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DESAFIOS DO ENSINO DE HISTÓRIA NA ERA DA INTERNET: análise acerca da


relação professor-aluno no processo de ensino-aprendizagem.

Ailton dos Reis Fernandes

RESUMO
O presente estudo procura refletir sobre os desafios acerca do ensino de História na era da Internet;
tem por escopo a análise do intercâmbio professor-aluno no processo de ensino-aprendizagem, bem
como procura responder se, nos dias de hoje, com o advento da tecnologia, o computador poderia ou
não suprir a presença do professor de História como fonte transmissora de conhecimento. Realizou-
se uma pesquisa bibliográfica, tendo por fonte autores como COLL & MONEREO (2011), FREIRE
(1996) e LÉVY (1999), entre outros, procurando enfatizar a necessidade de mudanças na
metodologia, por vezes arcaica, do ensino de História, o que resulta na quebra da conexão ensino-
aprendizagem nas salas de aula. Concluiu-se que o processo de ensino-aprendizagem -- diante dos
desafios impostos pela tecnologia -- deva ser doravante de caráter coletivo, onde professores e
alunos possam trabalhar em conjunto na busca pelo conhecimento; constatou-se, ainda, ser
necessária a figura do professor no ensino de História.

Palavras-chave: Ensino-Aprendizagem. Professor. Aluno. Internet.


Introdução
O presente artigo tem como tema os desafios do ensino de História na era
da Internet, mormente a questão do ensino-aprendizagem onde o intercâmbio
professor-aluno deva se complementar de maneira eficaz.
Nesse sentido, algumas questões foram levantadas:
• Com o advento da Internet, como deve ser a relação professor-aluno
no processo de ensino-aprendizagem?
• O computador, por si só, pode substituir o professor?
Como a eficácia do ensino-aprendizagem está diretamente relacionada
às instituições escolares -- sendo a relação professor-aluno seu veículo principal --
com o advento da Internet, mister se faz compreender como deva ser essa relação;
nesse sentido, questionar a necessidade ou não do professor de História como
veículo transmissor de conhecimento também é importante.
Quando se fala em ensino, vários autores reconhecem na
interatividade um papel fundamental na transmissão do conhecimento, seja ela
advinda da relação educador-educando ou daquela existente entre homem e
máquina.
Neste contexto, a Internet -- por ser um instrumento de informação e
cultura potencialmente democrático, na concepção do historiador italiano Carlo
Ginzburg -- não se torna uma ferramenta autossuficiente nem faz mágica na área do
ensino. As escolas, segundo ele, precisam desse meio de informação, assim como a
 Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Franca.
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Internet precisa das escolas onde o verdadeiro ensino se faz presente (CORRÊA &
SCHULZ, 2011; GINZBURG, 2010).
Assim, sob a óptica que permeia a relação professor-aluno, este artigo
procura analisar -- valendo-se de questões-problema -- a transmissão do ensino de
História em meio à ascensão da Internet.
Neste intuito, utilizou-se, à guisa de método, a pesquisa bibliográfica,
onde diferentes meios de comunicação em literatura, tais como: livros, artigos
científicos, revistas, congressos e palestras foram analisados.
O estudo final foi embasado nas idéias e conceitos de autores como:
Coll & Monereo (2011), Freire (1996), Levy (1999), Moran (2000) entre outros.
Desenvolvimento

A aceleração da mudança, a virtualização, a universalização sem


fechamento são tendências de fundo, muito provavelmente irreversíveis,
que devemos integrar a todos os nossos raciocínios e todas as nossas
decisões. Em contrapartida, a maneira pela qual essas tendências vão se
encarnar e repercutir na vida econômica, política e social permanece
indeterminada. (LEVY, 1999, p. 200).

Atualmente, na história da humanidade, atravessamos por um período de


mudanças marcadas pela ascensão das ditas Tecnologias de Informação e
Comunicação.
Diariamente, olhos ávidos "navegam" a Internet (rede mundial de
computadores) à procura de curiosidades, entretenimento e informação. É "A
História na era Google."**** Os reflexos dessa revolução cultural, envolta em
facilidades e imediatismos, podem ser vistos através de uma crescente virtualização
das relações, onde se verifica uma concepção colaborativa em prol do
desenvolvimento de espaços e mecanismos de criação, socialização de informação
e conhecimento.
Em meio a esse turbilhão de acontecimentos, vemos as escolas
brasileiras -- professores e alunos em especial -- pegos no fogo cruzado da evolução
educacional. A escola é criticada por não acompanhar as mudanças ocorridas na
sociedade atual; temas como procedimentos metodológicos, estrutura curricular e o
**** Tema da palestra proferida pelo historiador italiano Carlo Ginzburg no seminário internacional
Fronteiras do Pensamento. Porto Alegre, 2010. Um vídeo com os principais momentos da conferência
encontra-se disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=wSSHNqAbd7E>.
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papel do professor e do aluno no desenvolvimento do ensino-aprendizagem são


sempre abordados.
Nesse seguimento, compreendemos que a escola deva exercer um
papel de destaque no sentido de se adotar temas e inovações tecnológicas
direcionadas ao dia a dia dos alunos, contribuindo assim no processo de ensino-
aprendizagem. Sobre a questão, Carlos Ferreira (1999, p. 144) alega em seu artigo
que,

Constitui-se hoje, para os educadores do ensino fundamental e médio, um


desafio muito grande ensinar alunos que tem contato cada vez maior com
os meios de comunicação e sofrem a influência da televisão, rádio, jornal,
vídeo-games,(...) computadores, redes de informação e etc. Como produzir
uma boa aula?(...) Como romper com as imposições de um ensino que
parou no tempo?

Sabemos que o ensino de História ainda se baseia ou está relacionado


a fatos, valendo-se de tendências narrativas e positivistas, o que denota para os
alunos um ensino desinteressante, maçante, sendo por vezes confuso e burocrático.
Como então contornar esse problema de ensino-aprendizagem?
O profissional das Ciências Humanas, inclui-se aqui o professor de
História, nutre um certo desprezo pelo manuseio de tecnologias no ensino, sendo o
professor, na maioria dos casos da prática pedagógica, um simples repetidor de
informações produzidas, o que torna o ato de ensinar defasado.
Nesse sentido, o "melhor caminho para promover a inclusão digital dos
docentes", segundo Pedro Demo (2007, p. 23), "é uma nova pedagogia,
tecnologicamente correta, que tenha como objetivo inserir, definitivamente, a
aprendizagem virtual na vida do professor." Ele alega que, "A verdadeira inclusão
digital é aquela feita pela via da alfabetização, que demanda professores a cavaleiro
do desafio tecnológico." O mesmo autor conclui que: "A escola, enfim, precisa
sacudir-se para não ser tragada pelas novas tecnologias, porque estas vieram para
ficar." (Idem).
Com o advento dessas tecnologias como sistema de aprendizagem,
tornou-se imperativo aos profissionais da educação o saber manuseá-las
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corretamente, deixando de lado os receios e as inseguranças do passado, pois


segundo Pierre Lévy,

O cúmulo da cegueira é atingido quando as antigas técnicas são declaradas


culturais e impregnadas de valores, enquanto as novas são denunciadas
como bárbaras e contrárias à vida. Alguém que condena a informática não
pensaria nunca em criticar a impressão e menos ainda a escrita. (LÉVY,
1999, p. 15).

Não podemos esquecer que a escola é a morada do ensino-


aprendizagem, da transmissão do conhecimento. Sendo assim, cabe a ela, através
dos profissionais da área de educação, adaptar-se a essa nova realidade eis que,
"As tecnologias não são apenas instrumentos de alfabetização. São, elas mesmas,
alfabetização." (DEMO, 2007, p. 23). Ainda segundo este autor, a mudança se faz
necessária, mas deve ser feita com cuidado pois, "Não se pode andar mais rápido
que o tamanho das pernas. Estamos muito atrasados, mas não dá para sair
correndo." (Idem).
Vemos atualmente que as formas de trabalho que melhor tem
predominado são aquelas amparadas pela construção colaborativa e simultânea de
ensino. Nesse aspecto, entendemos que a solução a essa questão passa pela
mudança de postura do professor na sala de aula; saindo este do foco central que
ocupa -- como detentor do conhecimento -- abraçando, por fim, a idéia de ser ele o
pesquisador, o coordenador de tarefas -- o gestor de recursos.
Coll e Monereo coadunam com esse entendimento ao relatarem que,

A imagem de um professor transmissor de informação, protagonista central


das trocas entre seus alunos e guardião do currículo começa a entrar em
crise em um mundo conectado por telas de computador (...) parece
inevitável que o professorado abandone progressivamente o papel de
transmissor de informação, substituindo-o pelos papéis de seletor e gestor
dos recursos disponíveis, tutor e consultor no esclarecimento de dúvidas,
orientador e guia na realização de projetos e mediador de debates e
discussões. (COLL & MONEREO, 2010, p. 31).
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Essa mudança de paradigmas resvala, outrossim, na imagem do aluno,


na medida em que este sai automaticamente de uma posição passiva -- de receptor
de informações -- para uma ativa, onde o exercício da investigação, da possibilidade
de interpretação e da contradição se faz necessário; dando margens assim a uma
nova perspectiva de trabalho em que a transmissão do conhecimento possa operar
de forma coletiva.
Nesse seguimento, cabe ressaltarmos que, assim como os demais
autores, entendemos ser relevante a presença do professor como mediador no
processo de ensino-aprendizagem pois,

Mais que a tecnologia, o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a


capacidade de comunicação autêntica do professor, de estabelecer relações
de confiança com os seus alunos, pelo equilíbrio, competência e simpatia
com que atua. (MORAN, 2000, p. 9).

De sorte que concordamos com Paulo Freire (1996, p. 27) quando este
menciona que, "Ensinar não é transferir conhecimento (...), mas criar as
possibilidades para a sua própria produção ou sua construção."
Ora, sendo a máquina (o computador) uma forma de se transferir
conhecimento, depreende-se não ser ela, por si só, capaz de atingir o ensino pleno
sem a interferência humana -- a tecnologia sozinha não educa. Somente o homem é
capaz de criar as possibilidades supramencionadas. Não obstante ser a Internet um
instrumento de comunicação poderoso, ela nunca deixará de ser uma ferramenta,
um meio de divulgação do conhecimento. Afinal, “Ensinar é uma especificidade
humana." (FREIRE, 1996, p. 91).
Entretanto, concordamos com os demais pesquisadores quanto à
necessária mudança de postura do professor quando o assunto é tecnologia e
inovação no ensino.
Nesse sentido, preceituam as pesquisadoras Cristiane dos Santos
Parnaíba e Maria Cristina Gobbi ao mencionarem num artigo de revista científica
que,
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O professor continua sendo uma figura importante na era digital. Porém, sua
postura deixa de ser a de transmissor absoluto do conhecimento, e passa a
ser de facilitador de descobertas, tudo isso em um novo processo de ensino
e aprendizagem. Os alunos, que agora não são mais uma platéia receptora,
podem ser definidos como um grupo que participa ativamente da aula,
buscando em seus notebooks (ou celulares, iPhones e outros aparelhos
com acesso à Internet) informações sobre o tema da aula, visitando
virtualmente os lugares descritos pelo professor, vendo imagens, textos,
vídeos, ou trazendo de casa uma pesquisa feita na Internet. É uma outra
forma de ensinar e aprender. (PARNAÍBA & GOBBI, p. 8).

Assim, com o advento da Internet como instrumento de ensino nas


salas de aula, observamos que é preciso uma mudança de paradigmas na relação
existente entre professor e aluno quando o assunto em pauta é o ensino de História.
Os professores precisam se reciclar, aprender a aprender, estar
abertos ao diálogo com as tecnologias; por sua feita, os alunos tornar-se-ão mais
participativos a partir do momento em que deixarem de ser meros receptores de
informação e passarem a contribuir, de forma efetiva, no processo de ensino e
aprendizagem.
Neste contexto, reafirmamos aqui ser imprescindível a presença do
professor como mediador de todo esse processo.
Conclusão
Diante do exposto, concluímos que, com o advento da Internet como
ferramenta de informação e conhecimento, observa-se, por parte das instituições
escolares, a necessidade de mudanças significativas em suas estruturas de ensino.
Constatou-se que a relação educador-educando, sob a óptica do
ensino de História, não pode mais ser a mesma diante dos desafios impostos pela
tecnologia.
Verificou-se que, paulatinamente, no ensino de História, o método
narrativo de outrora -- baseado em fatos e de tendências positivistas, caracterizado
pelo centralismo na pessoa do professor e na passividade do aluno -- deve, aos
poucos, ceder lugar ao coletivo, à divisão de tarefas, em que alunos -- munidos de
suas ferramentas tecnológicas -- possam participar ativamente na busca pelo
conhecimento.
Comprovou-se, por fim -- mediante pesquisa bibliográfica de diferentes
matizes -- ser ainda importante a presença do professor como veículo mediador no
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processo de ensino-aprendizagem, uma vez que a máquina, sozinha, não é capaz


de educar.
REFERÊNCIAS
COLL, César & MONEREO, Carles. Psicologia da Educação Virtual: aprender e
ensinar com as tecnologias da informação e da comunicação. 1ª ed. Porto Alegre:
Artmed, 2010.

CORRÊA, Dênis Renan & SCHULZ, Marcos. Conhecimento Histórico e Internet:


uma conversa com Carlo Ginzburg. Aedos - Revista do Corpo Discente do Programa
de Pós-Graduação em História da UFRGS, vol. 3, n. 8, p. 269-273, jan.-jun., 2011.
Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/aedos/article/view/20722> Acesso em: 7 mar.
2014.

DEMO, Pedro. Tecnologia e Escola: uma questão delicada. Revista Opet, Curitiba,
vol. 1, n. 2, p. 22-23, 2007.

FERREIRA, Carlos Augusto Lima. Ensino de História e a Incorporação das Novas


Tecnologias da Informação e Comunicação: uma reflexão. Disponível em:
<http://www.revistas2.uepg.br/index.php/rhr/article/viewFile/2087/1569> Acesso em:
5 mar. 2014.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.


25ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. 1ª ed. São Paulo: Editora 34, 1999.

MORAN, José Manuel. Mudar a Forma de Ensinar e Aprender. Disponível em:


<http://www.eca.usp.br/prof/moran/site/textos/tecnologias_eduacacao/uber> Acesso
em: 2 mar. 2014.

PARNAÍBA, Cristiane dos Santos & GOBBI, Maria Cristina. Os Jovens e as


Tecnologias da Informação e da Comunicação: aprendizado na prática. Revista
Anagrama, São Paulo, vol. 3, n. 4, p. 1-14, jun.-ago., 2010. Disponível em:
<www.revistas.usp.br/anagrama/article/view/35450> Acesso em: 9 mar. 2014.

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