
adamente , visto
que
Podia agora o PR suscitar a fiscalização preventiva da constitucio­ AAssembleia da República também agiu aat)emp e 20 de Novembro (data
nalidade? 1 0 d O tubr o (dat a da recepção do diplom
entre o
mais de 15 dias, já que em cas
e u

j da reapreciação do mesmo) tinham passado


� Qtrr-,� 79
78
CIÊNCIA POLfnCA E
DIREITO CONSTITlJCIONAL OLVIDOS
CASOS PRÁTICOS RES

de veto político a nova apreciação do diploma efectua-se a partir do 15.º dia


posterior ao da recepção da mensagem fundamentada, nos termos do n.º 1
do artigo 1 60.º do Regimento da Assembleia da República.
AAR não confirmou o voto, não tendo, pois, ultrapassado o veto político
do Chefe de Estado. Caso n.0 27
Na realidade, se conseguiu aprovar o diploma por mais de dois terços
dos Deputados presentes ( l 14 é superior a I I O), cumprindo desta forma o • Processo legislativo e admissão de funcionários públicos
estipulado no n.º 3 do artigg _ l36.º P.ªra a confirm ação dos decretos que
revistam a forma de lei orgânica, não reuniu a maioria absoluta dos Deputados Em 12 de Maio de 2005, o Governo, mediante uma autorização
em efectividade de funções como é exigido pelo mesmo normativo, porquanto !egis!J.ti� e tinha sido concedida pela Assembleia dã República
1 1 4 votos é menos do que 1 1 6. en[24 de Ma!:Ç9, por um períod�de 90 dias, legislou sobre o regime

O dipiüma não foi, pois, confirmado, pelo que foi definitivamente rejei­ de aclinis'sõês, condições de trabálho, vencimentos e demais pr�
tado não podendo ser renovac:lo na mesma sessão legislativa, salvo nova elei­ ae carácter remuneratório dos funcionários públicos, sem ter previa­
rio
ção da Ass"'embleia da-República, como resulta do- ri.º4 do artigo 1 67. º. mente auscultado as associações sindicais da Administração Pública.
O Chefe de Estado veio a promulgar o decreto em causa em 25
d) Se em vez de 1 14 Deputados tivessem votado favoravelmente 130
do mesmo mês.
Deputados e 50 votado contra, o diploma tinha sido confirmado.
Em 18 de Junho de 2007, o Tribunal Constitucional, após solici­
Com efeito, tratava-se de mais de dois terços dos Deputados presentes
tação do Procurador-Geral da República, veio a declarar com força
- dois terços de 1 80 são 120 -, sendo 130 superior a 1 20 e 130 também
obrigatória geral a inconstitucionalidade do citado decreto-lei.
superior a 1 1 6 (maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções),
como decorre do n.º 3 do artigo 136.º. Quanto aos efeitos da declaração, era salientado nesse acórdão
do TC que, após a entrada em vigor daquele diploma, ter-se-ão criado
Na esteira da confirmação do diploma, o PR não podia exercer a fisca­
inúmeras expectativas aos funcionários públicos entretanto admitidos
lização preventiva da constitucionalidade, sendo obrigado a promulgar o
ao abrigo dessa legislação, expectativas que agora importaria acaute­
diploma.
lar, sob pena da sua desvinculação da função pública com todas as
consequências daí inerentes. l b \ ('. 0 1 tJ
Pergunta-se:
a) O Governo era competente para legislar sobre a matéria?
b) Que tipo de fiscalização foi exercida pelo Tribunal Constitu-
cional? Foi a mesma exercida atempadamente? Z,.. 7? 1 " 1 ª)
0

E o Procurador-Geral da República podia requerê-la? ·?..ô ( ( 2 '


e) Face ao presente texto, qual o fundamento que teria estado na
origem da inconstitucionalidade declarada pelo Tribunal Constitu­
cional?

RO
81
CIÊNCIA POLI TJCA
E DIREITO CONSTITUCIONAL
CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS

d) Qual foi o tipo de inc Resolução


onstitucionalidade declarado?
e) Face ao texto do acórd
ão supracitado, quais teriam sido os a) O Governo era competente para legislar sobre a matéria, precedendo
efeitos da declaração de incon
stitucionalidade do Tribunal Const _gespectiva autorização legislativa da Assembleia da República, visto que
cional? Porquê? itu­
de acordo com a alínea t) do n.º 1 do �rtigo 165.º da ConstJ.tmção, é da
- exclu__§iva competência da AR legislar sobre o âmbi!o _j� função pública,
salvo autorização ao Governo.
O�-se esta última na reserva relativa da Assembleia, logo
delegável no Governo [compete à AR conferir ao Governo autorizações legisla­
tivas, nos termos da alínea d) do artigo 161.º], tendo este órgão legislado
dentro dos limites temporais da autorizaçãÕ-legi.slativa concedida (n.º 2 do
artigo 165.º, no respeitante ao segmento em que refere a duração da autori­
zação), isto é, den�o �o prazo c�m�edido_ de 90 dias.
Em consequência, o Governo legislou no âmbito da_§_ua competência deri­
�da, em conformidade com o vertido na alínea b) do n.º l�do artigo 198.º da
CRP: "compete ao Governo fazer decretos-leis em matéria de reserva relativa
da Assembleia da República, mediante autorização desta".

b) Foi exercida a fiscalização sucessiva abstracta da constitucionalidade


de um decreto-lei autorizado do Governo, enquadrando-se este acto legislativo
no conceito de norma [alínea a) do n.º 1 do artigo 281.º da Constituição], razão
pela qual é objecto de fiscalização pefo Tribunal Constitucional.
Com efeito, já se trata aqui de normas perfeitas, ou seja, devidamente
publicadas e em vigor na ordem jurídica, daí o controlo ser apelidado de suces­
sivo por oposição a preventivo, existindo este último quando as normas ainda
não são perfeitas e como tal não se encontram publicadas e integradas na
ordem jurídica.
A fiscalização sucessiva abstracta foi exercida atempadamente, já que
o pedido não tem prazo, podendo a fiscalização ser requerida a todo o tempo
(artigo 62.º da Lei do Tribunal Constitucional).
Efectivamente, não existe prazo de caducidade por decurso de um certo
tempo após a entrada em vigor da norma.
Por sua vez, o Procurador-Geral da República é urna das entidades que
pode requerer a fiscalização sucessiva abstracta, à luz do disposto na alínea
e) do n.º 2 do artigo 281.º da CRP.
· - -- -------

82
83
OS RESOLVIDOS
- -
CASOS pRATtC

� EDIREITÕ CONSTITUCIONAL - --

e) O motivo subjacente à declaração de inconstitucionalidade radica


na circunstância de não terem sido ouvidas as associações sindicais, como é
ditado pela alínea a) do n.º 2 do artigo 56.º. Ora, como resulta deste preceito
constitucional, constituem direitos das associações sindicais participar na legis­
lação do trabalho, o que não sucedeu <26)_ Caso n.º 28

d) Quanto ao tipo de inconstitucionalidade em causa, registe-se que es Autónomas e servi


ços mínimos em
• Competências das Regiõ
estamos aqui perante uma inconstitucionalidade formal, porquanto se trata caso de greve
de uma infracção de uma norma sobre a forma e o processo de formação do
e o
acto <27), ou seja, houve uma preterição de formalidades ao não serem auscul­ ional dos Açores legislou sobr
AAssembleia Legislativa reg es consideradas destinadas à
tadas as respectivas associações sindicais que, no caso vertente, deviam ter s actividad
alargamento do elenco da ríveis em caso de greve..
participado no processo legislativo. o d n ces sid ad es sociais imprete
satisfaçã e e
rgar
ativo regional, visava, assim, ala
e) A declaração de inconstitucionalidade com força obrigatória geral, O supracitado decreto legisl r os serviços mínim os
ba lha do res qu e deveriam presta
deverá ter efeitos prospectivos, isto é, efeitos ex nunc (desde agora), portanto o âmbito do s tra
e greve.
para o futuro, de acordo com o fixado no n.0 4 do artigo 282.º da CRP. indispensáveis em caso d blica para a R egião
ost o, o Re pr es entante da Repú
Face ao e xp ia­
Na realidade, por razões de segurança jurídica e equidade, o Tribunal Cons­
do s Aç or es reque reu ao Tr
ibunal Constitucional a aprec
titucional fixou os efeitos de inconstitucionalidade com alcance mais restrito Autón om a enviado pa ra
i o r gio na l qu e lhe tinha sido
ção do decreto l gis lat e
ciado pela inconstitucio-
v
do que o cunhado no n.º 1 do artigo 282.º (número que consagra efeitos
e
, t nd o-s aq u ele órgão pronun
retroactivos e repristinatórios), a saber, a partir do momento da publicação assinatu ra e e

do acórdão no Diário da República. nalidade do mesmo.


Se a posição do TC prescrevesse o regime - regra, isto é, em que os Quid Juris ?
efeitos da declaração produzem-se desde a entrada em vigor da norma decla­
rada inconstitucional, os funcionários públicos entretanto admitidos ao abrigo
dessa legislação teriam de se desvincular da função pública desde a data da
sua admissão, com todas as consequências daí inerentes (nomeadamente devo­
lução de vencimentos, etc.).

(26) Anote-se ainda que o Tribunal Constitucional, no que à função pública se refere, tem
considerado que se integra na legislação do trabalho" o que se estatui em matéria de condições
de trabalho e vencimentos. Cfr. JORGE MIRANDA e RUI MEDEIROS, Constituição
Ponuguesa Anotada, Tomo I, p. 565.
<27> Cfr. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Fundamentos da Constituição, Coimbra
Editora, 1991, p. 267 .

85
84
RESOLVIDOS
CIÊNCIA POúTJCA E DIREITO CONSTITUCIONAL CASOS PRÁTICOS

a, não s e cumprindo ,
assim, os re­
Resolução
político-administrativo da região autónomartigo 227.º, pelo que a Assembleia
quisitos enunciados na alínea a) do n.º 1 do ingir este preceito e a alínea b)
Compete às regiões autónomas legislar no âmbito regional em matérias a infr
Le gislativa regional dos Açores estava
e nuncia das no res pectivo estatuto p ol ítico- administrativo e que não estej am
do n.º 1 do artigo 165.º.
re servadas aos órgãos de soberania, conforme resulta do postulado na al ínea ação de v oto p elas Assemb leias
Dito isto, a possibili dade de confirm
a) do n.º 1 do artigo 227.º e do n.º 1 do artigo 228.º da Constituição , sendo n.º 2 do artigo 279.º, afigura-se como
L e gislativas re gionai s no s termos do e uma As s emb leia re gional nã

que é da exclusiva competência da Assembleia Legislativa da região autónoma el e discutív el < >, já qu
28
altam ente contes táv al, órgã e b e­
do Tribunal Constitucion
o d so
o exercício destas atribuições (n.º 1 do artigo 232.º da CRP).
um órgão de sob erani a, ao invés se pode admitir que o
O poder legislativo das Assembleias Legi slativa s é exerci do por actos rani a de carácter
jurisdicional, sendo que dificilment e
erado p elo juízo político
de um órgão regional.
legi s lativos qu e re ve stem a forma de decretos legi slativos regionais (n. 1 e
entendimento deste pode ser sup
05

4 do artigo 1 12.º, n.º 4 do artigo 227.º e n.º 1 do artigo 233.0). ente do que sucede com os
membros
Ou, de dito outro modo < >, diversam
29

sempre designados como


Tendo dúvidas sobre a conformidade do decreto legislativo regional me mb As semb l eias regi onais são
da AR , os ros das
adrariam na l etra
com a L ei Fundamental, o Representante da Re pública suscitou ao Tribunal deputados com d peq
ueno , logo est es últimos não se enqu
Constitucional a fiscalização preventiva da co nstitucionalidade do decreto 279 .º; p or outro l ado , se já é difi
cilmente compreensível
do n.º 2 do artig o
a todos
rania e que por definição represent
legislativo regional qu e lhe tinha sido enviado para ass inatura, de acordo com
que a AR, que é um órgão de sob e ficaz uma decisão do TC, sendo
o previ sto no n.º 5 do artigo 233. , remete ndo para o disposto no n.º 2 do gu e ses , possa tomar ine
0
cid a ão p o rtu do se trate
se t oma ab surdo quan
os d s
artigo 278.º. o de sob erania, já isso
este também um órgã
egional , que não é um
órgão de sob erania.
O Tnbunal Constitucional pronunciou-se pela inconstitucionalidade, pelo de uma assembleia r
que o diploma deverá ser vetado pelo Representante da R epública, s egun do
o estatuído no n.º 1 do artigo 279. , ou seja, o R epresentante da R epúbl ica
0

ex erceu o ve to juríd ico, te ndo dev olvi do o diploma à A ss emb leia Legislativa
regional que o tinha aprovado.
Compete agora averiguar quai s os motivos que tiv eram na origem do
juízo de inco nstituci onali dade proferi do p elo Tribun al Constitucio nal.
Com efeito , a matéria em causa tem a ver com o exercício do direito à
gre v e previsto no n.º 1 do artigo 57.º da Constituição, bem como da le i que
define as condições de prestação, durante a greve, de serviços mínimos indispen­
sáveis para o correr à sati sfação de necessidades sociais impreteríveis, como
decorre do n.º 3 do m esmo preceito constitucional.

Nesta linha de indagação, trata- se de uma matéri a que se insere no s


dire itos, liberdades e garantias (artigos 24.º a 57.º da CRP), pelo que é assunto o
NDRINO, Constituiçã
da rese rva relativa de competência l egi slativa da A sse mbleia da R e pública
ELO RE BE LO DE SO US A e JOSÉ DE MELO ALEXA no entanto, posição
(lil Cfr. MARC 0, p. 416 , vide,
l egislar sobre a m esma, corno resulta à luz da alínea b) do n.º 1 do artigo 165.0• mentada, Lex, Lisboa, 200
da República Portuguesa Co Ru Med eiros e Jorge Miranda.
ge Bacelar Gouveia, i
Ou seja, estamos p erante uma matéria que está reservada a um órgão contrária defendida por Jor ão da República Portug
uesa
09> Cfr. GOMES CANOTILHO
e VITAL MOREIRA, Constituiç
de sob erani a (Assembleia da R epública) e que não está enunci ada no estatuto
revista, pp. 1008 e 1009.
Anotada, 3.ª edição

87
86
CIÊNCIA POLJnCA
E DIREITO CONSTITUCIONAL
S
CASOS PRÁTICOS RESOLV IDO

Resolução

Numa primeira fase, estamos perante a fiscalização sucessiva concreta


Caso n.0 29 da constitucionalidade, nos termos da alínea a) do n.º 1 .º do artigo 280.º da
Constituição, que foi exercida por vários tribunais.
Desta forma, os tribunais foram recusando a aplicação da norma em
• Fiscalização suc essiva mista da causa do Código das Expropriações, com fundamento na sua inconstitu­
constitucionalidade e expro­
priações cionalidade.
Em consequência, houve recurso para o Tribunal Constitucional das
Vários tribunais foram julgan decisões dos tribunais que recusem a aplicação de qualquer norma com funda­
do da inconstitucionalidade -
nu ns casos por impugnação das par mento na sua inconstitucionalidade. Uma vez que se trata de um acto legis­
tes, noutros por iniciativa de um
Juiz - das normas aplicáveis a um determinado cas lativo, este recurso é obrigatório para o Ministério Público (cfr. n.º 3 do
metido a julgamento. o concreto sub­
artigo 280.º).
O objecto da controvérsia radica Efectivamente, o nosso sistema de fiscalização da constitucionalidade
va numa norma do Código das
Expropriações, que dispunha: "pa
ra efeitos de compensação das exp permite que todos os tribunais que têm de decidir um caso em concreto possam
priações através das corresponden ro­
tes indemnizações deverão exclu­ desaplicar normas com fundamento na sua inconstitucionalidade.
sivamente considerar-se os terren
os fora dos aglomerados urbano Contudo, há sempre a possibilidade de recurso para o Tribunal Consti­
Por motivo de recurso para o Tri s".
bunal Constitucional, foi este tucional, em alguns casos obrigatório para o Ministério Publico, quando a
último julgando, sucessivamente
, por acórdãos de Novembro, Ma norma cuja aplicação tiver sido recusada constar de convenção internacional,
e Outubro pela inconstitucional io
idade da supracitada norma. de acto legislativo (como é o caso presente) ou de decreto regulamentar.
Ante o exposto, Maria Baptista Seja como for, cabe apenas ao Tribunal Constitucional decidir definiti­
e José Madeira afirmam que o
Tribunal Constitucional poderá
apreciar novamente a questão. vamente a questão, mas a decisão continua a valer apenas para o caso que
Quid Juris ? deu origem ao recurso, isto é, efeitos restritos (inter partes) por oposição aos
efeitos gerais de uma declaração de inconstitucionalidade com força obriga­
tória geral, em resultado da fiscalização sucessiva abstracta de constitucio­
nalidade, pela qual é suprimida a norma inconstitucional da ordem jurídica.
Na situação ora em análise, o Tribunal Constitucional acabou porjulgar
em recurso uma norma como inconstitucional em três casos concretos e, em
consequência, poderá praticar uma fiscalização sucessiva mista (cfr. n.º 3 do
artigo 281.º), isto é, passar do controlo concreto a abstracto visando, assim,
obter uma declaração com força obrigatória geral.
Assinale-se que a declaração de inconstitucionalidade não é obrigatória
ou automática, competindo ao Tribunal Constitucional após terjulgado a norma
inconstitucional em três casos concretos, por iniciativa de qualquer dos seus

88
89
CIÊNCIA POÚTJCA E DIRBTO CONSTITUCIONA1:_ IDOS
CASOS PRÁTICOS RESOLV

juízes ou do Ministério Publico, promover em termos processuais um novo


processo de fiscalização sucessiva abstracta, o que exige uma nova apreciação
pelo Tribunal Constitucional (artigo 82.º da Lei orgânica do Tribunal Constitu­
cional).
Em suma, José Madeira e Maria Baptista têm razão. Caso n. 0 30
Todavia, se o Tribunal Constitucional confirmar a conclusão de inconsti­
tucionalidade, não pode deixar de declará-la com força obrigatória geral <30> . • Competências das Regiões Autónomas, poderes do Represen­
E assim sucederia no caso em apreço, já que, neste contexto, o Tribunal tante da República e bases do património cultural
Constitucional não deixaria de considerar que se estava a violar o princípio
da igualdade (artigo 1 3.º) e o artigo 83.º, que consagra que a lei determina os A Assembleia da República autorizou a Assembleia Legislativa
meios e as formas de intervenção e de apropriação pública dos meios de pro­ regional dos Açores a legislar sobre matéria relacionada com as bases
duç·ão, bem como os critérios de fixação da correspondente indemnização. do património cultural.
Na realidade, e para efeitos de compensação das expropriações através Nesse sentido, a Assembleia Legislativa regional dos Açores
da correspondente indemnização, estavam apenas a ser considerados os ter­ aprovou, por 30 votos a favor e 27 contra, um decreto legislativo regio­
renos fora dos aglomerados urbanos, excluindo-se os que se encontravam nal que privilegiava como património cultural as festas populares, o
dentro destes, o que atentaria contra o princípio básico inscrito no comando fado e o folclore em detrimento da conservação dos museus, salas de
constitucional de que as expropriações sem indemnizações são interditas. concertos e bibliotecas do arquipélago, assim como da preservação
do espólio e acervo dos escritores, artistas plásticos, compositores e
cineastas oriundos dos Açores.
Face ao exposto, o Representante da República solicitou à
Assembleia Legislativa regional nova apreciação do diploma.
A Assembleia Legislativa regional confirmou o voto por 35 dos
seus membros em efectividade de funções.
Ante o sucedido, o Representante da República para a Região
Autónoma dos Açores dissolveu a Assembleia Legislativa regional e,
em consequência, demitiu o Governo Regional.
Maria, Afonso e Francisca sustentam que estes dois últimos
actos do Representante da República são inconstitucionais.
Quid Juris?

130> Cfr. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa


Anotada, 3. ª edição revista, p. 1037.

90 91
OLVIDO S
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTITUCIONAL CASOS PRÁTICOS RES

ública demitir o Go­


Resolução De igual modo, não podia o Representante da Rep
verno Regional.
A Assembleia da República pode conferir às Assembleias Legislativas Em suma, Maria, Afonso e Francisca têm razão.
mbleias
das regiões autónomas as autorizações previstas na alínea b) do n.º 1 do Na realidade, e por força do n.º 1 do artigo 234.º, as Asse
artigo 227.º da Constituição, de harmonia com o estabelecido na alínea e) do ser disso lvida s pelo Presidente
Legislativas das regiões autónomas só podem
dos nelas representados,
artigo 161 .º da Lei Fundamental. da República, ouvidos o Conselho de Estado e os parti
gos aos consagrados para
Assim, e de acordo com o previsto na alínea b) do n.º 1 do artigo 227.º sendo a dissolução pelo PR livre, em termos análo
da CRP, conjugado com o n.º 1 do artigo 232.º, as Assembleias Legislativas a dissolução da AR.
regionais podem legislar sobre certas matérias de reserva relativa da Assembleia Estado acarreta a
Neste contexto, a dissolução da AR pelo Chefe de
da República, precedendo autorização legislativa desta. orme resulta do n.º 2 do
demissão automática do Governo Regional, conf
AAssembleia Legislativa regional dos Açores exerce o seu poder legis­ artigo 234.º.
lativo, através de um acto legislativo que reveste a forma de um decreto
legislativo regional (n. 1 e 4 do artigo 112.º e n.º 4 do artigo 227.º).
05

A matéria em causa tem a ver com as bases do património cultural,


pelo que se insere no âmbito da reserva relativa da Assembleia da República,
conforme inscrito na alíneag) do n.º 1 do artigo 165.º, sendo que esta matéria
não é excepcionada na alínea b) do n.º 1 do artigo 227.º. Dito de outro modo,
a competência legislativa regional delegada pode versar sobre as bases do
património cultural.
Por conseguinte, pode a mesma ser delegada pela AR na Assembleia
Legislativa regional, mediante a respectiva autorização legislativa.
No caso vertente, o Representante da República exerceu o direito de
veto político relativamente ao decreto legislativo regional, conforme vertido
no n.º 2 do artigo 233.º, tendo a Assembleia Legislativa dos Açores confirmado
o voto por 35 dos seus membros em efectividade de funções, vale dizer, que
superou o veto do Representante da República, visto que é suficiente a maioria
absoluta dos seus membros como resulta do n.º 3 do artigo 233.º, sendo que
a A ssembleia tem 57 deputados, 35 é superior a 29.
Em consequência, o Representante da República é obrigado a assinar
o decreto legislativo regional em causa, conforme é imposto pelo n.º 3 do
artigo 233.º.
Em contrapartida, o Representante da República decidiu dissolver a
Assembleia Legislativa regional, o que é inconstitucional, já que não se insere
nas suas competências.

93
92
IDOS
CIÊNCIA POUTICA E DIREITO CONSTITUCION AL CASOS PRÁTICOS RESOLV

Resolução

a) Trata-se de uma matéria que tem a ver com o direito de acesso a


Caso n.0 31 cargos públicos, sendo que ninguém pode ser prejudicado na sua colocação,
no seu emprego, na sua carreira profissional ou nos beneficias sociais que
• Processo legislativo e progressão nas carreiras profissionais tenha direito em virtude do desempenho de cargos públicos, como decorre
do plasmado no n.º 2 do artigo 50.º da Constituição.
O Governo, ao abrigo de uma autorização legislativa, legislou Neste plano, estamos perante direitos, liberdades e garantias (inseridos
para os institutos públicos cujo pessoal é regido pelo contrato indivi­ entre os artigos 24.º e 57.º), pelo que o Governo só podia legislar mediante a
dual de trabalho. respectiva autorização legislativa da Assembleia da República, matéria da
Na preâmbulo do decreto-lei, afirmava-se que era necessário reserva relativa de competência legislativa deste órgão [alínea b) do n.º 1
pôr termo às situações em que alguns trabalhadores estão durante artigo 165.º], o que sucedeu.
muitos anos afastados dos respectivos lugares de origem, sem que Nesta medida, o Governo legislou mediante um decreto-lei autorizado,
por esse motivo venham a ter, aquando do seu regresso, qualquer ao abrigo da alínea b) do n.º 1 do artigo 1 98.º.
penalização em termos de progressão nas carreiras. O Presidente da República exerceu a fiscalização preventiva do decreto
Subjacente a este diploma, estava igualmente em causa uma que lhe tinha sido enviado para promulgação como decreto-lei (n.0 1 do artigo
melhor gestão dos dinheiros públicos. 278.º), tendo-se o Tribunal Constitucional pronunciado pela inconstitucio­
Assim, dispunha um dos preceitos do supracitado decreto do nalidade por violação do disposto n.º 2 do artigo 50.º da Lei Fundamental.
Governo: "não será contabilizado para efeitos de progressão nas car­ Desta sorte, o PR exerceu o veto jurídico, devolvendo o diploma ao
reiras profissionais do lugar de origem, o tempo de serviço prestado Governo (n.º 1 do artigo 278.º), não tendo este órgão de soberania expurgado
n o exercício de cargos políticos ou altos cargos públicos". a inconstitucionalidade como se encontra previsto no n.º 2 do artigo 279.º.
De outra sorte, era incluída uma disposição que consagrava Sucede que relativamente aos decretos-leis, o veto por inconstitucio­
que após o regresso ao lugar de origem, o trabalhador ficaria impe­ nalidade é definitivo, só podendo ser superado pela expurgação da norma
dido de receber qualquer prémio de desempenho do final do ano (n.º 2 do artigo 279.º).
sem que antes completasse 12 meses de prestação efectiva de trabalho. Em conclusão, não há, ao invés do que sucede com as leis, confirmação
O Presidente da República enviou o diploma para o Tribunal de decretos-leis, pelo que o Governo ao confirmar o decreto-lei estava a utili­
Constitucional, tendo-se este pronunciado pela inconstitucionalidade zar um mecanismo que não é permitido pela Lei Fundamental.
relativamente ao normativo que mencionava a não contabilização Se o Governo pretender superar o veto do PR sem expurgar a inconstitu­
do tempo nos cargos políticos e altos cargos públicos para efeitos na cionalidade, terá de utilizar o seu direito de iniciativa legislativa junto da AR
carreira de origem.
(n.º 1 do artigo 167.º), transformando o decreto-lei em proposta de lei e, em
Acto contínuo, o diploma foi devolvido ao Governo pelo PR, caso de aprovação pela AR, em decreto a ser enviado ao Chefe de Estado
tendo aquele órgão confirmado o diploma. para ser promulgado por lei.
a) Quid Juris?
b) Imagine que em vez de ter exercido a fiscalização preventiva,
o PR tinha optado pelo direito de veto político?

nA 95
_clÊNCIA POÚTJCA E DIREITO CONSTITUCIONAL
CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS

b) Se o PR tivesse optado pelo direito de veto político, exercia este me­


canismo nos termos do n.º 4 do artigo 13 6.º, comunicando por escrito ao
Governo o sentido do veto.
Sucede que este veto também é absoluto, pelo que o Governo se pre­ Caso n.0 32
tender ultrapassá-lo terá de transformar o decreto-lei em proposta de lei e
exercer o seu direito de iniciativa legislativa junto da AR (n.º 1 do artigo 167.º),
uma vez que não se trata de matéria reservada pela Constituição ao Governo • Empate na Assembleia da República
[cfr. alínea e) do artigo 1 6 1 .0 e n.º 2 do artigo 1 98.º].
Em caso de aprovação pela AR, estariamos igualmente perante um Nas eleições legislativas de 1999, houve um chamado "empate
decreto da Assembleia a ser enviado ao Chefe de Estado para ser promulgado técnico".
por lei. Efectivamente, o PS obteve 115 Deputados, o PSD 81 Deputados,
o PCP 17 Deputados, o CDS-PP 15 deputados e o Bloco de Esquerda
2 Deputados.
Ou seja, pela primeira e única vez no regime democrático nas­
cido em 1974, um partido político obteve exactamente a metade dos
Deputados do Parlamento.
Face a este quadro parlamentar, Armando dizia que o G-Overno
do PS não teria que temer qualquer "coligação negativa", assim como
a votação de moções de censura ou a eventualidade da votação da
rejeição do programa de Governo.
Na verdade, acrescentava, só a solicitação da aprovação de uma
moção de confiança pelo próprio G-Overno à Assembleia da República,
poderia levar à sua queda no Parlamento.
Seja como for, estaríamos perante uma paralisia legislativa que
se estenderá às propostas de lei do Governo, bem como aos projectos
de lei do grupo parlamentar ou dos Deputados que sustentam o
Governo, alegava, por seu turno, Olívia.
Por outro lado, Sérgio sustentava que o mecanismo constitu­
cional de apreciação dos decretos-leis pela Assembleia da República
passaria a ter um efeito meramente simbólico, bem como acabariam
os chamados "orçamentos desvirtuados".
Em contrapartida, Luís defendia que só a discussão do Orça­
mento seria um teste à sobrevivência do G-Overno, pese embora a rejei­
ção do Orçamento não implicar automaticamente a queda do G-Overno.
Quid Juris?

96
97
_�'"'"""'""IAr'O[ITICA E DIREITO CONSTITUCIONAL OLVIDOS
CASOS PRÁTICOS RES

Resolução
Face a esta situação, a rejeição do programa do Governo exige maioria
Os argumentos apresentados por Armando, Olívia, Sérgio e Luís estão absoluta dos Deputados em efectividade de funções (n.º 4 do artigo 192.º da
correctos. Constituição e n.º 5 do artigo 2 17.º do Regimento da Assembleia), implicando
Efectivamente, o Governo não tem que temer quaisquer "coligações a sua demissão como se encontra expressamente consagrado na alínea d) do
negativas". n.º 1 do artigo 195.º da Lei Fundamental .
De facto, e vamos sempre partir de um cenário em que não há divisões, Nesta ordem de ideias, faltava 1 Deputado para se alcançarem os 116.
quer no âmbito do partido maioritário que suporta parlamentarmente o De facto, só mesmo a apresentação de uma moção de confiança levaria
Governo, quer no seio dos partidos da oposição, e que os Deputados em à queda do Governo, visto que o número de 1 1 5 Deputados do partido que
efectividade de funções (230, de acordo com a lei eleitoral para a Assembleia apoia o Governo é igual ao número de 115 Deputados dos partidos da oposição,
da República, que obedece aos parâmetros fixados no artigo 148.º da Consti­ pelo que a sua votação levaria à sua não aprovação, vale dizer, à demissão do
tuição, isto é, entre I 80 e 230) se encontram sempre todos presentes, o número Governo, conforme estipulado na alínea e) do n.º 1 do artigo 195.º.
de I 1 5 Deputados de todos os partidos da oposição não é suficiente para Neste sentido, não se reunia a maioria necessária, a saber, o número de
aprovar leis. sins tem que sempre ser superior ao número de nãos, não contando as absten­
Na realidade, seria necessário o voto favorável de 1 I 6 Deputados para ções para o apuramento da maioria, o que resulta da regra geral constante do
aprovar legislação (metade mais um dos Deputados em efectividade de funções, n.º 3 do artigo 116.º, e que se aplica sempre que expressamente não seja
que são 230), conforme o n.º 3 do artigo I 16. 0 da Constituição, porquanto o mencionada nenhuma das cinco maiorias qualificadas ou agravadas previstas
número de sins terá de ser superior ao número de nãos, o que aqui não sucedia. na Constituição.
Esta linha de raciocínio é também aplicada à votação das moções de Estas cinco maiorias qualificadas são: maioria absoluta dos Deputados
censura. em efectividade de funções; maioria de dois terços dos Deputados presentes;
Com efeito, compete à Assembleia da República votarmoções de censura maioria de dois terços dos Deputados presentes, desde que superior à maioria
[alínea e) do artigo 163.º e n.º I do artigo 194.ºJ, implicando a demissão do absoluta dos Deputados em efectividade de funções; maioria de dois terços
Governo a aprovação de uma moção de censura por maioria absoluta dos dos Deputados em efectividade de funções; maioria de quatro quintos dos
Deputados em efectividade de funções, como resulta da alínea.O do n.0 1 do deputados em efectividade de funções.
artigo 195.º (vide igualmente o n.º 2 do artigo 223.º do Regimento da Desta forma, o Governo saberia que ao apresentar uma moção de
útil se
Assembleia da República). confiança estaria a precipitar a sua queda (o que até lhe poderia ser
Ora, a maioria absoluta em causa corresponde ao voto favorável de tivesse a convicção de que em novas eleições obteria a maioria absoluta).
blica
I I 6 Deputados que, neste contexto, nunca se obteria. Logo, o Governo não teria Destarte, as propostas de lei do Governo à Assembleia da Repú
os pro­
que temer qualquer moção de censura. [n.º 1 do artigo 167.º e alínea e) do n.º 1 do artigo 200.º], assim como
e alínea b) do
De igual forma, o Governo não teria que temer a votação da rejeição jectos-leis da iniciativa dos Deputados [n.º 1 do artigo 167.º
g) do
do programa do Governo. artigo 156.º] e dos grupos parlamentares [n.º 1 do artigo 1 67.º e alinea
clivag ens de
Não sendo o programa do Governo votado, o que pode suceder é que n.º 2 do artigo 180.º], não reuniriam, num cenário sempre sem
ação: 116
na apresentação do programa do Governo e até ao encerramento do debate, ambos os lados, repita-se, o número suficiente de votos à aprov
pode qualquer grupo parlamentar propor a rejeição do programa do Governo (número superior aos 115 Deputados de toda a oposição).
( n.º 3 do artigo 192.º e n.º 1 do artigo 2 17.º do Regimento da Assembleia da Daí, a falada paralisia legislativa.
is
República). De igual sorte, o instituto da apreciação parlamentar dos decretos-le

98 qq
OLVIDOS
CIÊNCIA POÚTICA_E DIREITO CONSTITUCIONAL CASOS PRÁTICOS RES

pela Assembleia da República (n.º 1 do artigo 169.º) , visando pôr termo à


vigência de um decreto-lei ou procedendo à sua alteração, também não seria
coroado de êxito, pois toda a oposição junta não chegaria para a sua aprovação
( 115 Deputados da oposição não são obviamente mais do que os 115 Depu­
tados que apoiam o Governo). Caso n.0 33

Ou seja, o instituto teria apenas um efeito meramente simbólico.


Pelas mesmas razões, as leis do Orçamento de Estado nunca poderiam • Relações internacionais e declaração de guerra
ser desvirtuadas, já que as propostas de alterações introduzidas pela oposição
não teriam, assim, acolhimento por não reunirem o número de votos necessário. Sem prévia iniciativa governamental, o embaixador de Portugal,
o ix
Por último, só mesmo a discussão do Orçamento seria um teste à sobre­ até então em Paris, foi nomeado pelo Chefe de Estad emba ador
vivência do Governo. de Portugal num terceiro país.
Na verdade, o Orçamento não seria aprovado só com os 1 15 votos do Na esteira do sucedido, o decreto do Presidente da República
l
partido que apoia o Governo. que nomeou o embaixador não foi submetido à referenda ministeria
Se é certo que a não aprovação do Orçamento não implica automatica­ do Governo.
mente a queda do Governo (não integra o elenco do artigo 195.0 da CRP), a Por outra banda, o Presidente da República veio mais tarde a
proposta do
sua sucessiva reprovação já teria como consequência a queda do Governo, declarar guerra a esse terceiro Estado, sem a prévia
República,
levando quer o Governo a apresentar a sua demissão, ou podendo inserir-se Governo e a respectiva autorização da Assembleia da
daquele
no n.º 2 do artigo 1 95, normativo que atribui ao Presidente da República a pos­ pretextando que não só tinha sido insultado pelos dirigentes
es portugueses
sibilidade de demitir o Governo quando tal se tome necessário para assegurar país, como alegou ainda que os interesses dos emigrant
camp anha insidiosa
o regular funcionamento das instituições democráticas, visto que há uma estavam igualmente a ser afectados por uma
manifesta incapacidade governamental para obter o apoio da Assembleia na incentivada pelas mais altas autoridades desse Estado.
a referenda
aprovação do orçamento, dificultando insuperavelmente os negócios do A declaração de guerra também não foi sujeita
Estado <31>. ministerial do Governo.
nte várias in-
Ante o exposto, Cintra afirma que estamos pera
constitucionalidades.
Quid Juris?

(3I> Cfr. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa


Anotada, 3. ª edição revista, p. 767.

-<nn
101
VIDOS
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTIT UCIONAL CASOS PRÁTICOS RESOL

Por último, e de acordo com n.0 1 do artigo 1 40. , também a declaração


0
Resolução
de guerra [prevista na alínea e) do artigo 1 35.º] é sujeita a referenda ministerial,
Compete ao Presidente da República, nas relações internacionais, nomear determinando a falta de referenda a inexistência jurídica do acto (n.º 2 do
os embaixadores, sob proposta do Governo, como é fixado pela alínea a) do artigo 140.º).
artigo 135.0 da Constituição, pelo que o Chefe de Estado não pode nomear Em suma, Cintra tem razão.
embaixadores sem proposta do Governo (como pode igualmente recusar a
nomeação proposta pelo Governo).
Com a sua atitude estava, pois, o Presidente da República a infringir o
disposto na alínea a) do artigo 1 35.º da Lei Fundamental.
Segundo o n.º 1 do artigo 140.º, carecem de referenda do Governo os
actos do Presidente da República praticados ao abrigo da alínea a) do artigo
1 35.0•
Nesta medida, o acto em causa teria que ser obrigatoriamente referen­
dado pelo Governo, já que se trata de um daqueles actos em que a referenda
deste é obrigatória, visto que se trata de um acto praticado sob sua proposta
(proposta essa que aqui nem chegou a existir, recorde-se).
Em consequência, estava-se ainda perante a violação do prescrito no
n.º 1 do artigo 140.º da CRP, implicando a falta de referenda a inexistência
jurídica do acto (n.º 2 do artigo 140.º).
A declaração de guerra pelo Chefe de Estado carece igualmente de
proposta do Governo, como dispõe a alínea e) do artigo 1 35.º, e ainda de
autorização da Assembleia da República nos termos do mesmo preceito, pelo
que se estaria a atentar contra o comando constitucional em apreço.
Acresce que como é determinado pelo preceito constitucional, só pode
haver declaração de guerra em caso de agressão efectiva ou iminente.
Ora, em obediência ao princípio da solução pacífica de conflitos (artigo
7.º, n.º 1), a guerra é situação extrema, só justificável quando aquela agressão,
é feita directamente contra o próprio Estado português, ou contra outros Estados
a que Portugal esteja ligado por tratados de defesa [artigo 1 6 1.º, alínea i) e
artigo 51.º da Carta das Nações Unidas] - legítima defesa individual na pri­
meira hipótese, legítima defesa colectiva na segunda <32> .

02> Cfr. JORGE MIRANDA e RUI MEDEIROS, Constituição Portuguesa Anotada, Tomo li,
Coimbra Editora, 2006, p . 400.

103
102
CIÊNCIA POUTICA E DIREITO CONSTITUCIONAL
IDOS
CASOS PRÁTICOS RESOLV

Resolução

Na ordem jurídica vigora o princípio da paridade das leis e dos decretos­


Caso n .0 34
-leis, conforme prescrito no n.0 2 do artigo 1 12.º da Constituição: as leis e os
decretos-leis têm igual valor.
Destarte, existe a mútua revogabilidade inerente à igual força jurídica
• Revogação de decretos-leis autorizados e uniformização de entre leis e decretos-leis, isto é, leis e decretos-leis podem revogar-se mutua­
dias de férias mente desde que não se trate de áreas de competência absoluta. Vale dizer,
uma lei que é da competência absoluta da Assembleia da República não pode
Tendo em vista um alegado aumento de produtividade dos fun­ ser revogada por um decreto-lei.
cionários públicos, procurou uniformizar-se o número de dias Do mesmo modo, um decreto-lei que se integre na área da reserva abso­
de
férias dos funcionários públicos com os dos trabalhadores regid luta do Governo não pode ser revogado por uma lei.
os
pelo Código do Trabalho. Em suma, só existe a mútua revogabilidade em áreas não reservadas,
Em consequência, o Governo, mediante decreto-lei emitido ao de competência concorrente e, na vigência de autorização legislativa, em maté­
abrigo da competência concorrencial com a Assembleia da rias de reserva relativa c33>_
República,
alterou o decreto-lei autorizado que consagrava e difer Diversamente, os decretos-leis autorizados e os decretos-leis de desen­
enciava o
número de dias de férias dos funcionários públicos, em volvimento estão subordinados, respectivamente, às leis de autorização legisla­
função da
idade e o número de anos de serviço, estabelecendo um tiva e às leis de bases, isto é, ao princípio da supremacia das leis de autorização
novo regime
de férias em tudo idêntico ao regime menos favorável legislativa e das leis de bases relativamente às normas complementares, con­
dos trabalha­
dores regidos pelo Código do Trabalho. forme o disposto igualmente no n.º 2 do artigo 1 12.º.
Face ao antecedente, Teresa Margarida e Christie afi No caso vertente, tratava-se de matéria do âmbito da função pública
rmam que
estamos perante uma inconstitucionalidade. [alínea t) do n.º 1 do artigo 1 65.º], matéria da reserva relativa de competência
Quid Juris? legislativa da Assembleia (é da exclusiva competência da AR legislar, salvo
autorização ao Governo), pelo que o Governo só podia legislar munido da res­
pectiva autorização legislativa, o que não sucedeu.
Por conseguinte, o Governo estava a colidir com o disposto na alínea
t) do n.º 1 do artigo 1 65.º, não podendo legislar de acordo com a alínea a) do
n.º 1 do artigo 198.º, base constitucional da competência concorrencial, já
que não se tratava de matéria de competência legislativa concorrencial do
Governo com a AR.
Acresce que os decretos-leis autorizados estão subordinados como já
vimos ao parâmetro das leis de autorização, mas são ainda actos legislativos

cm C fr. JORGE MIRANDA e RUI MEDEIROS, Constituição Portuguesa Anotada, Tomo II,
p. 266.
1 04
105
CIÊNCIA POLITICA E QIREITO CONSTITUCIONAL OLVIDOS
CASOS PRÁTICOS RES

condicionados num outro sentido : estão subtraídos à disposição do poder


legislativo do Governo que não os pode revogar ou alterar sem nova autori­
zação legislativa <34>_
Ante o exposto, o decreto-lei autorizado só podia ser alterado pelo
Governo mediante um outro decreto-lei autorizado, dimanado na sequência Caso n.0 35

de uma autorização legislativa da Assembleia da República, ancorando-se


então a emissão desse decreto-lei autorizado na alínea b) do n.º I do artigo • Processo legislativo e cláusula barreira
1 98.º, ou seja, na competência autorizada do Governo.
Em conclusão, Teresa Margarida e Christie têm razão. A Assembleia da República aprovou com os votos favoráveis
de 155 Deputados e 75 votos contra, alterações ao modo de eleição
dos Deputados a eleger pelo círculo eleitoral de Lisboa, dispondo que
só teriam Deputados eleitos os partidos que obtivessem 4% a nível
nacional.
Face ao antecedente, cinquenta e dois Deputados requereram
ao Tribunal Constitucional a apreciação do diploma, tendo-se este
órgão pronunciado pela inconstitucionalidade.
Subsequentemente, o citado decreto foi devolvido à AR pelo
Chefe de Estado.
AAR, por 130 votos a favor, 50 contra e 10 abstenções, reapro­
vou o decreto em causa sem quaisquer alterações.
Tendo o PR promulgado o diploma, imagine que 30 Deputados
solicitam quatro meses depois ao TC a apreciação do mesmo, tendo
este órgão de soberania declarado a inconstitucionalidade com força
obrigatória geral desde a entrada em vigor da norma declarada incons­
titucional.
Quid Juris?

!34> GOMES CA.i'IOTILHO, ob. cit., p. 765.

1 06 107
RESOLVIDOS
CIÊNCIA POÚTlCA E DIREITO CONSTITUCIONAL CASOS PRÁTICOS

Resolução Ou seja, a Lei Fundamental consagra neste normativo a proibição da


chamada cláusula barreira, pelo que a lei ordinária nunca poderá fazer de­
A Assembleia da República é o órgão competente para legislar sobre pender a eleição de Deputados de uma votação nacional de 4%.
esta matéria, já que se trata de eleições dos titulares dos órgãos de soberania, Em consequência da decisão do Tribunal Constitucional, o Chefe de
conforme estabelecido na alínea a) do artigo 1 64.º da Constituição. Estado exerceu o veto jurídico (n.º 1 do artigo 279.º), devolvendo o diploma
Com efeito, estamos perante a eleição de Deputados para o círculo elei­ à AR que o confirmou por maioria de dois terços dos Deputados presentes,
toral de Lisboa, o mesmo é dizer, da eleição de titulares para um órgão de desde que superior à maioria absoluta dos Deputados em efectividade de
soberania como o é a Assembleia da República (n.º l do artigo 1 1 O.º). funções (n.º 2 do artigo 279.º).
O decreto da Assembleia foi correctarnente aprovado, uma vez que Na verdade, 1 30 votos favoráveis é superior a 1 27 (dois terços dos
para além de haver quórum para deliberação (mais de 1 1 6 Deputados pre­ Deputados presentes, ou seja, dois terços de 190) e também superior a 1 16.
sentes, nos termos do n.º 2 do artigo 1 16.º da Constituição e n.0 2 do artigo Posto isto, o PR tem a faculdade de promulgar ou não promulgar, tendo
58.º do Regimento da Assembleia da República), o diploma foi aprovado optado pela primeira possibilidade, isto é, promulgou normas inconstitucio-
com a maioria necessária, a saber, dois terços dos Deputados presentes, desde nais, o que pode fazer.
que superior à maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções Quatro meses depois, trinta Deputados requerem ao TC a apreciação
e
[conjugação da alínea d) do n.º 6 do artigo 168.º com o artigo 149.º]. do mesmo. Por conseguinte, em sede de fiscalização sucessiva abstracta,
Efectivamente, 155 votos favoráveis correspondem a mais de 154 votos segundo resulta do preceituado na alínea.O do n.º 2 do artigo 281.º da CRP,
s
(dois terços de 230), número que é, por sua vez, superior a 1 1 6. os Deputados solicitaram a apreciação pelo TC, já que se tratava de norma
Anote-se, por outro lado, que estamos perante uma lei orgânica como perfeitas, isto é, devidamente publicadas na ordem jurídic a.
decorre do n.º 2 do artigo 1 66.º, porquanto se trata de um acto previsto na Podiam-no fazer, porquanto 30 Deputados é mais que um décimo dos
alínea a) do artigo 1 64.º. Deputados à Assembleia da República (23).
fiscali­
Assim sendo, e para além do Presidente da República, podem requerer Por outra banda, e porque não há qualquer prazo para requerer a
inconstitucio­
ao Tribunal Constitucional a fiscalização preventiva da constitucionalidade zação sucessiva abstracta, podem os pedidos de apreciação da
Lei do Tribunal
do decreto da Assembleia que tenha sido enviado ao Presidente da República nalidade ser apresentados a todo o tempo (artigo 62.º da
para promulgação como lei orgânica, o Primeiro-Ministro e um quinto dos Constitucional).
alínea a)
Deputados à Assembleia da República em efectividade de funções, de har­ Por último, o Tribunal Constitucional declarou nos termos da
mesmo funda­
monia com o prescrito no n.º 4.0 do artigo 278.º. do n.º 1 do artigo 281.º, a inconstitucionalidade do diploma com o
152.º), só que
No caso em apreço, 52 Deputados requereram ao Tribunal Constitucio­ mento da primeira vez (violação do disposto no n.º 1 do artigo
efeitos da decla­
nal a apreciação preventiva do diploma. agora com a supressão da norma da ordem jurídica, tendo os
l assumido efeitos
Podiam-no fazer, pois 52 Deputados são mais do que 46, número este ração de inconstitucionalidade com força obrigatória gera
stitucional (n.º 1
que corresponde a um quinto dos Deputados em efectividade de funções. retroactivos à entrada em vigor da norma declarada incon
O Tribunal Constitucional pronunciou-se pela inconstitucionalidade do artigo 282.º).
do decreto da Assembleia, tendo o juízo de inconstitucionalidade radicado
na violação do disposto no n.º 1 do artigo 152.º, que dispõe que "a lei não
pode estabelecer limites à conversão dos votos em mandatos por exigência
de uma percentagem de votos nacional mínima".

109
108
__c:i_ÊNCIA POÚTICA E DIREITO CONSTITUCIONAi-_ RESOLVIDOS
CASOS PRÁTICOS

Na sequência desse referendo, que contou com 63% de resposta


positiva do eleitorado, num universo de votantes superior a 52 % dos
eleitores inscritos no recenseamento, a AR veio a aprovar atempada­
mente a lei que uniformizava as condições de aposentação e reforma,
Caso n.0 36 tendo, no entanto, o PR exercido o veto político face à mesma.
João Paulo e Portugal defendem que o PR teria obrigatoria­
• Referendos mente de promulgar o diploma.
Quid Juris?
O Chefe de Estado recebeu duas propostas de referendo da
Assembleia da República.
Uma das propostas ia de encontro a um debate na sociedade
em que era comummente aceite que não faz qualquer sentido a exis­
tência de partidos que apenas dão sinal de vida na altura das cam­
panhas eleitorais, com resultados eleitorais a oscilarem entre os 0,2%
e os 0,5%, e podendo até legitimamente se colocar a questão se muitos
desses votos não resultam de erro no preenchimento dos boletins de
voto.
A outra proposta correspondia ao sentimento generalizado de
que as condições de aposentação dos funcionários públicos e dos refor­
mados da Segurança Social deviam ser uniformizadas.
Assim sendo, eram os cidadãos eleitores recenseados no territó­
rio nacional chamados a pronunciar-se directamente, através de res­
posta de sim ou não, sobre as seguintes questões:
Proposta de Referendo n.º 1: "Concorda com a extinção dos
partidos políticos que, em duas eleições legislativas sucessivas, não
obtenham um mínimo nacional de 0,8% dos votos expressos?"
Proposta de Referendo n.º 2 : "Concorda com a total uniformi­
zaç.ão das condições de aposentação dos funcionários públicos com
os reformados da Segurança Social?"
Na sequência da verificação da inconstitucionalidade pelo
Tribunal Constitucional, o Chefe de Estado não convocou o Referendo
enunch1do na proposta n.º 1 .
O Presidente d a República convocou, todavia, o referendo indi­
cado na proposta n.º 2.

111
110
RESOLVIDOS
�ÊNCIA POúnCA E DIREITO CONSTITUCIO� CASOS PRÁTICOS

Resolução Tendo havido 63% de respostas favoráveis, a Assembleia da República


terá de aprovar, em prazo não superior a 90 dias, o acto legislativo em sentido
a) Relativamente à proposta de referendo n.º 1 , a Assembleia da Repú­ correspondente à vontade manifestada pelo eleitorado, isto é, a uniformização
blica propôs ao Presidente da República a sujeição a referendo de uma questão das condições de aposentação dos funcionários públicos e dos reformados
de relevante interesse nacional (alineaj) do artigo 1 6 1 .º da Constituição]. da Segurança Social (artigo 241.º da Lei Orgânica do Regime do Referendo).
Este acto da AR reveste a forma de resolução (definição por exclusão O Chefe de Estado exerceu o veto político, sucedendo que o não pode
de partes plasmada no n.º 5 do artigo 1 66.º da CRP). fazer.
O PR solicitou a fiscalização preventiva obrigatória da constituciona­ Têm, pois, razão João Paulo e Portugal.
lidade da proposta de referendo ao Tribunal Constitucional [n.º 8 do artigo Com efeito, não pode exercer o veto político por discordância com o
1 1 5.º e alínea./) do n.º 2 do artigo 223.º]. sentido apurado em referendo com eficácia vinculativa (artigo 242.º da Lei
O Tribunal Constitucional verificou a inconstitucionalidade da proposta, Orgânica do Regime do Referendo), estando, pois, obrigado a promulgar a
visto que a mesma abarca a matéria de partidos políticos, estando esta prevista lei da Assembleia da República emitida na sequência da vitória do sim num
na alínea h) do artigo 1 64.º. referendo com efeitos vinculativos.
Ora, sucede que, nos termos da alínea d) do n.º 4 do artigo 1 1 5.º, as Trata-se, portanto, de um dos casos de promulgação obrigatória pelo
matérias previstas no artigo 164.0 da Constituição, com excepção do disposto Chefe de Estado, sendo os outros a promulgação das leis de revisão constitu­
na alínea i), são excluídas do referendo. cional (artigo 286.º, n.º 3) e a confirmação dos diplomas pela AR na sequência
Deste modo, o PR não convocou o referendo. do veto político do PR (artigo 1 36.º, n. 2 e 3).
05

b) No respeitante à proposta de referendo n.º 2, a AR propôs ao PR


uma questão de relevante interesse nacional, que revestiu a forma de resolu­
ção, tendo o PR que obrigatoriamente submeter a mesma à fiscalização pre­
ventiva do TC [alíneaj) do artigo 1 6 1 .º, n.º 5 do artigo 1 66.º, n.º 8 do artigo
1 1 5.º e alínea./) do n.º 2 do artigo 223.º, conforme vimos acima na resolução
relativa à proposta de referendo n.º 1].
Verificada a constitucionalidade da proposta pelo TC, o Chefe de Estado
convocou por decreto (artigo 35.º da Lei Orgânica do Regime do Referendo)
o referendo, nos termos e para os efeitos dos artigos 1 1 5.º e 1 34.º, alínea e),
da Constituição, sendo a convocação do referendo um acto livre do Presidente
da República.
Uma vez que houve uma afluência às umas de 52% dos eleitores ins­
critos, o referendo tem efeitos vinculativos, porquanto o número de votantes
foi superior a metade dos eleitores inscritos no recenseamento (n.º 1 1 do
artigo l i 5.º da Constituição e artigo 240.º da Lei Orgânica do Regime do
Referendo).

113
1 12
CIÊNCIA POlITICA E
DIREITO CONSTITUCIONAL S
CASOS PRÁTICOS RESOLVIDO

Resolução

Nos termos da alínea e) do n.º 1 do artigo 201.º da Constituição, compete


ao Primeiro-Ministro informar o Presidente da República acerca dos assuntos
Caso n.º 37
respeitantes à política interna e externa do país.
Aflora neste preceito constitucional um poder-dever do Primeiro­
• Diplomacias paralelas e direito de info -Ministro para com o Chefe de Estado, não podendo essa informação ser
rma ção
cerceada mesmo com fundamento, por exemplo, no segredo do Estado <35)_
Imagine que o Primeiro-Ministro não info Em contrapartida, a mesma solução não vigora para a Assembleia da
rmou o Presidente
da República das suas iniciativas junto da Com República.
unidade Internacional,
iniciativas essas que precederam o envio de Face ao exposto, se o Primeiro-Ministro não tivesse informado o Pre­
uma força internacional
par a Timor durante os acontecimentos sidente da República das suas iniciativas junto da comunidade internacional
ocorridos em 199 9, em
consequência dos resultados do referendo que estaria a infringir o consagrado na alínea e) do n.º 1 do artigo 20 1 .º da Lei
vieram a dar a indepen­
dência àquele novo Estado. Fundamental.
Por seu turno, imagine que o Presidente No respeitante à circunstância de o PR, à margem do Governo, ter
da República, à mar­
ge� do Governo e em posição contrária mantido contactos com os embaixadores da União Europeia, Estados Unidos,
a este, manteve durante todo
esse período contactos e entendimento
s com diversos embaixadores Rússia e China, estaria a atentar contra o determinado pelo artigo 182.º da
dos países da União Europeia, assim com CRP.
o com os embaixadores dos
Estados Unidos, Rússia e China. Com efeito, e como flui do artigo 182.º, o Governo é o órgão de con­
Ante o exposto, Manuel Carvalho
e Joaquim sustentam que dução da política geral do país, o que compreende quer a política interna,
estamos perante várias inconstitucio quer a política externa, não se permitindo, assim, o exercício de "diplomacia
nalidades.
Quid Juris? paralela" por parte do Presidente da República <36), antolhando-se esta em
iniciativas com repercussão na política do Governo e à margem deste, e em
entendimentos com embaixadores contra o Governo.
Ou seja, o princípio da lealdade institucional é ambivalente, vinculando
não apenas o Governo, mas também o Presidente da República.
Em conclusão, Manuel Carvalho e Joaquim têm razão.

os> Cfr. JORGE MIR.-'\NDA e RUI MEDEIROS, Constituição Portuguesa Anotada, Tomo II,
p.p. 754 e 755.
<36lCfr. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Ospoderes do Presidente da República,
Coimbra Editora, 1991, p. 1 1 3.

1 14
115
CIÊNCIA POúTI
CA E DIREITO CONSTITUCIONAL
IDOS
CASOS PRÁTICOS RESOLV

Resolução

O direito de dissolução da Assembleia da República pelo Chefe de Estado,


Caso n. 38
0 é um poder que o Presidente da República detém, nos termos da alínea e) do
artigo 1 33.º da Constituição.
Este é, aliás, um dos poderes que o Chefe de Estado possui em regra
• Dissolução daAssembleia da República e dem nos sistemas de governo semipresidencialistas, modelo onde se enquadra 0
issão do Governo
sistema de governo português.
O Presidente da República discordand Em Portugal, o direito de dissolução é um poder real e autónomo do
o politicamente do
Governo, dissolve a Assembleia da Repúbli
ca sem a audição dos Presidente, ou seja, é urna faculdade que aquele titular dispõe sem qualquer
partidos nela representados e do Conselho
de Estado, no quarto mês dependência de outros órgãos políticos (Governo ou Assembleia).
posterior à eleição daquela, convoca eleições
caindo desta forma o Governo que dispõe
para uma nova AR, De facto, o poder de dissolução está apenas condicionado por limites
de maioria absoluta. de ordem temporal ou pela normalidade constitucional, a saber, a Assembleia
Face ao exposto, Fernando alega que o PR da República não pode ser dissolvida nos seis meses posteriores à sua eleição,
devia era ter demitido
o Primeiro-Ministro, ao invés de ter opt
ado pela dissolução. no último semestre do mandato do Presidente da República ou durante a
Não era essa, no entanto, a posição de Ter vigência do estado de sítio ou de emergência, como resulta do postulado no
esa Melo, defendendo
esta que uma vez que o Governo era n.º 1 do artigo 1 72.º da CRP.
maioritário teria sempre de
haver dissolução, razão pela qual o PR
meses, porque se assim não fosse, e com
deveria esperar mais dois Assim sendo, o Chefe de Estado não podia dissolver a Assembleia no
o actual quadro parlamentar, quarto mês posterior à sua eleição, pois estaria a violar o disposto no n.0 1 do
o novo governo seria a breve trecho
derrubado no Parlamento. artigo 1 72.º. Além do mais, devia ter ouvido os partidos nela representados e
Quid Juris ? o Conselho de Estado, o que não sucedeu, contrariando assim o plasmado na
alínea e) do artigo 1 33.º.
Fernando alega que o PR devia era ter demitido o Primeiro-Ministro.
De facto, e ao invés do que acontece com o poder de dissolução, o PR
pode sempre demitir o Primeiro-Ministro, não estando assim condicionado
por limites de ordem temporal.
Sucede, porém, que não obstante o poder de demissão do Primeiro­
-Ministro pelo Chefe de Estado não ter que obedecer a requisitos de ordem
temporal, apresenta-se este mais condicionado do que o poder de dissolução.
Na verdade, o Chefe de Estado só pode demitir o Governo quando tal
se tome necessário para assegurar o regular funcionamento das instituições
democráticas, de acordo com o imposto pelo n.º 2 do artigo 1 95.º.
Ora, no caso em apreço, fala-se em discordância política com o Governo,
o que não se enquadra na formulação do n.º 2 do artigo 1 95.º, pelo que se o

116
117
CIÊNCIA POúnCA E DIREITO CONSTITUC IONAi._ -
CASOS PRÁTICOS
RESOLVIDOS
-- ·

PR fundamentasse a demissão do Governo com esse argumentário estaria a


atentar contra o estribado no n.º 2 do artigo 195.º.
Estaria ainda a ir contra o exposto no n.º 1 do artigo 1 90.º, que refere
que o Governo é responsável perante o Presidente da República (este pode
demitir aquele), ou seja, está aqui consagrada uma responsabilidade imperfeita Caso n.0 39
e difusa <37), pois não confere ao PR o poder de livremente demitir o Governo
por razões de desconfiança política. • Discriminação positiva, quotas para senhoras e inconstitucio­
De igual modo, o n.º 1 do artigo 1 9 1 .º ao dispor que o Primeiro-Ministro nalidade por omissão
é responsável perante o Presidente da República, veicula uma responsabili­
dade directa daquele perante este (o PM pode ser demitido pelo PR), mas Foi aprovada na Assembleia da República uma lei que revogava
assegurando igualmente que aquele não pode ser demitido pelo PR por razões a obrigatoriedade de participação feminina, numa p entag
erc em de
políticas (nenhum destes preceitos utiliza a expressão responsabilidade política 33%, nas listas para a Assembleia da República, Parlame E u
nto ropeu
do PM perante o PR). e autarquias locais.
Em conclusão, a responsabilidade política do PM apenas opera perante Perante tal situação, Artur afirmava que estávamos perante
a Assembleia da República, tal como resulta do n.º 1 do artigo 191.º: "O uma inconstitucionalidade, visto que a Lei F undam
ental consagra
Primeiro-Ministro é responsável (.. ) no âmbito da responsabilidade política uma discriminação positiva face ao desempe nho de
cargos políticos
do Governo, perante a Assembleia da República". pelo sexo feminino.
Por seu turno, Teresa Melo argumenta correctamente ao mencionar e de que se
Na verdade, e pese embora o poder sempre alegar-s
que se tem que esperar dois meses para que o acto de dissolução pelo PR seja algumas senhoras
não fosse através da obrigatoriedade de quotas
constitucional (cumpridos assim os seis meses de eleição da AR, à luz do n.º 1 política, há que pri­
nunca chegariam a posições de destaque na vida
do artigo 1 72.º). vilegiar a participação feminina na actividade polít
ica.
Teresa Melo tem também razão quando afirma que se o Governo é maiori­ lá da vida
Com efeito, é o sexo feminino que, em regra, para fami1iar
tário tem que haver obrigatoriamente dissolução. profissional ainda tem a seu cargo um maior fard
o com a vida
Efectivamente, um Governo maioritário demitido sem alteração do quadro patibilizar estas exi­
e doméstica, pelo que dificilmente poderá com
parlamentar não seria um acto de grande utilidade, já que o normal seria que, e fins de semana".
gências com uma vida política "sem horários
a breve trecho, o partido ou partidos minoritários que formassem o novo Governo quanto mais não
Assim sendo, torna-se necessário estimular,
acabariam confrontados com uma moção de censura apresentada pelo partido inina na vida poli­
seja de uma forma transitória, a participação fem
maioritário, o que implicaria inevitavelmente a sua queda. tica de modo a assegurar o princípio da igualdad
e.

Quid Juris?

07l Cfr. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa


Anotada, 3.• edição revista, p. 752.

1 19
118

CASOS pRATICOS -
RESOLVIDOS
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTITUCIO�

Resolução

A partir do momento em que é revogada a lei que preceitua a obrigato­


riedade de participação feminina numa percentagem de 33% nas listas para a
Assembleia da República, Parlamento Europeu e autarquias locais, deixa de Caso n.0 40
haver urna norma que vai dar cumprimento ao disposto no artigo 109.º da
Constituição. • Revisão Constitucional e nomeação de titulares de órgãos
Este normativo constitucional consagra a participação directa e activa políticos
de homens e mulheres na vida política, dispondo no seu segundo segmento
stituição.
que a lei deve promover a igualdade no exercício dos direitos cívicos e po­ O Governo aprovou uma lei de revisão da Con
o de soberania pôr
líticos e a não discriminação em função do sexo no acesso a cargos políticos. Nes sa lei de revisão, pretendia a quele órgã
sideravam arbitrariedades
Neste segundo segmento está-se a concretizar uma tarefa fundamental termo àquilo a que os seus mentores con
do Estado, que consiste em promover a igualdade entre homens e mulheres autárquicas em m atéria de
planificação e construção, em grande parte
ico - clubes de futebol loca l
[cf. alínea h) do artigo 9.º], não sendo uma simples repetição do princípio resultantes da ass ociação poder autárqu
s, bem como à falta de sen­
geral da igualdade (cf. artigo 13.º) e de acesso a cargos políticos (n.0 1 do - construção civil - empre sas privilegiada
artigo 50.º), mas antes implicando a promoção de medidas tendentes a uma sibilidade estética de gr a
nde parte dos autarcas.
sibilidade do poder
igualdade efectiva. <38> F ace ao antecede nte , estipulava-se a pos
ãos autárquicos, designada­
Sendo assim, o artigo 109.º discrimina positivamente o sexo feminino central poder nomear os titulares dos órg
nicipais.
relativamente ao acesso a cargos políticos, ora, ao revogar-se a "lei das quotas" m ente os presidentes das câmaras mu
va ainda a possibilidade
e deixando-se um vazio no seu lugar, o legislador não está a dar cumprimento A supracitada lei de revis ão consagra nte
ao estabelecido no artigo 1 09.º, pelo que com o seu comportamento não está dos titulares dos órgãos das
regiões autónomas virem a ser igualme
ntes dos Governos Regionais,
a tomar exequível a norma constitucional e, consequentemente, a praticar uma nomeados, nomeadamente os Preside se poder escol her
inconstitucionalidade por omissão (artigo 283.0). na filosofia de só assim
ancorando-se a mesm a vista
e h abilit ado do ponto de
Em suma, Artur tem razão. p essoal político dotado de bom senso
técnico e intelectual.
motores entendiam i gual-
Por outro lado, porque os seus pro
minorar o populismo, o des­
m ente que só desta forma se poderia
licos .
pesismo e o sorvedouro de dinheiros púb per ante
entam que estamos
a) Maria, Fr ancisc a e Afonso sust
Juris?
várias inconstitucionalidades. Quid
r sido o Governo, tinha sido
b) Imagine agora que em ve z de te visão respeitando
a aprovar a lei de re
a Assembleia da República
e revis ão?
todos os requisitos de qualificação d
(JSJ Cfr. JORGE MIRANDA, Constituição Portugues a Anotada, Tomo 11, p. 246.

121
120
�IÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTTTUCIONAL
S
CASOS PRÁTICOS RESOLVIDO

Maria, Francisca e Afonso conti


nuam a sustentar que estamos Resolução
perante várias inconstitucionalida
des.
Quid Jur-is? a) Só a Assembleia da República pode rever a Constituição, como flui
do estabelecido na alínea a) do artigo 161.º e no n.º 1 do artigo 284.0 da Lei
Fundamental, competindo a iniciativa de revisão aos Deputados (cfr. n.º 1
do artigo 285.º).
Na realidade, uma das condições que tem que estar preenchida para se
efectuar a revisão constitucional é que esta tem que ser elaborada pelo órgão
competente. Ora, o órgão competente é a Assembleia da República, nunca o
Governo.
Temos então aqui uma inconstitucionalidade por violação do disposto
na alínea a) do artigo 16 1 .0 e n.º 1 do artigo 284.º.
Estamos, assim, perante a violação de um dos requisitos de qualificação
da revisão, sendo os outros a intenção de revisão, o tempo de revisão ou a
competência em razão do tempo, a normalidade constitucional e a maioria
de revisão <39l.
Assim sendo, o acto será juridicamente inexistente como lei de revisão
e como tal não deverá ser promulgado pelo Chefe de Estado, salientando-se
que o n.º 3 do artigo 286.º ao referir que o Presidente da República não po­
derá recusar a promulgação da lei de revisão, não impede, porém, a recusa
relativa a realidade que não preencha minimamente os requisitos de identifica­
bilidade como lei constitucional, em termos de implicar a inexistência jurídica <40),
como é precisamente o caso em apreço.
Ou seja, como nem sequer é uma lei de revisão o Presidente pode recusar
a promulgação.

b) A Assembleia da República é o órgão competente para aprovar a lei


de revisão como foi mencionado [cfr. alínea a) do artigo 161.º e n.º 1 do artigo
284.º), revestindo a lei de revisão a forma de lei constitucional (cfr. n.º 1 do
artigo 166.º).

<39> Cfr. JORGE MIRANDA, Manual de Direito Constitucional, Tomo Il, 4.ª edição, Coimbra
Editora, 2000, p.p. 173 e 1 74.
<40> Cfr. MARCELO REBELO DE SOUSA e JOSÉ DE MELO ALEXANDRINO, ob. cit., p.
431.

122
123
CIÊNCIA POÚTICA E DIREITO CONSTITUCIONAL_

O caso em questão indica-nos que foram cumpridos os requisitos de


qualificação de revisão, pelo que estamos perante uma lei de revisão constitu­
cional.
Todavia, as leis de revisão constitucional terão de respeitar os limites
materiais de revisão (cfr. artigo 288.º), sob pena de não se estar a rever a Cons­
tituição mas a fazer-se uma nova Constituição.
Sucede que na situação em causa tal não acontece, já que estão a ser
violados diversos limites materiais, a saber, o sufrágio universal, directo, secreto
e periódico na designação dos titulares electivos das regiões autónomas e do
poder local [ l .ª parte da alínea h) do artigo 288.º]; a autonomia das autarquias
locajs [alínea n) do artigo 288.º] e a autonomia político-administrativa dos
arqmpélagos dos Açores e da Madeira [alínea o) do artigo 288.º], visto que o
poder central está a nomear titulares de órgãos autárquicos e das regiões
HIPÓTESES
autónomas.

1 ?.d
Hipótese 1

• Princípio do Estado de Direito e excedentes

Com a data de publicação de 1 O de Outubro, foi elaborado um diploma


preceituando que os funcionários públicos considerados excedentes passariam
a auferir apenas 60% do seu vencimento.
Acresce que o mesmo acto normativo estipulava que lhes era igualmente
retirado o subsídio de almoço, visto que a natureza deste último pressupõe a
efectividade ao trabalho, o que agora não sucedia.
Sucede, porém, que o acto legislativo só foi colocado à disposição do
público, seja em suporte de papel, seja pela via electrónica, em Suplemento
do Diário da República de 6 de Dezembro.
Manuel Carvalho sentindo-se lesado nos seus direitos recorreu ao
Provedor de Justiça, reclamando dos descontos que lhe foram efectuados
nos vencimentos dos meses de Outubro e Novembro, bem como da supressão
do subsídio de almoço nesses dois meses.
À luz dos princípios constitucionais estruturantes da República Portu­
guesa, averigue da legitimidade da pretensão de Manuel Carvalho.

1 27
CIÊNCIA POúTIC A E DIREITO CONSTITU CIONAL
HIPÓTESES

Hipótese li
Hipótese Ili

• Princípio democrático e lei eleitoral • Princípio democrático e condução de veículos sob influência do álcool

Tendo em vista simplificar a vida política e facilitar a formação de Relativamente à proibição de condução de veículos por -indivíduos
maiorias estáveis no Parlamento, uma nova lei eleitoral para a Assembleia alcoolizados foi legislado, que o condutor que fosse detectado como estando
da República vem a consagrar a existência de 1 30 círculos uninominais, sob influência do álcool ficaria inibido de conduzir durante um período de
bem como 2 círculos plurinominais compostos por 25 Deputados cada. três meses a três anos.
Ana Valente, Jorge e José Manuel sustentavam numa aula que uma lei O impedimento cessaria antes, se o arguido através de exame por ele
com estes contornos é perfeitamente compaginável com a Lei Fundamental. solicitado comprovasse que não existia qualquer suspeita de álcool.
Em contrapartida, não era esse o entendimento defendido por Carolina Sucede que para poder beneficiar dessa contraprova, o interessado ao
Maria. requerê-la seria obrigado a entregar imediatamente ao agente da autoridade
Tome posição, analisando a eventualidade de possíveis inconstitucio­ a quantia de 200 euros.
nalidades, assim como o seu reflexo no défice do princípio democrático. Ante o exposto, Olívia, Armando e Maria Margarida afumam que
estamos perante uma inconstitucionalidade.
Pergunta-se:
a) Estão ou não a ser violados subprincípios concretizadores do Estado
de Direito democrático?
b) Em caso afirmativo, quais? Justifique a sua resposta.

128 129
CIÊNCIA POúnCA E DIRBTO CONSTITUCION AL HIPÓTESES

Hipótese IV Hipótese V

• Omissão das entidades públicas, escorregas e direito à vida • Direitos fundamentais de natureza análoga e subsídio de desemprego

Inês, filha de António e Marta, veio a falecer na sequência de graves Carolina, Maria, Celeste e Lurdes diziam numa aula prática que, em
lesões sofridas quando brincava num escorrega de um jardim público. sede de direitos fundamentais, a assistência material a conceder aos trabalha­
O acidente deveu-se ao facto de não só o escorrega ter uma altura de dores quando estes se encontrem em situação de desemprego, se integra nos
oito metros, como a zona de areia onde o mesmo se encontrava situado ser seus direitos económicos, sociais e culturais.
manifestamente insuficiente,já que Inês acabou por se precipitar no cimento Assim sendo, carece essa assistência de uma concretização política a
circundante. realizar mediante opções políticas dentro de um quadro limitado de meios
a) Ante o exposto, e atendendo à ausência de legislação nesse domínio, financeiros e materiais, visto que se trata de um direito "sob reserva do
o que poderia fazer o advogado de António e Marta? possível".
b) Imagine agora que em vez de se tratar do escorrega de um jardim Nesta medida, não terá a mesma uma realização imediata.
público, a mesma situação tinha ocorrido num condomínio privado. Por seu turno, Maria Helena e Manuel João sufragavam a posição con­
Poderia a defesa dos pais da vítima seguir a mesma linha de argumen­ trária, advogando que esta situação mereceria idêntico tratamento aos direitos,
tação, ou esta seria, eventualmente, diferente? liberdades e garantias.
Quid Juris?

130 131
CIÊNCIA POUTICA-E DIREITO CONSTITUCIONAL HIPÕTESES

Hipótese VI
Hipótese VII

• Princípio da igualdade e culto religioso • Liberdade de profissão e barbeiros da Eslováquia

A Igreja Maná pôs um anúncio num jornal exigindo corno requisito Suponha uma deliberação da Câmara Municipal do Porto, dispondo
para a contratação dos seus seguranças, que os mesmos professassem o que os cidadãos da Eslováquia não poderão exercer no referido concelho a
respectivo culto. profissão de barbeiros.
Anísio e Rui Afonso, que não professavam este culto, alegaram que ao Na realidade, era alegado que aqueles cidadãos não reúnem as condições
ser rejeitada a sua candidatura estava a ser violado o princípio da igualdade. higiénicas necessárias ao exercício daquela actividade.
QuidJuris? Ana Valente e Teresa Margarida afirmam que estamos perante uma
inconstitucionalidade.
Quid Juris?

� "'"' 133
CIÊNCIA POLITJCA E DIREITO CONSTITUCIONAL HIPÓTESES

Hipótese VIII Hipótese IX

• Liberdade de circulação e ciganos romenos • Colisão de direitos e touradas

Para fazer face a um surto de droga e criminalidade, a Câmara de Braga A lide de touros de morte foi durante muitos anos proibida em Portugal.
proibiu a fixação de residência e circulação no concelho aos indivíduos de No entanto, tal facto não impediu a realização em Barrancos de touradas
raça cigana oriundos da Roménia, com o fundamento de que a referida com a morte de touros na arena, sem qualquer intervenção das forças policiais.
comunidade nunca aceita qualquer tipo de trabalho, optando sempre pela Assim sendo, houve quem defendesse que a atitude das forças policiais
mendicidade como modo de vida, o que se traduz quase sempre na antecâmara e do Governo afiguraram-se como correctas ao não forçar a aplicação da lei
da delinquência. a qualquer preço.
Afonso e Francisca afirmam que estamos perante uma inconstitucio­ Na realidade, sabendo-se à partida do generalizado repúdio pelo cum­
nalidade. primento da lei por parte da população, o acatamento daquela exigiria o
QuidJuris? recurso à força o que poderia resultar na perda de vidas.
Acresce igualmente que, independentemente de se considerar o costume
como fonte de direito, havia ainda a relevar a existência de outros bens jurí­
dicos relacionados com uma alegada tradição cultural de Barrancos.
Por seu turno, argumentavam outros que, apesar de se estar perante
uma hipotética situação de colisão de direitos, era a própria autoridade do
Estado que estava a ser posta em causa, porquanto, e em primeiro lugar, era
a aplicação da lei do país que não estava a ser cumprida.
Tome partido, fundamentando a sua posição.

134 135
�IÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTITUCIONAL HIPÓTESES

Hipótese X Hipótese XI

• Apreciação parlamentar dos decretos-leis e funcionam ento do Conselho • Independência dos tribunais e televisão
E conónico e Social
Por forma a clarificar as dúvidas que se vierem a suscitar no âmbito
Ao abrigo duma autorização legislativa, o Governo, em 23 de Setembro, dos contratos celebrados pela RTP, o Governo instituiu a participação obriga­
legislou sobre matéria atinente à organização e funcionamento do Conselho tória de um tribunal arbitral, constituído por 3 peritos árbitros, dois dos quais
Económico Social, assim como à integração no mesmo órgão de represen­ designados pelo Secretário de Estado-Adjunto do Ministro da Presidência.
tantes de actividades culturais e artísticas. Ante o exposto, Rui Afonso, Teresa Melo e Fernando afirmavam que
Em 1 O de Outubro, a requerimento de 36 Deputados, a Assembleia da consubstanciando os poderes de tutela e intervenção do Governo na RTP um
República apreciou o decreto-lei, tendo apresentado várias propostas de eventual e compreensível interesse do Estado no modo de composição de
alteração. litígios, não estaria, assim, salvaguru:dada a necessária imparcialidade.
Pergunta-se: Quid Juris?
a) O Governo legislou no âmbito das suas competências? Em caso
afirmativo, haveria alguma inconstitucionalidade no respectivo acto legis­
lativo?
b) Qual foi o institutojurídico adaptado pela Assembleia da República?
e) Poderá a A.R. fazer alguma coisa até à publicação da lei que vier a
alterar o decreto-lei? Porquê?
d) Nessa hipótese, qual a forma do acto da A.R.?

136 137
CIÊNCIA POLinCA !:: DIREITO CONSTITUCIONAL HIPÓTESES

Hipótese XII Hipótese XIII

• Regime constitucional dos regulamentos e funcionamento de esplanadas • Rádio e serviço público

A assembleia municipal de Lisboa publicou uma postura, não indicando O Ministro que tem a seu cargo a tutela da comunicação social, alegando
a lei habilitante ao abrigo da qual a mesma terá sido editada. que a Antena dois da Rádio Difusão Portuguesa ao passar exclusivamente
Dispunha, nomeadamente, a supracitada postura: "é expressamente música erudita está apenas a dirigir-se a uma pequeníssima elite intelectual,
proibida a instalação e funcionamento de esplanadas depois das duas horas sustenta que aquela Estação de Rádio deverá ser profundamente reestruturada,
da manhã, sob pena de, independentemente da sua remoção, ser aplicada ao no sentido de vir a alcançar resultados equivalentes aos das emissoras pri­
transgressor uma coima que poderá ir de 5000 a 15000 euros". vadas.
Face ao antecedente, João Paulo, comerciante, é acusado de ter violado Com efeito, sustentava aquele membro do Governo, a Antena dois
a mencionada disposição, sendo, por isso, punido no respectivo processo de estaria muito longe do grande público, uma vez que níveis de audiência tão
contra-ordenação. baixos são uma vergonha face aos custos envolvidos.
Ante o exposto, Anabela e Joaquim afirma que se está perante uma Sendo assim, qualquer nova orientação da Antena dois da Rádio Difusão
inconstitucionalidade. Portuguesa passará necessária e obrigatoriamente por uma programação
a) Quid Juris? vocacionada para o gosto, formação, cultura e sensibilidade populares, assim
como das camadas mais jovens.
b) Atente, igualrnente, justificando a sua resposta, se a mencionada pos­
tura poderia ter sido objecto de fiscalização preventiva. Não era essa, no entanto, a opinião reiterada por Teresa Margarida e
Heman.
Quid Juris?

139
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTITUCIONAL
TESE::i
HJPô

Hipótese XIV
Hipótese XV

• Processo legislativo e Forças Armadas • Apreciação parlamentar dos decretos-leis e imóveis de interesse público

Com os votos favoráveis de 1 1 8 Deputados, 30 abstenções e 24 votos Em 9 de Setembro, o Governo legislou no sentido de uma maior
contra, legislou a Assembleia da República sobre matéria respeitante às Forças flexibilidade relativamente aos critérios de preservação das fachadas e
Armadas. interiores dos imóveis classificados de interesse público.
Não concordando com o conteúdo do referido decreto da Assembleia, Efectivamente, alegava aquele órgão de soberania, os organismos respon­
o Chefe de Estado exerceu o veto político. sáveis pelo reconhecimento da qualidade arquitectónica dos eclificios quase
A AR com os votos favoráveis de 116 Deputados, 28 abstenções e 26 sempre consagram a sua qualidade, razão pela qual é extremamente dificil
votos contra, e tentando ir de encontro a preocupações manifestadas pelo operar qualquer renovação.
PR
na mensagem que para o efeito este enviou à AR, consagrou algumas Não foi essa, no entanto, a posição da Assembleia da República, pois
das
suas sugestões. considerou que o Governo ao proceder desta maneira estava a manifestar
Ainda assim, o Chefe de Estado voltou a exercer o veto político, tendo grande incultura e insensibilidade e, em consequência, a contribuir desse modo
a AR com os votos favoráveis de 123 Deputados, 30 abstenções e 70 votos para a destruição do património cultural do país.
contra, reaprovado o decreto em causa.
Na verdade, acentuava ainda mais o caminho aberto ao arbítrio, aos cons­
QuidJuris? trutores civis sem qualquer formação cultural ou gosto e à nivelação por baixo,
bem ·como à uniformização estética por parte das grandes entidades econó-
micas e multinacionais.
Assim sendo, em 30 de Setembro, a AR, através de 22 Deputados,
requereu a cessação da vigência do supracitado diploma.
Nesse sentido, pronunciaram-se a favor 80 Deputados, 22 abstiveram-
-se e 83 votaram negativamente.
Quid Juris?

14 0
1 41
�ÊNCIA POLITICA E ºlREITO CONSTITUCIONAL HIPÓTESES

Hipótese XVI Hipótese XVII

• Declaração Universal dos Direitos do Homem e direito à imagem • Processo legislativo e prorrogação do mandato dos juízes do Tribu nal
Constitucional
Álvaro, fiscal da Carris, em consequência de ter sido autuado por trazer
a barba crescida, solicitou ao Provedor de Justiça que desencadeasse o pro­ Com os votos favoráveis de 1 19 Deputados, 25 contra e 30 abstenções,
cesso de inconstitucionalidade de uma disposição do regulamento de trans­ a Assembleia da República com vista a impedir que o Tribunal Constitucional
portes, que impõe ao pessoal que preste serviço nos veículos de transportes funcionasse com o seu elenco incompleto, estipulou a possibilidade de o
colectivos de passageiros, a obrigação de se apresentar devidamente unifor­ mandato dos juízes do TC poder ser excepcionalmente prorrogado por um
mizado e barbeado. período de três anos.
Face à situação supra-referenciada, discutia-se uma aula prática o n.º 2 Face ao exposto, o Presidente da República requereu a fiscalização pre-
do artigo 1 6.º da Constituição da República, que consagra que os preceitos ventiva.
constitucionais e legais relativos aos direitos fundamentais "devem ser inter­ a) Qual acha que teria sido a decisão do Tribunal Constitucional?
pretados de harmonia com a Declaração Universal dos Direitos do Homem". b) Presuma agora que o decreto da Assembleia tinha sido devolvido à
Opinava Francisco, que fazendo a DUDH parte da Constituição em AR pelo Chefe de Estado, e a A.R. o tinha confirmado por 126 votos a favor,
sentido formal, aplicar-se-ia imediatamente ao caso concreto. 35 contra e 28 abstenções.
Entendia Manuel Carvalho que um tal recurso à DUDH seria incompa­ Quid Juris?
tível com o carácter excepcional das restrições ao regime dos direitos, liber­ e) Imagine que o PR não promulgou o diploma.
dades e garantias. Quid Juris?
Tome parte na discussão, atendendo na sua resposta ao artigo 29.º da
Declaração Universal dos Direitos do Homem, que dispõe:
"1 - O indivíduo tem deveres para com a comunidade;
2 - No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém
está sujeito senão às limitações estabelecidas por lei com vista exclusivamente
a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros
e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do
bem estar numa sociedade democrática".

143
142
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTTTUCIONAL HIPÓTESES

Hipótese XVIII
Hipótese XIX

• Listas de espera nos hospitais, demissões e criticas • Processo legislativo e avaliação de desempenho

Por causa da situação caótica vigente nos diversos hospitais públicos, Com os votos favoráveis de 1 1 2 Deputados, 30 contra e 42 abstenções,
com os doentes em listas de espera de anos para poderem vir a ser submetidos a Assembleia da República legislou sobre a alteração à legislação laboral,
a intervenções cirúrgicas, imagine que o Presidente da República recentemente estipulando que todas as empresas seriam obrigadas a instituir sistemas de
eleito pediu directarnente contas ao Ministro da Saúde, tendo oito dias depois desempenho dos seus trabalhadores, por forma a que, num período de 3 anos,
procedido à sua demissão. 2 avaliações anuais inferiores a ''Muito Bom" constituiriam obrigatoriamente
Subsequentemente, e através de vários órgãos da comunicação social, motivo de despedimento.
o PR critica sistematicamente o Governo, assumindo-se, assim, como verda­ Requerida a fiscalização preventiva e tendo-se o Tribunal Constitucional
deiro chefe da oposição. pronunciado pela inconstitucionalidade, o decreto da Assembleia foi devol­
Por último, alegando o facto de a maioria que o acaba de eleger ser vido a este órgão pelo Chefe de Estado.
politicamente oposta ao Governo em funções, o PR recém-eleito vem a demitir A AR, com os votos favoráveis de 1 1 7 Deputados, 24 abstenções e 28
o Primeiro-Ministro, até porque, sustenta o Chefe de Estado, aquele tinha votos contra, preceituou então que, num período de 3 anos, 2 avaliações anuais
sido nomeado pelo Presidente da República anterior. inferiores a "Muito Bom", inviabilizariam qualquer progressão na carreira
Ante o exposto, Artur e Fernando alegam que estamos perante várias remuneratória para os próximos 15 anos, sem prejuízo dos aumentos salariais
inconstitucionalidades. anuais.
QuidJuris? Face ao antecedente, o PR exerceu o veto político.
Por sua vez, a AR com os votos favoráveis de 1 12 Deputados, 40
abstenções e 35 votos contra, veio a reaprovar o mesmo.
Quid Juris?

�AA 145
CIÊNCIA P_QlfnCA
E DIREITO CONSTITUCIONAL
HIPÓTESES

Hipótese XX
Hipótese XXI
• Processo legislativo e exc
lusividade de círculos uninomina
Autónoma da Madeira is na Região • Processo legislativo e círculos eleitorais

A Assembleia da República, por Em 1 2 de Outubro, a Assembleia da República aprovou com os votos


70 votos a favor, 22 abstenções
votos contra, aprovou um decret e 20 favoráveis de 1 20 Deputados, 1 8 abstenções e 22 votos contra, alterações ao
o em que os deputados da
Legislativa Regional da Madeira As sem bleia número de Deputados a eleger pelo círculo eleitoral de Lisboa.
passam a ser exclusivamente
círculos uninominais. eleitos por Resultava desse decreto, através de uma estudada operação de engenha­
Face a dúvidas suscitadas, o Presid ria eleitoral, que os dois principais partidos eram claramente beneficiados.
ente da República requereu
ciação do mesmo ao Tribunal Const a apre­ Decorria ainda do mesmo diploma, que os três partidos com alguma
itucional, tendo-se este pronun
inconstitucionalidade. ciado pela implantação em Lisboa ficavam praticamente sem representação.
Posteriormente, a AR reaprovou Face a dúvidas suscitadas, o Presidente da República solicitou em 26
o decreto em causa por 148 vo
favor, 45 contra e 25 abstençõe tos a de Outubro ao Tribunal Constitucional a fiscalização preventiva da constitu­
s, tendo seguidamente o Chefe
mensagem à AR solicitado um de Es tado em cionalidade do decreto da Assembleia, decreto esse que lhe tinha chegado
a nova apreciação do mesmo.
Por último, a AR pronunciou-se em 20 de Outubro para promulgação.
por 1 I 7 votos a favor, 20 contra
abstenções. e 35 Em 12 de Novembro, o TC veio a considerar o mesmo inconstitucional.
QuidJuris? Face ao sucedido, o PR devolveu-o à A.R. em 18 de Novembro, vindo
então este órgão legislativo a 1 O de Dezembro a suprimir as inconstitucio­
nalidades.
Sendo o decreto enviado para o Chefe de Estado em 1 7 de Dezembro,
o PR, em 20 do mesmo mês, voltou a devolvê-lo à A.R, por considerá-lo
ainda assim desnecessário e lesivo para vida democrática do país.
AA.R. reitera a sua posição em 7 de Janeiro, com os votos afirmativos
de 1 08 Deputados, 8 abstenções e 34 votos contra.
Face ao exposto, responda, fundamentadamente, às seguintes questões:
a) A Assembleia da República é o órgão competente para legislar?
b) O decreto da AR foi correctamente aprovado?
e) O Presidente da República requereu a fiscalização preventiva atem­
padamente?
d) Qual seria, em seu entender, a fundamentação invocada pelo Tnbunal
Constitucional?
e) Qual foi o mecanismo constitucional exercido pelo Chefe de Estado,
após o Tnbunal Constitucional se pronunciar pela inconstitucionalidade? Agiu

146
147
CIÊNCIA POLfnCA E DIREITO CONSTITUCIONAL
_ HIPÓTESES

o PR atempadamente? Subsequentemente, qual foi o procedimento adoptado Hipótese XXII


pela Assembleia da República?
f) Qual foi atitude do Chefe de Estado, após a Assembleia da República • Estado de sítio e fisc.alização da constitucionalidade de actos do chefe do
suprimir as inconstitucionalidades? Estado
Podia fazê-lo? E fê-lo atempadamente?
Sem audição do Governo e de autorização da Assembleia da República,
g) Por último, quais seriam as consequências da posição reiterada pela
o Chefe de Estado declarou o estado de sítio.
Assembleia da República?
Foi a mesma exercida em tempo útil? Em consequência, o Presidente da Assembleia da República requereu
ao Tribunal Constitucional a respectiva declaração de inconstitucionalidade.
Sucede que um assessor do TC veio a alegar que os actos da primeira
figura do Estado não são objecto de fiscalização da constitucionalidade, razão
pela qual o Tribunal Constitucional não era o órgão competente para apreciar
os actos do Presidente da República.
Maria, Francisca e Afonso afirmam o contrário.
Quid Juris?

148 149
CIÊNCIA PO�lnCA E DIREITO CONSTITUCIONAL
HIPÓTESES

Hipótese XXIII
Hipótese XXIV
• Referendo e taxa de televisão
• E nvio de contingentes militares e declaração de guerra
Encontrando-se o Chefe de Estado ausente do país, o Presidente da
Assembleia da República considerando-se Presidente da República interino, Maria afirmava que a participação de efectivos militares no âmbito
convocou, mediante proposta do Governo, um referendo para decidir da das operações da Nato durante a chamada "crise do Kosovo", deveria ter
reintrodução da taxa de televisão,já que esta afigurava-se como a única forma sido precedida de uma declaração de guerra do Presidente da República de
Portugal, sob proposta do Governo, ouvido o Conselho de Estado e mediante
de minorar os prejuízos da RTP.
autorização da Assembleia da República.
José Manuel e Manuel Carvalho alegam que aquele o não poderá fazer.
Sucede, porém, que tal não sucedeu.
Em contrapartida, não era essa a posição de Carolina e Rosa.
Não era essa, no entanto, a posição perfilhada por Cristina, já que,
QuidJuris? segundo esta, quem não estaria a cumprir os preceitos constitucionais eram a
AR e o Governo.
Efectivamente, alegava Cristina, o Governo decidiu unilateralmente o
envio de contingentes militares portugueses para a Jugoslávia, enquanto a
AR nada fez durante todo o desencadear da operação.
Por sua vez, João sustentava que o Governo procedeu bem, e que quer
o PR quer a AR, não teriam nada que se intrometer neste acto do Governo.
Quid Juris?

1 50
15
�IÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTITUCIONAL

Hipótese XX.V

• Direito Comunitário e Constituição

Manuel Carvalho e Carolina Maria afirmavam numa aula que, no futuro,


um eventual conflito entre o Direito Comunitário e a Constituição da Repú­
blica Portuguesa inauguraria uma querela de dificil resolução, porquanto
seria extremamente complexo determinar qual dos direitos prevaleceria sobre
o outro.
Por seu turno, Afonso sustentava que prevalecendo o Direito Comunitá­
rio sobre o Direito Constitucional a questão nem se colocaria, visto que a
"Constituição da República Portuguesa" não é mais uma Constituição sobe­
rana, afigurando-se praticamente como uma "Constituição regional", tal e
qual como as que existem nos estados federados. TESTES
Em contrapartida, a tese sufragada por Francisca ia no sentido de que
o Direito Comunitário nem sempre prevalecerá sobre a Lei Fundamental
Portuguesa, porquanto há que considerar o respeito pelos princípios funda­
mentais do Estado de direito democrático.
Quid Juris?

1 .<;?
Teste n.0 1

I
Caracterize:
Ciência Política, Política, Forma de Governo liberal e Forma de
Governo de Democracia Representativa. (3V)
II
Comente a seguinte afirmação:
Não há sistemas eleitorais perfeitos. (4V)
III
Caracterize e exemplifique:
Referendo, Plebiscito e tipos de Procedimento Constituinte. (3V)
IV
Comente a seguinte afirmação:
Uma das particularidades do Sistema de governo francês radica na
chamada coabitação. (6V)
V
Comente a seguinte afirmação:
O princípio do Estado de Direito em Portugal integra várias dimensões
essenciais e subprincípios constitucionais. (4V)

155
CIÊNCIA POúnCA E DIREITO CONSTITUCIONAL TESTES

Teste n.0 2 Teste n.0 3

I I
Comente a seguinte frase: Comente a seguinte afirmação:
Ao invés da Ciência Política, a Política é uma actividade eminentemente A política é uma actividade simultaneamente firme e humana. (4V)
de ordem prática e pragmática. (4V)
II
II Comente a seguinte afirmação:
Caracterize: Aristóteles é reconhecido como o fundador da Ciência Política. (3V)
Forma de Governo de Monarquia Absoluta, Forma de Governo Cesarista
e Forma de Governo de Democracia Representativa. (4V)
m
Caracterize e Distinga:
III Partidos Políticos e Grupos de Pressão. (3,SV)
Comente a seguinte frase:
IV
O poder constituinte não é um poder ilimitado. (3V)
Enuncie e especifique:
IV Características Formais da Constituição Portuguesa de 1 976. (3,SV)
Enuncie:
V
Originalidades, fontes Internas e Externas da Constituição Portuguesa
de 1 976. (3V) Comente a seguinte afirmação:
Uma das características essenciais do sistema político e constitucional
V norte-americano, centra-se no chamado sistema de freios e contrapesos. (6V)
Comente a seguinte afirmação:
Não obstante ter inúmeros poderes, o Primeiro-Ministro britânico está
limitado nalguns aspectos. (6V)

157
CIÊNCIA POLlTICA E DIREITO CONSTITUCIONAL
TESTES

Teste n.0 4
Teste n.0 5

I I
Relacione: Comente a seguinte afirmação:
O político, o interesse geral e os interesses particulares. (4V) A Influência de Locke e de Montesquieu para a história do constitu­
II cionalismo é enorme. (3V)
Comente: II
A razão de Estado e a amoralidade política em Maquiavel. (2V) Caracterize:
III Forma de Governo leninista, Forma de Governo fascista e Forma de
Relacione: Governo liberal. (3V)
Partidos políticos e ideologias políticas, esquerda e direita democrá­ III
ticas e esquerda e direita radicais. (4V) Comente a seguinte afirmação:
IV As chamadas leis de Duverger, que estabelecem a relação entre os
Comente a seguinte afirmação: sistemas eleitorais e os sistemas de partidos, devem ser entendidas de forma
meramente tendencial. (3V)
O Presidente Francês tem verdadeiros poderes executivos. (6V)
IV
V
Comente: Desenvolva o seguinte tema:
A História do Constitucionalismo Português está dividida em diversas O Primeiro-Ministro Britânico e o Presidente Americano: posição institu­
fases e sub-fases, não tendo sempre as várias Constituições vigências ininter cional, semelhanças e diferenças. (8V)
­
ruptas. (4V) V
Comente a seguinte afirmação:
A relação que se estabelece entre o princípio da socialidade e o não
retrocesso social não deve ser entendida de uma forma fundamentalista, até
porque há quem considere que a proibição do retrocesso social é uma formu­
lação algo rígida e datada. (3V)
CIÊNCIA POÚTICA E DIREITO CONSTITUCIONAL TESTES

Teste n.0 6 Teste n.0 7

I I
Caracterize: Distinga e caracterize:
Forma de Governo de Monarquia Limitada, Forma de Governo de Forma de Estado Unitário, Forma de Estado Composto e Sistema de
Democracia Jacobina e Sistema de Governo Parlamentar. (3V) Governo Presidencial. (3V)
II II
Comente a seguinte afirmação: Distinga e exemplifique:
São conhecidos vários sistemas de partidos. (3V) Sistema Eleitoral de Representação Maioritária a uma e duas voltas e
III Sistema Eleitoral de Representação Proporcional. (4V)
Desenvolva o seguinte tema: m
O Presidente Americano e Presidente Francês: posição institucional, Compare:
semelhanças e diferenças. (8V) A posição do Presidente Francês em situação de coabitação e em caso
IV de maioria governativa afim. (6V)
Caracterize e exemplifique: IV
Constituição em sentido instrumental, formal, material, rígida e fle­ Enuncie:
xível. (3V) Conceito do Poder Constituinte, características e titularidade. (3V)
V V
Relacione: Relacione e caracterize:
O Sistema eleitoral de representação proporcional, a proibição da cláu­ Império do Direito, protecção da confiança, segurança jurídica e prin­
sula - barreira e o Princípio Democrático na Constituição Portuguesa. (3V) cípio do Estado de Direito na Constituição Portuguesa. (4V)

160 161
CIÊNCIA POÚTICA � DIREITO CONSTITUCIONAL TESTES

Teste n.0 8
Teste n.0 9

I I
Caracterize: Comente a seguinte afirmação:
Estado Absoluto, Estado Constitucional e Estado Social de Direito. (4V) O grande estadista é, de certa forma, um criador. (4V)
II II
Caracterize e exemplifique: Caracterize:
Sistema de Governo Semi-Presidencial, Sistema de Bipartidarismo Sistema de Governo Parlamentar de Gabinete, Parlamentar de Assem­
Perfeito e Sistema de Multipartidarismo Imperfeito. (3V) bleia e Parlamentar Racionalizado. (3V)
III m
Caracterize e exemplifique: Distinga:
Os Sistemas Eleitorais Mistos equilibrados de predominância propor­ Sistema de Partido Liderante em regime ditatorial, Sistema de Partido
cional e de predominância maioritária. (3V) Liderante em "democracia de fachada" e Sistema de Partido Liderante em
IV regime democrático. (3V)
Caracterize: IV
As eleições primárias, os caucus e a eleição para o Presidente dos Comente as seguintes afirmações:
Estados Unidos. (5V) a) A Constituição Norte-Americana é de grande importância em termos
V históricos, assim como nos seus contributos para a Ciência Política e o Direito
Enuncie: Constitucional;
Principais linhas de força das várias revisões da Constituição Portu­ b) Pese embora ser integrada por alguns textos escritos, costuma afirmar­
guesa. (5V) -se que a Grã-Bretanha não tem nem uma Constituição escrita nem uma Consti­
tuição em sentido formal. (4V)
V
Comente a seguinte afirmação:
O Estado Constitucional Português é, actualmente, um Estado de
Direito, Democrático e Social. (6V)

162 1 63
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTITUCIONAL TESTES

Teste n.0 1 0 Teste n.0 1 1

I I
Caracterize: Compare:
Regime Político democrático, totalitário, monárquico e republicano. (3V) a) Sistema de governo orleanista e sistema de governo semipresiden­
cialista;
II
b) Elementos do Estado e fins do Estado. (4,SV)
Enuncie e caracterize:
Tipos de sufrágio e modos de selecção dos governantes. (3V) II
Comente a seguinte afirmação:
III
Os Grupos de Pressão têm um papel muito importante no sistema polí­
Compare:
tico e constitucional norte-americano. (3,SV)
Os poderes do Primeiro-Ministro Francês e os poderes do Primeiro­
-Ministro Britânico. (8V) III
Compare:
IV
Compare: Os poderes do Congresso norte-americano e os poderes do Parlamento
francês. (5V)
A actividade legislativa dos Parlamentos Norte-americano, Francês e
Britânico, assim como o direito de veto dos respectivos Chefes de Estado. IV
(3V) Caracterize:
Direito Constitucional, Constituição e Procedimento constituinte rela­
V
tivo à Constituição portuguesa de 1 976. (3V)
Compare:
O Processo de Revisão Constitucional na Grã-Bretanha, França e Estados V
Unidos, classificando as respectivas Constituições quanto ao modo de subsis­ Caracterize e exemplifique:
tência das suas normas. (3V) O Estado Social e o Princípio da socialidade na Constituição portuguesa.
(4V)

164 165
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTITU CIONAL TESTES

Teste n. 0 1 2 Teste n.0 1 3

I I
Comente a seguinte afirmação: Comente a seguinte afirmação:
A evolução histórica do Estado moderno tem sido significativa. (4,5V) Para além dos Estados Federais, existe ainda o parlamento bicameral
noutras formas de Estado. (4V)
II
Comente as seguintes afirmações: II
a) Os Partidos Políticos têm os seus antecedentes; Compare:
b) Os Partidos Políticos podem ser classificados quanto às suas origens O papel do Presidente do Senado Francês com o papel do Vice­
e tipos. (4V) -presidente dos Estados Unidos. (4V)
III III
Comente a seguinte afirmação: Caracterize:
Não obstante a Coroa Britânica ter imensos poderes, os mesmos não O federalismo norte-americano. (3,5V)
são reais. (4V) IV
IV Comente a seguinte afirmação:
Compare: O Princípio Democrático na Constituição da República Portuguesa é
O Bipartidarismo nos Estados Unidos e o bipartidarismo no Reino um princípio constitucional estruturante com múltiplas manifestações. (5V)
Unido. (3,5V) V
V Caracterize:
Compare: O Princípio da Unidade do Estado na Constituição da República Portu-
O papel do Supremo Tribunal Federal dos Estados Unidos com o papel guesa. (3,5V)
do Conselho Constitucional francês. (4V)
CIÊNCIA POLfnCA E DJREITO CONSTITUCIONAL TESTES

Teste n. 0 14 Teste n.º 1 5

I I
Comente a seguinte afirmação: Caracterize e relacione:
Os direitos, liberdades e garantias têm um carácter inalienável. (3,5V) Sistema eleitoral e sistema de partidos em Portugal desde 1 976. (4,5V)
II II
Comente a seguinte afirmação: Comente a seguinte afirmação:
Na Constituição portuguesa, há que considerar os denominados direitos No âmbito dos actos legislativos, ganham particular relevância os prin­
:fundamentais dispersos. (3,5V) cípios da tipicidade, paridade e superioridade. (3,5V)
III m
Comente a seguinte afirmação: Caracterize e relacione:
O direito à reserva da intimidade da vida privada no local de trabalho O controlo abstracto e concentrado pelo Tribunal Constitucional e os
reveste uma particular importância. (4V) efeitos temporais da declaração de inconstitucionalidade com força obrigatória
IV geral. (4V)
Caracterize: IV
A posição da Assembleia da República no sistema político e constitu­ Comente a seguinte afirmação:
cional português. (4,5V) Para haver uma revisão constitucional em Portugal é necessário que
V estejam preenchidos determinados requisitos de qualificação. (4V)
Comente a seguinte afirmação: V
O Tribunal Constitucional e os tribunais têm um papel central no sistema Comente a seguinte afirmação:
constitucional português. (4,5V) Em sede de revisão constitucional, a distinção entre limites materiais
de 1 .º grau e limites materiais de 2.0 grau é muito importante. (4V)

1 AA 11':0
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTITUCIONAL TESTES

Teste n.0 1 6 Teste n.0 17


I
I
Relacione: Enuncie e caracterize:
Traços estruturais dos Direitos, liberdades e garantias. (3V)
Princípio da Igualdade, direitos, liberdades e garantias e vinculatividade
para as entidades privadas (teses em confronto). (3,5V) II
Comente:
II
Em Portugal, o Presidente Português é árbitro, moderador e garante.
Comente a seguinte frase:
(5V)
O Sistema Constitucional Português contém vários mecanismos que
limitam os Governos de maioria absoluta. (3,5V) III
Enuncie e caracterize:
III
Princípios constitucionais que estabelecem a relação entre Leis e Regu­
Distinga, exemplificando:
lamentos. (2V)
Promulgação livre, Promulgação temporalmente vedada ou condicio­
nada, Promulgação vedada e Promulgação obrigatória. (4V) IV
Comente:
IV
A polémica em tomo dos limites materiais de revisão constitucional.
Enuncie:
(3V)
Objecto de Fiscalização da constitucionalidade no sistema português.
(3V) V
Com os votos favoráveis de 118 Deputados, 30 abstenções e 24 votos
V contra, legislou a Assembleia da República sobre as novas condições a que de­
Imagine que a Assembleia da República por 118 votos a favor, 60 contra verão obedecer os concursos públicos internacionais destinados à aquisição
e 20 abstenções aprovou um decreto, estipulando que o Estado não autorizará de submarinos para as Forças Armadas.
associações culturais cuja vocação seja a chamada cultura popular. Em mensagem enviada à AR, o Chefe de Estado solicitou nova apre­
O Presidente da República suscitou a apreciação deste decreto ao Tri­ ciação do decreto da Assembleia, tendo este órgão com os votos favoráveis
bunal Constitucional, tendo-se este órgão pronunciado pela inconstituciona­ de 1 20 Deputados, 30 abstenções e 40 votos contra, e indo em parte ao en­
lidade. contro das preocupações manifestadas pelo Presidente da República, aprovado
Subsequentemente, a AR reaprovou o decreto em causa por 120 votos procedimentos mais rigorosos no concernente à tramitação dos referidos
a favor, 40 contra e 1 O abstenções. (6V) concursos.
QuidJuris?
Ainda assim, o PR solicitou nova apreciação à AR, tendo este órgão
votado o diploma em causa por 123 votos a favor, 28 abstenções e 26 votos
contra. (7V)
QuidJuris?

171
CIÊNCIA POLITICA E E>IREITO CONSTITUCIONAL TESTES

Teste n.0 1 8 Teste n.0 19

I
I
Comente a seguinte afirmação:
Relacione, caracterize, exemplificando:
Os direitos fundamentais podem ser protegidos de várias formas. (3V)
Princípio da concordância prática e resolução de casos de colisão de
direitos fundamentais. (4V) II
Caracterize:
II
Objecto e Regime Jurídico das leis orgânicas. (3V)
Comente:
A Assembleia da República tem vários tipos de competências. (3V) m
Comente a seguinte afirmação:
m O nosso Sistema de fiscalização da constitucionalidade é misto. (4V)
Enuncie e caracterize:
Regime e natureza das autorizações legislativas. {3V) IV
Enuncie e caracterize:
IV
Requisitos de qualificação de Revisão constitucional. (3V)
Enuncie e caracterize:
Tipos de fiscalização da constitucionalidade em Portugal. (4V) V
Visando uma maior coerência com o sistema de governo semipresi­
V
dencialista e a independência dos juízes do Tribunal Constitucional relativa­
Imagine que a Assembleia da República por 132 votos a favor, 60 contra mente à Assembleia da República, este último órgão aprovou por 120 votos
e 1 2 abstenções, elaborou um decreto em que são estabelecidos os parâmetros a favor, 28 abstenções e 72 votos contra, a possibilidade do Presidente da
que passarão a reger a Federação Portuguesa de Andebol. República poder escolher 5 juízes para o Tribunal Constitucional.
O Presidente da República enviou o referido decreto para o Tribunal Face a dúvidas suscitadas, o PR requereu a apreciação do mesmo ao
Constitucional, tendo-se este órgão pronunciado pela inconstitucionalidade. TC, tendo-se este tribunal pronunciado pela inconstitucionalidade.
Subsequentemente, o mencionado decreto foi devolvido à Assembleia Posteriormente, a AR reaprovou o decreto por 128 votos a favor, 45
pelo Chefe de Estado. contra e 25 abstenções, determinando que em vez de 5 juízes escolhidos
AAR reaprovou o citado diploma por 150 votos a favor, 35 contra e 28 pelo PR seriam apenas 3.
abstenções.
Em consequência, o PR voltou a solicitar a intervenção do Tribunal
O PR não promulgou o diploma. (6V) Constitucional, tendo-se este orgão de soberania novamente se pronunciado
QuidJuris? pela inconstitucionalidade.
O PR devolveu o diploma à AR, ao que esta por 1 1 4 votos a favor, 20
contra e 35 abstenções aprovou o diploma. (7V)
Quid Juris?

'17'l
CIÊNCIA POúTICA E DIREITO CONSTITUCIONAL TESTES

Teste n.º 20 Teste n.0 2 1

I I
Enuncie e caracterize: Distinga quanto à natureza e regime jurídico:
Leis de valor reforçado. (3V) Direitos, liberdades e garantias e direitos económicos sociais e culturais.
(4V)
II
Caracterize: II
O Sistema de Governo português. (5V) Caracterize:
Tipos e regime juridico dos regulamentos governativos. (3V)
III
Comente a seguinte afirmação: m
Não obstante o regime regra ser a maioria relativa, há vários tipos de Comente a seguinte afirmação:
maiorias qualificadas ou agravadas previstas na Constituição. (3V) A Assembleia da República é o órgão legislativo por excelência. (3V)
IV IV
Comente a seguinte afirmação: Caracterize:
Há vários tipos de inconstitucionalidade. (3V) Regras do processo de revisão da Constituição portuguesa. (3V)
V V
Com os votos favoráveis de 1 1 8 Deputados, 30 abstenções e 24 votos Com os votos favoráveis de 1 19 Deputados, 25 contra e 30 abstenções,
contra, a Assembleia da República legislou no sentido do Presidente da a Assembleia da República legislou sobre a alteração ao período de exercício
República exonerar o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, dos juízes do Tribunal Constitucional, estipulando a possibilidade de os mesmos
ouvido o Conselho de Estado. poderem fazer dois mandatos de 9 anos.
Face a dúvidas suscitadas, o PR requereu a apreciação do mesmo ao Requerida a apreciação do decreto pelo Primeiro-Ministro e tendo-se
Tribunal Constitucional, tendo-se este órgão pronunciado pela inconstitucio­ o Tribunal Constitucional pronunciado pela inconstitucionalidade, o decreto
nalidade. da Assembleia foi devolvido à AR pelo Presidente da República.
Posteriormente, a AR reaprovou o decreto por 148 votos a favor, 40 AAR veio a confirmar o diploma por 1 30 votos a favor, 36 votos contra
contra e 23 abstenções. (6V) e 29 abstenções.
QuidJuris? O Chefe de Estado promulgou o diploma, tendo mais tarde o Provedor
de Justiça suscitado a fiscalização sucessiva abstracta. (7V)
Quidjuris?

1 7.11
CIÊNCIA POLITJ CA E DIREITO CONSTITUCIONAL TESTES

Teste n. 0 22 A AR veio a reiterar a sua posição com os votos afirmativos de 108


Deputados, 8 abstenções e 34 votos contra. (7V)
I QuidJuris?
Caracterize e exemplifique:
Regime jurídico dos direitos fundamentais de natureza análoga. (4V)
II
Caracterize:
Princípios relacionados com a posição jurídico-institucional do Go­
verno. (3V)
m
Comente a seguinte afirmação:
No plano formal, a Assembleia da República elabora uma série de
actos. (2V)
IV
Comente a seguinte afirmação:
Pese embora determinados actos serem excluídos da fiscalização da
constitucionalidade, isso não significa que os mesmos não possam vir a ser im­
pugnados. (4V)
V
A Assembleia da República aprovou, com os votos favoráveis de 1 20
Deputados, 1 8 abstenções e 22 votos contra, alterações à lei eleitoral, pondo
em causa critérios de proporcionalidade quanto à eleição dos Deputados pelo
círculo eleitoral de Coimbra.
Face a dúvidas suscitadas, o Presidente da República solicitou a apre­
ciação do decreto ao Tribunal Constitucional, tendo-se este pronunciado pela
inconstitucionalidade.
Posteriormente, o PR devolveu o diploma à AR, tendo esta suprimido
as inconstitucionalidades.
Sendo o decreto da Assembleia enviado para o PR, o Chefe de Estado
voltou a devolvê-lo à AR por ainda assim o considerar desnecessário e lesivo
para a vida democrática.

◄"7C
177
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTITUCIONAL TESTES

Teste n.º 23 Teste n.0 24

I I
Caracterize e refira: Comente a seguinte frase:
As fases do processo parlamentar legislativo comum, bem como os Em sede de direitos, liberdades e garantias, o direito à reserva da inti­
procedimentos possíveis da Assembleia da República após o veto político midade da vida privada e familiar ganha particular relevância. (3, 5V)
ou jurídico do Presidente da República. (5V) II
II Enuncie:
Caracterize e exemplifique: Quadro dos órgãos legislativos, actos legislativos e hierarquia das normas.
Tipos de competência legislativa do Governo, mandato livre e mandato (3,5V)
imperativo dos Deputados. (4V) III
III Caracterize e Distinga:
Caracterize: Veto político e veto jurídico do Presidente da República, veto político
Sistema de governo das regiões autónomas. (3V) e jurídico do Representante da República para as Regiões Autónomas e veto
resolutivo da Assembleia da República associado ao Instituto da apreciação
IV parlamentar dos decretos-leis . (3,5V)
Caracterize:
IV
O Referendo nacional face à Lei Fundamental: regime jurídico e Comente:
tramitação. (2V) As normas constitucionais dedicadas à garantia da Constituição regulam
V também a fiscalização de certas formas de legalidade. (3, 5V)
A o abrigo de uma autorização legislativa, o Governo, em 28 de V
Setembro, legislou sobre matéria atinente a organizações de moradores. O Governo aprovou um decreto, reduzindo para um terço o número de
Em 10 de Outubro, a requerimento de 38 Deputados, a Assembleia da deputados da Assembleia Legislativa da Madeira.
República com vista à elaboração de uma futura lei, apresentou várias Face a dúvidas suscitadas, o Presidente da República requereu a apre­
propostas de alteração. ciação do mesmo ao Tribunal Constitucional, tendo-se este órgão de soberania
Pergunta-se: pronunciado pela inconstitucionalidade.
a) O Governo legislou no âmbito das suas competências? Subsequentemente, o Governo fez uma proposta de lei à Assembleia
b) Poderá a Assembleia da República fazer alguma coisa até à publi­ da República exactamente com idêntico conteúdo.
cação da respectiva lei? Porquê?
Em consequência, o PR solicitou a apreciação preventiva do mesmo
e) Nesta última hipótese, qual a forma do acto da AR? ao Tribunal Constitucional, tendo-se este tribunal pronunciado pela inconsti­
d) Quais serão os efeitos do acto legislativo que a AR vier a aprovar? tucionalidade.
(6V)

170 1 7Çl
CIÊNCIA POúTJCA E DIREITO CONSTJTIJCIONAL
TESTES

O PR devolveu o diploma à AR, tendo esta reaprovado o decreto por Teste n.0 25
100 votos a favor, 30 contra e 28 abstenções.
Face ao antecedente, o PR promulgou o diploma. (6V) I
QuidJuris? Comente a seguinte afirmação:
O Instituto da apreciação parlamentar dos decretos-leis é uma das
formas de controlo do Governo pela Assembleia da República. (3V)
II
Comente a seguinte afirmação:
Os poderes dos juízes estão balizados por uma série de limites. (3V)
m
Caracterize:
Tipos de competências legislativas e regulamentares das Regiões
Autónomas. (4V)
IV
Distinga:
A inconstitucionalidade como invalidade, inexistência, ineficácia e
irregularidade. (4V)
V
Ao abrigo de urna autorização legislativa, o Governo legislou sobre
matéria atinente aos serviços sociais dos funcionários públicos.
O Presidente da República vetou o supracitado decreto, tendo em
consequência o Governo feito uma proposta de lei à Assembleia da República
exactamente nos mesmos termos.
Face ao antecedente, a AR aprovou o referido decreto por 140 votos a
favor, 25 abstenções e 14 votos contra.
Subsequentemente, o PR devolveu o diploma à AR em mensagem
fundamentada.
A AR nada fez. (6V)
Quid Juris?

1 80
181
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTITUCIONAL TESTES

Teste n.0 26 Teste n.0 27

I I
Defina: Comente a seguinte afirmação:
Em sede de direitos, liberdades e garantias, reserva de lei, princípio da Ainda que não seja como hoje a conhecemos, a consagração do princípio
proporcionalidade e princípio da autorização expressa para a restrição de da igualdade há muito que faz parte da tradição do direito constitucional
direitos, liberdades e garantias. (4V) comparado. (4V)
II II
Relacione: Relacione:
Estrangeiros e direitos fundamentais. (4V) Em sede de direitos fundamentais, diferenciação, discriminação juridi­
m camente inadmissível e discriminação positiva. (4V)
Relacione: m
Estado de necessidade constitucional e suspensão colectiva de Direitos, Comente a seguinte afirmação:
liberdades e garantias. {4V) Revestem particular importância os designados direitos fundamentais
IV
dos trabalhadores. (4V)
Comente a seguinte afirmação: IV
Em termos de direito constitucional comparado, os direitos sociais há Comente a seguinte afirmação:
muito que são contemplados. {4V) As liberdades de comunicação são tratadas de forma desenvolvida pela
V Constituição. (4V)
Comente a seguinte afirmação: V
Em termos de direito constitucional comparado, os direitos funda­ Comente a seguinte afirmação:
mentais há muito que são contemplados. {4V) Em termos de direito constitucional comparado, o direito de necessidade
do Estado é tratado de forma diversa. (4V)

1 82 1 83
CIÊNCIA POúTICA E; DIREITO CONSTITUCIONAL

Teste n.0 28

I
Comente a seguinte afirmação:
O princípio da igualdade é um princípio norteador da ordem constitu­
cional. (4V)
II
Distinga:
Colisão de direitos fundamentais e concorrência de direitos funda­
mentais. (4V)
m Anexo
Comente a seguinte afirmação:
O princípio da proibição da retroactividade das normas tem várias mani­
festações no texto constitucional. (4V)
IV
Relacione:
Estrangeiros e direitos políticos. (4V)
V
Comente a seguinte afirmação:
São conhecidas várias restrições ao exercício de direitos fundamen­
tais. (4V)

1 R4
Regimento da Assembleia da República n.º 1/2007 <1 >

A Assembleia da República, nos termos da alínea a) do artigo 175.º da Constituição, aprova


o seguinte:

REGIMENTO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

TÍTULO I
Deputados e grupos parlamentares

CAPÍTULO I
Deputados

SECÇÃO !
Mandato dos Deputados

ARTIG0 3.º
Perda do mandato
1 - A perda do mandato verifica-se:
a) Nos casos previstos no Estatuto dos Deputados;
b) Quando o Deputado não tome assento na Assembleia até à quarta reunião
ou deixe de comparecer a quatro reuniões do Plenário por cada sessão
legislativa, salvo motivo justificado.
( . . .)

Ct>Publicado no Diário da República, 1.• série, n.0 159, de 20 de Agosto de 2007.

1 87
CIÊNCIA POLITJCA E DIREITO CONSTITUCIONAL REGIMENTO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA N. o 1 /2007

SECÇÃO II CAPÍTULO II
Poderes Grupos parlamentares

ARTIGO 4.º ARTIG0 6.º


Poderes dos Deputados Constituição dos grupos parlamentares
1 - Constituem poderes dos Deputados, a exercer singular ou conjuntamente, 1 - Os Deputados eleitos por cada partido ou coligação de partidos podem
nos termos do Regimento, designadamente os seguintes: constituir-se em grupo parlamentar.
a) Apresentar projectos de revisão constitucional; ( ... )
b) Apresentar projectos de lei, de Regimento ou de resolução, designadamente
de referendo, e propostas de deliberação, e requerer o respectivo agenda­ ARTIGO ?.º
mento; Organização dos grupos parlamentares
e) Participar e intervir nos debates parlamentares, nos termos do Regimento;
1 - Cada grupo parlamentar estabelece livremente a sua organização.
d) Fazer perguntas ao Governo sobre quaisquer actos deste ou da Administração
Pública, salvo o disposto na lei em matéria de segredo de Estado; ( ...)
e) Requerer e obter do Governo ou dos órgãos de qualquer entidade pública os
elementos, informações e publicações oficiais que considerem úteis para o ARTIGO S.º
exercício do seu mandato; Poderes dos grupos parlamentares
j) Requerer a constituição de comissões parlamentares de inquérito; Constituem poderes de cada grupo parlamentar:
g) Apresentar propostas de alteração; a) Participar nas comissões parlamentares em função do número dos seus
h) Requerer a apreciação de decretos-lei para efeitos de cessação de vigência membros, indicando os seus representantes nelas;
ou de alteração; b) Determinar a ordem do dia de um certo número de reuniões plenárias, nos
i) Requerer a urgência do processamento de qualquer projecto ou proposta de termos do artigo 64.0;
lei ou de resolução ou de projecto de deliberação, bem como da apreciação e) Provocar, com a presença do Governo, a realização de debates de urgência,
de qualquer decreto-lei para efeitos de cessação de vigência ou de alteração; nos termos do artigo 74.º;
j) Apresentar moções de censura ao Governo; d) Provocar, por meio de interpelação ao Governo, a realização de dois debates
/) Participar nas discussões e votações; em cada sessão legislativa sobre assunto de política geral ou sectorial;
m) Propor a constituição de comissões parlamentares eventuais; e) Provocar a realização de debates de actualidade, nos termos do artigo 72.0;
n) Propor a realização de audições parlamentares; j) Exercer iniciativa legislativa;
o) Requerer ao Tribunal Constitucional a fiscalização da constitucionalidade e g) Apresentar moções de rejeição ao programa do Governo;
da legalidade de normas nos termos dos artigos 278.º e 2 8 1 .º da Constituição; h) Apresentar moções de censura ao Governo;
p) Interpor recurso para o Tribunal Constitucional da deliberação do Plenário i) Requerer a constituição de comissões parlamentares de inquérito;
da Assembleia que confirma a declaração de perda de mandato, ou a declara, j) Produzir declarações de voto orais após cada votação final global, nos termos
nos termos da alínea g) do n.º 2 do artigo 223.º da Constituição e da lei. do artigo 1 55.º.
2 - Para o regular exercício do seu mandato constituem poderes dos Deputados:
a) Tomar lugar nas salas do Plenário e das comissões parlamentares e usar da
palavra nos termos do Regimento; ARTIGO 9.º
b) Desempenhar funções específicas na Assembleia; Direitos dos grupos parlamentares
e) Propor alterações ao Regimento . Constituem direitos de cada grupo parlamentar:
a) Eleger a sua direcção e determinar a sua organização e regulamento internos;
b) Escolher a presidência de comissões parlamentares e subcomissões, nos
termos dos artigos 29.0 e 33.º;

188 1 89
CIÊNCIA POLITICA E El!REITO CONSTITU CIONAL REGIMENTO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA N.º 1/2007

e) Ser ouvido na fixação da ordem do dia e interpor recurso para o Plenário da ARTIGO 14.º
ordem do dia fixada; Mandato do Presidente da Assembleia
d) Solicitar à Comissão Permanente a convocação do Plenário; 1 - O Presidente da Assembleia é eleito por legislatura.
e) Produzir declarações políticas em Plenário, nos termos do artigo 71 .º; ( ... )
j) Requerer a interrupção da reunião plenária, nos termos do artigo 69.º;
g) Ser informado, regular e directamente, pelo Governo, sobre o andamento
dos principais assuntos de interesse público;
h) Dispor de locais de trabalho na sede da Assembleia, bem corno de pessoal DIVISÃO II
técnico e administrativo da sua confiança, nos termos da lei. Competência do Presidente da Assembleia

ARTIGO 16.º
TÍTULO II Competência quanto aos trabalhos da Assembleia
Organização da Assembleia 1 - Compete ao Presidente da Assembleia quanto aos trabalhos da Assembleia
da República:
a) Representar a Assembleia e presidir à Mesa;
CAPÍTULO I b) Marcar as reuniões plenárias e fixar a ordem do dia de harmonia com o dis­
Presidente da Mesa posto nos artigos 59. 0 e seguintes;
e) Admitir ou rejeitar os projectos e as propostas de lei ou de resolução, os
SECÇÃO ! projectos de deliberação e os requerimentos, verificada a sua regularidade
Presidente regimental, sem prejuízo do direito de recurso para a Assembleia;
d) Submeter às comissões parlamentares competentes, para efeito de apreciação,
o texto dos projectos ou propostas de lei e dos tratados ou acordos, indicando,
DIVISÃO I se o tema respeitar a várias, qual de entre elas é responsável pela preparação
Estatuto e eleição do parecer referido no n.º 1 do artigo 129.º, cabendo à outra ou outras habilitar
aquela com os respectivos contributos;
e) Promover a constituição das comissões parlamentares, acompanhar e incen­
tivar os respectivos trabalhos e velar pelo cumprimento dos prazos que lhes
ARTIGO 13.º forem fixados pela Assembleia;
Eleição do Presidente da Assembleia j) Promover a constituição das delegações parlamentares, acompanhar e incen­
tivar os respectivos trabalhos e velar para que contribuam para a visibilidade
1 - As candidaturas para Presidente da Assembleia da República devem ser
externa e para o prestígio da Assembleia e do País;
subscritas por um mínimo de um décimo e um máximo de um quinto do número de
Deputados. g) Dinamizar a constituição dos grupos parlamentares de amizade, das comis­
( .. . ) sões mistas interparlarnentares e de outros organismos que se ocupem do
4 - É eleito Presidente da Assembleia o candidato que obtiver a maioria absoluta diálogo da Assembleia com os países amigos de Portugal, acompanhar e
dos votos dos Deputados em efectividade de funções. incentivar os respectivos trabalhos e velar pelo cumprimento dos regula­
mentos sobre a matéria;
5 - Se nenhum dos candidatos obtiver esse número de votos, procede-se imedia­
tamente a segundo sufrágio, ao qual concorrem apenas os dois candidatos mais votados h) Convocar os presidentes das comissões parlamentares e das subcomissões
que não tenham retirado a candidatura. para se in�eirar dos respectivos trabalhos;
i) Receber e encaminhar para as comissões parlamentares competentes as repre­
6 - Se nenhum candidato for eleito, é reaberto o processo . sentações ou petições dirigidas à Assembleia;
j) Propor suspensões do funcionamento efectivo da Assembleia;

A r, .(
N.º 1 /2007
CIÊNCIA POúTICA REGIMENTO DA ASSEMBLEIA-DA REPÚBLICA --
E DIREITO CONSTITUCIONAL

essário para a boa con­


/) Presidir à Comissão Permanente; de conceder a palavra a D eputado s, sempre que tal se tome nec
m) Presidir à Conferência de Líderes; dução dos trabalho s.
o ple'!}ária cabe
n) Presidir à Conferência dos Presidentes das C omissões Parlamentares; 3 - Das decisões do Presidente da Assembleia tomadas em reuniã
sempre reclamação, bem como recurso para o Plená ri o .
o) Pedir parecer à comissão parlamentar competente sobre conflitos de c ompe­
tências entre comissões parlamentares;
p) Mandar publicar no Diário da República as resoluções da Assembleia, nos ARTIGO 18.º
termos do n.º 6 do artigo 166 .º da Constituição; Competência quanto aos Deputados
s:
q) Manter a ordem e a disciplina, bem como a segurança da Assemblei a, Compete ao Presidente da Assembleia quanto aos Deputado
podendo para isso requisitar e usar os meios necessários e tomar as medidas a) Julgar as justificações das faltas dos D e putados às reuniõe s plenárias, nos
que entender conveni entes; termos do artigo 3 .
0
;

r) Ordenar rectificações no Diári o; os do Estatuto dos


b) Deferir os pedidos de substituição temporária, n os term
s) Apreciar a regularidade das candidaturas apresentadas por Deputados para Deputados;
to;
cargos electivos, bem como anunciar os resultados da eleição e proclamar e) Receber e mandar public ar as declarações de renúncia ao manda
os candidatos eleitos; entar comp tente as diligê ncias
d) Promover junto da c omissão parlam e
t) Superintender o pessoal ao serviço da Assembleia; necessárias à verificaç ão de poderes d o s Deputados:
os pel os Deputa-
u) Em geral, assegurar o cumprimento do Regimento e das deliberações da e) Dar seguimento aos requerimentos e perguntas apresentad
Assembleia. dos, nos term os do artig o 4. ;
0

2 - Compete ao Presidente da Assembleia, ouvida a C onferência de Líderes: j) Autorizar as deslocações de carácter oficial.
a) Promover a criação de gabinetes de atendimento aos eleitores a funcionar
nos círculos eleitorais;
b) Estabel ecer protoc olos de acordo e de assistência com as universidades; ARTIGO 19.º
e) Superintender o portal da Assembleia da República na Internet e o Canal Competência relativamente a outros órgãos
e a outros órgãos:
Parlamento; Compete ao Presidente da Assembleia relativament
d) Convidar, a título excepcional, individualidades nacionais e estrangeiras a a) Enviar ao Presidente da República, para o
s efeitos da alínea b) do artigo
ia da República;
tomar lugar na sala das reuniões plenárias e a usar da palavra. 134.º da Constituição, os decretos da Assemble
os efeitos da alínea b) do artig
o
3 - O Presidente da Assembl eia pode delegar n os Vice-Presidentes o exercíci o b) Enviar ao Presidente da República, para is d aprovados;
ais, depo
135 .0 da Constituição, os tratados internacion
e
dos seus poderes e competências, por despacho publicado no Diário .
f itos pr visto s no artig o 195.0 da C onstituição , ao
e) Comunicar, para os e e e
istro os resultados das votações
Presidente da República e ao Primeiro-Min es
erno, bem como sobre moçõ
ARTIGO 17.º sobre moções de rejeição do programa do Gov
Competência quanto às reuniões plenárias de confiança e de censura ao Governo;
uniões plenárias em que os seus
1 - Compete ao Presidente da Assembleia quanto às reuniões plenárias: d) Marcar, de acordo com o Governo , as re rguntas e pedidos de esclare-
pe
a) Presidir às reuniões plenárias, declarar a sua abertura, suspensão e encer­ membros estão presentes para responder a
ramento, e dirigir os respectivo s trabalhos; cimento dos Deputados;
e da Assembleia;
b) Conceder a palavra aos Deputados e aos membros do Governo e assegurar e) Assinar os documentos expedidos em nom
a ordem dos debates; j) Chefi ar as delegações da Assembleia
de que faça parte .
e) Dar oportuno conhecimento à Assembl eia das mensagens, informações,
explicações e convites que lhe sejam dirigidos;
d) Pôr à discussão e votação as propostas e os requerimentos admitidos.
2 - O Presidente da Assembleia pode pedir esclarecimentos e tomar a iniciativa

193
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CIÊNCIA POLITICA E !:>IREITO CONSTITUCIONAL
REGIMENTO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA N.º 1/2007

TÍTULO III ARTIGO S8.0


Funcionamento Quórum
1- A Assembl eia da Repúblicasó pode funcionar em reunião plenária com a
presença de , pelo menos , um quinto do número de Deputados em efectividade de
CAPÍTULO I funções.
Regras gerais de funcionamento 2 - As deliberações do Plenário s ão tomadas com a presença de mais de metade
dos seus membros em e fectividade de funçõe s .
( . . .)
ARTIGO 53.0
Trabalhos parlamentares
1 - São cons iderados trabalho s parlamentare s as reuniões do Plenário,
da Comis­
são Perman ente da Assemble ia, das comissões p arl amentare s. das subc
omis sões , dos
grupos de trabalho cri ados no âmbito das comissões parl ame ntares, do CAPÍTULO Il
s grupos p arla­
mentare s, da Conferência de Líderes, da Conferênc ia dos Presidentes Organização dos trabalhos e ordem do dia
das Comi ssões
Parlamentares e das delegações parlamentares .
2 - É, ainda, cons iderado trabalho parlamentar:
a) A participação de Deputados em reuniõ es de organizações
internac ionais ;
b) As jornadas parlamentares . promovidas pe los grupos parlam
entares ; ARTIGO 62.º
e) As demai s reun iões convocadas pelo Pre si dente da A
ssembleia; Prioridades das matérias a atender na fixação da ordem do dia
d) As reuniões dos grupos parlamentares de preparação da leg is
latura, realizadas 1 - Na fixação da ordem do dia, o Presidente da Assembleia respeita as prioridades
entre as ele ições e a primeira reun ião da
Assembleia. e precedências fixadas nos s eguinte s números .
(...)
2 - Constituem matérias de prioridade absoluta:
a) Autorização ao Pres idente da República para declarar a guerra e fazer a paz;
b) Autorização e c onfirmação da declaração do e stado de sítio e do estado de
emergênc ia, nos termos da a línea /) do artigo 161.º da Constituição , e aprecia­

ARTIGO 57.º ção da sua aplicação no s termos da alínea b) do artigo 162 .º da Constituição;
Organização e funcionamento dos trabalhos parlamentares e) Apreciação do programa do Gov erno;
( . . .) d) Votação de moções de confiança ou d e censura ao Governo;
4 - As reuniões pl enárias têm lugar nas tardes
de quarta-feira e quinta-feira e na e) Aprovação das l ei s das grandes opções dos plano s n acionais e do Orçamento
manhã de sexta-feira. do E stado;
5 - As reuniões plenári as inic iam-se às I O hor f) Debates sobre po lít ica g eral provocados por ínterpelação ao Governo, no s
as, s e tive rem lugar de manhã, e às
1 5 horas, se tiverem lugar à tarde termos da alínea d) do n.º 2 do artigo 1 80.º da Constituição.
.
6 - As reuniões das c omissõe s parlamenta 3 - Constitu em matérias de prioridade relativa:
res têm lugar à terça-feira e na parte
da manhã de quarta-feira, a) Reapreciação em caso de veto do Presidente da Repúbl ica, nos casos do
e , s endo necessário, na parte da tarde de quarta-feir de
quinta-feira e de sexta-fei ra, após fina a,
o l das reuniões plenárias . artigo 136 . º da Constituição ;
7 - H avendo conveniênc ia para os traba b) Aprovação de lei s e tratados sob re matérias que constituam reserva absoluta
da Assembleia, as co
lho s . mediante autorização do Pres idente
missões parl amentares podem reunir em qualquer local do território de compe tência legis lativa da As sembl eia da República;
nacional , bem corno aos sábados , d União
omingos e feri ados . e) Aprec ia.,_ão da participação de Portugal no processo de construção da
8 - O contacto dos D eputados com os Europ e ia;
e le itores ocorre à s egunda-feira.
lizar
9 -A manhã de quinta-feira é reservada para
as reuniões dos grupos parlamentares . d) Autorização ao Governo para contrair e conceder empréstimos e rea
m de dívid flutuan e, ta l ecer
( ...) outras operaçõe s de crédito que não s eja a t e e s be

o limite máximo dos avales a con ced er em cad a ano pel o Governo;
1 0A
195
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSffiUCIONAL REGIMENTO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA N.º 1/2007

e) Apreciação das contas do E stado e das demais entidades públicas que a lei mentares ou o Governo podem propor, à Conferência de Líderes, a realização de um
determinar; debate sobre um tema específico.
j) Apreciação de decretos-leis aprovados no uso de autorização legislativa; ( .. .)
g) Debate e votação dos estatutos político-administrativos das regiões autónomas;
h) Concessão de amnistias e perdões genéricos; ARTIGO 74.º
i) Aprovação de leis e tratados sobre matérias que constituam reserva relativa Debates de urgência
da competência legislativa da Assembleia da República; 1 - Os grupos parlamentares e o Governo podem requerer fundamentadamente
j) Apreciação dos relatórios de execução anuais e finais dos planos; ao Presidente da Assembleia a realização de debates de urgência.
/) Apreciação de decretos-leis; ( .. .)
m) Aprovação de leis e tratados sobre as restantes matérias .
( . . .)
ARTIGO 75.º
Emissão de votos
1 - Os votos de congratulação, protesto, condenação, saudação ou pesar podem
ser propostos pelos Deputados, pelos grupos parlamentares ou pela Mesa.
(.. .)
CAPÍTULO III
Reuniões plenárias
SECÇÃO II
Uso da palavra
SECÇÃO I
Realização das reuniões
ARTIGO 76.º
Uso da palavra pelos Deputados
1 - A palavra é concedida aos Deputados para:
a) Fazer declarações políticas;
ARTIGO 7 1 .º b) Apresentar projectos de lei, de resolução ou de deliberação;
Declarações políticas e) Exercer o direito de defesa, nos casos previstos nos artigos 2 .0 e 3.0;
1 - Cada grupo parlamentar tem direito a produzir, semanalmente, uma declaração d) Participar nos debates;
política com a duração máxima de seis minutos. e) Fazer perguntas ao Governo sobre quaisquer actos deste ou da Administração
( .. .) Pública;
J) Invocar o Regimento ou interpelar a Mesa;
g) Fazer requerimentos;
ARTIGO 72.º
h) Formular ou responder a pedidos de esclarecimento;
Debate de actualidade
1 - Em cada quinzena pode realizar-se um debate de actualidade a requerimento i) Reagir contra ofensas à honra ou consideração ou dar explicações nos termos
potestativo de um grupo parlamentar. do artigo 84.0;
j) Interpor recursos:
( . . .)
l) Fazer protestos e contraprotestos;
m) Produzir declarações de voto.
ARTIGO 73. 0 2 - Sem preju:zo do que se dispõe do número anterior, cada Deputado tem
direito a produzir uma inter enção por cada sessão legislativa, pelo período máximo
v
Debate temático
1 - O Presidente da Assembleia, as comissões parlamentares, os grupos parla- de 1 O minutos, não contabilizável nos tempos do seu grupo parlamentar.
( ...)

� na 1 97
CIÊNCIA POLITJCA E DIREITO CONSTITUCIONAL REGIMENTO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA N.º 1/2007

ARTIGO 98.º
Votação nominal e votação sujeita a contagem
1 - A requerimento de um décimo dos Deputados, a votação é nominal quando
SECÇÃO III incida sobre as seguintes matérias:
Deliberações e votações a) Autorização para declarar a guerra e para fazer a paz;
b) Autorização e confirmação da declaração do estado de sítio ou de estado de
ARTIGO 92.º emergência;
Requisitos e condições da votação e) Acusação do Presidente da República;
1 - As deliberações são tomadas à pluralidade de votos, com a presença da maioria d) Concessão de amnistias ou perdões genéricos;
legal de Deputados em efectividade de funções, previamente verificada por recurso e) Reapreciação de decretos ou resoluções sobre os quais tenha sido emitido
ao mecanismo electrónico de voto e anunciada pela Mesa, salvo nos casos especialmente veto presidencial .
previstos na Constituição ou no Regimento. 2 - Pode ainda ter lugar votação nominal sobre quaisquer outras matérias, se a
2 - As abstenções não contam para o apuramento da maioria. Assembleia ou a Conferência de Líderes assim o deliberarem .
( . . .) 3 - A votação nominal é feita por chamada dos Deputados, segundo a ordem
alfabética, sendo a expressão do voto também registada por meio electrónico.
ARTTGO 93.º ( ... )
Voto
1 - Cada Deputado tem um voto. ARTIGO 99.º
Empate na votação
2 - Nenhum Deputado presente pode deixar de votar sem prejuízo do direito de
abstenção. 1 - Quando a votação produza empate, a matéria sobre a qual ela tiver recaído
3 - Não é admitido o voto por procuração ou por correspondência. entra de novo em discussão.
4 - O Presidente da Assembleia só exerce o direito de voto quando assim o 2 - Se o empate se tiver dado em votação não precedida de discussão, por não
entender. ter sido pedida a palavra, a votação repete-se na reunião imediata, com possibilidade
de discussão .
3 - O empate na segunda votação equivale a rejeição .
ARTIGO 94.º
Forma das votações
1 - As votações são realizadas pelas seguintes formas: CAPÍTULO IV
a) Por levantados e sentados, que constitui a forma usual de votar; Reuniões das comissões parlamentares
b) Por recurso ao voto electrónico;
e) Por votação nominal;
d) Por escrutínio secreto.
( . . .) ARTIGO 1 02.º
Participação de membros do Governo e outras entidades
1 - Os membros do Governo podem participar nos trabalhos das comissões
parlamentares a solicitação destas ou por sua iniciativa.
ARTIGO 97.º 2 -As comissões parlamentares podem solicitar a participação nos seus trabalhos
Escrutínio secreto de quaisquer cidadãos, e designadamente:
Fazem-se por escrutínio secreto: a) Dirigentes e funcionários da administração directa do Estado;
a) As eleições; b) Dirigentes, funcionários e contratados da administração indirecta do Estado
b) As deliberações que, segundo o Regimento ou o Estatuto dos Deputados, e do seccor empresarial do Estado.
devam observar essa forma . 3 - As comissões parlamentares podem admitir a participação nos seus trabalhos

1 QA 1%

CIÊNCIA POÚTICA E DIREITO CONSTITUCIONAL REGIMENTO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA N.º 1/2007

das entidades referidas na alínea a) do número anterior, desde que autorizadas pelos 2 - As comissões parlamentares podem, excepcionalmente, reunir à porta fechada,
respectivos ministros. quando o carácter reservado das matérias a tratar o justifique.
( ...)

ARTIGO 1 03.º
Poderes das comissões parlamentares ARTIGO 112.º
1 - As comissões parlamentares podem requerer ou proceder a quaisquer dili- Diário da Assembleia da República
gências necessárias ao bom exercício das suas funções, nomeadamente: 1 - O jornal oficial da Assembleia é o Diário da Assembleia da República.
a) Proceder a estudos; 2 - A Assembleia aprova através de resolução, designadamente, a organização
b) Requerer informações ou pareceres; do Diário, o seu conteúdo, a sua elaboração e o respectivo índice.
e) Solicitar depoimentos de quaisquer cidadãos; 3 - As séries do Diário são publicadas integralmente no portal da Assembleia da
d) Realizar audições parlamentares; República na Internet.
e) Requisitar e contratar especialistas para as coadjuvar nos seus trabalhos;
j) Efectuar missões de informação ou de estudo .
( .. .)

ARTIGO 104.0 TÍTULO IV


Audições parlamentares Formas de processo
1 - AAssembleia da República pode realizar audições parlamentares, individuais
ou colectivas, que têm lugar nas comissões parlamentares por deliberação das mesmas.
2 - Os ministros devem ser ouvidos em audição pelas respectivas comissões parla­ CAPÍTULO I
mentares pelo menos quatro vezes por cada sessão legislativa, de acordo com o calen­ Processo legislativo
dário fixado até à primeira semana da respectiva sessão legislativa, em Conferência
de Líderes.
3 - Qualquer das entidades referidas no artigo 102.º pode ser ouvida em audição SECÇÀO I
parlamentar. Processo legislativo comum
(.. .)
DIVISÃO I
Iniciativa

CAPÍTULO V
Publicidade dos trabalhos e actos da Assembleia
ARTIGO 120.0
Limites da iniciativa
SECÇÃO ! 1 - Não são admitidos projectos e propostas de lei ou propostas de alteração
Publicidade dos trabalhos da Assembleia que:
a) Infrinjam a Constituição ou os princípios nela consignados;
ARTIGO 1 1 0.º b) Não definam concretamente o sentido das modificações a introduzir na ordem
Publicidade das reuniões legislativa.
1 - As reuniões plenárias e das comissões parlamentares são públicas. (...)
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTITUCIONAL REGIMENTO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA N.º 1/2007

ARTIGO 1 3 1 .º
Nota técnica
1 - Os serviços da Assembleia elaboram uma nota técnica para cada um dos
ARTIGO 123.º projectos e propostas de lei.
Exercício da iniciativa 2 - Sempre que possível, a nota técnica deve conter, designadamente:
1 - Nenhum projecto de lei pode ser subscrito por mais de 20 Deputados. a) Uma análise da conformjdade dos requisitos formais, constitucionais e
(.. .) regimentais previstos;
b) Um enquadramento legal e doutrinário do tema, incluindo no plano europeu
e internacional;
ARTIGO 124.0 e) A indicação de outras iruciativas pendentes, nacionais e comunitárias, sobre
Requisitos formais dos projectos e propostas de lei idênticas matérias;
1 - Os projectos e propostas de lei devem: d) A verificação do cumprimento da lei formulário;
a) Ser redigidos sob a forma de artigos, eventualmente divididos em números e e) Uma análise sucinta dos factos, situações e realidades que lhe respeitem;
alíneas; j) Um esboço hjstórico dos problemas suscitados;
b) Ter uma designação que traduza sinteticamente o seu objecto principal; g) Apreciação das consequências da aprovação e dos previsíveis encargos com
e) Ser precedjdos de uma breve justificação ou exposição de motivos. a respectiva aplicação;
2 - O requisito referido na alínea e) do número anterior implica, no que diz h) Referências a contributos de entidades que tenham interesse nas matérias a
respeito às propostas de lei e na medida do possível, a apresentação, de modo abreviado, que respeitem, designadamente os pareceres por elas emitidos.
dos seguintes elementos: .
( .. )
a) Uma memória descritiva das situações sociais, económicas, financeiras e
políticas a que se aplica;
b) Uma informação sobre os benefícios e as consequências da sua aplicação;
e) Uma resenha da legislação vigente referente ao assunto.
. ARTIGO 134.º
( . .)
Legislação do trabalho
1 - Tratando-se de legislação do trabalho, a comissão parlamentar promove a
apreciação do projecto ou proposta de lei, para efeitos da alínea d) do n.º 5 do artigo
54.º e da alínea a) do n.º 2 do artigo 56.º da Constituição.
DTVISÀO II
Apreciação de projectos e propostas de lei em comissão parlamentar ( ... )

DMSÀO III
ARTIGO 130.º Audição dos órgãos de governo próprio das regiões autónomas
Determinação da comissão parlamentar competente
Quando uma comissão parlamentar discorde da decisão do Presidente da
Assembleia de determinação da comissão competente, deve comunicá-lo, no prazo de ARTIGO 142.º
cinco dias úteis, ao Presidente da Assembleia para que reaprecie o correspondente Audição dos órgãos de governo próprio das regiões autónomas
despacho . Tratando-se de iniciativa que verse matéria respeitante às regiões autónomas, o
Presidente da Assembleia promove a sua apreciaçiio pelos órgãos de governo próprio
das regiões autónomas, para os efeitos do disposto no n. º 2 do artigo 229 . º da
Constituição.

'JO".I.
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO CONSTITUCIONAL REGIMENTO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA N.º 1/2007

DIVISÃO IV DMSÀO V
Discussão e votação de projectos e de propostas de lei Redacção final de projectos e de propostas de lei

ARTIGO 156.º
Redacção final
SUBDfVISÃO III
Discussão e votação de projectos e propostas de lei na especialidade
1 - A redacção final dos projectos e propostas de lei aprovados incumbe à
comissão parlamentar competente.
2 - A comissão parlamentar não pode modificar o pensamento legislativo,
ARTIGO 150.º devendo limitar-se a aperfeiçoar a sistematização do texto e o seu estilo, mediante
Regra na discussão e votação na especialidade deliberação sem votos contra.
1 - Salvo o disposto nos n. 4 e 5 do artigo 168.º da Constituição, e no Regimento,
05
3 - A redacção final efectua-se no prazo que a Assembleia ou o Presidente
a discussão e votação na especialidade cabem à comissão parlamentar competente em estabeleçam ou, na falta de fixação, no prazo de cinco dias.
razão da matéria. 4 - Concluída a elaboração do texto, este é publicado no Diário.
( ... )

DIVISÃO V1
ARTIGO 1 52.°
Promulgação e reapreciação dos decretos da Assembleia
Objecto da discussão e votação na especialidade
1 - A discussão na especialidade versa sobre cada artigo, podendo a Assembleia ARTIGO 159.º
deliberar que se faça sobre mais de um artigo simultaneamente, ou, com fundamento Decretos da Assembleia da República
na complexidade da matéria ou das propostas de alteração apresentadas, que se faça Os projectos e as propostas de lei aprovados denominam-se decretos da Assembleia
por números. da República e são enviados ao Presidente da República para promulgação.
2 - A votação na especialidade versa sobre cada artigo, número ou alínea.

ARTIGO 1 60.º
Reapreciação de decreto objecto de veto político
SUBDfVISÃO IV 1 - No caso de exercício do direito de veto pelo Presidente da República, nos
Votação final global termos do artigo 1 36.º da Constituição, a nova apreciação do diploma efectua-se a
partir do décimo quinto dia posterior ao da recepção da mensagem fundamentada, em
reunião marcada pelo Presidente da Assembleia, por sua iniciativa ou de um décimo
ARTIGO 155.º dos Deputados.
Votação final global e declaração de voto oral ( ...)
1 - Finda a discussão e votação na especialidade, procede-se à votação final
global .
2 - Se aprovado em comissão parlamentar, o texto é enviado ao Plenário para ARTIGO 161.º
votação final global na segunda reunião posterior à sua publicação no Diário Efeitos da deliberação
ou à sua
distribuição em folhas avulsas aos grupos parlamentares. 1 - Se a Assembleia confirmar o voto, nos termos dos n. 2 e 3 do artigo 1 36. º
05

( .... ) da Constituição, o decreto é enviado ao Presidente da República para promulgação no


prazo de oito dias a contar da sua recepção.

204 205
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO CONSTITUCIONAL REGIMENTO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA N. 0 1/2007

2 - Se a Assembleia introduzir alterações, o novo decreto é enviado ao Presidente CAPÍTIJLO II


da República para promulgação . Apreciação de decretos-leis
(... )

ARTIGO 1 62.º
Reapreciação de decreto objecto de veto por inconstitucionalidade ARTIGO 1 94.º
1 - No caso de veto pelo Presidente da República, nos termos do artigo 279.º da Cessação de "igência
Constituição, é aplicável o artigo 160.º, com as excepções constantes do presente No caso de cessação de vigência, o decreto-lei deixa de vigorar no dia da publicação
artigo. da resolução no Diário da República, não podendo voltar a ser publicado no decurso
2 - A votação pode versar sobre o expurgo da norma ou normas por cuja da mesma sessão legislativa.
inconstitucionalidade o Tribunal Constitucional se tenha pronunciado, sobre a refor­
mulação do decreto ou sobre a sua confirmação .
( ...) ARTIGO 195.º
Repristinação
A resolução deve especificar se a cessação de vigência implica a repristinação
ARTIGO 163.º das normas eventualmente revogadas pelo diploma em causa.
Envio para promulgação
1 - Se a Assembleia expurgar as normas inconstitucionais ou se confirmar o
decreto por maioria de dois terços dos Deputados presentes, desde que superior à ARTIGO 196.º
maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções, o decreto é enviado ao Alteração do decreto-lei
Presidente da República para promulgação. (...)
( ...) 3 - Se forem aprovadas alterações na comissão parlamentar, a Assembleia decide
em votação final global, que se realizará na reunião plenária imediata, ficando o decreto­
SECÇÃO II -lei modificado nos termos da lei na qual elas se traduzam.
Processos legislativos especiais ( ... )

DIV1SÃO V
Autorizações legislativas CAPÍTULO V
Processos de orientação e fiscalização política

SECÇÃO I
ARTIGO 188.º Apreciação do programa do Governo
Iniciativa das autorizações legislativas e informação
1 - Nas autorizações legislativas, a iniciativa originária é da exclusiva competên­
cia do Governo.
2 - O Governo, quando tenha procedido a consultas públicas sobre um ARTIGO 217.0
anteprojecto de decreto-lei, deve, a título informativo, juntá-lo à proposta de lei de Rejeição do programa do Governo e voto de confiança
autorização legislativa, acompanhado das tomadas de posição assumidas pelas 1 - Até ao encerramento do debate, e sem prejuízo deste, pode qualquer grupo
diferentes entidades interessadas na matéria.

206 207
CIÊNCIA POÚTICA E DIREITO CONSTITUCIONAL REGIMENTO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA N.º 1/2007

parlamentar propor a rejeição do programa, ou o Governo solicitar a aprovação de um CAPÍTULO VI


voto de confiança. Processos relativos a outros órgãos
(...)
5 - A rejeição do programa do Governo exige mai oria absoluta dos Deputados
em efectividade de funções .
(... ) SECÇÃO III
Designação de titulares de cargos exteriores à Assembleia

SECÇÃO III
Moções de censura
ARTIGO 257.º
Audição dos candidatos a titulares de cargos exteriores à Assembleia
A Assembleia da República promove a audição prévia dos candidatos a titulares
dos seguintes cargos exteriores à Assembleia cuja designaç ão lhe compete, designada­
ARTIGO 223.º mente:
Votação de moção de censura a) Os membros do Conselho Superior do Ministério Público ;
(. . . ) b) l O juízes do Tribunal Constitucional;
2 - A moção de censura só se c onsidera aprovada quando ti\·er obtido os votos e) O Provedor de Justiça;
da maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções. d) O Presidente do C onselho Económico e Social;
3 - Se a moção de censura não for aprovada, os seus signatári os não poderão e) Sete vogais do Conselho Superior da Magistratura .
apresentar outra durante a mesma sessão legislativa.
( ...)
ARTIGO 258.º
Sufrágio na eleição de titulares de cargos exteriores à Assembleia
SECÇÀO IV 1 - Sem prejuízo do disposto na Constituiç ão, c onsidera-se eleito o candidato
Debates com o Governo que obtiver mais de metade dos votos validamente expressos.
2 - Se nenhum dos candidatos obtiver esse número de votos, procede-se a segundo
ARTIGO 224.º sufrágio, ao qual concorrem apenas os dois candidatos mais votados cuja candidatura
Debate com o Primeiro-:\-linistro não tenha sido retirada.
1 - O Primeiro-Ministro comparece quinzenalmente perante o Plenário para
uma sessão de perguntas dos Deputados, em data fixada pelo Presidente da Assembleia, ARTIGO 259.º
ouvidos o Governo e a Conferência de Líderes. Sistema de representação proporcional
2 - A sessão de perguntas desenvolve-se em dois formatos alternados: 1 - Sempre que se aplique o sistema de representaç ão proporcional, a eleição é
a) No primeiro, o debate é aberto por uma intervenção inicial do Primeiro­ por lista completa, adoptando-se o método da média mais alta de H ondt.
-Ministro, por um período não superior a l O minutos, a que se segue a fase
de perguntas dos Deputado s desenvolvida numa única volta; (. ..)
b) No segundo, o debate inicia-se com a fase de perguntas dos Deputados
desenvolvida numa única vo lta .
( .. . )
BIBLIOGRAFIA
BIBLIOGRAFIA CITADA

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ÍNDICE GERAL
Th'DICE GERAL

• Nota préYia à 2.ª edição 5

• Nota prévia à 1 .ª edição 7

CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS

Caso n.º 1 : Princípio do Estado de direito, princípio democrático


e cargos políticos 11
Caso n.º 2 : Princípio da socialidade e subsídio de desemprego 15
Caso n .º 3 : Direitos, liberdades e garantias e instalação de alarmes 18
Caso n.0 4: Liberdade sindical e eleição de dirigentes sindicais 22
Caso n.º 5 : Direitos, liberdades e garantias e pinturas em moradias 24
Caso n.º 6: Direitos. liberdades e garantias e limitação de mandatos autárquicos . . 27
Caso n.º 7: Sistema de ensino e financiamento pelo Estado 29
Caso n.º 8: Direito à reserva da intimidade da vida privada e protecção da saúde .. 3 1
Caso n.º 9: Princípio da igualdade e partidos políticos 35
Caso n .º 1 O: Princípio da igualdade e convicções enraizadas na sociedade ........... . 38
Caso n .0 1 1 : Princípio da igualdade e narureza da tarefa a desempenhar 40
CIÊNCIA POLITICA E QIREITO CONSTITUCIONAL ÍNDICE GERAL

Caso n.º 12: Princípio da igualdade e liberdade negocial das entidades privadas ... 42 Caso n.º 30: Competências das Regiões Autónomas,
poderes do Representante da República
Caso n.º 13: Princípio da igu aldade e entidades privadas 44 e bases do património cultural 91
Caso n.º 14: Colisão de direitos, princípio da concordância prática Caso n . 3 1 : Processo legislativo e progressão nas carreiras profissionais
0

47 94
e património cultural
Caso n .º 32: Empate na Assembleia da República 97
Caso n.º 1 5 : Subsídio de desemprego e inconstitucionalidade por omissão .. .. ........ 50
Caso n .º 33: Relações internacionais e declaração de guerra 101
Caso n.º 16: Processo legislativo e associações políticas 53
Caso n .º 34: Revogação de decretos-leis autorizados e uniformização
Caso n.º 17: Processo legislativo e criação de jornais 56 de dias de férias 1 04
Caso n . º 1 8 : Direito à reserva da intimidade da \·ida privada Caso n . º 35: Processo legislativo e cláusula barreira 1 07
no local de trabalho 59
Caso n . 36: Referendos
0
1 10
Caso n.º 19: Competência exclusiva do Governo e veto do Chefe de Estado ......... 62
Caso n.º 37: Diplomacias paralelas, e direito de informação 1 14
Caso n.º 20: Apreciação parlamentar dos decretos-leis e contratos de tarefa
e avença 64 Caso n.º 38: Dissolução da Assembleia da República e demissão do Governo . . .. 1 1 6

Caso n.º 2 1 : Apreciação parlamentar dos decretos-leis Caso n.º 39: Discrimínação positiva, quotas para senhoras
e aumento dos arrendamentos habitacionais 66 e inconstitucionalidade por omissão 119
Caso n.º 22: Regime constitucional dos regulamentos governativos Caso n . º 40: Revisão Constitucional e nomeação de titulares
e pensões por motivo de acidentes de trabalho 68 de órgãos políticos 121
Caso n. 0 23: Regime constitucional dos regulamentos governativos,
laboratórios e Serviço Nacional de Saúde 71

Caso n.0 24: Autorizações legislativas em branco 73 HIPÓTESES


Caso n.º 25: Processo legislativo e proporcionalidade
nas Assembleias Municipais 75
Hipótese I: Princípio do Estado de Direito e excedentes 1 27
Caso n. 26: Processo legislativo e legislação eleitoral
0
Hipótese II: Princípio democrático e lei eleitoral 1 28
para o Parlamento Europeu 78
81 Hipótese III: Princípio democrático e condução de veículos
Caso n.0 27: Processo legislativo e admissão de funcionários públicos sob influência do álcool 129
Caso n. 28: Competências das Regiões Autónomas e serviços mínimos
0
Hipótese IV: Omissão das entidades públicas, escorregas e direito à vida ............ 130
em caso de greve 85

Caso n.º 29: Fiscalização sucessiva mista da constitucionalidade e expropriações ... 88 Hipótese V: Direitos fundamentais de natureza análoga
e subsídio de desemprego 131
---......,; --=

CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTITUCIONAL


ÍNDICE GERAL

Hipótese VT: Princípio da igualdade e culto religioso 132


TESTES
Hipótese VII: Liberdade de profissão e barbeiros da Eslováquia 133
Hipótese V1ll: Liberdade de circulação e ciganos romenos 1 34 • Testes
155
Hipótese IX: Colisão de direitos e touradas 135
Hipótese X: Apreciação parlamentar dos decretos-leis e funcionamento
do Conselho Económico e Social 136 ANEXO
Hipótese XI: Independência dos tribunais e televisão 1 37
Hipótese XII: Regime constitucional dos regulamentos • Regimento da Assembleia da República n.º 1/2007
1 87
e funcionamento de esplanadas 138
Hipótese XIll: Rádio e serviço público 1 39
Hipótese XIV: Processo legislativo e Forças Armadas 140 • Bibliografia citada
213
Hipótese XV: Apreciação parlamentar dos decretos-leis e imóveis • Índice geral
de interesse público 141 217

Hipótese XVT: Declaração Universal dos Direitos do Homem e direito


à imagem 142
Hipótese XVIl: Processo legislativo e prorrogação do mandato dos juízes
do Tribunal Constitucional 143
Hipótese XVIII: Listas de espera nos hospitais, demissões e críticas 144
Hipótese XIX: Processo legislativo e avaliação de desempenho 145
Hipótese XX: Processo legislativo e exclusividade de círculos uninominais
na Região Autónoma da Madeira 146
Hipótese XXI: Processo legislativo e circulas eleitorais 147
Hipótese XXII: Estado de sítio e fiscalização da constitucionalidade
de actos do chefe do Estado 149
Hipótese XXIll: Referendo e taxa de televisão 1 50
Hipótese XXIV: Envio de contingentes militares e declaração de guerra 151
Hipótese XXV: Direito Comunitário e Constituição 1 52

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