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Apresentação
A proposta deste capítulo é apresentar aspectos do universo dos testes psicológicos
no que se refere a sua definição, classificação e aplicabilidade. Para tanto, optou-se por
iniciá-lo com a definição de testes psicológicos e, em seguida, por apresentar as suas
características técnicas essenciais. Decidiu-se, para fins didáticos, por diferenciar os
testes psicológicos em dois tipos – psicométricos e projetivos – forma de distinção usual
no ensino das disciplinas de Avaliação Psicológica no país (Alchieri & Bandeira, 2002).
Após discorrer-se sobre os aspectos teóricos e descritivos relacionados aos testes
psicológicos, será demonstrada, brevemente, como se configura a testagem psicológica
nas mais diferentes áreas da Psicologia. Por fim, busca-se refletir as particularidades da
área, e as questões práticas atuais que têm permeado as discussões em relação ao uso
dos instrumentos, tais como: acesso à informação, aspectos éticos do uso de testes e a
importância da formação.
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Ainda, é fundamental que alguns aspectos sejam discutidos, como a necessidade da
preservação das informações dos testes. Segundo Anastasi (2011), salienta-se que o
acesso do público leigo a informações sigilosas do teste pode trazer malefícios na
medida em que prejudicam os resultados do instrumento e, consequentemente, o
avaliando, já que os dados obtidos estarão enviesados. Portanto, é necessário que os
testes e seus dados não sejam divulgados pelos psicólogos a pessoas de outras áreas de
atuação ou que sejam disponibilizadas em meios de informação como a internet.
Para que se alcancem os objetivos esperados relativos aos testes psicológicos, deve-
se estar atento a parâmetros técnicos, que serão discutidos na próxima seção, e a
compreensão do teste e do sujeito. Acrescenta-se a isso, a importância do controle das
condições de aplicação e do estabelecimento de uma adequada relação entre avaliador e
avaliando (Anastasi, 2011).
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seja, à forma como os resultados de um teste devem ser compreendidos. Entende-se
que os resultados brutos de um teste só irão adquirir sentido quando
contextualizados. Por exemplo, em um teste de inteligência que possui normas para
interpretação dos escores por faixa etária, espera-se que um mesmo escore bruto em
crianças de faixas etárias diferentes seja interpretado também de forma diversa.
Ressalta-se ainda, que as normas têm como objetivo a uniformidade de processo na
avaliação do teste, ou seja, o estabelecimento de parâmetros de avaliação,
permitindo que se possa comparar o resultado de um sujeito com o de outro
(Anastasi, 2011; Hogan, 2006; Pasquali, 2010).
As informações técnicas são essenciais na escolha do teste a ser utilizado. Se um
instrumento não possui evidências de validade, por exemplo, não há segurança de que
as interpretações realizadas sobre os dados ou características psicológicas obtidas pelas
suas respostas sejam legítimas. Desse modo, essas e todas as outras informações do
instrumento devem estar presentes no seu manual, de modo que sua consulta é
indispensável. Com fins de avaliar as condições técnicas mínimas dos manuais, desde
2001, quando foi publicada a Resolução CFP n. 025/2001, o uso dos testes psicológicos
no Brasil passou a ser regulado pelo Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos
(SATEPSI). A avaliação da qualidade do manual ocorre em relação a quatro critérios
amplos: fundamentação teórica, evidências de fidedignidade e validade e sistema
interpretativo (Nunes & Primi, 2010; Nunes, 2011; Porto, Primi & Alchieri, 2004).
É importante ressaltar, no entanto, que embora o manual possa indicar ou sugerir
os contextos e os propósitos aos quais o instrumento pode ser aplicado, compete ao
psicólogo a responsabilidade pela decisão final sobre a forma de utilização do
instrumento (Hutz, 2011). Ainda que a lista de testes aprovados pelo SATEPSI
represente um guia com relação à validade desses instrumentos (lista permanentemente
atualizada no site do CFP – http://satepsi.cfp.org.br), apenas a sua aprovação não indica
que ele possa ser aplicado com qualquer propósito ou contexto. É necessário que o
avaliador leia cuidadosamente o manual e as pesquisas envolvidas na sua construção
para decidir se pode ou não utilizá-lo em determinada situação.
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Neste capítulo, a divisão classificatória reunirá os testes de acordo com sua
objetividade e padronização. Serão consideradas duas categorias: os testes
psicométricos e os projetivos, compreendendo os projetivos como uma categoria ampla
que engloba diversas subcategorias como os testes expressivos, estruturais e temáticos,
já que todos esses tipos trabalham com o conceito de projeção (Pinto, 2014). Pasquali
(2010) argumenta que essa dicotomização quanto aos tipos de testes é fundamental
para a escolha do instrumento, pois auxilia o psicólogo a identificar se o seu objetivo é
alcançado utilizando instrumentos psicométricos, projetivos ou ambos.
Os testes psicométricos buscam mensurar, através de critérios objetivos (concretos e
observáveis), o atributo ou construto que estão avaliando (p. ex., quociente de
inteligência ou nível de depressão). Esse tipo de instrumento envolve tarefas
padronizadas e foca-se muito mais no produto, ou seja, no resultado final, do que no
processo ao longo da produção de respostas do sujeito. A análise dos resultados se
utiliza de formas como correção mecânica e interpretação estatística (Pasquali, 2001).
Eles são estruturados na forma de inventários, escalas, entre outros. Como exemplo,
pode-se citar as Escalas Wechsler de Inteligência para Adultos (WAIS-III) (Wechsler,
2004) ou a versão para Crianças (Escalas Wechsler de Inteligência para Crianças –
WISC-IV) (Wechsler, 2013), que avaliam diferentes funções cognitivas. Testes para
investigação da personalidade como a Bateria Fatorial de Personalidade (BFP) (Nunes,
Hutz & Nunes, 2010) ou ajustamento psicológico, como as Escalas Beck (Cunha,
2001), também podem ser citadas dentro desse espectro de materiais psicométricos.
Já nos testes projetivos, os critérios para interpretar e/ou caracterizar determinado
construto são subjetivos (dinâmicos e não observáveis) (Bandeira, Trentini, Winck &
Lieberknetch, 2006), envolvendo tarefas pouco estruturadas. Tanto a apuração das
respostas quanto sua interpretação mostra-se mais sujeita à subjetividade do avaliador.
Por tal razão, é imprescindível um profundo conhecimento do instrumento por parte
deste, e da teoria que o embasa. Durante a avaliação também são levados em conta
comportamentos exibidos durante a testagem, abrangendo todo o espectro de
respostas, inclusive as não verbais (Bandeira et al., 2006; Pasquali, 2010). Estes podem
envolver tarefas gráficas, como por exemplo, o H-T-P: Casa-Árvore-Pessoa (Buck,
2003), que através da análise dos desenhos de uma casa, árvore e pessoa procura obter
informação de como a pessoa experiencia sua individualidade em relação aos outros e
ao ambiente do lar. Outro tipo de técnica projetiva é aquela que envolve imagens onde
a pessoa, através da percepção, apercepção e projeção, elabora respostas que ao serem
interpretadas trazem dados tanto sobre a estrutura quanto a dinâmica de sua
personalidade. Entre essas técnicas pode-se citar o Método de Rorschach – Sistema
Compreensivo de Exner (Exner, 1999) e o Teste de Apercepção Temática para Adultos
(TAT) (Murray, 2005) ou a versão para Crianças (Teste de Apercepção Infantil –
Versão com Animais – CAT-A) (Bellak & Bellak, 1991).
A Tabela 1 faz uma comparação entre os testes psicométricos e projetivos, e foi
construída a partir de uma compilação de informações fundamentadas propostas por
Anastasi (2011), Bandeira et al. (2006), Hogan (2006), Pasquali (2010) e Tavares
(2003). Ressalta-se que essa construção dicotômica não se presta a descrever a
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complexa diferença entre os testes, mas tem por objetivo apresentar suas diferenças
didaticamente. É importante lembrar que alguns projetivos também possuem um
caráter psicométrico na análise de seus dados como, por exemplo, o Rorschach –
Sistema Compreensivo de Exner (Exner, 1999).
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informatizados pode-se citar o fato de sua aplicação mostrar-se prática, econômica e
confiável, pois dispensa o uso de lápis e papel (Joly & Reppold, 2010). Outros
benefícios são: possibilidade de gerar estímulos mais complexos na tela do que seria
possível no papel ou em outros materiais físicos, a obtenção de variáveis específicas
(tais como tempo de reação em segundos), e a possibilidade de o examinador
permanecer livre para avaliação qualitativa do comportamento durante a execução da
tarefa (Coutinho, Mattos, Araújo & Duchesne, 2007). Por outro lado, a dificuldade de
acesso ao computador ou internet, a não familiaridade do avaliando com a tecnologia,
e a falta de auxílio do aplicador mediante possíveis dificuldades do avaliando na
interpretação dos itens, constituem desvantagens no uso, uma vez que são aspectos que
podem influenciar no resultado final (Andriola, 2003; Vendramini, Bueno & Barrelin,
2011). Existem também testes impressos que contam com levantamento informatizado,
como o WISC-IV e a BFP. Nesses casos, o recurso acaba proporcionando uma
mensuração mais precisa de seus resultados.
Psicologia Clínica
No âmbito clínico, uma das práticas mais comuns da avaliação psicológica é o
psicodiagnóstico. Este pode ter como foco analisar diversas questões como o
funcionamento cognitivo, emocional e/ou comportamental do sujeito, incluindo seus
aspectos constitutivos, patológicos e adaptativos. O processo psicodiagnóstico tem
como fim esclarecimento do diagnóstico ou funcionamento do sujeito e a realização das
indicações terapêuticas que podem gerar encaminhamentos para outros profissionais
(Arzeno, 2003; Cunha, 2000; Ocampo, Arzeno & Piccolo, 2005). Ao longo do
processo psicodiagnóstico, o psicólogo utiliza diversas técnicas (sendo muito empregada
a aplicação de testes psicológicos) para a análise de diferentes áreas como a
identificação de forças e fraquezas na cognição, na personalidade, nos aspectos
emocionais e comportamentais do paciente (Cunha, 2000). Desse modo, o
psicodiagnóstico ainda pode auxiliar de forma objetiva no estabelecimento de um plano
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