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POR QUE
CONTROLAR
O USO DE
TESTES
PSICOLÓGICOS?
METODOLOGIA DE TÉCNICAS DE EXAME PSICOLÓGICO 2
Prof. Álvaro José LELÉ
(p.23)
POR QUE CONTROLAR O USO DE TESTES PSICOLÓGICOS?
"Você poderia me dar um formulário do Stanford-Binet? Meu sobrinho vai fazê-lo na
próxima semana para ser admitido na escola X e eu gostaria que ele praticasse um
pouco para ser aprovado."
"Para melhorar o programa de leitura na nossa escola, nós precisamos de um teste de
QI independente da cultura, que meça o potencial inato de cada criança."
"Ontem à noite eu respondi às perguntas de um teste de inteligência publicado em uma
revista e consegui um QI de 80 — eu acho que os testes de inteligência são uma
bobagem"
"Minha colega de quarto está estudando psicologia. Ela me aplicou um teste de
personalidade e eu fui classificada como neurótica. Desde então, fiquei perturbada
demais para ir à aula."
"No ano passado, vocês aplicaram um novo teste de personalidade em nossos
empregados para fins de pesquisa. Eu gostaria de ter os escores para colocar em suas
fichas pessoais."
Estes comentários não são imaginários. Cada um deles está baseado em um incidente real, e a
lista poderia facilmente ser aumentada por qualquer psicólogo. Tais comentários ilustram os
potenciais usos inadequados ou as interpretações erronias dos testes psicológicos que os
tornam sem valor ou magoam o indivíduo. Como qualquer instrumento científico ou ferramenta
de precisão, os testes psicológicos precisam ser usados apropriadamente para serem efetivos.
Nas mãos de usuários inescrupulosos ou nas mãos de pessoas bem-intencionadas porém
desinformadas, eles podem causar sérios danos. Aqui estão duas razões principais para
controlarmos o uso dos testes psicológicos: (a) para garantir que o teste será aplicado por um
examinador qualificado e que os escores serão adequadamente utilizados; e (b) para evitar
uma familiaridade geral com o conteúdo do teste, o que o invalidaria.
uma pesquisa intensiva, no país inteiro, o projeto TUQWoG desenvolveu um grande banco de
dados. Alguns editores já começaram a usar os resultados em seus formulários de qualificação
para os compradores. Um segundo grupo de trabalho foi formado subseqüentemente, com o
objetivo de usar o banco de dados disponível do TUQWoG para criar orientações e materiais de
treinamento para os usuários de testes. Conhecido pelo acrônimo modificado de TUTWoG (em
que o T significa treinamento), ele tem como seu primeiro produto um manual com ilustrações
de usos inadequados comuns a serem evitados (Eyde et al.., 1993). Os casos baseiam-se em
exemplos específicos de usos inadequados realmente observados em uma variedade de
ambientes avaliados no amplo levantamento do projeto. Um resumo posterior é apresentado
por Moreland et al. (1995).
Garantir a segurança do conteúdo de um teste específico não precisa — e não deve — interferir
com a comunicação efetiva das informações sobre a testagem dirigida a testandos,
profissionais envolvidos e ao público em geral. Essa comunicação tem vários objetivos.
Primeiro, ela tende a desfazer qualquer mistério que possa ter sido associado à testagem e,
portanto, ajuda a corrigir concepções errôneas predominantes sobre o que os testes são
planejados para fazer e o que significam seus escores. Várias publicações claramente escritas
distribuídas por alguns dos maiores editores de testes foram planejadas por esta razão. Um
segundo tipo de comunicação refere-se aos procedimentos técnicos por meio dos quais
determinados testes foram construídos e avaliados; ela apresenta os dados relevantes sobre
fidedignidade, validade e outras propriedades psicométricas dos testes. Esse tipo de
informação costuma ser incluído no manual técnico preparado para cada teste e está disponível
para qualquer pessoa interessada.
Uma vez que a exigência de revelação requer a preparação de uma nova forma de teste para
cada nova aplicação, isso pode ter vários efeitos adversos. Eles incluem, entre outros, menos
datas de testagem disponíveis durante o ano, aumento na taxa de inscrição para os candidatos
e redução dos procedimentos de controle de qualidade que devem ser seguidos na construção
do teste e na equiparação dos escores de testes aplicados em momentos diferentes. Também
convém observar que muito poucos testandos aproveitam a oportunidade de revelação do
teste, e que o desempenho no releste em uma outra forma não é significativamente melhorado
por essa revelação (Stricker, 1984). Os objetivos desejáveis que motivaram a proposta das leis
de revelação dos testes podem ser atingidos mais efetivamente e sem efeitos colaterais
negativos reforçando-se os procedimentos existentes de comunicação de informações sobre
os testes.
APLICAÇÃO DE TESTES
Os princípios básicos da testagem envolvem a generalização da amostra comportamental
observada na situação de testagem para o comportamento manifestado em outras situações,
de não-teste. Um escore de teste deve nos ajudar a predizer quão bem o cliente irá sentir-se e
agir fora da clínica, como o aluno irá sair-se nos cursos universitários, e que desempenho o
candidato irá apresentar na função. Quaisquer influências que são específicas da situação de
teste constituem variância de erro e reduzem a validade do teste. Conseqüentemente, é
importante identificar qualquer influência relacionada ao teste que possa limitar ou prejudicar a
generalização dos resultados de teste.
Um livro inteiro poderia ser dedicado a uma discussão dos procedimentos desejáveis de
aplicação de testes. Mas tal exame foge ao alcance deste livro. Além disso, é mais prático obter
essas técnicas em ambientes específicos, porque nenhuma pessoa normalmente estaria
preocupada com todas as formas de testagem, do exame de bebês à testagem clínica de
pacientes psicóticos ou à aplicação de um programa de testagem em massa para o contingente
militar. Apresente discussão, portanto, tratará principalmente dos princípios comuns da
aplicação de teste, e não de questões específicas de implementação. Um exemplo excelente de
implementação pode ser encontrado na discussão ampla da avaliação individual de crianças
apresentada por Sattler (1988, Capítulo 5).
testagem. Portanto, devem ser empenhados esforços especiais para prever e antecipar
emergências. Somente desta maneira a uniformidade dos procedimentos pode ser garantida.
projeto de testagem de grupo com alunos de ensino médio: os grupos que usavam mesinhas
tendiam a obter escores mais elevados (T.L. Kelley, 1943; Traxler & Hilkert, 1942). Também há
evidências demonstrando que o tipo de folha de resposta empregado pode afetar os escores de
teste (F.O. Bell, Hoff & Hoyt, 1964). Em virtude do estabelecimento de agências independentes
de pontuação de testes e processamento de dados, que oferecem suas próprias folhas de
respostas pontuáveis por máquinas, os examinadores as vezes aplicam testes grupais com
folhas de resposta diferentes das usadas na amostra de padronização. Na ausência de
verificação empírica, a equivalência dessas folhas de resposta não pode ser tomada como
certa. Na testagem de crianças abaixo da quinta série, o uso de qualquer folha separada de
resposta pode baixar significativamente os escores de teste (Cashen & Ramseyer, 1969;
Ramseyer & Cashen, 1971). Nessas séries escolares, geralmente é preferível fazer com que a
criança assinale as respostas no próprio caderno de teste.
Ainda mais significativas, em qualquer idade, são as possíveis diferenças entre a aplicação de
lápis-e-papel e por computador dos mesmos testes. Uma atenção considerável tem sido
dedicada ao efeito dessa diferença de aplicação sobre as normas, a fidedignidade e a validade,
com relação à natureza do teste e à população de testandos. Foram criadas orientações
profissionais especiais para ajudar os usuários de testes a avaliar a comparabilidade dos
escores obtidos nos dois tipos de aplicação (Butcher, 1987; Hofer & Green, 1985).
Os exemplos podem facilmente ser multiplicados. As implicações são triplas. Primeiro, siga os
procedimentos padronizados nos mínimos detalhes. É responsabilidade do autor e do editor do
teste descrever esses procedimentos de forma completa e clara no manual do teste. Segundo,
registre qualquer condição incomum de testagem, mesmo que mínima. Terceiro, leve em conta
as condições de testagem quando interpretar os resultados do teste. Na avaliação extensiva de
uma pessoa através da testagem individual, um examinador experiente pode ocasionalmente
afastar-se do procedimento padronizado para obter informações adicionais por razões
especiais. Neste caso, os resultados do teste já não podem ser interpretados em termos das
normas do teste. Nestas circunstâncias, os estímulos do teste são usados apenas para uma
exploração qualitativa, e as respostas devem ser tratadas da mesma maneira que são tratadas
quaisquer outras observações comportamentais informais ou dados de entrevista.
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As crianças das primeiras duas ou três séries do ensino fundamental apresentam muitos dos
problemas de testagem da criança pré-escolar. A abordagem do jogo ainda é a maneira mais
efetiva de despertar o interesse pelo teste. A criança escolar mais velha normalmente pode ser
motivada através do apelo a um espírito competitivo e do desejo de sair-se bem nos testes. Mas
quando se testa crianças de backgrounds com desvantagens educacionais ou de culturas
diferentes, o examinador não pode presumir que elas estarão motivadas a sair-se bem em
tarefas acadêmicas da mesma forma que as crianças da amostra de padronização. Este e
outros problemas relativos à testagem de pessoas com backgrounds experienciais diferentes
são considerados com detalhes nos Capítulos 9,12 e 18.
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Ao testar uma criança em idade escolar ou um adulto, devemos lembrar que qualquer teste
apresenta uma ameaça implícita ao prestígio do indivíduo. Portanto, certa garantia deve ser
dada inicialmente. Convém explicar, por exemplo, que não se espera que ninguém termine ou
faça todos os itens corretamente. De outra forma, o testando poderia experienciar uma
sensação crescente de fracasso uma vez que avançasse para os itens mais difíceis ou fosse
incapaz de terminar algum sub-teste no tempo permitido.
Estudos completos dos efeitos das variáveis do examinador e das variáveis situacionais sobre
os escores de teste têm sido publicados periodicamente (Lutey & Copeland, 1982; Masling,
1960; S.B. Sarason, 1954; Sattler, 1970, 1988; Sattler & Theye, 1967). Embora alguns efeitos
tenham sido demonstrados com testes grupais objetivos, a maioria dos dados foi obtida com
técnicas projetivas ou com testes individuais de inteligência. Estes fatores externos tendem a
operar mais com estímulos não-estruturados e estímulos ambíguos, e também com tarefas
difíceis e novas, do que com funções claramente definidas e bem-aprendidas. Em geral, as
crianças são mais suscetíveis ao examinador e às influências situacionais do que os adultos; no
exame de crianças pré-escolares, o papel do examinador é especialmente crucial. Pessoas
emocionalmente perturbadas e inseguras, de qualquer idade, também tendem a ser mais
afetadas por estas condições do que as pessoas bem-ajustadas.
sessões de testagem não revelaram nenhuma evidência de influência verbal por parte de
qualquer examinador. As expectativas dos examinadores aparentemente operaram através de
sugestões posturais e faciais sutis, às quais os testandos responderam.
As atividades dos testandos imediatamente precedentes ao teste também podem afetar seu
desempenho, especialmente quando elas produzem perturbação emocional, fadiga ou outras
condições desvantajosas. Em uma investigação com escolares de terceira e quarta séries,
havia alguma evidência sugerindo que o QI no Desenho da Figura Humana era influenciado
pelas atividades precedentes de sala de aula (McCarthy, 1944). Em uma ocasião, os alunos
tinham escrito uma composição sobre "A Melhor Coisa Que Já Me Aconteceu"; em outra
ocasião, eles também tinham escrito, mas sobre "A Pior Coisa Que Já Me Aconteceu". Os QIs
no segundo teste, seguindo-se ao que pode ter sido uma experiência emocionalmente
depressiva, apresentavam uma média de 4 ou 5 pontos mais baixa do que no primeiro teste.
Estes achados foram corroborados em uma investigação posterior planejada especificamente
para determinar o efeito da experiência imediatamente precedente ao Desenho da Figura
Humana (Reichenberg-Hackett, 1953). Nesse estudo, as crianças que tinham tido uma
experiência gratificante envolvendo a solução correta de um enigma interessante, seguida por
uma recompensa de brinquedos e balas, apresentaram uma melhoria maior em seus escores
de teste do que aquelas que tinham passado por experiências neutras ou menos gratificantes.
Resultados semelhantes foram obtidos por W.E. Davis (1969a, 1969b) com alunos
universitários. O desempenho em um teste de raciocínio aritmético foi significativamente inferior
quando precedido por uma experiência de fracasso em um teste de compreensão verbal do que
em um grupo de controle que não recebera nenhum teste precedente e em um grupo que fizera
um teste de compreensão verbal padrão em condições normais.
Vários estudos trataram dos efeitos feedback referente aos escores de teste sobre o
desempenho subseqüente do indivíduo. Em uma investigação especialmente bem-planejada
com alunos de sétima série, Bridgeman (1974) descobriu que o feedback de "sucesso" era
seguido por um desempenho significativamente mais elevado em um teste semelhante, se
comparado ao feedback de "fracasso" para alunos que na verdade tinham apresentado um
desempenho igualmente bom. Esse tipo feedback motivacional pode operar amplamente
através dos objetivos que os participantes estabelecem para si mesmos em desempenhos
posteriores, e pode, portanto, representar um outro exemplo de uma profecia auto-realizadora.
Esse feedback motivacional geral, todavia, não deve ser confundido com o feedback corretivo,
em que o indivíduo é informado sobre os itens específicos que errou e recebe instruções
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corretivas; nestas condições, é muito mais provável que o feedback melhore o desempenho de
pessoas com um baixo escore inicial.
Os exemplos citados nesta seção ilustram a ampla diversidade das variáveis da tarefa que
podem afetar os escores de teste. Na maioria dos programas de testagem bem aplicados, o
examinador experiente está constantemente atento para detectar qualquer operação possível
de tais variáveis e para minimizar sua influência. Quando as circunstâncias não permitem o
controle destas condições, as conclusões derivadas a partir do desempenho nos testes devem
ser qualificadas.
Quando a professora diz que ela quer descobrir quanto vocês aprenderam, o seu
coração começa a bater mais rápido?
Quando você está fazendo um teste, geralmente pensa que não está se saindo bem?
De grande interesse é o achado de que tanto os escores de teste de realização escolar como
os de inteligência apresentaram correlações negativas significativas com a ansiedade de teste.
Correlações semelhantes foram encontradas entre estudantes universitários (I.G. Sarason,
1961). Estudos longitudinais também revelaram uma relação inversa entre mudanças no nível
de ansiedade e mudanças no desempenho em testes de inteligência ou de realização (K.T. Hill
& S.B. Sarason, 1966; S.B. Sarason, K.T. Hill & Zimbardo, 1964).
Estes achados, é claro, não indicam a direção das relações causais. É possível que os alunos
desenvolvam ansiedade de teste porque eles têm um mau desempenho em testes e, portanto,
experienciaram fracasso e frustração em situações anteriores de testagem. Em apoio a esta
interpretação está o achado de que em subgrupos de estudantes com escores elevados em
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oportunidades educacionais superiores e já estão preparados para sair-se bem nos testes.
Também é óbvio que quanto maior a semelhança entre o conteúdo do teste e o material de
treinamento, maior será a melhoria nos escores de teste. Por outro lado, quanto mais a
instrução se restringe ao conteúdo específico de um teste, menos provável que a melhoria se
estenda ao desempenho de critério. Muitos estudos de treinamento, além disso, apresentam
resultados ambíguos e não-interpretáveis, em virtude de sérias deficiências metodológicas
(Anastasi, 1981a; Bond, 1989; Messick, 1980a). Uma das principais deficiências é a não-
utilização de um grupo de controle não-treinado que seja verdadeiramente comparável ao grupo
treinado. Os alunos que se inscrevem em programas comerciais de treinamento, por exemplo,
são auto-selecionados e tendem a diferir daqueles do grupo de controle na habilidade inicial, na
motivação e em outras características pessoais que afetam o desempenho nos testes. Além
disso, em delineamentos experimentais que usam pré-testes e pós-testes é difícil assegurar
que os testandos estejam igualmente motivados a sair-se bem em ambos os testes; isso é
especialmente verdadeiro se um teste é apresentado em uma aplicação regular, e o outro em
uma aplicação especial para prática ou apenas para fins de pesquisa.
O College Entrance Examination Board tem preocupando-se com o crescente número de cur-
sos comerciais de má qualidade oferecidos para os candidatos às universidades. Para
esclarecer a questão, o College Board realizou vários experimentos bem-controlados para
determinar o efeito de tal treinamento sobre o Scholastic Aptitude Test (SAT) e examinou os
resultados de estudos semelhantes de outros investigadores independentes (Donlon, 1984;
Messick, 1980a, 1981; Messick&Jungeblut, 1981). Esses estudos abrangiam uma variedade de
métodos de treinamento e incluíam estudantes de escolas públicas e particulares de ensino
médio. Também foram investigadas amostras de estudantes de minorias de áreas urbanas e
rurais. A conclusão de todos esses estudos é que o exercício intensivo em itens semelhantes
aos do SAT não tende a produzir ganhos apreciavelmente maiores do que os obtidos quando
os alunos são retestados com o SAT depois de um ano de instrução regular de ensino médio.
Convém observar também que sem seus procedimentos de construção de teste, organizações
como o College Board e o Graduate Record Examination Board investigam a suscetibilidade de
novos tipos de itens ao treinamento (Evans & Pike, 1973; Powers, 1983; Powers & Swinton,
1984; Swinton & Powers, 1985). Os tipos de itens em que o desempenho pode ser
apreciavelmente melhorado por treinamento a curto prazo ou instrução de natureza limitada não
são mantidos nas formas operacionais do teste. Um exemplo óbvio seria o tipo de problema
que requer uma solução simples, perspicaz, que, uma vez obtida, pode ser diretamente
aplicada à solução de problemas semelhantes. Quando encontrados no futuro, esses
problemas testariam a lembrança, e não as habilidades de solução de problemas. Um outro
exemplo é oferecido por tipos complexos de itens que usam materiais novos ou desconhecidos
e exigem instruções detalhadas e complicadas (Powers, 1986).
Os ganhos de escore também não se limitam às formas alternadas. O indivíduo que teve uma
longa experiência anterior com testes padronizados apresenta certa vantagem no desempenho
se comparado a alguém que está fazendo o teste pela primeira vez (Millman, Bishop &Ebel,
1965; Rod-ger, 1936). Parte dessa vantagem origina-se de o indivíduo ter superado um
sentimento inicial de estranheza, e também de ter desenvolvido mais autoconfiança e melhores
atitudes como testando. Outra parte é resultado de uma certa sobreposição no tipo de conteúdo
e funções abrangidos por muitos testes. A familiaridade específica com tipos de itens comuns e
a prática no uso de folhas de respostas objetivas também podem melhorar levemente o
desempenho. É especialmente importante levar em conta a sofisticação em teste quando com-
paramos escores obtidos por pessoas cuja experiência em testagem pode ter variado
amplamente. No caso da testagem aplicada por computador, devemos dar atenção à
familiaridade do testando com esta forma de aplicação (Hofer & Green, 1985).
Uma breve orientação e sessões de prática podem ser muito efetivas para equiparar a
sofisticação em testes (Anastasi, 1981a; Wahlstrom & Boersman, 1968). Este treinamento de
familiarização reduz os efeitos das diferenças anteriores em experiências de testagem. Uma
vez que essas diferenças individuais são específicas para a situação de teste, sua diminuição
deve permitir uma avaliação mais válida do domínio comportamental amplo que o teste deve
medir. Esta abordagem é ilustrada pela publicação do College Board intitulada Taking the SW I:
Reasoning Test, um folheto distribuído a todos os candidatos à universidade que se inscrevem
para fazer este teste. O folheto oferece sugestões de comportamentos efetivos na realização do
teste, ilustra e explica os diferentes tipos de itens incluídos no teste, e reproduz uma forma
completa dele, recomendando que os estudantes façam o teste usando o tempo-padrão e que
pontuem as respostas de acordo com o gabarito incluído. Um folheto semelhante, Taking the
SATII: Subject Tests, ilustra e explica itens de diferentes conteúdos do teste.
O Graduate Record Examinations (GRE) também oferece materiais de familiarização com o tes-
te. O Information Bulletin distribuído a todos os candidatos inclui uma explicação de alguns itens
do Teste Geral, assim como um teste completo anteriormente aplicado com seu gabarito de
respostas. Formas adicionais do teste são publicadas regularmente em forma de livro
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(Practicing to Take the GRE General Test). Estão disponíveis folhetos de prática semelhantes,
apresentando testes GRE individuais em várias áreas de conteúdo.
A onda de materiais de familiarização com testes iniciada nas décadas de oitenta e noventa não
se limita ao meio impresso, mas inclui transparências, slides, filmes, fitas de vídeo e software de
computador. Muitos desses materiais foram desenvolvidos e são distribuídos pelo Educational
Testing Service. Alguns são planejados para uso com testes específicos, conforme ilustrado por
um conjunto de slides que acompanha o Taking the SAT e outros sobre a interpretação dos
escores no SAT e nos testes de realização do College Board. Um programa de computador
para ajudar a compreender os escores do SAT também está disponível. Um software de
preparação de testes, relativamente elaborado, foi desenvolvido para estudantes que planejam
fazer o Teste Geral do GRE. Por meio de um programa interativo de computador, este pacote
oferece amostras de itens, uma situação de testagem simulada, com tempo cronometrado,
explicações para itens respondidos incorretamente e uma análise dos pontos fortes e fracos do
testando.
Outros materiais (impressos, filmes, pacotes de multimídia, software de computador) são plane-
jados para orientações de testagem mais gerais, abrangendo um intervalo que vai de crianças
de ensino fundamental a adultos. Um exemplo é On Your Own: Preparing for a Standardized
Test (1987), um vídeo que pode ser usado por alunos de ensino médio individualmente ou em
grupos. Um guia simples, completo, em forma de livro é How to Take a Test: Doing Your Best
(Dobbin, 1984). Alguns dos principais editores de testes comerciais e agências governamentais
também prepararam manuais de orientação para a realização de testes. Um exemplo é o
conjunto de materiais para uso com a General Aptitude Test Battery (GATB) do Serviço de
Empregos dos Estados Unidos.
Muitos dos procedimentos de treinamento empregados nesses programas são planejados para
desenvolver comportamentos efetivos de solução de problemas, tais como uma análise
cuidadosa dos problemas ou das perguntas; consideração de todas as alternativas, detalhes
relevantes e implicações para chegar-se a uma solução; formulação ou escolha deliberada, em
vez de impulsiva, de uma solução; e aplicação de padrões elevados na avaliação do próprio
desempenho. Estas, obviamente, são estratégias que devem melhorar o funcionamento
intelectual da pessoa não apenas em testes, mas também no trabalho académico e em muitas
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outras atividades da vida cotidiana que dependem da aprendizagem escolar. Uma questão
crucial, todavia, refere-se ao grau de transferência e generalização dos efeitos para além dos
tipos de conteúdos e ambientes empregados no treinamento. Os resultados relatados até agora
são promissores. Mas os programas ainda estão em um estágio exploratório, e precisamos de
mais pesquisas para estabelecer a amplitude e a durabilidade da melhoria obtida.
Resumo. Nós consideramos três tipos de treinamento de pré-teste que têm objetivos muito
diferentes. De que forma esses tipos de treinamento afetam a validade de um teste e sua
utilidade prática como um instrumento de avaliação? O primeiro foi o treinamento, no sentido de
exercícios intensivos, em grande quantidade, com itens semelhantes aos do teste. Foi
observado que testes bem-construídos escolhem tipos de itens que minimizam sua
suscetibilidade a tal exercício; e eles também protegem a segurança dos itens específicos de
testes. Na medida em que esse treinamento pudesse melhorar o desempenho no teste, ele o
faria sem uma melhoria correspondente no comportamento de critério. Portanto, ele reduziria a
validade do teste. O teste se tornaria uma medida menos efetiva das amplas habilidades que
deveria avaliar e um meio menos preciso de determinar se o indivíduo desenvolveu as
habilidades e os conhecimentos necessários para ter sucesso na situação de critério.
Os procedimentos de orientação para o teste, por outro lado, são planejados para excluir ou
equiparar diferenças na experiência anterior de testagem. Como os efeitos do treinamento,
essas diferenças representam condições que afetam os escores do teste em si, sem se
refletirem necessariamente no domínio comportamental mais amplo a ser avaliado.
Consequentemente, os procedimentos de orientação para o teste devem torná-lo um
instrumento mais válido ao reduzir a influência de fatores específicos do teste.
Finalmente, o treinamento de habilidades cognitivas amplamente aplicáveis, se bem-sucedido,
deve melhorar a habilidade do examinando para lidar com tarefas intelectuais subsequentes.
Essa melhoria certamente vai se refletir no desempenho no teste. Na medida em que tanto os
escores de teste quanto o desempenho de critério são melhorados, esse treinamento não altera
a validade do teste, mas ele aumenta as chances de o indivíduo atingir objetivos desejados.