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Universidade Federal de Pelotas

Disciplina de Introdução à Fitoquímica


Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas

Comunicação Química entre Plantas: Explorando as Propriedades


Aleloquímicas

Adriele Ávila Soares

Pelotas - 2023/2
Adriele de Avila Soares

Comunicação Química entre Plantas: Explorando as Propriedades


Aleloquímicas

Trabalho elaborado para a disciplina de


Introdução a Fitoquímica ministrada pelo
prof. Dr. Paulo Romeu Gonçalves.
Ofertada pelo Instituto de Biologia da
Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
para o curso de Licenciatura em Ciências
Biológicas.

Orientação: Dr. Paulo Romeu Gonçalves

Pelotas. 2023/2
Comunicação Química entre Plantas: Explorando as Propriedades
Aleloquímicas

Resumo:

Este estudo oferece uma análise minuciosa das substâncias aleloquímicas,


complexos químicos produzidos por plantas que desempenham um papel
fundamental na interação entre vegetais. Abordaremos detalhadamente os
mecanismos envolvidos na produção e liberação dessas substâncias, bem como
seus efeitos na germinação, crescimento e desenvolvimento das plantas vizinhas.
Exploraremos os intricados processos bioquímicos que regem a síntese desses
compostos, assim como os fatores ambientais e genéticos que influenciam sua
produção. Além disso, examinaremos como as plantas percebem e respondem à
presença de substâncias aleloquímicas, desencadeando uma série de respostas
fisiológicas e morfológicas que moldam as interações intervegetais.

Outro aspecto importante a ser abordado será a influência das substâncias


aleloquímicas na dinâmica dos ecossistemas vegetais, incluindo suas interações
com a microbiota do solo e outros organismos. Investigaremos como esses
compostos podem modular a composição e atividade da comunidade microbiana do
solo, afetando a disponibilidade de nutrientes e, por sua vez, o crescimento e
desenvolvimento das plantas. Ademais, exploraremos as implicações práticas
desses fenômenos na agricultura, discutindo estratégias para aproveitar o potencial
das substâncias aleloquímicas no manejo de culturas e no controle de plantas
invasoras, promovendo assim práticas agrícolas mais sustentáveis e ecoamigáveis.
Este estudo visa contribuir para uma compreensão mais abrangente e aplicada das
substâncias aleloquímicas, abrindo novas perspectivas para a pesquisa e prática
agrícola.
Sumário

1. Introdução.............................................................................................................. 4
1.1. Desvendando a Comunicação Química entre Plantas....................................4
2. Desenvolvimento................................................................................................... 5
2.1. Mecanismos Bioquímicos da Alelopatia..........................................................5
2.2. Papel da Alelopatia na Ecologia:.....................................................................6
2.3. Desafios e Limitações no Uso de Aleloquímicos:........................................... 7
2.4. Aplicações Práticas da Alelopatia na Agricultura e Horticultura:.....................8
3. Conclusão.............................................................................................................. 9
4. Referências.......................................................................................................... 10
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1. Introdução

1.1. Desvendando a Comunicação Química entre Plantas

No vasto reino vegetal, um fenômeno intrigante é fundamental para a sobrevivência


e evolução das plantas é a chamada "alelopatia." Este termo, cunhado por Molisch
(1937), deriva do grego, onde "allelon" significa "de um para outro", e "pathos"
refere-se a "sofrer". O cerne da alelopatia reside na influência que uma planta
exerce sobre outra, seja para sua vantagem ou desvantagem, por meio de
compostos químicos conhecidos como aleloquímicos.

Definindo alelopatia, Rice (1984) a descreve como "qualquer efeito direto ou indireto
danoso ou benéfico que uma planta, incluindo microrganismos, exerce sobre outra
pela produção de compostos químicos liberados no ambiente." Este fenômeno
revela-se como uma forma sofisticada de comunicação química entre plantas, onde
moléculas cuidadosamente elaboradas desempenham papéis cruciais na dinâmica
ecológica.

A ação dos aleloquímicos vai além do reino vegetal, sendo explorada como uma
alternativa promissora aos tradicionais herbicidas, inseticidas e nematicidas na
agricultura. Originárias do metabolismo secundário das plantas, essas substâncias
oferecem vantagens evolutivas ao longo do tempo, desafiando a ação de
microrganismos, vírus, insetos e outros agentes patogênicos ou predadores.

Este trabalho mergulha nas complexidades da alelopatia, explorando não apenas


sua definição e funcionamento, mas também seu papel na sucessão vegetal e, de
maneira crucial, em práticas agrícolas, florestais e horticulturais. Ao investigar a
comunicação química entre plantas, buscamos não apenas compreender seu
impacto na ecologia, mas também avaliar as oportunidades e desafios que esse
fenômeno apresenta.
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Nesse contexto, esta pesquisa pretende não apenas elucidar os mecanismos


bioquímicos subjacentes à alelopatia, mas também explorar suas implicações
práticas, promovendo uma compreensão mais holística de um dos fenômenos mais
fascinantes do reino vegetal.

2. Desenvolvimento

2.1. Mecanismos Bioquímicos da Alelopatia

A alelopatia é um fenômeno complexo que envolve a produção e liberação de


compostos químicos pelas plantas, que podem afetar o crescimento e
desenvolvimento de outras plantas e organismos. Esses compostos são conhecidos
como aleloquímicos e podem ser produzidos por diferentes partes da planta, como
raízes, folhas, frutos e sementes.
Os aleloquímicos podem ser classificados em diferentes grupos químicos, como
fenóis, terpenos, alcalóides, ácidos orgânicos e compostos nitrogenados. Cada
grupo químico apresenta diferentes mecanismos de ação e pode afetar diferentes
processos fisiológicos nas plantas receptoras.
Os efeitos dos aleloquímicos podem ser diretos ou indiretos. Os efeitos diretos
ocorrem quando os compostos químicos se ligam às membranas celulares das
plantas receptoras ou penetram nas células, interferindo diretamente no seu
metabolismo. Já os efeitos indiretos ocorrem quando os aleloquímicos afetam as
propriedades do solo, como a disponibilidade de nutrientes e a atividade microbiana,
ou quando afetam a interação entre as plantas e seus polinizadores ou predadores.
Alguns dos efeitos mais comuns dos aleloquímicos incluem a inibição da
germinação de sementes, o retardo no crescimento das plântulas, a redução da taxa
de fotossíntese e a alteração na permeabilidade das membranas celulares. Além
disso, os aleloquímicos também podem afetar a produção de hormônios vegetais,
como auxinas e giberelinas, que são importantes para o crescimento e
desenvolvimento das plantas.
A compreensão dos mecanismos bioquímicos da alelopatia é fundamental para o
desenvolvimento de estratégias de manejo de plantas e para a exploração dos
aleloquímicos como alternativas aos herbicidas e pesticidas tradicionais na
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agricultura e horticultura. No entanto, é importante ressaltar que o uso de


aleloquímicos na agricultura deve ser feito com cuidado, levando em consideração
os possíveis efeitos colaterais e os impactos ambientais.

2.2. Papel da Alelopatia na Ecologia:

A alelopatia desempenha um papel importante na dinâmica ecológica, influenciando


a competição entre espécies vegetais e a sucessão vegetal. A competição entre as
plantas ocorre quando duas ou mais espécies disputam os mesmos recursos, como
água, nutrientes e luz. Nesse contexto, os aleloquímicos podem ser utilizados pelas
plantas como uma estratégia para reduzir a competição e aumentar sua
sobrevivência.
Além disso, a alelopatia também pode influenciar a sucessão vegetal, que é o
processo de mudança na composição das espécies vegetais em um determinado
ecossistema ao longo do tempo. Em ecossistemas naturais, a sucessão vegetal
pode ser influenciada por fatores como a disponibilidade de nutrientes, a presença
de herbívoros e a ocorrência de distúrbios naturais, como incêndios e inundações.
Nesse contexto, os aleloquímicos podem afetar a germinação e o crescimento das
plantas em diferentes estágios da sucessão vegetal, influenciando a composição e a
diversidade das espécies vegetais.
Além disso, a alelopatia também pode afetar a interação entre as plantas e seus
polinizadores e predadores. Por exemplo, alguns aleloquímicos podem afetar a
produção de néctar e pólen, reduzindo a visitação de polinizadores e afetando a
reprodução das plantas. Da mesma forma, alguns aleloquímicos podem afetar a
produção de compostos químicos de defesa, tornando as plantas mais suscetíveis a
herbívoros e patógenos.
A compreensão do papel da alelopatia na ecologia é fundamental para a
conservação e o manejo de ecossistemas naturais. Além disso, a exploração dos
aleloquímicos como alternativas aos herbicidas e pesticidas tradicionais na
agricultura e horticultura pode contribuir para a redução do impacto ambiental
desses produtos.
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2.3. Desafios e Limitações no Uso de Aleloquímicos:

Apesar do potencial dos aleloquímicos como alternativas aos herbicidas e pesticidas


tradicionais, seu uso enfrenta desafios e limitações que precisam ser considerados.
Alguns dos principais desafios incluem a identificação e isolamento de aleloquímicos
eficazes, a compreensão dos mecanismos de ação e os possíveis efeitos colaterais
sobre o ambiente e outras espécies.
A identificação e isolamento de aleloquímicos eficazes é um desafio, pois envolve a
identificação de compostos químicos presentes em plantas que possuem atividade
alelopática, bem como a determinação das concentrações e condições ideais para
sua aplicação. Além disso, a compreensão dos mecanismos de ação dos
aleloquímicos é fundamental para o desenvolvimento de estratégias de manejo de
plantas, mas ainda existem lacunas no conhecimento sobre esses mecanismos.
Outro desafio importante é a avaliação dos possíveis efeitos colaterais dos
aleloquímicos sobre o ambiente e outras espécies. Embora os aleloquímicos
possam ser seletivos em relação às espécies-alvo, é importante considerar os
possíveis efeitos sobre a biodiversidade e os ecossistemas. Além disso, a
persistência e a degradação dos aleloquímicos no ambiente também são fatores
importantes a serem considerados.
Além dos desafios técnicos e científicos, o uso de aleloquímicos na agricultura e
horticultura também enfrenta desafios relacionados à aceitação e adoção por parte
dos produtores e consumidores. A falta de familiaridade e confiança em relação a
essas alternativas pode ser um obstáculo para sua adoção em larga escala.
Portanto, é fundamental investir em pesquisas que visem superar esses desafios e
limitações, bem como promover a conscientização e a educação sobre o potencial
dos aleloquímicos como alternativas sustentáveis para o manejo de plantas
daninhas e pragas.
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2.4. Aplicações Práticas da Alelopatia na Agricultura e Horticultura:

A alelopatia tem sido explorada como uma alternativa aos herbicidas e pesticidas
tradicionais na agricultura e horticultura. Algumas das principais aplicações práticas
incluem:
- Uso de plantas de cobertura: as plantas de cobertura são utilizadas para proteger
o solo e melhorar sua qualidade, além de reduzir a competição de plantas daninhas.
Algumas plantas de cobertura, como a aveia-preta e o nabo-forrageiro, possuem
compostos alelopáticos que podem inibir o crescimento de plantas daninhas.
- Uso de extratos vegetais: os extratos vegetais são obtidos a partir de plantas que
possuem compostos alelopáticos e podem ser utilizados como herbicidas naturais.
Alguns exemplos incluem o extrato de folhas de eucalipto e o extrato de sementes
de mamona.
- Uso de resíduos vegetais: os resíduos vegetais, como folhas, caules e raízes,
podem ser utilizados como cobertura morta para reduzir a germinação e o
crescimento de plantas daninhas. Além disso, a decomposição desses resíduos
pode liberar compostos alelopáticos que inibem o crescimento de plantas daninhas.
- Uso de rotação de culturas: a rotação de culturas é uma prática agrícola que
consiste em alternar as culturas plantadas em uma determinada área ao longo do
tempo. Essa prática pode reduzir a incidência de pragas e doenças, além de
melhorar a qualidade do solo. Alguns estudos sugerem que a rotação de culturas
pode também reduzir a incidência de plantas daninhas, possivelmente devido à
liberação de compostos alelopáticos pelas plantas cultivadas anteriormente.
- Uso de biofumigação: a biofumigação é uma técnica que consiste na utilização de
plantas que liberam compostos voláteis que podem inibir a germinação e o
crescimento de plantas daninhas e patógenos do solo. Algumas plantas utilizadas
para biofumigação incluem a mostarda e o rabanete.
Essas são apenas algumas das aplicações práticas da alelopatia na agricultura e
horticultura. O uso de aleloquímicos como alternativas aos herbicidas e pesticidas
tradicionais pode contribuir para a redução do impacto ambiental desses produtos e
para a promoção de práticas agrícolas mais sustentáveis.
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3. Conclusão

A investigação sobre a alelopatia revela-se como um campo fascinante e


multifacetado, destacando a complicada rede de interações químicas que moldam o
reino vegetal. Ao desvendar os mecanismos bioquímicos subjacentes, torna-se
evidente que a alelopatia não é apenas um fenômeno de competição, mas uma
forma sofisticada de comunicação entre plantas. No âmbito ecológico, a alelopatia
emerge como uma peça chave na dinâmica das comunidades vegetais,
influenciando a competição, a sucessão vegetal e as interações com polinizadores e
predadores. Entender esses processos é vital para a conservação e o manejo
sustentável de ecossistemas naturais.

Contudo, enquanto os aleloquímicos prometem soluções inovadoras, sua


implementação enfrenta desafios consideráveis. Desde a identificação de
compostos eficazes até a avaliação de impactos ambientais e aceitação no setor
agrícola, a pesquisa futura deve abordar essas questões para viabilizar práticas
mais sustentáveis. As aplicações práticas da alelopatia na agricultura e horticultura
demonstram que seu potencial vai além da teoria, oferecendo estratégias concretas,
como plantas de cobertura, extratos vegetais e rotação de culturas. Essas
abordagens não apenas controlam pragas, mas também contribuem para a saúde
do solo e a redução do impacto ambiental.

Em última análise, a pesquisa sobre a comunicação química entre plantas não


apenas desvenda os segredos do reino vegetal, mas também aponta para um futuro
onde a natureza, compreendida e respeitada, guiará práticas agrícolas mais
sustentáveis e ecológicas. A alelopatia, com sua complexidade e potencial,
destaca-se como uma ferramenta valiosa na busca por uma coexistência
harmoniosa entre as plantas e os seres humanos.
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4. Referências

Molisch H (1937) Der Einfluss einer Pflanze auf die andereAllelopathie. Gustav
Fischer Verlag, Jena.
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