Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Inserir da Diversidade
Aqui
Inserir Título
Animal e Vegetal
Aqui
Metabolismo Secundário Vegetal e sua Interação com Insetos
Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Metabolismo Secundário Vegetal
e sua Interação com Insetos
Objetivos
• Estudar as principais vias do metabolismo secundário vegetal, seus metabólitos produzi-
dos e suas funções para as plantas;
• Entender como as relações coevolutivas entre insetos e plantas interferem na sobrevi-
vência e na diversidade dos organismos envolvidos.
Caro Aluno(a)!
Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl-
timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material
trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.
Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você
poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns
dias e determinar como o seu “momento do estudo”.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de
discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de
propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de
troca de ideias e aprendizagem.
Bons Estudos!
UNIDADE
Metabolismo Secundário Vegetal e sua Interação com Insetos
Contextualização
Iniciaremos o nosso conteúdo com a sugestão do vídeo “As flores e os insetos, Polini-
zação, Simbiose, Equilíbrio da natureza”. Veja a fantástica relação dos insetos com as
flores, disponível em: https://youtu.be/6y90OhPuWjw
6
Metabolismo Vegetal
Na natureza, as plantas competem por água, luz, nutrientes, espaço e se defendem de
inimigos naturais. Algumas plantas se defendem com espinhos e acúleos (figura 1), pare-
des celulares lignificadas ou com sílica, células pétreas e astroesclereides – células do tecido
esclerenquimático –, cristais de oxalato de cálcio e podem até possuir folhas com a borda
cortante – já sentiu como a folha do capim-navalha é cortante? Essas estruturas foram
desenvolvidas para impedir o acesso de herbívoros às partes vegetais, como obstáculos a
inserção do aparelho bucal e ovoposição, ou mesmo a simples permanência do herbívoro.
7
7
UNIDADE
Metabolismo Secundário Vegetal e sua Interação com Insetos
8
Há grande diversidade química de metabólitos secundários que podemos agrupar em
várias classes, mais pela estrutura química que apresentam do que pela rota de biossín-
tese que os originou, mas que antigamente eram vistos como dejetos do metabolismo
primário vegetal.
Interações Coevolutivas
Entre Insetos e Plantas
Insetos e plantas estão entre os organismos mais diversos no ambiente – relembre
esses dados na Unidade – Biodiversidade. Se esses indivíduos – ou populações –
compartilham um mesmo local, ao mesmo tempo e no mesmo espaço, estão sujeitos
a interagirem entre si. A interação pode ser determinada em função do benefício –
positivo ou negativo – que cada indivíduo experimenta dessa interação.
9
9
UNIDADE
Metabolismo Secundário Vegetal e sua Interação com Insetos
Fornecimento Proteção e
Reprodução Proteção de alimento abrigo
Competição Mutualismo
(Teórica)
Não
Amensalismo Antagônicas Comensalismo
Antagônicas
10
O processo de coevolução pode ser benéfico ou prejudicial para os organismos en-
volvidos. A coevolução pode ser mutualística – ou não antagônica – quando ambos os
indivíduos – ou as populações – interatuantes são beneficiados (relações +/+). Podemos
citar como exemplos a polinização e dispersão de frutos e sementes. Mas a coevolução
pode ser também antagônica, na qual há benefício para um organismo interatuante e o
outro se prejudica (relações +/-), por exemplo: presa e predador.
Mas por que é importante estudar coevolução? Temos que pensar além da questão eco-
lógica e da preservação da biodiversidade. Na Medicina, por exemplo, a compreensão da
evolução do parasitismo pode ser útil no controle de doenças. Na agricultura, além do já
conhecido controle biológico de pragas, há possibilidades de formação de linhagens de
plantas mais produtivas. No processo de domesticação, as culturas podem perder a resis-
tência a patógenos e a probabilidade de perda de alimentos e plantas para outros fins é
enorme. A busca é por espécies não domesticadas – selvagens –, que são mais resistentes,
mas que sejam filogeneticamente próximas às cultivadas, que são mais produtivas.
Cabe lembrar que entre os animais denominados herbívoros estão desde moluscos,
patógenos, nematoides, insetos até vertebrados, como as aves, os mamíferos e os roe-
dores. No entanto, fixaremos nosso olhar nas relações mais bem estudas no ambiente:
a interação inseto-planta.
11
11
UNIDADE
Metabolismo Secundário Vegetal e sua Interação com Insetos
Lewinson, Jorge e Prado (2011) fazem uma diferenciação entre diversos termos en-
contrados na literatura especializada para designar insetos que consomem plantas:
• Fitófago: do grego phyton, planta e phagos, comedor – é o termo mais exato;
• Herbívoro: do latim herba, erva e vorus, comedor, devorador – deveria ser
restrito aos animais que se alimentam de plantas herbáceas.
Na prática, não há diferença. Os estudiosos do assunto utilizam fitófago e herbívoro
como sinônimos. No entanto, como já dito, os insetos acabam se especializando em
algum órgão da planta e, por isso, recebem nomes diferenciados:
• Minadores: insetos que fazem galerias no tecido parenquimático;
• Galhadores: insetos que induzem galhas – em qualquer órgão da planta;
• Folívoros ou fitófagos: insetos que consomem folhas;
• Xilófagos: insetos que comem madeira;
• Saproxilógrafos: insetos que consomem madeira em decomposição.
Gullan e Cranston (1998 apud AYOAMA; SABINAS, 2012, p. 368) comentam que
o consumo das plantas pelos insetos pode ocorrer de diversas maneiras, conforme des-
crito a seguir:
• Consumo foliar – alimentação externa: é o tipo mais visível e que causa mais
estragos para as plantas (figuras 3A e 3B). Os grupos mais frequentes são Lepi-
doptera e Coleoptera, outras ordens que se alimentam de folhas são Orthoptera,
Hymenoptera, Phasmatodea e Psocoptera;
Figura 3 – Consumo foliar: (A) Lagartas consumindo uma folha; (B) Resultado de o consumo foliar por insetos
Fonte: Adaptado de Getty Images
12
insetos que sofrem metamorfose completa – são exemplos de minadores: Diptera,
Lepidoptera, Coleoptera e Hymenoptera.
13
13
UNIDADE
Metabolismo Secundário Vegetal e sua Interação com Insetos
Os efeitos negativos dos herbívoros nas plantas provocam diversos efeitos fisiológi-
cos que, na maioria das vezes, ocorrem ao mesmo tempo. A perda de área foliar para
a demanda fotossintética é a mais comum, diminuindo o metabolismo geral da planta.
Ocorre também a redução das taxas de brotação foliar e crescimento de raízes – dimi-
nuindo a absorção de água –, há, geralmente, atraso para o início da floração ou até
mesmo a não floração. Quando a floração acontece, pode ocorrer menor produção de
flores e, consequentemente, uma redução na produção de sementes e do seu peso indi-
vidual. Outros aspectos a serem destacados são o aumento da suscetibilidade da planta
14
a diversos tipos de doenças e a redução da capacidade competitiva da planta predada
em relação às demais plantas ao seu redor.
Grande parte dos efeitos negativos sobre as plantas vem da abundância e diversidade
de insetos e os estudiosos afirmam que praticamente metade de todas as espécies de
insetos viventes são herbívoras e consumidoras exclusivas de folhas.
As plantas respondem à ação da herbivoria das mais variadas formas, sempre após o
dano ter ocorrido, entre as quais podemos citar a:
• Produção de metabólitos secundários: defesas químicas;
• Produção de defesas mecânicas: aumento na densidade de espinhos, acúleos
e tricomas;
• Alteração no tamanho, na forma e morfologia, sendo o mais comum a abscisão
– queda – foliar e reinício do crescimento vegetativo para a produção de mais folhas;
15
15
UNIDADE
Metabolismo Secundário Vegetal e sua Interação com Insetos
A coevolução das plantas e dos insetos conduz à síntese desses metabólitos como defe-
sa, mas também como atração, principalmente para que ocorra processos de polinização.
Os recursos florais são classificados como nutritivos e não nutritivos e podem variar no
tipo e na quantidade entre as espécies, sendo os mais comuns o pólen, néctar – ambos nu-
tritivos –, os óleos florais, a resina floral e os perfumes – classificados como não nutritivos.
16
uma pequena quantidade de pólen – buzz polinization – e, com isso, com a posição
da abelha na flor, ocorre a transferência do pólen. As abelhas são consideradas o
principal grupo que consome pólen, justamente pela quantidade elevada de proteínas e,
consequentemente, de nitrogênio (Figura 9B).
Outro motivo para que as plantas sejam visitadas por agentes polinizadores é a
produção de néctar, que é composto basicamente por água e açúcar – glicose, sacarose e/
ou frutose. O néctar varia grandemente na concentração e proporção entre as espécies.
As flores são os órgãos que mais produzem néctar por meio de nectários ou tecidos
nectaríferos (Figura 10). No entanto, folhas e caules também podem secretar néctar,
dependendo da espécie. Daí, são estruturas denominadas nectários extraflorais.
17
17
UNIDADE
Metabolismo Secundário Vegetal e sua Interação com Insetos
Os óleos florais são recursos menos comuns oferecidos pelas plantas aos seus
visitantes e foram registrados em apenas 11 famílias de angiospermas: Calceolariaceae,
Cucurbitaceae, Iridaceae, Krameriaceae, Malpighiaceae, Orchidaceae, Plantaginaceae,
Primulaceae, Scrophulariaceae, Solanaceae e Stilbaceae (BARÔNIO et al., 2018).
Esses óleos florais são uma mistura de ácidos graxos e acilgliceróis e são produzidos
em glândulas especializadas e denominadas elaióforos tricomáticos e elaióforos epite-
liais. Os óleos são removidos das flores, geralmente por abelhas, com movimentos de
fricção ou raspagem, feitos por cerdas diferenciadas. Portanto, nem todas as abelhas
conseguem coletar esse recurso.
As abelhas também conseguem coletar um recurso floral bem restrito, a resina. As fa-
mílias Euphorbiaceae, Calophyllaceae e Clusiaceae, com poucos gêneros representati-
vos, são as principais fontes produtoras de resina floral. As resinas são compostas basi-
camente por terpenoides que conferem resistência ao apodrecimento e digestão e são
consideradas tóxicas. As abelhas fêmeas retiram as resinas das flores com a mandíbula
e são utilizadas exclusivamente na fabricação de ninhos.
Os perfumes também são recursos florais oferecidos pelas plantas. Eles são uma mis-
tura de diferentes compostos orgânicos voláteis, à qual denominamos fragrâncias. Os os-
móforos são as glândulas produtoras de fragrâncias e estão localizados nos estames, pé-
talas e sépalas. Esses aromas são exalados durante toda a antese floral – período no qual
as flores permanecem abertas – e auxiliam os insetos a procurarem os demais recursos
florais, como o pólen e néctar. Além de fragrâncias, algumas plantas secretam esses
perfumes mimetizando os aromas procurados pelos insetos. Há aromas desagradáveis
de putrefação, que atraem os insetos para locais prováveis para a ovoposição, mas o in-
seto é enganado e acaba realizando a polinização na busca desses locais. Igualmente há
aromas semelhantes a feromônios sexuais de abelhas e vespas especificamente. Esses
insetos machos são induzidos, pelas plantas, a realizarem uma falsa cópula com a flor
que sintetiza o feromônio exalado do inseto fêmea. Com isso, realiza a polinização e não
a cópula. De acordo com Barônio e colaboradores (2019, p. 400):
Nas interações planta-visitante floral há uma via de mão dupla que
orienta as pressões seletivas, onde a disponibilidade de recursos
florais permite que as plantas exerçam pressão sobre os visitantes
florais, que evolutivamente tendem a otimizar o comportamento de
coleta desses recursos. No entanto, a otimização da coleta e uso
desses recursos pelos polinizadores torna-se pressão seletiva sobre
as plantas. Essa otimização pode conduzir as plantas a elevarem
ou reduzirem sua aptidão reprodutiva, obtendo dos visitantes maior
ou menor transferência e deposição de pólen, respectivamente
relacionados à polinização e a pilhagem de recursos.
18
A disponibilidade de recursos está fortemente associada ao sucesso reprodutivo das
plantas que depende da eficiência do agente polinizador. E é por esse motivo que essas
relações são classificadas como mutualísticas.
Além dos recursos florais, a morfologia da flor também é determinante para uma
efetiva polinização. A cor e forma das flores, bem como os sistemas sexuais podem
interferir na polinização.
Cerca de 5% das angiospermas são dioicas, ou seja, apresentam flores pistiladas – so-
mente femininas – e estaminadas – somente masculinas –, seja em indivíduos separados
ou em um mesmo indivíduo. Quando flores só femininas e só masculinas ocorrem na
mesma planta, as flores masculinas estão localizadas nos ápices dos ramos mais altos
e as flores femininas nos ápices dos ramos mais baixos. As plantas dioicas apresen-
tam flores pequenas, pouco especializadas, com cores claras e difíceis de se perceber
(Figura 11). De acordo com Obermuller e colaboradores (2008), existe uma estreita
associação entre a dioica e a polinização por grande variedade de insetos generalistas.
19
19
UNIDADE
Metabolismo Secundário Vegetal e sua Interação com Insetos
Até aqui, podemos observar que o processo de coevolução é incrível! Para que a
polinização ocorra devemos observar as características morfológicas gerais da flor e se
disponibilizam, ou não, os recursos florais. A esse conjunto de características damos o
nome de síndrome de polinização.
20
A seguir, veja exemplos da ocorrência dessas síndromes na Figura 13 (de A a E).
Cada inseto, como podemos observar na Tabela 2, possui preferências para que o pro-
cesso de polinização ocorra.
No início de 2019 foi publicado um relatório temático inédito sobre polinização, po-
linizadores e a produção de alimentos no Brasil, feito em parceria entre a Plataforma
Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES, da sigla em inglês) e a
Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador (REBIPP). O relatório aponta impactos
econômicos, ambientais e sociais da polinização para a agricultura do País e as ameaças
a esse serviço tão importante para a nossa sociedade (WOLOWSKI et al., 2019).
21
21
UNIDADE
Metabolismo Secundário Vegetal e sua Interação com Insetos
Os dados são impressionantes: das 289 plantas cultivadas ou silvestres utilizadas dire-
ta ou indiretamente na produção de alimentos no País, 191 são polinizadas por insetos
(66%). Os serviços prestados à agricultura brasileira por esses animais, principalmente
as abelhas, foi estimado em R$ 43 bilhões, em 2018. As culturas de soja, café, laranja e
maçã, de grande importância agrícola, são polinizadas por insetos (WOLOWSKI et al.,
2019). Veja, a seguir, uma porcentagem mostrando os cultivos polinizados por cada
grupo de agente polinizador:
Abelhas
Hemípteros Besouros
78.9%
0.9% 21%
Moscas
2.6% 4.4%
Aves
3.5% 3.5%
Mariposas Borboletas
O relatório aponta que 91 plantas são 100% dependentes da polinização por animais
para a produção de frutas, hortaliças, legumes, grãos e oleaginosas utilizadas para o
consumo humano e também animal. Ainda, mostra que a polinização atua diretamente
na reprodução e na frutificação dessas plantas (WOLOWSKI et al., 2019).
22
globais, que prejudicam os insetos que possuem condições restritivas fisiológicas relacio-
nadas à temperatura.
Temos muitas áreas para estudar a biodiversidade animal e vegetal. Com qual você
mais se identifica? Aqui, apresentamos apenas uma porção de dados para aguçar a
constante busca do conhecimento.
23
23
UNIDADE
Metabolismo Secundário Vegetal e sua Interação com Insetos
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Botânica Online
Conheça o Grupo de Pesquisa Botânica na Educação (Boted) do Instituto de Biociências
da Universidade de São Paulo.
http://bit.ly/32jfKTL
Guardiões da Chapada
Conheça o projeto Guardiões da Chapada, da Universidade Federal da Bahia.
http://bit.ly/2MlDgtG
Vídeos
A Floração
Aprofunde os seus conhecimentos sobre a floração, assista ao vídeo da Faculdade de
Formação de Professores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
https://youtu.be/T4Q7LGp-_xE
Leitura
A corrida armamentista
Amplie os seus conhecimentos acerca da corrida armamentista – interações químicas
entre insetos e plantas.
http://bit.ly/2VOGWY5
Entre flores e visitantes: estratégias de disponibilização e coleta de recursos florais
Para que você possa desenvolver os seus conhecimentos sobre recursos florais, leia o
artigo intitulado Entre flores e visitantes: estratégias de disponibilização e coleta de
recursos florais.
http://bit.ly/2Mlvwbd
24
Referências
AOYAMA, E. M.; LABINAS, A. M. Características estruturais das plantas contra a herbivo-
ria por insetos. Enciclopédia Biosfera, Goiânia, GO, v. 8, n. 15, p. 365-386, nov. 2012.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. Porto Alegre, RS: Artmed, 2004.
25
25