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CENTRO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIAS
EDUCACIONAIS EM REDE
MESTRADO PROFISSIONAL EM TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS EM
REDE
Santa Maria, RS
2023
Adriane Marisa de Oliveira Stelter
2023
Adriane Marisa de Oliveira Stelter
_________________________________________________
Marcus Vinícius Liessem Fontana, Doutor em Letras (UFFS/UFSM)
(Presidente/Orientador)
__________________________________________________
Ana Lourdes da Rosa Nieves Brochi Fernandez, Doutora em Letras (UFPel)
__________________________________________________
Angelise Fagundes da Silva, Doutora em Educação (UFFS)
___________________________________________________
Vanessa Ribas Fialho, Doutora em Linguística Aplicada (UFSM)
Santa Maria, RS
2023
Ebenézer: até aqui me ajudou o Senhor - 1 Samuel 7:1
AGRADECIMENTOS
1 INTRODUÇÃO……………………………………………………………….……15
1.1 MOTIVAÇÃO………………………………………………………………...…….15
1.2 CONTEXTUALIZAÇÃO…………………………………………………………. 24
1.2.1 Justificativa……………………………………………………………………… 24
1.2.2 Problema de pesquisa ………………………………………………………… 31
1.2.3 Objetivo Geral…………………………………………………………………… 32
1.2.4 Objetivos Específicos …………………………………………………………. 32
1.2.5 Produto pedagógico……………………………………………………………32
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA……………………………………………… 33
2.1 A IMPORTÂNCIA DE SE APRENDER UM IDIOMA…………………………...……. 33
3 METODOLOGIA………………………………………………………………… 52
3.1 DA PESQUISA …………………………………………………………………..52
3.1.2 OS COLABORADORES…………………………………..…………………….57
3.2 DO PRODUTO……………………………………………………………………59
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS…………………………………………………...68
REFERÊNCIAS…………………………………………………………………72
APÊNDICE A - TESTE COM OS COLABORADORES …………………..77
APÊNDICE B - PRODUTO PEDAGÓGICO EM PORTUGUÊS…………..86
APÊNDICE C - PRODUTO PEDAGÓGICO EM ESPANHOL…………. 89
1 INTRODUÇÃO
Neste capítulo, exponho uma breve cronologia sobre meu percurso formativo
desde a educação básica, o ingresso na universidade, como aluna e pesquisadora,
sobre o tema ensino de Língua Espanhola para pessoas com deficiência visual
(PDV) ou com baixa visão. Além disso, escrevo sobre minha prática docente, meus
objetivos, gerais e específicos e estrutura da minha pesquisa.
Essa trajetória que percorri até o momento é que me motivou a realizar a
presente dissertação sobre Audiodescrição Didática (ADD) e, ao elaborar materiais
didáticos com o uso dessa tecnologia assistiva, pretendo proporcionar um conteúdo
acessível e inclusivo para as PDVs. Através dessa técnica de descrever em áudio,
as imagens poderão proporcionar conhecimento e aprendizado também à pessoa
que não enxerga.
1.1 MOTIVAÇÃO
Para situar o leitor, é importante enfatizar aqui que a presente pesquisa tem
estreita relação com a minha trajetória profissional-acadêmica. Antes de ser
licenciada, já pesquisava e ministrava aulas de ensino de espanhol para cegos no
projeto Além da Visão (AV), vinculado à Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM) e coordenado pelo Prof. Dr. Marcus Vinícius Liessem Fontana e a Prof.ª
Dra. Angelise Fagundes. Ingressar no Mestrado Profissional é, antes de tudo, um
sonho, que não foi sonhado só por mim, mas também incentivado pelos
coordenadores do projeto de pesquisa acima mencionados.
Sou de origem rural, localidade de Lajeado Molina - Três Passos - RS. Na
época em que eu estudava na Educação Básica, a escola que eu frequentava
ofertava somente o Ensino Fundamental I, e, por isso, realizei meus estudos em
etapas. Primeiramente, até o quinto ano, depois fiquei 5 anos sem estudar. Após
esse tempo, retomei meus estudos e concluí o Ensino Médio no final de 1996. Sem
muita esperança de poder fazer uma faculdade, cursei o Ensino Médio Técnico em
Contabilidade.
Entretanto, sempre sonhei em fazer uma Licenciatura, porém, naquela época,
não sabia em que área. Minha mãe sempre dizia que queria que pelo menos uma
das três filhas dela fosse professora, sonho que também começou a despertar em
16
mim com mais intensidade, mas, como a minha cidade não ofertava nenhum curso
de graduação na área de formação de professores, meu sonho teve que esperar.
Ingressei em 1998 na graduação de Administração de Empresas, curso
ofertado pelo Campus Três Passos da Universidade Regional do Noroeste do Rio
Grande do Sul (UNIJUÍ), mas que, em 2001, tranquei porque casei e fui morar no
Paraguai,onde residi por 11 anos devido à profissão do meu esposo e apaixonei-me
pela língua do país vizinho, o espanhol. Em fevereiro de 2012, voltei ao Brasil e fixei
residência em Paraíso do Sul, RS. Com isso, meu sonho de fazer uma licenciatura
voltou a pulsar novamente, ainda mais porque minha cidade ficava e fica próxima à
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e aquele sonho que parecia distante
estava mais perto de se tornar realidade.
Mesmo que na minha cidade natal a UFSM era e é conhecida como a
universidade daqueles que têm condições de fazer um curso preparatório para
conseguir ingressar, isso não me desanimou. Foi nesta época também, que ouvi
falar da Educação a Distância (EaD) e vi uma possibilidade de buscar uma formação
universitária, até porque eu já tinha meus dois filhos e fazer um curso presencial não
seria possível. Em 2014, dei início ao meu curso de graduação em licenciatura. Com
o contato com a Língua Espanhola durante minha estadia no Paraguai, não tive
dúvidas, o curso seria licenciatura em Letras/Espanhol.
Em 2016, conheci o Grupo de Pesquisa em Tecnologias Digitais, EaD e
Línguas Estrangeiras (GPTELE), graças a indicação de uma colega, que já
participava do grupo de pesquisa, e do convite do coordenador do meu curso de
graduação e também coordenador desse projeto. Dessa forma, me coloquei à
disposição para colaborar e fui muito bem recebida.
O grupo de pesquisa GPTELE era vinculado à UFSM e coordenado pelo
professor Dr. Marcus Vinícius Liessem Fontana e pela professora Dra. Angelise
Fagundes. Um dos braços do grupo de pesquisa era o projeto Além AV,
denominado formalmente como: “Para Além da Visão: um estudo do processo de
ensino-aprendizagem de língua espanhola em EaD para deficientes visuais”. O AV
tinha como objetivo o Ensino de Língua Espanhola para as PDVs, por meio de
tecnologias digitais. Esse projeto era um curso de espanhol direcionado
especialmente para pessoas cegas ou com baixa visão falantes de português e
desenvolvido de forma acessível para que o cursista pudesse realizar as atividades
com autonomia.
17
Após a conclusão dos dois módulos, o projeto ainda tinha outros cursos,
igualmente com dois módulos: o Pura Charla I e o Pura Charla II. Os dois módulos,
com 7 unidades cada, objetivando a prática da oralidade da Língua Espanhola
adquirida durante o curso dos módulos anteriores. Dessa forma o Pura Charla I
abordava a variante da Argentina e o Pura Charla II conteúdos que abordavam a
variante falada na Colômbia. Cada unidade dispunha de um tema, em que o aluno
estudava e no encontro quinzenal síncrono, conversava com o tutor sobre o assunto
estudado. Neste sentido, além de trazer aspectos variados e temas transversais, a
aula dialogada tornava-se bastante atrativa e diversificada para cursistas e tutores,
dadas as discussões sobre os temas propostos.
Na produção de materiais didáticos eram utilizados e disponibilizados textos e
áudios. Áudios estes sempre em voz humana para que o aprendizado fosse o mais
próximo ao da variante/país que se estava estudando. Porém, caso desejasse, o
aluno utilizava um leitor de tela, leitor este que utiliza a tecnologia de síntese de voz
que pode ser definido como um "processo de geração de amostras de um sinal
digital que deveria soar como se um humano tivesse lido o texto" (NETO; SILVA;
SOUSA, 2005, p. 326). Além disso, podemos entender que os leitores de telas são
softwares que podem ser baixados no computador, tablets e smartphones.
Vergara-Nunes enfatiza que
1.2 CONTEXTUALIZAÇÃO
1.2.1 Justificativa
deixar essa informação gravada em áudio, permite com que a pessoa cega possa
retornar ao material e escutar tantas vezes quantas forem necessárias (VERGARA
NUNES, 2016). Uma pessoa vidente, por diversas vezes, volta à imagem e busca
novas informações e, por tanto, tão necessário para os não videntes que a
audiodescrição esteja gravada, o que possibilita ouvir novamente.
Com base nisso, busquei no banco de teses e dissertações da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) se havia trabalhos que
discutissem a Audiodescrição (AD) ou outras formas de ensino de línguas inclusivas
para PDVs. Na minha busca considerei as pesquisas de dissertações e teses dos
últimos 10 anos. Após a análise dos trabalhos, selecionei três documentos, porque
as pesquisas enfatizavam a audiodescrição como um recurso que possibilita novos
conhecimentos ao indivíduo cego.
A necessidade dos professores buscarem conhecer a audiodescrição para
adaptar um material didático caso se depare com um aluno com DV é de suma
importância. Além disso, com essa técnica, é possível ser utilizada desde os
primeiros anos da vida escolar, na universidade, em cursos, ou seja, se enquadra em
qualquer idade, em qualquer área da educação, e não só nela, sendo inclusive uma
ferramenta de empoderamento (SANTOS, 2017). Nenhum dos três trabalhos que
selecionei trata sobre o ensino de Língua Espanhola, nem o ensino de outras línguas
adicionais, contudo, passo a relatá-los com o intuito de perceber como a
audiodescrição é feita também em outras áreas da educação.
Vendo com outros olhos: A Audiodescrição no ensino superior a distância, de
autoria de Luciana Tavares Perdigão (2017), dissertação apresentada à Universidade
Federal Fluminense. Niterói - RJ. Educação, Arte e Inclusão: Audiodescrição como
recurso artístico e pedagógico para a inclusão das pessoas com deficiência, de
autoria de Marielle Duarte Carvalho (2017), dissertação apresentada à Universidade
Federal da Grande Dourados. O livro didático acessível nos anos finais do ensino
fundamental: A Áudio-Descrição de imagens estáticas como ferramenta de
empoderamento, de autoria de Silas Nascimento dos Santos (2017), dissertação
apresentada à Universidade Federal de Pernambuco.
O primeiro trabalho que me propus a analisar foi uma dissertação. A pesquisa
identificou a necessidade de incluir o indivíduo cego no ensino superior a distância.
30
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
com outras culturas e a oferta do espanhol, já que o Rio Grande do Sul faz fronteiras
com países de Língua Espanhola é uma oportunidade do contato mais direto com a
língua dos países vizinhos. Fontana e Fagundes afirmam que
já que a Lei do Espanhol, de 2005, foi assinada pelo, na época, presidente Luis
Inácio Lula da Silva. Enquanto não há uma lei nacional que integre o espanhol na
grade curricular, é preciso que os professores da área, como eu, pensemos em
iniciativas para difundir a importância desta língua como um importante papel social
no que se refere a minha pesquisa, isto é, a popularização da Língua Espanhola
entre PDVs inclusive. Essa luta é de todos os professores, assim como eu, que têm
formação em Letras Espanhol e que buscam incansavelmente que o espanhol
permaneça como disciplina nas escolas. Aprender o espanhol, principalmente no Rio
Grande do Sul, estado que faz divisa com países de Língua Espanhola, oportuniza
contato e comunicação da mesma pela proximidade.
A aquisição da língua materna se dá por meio natural, em contato com o
meio, já a aprendizagem, geralmente em contexto institucional e por necessidade.
Aprender um idioma requer perseverança e insistência no processo para que o ato
de fala alcance uma comunicação exitosa. Seja pela necessidade ou pelo prazer de
falar uma outra língua, o fato é que, a aprendizagem de um outro idioma tem se
tornado bastante importante e faz diferença na vida daqueles que conseguem se
comunicar em um outro idioma, seja ela para estudos, trabalhos ou outros contatos.
Empresas nacionais e multinacionais buscam pessoas que se comunicam em
outros idiomas e isso pode facilitar no momento em que se está buscando uma vaga
de emprego ou um intercâmbio, por exemplo. Vivemos em um tempo em que as
informações são instantâneas e as necessidades devem ser supridas rapidamente,
as informações mudam e se transformam na mesma velocidade (BAUMAN, 2001),
vivemos uma sociedade líquida onde o espaço tempo se mesclam para compor
subjetividade, a comunicação com outras pessoas, inclusive pessoas de outros
idiomas, pode estar a um passo. Os aspectos linguísticos e culturais estão
permeados no cotidiano diário das pessoas.
“O domínio de um ou mais idiomas estrangeiros significa, em primeiro lugar, a
real possibilidade de acesso a outras culturas” (GONZALES, 1989, p. 30). O
mercado de trabalho é cada vez mais amplo e não exige apenas o domínio de um
outro idioma, pois o cenário que se apresenta mundialmente é plurilingue.
Ao se aprender um idioma se espera que se possa fazer uso deste numa
comunicação e interação com outras pessoas. O uso efetivo de uma língua adicional
possibilita a oportunidade de espaços comunicativos entre e com outros povos.
Brasil enfatiza que:
36
Se para uma pessoa vidente aprender uma língua adicional demanda tempo,
isso não é diferente para uma PDV, pelo contrário, as dificuldades podem ser ainda
maiores. Requer uma porcentagem a mais de vontade e determinação para
aprender porque possuem algumas limitações, contudo, isso não a impossibilita de
aprender. Segundo Caiado:
O aprendizado de uma língua adicional pode ser mais difícil para a pessoa
cega que para uma pessoa que enxerga, contudo, a cegueira não impede que com
determinação seja aprendida. O ensino de Língua Espanhola para PDVs pode ser
adaptado ao sistema de escrita braile. Sabe-se que nem todos aprendem e
conseguem ler e escrever em braile. Também nem tudo está disponível nesse
sistema de escrita. O uso da tecnologia para o ensino e aprendizagem é uma
alternativa que favorece videntes e não videntes. Os softwares leitores de tela
38
“No Brasil, a AD teve seu marco inicial em 1999, quando Bell Machado
realizou atividades de narração audiodescritiva de filmes em uma associação de
cegos de Campinas” (MIANES, 2016, 11). Em 2003, iniciou o festival de cinema
sobre deficiência “Assim Vivemos” no Rio de Janeiro e Brasília e a partir de 2009
também em São Paulo (POZZOBOM, 2010). A audiodescrição no Brasil foi
regulamentada para o meio televisivo em 2010 (FERREIRA, NUNES, 2016). A
42
Fonte da autora.
Elton Vergara-Nunes (2016) em sua tese intitulada “Audiodescrição didática”
é o pioneiro a pesquisar a audiodescrição dando ênfase no objetivo pelo qual está
sendo feito. O mesmo autor enfatiza que a audiodescrição é um recurso da
tecnologia assistiva que possibilita transformar imagens em palavras. Diferencia
também a ADP da ADD, em que a última tem uma intencionalidade, um objetivo com
a imagem utilizada no material didático, que posteriormente trarei mais
detalhadamente. A ADD considera a subjetividade e possui informações agregadas
que proporcionam maior compreensão das imagens por pessoas com baixa visão ou
cegas.
As duas pesquisas, tese e dissertação, foram publicadas em 2016, no
43
A partir do momento que conheci o recurso, não apenas como usuária, mas
como pesquisadora e profissional, passei a “vê-lo” de forma diferenciada. Já
não existia, da minha parte, o desejo de apenas pesquisar sobre a
audiodescrição, por conta de minhas dúvidas, dos meus questionamentos
sobre o recurso. Havia, sim, a necessidade de entender melhor todo o
processo. [...] Perpassa pelo sentimento de pertença, de empoderamento,
de ter oportunidade de acesso às informações e conhecimentos
anteriormente inacessíveis. (VILARONGA, 2010, p. 61)
O que pude observar é que existem no meio científico diversas pesquisas que
visam a tradução das imagens de televisão, filmes, teatros, espaços temáticos,
45
Neste caso, muito mais que uma técnica de tradução, trata-se de uma
cultura de inclusão, que pode e deve contagiar também os colegas
estudantes, ao seguirem as técnicas da objetividade e clareza na
audiodescrição de elementos visuais”. (VERGARA-NUNES; FONTANA;
VANZIN, 2011, p.5)
com seus próprios olhos aquilo que um vidente vê. Proporcionar iguais
oportunidades às pessoas cegas através de um recurso de descrever uma imagem
e propiciar compreensão do papel que a imagem desempenha no processo de
aprendizagem.
Ao desenvolver uma material didático com o uso da audiodescrição se
pretende proporcionar melhor assimilação por parte do indivíduo cego ou com baixa
visão possibilitando assim, o uso de imagem nas aulas e sua efetiva compreensão.
O uso delas deve ser significativo. VERGARA-NUNES enfatiza que
O amor rompe barreiras. Barreira que pode ser a falta de visão. O ser humano
impossibilitado de enxergar com os próprios olhos necessita de aceitação, de auxílio
do outro. A audiodescrição é uma técnica de tradução que envolve amor,
comprometimento e confiança entre as partes envolvidas.
52
3 METODOLOGIA
3.1 DA PESQUISA
descrito aquilo que é importante e as imagens que têm fins didáticos, evitando
assim, a sobrecarga cognitiva.
Elaborei o roteiro com base em Vergara-Nunes (2016), gravei em áudio e fiz
um link para cada um dos áudios, totalizando 22 áudios. Considerando que são 22
textos e 22 áudios, gerei um link para que os meus colaboradores pudessem ter os
áudios logo abaixo do texto para que eles pudessem utilizar o leitor de tela para ler o
texto e em seguida escutar o áudio em voz humana. Assim, como o aluno vidente às
vezes precisa voltar e olhar a imagem novamente para responder adequadamente
ao que lhe é solicitado, deixar gravado em áudio (Vergara-Nunes, 2016) permite
que o aluno cego o escute novamente.
Como mencionado, as voluntárias fazem parte do grupo de pesquisa Polifonia
e desenvolvem material didático em espanhol. O curso completo de espanhol tem 9
unidades e é composto de imagens e vídeos, mas, minha pesquisa não tem o intuito
de aplicar o curso na íntegra e sim o de analisar as possibilidades de ADD de
algumas imagens.
Destaquei do curso completo apenas os trechos com imagens com fins
didáticos, a fim de implementar a audiodescrição e colocá-las à prova com meus
colaboradores, existem ainda outras imagens, contudo, não são relevantes para
minha pesquisa. Considerando que o teste com os três colaboradores não estará
numa sequência didática, utilizarei os mesmos áudios para os três colaboradores,
busquei evidenciar características gerais e informações agregadas. Pensando em
que a audiodescrição no ensino de línguas para iniciantes o autor Vergara-Nunes
(2016) enfatiza a necessidade de deixar em língua materna e na língua estrangeira,
o teste, contou com a audiodescrição de 11 imagens, consequentemente com 22
textos e 22 áudios considerando a língua portuguesa e espanhola. Partindo desse
pressuposto, me propus a audiodescrever algumas imagens contidas no curso em
questão, entre elas, autorretrato, tipos de casas, e imagens em que retratam estilos
de vida.
Dentre elas 1 (uma) imagem (autorretrato) do poeta Pablo Nerudo que tem o
objetivo de evidenciar características físicas e acessórios usados pelo poeta, 5
(cinco) imagens de tipos de casas/edificações: o Museu Frida Kahlo no México que
antes de virar museu foi a casa de Frida Kahlo, Museu Casapueblo no Uruguai,
Lago Titicaca que contém uma ilha com algumas cabanas, Museu Dolores Olmedo
no México e a casa La Chascona em Santiago do Chile. Além dessas imagens
55
3.1.2 OS COLABORADORES
Colaborador 1
Colaborador 2
Colaborador 3:
3.2 DO PRODUTO
Colaborador 1
Data: 28 de novembro de 2022.
Horário: 19h às 20h27min.
Ele mencionou que, o professor ao desenvolver uma atividade deve sim ter
objetivos claros, conforme Vergara-Nunes (2016) afirma, já que ao considerar o
objetivo nos remete a ADD, porque busca descrever aquilo que é essencial e
importante para alcançar o propósito da atividade e do uso da imagem e que, para
uma pessoa que não enxerga é extremamente importante. Considerando que,
quando a Audiodescrição tem fins didáticos, conforme Vergara-Nunes (2016), o
colaborador concorda que conhecer as especificidades de cada aluno e saber
quais os objetivos propostos na atividade é essencial tornando assim esse conteúdo
acessível para todos os estudantes. Neste viés, também é importante enfatizar o
que Leffa (2007) salienta sobre o Ciclo Recursivo, em que é necessário conhecer o
nosso estudante e sempre considerar as especificidades individuais de cada um
para que o aprendizado possa ser eficaz. No caso de ser uma pessoa cega, é
necessário que a cada novo indivíduo cego que o professor possa ter em sala de
aula, o material didático seja avaliado e analisado para que as peculiaridades
individuais sejam consideradas.
Considerando a audiodescrição do poeta chileno Pablo Neruda na primeira
imagem sobre o auto retrato do poeta, e que o estudante deve ter condições
minimamente de entender como é as características evidenciadas no áudio. O
colaborador mencionou que gostou muito do áudio com as especificidades do poeta
e que fez com que conseguisse compor a representação mental da imagem descrita.
Mencionou inclusive que no curso do AV também tinha o autorretrato do poeta Pablo
Neruda e que na época conseguiu realizar seu próprio autorretrato, contudo, no AV
foi disponibilizado apenas o texto do autorretrato e não em áudio.
Na audiodescrição de 5 tipos de casas, incluindo museus, o colaborador
enfatizou que achou muito completas as descrições dando a ele condições de
adquirir conhecimento, relatou também que as informações agregadas como país e
alguns outros detalhes permitem uma amplitude da imagem. Para ele, que enxergou
por 32 anos, relatar cores também é algo importante, uma vez que ele lembra dos
diferentes e variados tons que existem e que quanto mais ele estimular esses
detalhes, melhor guardará na memória podendo ser útil durante toda a sua vida.
As últimas 5 imagens tratam de estilos de vida. Mencionou que se identificou
com a imagem de nº 8 (Uma moça abraçada a um cachorro) e 11 (Vista aérea onde
as nuvens refletem nas águas do mar) e conseguiu ter uma noção significativa de
cada uma delas, inclusive associando com seu estilo de vida. Relatou que gosta
63
Colaborador 2
Data: 05 de dezembro de 2022.
Horário: 19h15min às 20h.
Colaboradora 3
Data: 19 de dezembro de 2022.
Horário: 19h45min às 20h30min.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As considerações finais desta pesquisa evidenciam que o uso da
Audiodescrição Didática em materiais didáticos para PDV possibilitam ao professor
utilizar imagens estáticas e que estas são capazes de produzir novos conhecimentos
e aprendizados através desta tecnologia assistiva que é a audiodescrição.
O foco no objetivo do uso da imagem viabiliza um melhor aproveitamento e a
diminuição da sobrecarga cognitiva na hora de audiodescrever uma imagem. A ADD
tem esse objetivo, seguir um roteiro descrevendo aquilo que é importante, inclusive
informações adicionais que auxiliam na compreensão do objetivo e deixar gravado
em áudio o conteúdo da imagem dando ênfase no que se quer transmitir ao aluno
cego.
A ADD visa não só dar acessibilidade mas também inclusão. Quando o
professor utiliza o mesmo material didático para alunos videntes e cegos ele
possibilita que todos tenham acesso ao mesmo conteúdo, ao mesmo aprendizado,
sendo contudo, necessário a audiodescrição das imagens quando na atividade o
professor fizer uso das imagens.
Esta pesquisa traz como base o autor Vergara-Nunes (2016) sendo ele o
pioneiro na terminologia ADD. A minha pesquisa dá ênfase na ADD no ensino de
Língua Espanhola para PDV dando assim condições de mensurar o conteúdo
imagético, da fotografia, e produzir conhecimentos e significados através de um
texto multimodal. Deixar a descrição da imagem gravada em áudio, sobretudo na
voz humana, viabiliza o contato com as diversas variantes da Língua Espanhola.
Este trabalho apresentou como problema de pesquisa como auxiliar e
viabilizar a inclusão de imagens no material didático de espanhol para PDV e que
elementos são importantes para a audiodescrição das imagens para a construção de
conhecimento? Com a intenção de responder essa pergunta foi possível considerar
que a audiodescrição é uma tecnologia assistiva que viabiliza o uso de material
imagético como produção de conhecimento para PDV.
A ADD traz um caráter inovador. O professor, ou aquele que prepara material
didático, quando na utilização de imagens, deve dar ênfase no objetivo pelo qual
está se utilizando determinada imagem. Com esse objetivo bem definido é possível
audiodescrever o que é necessário e importante que a pessoa cega compreenda
dando a ela condições de responder ao que está sendo pedido na atividade nas
mesmas condições das demais pessoas.
69
atividades para PDV contribuindo de maneira significativa na vida deste que por
algum motivo não consegue enxergar.
Viabilizar acessibilidade e inclusão é uma importante contribuição social onde
o professor é um elemento chave, de extrema relevância quando se dispõe a incluir
a todos os estudantes. Espero que os resultados apresentados na minha pesquisa
contribuam significativamente para o ensino do espanhol para PDVs e que possam
servir de incentivo e auxílio para professores realizarem a audiodescrição nas
imagens que serão utilizadas nos seus materiais didáticos. Acredito que o trabalho
conseguirá agregar aprendizados significativos e direcionados além de maior
inclusão no ensino de espanhol e também em outras áreas, uma vez que o tutorial
auxiliará não só na Língua Espanhola. Além disso, por ser bilíngue, alcança também
professores de países hispanofalantes. Para além disso, o meu produto poderá
servir de base para pesquisas futuras podendo utilizar-se da ADD na produção de
materiais didáticos ou na adaptação de atividades existentes agregando assim não
só o acesso a materiais imagéticos, mas à inclusão porque receberão os mesmos
conteúdos que os demais estudantes.
Particularmente, minha pesquisa me proporcionou uma profunda reflexão
interior e pessoal no sentido de que ao adaptar atividades com o uso de imagens
através da ADD eu posso viabilizar conhecimento, aprendizado à PDV e possibilitar
que a audiodescrição dê as mesmas condições de percepção daquelas pessoas que
enxergam. Ser audiodescritora das imagens que utilizo ao preparar uma atividade é
acima de tudo um ato de amor, proporcionando que a pessoa que não enxerga
tenha a oportunidade de ver através dos olhos de quem vê. Inclusão que se
transforma em ação, ação que se transforma em oportunidade de aprendizado, seja
conhecimento acadêmico, seja cultural em sua forma mais ampla, seja
entretenimento, a pessoa que não enxerga tem o mesmo direito que aquela que
enxerga.
72
REFERÊNCIAS
BARALO, Marta, La adquisición del español como lengua extranjera. -3. Ed.-
Madrid, Arco Libros, 2011.
LEFFA, Vilson J. ; IRALA, Valesca Brasil (Orgs.). Uma espiadinha na sala de aula:
ensinando línguas adicionais no Brasil. Pelotas: Educat, 2014.
74
and the congress of the United State, National Council on Disability, Março 1993.
Disponível em <http://www.ccclivecaption.com> Acesso em 20 de jun. de 2022.
SANTOS, Silas. Nascimento dos. O livro acessível nos anos finais do ensino
fundamental: a áudio-descrição de imagens estáticas como ferramenta
empoderativa. 2017.
VIEIRA, Paulo André de Melo; LIMA, Francisco José de. A teoria na prática:
áudio-descrição, uma inovação no material didático. Revista Brasileira de
Tradução Visual, v. 2, edição 2, 2010.
Fonte: https://pabloneruda.com/quien-fue-pablo-neruda/.
https://on.soundcloud.com/C7WmT
aparenta media edad, se ve el rostro hasta el busto. Tiene piel clara y arrugada, pelo
corto, castaño, ojos pequeños y nariz expresiva y grande. Lleva un gorro negro,
chaqueta oscura, segura una pipa con la mano izquierda.
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TIPOS DE CASAS
Fonte: http://www.qualviagem.com.br/cidade-do-mexico-de-frida-kahlo/.
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79
https://on.soundcloud.com/xA34T
Fonte: https://br.pinterest.com/pin/430656783109039158/.
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80
https://on.soundcloud.com/vHmPX
Fonte https://blog.usenatureza.com/as-incriveis-ilhas-flutuantes-do-lago-titicaca/.
https://on.soundcloud.com/iezCB
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81
Fonte: https://xixerone.com/museo-dolores-olmedo-cdmx.html.
https://on.soundcloud.com/YQGmQ
https://on.soundcloud.com/teFGP
82
Fonte:https://segredosdeviagem.com.br/la-chascona-a-casa-do-pablo-neruda-em-santiago/.
https://on.soundcloud.com/TgLXJ
https://on.soundcloud.com/Veo3H
ESTILOS DE VIDA
Fonte: https://www.instagram.com/flaneureuses/.
83
Fotografia em que se vê uma jovem mulher, de pele clara, cabelos longos e soltos,
está sentada em uma banqueta com uma bandeja de tintas em sua mão direita e
está pintando uma tela. A tela está de frente para a mulher.
https://on.soundcloud.com/518BA
Fotografía en que se ve una joven mujer, de piel clara, pelo largos y sueltos, está
sentada en una banqueta con una bandeja de tintas en su mano derecha y está
pintando una pantalla. La pantalla está de frente para la mujer.
https://on.soundcloud.com/44Mth
Fonte: https://www.instagram.com/flaneureuses/.
Na fotografia se vê uma moça de pele clara, cabelos longos e pretos, está abraçada
em um cachorro, de porte médio e de pelo marrom.
https://on.soundcloud.com/VTND4
En la fotografía se ve una chica de piel clara, pelo longos y negros, está abrazada en
un perro de porte médio e de pelo marrón.
https://on.soundcloud.com/iNjXG
84
Fonte: https://www.instagram.com/flaneureuses/.
Na fotografia se vê uma moça de pele clara, cabelos pretos abaixo dos ombros e
soltos. Veste terno preto com uma gravata borboleta vermelha, ao lado, um pinguim
igualmente com uma gravata borboleta vermelha.
https://on.soundcloud.com/6nTXv
En la fotografía se ve una chica de piel clara, pelo negro abajo de los hombros y
están sueltos. Lleva tierno negro con una corbata mariposa roja, al lado, un pinguino
igualmente con una corbata mariposa roja.
https://on.soundcloud.com/mdYRw
Fonte: https://www.instagram.com/flaneureuses/.
https://on.soundcloud.com/vevqY
85
https://on.soundcloud.com/cHsJJ
Fonte: https://www.instagram.com/flaneureuses/.
https://on.soundcloud.com/zfpEK
https://on.soundcloud.com/FhsRS
86
Tradução da autora.
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