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LEIS ESPECIAIS

Crimes de preconceito de
raça ou de cor
Lei 7.716/89

Versão Condensada
Sumário
Crimes de preconceito de raça ou de cor – Lei 7.716/89���������������������������������������������� 3

1. Crimes em espécie�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

1.1 Crime art. 6º������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

1.2 Crimes do art. 7º ao 14������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������ 3

1.3 Crime do art. 20����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 4

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Crimes de preconceito de raça ou de cor – Lei

7.716/89

1. Crimes em espécie

1.1 Crime art. 6º

Art. 6° - Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de ensino público ou pri-
vado de qualquer grau.

Pena: reclusão de três a cinco anos.

Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de dezoito anos a pena é agravada de 1/3 (um terço).

Destaca-se que a conduta criminosa consiste na recusa, negação ou impedimento de inscrição ou ingresso em estabele-
cimentos de ensino público ou privado, de qualquer grau (pré-escolar, ensino fundamental, médio, ensino superior, etc).

O parágrafo único apresenta uma causa de aumento de pena (majorante), qual seja a conduta praticada contra menor
de 18 anos.

Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, pois é exigida qualidade especial do autor (responsável pela inscrição ou
ingresso de aluno).

Sujeito passivo: a pessoa discriminada.

A consumação do delito se dá com a prática de algum dos verbos, tratando-se de um crime formal.

É possível a tentativa, desde que a conduta seja plurissubsistente.

1.2 Crimes do art. 7º ao 14

Os crimes do art. 7º ao 14 serão abordados conjuntamente, pois possuem diversos pontos e comum. Sendo assim, todas
as características explanadas em seguida são atribuídas a todos os artigos mencionados.

Sujeito ativo: todos são crimes próprios, pois exigem uma condição especial do autor.

• Exceção: art. 14 – é crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa.

Sujeito passivo: será a pessoa discriminada.

A consumação dos delitos se dará com a prática dos verbos, sendo crimes formais.

É possível a tentativa, desde que a conduta seja plurissubsistente (fracionadas em mais de um ato).

As condutas delituosas são as expostas a seguir:

Art. 7° - Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento similar.

Pena: reclusão de três a cinco anos.

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Enquadram-se como “estabelecimentos similares” os motéis, flats, etc.

Art. 8º - Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes
abertos ao público.

Pena: reclusão de um a três anos.

É necessário que os locais sejam abertos ao público para a configuração do delito.

Art. 9º - Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos esportivos, casas de diversões, ou clubes
sociais abertos ao público.

Pena: reclusão de um a três anos.

Da mesma forma que o art. 8º, é fundamental que o local seja aberto ao pública para a configuração do crime. Portanto,
clubes de associação – que não são abertos ao público, mas somente para sócios ou convidados – não configuram, a
princípio, o delito do art. 9°.

Ressalta-se que há entendimento jurisprudencial acerca de membro associado de clube ou de indivíduo que pretende
se associar e lhe é recusado ou impedido acesso/atendimento, por motivos de discriminação de raça, cor, etnia, religião
ou procedência nacional – nesse caso, fica caracterizado o delito do art. 9º.

Art. 10 - Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros, barbearias, termas ou casas de mas-
sagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades.

Pena: reclusão de um a três anos.

Art. 11 - Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou escada de
acesso aos mesmos:

Pena: reclusão de um a três anos.

Na hipótese de a assembleia do condomínio estabelecer que os prestadores de serviços devem utilizar o elevador de
serviço ao invés do elevador social, sem qualquer contexto de discriminação, não há crime pela Lei 7.716/89.

Art. 12 - Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios barcas, barcos, ônibus, trens, metrô
ou qualquer outro meio de transporte concedido.

Pena: reclusão de um a três anos.

Art. 13 - Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças Armadas.

Pena: reclusão de dois a quatro anos.

Art. 14 - Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou convivência familiar e social.

Pena: reclusão de dois a quatro anos.

1.3 Crime do art. 20

Art. 20 - Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

Pena: reclusão de um a três anos e multa.

§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que
utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo.

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Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.

§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou
publicação de qualquer natureza:

Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.

§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda
antes do inquérito policial, sob pena de desobediência:

I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo;

II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, televisivas, eletrônicas ou da publicação por qualquer meio;

III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede mundial de computadores.

§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do
material apreendido.

O caput e §1º trazem crimes autônomos, enquanto o §2º traz uma qualificadora ao delito previsto no caput. Por sua
vez, o §3º apresenta medidas cautelares e o §4º traz um efeito da condenação – ambos aplicáveis na situação da qua-
lificadora prevista no §2°.

Quanto à conduta descrita no caput, existem duras críticas da doutrina no tocante à sua redação. Segundo Guilherme
de Souza Nucci, é um tipo penal muito aberto/genérico e fere o princípio da taxatividade. Apesar disso, o artigo ainda
está em vigor e é aplicável.

Pode-se entender o art. 20, caput como um crime subsidiário. Haverá o delito do art. 20 quando houver conduta
discriminatória em razão de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional não se enquadre em nenhum dos delitos
anteriormente apresentados na lei.

Por sua vez, a qualificadora do §2º diz respeito à prática discriminatória feita através de meios de comunicação social
(TV, Rádio, redes sociais) ou publicação (jornais, revistas). O tratamento penal é mais duro nessas circunstâncias, tendo
em vista o maior grau de abrangência, divulgação da discriminação veiculada por esses meios.

O §3º apresenta medidas cautelares que podem ser aplicadas na hipótese da qualificadora anterior (§2º). Falando-se
em medidas cautelares, fala-se em medidas que podem ser aplicadas durante toda a persecução penal, até mesmo
antes da instauração do inquérito policial.

O §4º constitui um efeito da condenação, no contexto da qualificadora do §2º. Sendo assim, havendo condenação
transitada em julgado, os materiais de divulgação apreendidos deverão ser destruídos.

* A doutrina de Mariano Paganini Lauria defende que tal efeito da condenação é automático.

A conduta do §1º envolve a fabricação, comercialização, distribuição ou veiculação de símbolos, emblemas, ornamentos
distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo.

Nesse ponto, a doutrina destaca que existe finalidade específica (dolo específico) nesse crime, consistente na expres-
são “para fins de divulgação do nazismo”. Portanto, para que se configure o delito, a conduta deve ser praticada com
essa finalidade.

Sujeito ativo: trata-se de um crime comum (tanto o caput quanto o §1°), pois pode ser praticado por qualquer pessoa.

Sujeito passivo: em relação ao caput é a pessoa que foi discriminada. Por outro lado, em relação ao §1º, a doutrina
entende que o sujeito passivo é a coletividade.

Há consumação do delito com a prática de qualquer um dos verbos. Em relação ao caput, trata-se de um crime formal,
enquanto o §1º é um crime de mera conduta.

É possível a tentativa em ambas as figuras (caput e §1º), desde que as condutas sejam plurissubsistentes.

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