O termo alelopatia foi cunhado por Molisch (1937) e significa do
grego allelon= de um para outro, pathós= sofrer. Histórico 1925: a ciência começou a explicar as causas desse fenômeno A. B. Massey – morriam todos os tomates plantados a uma distância de 16 m da nogueira – extensão das raízes Molish (1937) – descobriu a substância chamada Juglone (toxina) liberada pela Nogueira, o que poderia justificar a morte dos tomateiros A alelopatia é uma interação entre seres vivos em que ao menos um dos indivíduos envolvidos é prejudicado, enquanto o outro pode se beneficiar ou não da interação.
Além disso, indivíduos da mesma espécie podem ser prejudicados,
sendo, portanto, denominada de autoalelopatia.
O conceito descreve a influência de um indivíduo sobre o outro,
seja prejudicando ou favorecendo o segundo, e sugere que o efeito é realizado por biomoléculas DENOMINADAS ALELOQUÍMICOS produzidas por uma planta e lançadas no ambiente, seja na fase aquosa do solo ou substrato, seja por substâncias gasosas volatilizadas no ar que cerca as plantas terrestres (Rizvietal.,1992). A alelopatia é conceituada atualmente como “qualquer processo envolvendo metabólitos secundários produzidos pelas plantas e micro-organismos que influencia o crescimento e o desenvolvimento de sistemas agrícolas e biológicos (incluindo animais)” (Sociedade Internacional de Alelopatia, 1996).
Nesse sentido, na interação planta-planta, entende-se que uma
planta produz e libera no ambiente algum metabólito secundário (denominado de aleloquímico ou composto alelopático) que exercerá algum efeito inibidor no crescimento e no desenvolvimento de outra planta, caracterizando a interferência direta. Nesse caso, o principal efeito é a redução na quantidade de produto produzido (produtividade). A produção de metabólitos secundários pelas plantas não tem função apenas de inibir outras plantas. Na verdade, as funções ecológicas da alelopatia em plantas são, basicamente, três:
A. a atração de agentes polinizadores e dispersores,
B. a proteção contra herbívoros e patógenos, C. além da relação planta-planta, importante na sucessão das espécies.
Muitos metabólitos secundários são produzidos nas flores,
conferindo cor e odor as mesmas, e atuando como atrativo para agentes polinizadores e dispersores. Alguns compostos produzidos pelo metabolismo secundário das plantas são tóxicos a animais, insetos etc., atuando como repelente desses inimigos naturais.
Também se deve destacar que, em teoria, alguns compostos
liberados podem atuar como condicionadores de ambiente, atuando na sucessão de espécies vegetais.
Os metabólitos secundários são produzidos por diferentes
partes da planta, dependendo, inclusive, da espécie em questão. Normalmente, os metabólitos secundários com potencial alelopático (aleloquímicos) são produzidos em maior quantidade nas folhas.
A quantidade de aleloquímicos produzida varia em função
da espécie e é influenciada por fatores bióticos e abióticos. Há espécies em que algum fator de estresse, biótico ou abiótico, pode estimular a produção de determinado composto; porém, em outra espécie pode ocorrer inibição na produção do composto.
Portanto, tal fato é variável de espécie para espécie.
Os aleloquímicos, quando lançados no ambiente, promovem uma interação bioquímica entre plantas, incluindo microrganismos.
Os efeitos podem ser deletérios ou benéficos sobre outra
planta, sobre a própria planta ou microrganismos ou vice- versa. Os aleloquímicos produzidos pelas plantas derivam de quatro vias metabólicas principais:
a) Via do ácido chiquímico – importante para produção de compostos
fenólicos e compostos nitrogenados;
b) Via do ácido malônico – importante para a produção de compostos
fenólicos;
c) Via do ácido mevalônico – importante para a produção de terpenos;
d) Via do ácido 3-fosfoglicérico (3-fosfoglicerato = 3-PGA) – importante
para a produção de terpenos Rice (1984) propôs o agrupamento dos aleloquímicos em 14 categorias de acordo com as suas similaridades e prováveis vias de síntese (figura ao lado). Através dessas quatro vias são produzidos metabólitos secundários com potencial alelopático pertencentes a três grupos:
a) Terpenos – diversificada classe de compostos de fórmula geral (C5H8)n,
que podem atuar como inseticidas (pineno, limoneno, mirceno, peretroides, esteroides, saponinas), como repelentes ou atrativos (óleos essênciais, gossipol, lactonas sesquiterpeninas) e como compostos tóxicos (phorbol, saponinas, resinas);
b) Compostos fenólicos – que podem atuar como inseticidas (fitoalexinas,
rotenoides, isoflavonoides), como atrativos (antocianina) e como repelentes (tanino);
c) Compostos nitrogenados – que podem atuar como tóxicos (nicotina,
codeína, morfina, cocaína, glucosídeos cianogênicos, glucosinolatos). Maneiras mais prováveis de liberação de compostos alelopáticos pelas plantas
a) Volatilização – liberação de compostos voláteis (pineno,
b) Lixiviação – liberação de compostos exsudados na forma
líquida (compostos fenólicos, alcaloides como cafeína e nicotina) pelas folhas, normalmente, e outros órgãos, que são lavados da planta por ação da água da chuva ou irrigação e carregados até o solo; c) Exsudação radicular – liberação de compostos na forma líquida (aminoácidos, nucleotídeos) através das raízes diretamente no solo;
d) Decomposição de restos vegetais – liberação de
compostos líquidos (flavonoides como isoflavona, antocianina) na medida em que os restos vegetais vão sendo decompostos. A primeira demonstração científica de auto-alelopatia foi feita em feijão-miúdo (Vigna unguiculata), quando cultivado sucessivamente na mesma área.
Em fruteiras (pessegueiros, macieiras e citros) também
ocorre a auto-inibição do desenvolvimento em plantios na mesma área, após muitos anos de cultivo da mesma espécie no solo. As plantas são hábeis em produzir aleloquímicos em todos os seus órgãos, (folhas, caules, raízes, flores, frutos e sementes). A quantidade dos compostos produzidos e a composição destes dependem da espécie e das condições ambientais.
Essas substâncias alelopáticas são liberadas dos tecidos da
planta para o ambiente de diferentes formas, através de volatilização, exsudação radicular, lixiviação e de composição dos resíduos da planta. Uma variedade de compostos químicos pode ser carreada da parte aérea das plantas por meio de chuva, neblina e orvalho, entre estes os ácidos, açúcares, aminoácidos e as substâncias pécticas.
Os aleloquímicos podem ser liberados das células vivas ou
mortas também pela ação da água. O mecanismo de ação dos aleloquímicos não está ainda bem esclarecido.
Os principais processos vitais afetados, segundo Almeida (1988), são:
- assimilação de nutrientes, - crescimento, - fotossíntese, - respiração, - síntese de proteínas, - permeabilidade da membrana celular, - atividade enzimática, etc. Exemplos práticos Mesmo em rotação de culturas, de interesse humano, existe expressão de efeitos alelopáticos. A colza provoca redução no estande da cultura da soja plantada imediatamente após a sua colheita, o que tem contribuído para que os agricultores do sul deixem de cultivá-la.
Segundo Barbosa (1996), exsudato radicular proveniente de plantas de
sorgo reduziu a área foliar de plantas de alface em 68,4%, quando cultivadas em casa de vegetação, usando solução nutritiva circulante entre os vasos de sorgo e alface. 1. Palha de trigo em decomposição - afeta crescimento de várias plantas.
2. Extratos aquosos de palha de arroz
- afeta crescimento do arroz. Máximo efeito ocorre no 1º mês de decomposição.
3. Palhas de arroz em decomposição
- inibem crescimento de Rhizobium (responsável pela fixação do N), prejudicando desenvolvimento da soja plantada após o arroz.
4. Extrato aquoso de sorgo
- Inibe crescimento de sorgo em solo arenoso, mas não em solo argiloso. Outros Exemplos
1. Palhas ou a própria planta de centeio controla com eficiência as
espécies picão-preto e picão-branco, infestantes da soja plantada em sucessão.
2. A planta de sorgo plantada anteriormente à soja, pode causar
problemas sobre a soja porém, controla algumas espécies de plantas daninhas, como picão-branco, poaia.
3. A casca de café se retornada à lavoura poderá reduzir a vida útil do
cafeeiro em função do acúmulo de cafeína do solo com o passar do tempo. Efeito do material incorporado no solo
Quanto a possíveis efeitos alelopáticos do material
incorporado ao solo, sabe-se que o processo de decomposição do material vegetal é variável de acordo com a qualidade dos tecidos , os tipos de solo e as condições climáticas, podendo os resíduos de plantas de mesma espécie das origem a compostos diferentes, com efeitos biológicos e toxicidade diversos.
Por isso, os efeitos alelopáticos provocados pela
incorporação de resíduos vegetais no solo não são muitos variáveis. Normalmente, o material fresco, como as adubações verdes, provoca efeitos alelopáticos pouco acentuados e por períodos curtos, inferiores a 25 dias.
Em baixas temperaturas, os resíduos secos podem causar
fitotoxicidade mais severa.
Como esses efeitos são transitórios, a incorporação dos
resíduos deve ser feita com certa antecedência da semeadura das culturas. Efeito na cobertura morta
Já quanto a cobertura morta, no plantio direto ela pode prevenir a
germinação, reduzir o vigor vegetativo e provocar amarelecimento e clorose das folhas, redução no perfilhamento e até a morte de plantas daninhas durante a fase inicial de desenvolvimento. Essa cobertura é essencial para o sucesso do plantio direto hoje disseminado no Brasil por todos os estados produtores de grãos.
Pesquisas recentes avaliam e colecionam germoplasmas de plantas
alelopáticas, objetivando o melhoramento genético. No futuro, o controle biológico de plantas daninhas também poderá ser uma opção do manejo integrado e para o sucesso desse método, o conhecimento das propriedades alelopáticas será fundamental. Na tabela abaixo cita culturas que apresentam potencial alelopático, sendo que para o controlo das ervas daninhas estas devem ser bem manejadas, permitindo assim o aumento da produtividade das culturas. O caso da Tiririca Touceiras de capim- annoni (Eragrostis plana), exemplo de autotoxicidade.