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RESUMO ABSTRACT
A vitalidade da poesia de Giuseppe The vitality of Giuseppe Ungaretti’s poetry,
Ungaretti, rememorada pela tradução e recalled in the translation and transcription
transcriação de Haroldo de Campos em by Haroldo de Campos in his “Daquela
Daquela Estrela à Outra, revitaliza o Estrela à Outra,” renews the dialogue
diálogo da literatura brasileira com a between Brazilian literature and Italian
literatura italiana, promovendo o retorno à literature and promotes the return to the
contemporaneidade da proposta contemporary nature of the modernist
modernista de reinvenção da Alteridade. proposal of reinvention of Alterity. It is
Aproxima‐os o traço de visualidade, o approached visually, with the effect of light,
efeito da luz, como forma de representar o as a means to represent the inexpressible
indizível da palavra poética. Com base nature of the poetic word. In this context,
nesse contexto, este artigo propõe this article proposes to examine the way
examinar o modo como essa paisagem de that the landscape of mixed voices has
vozes entrecruzadas repercute na poética repercussions in the poetry of Horácio
de Horácio Costa, que recolhe dessa Costa, collecting from that image the
imagem da luz o simbolismo da symbolism of intermittence and redesigning
intermitência e redesenha o território the national imaginary territory. The
imaginário nacional. A ressimbolização symbolism practiced by the poet is
praticada pelo poeta é mediada pelo mediated by the dialogue of the inter‐
diálogo da intertextualidade com a textual with diversification, having
Alteridade, reiterando a vocação da poesia reiterated the vocation of Brazilian poetry
brasileira para a auto‐referencialidade. Os for the self‐referenced. The verses of
versos de “Satori” de Horácio Costa "Satori" by Horácio Costa permit the
permitem recuperar o fio memorial de um recovery the memory of a place, of a time
lugar, de um tempo e de uma and of a subjectivity redesigned by the
subjetividade redesenhados pela presença foreign presence. Thus, the dialogue
estrangeira. Assim, o diálogo articulado articulated between Horácio Costa and
entre Horácio Costa e Haroldo de Campos, Haroldo de Campos, in the mediation of
na mediação de Giuseppe Ungaretti, Giuseppe Ungaretti, legitimize the
legitima a produtividade da presença productivity of the foreign presence for the
estrangeira para o reexame e a reexamination and the resulting rewriting of
conseqüente reescritura da história da the history of Brazilian literature. In this
[...]
Vamos.
Conversemos com a eternidade
deste espaço em branco.
[...]
O filósofo disserta infindavelmente
proliferando intenções. O som da voz
bate e reverbera nos cristais
e encontra seu limite nos bordes deste
plano. Croscruza o branco.
Lá fora uma cidade quase dorme depois
da chuva. A alteridade é percebê-la
em stillness, enquanto avança a noite
e se corrompem as palavras (COSTA,1989, p.71)
Em Oswald, literatura é vida; para ele não havia fronteira entre viver e
escrever, ainda que não tivesse nunca se definido se esta era sua melhor
forma de atuação. Em Oswald de Andrade, há uma ética de que eu creio
compartilhar; neste sentido, minha vida/escritura é para ele homenagem
[...] (COSTA, 2004a, p.115).
1
Ver, também: EXOTISMO y Alteridad: lo mismo como otro, lo otro como lo mismo. In: El hilo de la fábula
4. Revista del Centro de Estudios Comparados, Santa Fé (República Argentina): Facultat de Humanidades y
Ciencias – Universidad Nacional del Litoral, año 3, p.49-60, 2004.
[...] a Ave corta o céu com rapidez de palavra, cai na terra como dardo
de poesia no plano da página, enfáticas brasas, micro-explosão, demolição
interior, fósforo e nada, estás imóvel e a acompanhas em seu vôo, rapaz em
busca da carne branda da leitura, veja o mundo como um vitral, o agora
imenso nos olhos do animal se faz memória, gárrulo epigramático, zênite,
singraste-me, a caça terminou e aqui tens teu prêmio, libera o animal, read
me again (COSTA, 2004, p.52).
2
Relembro fragmentos de “Teoria e Prática do Poema”, do livro Xadrez de Estrelas, de Haroldo de Campos:
“I Pássaros de prata, o Poema / ilustra a teoria do seu vôo. / Filomela de azul metamorfoseado, / mensurado
geômetra / o Poema se medita / como um círculo medita-se em seu centro / como os raios do círculo o
meditam / fulcro de cristal do movimento. / II Um pássaro se imita a cada vôo / zênite de marfim onde o
crispado / anseio se arbitra / sobre as linhas de força do momento. / Um pássaro conhece-se em seu vôo, /
espelho de si mesmo, órbita / madura, / tempo alcançado sobre o Tempo. / [...] Assim o Poema. Nos campos
do equilíbrio / elísios a que aspira / sustém-no sua destreza. / Ágil atleta alado / iça os trapézios da aventura. /
Os pássaros não se imaginam. / O Poema premedita. / Aqueles cumprem o traçado da infinita /astronomia de
que são órions de pena./Este, árbitro e justiceiro de si mesmo, / Lusbel libra-se sobre o abismo, / livre, / diante
de um rei maior / rei mais pequeno” (CAMPOS, 1976, p.55-56).
3
Tomo de empréstimo da poesia de Horácio Costa o simbolismo da difração que corresponde ao
efeito poético gerado pelo movimento da luz disseminada, mas intermitente, assegurando o
prazer da sublimação.
[...]
num ponto imóvel entre o ser o sendo
aquém do sonho e muito além do canto
corpo em abandono, devir em tréguas
irrompe e pousa em mim o movimento
plenitude escassa entre praia e monte
rosto encontrado, flor intermitente,
[...]
dezesseis graus na Paulista
[...]
folhas que se dispersam
sim vou com elas
rumo ao meu santuário
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS