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BOLETIM TÉCNICO NO.

11/03 (REVISÃO DE MARÇO/2005)

TECNOLOGIAS DISPONÍVEIS PARA SUPORTE DE VOLTAGEM, PARTE I:


BANCO DE CAPACITORES E COMPENSADORES SÍNCRONOS
Banco de capacitores e compensadores síncronos são usualmente vistos mais como tecnologias complementares
do que concorrentes. A maioria dos observadores das indústrias reconhece que compensadores de reativo
estático e compensadores síncronos competem entre si, mas também que banco de capacitores e compensadores
síncronos não. A razão é que parece que é universalmente reconhecido que, enquanto os bancos de capacitores
trabalham adequadamente dentro de sua faixa de atuação, que é contribuir com VARS para o sistema de
uma certa maneira e extensão, seu escopo é limitado se comparado ao de um compensador síncrono, o qual,
dependendo do seu tamanho, tem uma atuação bem mais abrangente desempenhando o papel de regulador de
voltagem. Em resumo, pois, os dois não são vistos como “um ou outro” mas sim como tecnologias diferentes,
um dos quais é encontrado mais freqüentemente numa função de suporte de voltagem ao outro.
Tendo dito isto, seria provavelmente mais útil comparar e contrastar as duas tecnologias em três áreas:
I. Faixa de capabilidade
II. Custo
III. Confiabilidade
As referências estão colocadas onde apropriadas e relacionadas como NOTAS ao final, não para ser pretensioso
ou acadêmico, mas para dar crédito onde os créditos são devidos, e também para dar ao leitor um grau de
independência para confirmar o que está sendo dito.

I. FAIXA DE CAPABILIDADE
Todas as fontes consultadas concordam que o compensador síncrono é uma tecnologia que, para a finalidade
de suporte de voltagem, é mais adequada do que e, francamente, superior ao banco de capacitores. Por quê?
Existem várias razões freqüentemente citadas:
a) Capacitores podem suprir energia reativa quando necessário, mas não podem absorvê-la.1 Isto significa
dizer que eles só podem suprir VARS. Portanto, de uma maneira bem fundamental, capacitores são
limitados na medida que eles possam contribuir para controle de voltagem. Por outro lado, capacitores
não podem contribuir de maneira alguma para restauração da estabilidade do sistema sob condições de
alta voltagem. E, em face do aumento rápido de carga e queda de voltagem, capacitores tornam-se cada
vez menos efetivos e podem contribuir para o efeito espiral para baixo que é característico do colapso de
voltagem.
Tal como explicado no relatório da entidade FERC intitulado “Princípios para o Fornecimento e Consumo
Eficiente e Confiável de Energia Reativa” (Fev. 4, 2005) “a saída da energia reativa de capacitores é
proporcional ao quadrado da voltagem. Isto pode ser um problema durante a contingência ou a condição de
voltagem reduzida; quando a voltagem cai, a energia reativa suprida pelos capacitores decresce de acordo
com o quadrado da voltagem, provocando a voltagem de cair mais ainda” 2 Numa situação extrema, isso
pode acelerar o efeito dominó culminando num evento tão catastrófico quanto o apagão de 14 de agosto,
2003 nos EUA.
vs

Pelo seu modo de regulador automático de voltagem, o gerador elétrico funciona como compensador
síncrono e coloca VARS na rede nas condições de baixa voltagem/carga pesada e absorve VARS na
situação de alta voltagem/baixa carga de uma maneira contínua e em incrementos suaves. Numa situação
de crise, isto é, aumento súbito de carga e queda de voltagem, o compensador síncrono continua seu
efeito de balancear o sistema, acrescentando ou removendo VARS tal quanto necessário, de uma maneira
bem suave, e restabelecendo a estabilidade. De uma maneira geral, a “inércia mecânica do sistema de
compensação síncrona pode ser útil nos casos de variação brusca de cargas.” 3

b) “Capacitores precisam ser introduzidos em blocos numa variação em degrau, enquanto o compensador o
faz linearmente.” 4

“Os bancos de capacitores são chaveados em blocos. Capacitores chaveados não podem ajustar suavemente
sua potência reativa de saída porque eles dependem de chaves mecânicas e levam vários ciclos (menos que
um segundo) para operar. Quando os capacitores são retirados do sistema, eles precisam ser descarregados
antes de serem religados, e normalmente o tempo de descarga varia de dois até quinze minutos.” 5

vs

Compensadores síncronos contribuem para estabilização da voltagem, tal como declarado acima, de uma
maneira suave, sem atropelos e sem chaveamentos.

c) “Capacitores podem introduzir ressonância no sistema de energia.” 6

vs

Ressonância/harmônicos não são introduzidos no sistema como resultado do uso de compensadores


síncronos.

Conclusão: “Capacitores não são tão efetivos quanto compensadores síncronos ou compensadores de VARS
estáticos (para essa finalidade) para o objetivo de controle de fator de potência ou de voltagem.” 7

II. CUSTO (NÃO PREÇO)

O relativamente baixo preço dos capacitores e a facilidade de suas instalações, onde necessário, são vantagens
tradicionais que eles oferecem. Entretanto, vale a pena comentar que capabilidade de chaveamento automático
não é econômica. Além disso, numa estimativa de custo total deveria ser levado em conta o espaço físico
necessário para acomodar o banco de capacitores ou bancos (onde você quer instalá-lo? quanto que custa o
terreno? como se poderia camuflá-lo, se necessário?). Um elemento de meio ambiente teria que ser levado
em conta no custo total do capacitor, em termos de uma outra estrutura no local da instalação, além de ser
potencialmente perigoso para humanos e vida selvagem, principalmente pássaros.8 Na verdade o que mais se
ouve com relação à dimensão do meio ambiente vem de fontes internacionais; capacitores disponíveis ou em
serviço, especialmente em paises desenvolvidos, podem ser um alarme (ou “red flag”) de caráter ambiental,
mais do que são nos EUA.

2
vs

O eficiente uso de um ativo existente já totalmente depreciado é o que a conversão de muitos geradores para
compensação síncrona significa. “A alternativa de compensação síncrona pode também oferecer a oportunidade
de recuperar equipamentos de geração que, de outra maneira, seriam abandonados.” 9 Ou como um outro autor
coloca, “o usuário tem assim obtido consideráveis benefícios ao usar o pleno potencial de MVA/MVAR do
gerador já antigo para conseguir a mais alta utilização dos ativos e melhoria de rendimento, resultando num
maior retorno do capital investido.” 10 Por quê não ensinar “a velhos geradores truques novos?” 11 Investimentos
em modificações e atualização do equipamento serão necessários, é claro, mas com grande economia, além de
não haver necessidade de utilizar qualquer área fora daquela da usina.
Por outro lado, sem dúvida a solução mais econômica é adquirir a opção como compensador síncrono
juntamente com o novo equipamento, ou seja, já vir “instalado de fábrica”. No caso de um grupo turbina à gás-
gerador, por exemplo, é geralmente reconhecido que o acréscimo do equipamento específico para compensação
síncrona no pacote original acrescenta cerca de 2-4% ao preço total.

III. CONFIABILIDADE

Tanto o banco de capacitores quanto o compensador síncrono tem uma longa estória de confiabilidade.
Adequadamente projetados e instalados, cada um pode desempenhar, dentro do escopo para o qual ele foi
projetado e imaginado, muito bem.
Geradores funcionando como compensadores síncronos já existem há mais de 100 anos, e bancos de
capacitores são conhecidos desde os anos 20 do século passado. Na realidade, “os primeiros capacitores foram
freqüentemente chamados de condensadores.” 12 Historicamente, não é que uma tecnologia tenha suplantado a
outra, porque os dois existiram (e ainda existem) lado-a-lado, e, freqüentemente, um complementando o outro,
mas sendo animais diferentes: um mais completo em termos de potência reativa/fator de potência/controle de
voltagem/capacidade de estabilização, mas sendo gerador-específico, e o outro limitado em escopo mas ainda
útil, e acima de tudo, portátil.
Como exemplo dessa sinergia seria a solução alcançada pela “Keys Electrical System” localizada em Key West,
Flórida, para resolver um problema bem peculiar que teve há alguns anos atrás. Tal como descrito em detalhe
em vários artigos publicados, 13, 14 bancos de capacitores colocados estrategicamente ao longo da linha de
transmissão de 138 kV, que liga as ilhas ao continente ao sul de Miami foram, de algum modo, úteis em suportar
a voltagem, mas foi necessário converter um gerador de 44 MVA de uma turbina a vapor abandonada no final
de uma linha para funcionar como compensador síncrono todo o tempo, para realmente estabilizar a voltagem,
e, assim, permitindo que ele chegasse no seu limite térmico e, dessa maneira, liberando 34 MW adicionais na
linha existente. A nova função dos capacitores, então, é fornecer apoio ao principal sustentador da voltagem, o
compensador síncrono. Nesse sinergismo, pelo menos nesse caso, o compensador síncrono faz a parte do leão
balanceando a energia reativa ao longo das 24 horas, e, desse modo, aliviando a necessidade de constantemente
estar chaveando capacitores para dentro e fora da rede. Como um subproduto, pelo fato dos capacitores ficarem
ligados tempo todo, sem que ocorra chaveamento, o custo de manutenção associado com eles ficou bastante
reduzido.

3
Entrevistas com executivos das indústrias e uma revisão da literatura sugere que a combinação de equipamento
novo de relativamente baixo preço, disponibilidade sob encomenda, rapidez e facilidade de instalação, mais
um “marketing” agressivo de venda por vendedores e distribuidores, acarretou uma larga aceitação de banco
de capacitores como uma tecnologia padrão, muito além do que sua aplicação sugere. Por outro lado, os
compensadores síncronos não têm os defensores que os bancos de capacitores possuem. A conversão de
geradores existentes para compensadores síncronos tem uma história antiga e bem sucedida, mas não tem um
discurso de defesa coeso no mercado. Como resultado, e apesar das evidências, os compensadores síncronos,
freqüentemente, são vistos como novidade ao em vez da tecnologia comprovada que são.
Qual nossa experiência? Se examinarmos somente a SSS Clutch Company, Inc. vamos saber que:
• Ela se especializou exclusivamente em embreagens de alta potência, automáticas, há mais de 50 anos.
• Durante 40 daqueles 50 anos ela forneceu embreagens de desligamento para mais de 600 aplicações
como compensador síncrono em cerca de 55 paises espalhados pelo mundo.
• Mais de 100 dessas aplicações tem 100 MW ou tamanho maior.
• A maior delas é uma embreagem que transmite 300 MW, trabalhando em 3000 rpm, que está em serviço
contínuo na Alemanha desde 1976, e que engata e desengata cerca de 1000 vezes por ano.
• A propósito, nos casos em que não há acionador primário envolvido, como nos de gerador solitário (sem
turbina) que são convertidos para operar como compensador síncrono, a embreagem propriamente dita
não precisa ter nada próximo do MW das máquinas, cuja operação ela está permitindo.
Como exemplo do último caso citado acima-gerador solitário (sem turbina)-temos a conversão dos dois
geradores da usina nuclear Zion Nuclear Power Station de 1220 MVA para compensação síncrona feita em
1998, usina essa localizada em Zion, Illinois, USA. A Commonwealth Edison desligou os reatores e parou a
geração de MW em 1998, mas a usina continua aberta até hoje, somente com a finalidade de fornecer
1650 MVAR como parte da rede do Midwest, permitindo assim o fluxo do equivalente em MW para a área
do grande Chicago. Sem dúvida o “paper” publicado pela ComEd sobre esse assunto em 1999 15 é o melhor
e a mais útil referência sobre compensadores síncronos para qualquer estudo de viabilidade referente a uma
adaptação daquela magnitude.

Concluindo, banco de capacitores e compensadores síncronos são tecnologias diferentes que complementam
uma a outra, ao em vez de competir pela mesma função no suporte de voltagem. Os primeiros são úteis
mas parciais, enquanto os últimos constituem um estabilizador do sistema de transmissão mais completo.
Direitos comerciais adquiridos têm defendido e espalhado a utilização dos bancos de capacitores, enquanto os
compensadores síncronos, embora tecnicamente superiores, por sua própria natureza nunca tiveram nenhum
patrocínio ou defensor. Ambas tecnologias estão disponíveis no mercado hoje em dia.

4
NOTAS

1. Private Communication dated June 2, 1980, written by A.C. Dolbec, Program Manager, Power Generation Program,
Advanced Fossil Power Systems, Electric Power Research Institute (EPRI), Palo Alto, California.
2. “Principles for Efficient and Reliable Reactive Power Supply and Consumption,” Federal Energy Regulatory
Commission Staff Report, Docker No. AD05-1-000, February 4, 2005, p. 33.
3. “Automatic Control and Protection of Medium Sized Generators Operating in Parallel With a Large Power System,”
by Tony Fogwell, Brush Electrical Machines Ltd., U.K., Publication No. 11/7017, November, 1983.
4. “The Return of the Synchronous Condenser,” by Donald L. Clark, Associate and Senior Electrical Project Engineer
and Paula L. Scholl, Senior Mechanical Project Engineer, Sargent & Lundy LLC, Chicago, Illinois. Presented at the
American Power Conference, Chicago, Illinois, April 13-15, 1992.
5. FERC Staff Report, pp. 33–34
6. Clark and Scholl, p. 6.
7. Idem, p. 6.
8. Power Generation Consultants, Mexico City, Mexico, December, 2003.
9. Clark and Scholl, p. 7.
10. “Clutches for Synchronous Condensing,” by C.R. Simmons, in Diesel & Gas Turbine Progress, March, 1977.
11. “Teaching Old Generators New Tricks,” by Dr. Robert Peltier, PE, Power, November-December, 2003, pp. 33-38.
12. Clark and Scholl, p. 1.
13. “Synchronous Condenser: An Idea Whose Time Has Come,” by David Gerstenkorn, Electrical World,
February, 1998, pp. 43-45.
14. “Improving Transmission Efficiency Using a Synchronous Condenser,” by David Gerstenkorn and
Morgan L. Hendry, presented at the FMEA Connections Workshop, October, 1997.
15. “Conversion of Two Zion 1220 Mva Generators to Synchronous Condenser Operation,” by Raymond Cameron,
Equipment Specialist, Technical Services, ComEd, and Thomas W. Kay, Technical Studies Director, T & D Planning,
ComEd., presented at the American Power Conference, Chicago, Illinois, 1999.

SSS Clutch Company, Inc. Traduzido por Eng. Cláudio Vasconcellos


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