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LMC0054: Introdução à Teoria dos Números

Docente: Alex de Moura Batista

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN


Centro de Ensino Superior do Seridó – CERES
Departamento de Ciências Exatas e Aplicadas – DCEA

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 1/47 1 / 47


Sumário

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 2/47 2 / 47


Aula 26/02/2024: Apresentação de plano de curso

Descrição da pontuação das unidades


2,0 pontos para a apresentação de 03 (três) exercícios. Apresentações
até o final da unidade. Apresentar no máximo 01 (um) exercício por aula;
1,5 ponto para o sorteio de questões. Atividade em dupla ou individual;
1,0 ponto para um trabalho em dupla ou individual;
5,5 pontos para dois testes, seguindo as datas do SIGAA, feitos em dias
seguidos. Os testes serão feitos de forma individual e sem consultas.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 3/47 3 / 47


Distribuição dos exercícios
Os exercícios serão distribuídos de acordo com a ordem da frequência
(não havendo possibilidade de troca de exercícios). Exemplo: Exercício
1.1 fica com (?) e, assim por diante;
As questões dos testes podem ser apresentadas. Distribuição livre. No
máximo 01 (uma) por discente.

Sobre os sorteios:
Nas datas do plano de curso (após a aula), serão enviadas três listas;
Lista A, Lista B e Lista C;
Cada lista terá 04 (quatro) questões.
Para a pontuação: 1,0 ponto para a apresentação (no quadro) + 0,5
ponto para a resposta de uma pergunta. Aqui, um integrante apresenta e
outro responde à pergunta;

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 4/47 4 / 47


Outras informações
Nesta semana fixaremos um horário de atendimento;
Parte das aulas será dada através de slides. Os slides serão enviados
após as aulas;
As avaliações serão discutidas de forma individual. Não será permitido
tirar fotos das avaliações;
Apenas haverá a reposição do SIGAA;
Na medida do possível, EVITAR conversas paralelas.

Dúvidas
Dúvidas? Alguma sugestão?
Táticas de estudo;
O que pode ser cobrado nas avaliações?

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 5/47 5 / 47


Aula: 27/02/2024

Seção 1.1: Números inteiros

Subseção 1.1.1: Propriedades iniciais

Observação:
No que se segue, vamos supor que existe um conjunto não-vazio,
denominado conjunto dos números inteiros, denotado por Z. Vamos supor
que este conjunto é munido de duas operação, denominados soma e produto,
indicadas respectivamente por:

+ ∶ Z×Z → Z e ⋅ ∶ Z×Z → Z

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 6/47 6 / 47


Observação: Axiomas da operação soma
Sejam a,b,c ∈ Z. Vamos supor os seguintes axiomas:
(A1) a + (b + c) = (a + b) + c;
(A2) a + b = b + a;
(A3) Existe 0 ∈ Z tal que a + 0 = 0 + a = a para todo a ∈ Z;
(A4) Para todo a ∈ Z, existe −a ∈ Z tal que a + (−a) = 0;
(A5) Se a = b, então a + c = b + c.

Exercício 1.1:
Prove a unicidade do elemento dado por (A3).

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 7/47 7 / 47


Observação: Axiomas da operação produto
Sejam a,b,c ∈ Z. Vamos os seguintes axiomas:
(P1) a ⋅ (b ⋅ c) = (a ⋅ b) ⋅ c;
(P2) a ⋅ b = b ⋅ a;
(P3) Existe 1 ∈ Z tal que a ⋅ 1 = 1 ⋅ a = a para todo a ∈ Z;
(P4) Se a ⋅ c = b ⋅ c e c ≠ 0, então a = b;
(P5) Se a = b, então a ⋅ c = b ⋅ c;
(D1) a ⋅ (b + c) = a ⋅ b + a ⋅ c.

Exercício 1.2:
Prove a unicidade do elemento dado por (P3)

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 8/47 8 / 47


Proposição 1.1.1:
Sejam a,b,c ∈ Z tais que a + c = b + c. Então a = b.

Prova:
Por hipótese e (A5), tem-se que

(a + c) + (−c) = (b + c) + (−c),

de onde por (A1), obtem-se que

a + (c + (−c)) = b + (c + (−c)).

Assim, por (A4), segue que a + 0 = b + 0. Portanto, por (A3), a = b. O resultado


está provado.

Exercício 1.3:
Prove a unicidade do elemento dado por (A4).

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 9/47 9 / 47


Exercício 1.4:
Seja a ∈ Z, prove que −(−a) = a.

Exercício 1.5:
Prove que 0 = −0. Seja a ∈ Z tal que a = −a, prove que a = 0.

Exercício 1.6:
Sejam a,b,c ∈ Z tais que c + a = c + b. Prove que a = b.

Exercício 1.7:
Seja a ∈ Z, prove que a ⋅ 0 + a ⋅ 0 = 0 + a ⋅ 0.

Coroláro 1.1.2:
Seja a ∈ Z. Então a ⋅ 0 = 0.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 10/47 10 / 47


Prova:
De acordo com o Exercício 1.7

a ⋅ 0 + a ⋅ 0 = 0 + a ⋅ 0.

Portanto, da Proposição 1.1.1, segue que a ⋅ 0 = 0. O resultado está provado.

Corolário 1.1.3:
Sejam a,b ∈ Z tais que a ⋅ b = 0. Então a = 0 ou b = 0.

Prova:
De acordo com o Corolário 1.1.2, a ⋅ 0 = 0. Então, da hipótese segue que
a ⋅ b = a ⋅ 0, de onde por (P2), vem que b ⋅ a = 0 ⋅ a. Se a ≠ 0, por (P4), vem que
b = 0. O resultado está provado.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 11/47 11 / 47


Exercício 1.8:
Sejam a,b ∈ Z. Prove que a = b se, e somente se, a + (−b) = 0.

Exercício 1.9:
Seja a ∈ Z tal que a + a = 0. Prove que a = 0.

Exercício 1.10:
Seja a ∈ Z tal que a ⋅ a = a. Prove que a = 0 ou a = 1.

Exercício 1.11:
Sejam a,b ∈ Z, prove que (−a)b = −(ab) e a(−b) = −(ab).

Exercício 1.12:
Sejam a,b ∈ Z, prove que (−a)(−b) = ab.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 12/47 12 / 47


Exercício 1.13:
Utilizando os axiomas apresentados aqui, determine todas as soluções para a
equação 2x + 5 = 9.

Aula: 28/02/2024

Subseção 1.1.2: Relação menor ou igual

Observação:
Vamos supor como axioma que Z é munido de uma relação de ordem
denominada menor ou igual e denotada por ≤, safisfazendo para a,b,c ∈ Z os
seguintes axiomas:
(O1) a ≤ a;
(O2) Se a ≤ b e b ≤ a, então a = b;
(O3) Se a ≤ b e b ≤ c, então a ≤ c.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 13/47 13 / 47


Observação:
Sejam a,b ∈ Z. Se a ≤ b e a ≠ b, diz-se que a é menor que b e, denota-se a < b.

Observação:
Além dos axiomas anteriores, vamos considerar os seguintes axiomas:
(O4) Para a,b ∈ Z, tem-se que a < b ou a = b ou b < a, onde a ocorrência de
qualquer possibilidade exclui as demais;
(O5) Se a ≤ b, então a + c ≤ b + c;
(O6) Se a ≤ b e 0 ≤ c, então ac ≤ bc.

Observação:
Aqui, vamos supor que 0 ≠ 1.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 14/47 14 / 47


Proposição 1.1.4
Seja a ∈ Z,
(i) Se 0 ≤ a, então −a ≤ 0;
(ii) se a ≤ 0, então 0 ≤ −a;
(iii) 0 ≤ a ⋅ a;
(iv) 0 < 1.

Prova:
Respectivamente, Exercícios 1.14, 1.15, 1.16 e 1.17.

Exemplo:
Seja a ∈ Z. Se a ≠ 0, então 0 < a ou a < 0. De fato, dados 0,a ∈ Z, por (O4),
tem-se que 0 < a ou a = 0 ou a < 0. Como a = 0 não ocorre, segue a afirmação.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 15/47 15 / 47


Exercício 1.18:
Seja a ∈ Z. Prove que a = 0 se, e somente se, −a = 0.

Exercício 1.19:
Seja a ∈ Z. Se 0 < a, prove que −a < 0.

Definição: Valor absoluto


Seja a ∈ Z. Diz-se que o valor absoluto de a é a, se 0 ≤ a. Diz-se que o valor
absoluto de a é −a, se a < 0

Observação:
Denota-se o valor absoluto de a ∈ Z por ∣a∣.

Exemplo:
Note que, por (O1), 0 ≤ 0. Assim, por definição de valor absoluto, ∣0∣ = 0.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 16/47 16 / 47


Exemplo:
Por (iv) da Proposição 1.1.4, 0 ≤ 1. Assim, por definição de valor absoluto
∣1∣ = 1.

Exemplo:
Seja a ∈ Z tal que 0 < a. Então, ∣ − a∣ = a. De fato, do Exercício 1.19, −a < 0.
Assim, da definição de valor absoluto, ∣ − a∣ = −(−a), de onde do Exercício 1.4,
∣ − a∣ = a e segue a afirmação.

Exercício 1.20:
Seja a ∈ Z. Prove que 0 ≤ ∣a∣.

Exercício 1.21:
Seja a ∈ Z. Se ∣a∣ = 0, prove que a = 0.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 17/47 17 / 47


Aula: 04/03/2023

Subseção 1.1.3: Elemento mínimo

Definição: Elemento mínimo


Seja A ⊂ Z um conjunto não-vazio. Diz-se que a ∈ Z é um elemento mínimo de
A, se:
(E1) a ∈ A;
(E2) a ≤ x para todo x ∈ A.

Observação:
Seja a ∈ A um elemento mínimo de A ⊂ Z. Denota-se a = minA.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 18/47 18 / 47


Exemplo:
Seja A ∶= {0}, afirmamos que minA = 0. De fato, note que 0 ∈ A. Além disso,
por (O1), seque que 0 ≤ 0. Assim, por definição de elemento mínimo, segue a
afirmação.

Exemplo:
Seja A ∶= {0,1}, afirmamos que minA = 0. De fato, note que 0 ∈ A. Além disso,
por (O1) e Proposição 1.1.4 (item iii), seque, respectivamente, que 0 ≤ 0 e
0 ≤ 1. Assim, por definição de elemento mínimo, segue a afirmação.

Exercício 2.1:
Sejam A ⊂ Z não-vazio e a1 ,a2 ∈ Z. Se a1 ,a2 satisfazem (E1) e (E2), prove
que a1 = a2 .

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 19/47 19 / 47


Definição: Conjunto do números naturais
Denomina-se o conjunto
N ∶= {a ∈ Z; 0 ≤ a}
por conjunto dos números naturais.

Exercício 2.2:
Prove que minN = 0.

Subseção 1.1.4: Princípio da boa ordem e aplicações

Axioma: Princípio da boa ordem


Seja A ⊂ N não-vazio. Então, A possui elemento mínimo.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 20/47 20 / 47


Lema 1.1.5:
Seja m ∈ Z tal que 0 < m e m < 1. Então, 0 < m ⋅ m, m ⋅ m < m e m ⋅ m < 1.

Prova:
Exercício 2.3.

Proposição 1.1.6:
Seja a ∈ Z tal que 0 ≤ a e a ≤ 1. Então, a = 0 ou a = 1.

Prova:
Suponha por contradição que 0 ≠ a e a ≠ 1. Então, da hipótese e da definição
de menor estrito, 0 < a e a < 1. Assim,

a ∈ A ∶= {x ∈ Z; 0 < x e x < 1},

o que implica que A é não-vazio.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 21/47 21 / 47


Continuação da prova:
Então, como A ⊂ N, do Princípio da boa ordem, A possui elemento mínimo
minA = m. Por (E1), m ∈ A, de onde da definição do conjunto A, segue que
0 < m e m < 1. Assim, do Lema 1.1.5, vem que 0 < m ⋅ m e m ⋅ m < 1, isto é,
m ⋅ m ∈ A. Ainda do Lema 1.1.5, segue que

m ⋅ m < m,

o que é uma contradição, já que m é um elemento mínimo de A e m ⋅ m ∈ A.


Portanto, segue o resultado.

Corolário 1.1.7:
Seja a ∈ Z tal que 0 < a. Então, 1 ≤ a.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 22/47 22 / 47


Prova:
Por (O4), tem-se que 1 ≤ a ou a < 1. Suponha por contradição que a < 1.
Então, como 0 < a, tem-se que

a ∈ A ∶= {a ∈ Z; 0 < x e x < 1},

o que da prova da Proposição 1.1.6 é uma contradição. Portanto, segue o


resultado.

Exercício 2.4:
Seja a ∈ Z. Se a ≠ 0, prove que 1 ≤ ∣a∣.

Aula: 05/03/2024

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 23/47 23 / 47


Observação:
Utilizando os próximos exercícios, provaremos que não existe x ∈ Z tal que
2 ⋅ x = 1.

Exercício 2.5:
Sejam a,b,x ∈ Z tais que a ⋅ x = b. Se b ≠ 0, prove que x ≠ 0.

Exercício 2.6:
Sejam a,b ∈ Z. Se a < 0 e 0 < b, prove que a ⋅ b < 0.

Exercício 2.7:
Prove que 0 < 2 e 1 < 2.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 24/47 24 / 47


Exemplo:
Não existe x ∈ Z tal que 2 ⋅ x = 1. Suponha por contradição que existe x ∈ Z
satisfazendo a expressão anterior. Do Exercício 2.5, tem-se que x ≠ 0. Assim,
por (O4), segue que x < 0 ou 0 < x. Se x < 0, como do Exercício 2.7, 0 < 2, vem
do Exercício 2.6 que 2 ⋅ x < 0, o que é uma contradição, já que 2 ⋅ x = 1 e 0 < 1.
Agora, se 0 < x, do Corolário 1.1.7, segue que 1 ≤ x. Assim, como 0 < 2, por
(O6) e (P3), segue que 2 ≤ 2 ⋅ x = 1, o que do Exercício 2.7 é uma contradição.
Portanto, segue a afirmação.

Exercício 2.8:
Prove que não existe x ∈ Z tal que (x ⋅ x) + 1 = 0.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 25/47 25 / 47


Observação:
No que se segue, vamos considerar

Pa ∶= {2a; a ∈ Z} e Im ∶= {2b + 1; b ∈ Z}.

Exercício 2.9:
Nas condições da observação anterior, prove que Pa ∩ Im = ∅.

Proposição 1.1.8: Propriedade arquimediana


Seja a,b ∈ Z com 0 < a e 0 < b. Então, existe n ∈ Z tal que a < nb.

Prova:
Exercício 2.10.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 26/47 26 / 47


Aula: 06/03/202

Seção 1.2: Divisibilidade

Subseção 1.2.1: Definição e propriedades

Definição: Divisibilidade
Sejam a,c ∈ Z. Diz-se que a divide c, se existe b ∈ Z tal que ab = c.

Observação:
Sejam a,c ∈ Z. Se a divide c, denota-se a∣c.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 27/47 27 / 47


Exemplo:
Seja a ∈ Z, então, por (P3), tem-se que a∣a e 1∣a.

Exemplo:
Seja a ∈ Z. Do Corolário 1.1.2, tem-se que a∣0.

Exemplo:
Sabemos que não existe x ∈ Z tal que 2x = 1. Então, 2 não divide 1.

Exercício 2.11:
Prove que não existe x ∈ Z tal que 2x = 3. Conclua que 2 não divide 3.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 28/47 28 / 47


Exercício 2.12:
Sejam p ∈ Z com p ≠ 0 e

D(p) ∶= {d ∈ Z; d∣p}.

Prove que 1,−1, p,−p ∈ D(p).

Lema 1.2.1:
Sejam a,b ∈ Z. Então, ∣ab∣ = ∣a∣∣b∣.

Prova:
Exercício 2.13.

Proposição 1.2.2:
Sejam a,c ∈ Z com c ≠ 0. Se a∣c, então ∣a∣ ≤ ∣c∣.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 29/47 29 / 47


Prova:
Seja b ∈ Z tal que ab = c. Assim, do Lema 1.2.1, tem-se que

∣a∣∣b∣ = ∣c∣. (1)

Ainda como ab = c e c ≠ 0, segue que b ≠ 0, de onde do Exercício 2.4, vem que


1 ≤ ∣b∣. Assim, como do Exercício 1.20, 0 ≤ ∣a∣, por (O6) e (P2), tem-se que

∣a∣ ⋅ 1 ≤ ∣a∣ ⋅ ∣b∣.

Portanto, por (1) e (P3), seque que ∣a∣ ≤ ∣c∣, como queríamos provar.

Exercício 2.14:
Vale a recíproca do resultado anterior? Justifique.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 30/47 30 / 47


Exercício 2.15:
Seja a ∈ Z tal que a∣1. Prove que a = 1 ou a = −1.

Exercício 2.16:
Sejam a,c ∈ Z com c ≠ 0. Se a∣c, prove que a ≤ ∣c∣.

Lema 1.2.3:
Sejam r,b ∈ Z tais que 0 < b e b ≤ r. Então, 0 ≤ r + (−b) e r + (−b) < r.

Prova:
Exercício 2.17.

Observação:
O próximo resultado generaliza a nação de divisibilidade em Z.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 31/47 31 / 47


Aula: 11/03/2024

Proposição 1.2.4: Algoritmo da divisão


Sejam a,b ∈ Z tais que 0 ≤ a e 0 < b. Então, existem q,r ∈ Z tais que a = bq + r
onde 0 ≤ r e r < b.

Prova:
Defina
A ∶= {a + (−b)x; 0 ≤ a + (−b)x para algum x ∈ Z}.
Note que (justifique), a = a + (−b)0. Como por hipótese 0 ≤ a, tem-se que
a ∈ A, isto é, A é não-vazio. Assim, sendo A ⊂ N, do Princípio da boa ordem, A
possui elemento mínimo r ∈ Z. Por (E1), r ∈ A, de onde da definição do
conjunto existe q ∈ Z tal que a + (−b)q = r, o que implica em (justifique)

a = bq + r. (2)

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 32/47 32 / 47


Continuação da prova:
Ainda como r ∈ A, da definição do conjunto tem-se que 0 ≤ r. Para finalizar da
demonstração, provaremos que r < b. Por (O4), r < b ou b ≤ r. Suponha por
contradição que b ≤ r. Defina

s = a + (−b)(q + 1).

Note que (justifique), s = r + (−b). Assim, como b ≤ r, do Lema 1.2.3, tem-se


que s ∈ A. Ainda do Lema 1.2.3, vem que s = r + (−b) < r, o que é uma
contradição, já que r = minA. Então, r < b. Portanto, como 0 ≤ r, por (2) segue
a prova do resultado.

Exercício 3.1:
Nas condições da proposição anterior, prove a unicidade de q,r ∈ Z.

Observação:
Os próximos exercícios podem ser resolvidos utilizando a Algoritmo da divisão

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 33/47 33 / 47


Exercício 3.2:
Prove que Z = Pa ∪ Im.

Exercício 3.3:
Seja a ∈ Z. Prove que existe x ∈ {a,a + 1,a + 2} tal que 3∣x.

Aula: 12/03/2024

Exercício 3.4:
Seja a ∈ Im com 0 ≤ a. Prove que existe q ∈ Z tal que a = 4q + 3 ou a = 4q + 1.

Proposição 1.2.5: Algoritmo da divisão


Sejam a,b ∈ Z onde 0 ≠ b. Então, existem q,r ∈ Z tais que a = bq + r onde 0 ≤ r
e r < ∣b∣.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 34/47 34 / 47


Prova:
Exercício de leitura.

Exercício 3.5:
Seja a ∈ Z tal que 3∣a e 2∣a. Prove que 6∣a.

Exercício 3.6:
Seja a ∈ Z tal que 2 não divide a. Prove que 2∣(a + (−1)).

Seção 1.3: Ideais

Subseção 1.3.1: Definição e propriedades iniciais

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 35/47 35 / 47


Definição: Ideal
Seja I ⊂ Z não-vazio. Diz-se que I é um ideal de Z, se para a,b ∈ I e c ∈ Z,
tem-se que
(I1) a + b ∈ I ;
(I2) ac ∈ I .

Exemplo:
I = {0} é um ideal de Z. De fato, seja 0 ∈ I , então por (A3), tem-se que
0 + 0 = 0 ∈ I . Além disso, seja c ∈ Z, da Corolário 1.1.2 e (P2), vem que
0 ⋅ c = 0 ∈ I . Assim, segue a afirmação.

Proposição 1.3.1:
Seja I ⊂ Z um ideal de Z. Então, 0 ∈ I .

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 36/47 36 / 47


Prova:
Sejam a ∈ I e 0 ∈ Z. Segue por (I2) e Corolário 1.1.2 que a ⋅ 0 = 0 ∈ I . O
resultado está provado.

Exercício 3.7:
Prove que Z é um ideal de Z. O conjunto N é um ideal de Z? Justifique.

Observação:
Seja m ∈ Z. Podemos considerar

mZ ∶= {mx; x ∈ Z}.

Exercício 3.8:
Prove que 0Z = {0} e 1Z = Z.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 37/47 37 / 47


Proposição 1.3.2:
Seja m ∈ Z. Então, mZ é um ideal de Z.

Prova:
Sejam mx,my ∈ mZ e c ∈ Z. Note que, por (D1) tem-se que

mx + my = m(x + y) ∈ mZ,

o que implica que mZ satisfaz (I1). Agora, note que por (P1),

(mx)c = m(xc) ∈ mZ,

o que implica que mZ satisfaz (I2). Portanto, segue o resultado.

Exercício 3.9:
Sejam a,m ∈ Z. Prove que a ∈ mZ se, e somente se, m∣a.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 38/47 38 / 47


Exercício 3.10:
Sejam n,m ∈ Z tais que 0 < m e 0 < n. Se nZ = mZ, prove que n = m.

Proposição 1.3.3:
Seja I ⊂ Z um ideal de Z. Se 1 ∈ I , então I = Z.

Prova:
Exercício 3.11.

Subseção 1.3.2: Caracterização

Observação:
Agora, provaremos a recíproca da Proposição 1.3.2.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 39/47 39 / 47


Lema 1.3.4:
Seja I ⊂ Z um ideal de Z tal que existe a ∈ I com a ≠ 0. Assim,

J ∶= {x ∈ I; 0 < x}

é não-vazio.

Prova:
Por (O4), tem-se que a < 0 ou 0 < a. Se 0 < a, tem-se que a ∈ J . Se a < 0, pelo
Exercício 1.11 e (I2), seque que a(−1) = −a ∈ I . Como da Proposição 1.1.4 e
Exercício 1.18, 0 < −a, seque o resultado.

Teorema 1.3.5:
Seja I ⊂ Z um ideal de Z. Então, I = {0} ou existe 0 < m tal que I = mZ.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 40/47 40 / 47


Prova:
Suponha que existe a ∈ I tal que a ≠ 0. Nas condições do lema anterior, J é
não-vazio. Como J ⊂ N, do Princípio da boa ordem, J possui um elemento
mínimo m = minJ ∈ J . Sendo J ⊂ I , tem-se m ∈ I . Assim (justifique), por (I2),
vem que
mZ ⊂ I. (3)

Agora, provaremos que


I ⊂ mZ. (4)

Seja a ∈ I . Da Proposição 1.2.5, existem q,r ∈ Z tais que

a = mq + r (5)

onde 0 ≤ r e r < m. Note que (justifique), r = a + (−(mq)).

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 41/47 41 / 47


Continuação da prova:
Assim, como a,m ∈ I , por (I1) e (I2), seque que (justifique) r ∈ I . Então, se
0 < r, tem-se que r ∈ J , o que é uma contradição, já que r < m e m = minJ .
Logo, r = 0, de onde por (5) e (A3), vem que a = mq ∈ mZ. Então, seque (4).
Portanto, por (3), seque o resultado.

Proposição 1.3.6:
Sejam I,J ⊂ Z ideais de Z e

I + J ∶= {a + b ∈ Z; a ∈ I e b ∈ J}.

Então, I + J ⊂ Z é um ideal de Z.

Prova:
Exercício 3.12.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 42/47 42 / 47


Observação:
Sejam a,b ∈ Z com a ≠ 0 ou b ≠ 0. Então (justifique), aZ + bZ ≠ {0}. Do
Teorema 1.3.5, existe m > 0 tal que aZ + bZ = mZ.

Lema 1.3.7:
Sejam a,b,d ∈ Z tais que d∣a e d∣b. Então, para x,y ∈ Z, tem-se que
d∣(ax + by).

Prova:
Exercício 3.13.

Proposição 1.3.8:
Sejam a,b ∈ Z com a ≠ 0 ou b ≠ 0 e m > 0 tal que aZ + bZ = mZ. Se d ∈ Z é tal
que d∣a e d∣b, então d ≤ m.

Batista, A. M. Notas de aula: LMC0054 43/47 43 / 47


Aula: 18/03/2023

Prova:
Note que, por (P3), m ∈ mZ = aZ + bZ. Então, por definição, existem x,y ∈ Z
tais que
m = ax + by. (6)

Agora, como d∣a e d∣b, do lema anterior, d∣(ax + by), de onde por (6), segue
que d∣m.Assim, da Proposição 1.2.2, vem que ∣d∣ ≤ ∣m∣ = m. Sendo (justifique)
d ≤ ∣d∣, por (O3), segue que d ≤ m, como queríamos provar.

Proposição 1.3.9:
Sejam a,b ∈ Z com a ≠ 0 ou b ≠ 0 e m > 0 tal que aZ + bZ = mZ. Então, m∣a e
m∣b.

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Prova:
Note que (justifique), a = a ⋅ 1 + b ⋅ 0. Assim, a ∈ aZ + bZ, de onde por hipótese
a ∈ mZ, o que implica em m∣a. Além disso (justifique), b = a ⋅ 0 + b ⋅ 1. Assim,
b ∈ aZ + bZ, de onde por hipótese b ∈ mZ, o que implica em m∣b. O resultado
está provado.

Exercício 4.1:
Sejam a,b ∈ Z tais que a ≠ 0 ou b ≠ 0. Prove que aZ + bZ ≠ {0}.

Exercício 4.2:
Sejam I ⊂ Z um ideal de Z e a ∈ I . Prove que −a ∈ I .

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Aula: 19/03/2024

Proposição 1.3.10:
Sejam I ⊂ Z um ideal Z e a,b,c ∈ Z. Então:
(i) a + (−a) ∈ I ;
(ii) Se a + (−b) ∈ I , então b + (−a) ∈ I ;
(iii) Se a + (−b) ∈ I e b + (−c) ∈ I , então a + (−c) ∈ I .

Prova:
Exercício 4.3.

Exercício 4.4:
Defina relação de equivalência.

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Exemplo:
Note que, 2 ⋅ 2 + 3(−1) = 1. Assim, 1 ∈ 2Z + 3Z, o que da Proposição 1.3.3,
2Z + 3Z = Z. Então, do Exercício 3.8,

2Z + 3Z = 1 ⋅ Z. (7)

Agora, seja d > 0 tal que d∣2 e d∣3. Da Proposição 1.3.8 e (7), tem-se que

d ≤ 1. (8)

Por outro lado, como 0 < d , do Corolário 1.1.7, 1 ≤ d . Portanto, por (8) e (O2),
d = 1.

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