DOCENTE DR. JODEYLSON ISLONY DE LIMA SOBRINHO DISCENTE LAURYN ALVES FACCIOCHI
SERVIÇO SOCIAL EM TEMPO DE CAPITAL E FETICHE: A TESE DA
FUNÇÃO PEDAGÓGICA DO ASSISTENTE SOCIAL
Francisco Beltrão 2024 Resenha Crítica 3.7 A tese da função pedagógica do Assistente Social
A presente resenha busca traçar uma análise crítica da atuação do
Assistente social no contexto contemporâneo, conforme apresentado no ponto 3.7. A tese da função pedagógica do Assistente Social, abordado no livro “Serviço Social em Tempo de Capital Fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social” da autora Marilda Villela Iamamoto. Neste recorte do livro, a autora resgata elementos da produção crítica do Serviço Social de Antônio Gramsci. Resultante do tema do ponto 3.7, a autora procura reproduções teóricas da profissão de Assistente Social, na obra “O Serviço Social e a Organização da Cultura: perfis pedagógicos da prática profissional”, da autora Marina Abreu (2002), que no desenvolvimento teórico trata sobre os perfis pedagógicos da prática profissional do Assistente Social no Brasil. Na obra é ressaltada as análises teóricas das tendências dos processos históricos e o papel do Serviço social dentro desse contexto. A autora aborda de forma original a formação e os direcionamentos do Serviço Social brasileiro, destacando a qualidade das análises, sendo o foco de estudo a interpretação da profissão dentro do contexto das lutas de classes, na qual se faz presente a contradição do Serviço Social. A função pedagógica do Assistente Social, segundo a autora, é permeada pelas políticas públicas, tendo centralidade na política de assistência social, organizada pela cultura, da qual a cultura predominante no âmbito das estratégias político-culturais de marginalização das classes que possuem a força de trabalho. Assim, de acordo com as classes sociais, a autora propõe diferentes perfis pedagógicos profissionais, na qual elenca pedagogia da ajuda, pedagogia da participação e a pedagogia emancipatória das classes subalternas. Cada perfil pedagógico profissional demonstra o seu marco temporal e tem sua relevância no momento. A pedagogia da ajuda (1930) é associada a “ajuda psicossocial individualizada”, na qual o profissional atuava na naturalização das desigualdades da classe trabalhadora. Assim, essa pedagogia marcou a profissão no processo de institucionalização e organização da classe dominante. Na pedagogia da participação (1950) teve seu impacto no processo desenvolvimentista, na qual a participação da população possibilitaria a promoção social, em que "novos mecanismos de persuasão e coerção dos sujeitos envolvidos, bem como revitalizando processos já consolidados, sob o pretexto da superação do assistencialismo" (ABREU, 2002, p. 108). Nesse sentido, o objetivo era uma prática voltada a instauração de programas de mobilização de massa. Na análise de Abreu (2002), a reorganização da cultura demarca os perfis pedagógicos da história do Serviço Social, sendo sucessório ao Movimento de Reconceituação (1965-1975) movimento de travessia do Serviço Social conservador ao crítico, que o perfil pedagógico ganha um caráter emancipatório. Nesse sentido, a prática profissional era pautada na construção de estratégias críticas, em que o profissional atua partir da realidade social, articuladas as dimensões técnico-operativa, ético-político e teórico- metodológico. A autora define que a função pedagógica do Assistente Social é compreendida pelo vínculo que a profissão firma com as classes sociais, e que através da ação profissional agem na vida do sujeito. Essa ação é intermediada pela relação entre o estado e a sociedade, no que tange o enfrentamento das expressões da questão social. Desse modo, ao abordar sobre o trabalho profissional, ela observa sua dimensão pedagógica, descrevendo a capacidade profissional de impactar o pensar e agir dos sujeitos, no contexto de sociabilidade. Na exposição da fala de Marina Abreu, é possível definir que a profissão está inserida na produção e reprodução da vida material, e que a Concomitantemente ação pedagógica materializa a ação material do indivíduo, impactando no pensar e agir da classe inferiorizada. Assim, a autora, o conceito educacional na abordagem de Gramsci está centrado na conexão entre a organização racional da produção e do trabalho e na construção de uma ordem intelectual e moral, liderada por uma classe dominante. Nessa perspectiva, a assistência social é característica dos processos de organização da cultura, e compreendida como acesso das classes subalternas aos bens e serviços, a fim de suprir as necessidades básicas de sobrevivência. Dessa maneira, é um campo contraditório, visto que, ao mesmo tempo que a assistência é a porta de acesso, também é o campo de negação, mediante as imposições ao acesso a assistência pública na sociedade capitalista. Orientado pelos pensamentos da autora, a função pedagógica do profissional Assistente Social é indissociável da organização da cultura, e que as estratégias que orientam o pensar e agir dos indivíduos são determinados pelo estilo de vida. Para sustentar essa contribuição, a autora compreende que há um domínio de classe e que identifica a supremacia, como síntese de “coerção e consenso”. Para argumentar essa síntese, a autora coloca a percepção de Gramsci, que sua posição o Estado abrange dois setores: o da sociedade política que abarca diversos meios, na qual de um lado está a classe dominante, que detém o controle da coibição, que seria o Estado da coerção; e a sociedade civil, que abarca organizações encarregadas de produzir ideologias, como as igrejas, escolas, partidos políticos, entre outros setores de comunicação, e que este então seria o Estado de consenso. Dessa maneira, os argumentos expressam os mecanismos de classes na sociedade e que o predomínio é da classe dominante, e que configura a relações de desigualdade entre Estado e sociedade civil. Continuando com as contribuições da autora acerca do tema, ela coloca que as práticas do assistente social é fruto de uma análise histórica da formação social e economia do Brasil, e que nesse sentido vão de encontro com a relação da Igreja Católica (condicionante que esteve atrelado a gênese da profissão) e o Estado. A autora usa o argumento da profissionalização do Serviço Social, quando trata que a mesma só ocorreu quando a profissão rompe com a filantropia e passa a ser instrumento do Estado, na instauração de políticas norteadas para o controle social das classes subalternas. Nesse ponto, a autora coloca que isso, fez com que o Assistente Social ganhasse um novo mercado de trabalho, através da defesa dos seus interesses e neutralização da classe trabalhadora. Em um contexto histórico, o Serviço Social esteve por muito tempo atrelado a Igreja Católica, na qual a prática profissional era fixada na caridade e no assistencialismo, com o objetivo de pôr em acordo os conflitos socioeconômicos e de interesses da burguesia industrial, sob estímulo do Estado. Assim, Abreu (2002) coloca que a função pedagógica do Assistente Social se manifestou entre os anos 50 a 70, sob uma crise profissional, da qual de um lado estava formação e trabalhadores do modelo fordista, tendo como sustento o princípio educativo, que no Serviço Social passa para a “pedagogia da participação”. Em vista disso, a classe trabalhadora participa dos movimentos de transformação de cultura, que estabelece a “pedagogia da emancipação”, que seria um projeto profissional orientado pelos interesses das classes subalternas. Essa pedagogia, seria uma nova ordem na qual o trabalhador prepara-se para dominar o meio e que, nesse sentido, sustenta o argumento do movimento de superação da sociedade capitalista, da visão de uma nova cultura a luz de um projeto societário revolucionário. Vale destacar que, para a autora, o debate acerca da atualidade e da função pedagógica do Assistente Social, na qual a prática profissional está no campo da formação da cultura, nas atividades que impactam o modo de pensar e agir, a sociabilidade do indivíduo. Sob essa perspectiva, as atividades educativas estão integradas entre a eficiência na produção e no trabalho e na estruturação da cultura, o que nessa ótica, envolve a articulação com os interesses econômicos, políticos e ideológicos, que se adequa aos projetos societários, no conflito entre classes. A autora ao abordar essa temática, identifica um desafio ao Assistente Social, no que engloba a o desafio de participar de lutas emancipatórias contadas para uma construção de uma nova sociabilidade, em que propõem um Serviço Social Socialista. Esse pressuposto, norteia as práticas pedagógicas do Assistente Social, na perspectiva emancipatória, a partir da concretização dos direitos e necessidades dos indivíduos. Abreu sustenta que, na atualidade as políticas devem ter foco nas políticas de seguridade social, na qual a prática profissional pedagógica é incorporada na construção de sistemas de efetivação desses direitos, orientados pelas necessidades dos usuários. A autora, fundamentasse do posicionamento do conjunto CFESS/CRESS (2000), na defesa de que “a seguridade social é, sobretudo, um campo de luta e de formação de consciências críticas em relação à desigualdade social no Brasil, de organização dos trabalhadores”. Dessa maneira, no texto a autora cita diversas experiências profissionais que a função pedagógica do assistente social era de mediador nos processos de controle de ações do Estado, de forma crítica. Assim, a prática profissional voltada a emancipação das classes subalternas, apontando duas questões: a concepção do perfil pedagógico emancipatório do assistente social, como um direcionamento para a profissão no Brasil, associado as classes subalternas, e compreendido com um projeto socialista; e a falta de uma análise aprofundada da prática profissional. Fundamentando seus argumentos sobre a função pedagógica profissional na atualidade, aponta que o Assistente Social pode vincular-se a lutas sociais pela democratização das políticas de expansão dos atendimentos frente as necessidades das classes subalternas. Nesse sentido, o Assistente Social pode atuar em diversos espaços sócio-ocupacionais, dispondo de sua autonomia, e lidando com os impasses institucionais, vinculados a contratações nas diversas instituições. Enquanto classe social, os Assistentes Sociais estão inseridos na classe trabalhadora, sedo a realidade de trabalhador assalariado, não havendo restrições quanto a sua força de trabalho. Assim sendo, o Assistente Social, vende sua força de trabalho em troca do salário, na qual a autora define que não são enfatizadas as consequências da inclusão dessa mão de obra especializada no sistema de trocas de mercado, já que o salário é equiparado ao mundo das mercadorias. Por conseguinte, compreende com as contribuições da autora, que a participação política dos Assistentes Sociais dentro dos espaços ocupacionais e nos movimentos das classes subalternas, tem potencial para fortalecer uma abordagem crítica por parte do profissional. Assim, fica evidenciado que a dimensão pedagógica está ligada a prática profissional, e que a dimensão profissional está vinculada ao exercício diário do Assistente Social. Por fim, concluísse que o perfil profissional contemporâneo, aproxima-se do perfil pedagógico emancipatório, na qual os profissionais são convocados a pensar e agir, a partir da realidade vivenciada do indivíduo, pelas lutas e defesa dos direitos sociais. Dessa forma, fica evidente o caráter contraditório da profissão, em decorrência do Capital vs Trabalho, visto o profissional ser assalariado e cidadão político. Essas análises se vinculam a construção de uma pedagogia emancipatória a luz do projeto ético político.
REFERÊNCIAS
IAMAMOTO, Marilda Villela. Serviço Social em tempo de capital e fetiche:
capital financeiro, trabalho e questão social. Cortez editora, 2021.
ABREU, Marina Maciel. Serviço Social e a organização da cultura: perfis
pedagógicos da prática profissional. São Paulo: Cortez, 2002.