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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

LICENCIATURA EM HISTÓRIA

RESISTÊNCIA À ESCRAVIDÃO

RECIFE

2023
Aluna: Kauane Adrielly do Nascimento Silva

Tópico escolhido: Resistência à escravidão

A obra de Rafael de Bivar Marquese intitulada “A dinâmica da escravidão no Brasil


resistência, tráfico negreiro e alforrias, séculos XVII a XIX” discute de forma abrangente a
complexidade do periodo do Brasil escravocrata, o mesmo destaca diferentes contextos e
períodos históricos. O autor começa explorando a importância da Guerra dos Palmares como
um episódio relevante para a resistência escrava no Novo Mundo e demonstrando por quais
maneiras esse quilombo se destacou tanto na história da américa portuguesa.

Marquese argumenta que a derrota de Palmares suscitou a seguinte indagação: por que
não houve outros quilombos de magnitude semelhante na história do Brasil? O autor
apresenta a visão dos historiadores de que a alteração na legislação escravista após a queda de
Palmares resultou em um mecanismo repressivo destinado a conter as fugas de cativos,
representado pela criação do cargo de Capitão-do-mato, cuja função era capturar os escravos
fugitivos. Além disso, nesse contexto, definiu-se o que seria considerado um quilombo.

Essa institucionalização da figura do capitão-do-mato e a definição de quilombo como


qualquer aglomeração composta por apenas alguns poucos escravos fugitivos teriam limitado
a formação de comunidades rebeldes com as proporções de Palmares desde o início. No
entanto, o autor sugere outra explicação que complementa a fornecida pelos historiadores.
Essa explicação se baseia na configuração que o sistema escravista brasileiro assumiu a partir
do final do século XVII.

O sistema escravista brasileiro se baseou em uma estreita relação entre um tráfico


transatlântico de escravos significativamente volumoso e um número constante de alforrias.
Nessa equação, foi possível aumentar o tráfico de escravos africanos sem ameaçar a ordem
social escravista. Após a derrota de Palmares, as oportunidades para revoltas escravas e a
formação de grandes quilombos no Brasil diminuíram substancialmente.

O sistema escravista brasileiro passou a escorar-se em uma estreita


articulação entre tráfico transatlântico de escravos bastante volumoso e
número constante de alforrias. Nessa equação,era possível aumentar a
intensidade do tráfico,com a introdução de grandes quantidades de africanos
escravizados,sem colocar em risco a ordem social escravista.Logo após a
derrota de Palmares,reduziram-se substancialmente as oportunidades de
sucesso para as revoltas escravas e os grandes quilombos no Brasil.
(MARQUESE, 2006, p. 109)
Na obra "Do singular ao plural: Palmares, capitães-do-mato e o governo dos
escravos", a autora Silvia Lara explora não apenas como o grande quilombo de Palmares se
tornou um ponto de destaque na história, mas também analisa por que isso ocorreu. Ela
detalha minuciosamente a formação do quilombo de Palmares, ressaltando sua relevância no
contexto da história colonial do Brasil. Palmares teve sua origem como um reduzido grupo de
escravos fugitivos que souberam aproveitar a fraqueza no controle exercido pelos senhores,
uma fragilidade causada pela presença dos holandeses na região.

A obra também destaca a complexidade das abordagens das autoridades coloniais e


metropolitanas em relação a Palmares. Em certos momentos, elas buscavam acordos de paz
com o quilombo, enquanto em outros momentos enviavam expedições militares para
combater seus habitantes.

Para Silvia Lara as razões para a formação de Palmares devem ser buscadas menos na
movimentação escrava e mais nas mudanças na política senhorial de governo dos escravos.
Medidas como a criação do cargo de capitão-do-mato,podem ter contribuído para a formação
de quilombos. A formação desse aparato para conter as fugas foi influenciada pelo medo do
surgimento de novos quilombos como Palmares, e as tentativas de capturar fugitivos
envolviam prêmios, venda de prisioneiros e concessões de terras.

Em 1715, depois de consultar os ouvidores de Vila Rica e Vila Real, o então


governador da capitania independente de São Paulo e Minas do Ouro, dom
Brás Baltasar da Silveira, assinou um regimento no qual eram estipulados os
valores a serem pagos pelos escravos fugidos apreendidos pelos capitães-do-
mato. Os apanhados numa distância de uma légua ao redor da vila renderiam
quatro oitavas de ouro; os presos a uma distância maior, oito oitavas; doze
oitavas pelos achados (LARA, 1996, p. 89)

Com base nos textos de Rafael de Bivar Marquese e Silvia Lara, é possível concluir
que ambos os autores abordam de forma abrangente a complexidade do período escravocrata
no Brasil, destacando a formação de quilombos e a resistência escrava como temas centrais de
análise. Embora apresentem perspectivas ligeiramente distintas, eles compartilham várias
áreas de concordância e discordância em relação à formação de quilombos e ao papel das
autoridades coloniais.

Em relação às concordâncias, ambos os autores reconhecem a importância das


mudanças nas políticas de controle sobre os escravos na formação de quilombos. Tanto
Marquese quanto Lara concordam que a criação do cargo de capitão-do-mato e as medidas de
repressão às fugas de escravos contribuíram para a formação de quilombos, já que os escravos
fugitivos buscavam escapar das punições e da captura. Ambos os textos também enfatizam a
importância de Palmares como um caso excepcional na história colonial do Brasil e como um
exemplo que levou as autoridades coloniais a adotarem medidas mais rigorosas.

No entanto, há também discordâncias entre os autores. Enquanto Marquese destaca a


configuração sistêmica do sistema escravista brasileiro, com um tráfico transatlântico de
escravos volumoso e um número constante de alforrias, como fator limitante para a formação
de grandes quilombos após a derrota de Palmares, Silvia Lara enfoca mais as mudanças na
política senhorial de governo dos escravos, incluindo a criação do cargo de capitão-do-mato.
Essas diferenças de ênfase podem ser interpretadas como abordagens complementares para
compreender a complexidade da resistência escrava.

Em resumo, ambos os autores oferecem perspectivas valiosas sobre a formação de


quilombos e a resistência escrava no Brasil, e suas análises se complementam para
proporcionar uma compreensão mais completa e aprofundada desse importante aspecto da
história brasileira. Eles concordam em muitos aspectos, mas também apresentam diferenças
na ênfase dada a certos fatores explicativos. A combinação dessas perspectivas contribui para
uma visão mais rica e equilibrada desse tema histórico.
Referências bibliográficas

LARA, Silvia Hunold. Do singular ao plural. Palmares, capitães do mato e o governo dos
escravos. In: GOMES, Flávio dos S.; REIS, João José (Org.). Liberdade por um Fio. São
Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 81-109.

MARQUESE, Rafael de B. “Resistência, tráfico negreiro e alforrias, séculos XVII a XIX”.


Novos Estudos, 74, Março, 2006.

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