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Quando uma obra literária é escrita o autor deixa intricado suas percepções, intuitos e

desejos nela. Quando publicada, o leitor ao lê-la produz o chamado “A morte do autor”,
tal termo advém ao fato daquele que ao ler, derrama sobre a obra, através de suas
próprias experiências, interpretações que podem ou não substituir os significados que
inicialmente o escritor teria dado. Isso ocorre por exemplo nas pinturas artísticas de
Dali, na qual é possível ficarmos horas aplicando significados sobre suas telas. Roland
Barthes 1967, defendeu que o autor morre no momento que sua escrita nasce. Isto é, o
texto necessita exatamente da liberdade interpretativa do leitor, para que o texto
efetivamente faça seu papel: Desassociar das vozes do autor e transcender para além do
arcabouço emocional de sua personalidade.

Na autobiografia, socialmente, considera-se verossímil aquilo que se é publicado,


entretanto. Segundo Sarlo (2016 apud Faedrich;
arlo lança mão da crítica da subjetividade e da crítica da representação feitas por Paul
de Man e Jacques Derrida. Segundo a teórica, a crítica de Paul de Man à autobiografia
é “o ponto mais alto do desconstrutivismo literário”, pois, assim como Derrida, nega a
possibilidade de um relato autobiográfico cuja relação entre um eu textual e um eu da
experiência vivida seja veri-ficável.

Segundo Ferreira (1998 apud França; Vasconcelos, 2007,


p. 142), “as informações contidas numa referência devem
ser extraídas do próprio documento eletrônico ou da
documentação que o acompanha [...

Mas e se, com sua morte, agora o autor ganhe vida em outra posição? Além de escritor,
personagem de sua própria história? Na década de 1970 o autor volta a ser valorizado. O
escritor francês Serge Doubrovsky nos dá a primeira definição sobre o tema, a
autoficção e nos elucida com a publicação do livro Fils (1977) em resposta à análise
feita por Philippe Lejeune sobre a autobiografia em que ele dá seu nome ao personagem
do livro. Para Doubrovsky a autoficção seria uma espécie de autobiografia moderna que
não segue uma verdade absoluta, mas pode molda-la para descreve-la. Após a
publicação do livro, o termo descrito pelo escritor francês deixa de se opor a
autobiografia, para agora se tornar um sinônimo.
O conceito de autoficção caminharia ao lado de toda crítica pós-moderna e des-
construtivista, estando em acordo com a crítica de Derrida ao logocentrismo, à
geometrização e ao fechamento da obra, ao sistema cristalizado que prolonga a
tradição metafísica da oposi-ção aparecimento-velamento. Dessa forma, a emergência
do termo e do conceito de autoficção apontaria para a crítica da teoria

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