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Estudo de alguns fatores interferentes no índice de acertos no ENEM

Study of some interfering factors in the ENEM success rate


DOI: 10.55905/revconv.16n.12-140

Recebimento dos originais: 17/11/2023


Aceitação para publicação: 18/12/2023

Ivone da Silva Salsa


Doutora em Educação
Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Endereço: Lagoa Nova – RN, Brasil
E-mail: salsaivone@gmail.com

Francisco Moisés Cândido de Medeiros


Doutor em Estatística pela Universidade de São Paulo (USP)
Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Endereço: Lagoa Nova – RN, Brasil
E-mail: francisco.medeiros@ufrn.br

Ivonaldo Silvestre da Silva Junior


Mestrando em Matemática Aplicada e Estatística
Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Endereço: Lagoa Nova – RN, Brasil
E-mail: ivosilvestresjr@hotmail.com

RESUMO
Este estudo traz à baila uma pesquisa sobre o comportamento do Índice de acertos no Exame
Nacional do Ensino Médio – ENEM, especificamente, dos candidatos egressos da educação
básica que conseguiram ingressar na UFRN em 2018, por meio do referido exame. A hipótese
inicial dessa pesquisa está na suposição de que o comportamento desse índice parece sofrer
alguma influência de certas variáveis estatísticas, mormente, aquelas vinculadas ao aspecto
socioeconômico dos candidatos. O objetivo deste trabalho é identificar possíveis variáveis
estatísticas que apresentem influência no comportamento do índice de acertos no ENEM. Em
1998, quando tal exame surgiu, o seu propósito estava restrito à avaliação de desempenho dos
candidatos egressos da educação básica. Entretanto, paulatinamente, ele foi se transformando e
hoje assume um lugar destacadíssimo na conjuntura educacional brasileira, pois, representa a
porta de acesso aos cursos de graduação para a maioria das universidades brasileiras e algumas
universidades de Portugal. Portanto, a relevância do ENEM para a educação justifica os esforços
empreendidos na realização deste estudo. Quanto à Metodologia, as narrativas aqui expostas
foram tecidas a partir das análises fundamentadas em conceitos inerentes à Estatística Descritiva,
dentre os quais, aqueles associados às Medidas de Tendência Central e aos recursos gráficos do
Histograma e do Diagrama em Caixa. Esta pesquisa revelou que o comportamento do Índice de
acertos na prova do ENEM se mostrou influenciado pelas variáveis: “Escolaridade do pai”;
“Escolaridade da mãe”; “Disponibilidade quanto à internet” e “Renda familiar”.

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Palavras-chave: ENEM, percentual de acertos, variáveis.

ABSTRACT
This study investigates the behavior of the index of correct answers in the National High School
Exam - ENEM, specifically, of candidates who graduated from basic education and managed to
enter UFRN in 2018, through this exam. The initial hypothesis of this research lies in the
assumption that the behavior of this index seems to suffer some influence from certain statistical
variables, especially those linked to the socioeconomic aspect of the candidates. The aim of this
work is to identify possible statistical variables that influence the behavior of the ENEM pass
rate. In 1998, when this exam was introduced, its purpose was restricted to assessing the
performance of candidates who had graduated from basic education. However, it gradually
changed and today it has a very important place in Brazilian education, as it is the gateway to
undergraduate courses for most Brazilian universities and some universities in Portugal.
Therefore, ENEM's relevance to education justifies the efforts made to carry out this study. As
for the Methodology, the narratives presented here were based on the analysis of concepts
inherent in Descriptive Statistics, including those associated with Measures of Central Tendency
and the graphic resources of Histograms and Box Diagrams. This research revealed that the
behavior of the ENEM test success rate was influenced by the variables: "Father's schooling";
"Mother's schooling"; "Internet availability" and "Family income".

Keywords: ENEM, percentage of correct answers, variables.

1 INTRODUÇÃO
Nos tempos hodiernos, a humanidade tem vivenciado uma evolução sem precedentes,
quanto aos avanços na esfera dos conhecimentos vinculados à ciência e à tecnologia, abrangendo
os mais variados tipos: desde viagens espaciais a descobertas fantásticas no campo da genética.
As conquistas advindas desses conhecimentos cada vez mais têm se superado e oferecido uma
gama de inovações que afetam cotidianamente a vida humana. A internet é um exemplo
emblemático disto.
A reboque dessas conquistas surgem, paripassu, profundas transformações nas relações
sociais, atingindo sobremodo o mercado de trabalho que não está isento dos efeitos dessa colossal
evolução científica e tecnológica. Para a sociedade do século 21, o mercado de trabalho se
apresenta mais escasso, competitivo e com novos paradigmas de qualificação profissional. São
justamente essas novas exigências de qualificação que requerem uma formação
escolar/acadêmica arrimada em um maior nível de intelectualização em sintonia com o
desenvolvimento de novas competências que fortalecem uma moeda de enorme valia: o
conhecimento!Por conseguinte, em tal cenário, a universidade assume um papel significativo

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para o aprimoramento da qualificação profissional daqueles que nela ingressam. Via de regra,
uma formação universitária é o caminho para se construir um bom nível de conhecimento
científico e de intelectualização.
Diante do exposto, ingressar em uma universidade pública é o sonho de milhares de
brasileiros, independentemente de classe social, de raça etc. Do ponto de vista profissional, pode-
se abrir um leque de melhores oportunidades, e, no tocante ao lado pessoal, a formação acadêmica
acarreta, seguramente, maior estima social. Daí, é compreensível tão grande afluência ao ENEM
porque ele é a principal porta de acesso à educação superior no Brasil, e, também, em algumas
instituições portuguesas. Por conseguinte, incontestavelmente o ENEM atual se reveste de
significativa responsabilidade: seus resultados afetam a futura vida acadêmica de milhares e
milhares de candidatos; quiçá, para alguns economicamente mais desfavorecidos e sem
esperanças, o ENEM pode funcionar como uma carta de alforria! São milhares de candidatos –
sobretudo jovens egressos do ensino médio – com as suas respectivas expectativas (e de seus
familiares!) centradas no êxito para o acesso à universidade. Infelizmente, devido à carência de
vagas, sobremodo nas instituições públicas de ensino superior, muitos candidatos, apesar de
capacitados, não conseguem uma pontuação que lhes permita o ingresso no curso superior
desejado.
Com relação ao índice de acertos na prova do ENEM, Silva (2020) analisou os dados de
2017 para os participantes que haviam concluído o ensino médio e foram aprovados na UFRN
nesse mesmo ano, associando a variável resposta porcentagem de acertos na prova de linguagens,
códigos e suas tecnologias com as variáveis: escolaridade do pai, escolaridade da mãe e qual o
tipo de escola em que os alunos cursaram o ensino médio. Rêgo (2021) investigou quais variáveis
influenciam na nota da redação dos alunos que participaram do ENEM 2019 no estado do Rio
Grande do Norte. Medeiros et al. (2022) analisaram os índices de acerto no ENEM dos
ingressaram na UFRN em 2018 nas áreas do conhecimento: Linguagens, códigos e suas
tecnologia e matemática e suas tecnologias. Os autores verificaram que as variáveis:
Escolaridade do pai; Escolaridade da mãe; Disponibilidade quanto à internet em casa e Renda
familiar influenciam no comportamento do índice de acerto das provas do ENEM nessas duas
áreas.
Esta pesquisa tem como objetivo analisar certas variáveis estatísticas para verificar a
existência, ou não, de alguma influência dessas variáveis sobre o comportamento dos índices de

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acertos no ENEM, considerando todas as áreas do conhecimento exploradas nesse exame. A
população alvo do presente estudo é constituída pelos candidatos que conseguiram o acesso à
UFRN em 2018 por meio do ENEM; em tal condição, foram precisamente 29.610 ingressantes.
Ressalte-se aqui que, para o acesso à universidade em 2018, implica em participar do ENEM no
final de 2017.
A base de dados utilizada nesta pesquisa é formada pelo conjunto de microdados cedidos
pelo Observatório da Vida do Estudante Universitário (OVEU), estes são oriundos do Núcleo
Permanente de Concursos (COMPERVE), o qual disponibiliza, dentre outras informações, dados
sobre o perfil dos ingressantes na UFRN. Ressalte-se aqui que, a partir de 2013, a referida base
de dados é resultado da união de microdados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), pela Superintendência de Informática da
UFRN (SINFO) e pelo sistema SISUGestão.
Inicialmente, este estudo apresenta alguns destaques importantes do perfil dos
ingressantes envolvidos no mesmo. Na sequência, foi feito uma triagem, considerando-se as
diversas variáveis que foram selecionadas de acordo com o possível grau de influência que elas
poderiam ter em relação ao índice de acertos nas quatro áreas do conhecimento contempladas no
ENEM. Essas áreas são: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; Matemática e suas
Tecnologias; Ciências Humanas e suas Tecnologias, e, Ciências da Natureza e suas Tecnologias.
A mencionada triagem foi o caminho para a identificação de quais variáveis deveriam ser
consideradas para serem pesquisadas de modo a atender aos objetivos deste estudo. A etapa
consecutiva – arrimada pela metodologia da Estatística Descritiva – foi constituída pela
organização, apresentação e a análise descritiva dos dados associados a essas variáveis,
buscando-se, justamente, descobrir possíveis influências/relações ou padrões das mesmas no
tocante ao índice de acertos do candidato. Utilizamos o software R (R CORE TEAM, 2021) para
a leitura, organização dos dados e para a construção dos gráficos e tabelas deste trabalho.

2 ALGUNS ASPECTOS SOBRE O PERFIL DOS CANDIDATOS


Segundo Minayo (1999), a metodologia adotada em uma pesquisa científica deve
considerar, dentre outros aspectos, a criatividade do pesquisador para a qual convergem a
experiência, a capacidade pessoal e a sensibilidade inerente àquele que investe no conhecimento
científico. Considerando tal premissa, o manancial de dados estatísticos coletados para esta

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pesquisa exigiu experiência e sensibilidade para formalizar a organização e a apresentação dos
mesmos, extraindo deles informações imprescindíveis à sua leitura e à sua interpretação.
De acordo com os dados do gráfico estatístico exposto na Figura 1-B, os candidatos que
conseguiram ingressar na UFRN em 2018 por meio do ENEM foram, em sua maioria (54%) do
sexo feminino, contra 46% do sexo masculino. Quanto à variável “idade”, os dados apresentados
no histograma da Figura 1-A e no Quadro 1 desvelam significativas constatações;
perceptivelmente se nota uma concentração considerável de ingressantes até 20 anos, e, em
seguida, à medida que a idade aumenta, de maneira inversa, o número de ingressantes tende a
decrescer, embora, ao longo desse decrescimento se verifique alguns picos de aumento (ver
Figura 1-A).
De acordo com o Quadro 1, a média para essa população de ingressantes foi igual a 22,18
anos, e, quanto às estatísticas de ordem, podemos observar que 25% dos ingressantes tinham
idade variando entre 15 (a menor observada) e 18 anos (primeiro quartil), além disto, a metade
deles tinha até 20 anos (mediana). Também é possível afirmar que 50% dos ingressantes tinham
entre 18 e 24 anos (os que estão entre o primeiro quartil (18 anos) e o terceiro quartil (24 anos).
Outra informação oriunda do Quadro 1 é que a maior idade observada foi de 73 anos.

Figura 1: Histograma da idade e gráfico em barras do percentual de ingressantes por sexo.

A - Histograma da idade B - Gráfico em barras


Fonte: Os autores

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Quadro 1 - Estatísticas de ordem, média e desvio-padrão das idades dos ingressantes.
Primeiro Terceiro
Mínimo Mediana Máximo Média Desvio-padrão
quartil quartil
15 18 20 24 73 22,18 6,57
Fonte: Os autores

No tocante à escolaridade do pai, dos 29.610 ingressantes partícipes deste estudo,


constatou-se que 1.839 deles não tinham conhecimento sobre isto; consequentemente para essa
questão, foi considerado o restante, ou seja, 27.771 ingressantes. Estes produziram os resultados
que estão no gráfico estatístico exposto na Figura 2 A, a qual mostra nitidamente que o ensino
médio completo ou o superior incompleto (33,86%) foi a ocorrência predominante associada à
variável “escolaridade do pai”; em seguida, aparece a categoria “ensino fundamental incompleto”
com 17,21%. Ademais disto, esse gráfico também informa que pouco mais da metade dos
ingressantes (53,85%) respondeu que o pai tem, pelo menos, o ensino médio completo.
No concernente à escolaridade da mãe, a quantidade de ingressantes que não tinha
conhecimento sobre essa questão foi bem menor: apenas 441 deles. (Isto pode ser reflexo de uma
situação social não rara, sobremodo nas classes mais desfavorecidas: filhos criados sem o
conhecimento ou a presença do pai no núcleo familiar). Por conseguinte, subtraindo-se os que
não tinham conhecimento da escolaridade da mãe, restaram 29.169 ingressantes. O gráfico
estatístico exibido na figura 2B mostra o comportamento dessa variável; um olhar atento sobre o
mesmo permite que sejam percebidas certas similaridades em relação à escolaridade do pai, já
abordada. Por exemplo, o maior destaque no caso da escolaridade da mãe está associado àquelas
que possuem ensino médio completo ou superior incompleto (35,96%); além disto, mais da
metade (62,92%) dos ingressantes afirmou que a mãe possui, pelo menos, o ensino médio
completo. Esse resultado mostra uma diferença de quase 10% quando se compara com o
resultado associado ao pai. Ademais, focando-se na categoria “nunca estudou” se verifica que,
para o pai, o percentual (4,45%) é quase o dobro do resultado associado à mãe (2,28%). Ressalte-
se ainda que a categoria “ensino fundamental Incompleto” foi o segundo destaque no concernente
aos pais, enquanto, para as mães, o segundo lugar em destaque foi “superior completo”. Outro
fato importante nessa questão, segundo os ingressantes, é que o percentual associado à mãe com
pós-graduação (11,83%) é acentuadamente superior ao de pai que com esse nível de escolaridade
(7,07%). Concluindo, os gráficos estatísticos da figura 2 desvelam uma realidade importante: no
geral, o nível de escolaridade da mãe do ingressante foi maior que o do pai.

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Figura 2: Nível de escolaridade do pai (A) e da mãe (B) dos ingressantes.

A - Escolaridade do pai B - Escolaridade da mãe


Fonte: Os autores

No concernente à condição de dispor de internet em casa, a Figura 3 exibida a seguir


mostra o gráfico em colunas no qual se constata que a imensa maioria (82,33%) dos ingressantes
possui internet em casa. Para quem vai se submeter a um exame do porte do ENEM, dispor dessa
ferramenta (internet) é de grande valia para o aporte de conhecimentos. Figura 3:

Figura 3: Gráfico em barras do percentual de ingressantes que possui ou não internet em casa.

Fonte: Os autores

A seguir, é apresentada a Figura 4 que mostra um histograma da quantidade de pessoas


na residência do ingressante. Com um olhar mais apurado se pode notar que, para esmagadora
maioria de ingressantes, a quantidade de pessoas na residência está entre 3 e 5 pessoas; ademais
disto, a partir de 5 pessoas há um decréscimo acentuado à direita, o qual, à medida que se
prolonga vai, paripassu, apresentando pouquíssimos casos, até alcançar 12 pessoas na residência.

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Figura 4: Histograma da distribuição da quantidade de pessoas nas residências dos ingressantes.

Fonte: Os autores

No concernente à origem (local de nascimento) dos ingressantes, os dados foram


caracterizados sob duas vertentes: primeiramente, o enfoque foi para o Estado da Federação dos
ingressantes cuja naturalidade não era do RN; e, em seguida, o foco foi o município de origem
para aqueles nascidos no RN. Para a primeira vertente a Figura 5 dada a seguir mostra um
cartograma representando o resultado dos dados sob esse enfoque.

Figura 5: Número de ingressantes de acordo com o estado de sua naturalidade

Fonte: Os autores

Observando atentamente esse cartograma se pode atestar que o Rio Grande do Norte,
indubitavelmente, foi o estado com a maior concentração de ingressantes na UFRN, alcançando
uma faixa de 2.000 ou mais ingressantes. Em seguida se destacam dois estados: São Paulo e

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Ceará; para estes o número de ingressantes está entre 1.000 até 1.999. Em terceiro lugar estão
Minas Gerais e Paraíba cujo número de ingressantes está na faixa de 500 a 999. Em relação aos
demais estados, o número de ingressante foi, no máximo, 499; destes, destacam-se aqueles
estados cujo número de ingressantes foi pouco relevante: variando de 1 até 99. Os estados nessa
condição são da Região Norte, com exceção do Pará, e ainda, o Piauí, Alagoas e Sergipe da
região Nordeste, assim como, os estados Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, da Região Centro-
Oeste.
Outro aspecto abordado tem como foco o município de nascimento do ingressante
potiguar. O cartograma mostrado na Figura 6 dada a seguir traz as informações sobre isto. Um
olhar meticuloso sobre esse gráfico permite claramente que se constate que, quanto à origem dos
ingressantes, Natal e Parnamirim são os dois municípios que estão na liderança, tendo 1.000 ou
mais ingressantes! Em seguida, aparecem os municípios de São Gonçalo do Amarante e Caicó
cujo número de ingressantes na UFRN variou de 500 até 999. Esse cartograma também revela
que, para uma parcela muito grande dos municípios do RN, o número de ingressantes foi
realmente pouco significativo: variou entre 1 e 99. Ressalte-se aqui um fato destoante nesse
cenário onde se verificou o número de ingressantes na UFRN, de acordo com o município de
origem: Viçosa, no Oeste potiguar, não teve nenhum ingressante associado a esse município!

Figura 6: Número de ingressantes potiguares de acordo com o município de sua naturalidade.

Fonte: Os autores

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3 QUAL A INFLUÊNCIA DE CERTAS VARIÁVEIS NO COMPORTAMENTO DO
ÍNDICE DE ACERTOS NO ENEM?
Neste tópico, é apresentada uma visão geral do percentual de acertos para cada uma das
quatro áreas de conhecimento exploradas no ENEM, considerando-as, separadamente. Tal
apresentação é feita por meio de duas importantes ferramentas gráficas da estatística descritiva:
o diagrama em caixa e o histograma que são exibidos a seguir, nas Figuras 7 e 8 respectivamente.
De início, a Figura 7 mostra o comportamento da média de acertos em quatro diagramas: um para
cada área de conhecimento do ENEM. Uma análise apurada sobre esses diagramas possibilita a
percepção de importantes resultados, tais como: a área de Linguagens e Códigos está associada
à maior média de acertos (a média é representada pelo ponto vermelho dentro da respectiva
caixa); em seguida, está a área das Ciências Humanas para qual o valor médio se apresenta um
pouco menor. Por outro lado, no tocante às áreas das Ciências da Natureza e da Matemática, a
média de acertos para cada uma dessas, assumiu, incontestavelmente, um valor menor que a
média de Linguagens e Códigos, e, Ciências Humanas. Outra constatação digna de registro
nesses diagramas é que, no que concerne aos resultados, tanto para as Ciências da Natureza,
quanto para a Matemática, existe uma quantidade considerável de ocorrências de índices de
acerto bem acima da média de todo o conjunto de dados! Isto está estampado na quantidade de
pontos pretos, posicionados na parte superior do prolongamento da reta vertical traçada a partir
do meio de cada caixa (retângulo); tais pontos são chamados “valores discrepantes” e indicam
que, no tocante à média de respectivo conjunto, esses valores se destacam por serem superiores
à média. A leitura desses diagramas foi baseada em Bussab e Morettin (2006).

Figura 7 - Boxplots do percentual de acertos em cada área do conhecimento.

Fonte: Os autores

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A seguir, são expostos quatro histogramas que compõem a Figura 8. Eles representam,
separadamente, o percentual de acertos associado à cada uma das áreas do conhecimento
exploradas na prova ENEM. Para melhor entendimento, esses histogramas foram designados por
8-A; 8-B; 8-C e 8-D. Um olhar apurado sobre eles revela importantes aspectos quanto ao
comportamento associado ao percentual de acertos nessas quatro áreas do ENEM. Por exemplo,
é visível certa semelhança no comportamento do percentual de acertos no grupo formado por
duas áreas: de Linguagens e Códigos e Ciências Humanas; em ambas, esse percentual está em
torno de 50%. Por outro lado, para a Matemática e para as Ciências da Natureza, existe também
alguma semelhança no comportamento desse índice, porém, a prevalência de acertos, em ambas,
está entorno de 30%. Portanto, os dados escancaram uma grande diferença no índice de acertos,
comparando-se esses dois grupos: o primeiro, com uma média em torno de 50% e o segundo,
com 30%. Ademais disto, é importante ressaltar que, para a Matemática e para as Ciências da
Natureza, seus respectivos histogramas (8-B e 8-D) se apresentam de forma assemelhada, com
visível assimetria, estendendo-se à direta, enquanto que, para Linguagens e Códigos e Ciências
Humanas, seus histogramas se configuram de forma aproximadamente simétrica, espalhando-se
com percentuais de acertos entre 25% e 75%.

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Figura 8 - Histogramas do percentual de acertos por área do conhecimento.

Fonte: Os autores

Na Figura 9, apresentamos os diagramas em caixa em relação ao percentual de acertos


nas quatro áreas do conhecimento do ENEM em função da variável “Sexo”. Os resultados
indicam que existe um comportamento semelhante nos índices de acertos de duas áreas:
Linguagens e Códigos e Ciências Humanas. Para essas áreas, pode-se dizer que,
independentemente do sexo, as médias dos candidatos assumem valores semelhantes, com um
percentual em torno de 50% de acertos.
Porém, quando se trata da Matemática, os dados revelam que o percentual de acertos
relacionado ao sexo apresenta ligeira diferença: a categoria “Masculino” alcança uma média um
pouco maior que a categoria “Feminino”. Quando se compara a área de Matemática com a de
Ciências da Natureza, os dados evidenciam certa similitude no comportamento do percentual de
acertos, ressaltando-se que, a média dos índices de acerto dessas duas áreas, é bem menor que
aquela associada às áreas de Linguagem e Ciências Humanas. Outro aspecto a ser mencionado

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no concernente às áreas da Matemática e das Ciências da Natureza é a existência de uma
expressiva prevalência de valores discrepantes nessas áreas, no caso, valores acima da média.
Concluindo: a variável “Sexo” parece não ter apresentado influência significativa no
percentual de acertos nas quatro áreas do conhecimento do ENEM.

Figura 9: Diagramas em caixa do percentual de acertos por sexo.

Fonte: Os autores

Agora serão apresentadas as Figuras 10; 11; 12 e 13, sendo cada uma composta por quatro
diagramas de caixas (um por cada área do ENEM) cujos dados, de certo modo, abordam situações
que trazem à tona aspectos relevantes possivelmente vinculados ao conceito de “Capital
Cultural” sob a ótica de Bourdieu (1999): “Escolaridade do Pai”, (Figura 10); “Escolaridade da
Mãe”(Figura 11); “Condição quanto à disponibilidade de internet em casa” (Figura 12) e, por
último, “Renda Familiar” (Figura 13).
Inicialmente, são exibidas as Figuras 10 e 11; nela estão os dados referentes à
porcentagem de acertos no ENEM, considerando-se as variáveis “Escolaridade do Pai” e

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“Escolaridade da Mãe”, respectivamente. Em cada figura os diagramas foram designados por
letras A; B; C e D.
Em linhas gerais, pode-se dizer que os dados apontam uma tendência de crescimento na
média da porcentagem de acertos à medida que o nível de escolaridade, tanto do pai, quanto da
mãe, aumenta; isto ocorre em todas as áreas. Esse aumento acentua-se um pouco mais,
considerando-se os dois níveis de escolaridade mais altos: Superior Completo e Pós-Graduação.
Essa tendência sugere que essas variáveis – nível de escolaridade do pai e da mãe – tem influência
no desempenho do ingressante nas provas de Linguagem, Matemática, Ciências Humanas e
Ciências da Natureza. Ressalte-se ainda o fato de que os índices de acertos em Matemática e
Ciências Humanas continuam inferiores aos índices de acertos nas áreas de Linguagem e de
Ciências Humanas na presença da variável “Escolaridade do pai” e “Escolaridade da mãe”.

Figura 10 – Diagramas em caixa do percentual de acertos por escolaridade do pai.

Fonte: Os autores

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Figura 11 – Diagramas em caixa do percentual de acertos por escolaridade da mãe.

Fonte: Os autores

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Figura 12 – Diagramas em caixa da porcentagem de acertos considerando ter, ou não, internet em casa.

Fonte: Os autores

Outra variável analisada no bojo daquelas relacionadas ao mencionado conceito de


“Capital Cultural” está associada a um recurso tecnológico de uso em larga escala, como fonte
de inúmeras possibilidades de acesso à informação: a internet. A Figura 12, exibe os diagramas
de caixa para os índices de acertos frente à situação do ingressante dispor, ou não dispor desse
recurso tecnológico em casa. Com um olhar apurado sobre esses diagramas é possível se
constatar que ingressantes com acesso à internet em casa obtiveram resultados melhores do que
os que não têm acesso à internet. Isto aconteceu em todas as áreas do conhecimento.
Provavelmente, a não disponibilidade de internet seja decorrência de uma carência de recursos
financeiros da família.
A última variável pesquisada no cenário dos desempenhos nas provas do ENEM foi a
renda familiar. A Figura 13 apresentada a seguir mostra os diagramas em caixa construídos com
base no percentual de acertos considerando a renda familiar. Como já observado anteriormente,
à medida que a renda familiar cresce, as médias e medianas dos índices de acertos também
tendem a aumentar. Alguns estudos têm mostrado que, uma renda domiciliar per capita superior

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a 1,5 salários mínimos, associada, pari passu, a instrução do pai em nível de ensino superior são
fatores que indicam forte influência sobre o ingresso no ensino superior (CARVALHO;
WALTENBERG, 2015).
Os dados aqui analisados sugerem que as classes mais favorecidas economicamente têm
maiores chances de sucesso no ENEM. Talvez isto seja devido ao fato de que, via de regra,
classes sociais mais abastadas financeiramente tendem a investirem situações que proporcionam
aos componentes do núcleo familiar, cultura e educação, (investimentos no capital cultural do
ingressante!) por meio de viagens, cursos diversos, educação escolar em colégios particulares
que primam por oferecer uma educação de melhor qualidade etc.
Hoje é maior a possibilidade de acesso a um curso superior, por meio do ENEM, de
ingressantes das classes sociais oriundos de escolas públicas municipais/estaduais que vivem em
precária situação financeira, graças às políticas de inclusão adotadas em universidades públicas
e em institutos federais de educação, vigentes no Brasil.

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Figura 13 – Diagramas em caixa do índice de acertos de acordo com a renda mensal.

Fonte: Os autores

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho analisou os índices de acertos no ENEM dos ingressantes na UFRN em
2018 em todas as áreas do conhecimento desse exame: Linguagens e Códigos e suas Tecnologia,
Matemática e suas Tecnologias, Ciências Humanas e suas Tecnologias e Ciências da Natureza e
suas Tecnologias, com o objetivo de identificar quais variáveis poderiam influenciar o
comportamento do referido índice de acerto. Após as análises, a suspeita inicial de que o índice
de acertos no ENEM poderia ser afetado por certas variáveis se confirmou, pois, foi constatado
que as variáveis “Escolaridade do pai”; “Escolaridade da mãe”; “Disponibilidade quanto à
internet” e “Renda familiar” apresentaram ter influências sobre o comportamento do índice de
acerto nas provas das mencionadas áreas do ENEM.

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AGRADECIMENTOS

Os agradecimentos são endereçados ao Nucleo Permanente de Concursos (COMPERVE) da


UFRN, por todo o apoio recebido para a realização desta pesquisa.

Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.16, n.12, p. 31394-31413, 2023 31412
REFERÊNCIAS

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