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LIGAÇÕES EM ESTRUTURAS DE AÇO

SÁLES, JOSÉ JAIRO

r-

,...,.,
(.
APRESENTAÇÃO

Esta publicação contém informações relativas ao tópico "ligações". comple-


mentando nossa apostila básica "Elementos de Estruturas de Aço: dimensiona-
mento". Entendemos que o assunto, aqui apresentado, constitui o conjunto mínimo
de informações necessárias para que o aluno tenha condições de calcular e detalhar
as _ligações que ocorrem nas estruturas correntes.
Apesar da vasta bibliografia existente sobre o terna, sentíamos a falta de
uma publicação que viesse a sintetizar e apresentar os modelos matemáttcos
clássicos relativos à$ conexões, de uma maneira sequencial e didática, priorizando
a aplicação em projetos, daí o grande número de exemplos resolvidos.
Deixamos claro que, de maneira alguma, esta publicação esgota o assunto.
podendo sofrer no decorrer do tempo, inserções e aherações visando melhorar seu
desempenh~ junto aos alunos do curso de Estruturas Metálicas. Para isto ficamos a
disposição de nossos alunos e colegas, cujas .críticas, comentários e sugestões serão
bem-vindas.

São Carlos, agosto de 1994

JOSÉ JAIRO DE SÁLES . I

MAXIMILIANO MALITE

ROBERTO M. GONÇALVES

l
I.
SUMÁRIO

Capttmol-Dbpodtlvosdeti2açio
1.1 - Rebites 1
1. 2 - Parafusos 2
1.3- Soldas 9

Capítulo 2 - Resistências de .,....w-~os e soldas - NBR 8800


2.1 - Generalidades 19
2.2 - Parafusos 19
2.3- Soldas I 29
I

Capítulo 3 - SoDcitações em pcu cif".....,os e soldas


3.1 - Grupo de parafusos sob cisalhamento centrado 35
3.2 - Grupo de soldas sob cisalhamento centrado 36
3.3- Grupo de parafusos sob cisalhamento excêntrico 38
3. 4 - Grupo de soldas sob cisalhamento excêntrico 49
3. 5 - Grupo de parafusos sob momento e cortante 53
3.6- Conexões soldadas sob momento e cortante 66
3. 7 - Conexão de extremidade de viga do tipo flexível 72
3. 8 - Efeito alavanca em parafusos 81
3.9- Solda de composição em perfis 87

Capítulo 4 - Cálculo de emendas em barras


4.1 - emendas em barras solicitadas axialmente 90
4.2 - Emendas em barras fletidas 101

Capítulo 5 - Bases de colunas


5.1- Pressão de contato em aQoios de concreto 107
5.2- Bases flexíveis 108
5.3 - Bases rígidas 114
5. 4 - Ancoragem no concreto 122

Biblio2rafia 125
CAPÍTULO 1

DISPOSITIVOS DE LIGAÇÃO

Nos dias atuais são dois os dispositivos utilizados para a união de elementos
estruturais em aço: os parafusos (comuns ou de alta resistência) e a solda elétrica.
A..té a década de 50 eram utilizados com frequência os rebites, que apesar do bom
comportamento estrutural foram abandonados devido ao seu alto custo de execução
se comparado à solda ou parafusos.
A seguir apresentam-se algumas considerações específicas sobre estes três
dispositivos de ligação.

1.1 - REBITES

Conforme já dito anteriormente, hoje em dia não são mais utilizados em


estruturas novas, sendo seu uso restrito apenas às recuperações e manutenções de
estruturas antigas.
Os rebites são fabricados a partir de barras redondas laminadas de aço
dúctiL tendo em uma de suas extremidades uma cabeça em tbrma quase
hemisférica (figura l.la). Para instalação, os rebites são aquecidos à uma tempe-
ratura de cerca de 1.000°C (rubro claro), colocados no furo, escorados do lado da
cabeça pré-formada e martelados do lado oposto para formar uma outra cabeça
arredondada.
O furo onde o pino (rebite) é introduzido tem o diâmetro ligeiramente maior
que o do corpo do rebite (1116" ::: 1,5mm) para permitir sua fácil introdução
Durante a cravação, o rebite ocupa totalmente a área do furo e após o resfriamento
diminui seu volume apertando as chapas conectadas. Este efeito de compressão
confere à ligação uma resistência ao deslizamento (atrito), a qual não é considerada
no cálculo pois sua intensidade é de dificil quantificação e apresenta grandes
variabilidades. Devido a isso, os rebites são calculados como pinos, ou seja.
transmitem os esforços por contato sendo solicitados ao cisalhamento.
É interessante alertar que as juntas rebitadas devem ser detalhadas de forma
a que os rebites trabalhem sempre ao cisalhamento, pois devido à forma da cabeça.
sua resistência à tração é desprezada.
As principais causas do abandono dos rebites foram o desenvolvimento e
aprimoramento das técnicas de soldagem e a introdução dos parafusos de aha
resistência, consistindo em técnicas de execução economicamente vaniajosas. Por
exemplo, uma equipe de rebitamento requer quatro ou cinco operários, enquanto
que apenas um operário consegue realizar a mesma junta através de solda ou
parafusos.
Estrut1raB Metálicas EESCIUSP Capirulo 1 - Dispositivos de lig&fão 2

1.2 - PARAFUSOS

- Parafusos comuns: são fabricados a partir de barras redondas laminadas.


de aço de baixo carbono (figura l.l.b). Nos Estados Unidos utiliza-se normahnente
o aço ASTM A307, com resistência mínima à ruptura fu = 415 MPa. No BrasiL
além do ASTM A307, utiliza-se muito os aços qualidade comum, classificação
SAE 1010 a 1020, sendo estes parafusos denominados comercialmente de
"parafusos pretos". A resistência mínima à ruptura de tais aços pode ser tomada
como 380 MPa.
Os parafusos comuns utilizados em estruturas metálicas têm em gera]
cabeça e porca sextavadas, com rosca ao longo de todo o corpo do parafuso ou não.
A instalação é feita sem controle de torque (aperto), o que indica que a resistência
ao deslizamento entre as partes conectadas não é considerada no cálculo. Desta
fonna, as conexões envolvendo parafusos comuns são assumidas sempre como
sendo conexões do tipo contato, ou seja, os parafusos são solicitados ao corte
(cisalhamento) e/ou tração (figura 1.2).
~---<:omprtmentodo p a r a f u s o - - - - - - - · - -

r-o-----compnmentodeaperto---1
~----- comprtmemo da rase<~~
: f j
corpo co be_ça
/

~ (,

Parafuso com porca sextavada e arruelas

Figura 1.1 - {a) rebite (b) parafuso comum

plano de
corte
F F /
~
-=.~/
F
~

Figura 1.2 - Conexão do tipo contato: parafuso sob cisalhamento


Estruturas Metálicas EESCIUSP Capítulo 1 - Dispositivos de liaação 3

- Parafusos de alta resistência: a utilização de aços de alta resistência me-


cânica na fabricação de parafusos ocorreu após a comprovação experimental de
que a aplicação de torque na instalação dos parafusos evitava o deslizamento entre
as partes conectadas. Desta forma, quanto maior o torque, maior a pressão de
contato imposta e, consequentemente, maior a resistência ao deslizamento (maior a
força de atrito mobilizada).
Para se obter torques elevados. ou seja. resistências ao deslizamento
compatíveis com o nível usual de solicitações, era necessário que os parafusos
tivessem resistência à tração bem maiores que a dos parafusos comuns. daí n
surgimento dos parafusos de alta resistência.
Dois são os tipos de parafusos de alta resistência: o ASTM A325, que e
mais utilizado e o ASTM A490. O parafuso A325 é identificado por meio de tres
linhas radiais espaçadas de 120° na cabeça e o A490 t~ também na cabeça, o
número A490 estampado ao lado da marca do fabricante. No Brasil, os fabricantes
de parafusos de alta resistência sempre estampam os números A325 ou A490.
A cabeça e a porca desses parafusos são hexagonais e bem mais robustas
que as correspondentes às dos parafusos comuns A307. As porcas para os
parafusos A325 são fabricadas com o mesmo material (A325), enquanto que para
os parafusos A490 são utilizadas as porcas de aço Al94 com tratamento térmico
especial. As arruelas são feitas de aço A3 25 para serem empregadas com ambos os
tipos de parafusos.
No caso de parafusos A3 25 deve-se usar arruelas sob o elemento que gira
(de preferência a porca) e nos parafusos A490 sob a cabeça e a porca, no caso do
material base apresentar limite de escoamento inferior a 280 MPa.

Tabela 1.1- Limite de escoamento e resistência à tração

Especlftcação fv(MPa) fu (MPa) diâmetro (mm) tipo de material


ASTMA325 635 825 12,5::; d ::;25 C,T
ASTMA325 560 725 25 < d::; 38 C,T
I i I
ASTMA490 895 1.035 12,5 ~d~38 T

C= carbono
T = temperado
Estruturas Metálicu EESC!USP . Capib.do 1 - Dispositivoo de Üaaçllo 4

As dimensões dos parafusos e porcas são especificadas na ANSI Standard


B18.2.1, considerando parafusos de cabeça hexagonal e porca hexagonal pesada.
As dimensões básicas estão apresentadas na tabela 1.2.

Tabela 1.2- Dimensões básicas de parafusos e porcas de alta resistência

Bolt Dimensions, Inches Nut Dimensions. Inches


Nominal Bolt !
Heavy Hex Structural Bolts Heavy Hex nuts
Size. Inches Width across Height fi
Thread Width across ; Height
D flats, F H length flats. W H
'h 7/e s/, 6 'i'e 31/64
5fs 25;6< 1% 1 1í16 39j6ó
4
3/4 11J4 15/32 Pia 1% ~/64
'i'e 1 7/16 35j64 1112 1 7/16 55/s•

1Sfa 39/64 P/• 1Sfa 64j64


11/a 1 13/,6 , 1 Í~ 6 2 113j16 1%.
1% 2 2513 2 2 2 1 7/32
13fs 2 3/16 27j32 2% 2 3/,6 1 11 /3z
11/z 2 3/a 15j16 2% 23fe 1 15/32 i

Nut may be chamfereO


on both faces

O controle do aperto dos parafusos pode ser feito mediante três processos:

a) método da rotação da porca: neste caso deve haver um número suficiente de


parafusos na condição de pré-torque, de forma a garantir que as partes estejam em
pleno contato. Defme;.se condição de pré-torgue como o aperto obtido após poucos
impactos aplicados por uma chave de impacto, ou mesmo pelo esforço máximo
aplicado por um indivíduo usando uma chave normal. Após esta operação inicial,
os parafusos restantes são colocados e também levados à condição de pré-torque. A
seguir, todos os parafusos deverão receber um aperto adicional através da rotação
aplicável da porca, conforme indicado na tabela 1.3.
Nota: o aperto adicional deve iniciar-se pela parte mais rígida da conexão e
prosseguir em direção às bordas livres. Durante essa operação, a parte oposta
àquela em que se aplica a rotação não pode girar.
Estruúras Metálicas EESCIUSP Capitulo 1 - Dispositivos de ligaçao 5

Tabela 1.3- Rotação da porca a partir da posição de pré-torque

Comprimento do Disposição das faces externas das partes parafusadas


parafuso
Ambas as faces Uma das faces no r- Ambas as faces in
(medido da parte mal ao eixo do pa cl i nadas em relaçãõ
inferior da cabeça
normais ao
rafuso e a outra f a ao plano normal ao
eixo c e inclinada na o eixo do parafuso não
à extremidade) do parafuso
mais que 1:20 (sem mais que 1:20 (sem
arruela biselada) arruelas biseladas)

Inferior ou igual
4 diâmetros
a
-
1

3
de volta
I
-
1
2
volta -3
2
de volta

Acima de 4 diâmetros
1 2 5
até no máximo 8 diâme
-2 VO 1 ta -3 de vo 1 ta -
6
de volta
tros, inclusive

Acima de 8 diâmetros

-65
2
até no rráx i mo 12 diâ - de. v o I ta de v o 1 ta 1 volta
metros
(B) 3

b) chave calibrada: tais chaves devem ser reguladas para fornecer uma protensão
pelo menos 5% superior à protensão mínima estabelecida. As chaves devem ser
calibradas pelo menos uma vez por dia de trabalho, para cada diâmetro de parafuso
a instalar.

c) indicador direto de tração: é pennitido desde que possa ficar demonstrado,


por um método preciso de medida direta, que o parafuso ficou sujeito à força
mínima de protensão estabelecida.

A força de protensão mínima nos parafusos é considerada como sendo 70%


da resistência mínima à tração do parafuso, ou seja:

f\ = área efetiva à tração ou área resistente


fu = limite de resistência à tração
Estnmns Metálic:u EEBCIUSP Capitulo 1 - Dispositivos de lipçllo 6

A área efetiva à tração ou área resistente "Ar" de um parafuso é um valor


compreendido entre a área bruta e a área da raiz da rosca. Esta área pode ser
detenninada pela seguinte expressão:

onde:
d = diâmetro nominal do parafuso
P = passo da rosca
K = 0~9743 (rosca UNC- parafusos ASTM) e 0,9382 (rosca métrica ISO grossa)

A tabela 1.4 apresenta os valores da área efetiva à tração (A,) e da área


bruta(~) dos parafusos com rosca UNC e ISO. A tabela 1.5 contém os valores da .·
força de protensão mínima em parafusos.

Tabela 1.4 - Valores de ~ e Ar


ISO UNC P(mm) Ao (cm2) A..(cm2) A.lAn
M 12 1,75 tJ3 0,84 0,75
I 12,5 1,95 /1 26~ 0,92 0,73
' '
i 16 2,31 ~~·g" .1,46 0,74
M 16 2,00 2,01 1,57 0,78
!
19 2,54 2,85 2,15 0,75
1---120 i 2,50 3,14 2,45 0,78
M22 2,50 3,80 3,03 0,80
I
22,2 2,82 3,88 2,93 0,77
M24 3,00 4,52 3,53 0,78
25 3,18 5,06 3,91 0,77
M27 II 3,00 5,73 4,59 0,80
I 28,5 3,63 6,41 4,92 0,77
M30 3,50 7,07 5,61 0,79
32 3,63 7,92 6,25 0,79
M33 3,50 8,55 6,94 0,81
35 4,23 9,58 7,45 0,78
M36 4,00 10,18 8,17 0,80
38 4,23 11,40 9,07 0,80
M42 4,50 13,85 11,20 0,81
44 5,08 15,52 12,26 0,79
M48 I I 5,00 I 18,10 I 14,70 0,81
50 5,64 20,27 16,13 0,80
Esdruturas M.cülicas EESCIUBP Cllpitulo 1 - Dispositivos de ligeçllo 7

Tabela 1.5 - Força de protensão mínima em parafusos, T b (kN)

diâmetro (mm) ASTMA325 ASTMA490

12,5 53 66
16 85 106
19 11_25/ 156
22,2 173 216
25 227 283
28,5 250 357
32 317 453
38 460 659

A protensã.o "Tb" é determinada levando-se em consideração o estado de


tensões no parafuso, ou seja, a atuação simultânea de tensões normais "a" (devida
à tração) e tensões de cisalhamento "'t" provenientes do momento de torção.
Na fase final de aperto, o corpo do parafuso fica solicitado pela força de
tração T 0 dada por:

T.-Mo:::::Mo
o- k.d- 0,2d

onde: M 0 = momento de torção aplicado na porca.


k = coeficiente adimensional determinado experimentalmente.
d = diâmetro nominal do parafuso.

O valor do coeficiente ''k" pode ser admitido como 0,.2. Neste coeficiente já
está considerado o atrito da porca sobre a superficie da rosca e sobre a superficie de
apoio. O momento de torção resultante no corpo do parafuso é proveniente somente
( ~~

do atrito entre porca e rosca, perfazendo aproximadamente 60% do momento total


aplicado M 0 (figura 1.3).
Adotando-se o critério de resistência de von Mises, a superposiçio das
tensões normais e de cisalhamento deve obedecer a seguinte condição:
CBPítulo 1 - Dispositivos de ligaçllc 8

Oi = .Jcf + 31:
2
:::;; t:
onde:
'fo 4T0
cr= A =--2
r Me
_ 0,6M0 _ 0,6(0,2T0 d) _O 40 _~
"C- W- 3/ -,ood
1 nd. 1 .,
116

Observando a tabela 1A nota-se que a relação entre a área efetiva e a área


bruta do parafuso (A/Ap) tem como valor mínimo 0,73, o que leva à uma relação
entre o diâmetro nominal e o diâmetro efetivo (d/de) ao valor 1, 17. Retomando à
expressão anterior, obtém-se 1: em função de cr:

t = (0,48xl,l7)cr= 0,56cr
-.Jd + 3(0,560') 2
:::;; (

Finalmente, igualando-se ai a fu:

Ia=o,72t; I 1

Com isto, entende-se o valor recomendado para a pretensão nos parafusos.

ARRUELA

b
c
li
"
11
cl
d
UIELA

MOMENTO REATIVO

Figura 1.3- Efeito do torque aplicado na porca


Estruturas MeUilicas EESCIUSP Capitulo 1 - Dispositivos de lipçao 9

1.3- SOLDAS

Soldar significa "ligar" componentes metálicos através da fusão de eletrodos


também metálicos. Devido à alta temperatura imposta por wn arco voltaíco.
processa-se também a fusão parcial do metal base, ou seja, dos componentes a
serem ligados. Após o resfriamento, metal base e metal do eletrodo passam a
constituir um corpo único.
Para a operação descrita anteriormente, se faz necessária uma fonte de ener-
gia elétrica de baixa voltagem e alta amperagem. A seguir, serão descritos de
maneira su~ os três processos de soldagem mais utilizados em estruturas
metálicas.

- Soldagem com eletrodo revestido: é a união de metais pelo aquecimento


entre um eletrodo revestido (consumível) e o metal base. O metal fundido do
eletrodo é transferido através do arco até a poça de fusão do metal base, formando-
se assim, o metal de solda depositado.
O revestimento do eletrodo e as impurezas do metal base, na fusão, formam
uma escória que flutua para a superficie (densidade menor) e cobre o depósito,
protegendo-o da contaminação atmosférica e também controlando a taxa de
resfriamento (figura 1.4).

Atmosfera
Protetora
0I/~~~

Revestimento do
Eletrodo

// --:-:::-- A Ima do
1
---.... ' - Eletrodo

Figura 1.4- Soldagem com eletrodo revestido

A soldagem com eletrodo revestido é o processo mais usado dentre todos


devido à simplicidade do equipamento. à resistência e à qualidade das soldas, e
também ao baixo custo. Possui grande flexibilidade e solda a maioria dos metais
numa ampla faixa de espessuras. A soldagem por este processo pode ser feita em
quase todos os lugares e em condições extremas.
Capítulo l Dispositivos de li~ lO

A operação é totalmente manual e o equipamento de soldagem consiste de


uma fonte de energia, cabos de ligação. um porta eletrodo (alicate). conector de
terra (garra) e o eletrodo em s1. O supnmento de energta pode ser tanto ~orrente
alternada como continua (figura 1. 5 ).
O eletrodo consiste numa vareta metálica (alma do eletrodo), com um reves-
tunento não metálico A alma do eletrodo estabelece o arco .; fornece metal de
adição para a solda. Já o revestimento t~ várias funções, que podem ser classifica-
das em elétricas. fisicas e metalúrgicas.

- funções elétricas:
a) tsolamento: o revestimento é um mau condutor de eletricidade. Assim. tsola a
alma do eletrodo evitando aberturas de arco laterats, onentando o arco para locats
interesse.
1on:ização: o revestimento contém silicatos de sódio e potássio que iomzam a
atmosfera do arco. Com isto, é facilitada a passagem da corrente elétrica dando
ongem a um arco estável.

-funções fisicas e mecânicas:


a) fornece gases para a formação da atmosfera protetora das gotículas do metaJ
contra a ação do hidrogênio e do oxigênio da atmosfera.
b) o revestimento funde e depois solidifica sobre o cordão de solda. fonnando uma
escória de material não metálico que protege o cordão de solda da oxidação pela
atmosfera normal, enquanto a solda está esfriando .
...: 1 proporcwna o controle da taxa de resfriamento e contribui no acabamento d<'
~ordão.

· funções metalúrgicas·
a 1 pode contribuir com elementos de liga, de maneira a alterar as propnedades da
solda.

eletrodo.
fonte 1 ret 't' cador

garra
v
cabos

Figura 1.5- Equipamento para soldagem com eletrodo revestido


Estruturas Metálicas EESCIUSP Capitulo 1 - Dispositivos de ligaçi!D 11

No Brasi4 a maioria dos fabricantes de eletrodos enquadram seus produtos


nas especificações da A WS ( American W elding Society). Neste caso, as especifica-
ções aplicáveis são:

- A WS A5.1-78: eletrodos revestidos de aço-carbono para soldagem a arco.

- AWS A5.5-69: eletrodos revestidos de aço baixa-liga para soldagem a arco.

Na especificação AWS, os eletrodos são designados pela letra "E" e um


conjunto de algarismos. A classificação genérica é a seguinte:

EXXXXX X
1 2 3 4 5
( 1) letra E designa eletrodo;
(2) indica o limite de resistência à tração mínima do metal da solda, em Ksi:
(3) indica as posições de soldagem em que o eletrodo pode ser usado com resulta-
dos satisfatórios;
1 = todas as posições
2 = posição plana e horizontal
3 = posição plana
4 = posição plana, horizontal, sobre-cabeça e vertical descendente
( 4) indica o tipo de corrente (contínua ou alternada), penetração do arco e natureza
do revestimento - tabela 1.6.
(5) é utilizado somente na especificação AWS A5.5, indicando a composição qm-
míca do material.

Exemplos:

E6010
(60) fw = 60Ksi = 415MPa
(1) adequado para todas as posições de soldagem
(O) corrente CC+ ou CA, grande penetração, revestimento celulósico
uso: onde é importante grande penetração

E7018
(70) fw = 70Ksi = 485MPa
(1) adequado para todas as posições de soldagem
(8) corrente CC+ ou C A, média penetração, revestimento básico
uso: aços baixa-liga
~
li!)

o 1 2 3 4 5 6 7 8
~
I
1-d

Tipo de COI cc' cc CC CA CA CC' CA CA CA


~
CA CA CC' CC'

;-
rente

~I I
(')
~
CA CC CC CC' CC CC'

Tipo do arco Intenso Intenso Médio Leve Leve Médio Médio Leve Leve ~
e/salpico s/ salpico
$(') !i
Penetração Grande Grande Fraca Fraca Fraca Média Média Média Média
!:\)l •
xx TO celulósi-
co (com silica-
Celulósico
(com silicato
Rut11ico
(Ti0 2 e Silica-
Ruttlico
mo, e silica-
RutJ1ico
(Ti0 2 , silica-
Básico
(Calcáreo, Sili-
Básico
(Ti0 2 , Calcá-
Ácido
(Óxido de Fer-
Básico
(Calcáreo
o ~
to de Na)
xx 20 celulósi·
de K) to de Na) to de K) tos, Pó de F er-
ro 20%)
cato de Na) reo, Silicato de
Kl
ro (FeDI, Sili-
cato de Na, Pó
Ti0 2 , Stl!ca
tos, Pó de Fer ~rt
co (com Óxido
de Ferro
de Ferro) r o 2S a 40%)
00~
Revestimento
FeDI
xx 30 celulósi· m
co (com Óxido
de Ferro
],_.
FeO) o
Escória Pouca: remo- Pouca: auto· auto- auto- Espessa Espessa
f*

remo· Densa: Densa: Densa: Ácida. facil- Espessa
çlfo fácil çlfo fácil destacável destacável destacável mente destacá-
vel o (')
-!
Teor de hidro- Elevado Elevado Moderado Moderado Moderado Baixo Baixo Moderado Baixo ~ !o
gênio

Velocidade de
20ml/100g

Elevada
20rnl/100g

Elevada
15ml/100g

Regular
15ml/100g

Regular
15ml/100g

Regular
2ml/100g

Baixa
2ml/100g

Baixa
15ml/100g

Elevada
2ml/100g

Baixa
"'....~ S(.
fusão ~~ i
o
......_ "'a:
--g
Pos~ão de sol- Todas Todas Plana e plana Plana Todas meoos Todas Todas Plana e Hori- Todas
dagem horizontal vertical des· zontal
.f;:>.
i
cendente i-
Usos Onde é impor-
tante grande
penetração
Onde é impor-
tante grande
penetração
Chapa ria f i na e Chaparia fina e
média - Bom média -Bom
acabamento acabamento
Chaparia fina e
média
acabamento
Bom
Aços baixa liga
(altamente h i-
groscópico)
Aços baixa liga
(altamente h i-
groscópico)
Aços carbono Aços baixa liga
(altamente h i
groscópico)
f

-N
.Estrun!rall Metálicas EESCIUSP Capitulo 1 - Dispositivos de ligaçao 13

- Soldagem MIG/MAG: a soldagem MIG/MAG usa o calor de um arco


elétrico entre um eletrodo nu, alimentado de maneira contín~ e o metal base. O
calor funde o final do eletrodo e a superficie do metal base para formar a poça de
fusão. A proteção do arco e da poça de solda fundida vem inteiramente de um gás
alimentado externamente (figura 1.6), que pode ser inerte ou ativo ou ainda uma
mistura destes, daí a denominação do processo:

- processo MIG: Metal Inert Gas


gases de proteção (segundo AWS):

-Hélio (100%)
- Argônio ( 1000/o)
- Argônio + 1% 02
- lc\rgônio + 3%02
-Argônio+ 5@ 10%02

-processo MAG: Metal Active Gas


gases de proteção (segundo AWS):

-C02
- 02 (5@ 10%) + co2 (restante)
- co2 (15@ 30%) +Argônio (restante)
- 0 2 (5@ 15%) +Argônio (restante)
- N 2 (25@ 30%) +Argônio (restante)

É importante ter em mente que quanto mais denso for o gás, mais eficiente
a proteção do arco. As maiores vantagens do processo MIG/MAG são a alta versa-
tilidade, a larga capacidade de aplicação, a alta taxa de deposição, a baixa
liberação de gás e fumaça e a ampla faixa de materiais e de espessuras que podem
ser soldados.
Em estruturas de aço, é um processo muito utilizado na soldagem de chapas
fmas (espessuras inferiores a 3mm), ou seja, nas estruturas constituídas por perfis
de chapa dobrada.
O equipamento de soldagem MIG/MAG consiste de uma pistola de solda-
gem, um suprimento de energia, um suprimento de gás de proteção e um sistema de
acionamento de arame (figura 1. 7).
Estruluras Metálicas EESC!USP Capitulo 1 -Dispositivos de ligaçao 14

Poça dt
Fusão , Atmosfera
Protetora

Metal de

Figura 1.6 - Soldagem MIG/MAG

Bob1na de
Arame
Fonte de Gás
de Proteção

I-~,
i
Controle de
Tensão

I
@ @

u
I
'! @
!! Çl o o

FONTE DE ENERGIA

Figura 1.7 - Equipamento de soldagem MIG/MAG

- Soldagem a arco submerso: a soldagem a arco submerso une metais pelo aque-
cimento destes com um arco elétrico entre um eletrodo nu e metal base. O arco está
submerso e coberto por uma camada de fluxo granular fusível. Dispositivos
automáticos asseguram a alimentação do eletrodo a uma velocidade conveniente de
tal forma que sua extremidade mergulhe constantemente no banho do fluxo em
fusão. A movimentação do arame em relação à peça faz progredir passo a passo o
banho de fusão que se encontra sempre coberto e protegido por uma escória que é
formada pelo fluxo e impurezas (figura 1.8).
Capitulo 1 - Dispositivos de ligação 15

Direção

Eletrodo Nú
~li
Fluxo
Fundido
I
Escória I

Metal de Solda Fundido

Figura 1.8 - Soldagem a arco submerso

Dentre as vantagens deste processo, pode-se citar:

- alta qualidade da solda e resistência mecânica.


- taxa de deposição e velocidade de deslocamento extremamente altas.
- nenhum arco de soldagem visível, minimizando requisitos de proteção.
- pouca fumaça.
- facilmente automatizável, reduzindo a necessidade de manipuladores habilidosos.

A soldagem a arco submerso é um processo automático ou semi-automático


em que a alimentação do eletrodo nu e o comprimento do arco são controlados pelo
alimentador de arame e pela fonte de energia. No processo automático um
mecanismo de avanço movimenta tanto o alimenta.dor do fluxo como a peça, e
normalmente um sistema de recuperação do fluxo recircula o fluxo granular não
utilizado (figura 1.9).
Devido à qualidade e rapidez de execução, este processo é muito utilizado
na soldagem de chapas espessas de aço, como por exemplo, vasos de pressão.
tanques, tubos de grandes diâmetros, perfis soldados, etc.
Capitulo 1 - Dispositivos de li88Çio 16

Bubrn.J de
~ ArJme
ReservJtÚflo
ou
MJnuJI de Fluxo
SrstemJ de Funte de
Controle Energrc~

Figura 1.9 - Equipamento para soldagem a arco submerso

- Simbologia da soldagem: as informações necessárias para a correta exe-


cução das soldas devem ser apresentadas de maneira clara e concisa. Em 1940. a
AWS (American Welding Society) recomendou um sistema completo de especifi-
cações, por intermédio de símbolos ideográficos, que foram amplamente aceitos a
nível mundial e são utilizados no Brasil.
Os símbolos individuais básicos são postos sob a forma esquemática a fim
de descrever qualquer combinação possível de soldas em uma junta completa.
Cada solda simples, fazendo parte de uma junta completa, deve ser representada. A
figura 1.1 O apresenta o co~unto de símbolos da A WS e a figura 1.11 mostra
alguns exemplos frequentes.
O símbolo de solda é composto por uma linha de referência, uma seta, uma
cauda (opcional) e uma série de informações posicionadas em locais padronizados
sobre este símbolo.
Esà'uluras Metálicas EESCIUSP Capitulo 1 - Dispositivos de ligaçl.o 17

--~__I!OLO~_I3A:SICOS [)~ -ª~QA


REBORDO FILETE
BUJÃO : _R~T_Q__ J_ -f~N~r~~r.ALHE -----=~-~- tJ~~-l.O~T~$Q~~~j
D li v~ v
_SIMBOLOL$Uj'LEMENI_.;BE-ª-__
SOLDA COM
BARRA DE AFASTAMENTO TODA VOLTA i SOLDA DE CAMPO 1--- - ~-C()~() -_,L'-'- -
BASE r-----------~--- -~----~--~E~SM_ER~I~LHAR -ONVEXA

o ___1::-
LADO DA SETA_

1- O lodo poro o qual a seta aponto e' o lodo de ncc:u;õo do trabalho.


2-Soldos paro ambos os lodos • do mesmo tipo têm os mes~s dimens6u,exceto onde anotado.
3- use SÍmbolos de solda quando houver mudanças abruptos do Junto ou conforme dimen~es
(exceto quando for usodo o aimbolo de soldo pe:rimetroll.
4--Todos os soldas t.ao contínuos e de proporções npecificodas,excdo onde anotado.
~A bifurcoçl5o do seta t usado poro casos de referfne•os oo de etpeciftcoç:r5o (o b1furcoçõo
será omitidO Quando os rehrlncios n6o forem usados).
G- D1mens6e~ de comprimentos e posso (espaçamentos) ur4o sempre em mlh'metros.
7- A ponto do simbolo do soldo de campo devorá apontar poro o coudo :

i
. -------------------------~-__j

Figura 1.10 - Símbolos de solda elétrica segundo a AWS

I;
SOLDA SOLDA
DESEJADA DESEJADA

,.
.2

i"
2

rv: 'i V
SIM BOLO
SlMBOLO

~
d>

Figura 1.11 - Simbologia de soldagem: exemplos


Estruluras Metálicas EESCIUSP Capllulo 1 - Dispositivos de Iigllfllo 18

A I SlloiBOLO DE SOLDAGEiol DE ENTALHE Elol BISEL DO LADO DA SETA

SOLDA DESEJA DA SECÇÃO ELEVAÇÃO

B) SÍMBOLO OE SOLOAGEiol DE ENTALHE EM BISEL DO LADO OPOSTO DA SETA.

SOLDA DESEJADA SECÇÃO ELEVAÇÃO

C) SÍ.,.BOLO DE SOLDAGEiol DE ENTALHE EN BISE L DE ANBOS OS LADOS.

SOLDA DESEJADA SECCÃO ELEVACÁO

Figura 1.11- Simbologia de soldagem: exemplos (continuação)


CAPÍTUL02

RESISTÊNCIAS DE PARAFUSOS E SOLDAS- NBR 8800

Neste capítulo serão apresentadas as resistências de cálculo de parafusos e


soldas conforme a nonna brasileira NBR 8800. Tal assunto será apresentado aqUI
de maneira suscinta, uma vez que não é o objetivo específico desta publicação.

2.1 - GENERALIDADES

Uma conexão deve ser dimensionada de forma que a sua resistência de cál-
.··· __ _...::::=

.'21.!1_~- seja i~ ou superior à:

(2) uma porcentagem·especificada da resistência de cálculo da barra.

---~"' Ligações de barras tracionadas ou comprimidas sujeitas à solicitação de


cálculo inferior a 40 kN ~ excetuando-se diagonais de travejamento de barras
compostas, tirantes constituídos de barras redondas e elementos secundários em
geral, devem ser dimensionadas para uma solicitação de cálculo igual a 40 kN.

-~·\>Ligações de barras tracionadas ou comprimidas, além de resistirem às forças


normais de cálculo na barr~ devem ser dimensionadas também para forças de
cálculo iguais a 50o/o das resistêiieíaide cáÍcuiO·aafiãrra aostiposdeforçanormal
(tração ou compressão) que nela atuam.
·- Comentário: Esta condição estabelece uma compatibilidade entre a resistência da
barra e a da ligação, ou sej~ independentemente do valor da solicitação, a conexão
deve pelo menos apresentar uma resistência de cálculo igual à metade da resistên-
cia de cálculo da barra.

2.2 - PARAFUSOS

~
As conexões parafusadas podem ser de dois tipos: conexão do tipo contato
(bearini-!YPe)oii do-tipo-atrito (:friclion-type}No pritneiiotipo, pode~se utiliZar
pâfâfus~s c~m1.ins-õ1cde-altaresistênci~ já que os parafusos são instalados sem
aperto controlado (protensão ). Quanto ao segundo tipo, apenas os parafusos de alta
resistência podem ser utiiizados, uma vez que a resistência ao desiizamento está
diretamente ligada à protensão aplicada aos parafusos.
Capitulo 2 • ResistBilcias de parafusos e soldas - NBR 8800 20

O gráfico da figura 2.1 apresenta, de maneira simplificada, o comportamen-


to força-deslocamento relativo de uma conexão constituída por parafusos de alta
resistência protendidos, onde nota-se a ocorrência de quatro fases:

Fase (a): a força aplicada (F) é menor que a resistência ao deslizamento, ocorre
apenas deslocamentos provenientes da defonnação elástica das chapas.
Fase (b ): a força aplicada (F) supera a resistência ao deslizamento, o deslocamento
hf'Jsco é proveniente da acomodação dos parafusos nos respectivos furos.
Fase (c): ocorre deformação do conjunto em fase elástica.
Fase ( d): ocorre deformação do conjunto em fase inelástica, culminando com a fa-
llia da conexão. Há quatro modos de falha possíveis nas conexões parafusadas:

' Modo de falha ( 1): cisalhamento do tronco do parafuso.


Modo de falha (2): deformação excessiva da parede do furo (esmagamento).
Modo de falha (3): cisalhamento da chapa (rasgamento).
· Modo de falha (4): ruptura da chapa por tração na seção líquida.

É importante observar que a fase (a) corresponde à conexão do tipo atrito.


ou seja, a resistência ao deslizamento ainda não foi superada. A partir da fase (b ). a
conexão passa a se comportar como sendo uma conexão por contato.

F F/2~ ~ F/2

Figura 2.1 - Comportamento força-deslocamento relativo em conexão


Estru1ums Metálicas EESCIUSP Capitulo 2 - Resistências de parafusos e soldas - NBR 8800 21

2.2.1 - Resistências de cálculo em conexões do tipo contato

---2'> Nas conexões por contato, os parafusos podem resultar solicitados à tração
(figura 2.2a), ao cisalhamento (figura 2.2b) ~-~~o e ci~amento simultanea-
mente (figura 2.2c). -

a) TRAÇÃO b) CORTE C) TRAÇÃO E CORTE

Figura 2.2- Conexões por contato: (a) tração (b) corte (c) tração e corte

.
~ração:
/ a resistência de cálculo é dada por "4>tRnt", onde:
.
\__/

<Pt = 0,75 para parafusos ASTM A325 ou A490


!l>t = 0,65 para demais parafusos (parafusos comuns)

ou, alternativamente, para diâmetros nominais superiores a 25mm:

Rnt = 0,95AJu

onde:
·\>· .'\=área bruta e área efetiva, respectivamente (ver capítulo 1)
fu = resistência à tração do material do parafuso.

Nota; na pri.m~ira expressão 0,75Ap =L\ (área efetiva)


Estruturas Metálicas EESCIUSP Capítulo 2 - Resilthcias de prnfusos e soldas - NBR 8800 22

Tabela 2.1- Valores de f.


Material
ASTMA307 415
SAE 1010/1020 380
ASTMA325 12,5 s ds 25 825
ASTMA325 25 < ds 38 725
ASTMA490 12,5 s ds 38 1.035

~
( ~ força cortante: a resistência à força cortante deve ser tomada levando-se em
consideração dois estados limites últimos: ( 1) cisalhamento do tronco do parafuso e
(2) pressão de contato nos furos:

bl) Cisalhamento do parafuso: a resistência de cálculo é dada por "+vRnv"· onde:

$v = 0,65 para parafusos ASTM A325 e ASTM A490


$v = 0,60 para demais parafusos

- parafusos A325 e A490 quando o plano de corte passa pela rosca e demais
parafusos (comuns) para qualquer posição do plano de corte:

-parafusos A325 e A490 quando o plano de corte não passa pela rosca:

Rnv=0,60~

Notas: Rnv é a resistência nominal ao cisalhamento por plano de corte.


no primeiro caso 0,42 corresponde ao produto de 0,6 (critério de resistência
de von Mises) por 0,7 (relação entre área efetiva e área bruta).

b2) Pressão de contato no furo: a resistência de cálculo é dada por "cpRn", onde:
~-

q, = 0,75
Rn = a.Aifu
-para esmagamento (sem possibilidade de rasgamento): a.= 3,0
!
\

EstruWras Metálicas EESCIUSP Capitulo 2 - Resistências de parafusos e soldas - NBR 8800 23

- para rasgamento entre furo e borda: a = ( e/d) -11 2 :S: 3,0

-para rasgamento entre dois furos consecutivos: a= (s/d) -11 1 :S: 3,0

It t tl
leJ 5 ~ 5 ~
Figura 2.3 - Dimensões "e" e "s" numa chapa

~= dt = área efetiva para pressão de contato


d = diâmetro nominal do parafuso
t = espessura da chapa
fu = resistência à tração do material da chapa (metal base)
TJ 1,11 2 dependem do tipo de furo - para furo padrão: 11 1 ~ 0,5 e 11 2 = O

~~ tração e cortante combinadas: quando um parafuso


/ .
.
estiver sujeito à ação
~simultânea de força cortante e tração, além das verificações para os dois esforços
isolados, conforme apresentado anteriormente, deverão ser atendidas também as
exigências seguintes:

.limita ão da resistência à tra io

parafusos comuns

ASTM A325/A490
'-

Nota 1 - plano de corte passa pela rosca


Nota 2 - plano de corte não passa pela rosca

Vd = força cortante de cálculo no plano de corte considerado.


Eslruturas Metálicas EESCIUSP Capitulo 2 - Resist!ncias de parafusos e soldas - NBR. 8800 24

Baseado em análise experimental de parafusos solicitados simultaneamente


à tração e cisalhamento, observa-se ser razoável a utilização de uma curva circular
de interação, cuja equação é dada por:

onde:
T d = tração de cálculo
Vd = cortante de cálculo por plano de corte
<PtRnt = resistência de cálculo à tração, confonne 2.2.la
<PvRnv = resistência de cálculo ao cisalhamento, por plano de corte, conforme 2.2.1 b

Buscando uma simplificação, o modelo matemático adotado pela norma


norte-americana (AISC) e pela norma brasileira (NBR 8800) substitui a curva
circular por três trechos lineares, conforme figura 2.4.

D ~
1,0 <l>v Rnv

Figura 2.4 - Curvas de interação tração/cisalhamento para pa.~sos

Trecho AB- reta horizontal: despreza-se a influência do cisalhamento


Trecho CD .,. reta vertical: despreza-se a influência da tração
Trecho BC- interação linear, cuja equação é dada por:
Estruturas Metálicas EESCIUSP Capftulo 2 - Resist&lcias de panúüsos e soldas - NBR 8800 25

onde "C" é uma constante admitida como sendo 1,25. Isolando T d, obtém-se:

Substituindo-se os valores de 4>tRru e <PvRnv para cada caso, obtém-se a


máxima tração de cálculo Td que pode atuar simultaneamente com a força cortante
V d· Com os valores de T d' a NBR 8800 apresenta as expressões da tabela 2.2, as
quais limitam o valor da resistência de cálculo à tração ( «PtRn_J.

2.2.2 - Resistência de cálculo em conexões do tipo atrito

A condição básica pr~ uma conexão atuar _J~Qr atrito é a @_qJ,le


não ocorra deslizamento entre seus co~~- .Para isto, a força cortante no
-P-arafus~__produzi~~-~jas ~QQm.QID~~-ªRliQª=y~i_~_.4e acões nominais, não pode
ultrªJ2assa.r a resistência ao deslizamento dada a swir. Além disto,· as forças de
cálculo no J!arafuso, Rfoduzidas ]:!elas combinações aplicáveis de ações de cálculo,
não podem ultrapassar suas respectivas resistências de cálculo dadas no item 2.2.1.
Desta fonnª' ):!efcebe-se que o deslizamento entre os COinJ>Onentes da ligação é
admitido como sendo um estado limite de utiljpçãQ,_M_~~ verificado como
j;al (ações nominais).
'-------- _Nas ligações por atrito -~ a utilizaçio de parafusos de al~-
resistência, pois neste caso há a necessidade de se aplicar um torque elevado.

--~ A resistência ao deslizamento de uma lig(!Ção com parafusos de ~ta resis-


tênçia_sJlj~itQ~_à,f9_r~QQ~, . QQm.~i!!ªºªº!l ~o _QQl!!J!ªÇ!Qd?Q!_J~lªº9_g~_s~~
para um parafuso ~ é dada por +vRnv:_onde:

+v = 1,O (estado limite de utilização)

Rnv = ~(Tb- T)
Eslrutlns Metálicas EESCIUSP
Capitulo 2 - Reeistências de par:afusos e solda - NBR 8800 26
- - - - - - - - - - -----·-- --·-

T_h = 0,7~1 (for9a de protensão mínima aplicada no _parafuso, tabeJa r.:n

T = força de tração no parafuso, calculada com base nas ações nominais. porém
com a ação permanente multiplicada por O, 75 caso isto seja desfavorável

1J. = coeficiente de atrito, depende das condições da superficie de contato Para os


casos usuais, J.! = O,28.

s =fator de redução devido ao tipo de furo. Para furos padrão.;= 1,0.

Conexão por atrito - comportamento estrotural

A figura 2.5 mostra duas chapas conectadas por um parafuso de alta


resistência protendido, sob duas situações: inicialmente sem nenhuma força externa
de tração (P = O) e posteriormente sob a ação de uma força externa P.

área efetiva
de contato

{a) sem força externa (P =O) (b) sob a ação da força externa P

Figura 2.5 - Chapas conectadas por um parafuso de alta resistência protendido


Es!ruluras Metj}icas EESCIUSP Capitulo 2 - Resistências de parafusos e soldas - NBR 8800 27

Fazendo-se o equilíbrio nos dois casos. obtém-se:

semP:
comP:

onde:
T b = protensão inicial.
T f = força de tração no parafuso na situação fmal, ou seja, atuando P.
P = força externa aplicada.
C1 =resultante das pressões de contato na situação inicial (sem P).
Cr = resultante das pressões de contato na situação fmal (com P).

É intuitivo imaginar que a força externa P atuando sobre o sistema provoque


uma descompressão entre as chapas (alívio na pressão de contato) e, pela compati-
bilidade de deformações, um alongamento no parafuso. Com isto, tem-se:

- deformação do parafuso:

- deformação da chapa:

onde:
At, = área do parafuso.
Ac = área efetiva de pressão de contato entre as chapas.
Es1ruDJras Metálicas EESC/USP Capflulo 2 - Resistências de parafilsos e 110ldu - NBR 8800 28

Igualando-se a deformação do parafuso à da chapa, obiém-se:

A relação entre áreas N Ac pode ser tomada como aproximadamente 1I 1O.


o que leva a:

Tf= Tb + 0,09P

O descolamento entre as chapas ocorre quando Cr se anular, ou seja:

O gráfico seguinte (figura 2.6) ilustra o modelo apresentado, relacionando a


tração final no parafuso em função da força externa aplicada.

llT .
'b - · - - ·
DESCOLAMENTO
Tb ~ Cf=O
/
/
/
45.
p
1,1 T b

Figura 2.6 - Gráfico T f x P considerando compatibilidade de deformações


Estrulllras Metálicas EESCIUSP Capítulo 2 - Resistências de parafusos e soldas - NBR 8800 29

A NBR 8800 adota um modelo simplificado e conservador, ~do que a


totalidade da força externa aplicada "P" provoca alívio da pressão de contato entre
as chapas, o que pode ser notado na expressão apresentada por esta norma para a
determinação da resistência ao deslizamento. O gráfico seguinte (figura 2.7) ilustra
tal comportamento.

Figura 2. 7 - Gráfico T f x P: modelo da NBR 8800

2.3- SOLDAS

A resistência de cálculo de soldas ~aseada em dois estados limites últimos:


@ruptura da solda na seção efetiva /(2) escoamento do metal base na face de
"'níSão. Em nenhuma situação a resistêncYada solda l?~~~~ll'l~ maior do que
a resistenc1a do mciliilba:sena ligaÇão-:------ - - -----
----NasHsoldas de1ifete ó1fooentàlhe, a solicitação considerada pode ser tomada
como sendo o clsalbamento na seção efetiva, provocado pela resultante vetorial de
todas as forças na junta que produzam tensões normais ou de cisalhamento na
superficie de contato das partes ligadas.
Estnmras Metálicas EESCIUSP Capitulo 2 - Resistências de parafusos e soldas - NBR 8800 30

íl:it: - Solda de mete


A resistência de cálculo é dada pelo menor valor de «PRn calculado pelos
dois estadOs l.iiiiiteS últimos aplicavets:

í{l)'ruptum da solda na seção efetiva:


·,~

\~tscoamento do metal base na face de fusão:

4> = 0,9
Rn = 0,6AMBfy

onde:
.-\v = área efetiva da solda (figura 2.8).
AMB = área teórica da face de fusão.
fw =resistência à tração do metal da solda (tabela 2.3).
fy = limite de escoamento do metal base.

Nota: o fator 0,6 é proveniente do critério de resistência de von Mises aplicado ao


caso de cisalhamento puro.

Nomenclatura:

b =perna do filete (dimensão nominal).


a= 0,7b (garganta efetiva).
Ponto O - raiz da solda. --·--;;;r-
L = comprimento do filete.

Aw=L.a
AMB=L.b

... I
Figura 2.8 - Filete de solda
Estruturas Metálicas EESCIUSP Capitulo Z • Resistências de parafusos e soldas - NBR 8300 31

Tabela 2.3- Resistência à


Metal da solda
~---------t--~----1

classe 60 415
classe 70 485

--~

( 2.3.2. f Solda de entalhe


~

A resistência de cálculo é dada pelo menor valor de ~Rn calculado pelos dots
estados limites últimos aplicáveis: ~ ~ · · -

/9ruptura da solda na seção efetiva:

~ = 0,75
Rn = 0,6Awfw

~escoamento do metal base na face de fusão:


', __ _/_/

<P = 0,9
Rn =0,6Awfy
Aw = área efetiva da solda de entalhe, dada pelo produto do comprimento da solda
(L) pela garganta efetiva (a). A garganta efetiva é tomada como:

-solda de entalhe de penetração total (figura 2.9a):

a= t (menor espessura das partes soldadas)

- solda de entalhe de penetração parcial (figura 2.9b):

para chanfro em J ou U
chanfro em bisel ou em V, com ângulo de abertura;;:: 60°

a = c (profundidade do chanfro)

para chanfro em bisei ou chanfro em V, com ângulo entre 45° e 60°

a=c-Jmm
Estruluras Metálicas EESCIUSP Capitulo 2 - Resistências de p.-afusos e soldas - NBR 8800 32

2 @4mm

1------,11--.;
~,

sem chanfro entalhe. em V simples entalhe em V duplo

bisei simples enta I h e em J" entalhe em U

(a) penetração total

c= profundidade de preparação do chanfro

(b) penetração parcial

Figura 2.9 - Soldas de entalhe

2.3.3 ~ Disposições construtivas

Além da verificação dos estados limites últimos, a NBR 8800 estabelece


algumas disposições construtivas relativas à solda de filete e de entalhe, as quais
são descritas a seguir:

I Solda de filete l
Tabela 2.4 - Dimensão nominal mínima de uma solda de filete
Maiores do metal base na

::;6,3 3
6,3 <t~ 12,5 5
12,5 <t~ 19 6
> 19 8
Estrulunis Metálicas EESCIUSP Capftulo 2 - Resistências de parafusos e soldas - NBR 8800 33

A dimensão nominal máxima do filete Cbma0 que pode ser executado ao


longo de bordas de partes soldadas é dada na tabela 2.5.

Tabela 2.5 - Dimensão nominal máxima de uma solda de filete Cbma0


Espessura do material da borda t(mm) bmax(mm)
-
< 6,3 I t
~6,3 t- 1,5mm

- comprimento das soldas de filete: o-~omprimento efetivo mínimo de uma solda de


filete, dimensionada para uma solicitação de cálculo qualquer, não pode ser inferior
a 4 vezes sua dimensão nominal e nem inferior a 40mm .

-soldas intermitentes: podem ser executadas, dimensionadas para transmitir solici-


tações de cálculo, quando a resistência de cálculo exigida for inferior à de uma
solda continua da menor dimensão nominal pennitida (bmm). Pode ser empregada
também nas ligações de elementos de barras compostas. O comprimento efetivo de
qualquer segmento de solda intennitente não pode ser inferior a 4 vezes sua
dimensão nominal, nem menor que 40nnn.
Nota: o Uso de soldas intermitentes requer cuidados especiais com corrosão.

- soldas de filete com faces de fusão não ortogonais: são permitidas para ângulo
entre faces de fusão compreendido entre 60° e 120°, desde que haja contato entre
as partes soldadas através de superficie plana e não apenas uma aresta. Para outros
ângulos não se pode considerar tal solda como estrutural, pois esta não é adequada
para transmissão de esforços.

l Solda de entalhe· I
Para soldas de entalhe de penetração total, a garganta efetiva é dada sempre
pela menor espessura das partes conectadas. Nas soldas de entalhe de penetração
parcial, a garganta efetiva mínima ( ~ deve ser estabelecida em função da parte
mais espessa, sendo que tal dimensão não necessita ultrapassar a espessura da parte
menos espessa. A tabela 2.6 apresenta estes valores mínimos.
E:strm!ras Metálicas EESCIUSP Capítulo 2 - Resistências de plll'llfuaos e aoldas • NBR 8800 34

.-
T a bela 2 6 Gar~g·anta efetivam1mma de soldas deentalhe d e_~cetração parcial
Maiores l&~ do metal base na junta t(mm) 8mtn (mm)

::;6,3 3
6,3 < t ::; 12,5 5
12,5 < t::; 19 6
19 < t::; 38 8
38 < t::; 57 10
57<t::;152 13
> 152 16
CAPÍTUL03

SOLICITAÇÕES EM PARAFUSOS E SOLD~

Neste capítulo serão apresentados os modelos teóricos clássicos adotados


para a determinação de solicitações em parafusos e soldas. Tais modelos são
amplamente utilizados na prática de projetos, pois constituem um meio simples de
se avaliar solicitações em regiões relativamente "complicadas" de uma estrutura
fornecendo resultados admitidos como razoáveis.
É importante alertar que em alguns casos, devido à necessidade de se obter
resultados mais realistas, toma-se necessário adotar modelos teóricos mais
complicados e, consequentemente, utilizar métodos computacionais (elementos
finitos, elementos de contorno, etc.) para tal análise. Nestes casos, recomenda-se
sempre uma comprovação experimental.

1- GRUPO DE PARAFUSOS SOB CISALHAMENTO CENTRADO

Numa ligação constituída por diversos parafusos é intuitivo admitir que a


força externa aplicada se distribua igualmente entre eles. Essa distribuição é,
todavia, estatisticamente indeterminada, pois depende principalmente da folga
existente entre o parafuso e o furo. Admitindo-se parafusos perfeitamente ajustados
nos furos, em comportamento elástico, os primeiros parafusos "em carga", ou seja,
os de extremidade, resistem às maiores parcelas do carregamento (figura 3.la).
Aumentando-se a força externa, os parafusos mais solicitados sofrem deformações
plástic~ redistribuindo esforços para os menos solicitados (intermediários),
resultando numa distribuição aproximadamente uniforme (figura 3.2a).
Nestes casos, considera-se por hipótese, que a força externa se distribua
igualmente entre todos os parafusos do conjunto, o que é razoável tendo-se em vista
a análise no estado limite último, ou seja, nas proximidades da ruptura.

p
F=-
p n

onde
FP = força cortante por parafuso
P = força aplicada
n = número de parafusos
~Metálicas EE8CIUSP Capítulo 3 - Solicitações em parafilsos e soldas 36
------------------------------- -

~ '---r--tl I
1

t+-----H! 1~1
11+---ttl11+-----MI1:+---ttl
p
---3llo- . . : _ _ '----r---Htl ~~~ ~
111-+H-111----+1+--111--t++--111 \ I :

. I I

. , I
I ·_:
I I I
I 1 I i

tt±t1 [[lT
a) deformações elásticas b) defonnações plásticas

Figura 3.1- Distribuição de esforços entre parafusos

3.2 - GRUPO DE SOLDAS SOB CISALHAMENTO CENTRADO

A distribuição de tensões nos cordões de solda é complexa e não uniforme.


Um cordão de solda paralelo à força aplicada tem comportamento bem diferente de
um outro, com as mesmas dimensões, porém transversal à força aplicada (fig. 3.2).
Cordões longitudinais (8 = 0°) apresentam menor resistência e maior ductilidade
os transversais (9 = 90°). O gráfico da figura 3.3 ilustra o comportamento
força-deformação de cordões de solda com diversas direções.
Em termos práticos, admite-se como hipótese de cálculo, uma distribuição
uniforme de tensões e uma resistência :final do cordão de solda que independe de
sua direção. Assim, cordões longitudinais são admitidos como tendo o mesmo
comportamento estrutural de cordões transversais.
A hipótese de uniformidade de tensões é razoável poi~ nas proximidades da
ruptura, a não uniformidade tende a desaparecer. Quanto a se admitir uma mesma
resistência final do cordão de solda, independentemente de sua direção, pode-se
dizer que constitui uma hipótese conservadora em certos casos, pois a resistência
nominal de projeto assumida para o cordão de solda, corresponde a um limite
inferior das resistências, o que pode ser visualizado pela reta horizontal no gráfico
da figura 3.3.
Es1roturas Metálicas EESCIUSP Capitulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 37

TENSÕES NA BARRA

A 8 TENSÕES NA SOLDA

[LlllQIJ/
a) cordão longitudinal

b) cordão transversal

Figura 3.2 - Distribuição de tensões em cordões de solda


FORÇA

/ -~&=90°
....._
// I -.......... ....YJO
---::::.:::f _
/
I
/
,.-i I ------ 10°
I /
I """.,.....~------
-------:.f-
I I ...............
1I ,... - .....
/1 /. I I . I ---- o
I!/ -------------~0
11 ,..,.-í-- I I (0,6fw) Aw
/

t J ~mox ) J
DEFORMAÇÃO

Figura 3.3 - Comportamento força-deformação em cordões de solda


Estruturas Metálicas EESC/USP Capitulo 3 - Solicitações em plll'llfusos e soldas 38

3.3- GRUPO DE PARAFUSOS SOB CISALHAMENTO EXCÊNTRICO

3.3.1- Método vetorial (análise elástica)

Neste caso, a avaliação dos esforços nos parafusos é feita admitindo-se dois
carregamentos em separado: uma força centrada e um momento de torção. Em
seguida procede-se à uma superposição de efeitos (figura 3.4).

e
,
~p p ~ M=Pe

Figura 3.4- Grupo de parafusos sob cisa.lliamento excêntrico: método vetorial

A força centrada é admitida igualmente distribuída entre os ?"Mafusos (com-


portamento plástico). Sendo "n" o número lie parafusos, a força em cada parafuso é
dada por:

p
Fv=-
n

Para o momento de torção, admite-se que a chapa constitui um elemento


indeformável e que os parafusos se comportem elasticamente. Desta forma, a
deformação no parafuso é proporcional à sua distância ao centro de gravidade do
conjunto e a força é perpendicular ao raio vetor.
Admitindo parafusos com mesma área e com relação força-deformação
linear, tem-se que a força no parafuso também é proporcional à distância ao centro
de gravidade, resultando então duas equações:
Estruturas Mebílicas EESCfUSP Capitulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 39

- compatibilidade de deformações:

- equiíbrio:

Isolando-se os "Fi" na primeira equação e substituindo-os na segunda, obtém-se:

M
FM., =L r 2 r..
I

onde r1 =distância entre o parafuso genérico "i" e o centro de gravidade do grupo.

É interessante notar que a expressão anterior é análoga à da flexão simples.


pois as hipóteses adotadas são as mesmas em ambos os casos.
O esforço total no parafuso é dado pela soma vetorial de Fv e FM. Por
facilidade, é conveniente considerar as componentes "x" e "y" de FM, dadas por:

Finalmente, a força no parafuso é obtida por:

Figura 3.5 - Composição vetorial de forças no parafuso


Estruturas Metálicas EESC/USP Capitulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 40

Este método tem como vantagem a facilidade de cálculo, porém conduz.


normalmente, a valores superestimados, ou seja, é conservador. Tendo isto em
vi~ a norma norte-americana ( AISC) recomenda adotar uma excentricidade redu-
zida, avaliada experimentalmente, cujos valores são:

a) parafusos igualmente espaçados em uma. só coluna:

parafusos igualmente espaçados em duas ou mais colunas:

/l+n)
e r =e- 2,5,-2-

onde
er = excentricidade reduzida, em.
e = excentricidade real, em.
n = número de parafusos por coluna.

Por exemplo, numa conexão com 8 parafusos dispostos em duas colunas,


sob uma excentricidade real de 25 em, a excentricidade reduzida vale:

.. (1+4)
er =25- 2,5~ -r = 18~65 em
o que significa uma redução de 25%.

er=l8,65cm
e= 25 em

p p

Figura 3.6 - Excentricidade reduzida segundo o AISC


Estruturas Metálicas EESCIUSP Capitulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 41

3.3.2- Método do centro instantâneo de rotação (análise plástica)

Neste caso, admite-se que a chapa gira e translada em tomo do centro de


gravidade do conjunto de parafusos. Esta rotação associada à translação pode ser
substituída por uma rotação apenas, em torno de um ponto denominado centro
instantâneo de rotação (CIR). Este ponto é determinado com base nas condições de
equilíbrio e numa relação força-deslocamento dos parafusos.

Figura 3. 7 - Grupo de parafusos sob cisalhamento excêntrico: método do CIR

- equações de equilíbrio:

onde
r0 ; e ~ coordenadas polares do centro de gravidade, tendo como origem o CIR
ri ; 4»i ~ coordenadas polares de um parafuso genérico.
e ~ excentricidade da força em relação ao centro de gravidade do conjunto.
Estruturas Metálicas EESCIUSP C11pítulo 3 • Solicitações em parafusos e soldas 42

A localização do CIR é feita por tentativas, até que as três equações de


equilíbrio sejam satisfeitas. Nesta análise, deve-se distinguir duas situações:

a) conexões por contato: admite-se que o deslocamento em cada parafuso é


proporcional à sua distância ao CIR e a força no parafuso relaciona-se com este
deslocamento através de uma relação força-deslocamento pré-estabelecida. O .A.ISC
recomenda uma expressão proposta por FISHER e posteriormente utilizada por
CRA.WFORD e KULAK quando propuseram tal método. Este deslocamento incluí
as deformações do parafuso por cisalhamento, flexão, esmagamento e ainda a
defOrmação local das chapas.

F; = FJ 1- e-{),39 Õ;] o,ss

F: = força no parafuso.
= resistência de cálculo do parafuso ao cisalhamento, conforme capítulo 2.

- no caso de parafusos de alta resistência:

Fu = <!>vRnv = 0,65(0,42Apfu) ~quando plano de corte passa pela rosca


Fu = ~vRnv = 0,65(0,60Apfu) ~quando plano de corte não passa pela rosca

Obs: verificar selnpre a pressão de contato nos furos, a qual pode constituir uma
situação mais desfavorável.

81 =deslocamento, mm.
e= base neperiana (2,718).

Atribui-se ao parafuso mais afastado do CIR, portanto o mais solicitado, o


valor Fu que corresponde ao deslocamento máximo Õmax· Como o deslocamento é
proporcional à distância ao C IR, basta aplicar uma relação linear e obter o desloca-
mento em todos os parafusos do grupo:

8. = _5._8
I r
- mllX

É usual adotar para o deslocamento máximo, o valor <>max = 8,9mm.


Estruturas Metálicas EESCfUSP Capitulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 43

Figura 3.8 - Curva força-deslocamento em parafusos

b) conexões por atrito: neste caso, a força em cada parafuso é a mesma e é dada
pela resistência ao desliz~ento. Assim,

onde Rnv é a resistência nominal ao deslizamento determinada conforme capítulo 2.

I Exemplo 3.1 I
Determinar a resistência de cálculo da conexão esquematizada a seguir.
considerando três casos:
a) método vetorial.
b) método vetorial com excentricidade reduzida do AISC.
c) método do centro instantâneo de rotação.

-parafusos ASTM A325, conexão por contato, rº~ça noplano de corte.


-fu = 825 MPa
- ~ = 22 mm (7/8") ~ ~ = 3,88 cm2

- resistência de cálculo à força cortante:

~v = 0,65(0,42t\fu) = 0,65(0,42 X 3,88 X 82,5) = f:7 kN


Estruturas Metálicas EESCIUSP Capitulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas

·-+

~p
75 •
1
~ 1.
'4
2.
75 :
'I

,:.r IG s

' 5

1
~ 3. I
.6
100
--.1<-
I

Figura 3.9 - Conexão parafusada do exemplo 3.1

a) método vetorial: parafusos críticos ~ 4e6

M= 12,5P
L: r;~= 4(9~0)2 + 2(5~0Y = 374 cm 2

12~P
FM = 374 9,0 = 0,301P
FMx = 0,251P G

FMy = 0,167P

Fp = .j(0,251PY +(OJ67P+0,167P) 2 = 0,418P

Igualando-se a força no parafuso mais solicitado (4 e 6) à resistência de


cálculo do parafuso, obtém-se a resistência de cálculo da conexão:

Fp = 0,418P = ~vRnv = 87 kN ~ P = 208 kN

Portanto, Rd = 208 kN
Eslruturas Metálicas EESC/USP Capitulo 3 -Solicitações em parafusos e soldas 45

b) método vetorial com excentricidade reduzida

-neste caso tem-se duas colunas de parafusos, n = 2:

fl+n) = 12,5-2,5,-
e r =e- 2,5\2 fl+2)
2- = 8,69 em

p
Ev =- =0167P
,
6

M = 8,69P
8 69
RM-- 374
' p 9 ' O-
- 0,209P

FMx =0,174P
FMy =0,116P

F;, = ~(0,174P)2 + (0,167P + 0,116P) 2 = 0,332P

Resistência de cálculo da conexão:

Fp = 0,332P = ~vRnv = 87 kN ~ P = 262 kN

Portanto, Rd = 262 kN
E3troturas Metálicas EEBCIUSP Capitulo 3- Solicitações emparafusog e soldas 46

c) método do centro instantâneo de rotação

r = 0 e= 125
.~ o .

-- ~
CIR /::::: ~-
l<j)
t=P4\
I
I

,
;

~G
i

'
I

I X
>
le=oj

Neste caso, a força aplicada (P) tem a direção do eixo y, portanto o CIR está
situado sobre a reta horizontal que passa pelo centro de gravidade do grupo de
parafusos. Desta form~ o ângulo e é nulo e a primeira equação de equilíbrio será
satisfeita para qualquer valor de r 0 bastando considerar as duas últimas equações
de equilíbrio.

cos <l>i = x~(


1ri

O procedimento de cálculo consiste em arbitrar valores para r 0 e comparar


os valores de P obtidos pelas duas equações de equilíbrio, até que estes valores
coincidam.
""-~ ·,,..

Eslrubras Metálicas EESCIUSP Capltulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 47

A relação força-deslocamento do parafuso é assumida como:

~ = Fj 1- e-o.J9 oi Jo.ss F( kN)

Fu =~ftav = 87 kN
8n= = 8,9 mm
8.=lÕ =89l
· rma: ma: ' rma:

8,9 b (mm)

paraf. x1 (em) r 1 (em) o1(mm) Ft (kN) F 1 cos+i (k.N) F~1 {kl'\J'.cm)


l
fo = 7,5 em
I
1 i 2,5 7,91 4,83 79,6 25,1 629,3
2 I 2,5 2,50 1,53 56,1 56,1 140,2
3 2,5 7,91 4,83 79,6 25,1 629,3
4 I 12,5 14,58 8,90 I 84,8 72,7 1.235,8
5 12,5 12,50 7,63 84,6 84,6 1.057,9
6 12,5 14,58 8,90 84,8 72,7 1.235,8
2: 336,3 4.928,3

ro= 5,2 em

1 0,2 7,50 5,27 80,8 2,1 606,2


2 0,2 0,20 0,14 17,4 17,4 3,5
3 0,2 '7,50 5,27 80,8 2,1 606,2
4 10,2 12,66 8,90 84,8 68,3 1.073,1
5 10,2 10,20 7,17 84,1 84,1 857,9
6 10,2 12,66 8,90 84,8 68,3 1.073,1
2: 242,3 4.220,0
Estruturas Metálicas EESCIUSP Capítulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 48

Inicialmente, para r 0 = 7,5 em:

"'Fl
""-' co~.=
0\f/1 P = 336' 3 kN
LF:!i =P(e+IQ)=4.928)kN.cm ~ P=246,4kN

Prosseguindo com outras tentativas, chega-se ao valor r 0 = 5,2 em:

LF coS(j). = P = 242 3 kN
l • l '

L: F r; = P( e+ 1Q) = 4220 kN.cm ~ P = 238,4 kN

Concluíndo, tem-se que a resistência de cálculo da conexão é dada por:

Quadro comparativo:

Método

208 0,867
vetorial corri 262 1,092
240 1,000

Comparando-se os resultados, conclui-se que o método vetorial é de fato


conservador, se comparado ao método do centro instantâneo de rotação, porém ao
se considerar a excentricidade reduzida proposta pelo AISC, a capacidade nominal
da conexão superou ligeiramente o valor obtido pelo método do CIR (9,2%),
consistindo numa boa aproximação para este caso.
Estruturas Metálicas EESC/USP Capitulo 3 - Solicitações em parafusos e Soldas 49

3.4 - GRUPO DE SOLDAS SOB CISALHAMENTO EXCÊNTRICO

Analogamente ao que se apresentou para os parafusos, um grupo de cordões


de solda submetido a cisalhamento excêntrico pode ser analisado através do método
vetorial (análise elástica) ou pelo método do centro instantâneo de rotação.
O método vetorial conduz a resultados conservadores mas apresenta como
vantagem a simplicidade de cálculo. Já o método do CIR tido como mais racionaL
leva a um volume de cálculos relativamente grande. "obrigando" o calculista a
utilizar programas de computador.

Considerando o método vetorial, a tensão de cisalhamento num determinado


ponto da solda é dada por:
',

- devido à força centrada P: tensão uniformemente distribuída ao longo da solda.

p
fv =p: s

-devido ao momento de torção M = P.e: tensão proporcional à distância ao CG

onde:
As = área da solda (área efetiva ou área da face de fusão).
Aw = 2: Lsa ~ área da seção efetiva
AMB=l:Lsb ~ área teórica da face de fusão

Ip = Ix + Iy ~ momento polar de inércia.


L 5 =comprimento do cordão de solda.
r = distância do ponto considerado ao centro de gravidade do conjunto de soldas.

A tensão no ponto é dada pela resultante vetorial:


Estruturas Metálicas EESCIUSP Capitulo 3 -Solicitações em parafusos e soldas 50

Por facilidàde, tomando-se as componentes "x" e "y" de fM obtém-se:


e

~M=Pe

+
+-

Figura 3.10- Grupo de soldas sob cisalhamento excêntrico: método vetorial


,

Figura 3.11- Composição vetorial de tensões num ponto


Estruturas Metálicas EESC/USP Capitulo 3 - Solicitações em paramsos e soldas 51

I Exemplo 3.2 I
Determinar a resistência de cálculo da conexão soldada esquematizada a
seguir, considerando o método vetorial.

Admitir:
eletrodos classe 60 -4 fw=415 MPa
metal base: ASTM A36 -4 fy = 250 MPa

PONTO CRÍTICC

\\\ \
G

lO ll
íl
190 l
.,

Figura 3.12 - Conexão soldada do exemplo 3.2

As propriedades geométricas da solda podem ser determinadas admitindo-se


espessura unitária dos cordões de solda, e em seguida, multiplicando tais valores
pela espessura correspondente.

- posição do centro de gravidade (G):

2x19x9,5 ~
x = 2 x 19 + 25 =5,7 em
I
,O
-áreas:

Aw = 0,7 X 0,6 X 63 265 cm 2


AMB = 0,6 x 63 = 37,8 cm2
Estruturas Metálicas EESC!USP Capitulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 52

- momento de inércia:

t 1J
= 25 2 +2 x 19 x 12,52 = 7240 cm3

2
I~= 25 x 5,72 +~19;{ + 19 x 3,82 ) = 2504 cm3
/ ~ I

w
Ix = 0,42(7240) = 3.041 cm4
Iy = 0,42(2.504) = 1.052 cm4

Ip =IX + Iy = 3.041 + 1.052 = 4.093 cm 4

Observar que o momento de inércia polar obtido refere-se à seção efetiva da


solda. Com relação à seção teórica da face de fusão, basta dividir este valor pela
relação de áre~ ou seja, 07.

- tensão na seção efetiva da solda:

c/

23,3P
fM = 4 _093 18,25= 0,104P

12,5
fMx = 0,104P 18,25 = 0,071P [My = 0,1 04P /:f.s = 0,076P_

fw = .J(0,071PY +(0,076P+0,038P)2 = 0,134P

- tensão na face de fusão:

fMB =O} fw = 0,7(0,134P) = 0,094P


Estruttras Metálicas EESCIUSP Capitulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 53

- resistências de cálculo da solda:

a) ruptura na seção efetiva: ~Rn = 0,75(0,~f,J = 18.67 kN/cm2

b) escoamento na face de fusão: q,R, = 0,90(0.6fy) = 13.50 k.NJcm2

Finalmente:

t~ = 0,134P = t1>Rn = 18,67 kN/cm2 ~ P = 139 kN

fMB = 0,094P = t1>Rn = 13,50 k.N/cm2 ~ P = 144 kN

A resistência de cálculo da conexão é dada pelo menor valor encontrado


tendo-se em vista os dois estados limites últimos analisados:

3.5- GRUPO DE PARAFUSOS SOB MOMENTO E CORTANTE

Neste item serão apresentados os casos clássicos de conexões rígidas de


extremidade de vigas, cujas solicitações predominantes são momento fletor e força
cortante.
O AISC defme três categorias de conexões:

a) conexões rígidas: ocorre quando o giro relativo entre os elementos atinge no


máximo 10% do giro relativo correspodente à condição de apoio simples (rótula).
É uma condição de continuidade e à estrutura pode ser calculada como pórtico de
nós rígidos.

b) conexões flexíveis: ocorre quando o giro relativo supera 80% do valor corres-
pondente à condição de apoio simples. Neste caso, é razoável calcular a estrutura
admitindo apoios rotulados.

c) conexões semi-rígidas: corresponde à uma situação intermediária entre as duas


anteriores, ou seja, quando o giro relativo se situar entre 10% e 80% do giro
relativo à condição de apoio simples. Neste caso, a rigidez das conexões deve ser
levada em consideração no cálculo estático da estrutura.
Estrullns Metálicas EESCIUSP Capitulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 54

Os exemplos de conexões rígidas aqui abordados têm como detalhe geral


uma chapa de extremidade soldada à viga (end-plate) a qual possui uma série de
furos para colocação dos parafusos. Nos exemplos seguintes serão feitas apenas as
verificações referentes aos parafusos, ou seja, a verificação da solda chapa de
extremidade-viga será vista mais adiante.

Conexão tipo contato: parafusos nas extremidades

Neste caso, ocorre uma pressão de contato na parte inferior (compressão) e


um descolamento junto à parte superior (tração). Este efeito de descolamento é
impedido pela existência dos parafusos, os quais resultam tracionados. Quanto à
força cortante, esta é admitida como uniformemente distribuída entre os parafusos
(deformações plásticas).
Desta maneira, os parafusos contidos na região comprimida da conexão
ílcam solicitados à força cortante apenas, enquanto aqueles contidos na região
tracionada ficam submetidos à tração e cortante simultaneamente.

b
j< >I
Fl r
F2 o
I<(
u.

t)M
<(
o::

\ 1-

d
'
ocf-
0.1
~I

~ -i
0
fc

Figura 3.13- Grupo de parafusos sob momento e cortante: 1o caso


Es1ruluras Metálicas EESC/USP Capitulo 3 - Solicitações em panúüsos e soldas 55

- força nos parafusos devido à cortante:

v
F=-
v n

onde:
V = força cortante.
n = número total de parafusos da conexão.

-força nos parafusos devido ao momento fletor: neste caso, admite-se uma distri-
buição linear de deformações, que consiste numa hipótese razoável desde que as
deformações sejam pequenas (fase elástica). Assim,

onde:
M = momento fletor.
I = momento de inércia da seção formada pela região comprimida mais os parafu-
sos tracionados.
c\= distância do parafuso genérico "i" à face inferior da chapa.
-~ = área bruta do parafuso.

Para que se possa calcular o momento de inércia, é necessário conhecer a


posição da linha neutra (y). Em se tratando de flexão simples, sabe-se que a linha
neutra passa pelo centro de gravidade da seção, bastando então igualar o momento
estático da porção superior ao da porção inferior da seção, resuhando numa
equação do 2° grau em "y".

M~
s
=Minf
s
~

onde:
b = largura da chapa.
~= área dos parafusos tracionados posicionados à distância ~

Com o valor de "y" pode-se calcular o momento de inércia da seção:


Eslruluras Melá.licas EESC/USP Capllulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 56

O parafuso crítico é aquele sujeito à maior tração (mais afastado em relação


à linha neutra), pois a força cortante é admitida uniformemente distribuída entre
todos os parafusos.

I Exemplo 3.3 I
Verificar a conexão parafusada esquematizada a seguir, admitindo:

- conexão tipo contato, rosca inclusa no plano de corte.


-parafusos q, 19 mm (J\, = 2,85 cm2) ~ ASTM A325 (fu = 825 MPa)
- metal base: ASTM A36 ~ fu = 400 MPa

pos. l J..
....
pos. 2
s'
I
I

\ kN.m o
co
r</
Vd= 360 kN I

...T J..
~.
I
o!
,.,.., I'
200

Figura 3.14- Conexão do exemplo 3.3

-força cortante de cálculo por parafuso:

360
FV d-- 6 -60kN
-
Eslruturas Melálicas EESCIUSP Capitulo 3 - Solicitações em p!lCI!fusos e soldas 57

- tração de cálculo:

- posição da linha neutra:

io i = 2x2,85( 47- y) + 2x2,85(41- y)


y 1 + 1,14y- 50,16 =o

y = 6,54 em

/~ .
- momento de inércia:
r"' v

6,54 3 r
I = 20 + 2x2,85x40,46 2 + 2x2,85x34,462 = 17.964 cm4
3
- força de tração nos parafusos da posição ( 1) - mais afastados da LN.

6.000
Fl d = 17.964 (47- 6,54)x2,85 = 38,5 ~

-resistências de cálculo:

tração: ciJtRnt = 0,_?5(0,75Apfu) = 0,75(0,75x2,85x82,5) = 132 kt'i> F 1d [OK]

corte: q,vRnv = 0,65(0,42Apfu) = 0,65(0,42x2,85x82,5) = 64 kN > Fvd [OK]

pressão de contato em furos:

rasgamento entre furo e borda.~ a= e/d -11 2 = 30!19- O= 1,58 (crítico)


rasgamento entre furos ~ a = s/d -11 1 = 60/19 - 0,5 = 2,66

ciJRn = 0,75(aAt,fu) = 0,75[1,58x(l,6xl,9)x40] = 144 k.N > $vRnv


~-. . .--...___ ~/.r~"i~"'"
--~~----

tração+ corte: ciJtRnt 5 0,69AJ"u- 1,93Vd = 46 kN > Fld = 38,5 kN [OK]


Estnldnras Metálicas EESCIUSP Capitulo 3 -Solicitações em plll"afusos e soldas 58

Conexão tipo contato: parafusos uniformemente distribuídos

As hipóteses assumidas neste caso são as mesmas do caso anterior, porém,


devido à uniformidade na distribuição dos parafusos, pode-se proceder à uma
simplificação de cálculo, que consiste em admitir a região tracionada como sendo
uma seção retangular fictícia (figura 3.15). Daí em diante, o procedimento de
cálculo é o mesmo do caso anterior.
Este esquema de conexão é adotado nos casos em que a força cortante é
elevada, requerendo grande quantidade de parafusos.

mAp

L- P/2 l
-p tt-
~

p
1
t
p I
H -Y
H p
I

p
- --:::?.; ~/ / /
I
i
/ / / // /
v
I
P!
AÍ it,////.
I I
I

~
1
/ /////7
P/2
l b l b

Figura 3.15- Grupo de parafusos sob momento e cortante: 2° caso

- posição da linha neutra: obtida pela igualdade de momentos estáticos

byz - mAP (H- y)z


2 - p 2
onde:
y = posição da linha neutra.
H = altura da chapa de extremidade.
m = número de colunas de parafusos.
p = espaçamento dos parafusos ao longo da altura.
Ap = área de um parafuso.
E'.ICIUins li&Wicu EESCIUSP Capitulo 3 - Solicitações em panfulos e aoldas 59

- momento de inércia:

- tração no parafuso:

I Exemplo 3.4 I
Verificar a conexão esquematizada a seguir, admitindo:

- conexão tipo contato, rosca inclusa no plano de corte.


-parafusos~= 16 rmn (Ap = 1,98 cm2 ) ~ ASTM A307 (fu = 415 MPa)
-metal base: ASTM A36 ~ fu = 400 MPa

o[
~
lr- 6

li --l

l
~--·-
I I
i I
I I o
o I i I<(
<D I u.
~ I ! <!
o I a:
..,.
N o I ' I .....
<D
>C
I I
I I
' I
I I
I I

o
I I
~

Figura 3.16 - Conexio do exemplo 3.4


Esiruturas Metálicas EESCIUBP Capitulo 3 -Solicitações em pa-afusos e soldes 60

-força cortante de cálculo por parafuso:

220
FVd = T4 = 15,7 kN

- tração de cálculo:

- posição da linha neutra:

- momento de inércia: \ '~,/

6
'~ + 0,66 (42 - ~,46)3
63
I = 20 = 11.673 cm 4

-tração de cálculo nos parafusos mais solicitados (mais afastados da LN)

3500
Fld = 11.673 (39- 6,46)1,98 = 19,3 kN

-resistências de cálculo:

tração: ~tR.nt = 0,65(0,75Apfu) = 0,65(0,75xl,98x41,5) = 40 kN > F 1d [OK]

corte: ~vRnv = 0,60(0,42Apfu) = 0,60(0A2x1,98x41,5) = 20,7 kN > Fvd [OK]

pressão de contato em furos:

rasgamento entre furo e borda ~ a= e/d- TJ 2 = 30116- O= 1,87 (critico)


rasgamento entre furos ~ a= s/d- Til= 60/16-0,5 = 3,25

~Rn = 0,75(aAt,f11) = 0~ 75[1,87x(L6xl,6)x40J = 144 kN > ~vRnY


/ '~

tração+ corte: ~tRnt s 0,64AJ'11 - 1,93Vd = 22,2 kN >F ld = 19,3 kN [OK]


E'stnmnll Metálica EESCIUSP Capflulo 3 - Solicitações em J)lll'1lfusos e soldas 61

Cone:do do tipo atrito: parafusos uniformemente distribuidos

Neste caso, admite-se por hipótese: que sempre haja pressão de contato entre
a cltapa de extremidade e o elemento de apoio. Desta furma, a linha neutta coiru,'ide
com o centro de gravidade da chapa de extremidade e, assumindo distribuição
linear de deformaç~ uma parte da chapa fica sujeita a um acréscimo na pressão
de contato, enquanto a outra parte recebe um alívio nesta pressão de contato (figura
3.17).
A análise em questão é idêntica ao caso da flexo-compressão em seções
retangulares, onde pode-se considerar separadamente os efeitos da força normal
(protensão nos parafusos) e do momento fletor, resultando numa distribuição final
de pressões de contato conforme apresentado na figura 3.17.
Os parafusos críticos serão aqueles situados na região ''tracionada.", ou seja,
na região que recebe o alívio na pressão de contato, em particular, os mais afasta-
dos da linha neutra, pois apresentarão a menor resistência ao deslizamento.
A resistência da conexão à força cortante será obtida pelo somatório das
resistências ao deslizamento dos parafusos.

t-e- +

Figura 3.17 - Conexão parafusada sob momento e cortante: 3° caso.


Estruturas Metálicas EESCIUSP Capitulo 3 - 8olicitaç6es em pandilsol e soldas 62

I Exemplo 3.51
Verificar a conexão parafusada esquematizada a seguir, admitindo:

- conexão do tipo atrito.


-parafusos cp 16mm (~ = 1,46cm2) ~ ASTM A325 (fu = 825 MPa)
-solicitações nominais: V= 280 kN ; M = 3.500 k:N.cm

o
"'
oo's. 1

POL.L_

!)M,35kN
[ V=280 kN
m
o
<.D
"'"
o<.D
>(
i
I
!
pos. 3

pos. 4

DOS. 5
<.D
!
DOS. 6

- ' '---
pos. 7

o
"' ~ 200

Figura 3.18- Conexão do exemplo 3.5

- protensão nos parafusos: Tb = 0,7(~fu) = 0,7(1,46x82,5) = 85 kN/paraf

- tensão normal devida à instalação dos parafusos:

LTb 14x85 kN/


O'o =--;;;:--- = 20x42 = 1,42
c
/cml

onde Ac é a area da chapa, ou seja, a área de pressão de contato.


Capftulo 3 • Soii~s em pandilsos e aoldas 63

- tensão normal devida ao momento fletor:

M M 3500
cr:Mi =TYi =bH 3/ Yi = 123.480 Yi
/12
onde:
I = momento de inércia da seção de contato, ou sej~ da chapa de extremidade.
Yi = ordenada do parafuso genérico "i" em relação à linha neutra.

A máxima tensão normal oM ocorre na extremidade superior da chapa.:

3500 / ,, kN/
0
M = 121480 21 = 0,60 /cm2

Como o 0 é maior que oM não heverá descolamento --+ OK


~o'>

- resistência de cálculo ao deslizamento dos parafusos:

onde:
; = 1,00 (furo padrão)
J.1 = 0,28 (coeficiente de atrito)
T = tração externa por parafuso

b
~ = crMi 2 p = 60 OMÍ

Posição o ... (kN/cm2) oM@/cm2) Tb-T (kN) ... 12 (kN)

1 1,42 -0,51 54,6 15,3


2 1,42 -0,34 64,8 18,1
3 1,42 -0,17 75,0 21,0
4 1,42 o 85,0 23,8
5 1,42 0,17 85,0 (*) 23,8
6 1,42 0,34 85,0 (*) 23,8
7 1,42 0,51 85,0 (*) 23,8
:E 149,6

(*) a favor da segurança, não se considera acréscimos na pressão de contato.


Estrururas Metálicas EESC/USP Capllnlo 3 - Solicitações em peraÚll!loa e soldas 64

Como tem-se duas colunas de parafu.sos, multiplica-se o valor anterior por


dois. obtendo-se:

C<PvRnvhotal = 2xl49,6 =300 kN >V= 280 kN [OK]


Observação importante: o deslizamento é um estado limite de utilização, portanto
foi verificado tomando-se as solicitações nominais. Além dessa verificação, é
necessário que se faça a verificação relativa ao estado limite último, ou seJa,
tomando-se as solicitações de cálculo e admitindo-se conexão do
conforme o segundo caso aqui apresentado. :::===~=:::;~:::::::::::::,:::::.;::;:;:~,:::;;;;,;"''"

Conexão do tipo atrito: parafusos nas extremidades

Neste caso, a hipótese anterior em que se admitia que a pressão de contato


era uniformemente distribuída quando da protensão dos parafu.sos, deixa de ser
uma hipótese razoável, pois os parafusos estão concentrados apenas nas extremi-
dades da chapa. Desta forma, toma-se dificil avaliar a pressão de contato junto aos
parafu.sos para que se possa determinar sua resistência ao deslizamento.
Um critério simples e comumente utilizado neste caso consiste em admitir
que o momento fletor é equilibrado por um binário, cujas forças tem como linha de
ação, o centro das mesas do perfil (figura 3.19). Com isto, a força de tração junto
ao paiafuso é obtida dividindo-se a resultante de tração (T) pelo número de
parafu.sos situados na região tracionada.

M
T=C=-
z
T
Tl =-
n

onde:
T = resultante de tração.
z = braço de alavanca, distância entre centros das mesas do perfil.
T 1 = tração por parafuso.
n = número de parafusos na região tracionada.
Eslruturas Metálicas EESCIUSP Capítulo 3 - Solicitações em~ e soldas 65

I Exemplo 3.6 l
Verificar a conexão parafusada esquematizada a seguir, admitindo:

- conexão do tipo atrito.


-parafusos+= 19nnn (f\= 2,15cm2) ~ ASTM A325 (fu = 825 MPa)
-solicitações nominais: V= 150 kN ; M = 5.000 kN.cm

~I
-I-

T - .r-
- v
-
.,_ (
\ @

I
)M~50kNm
o )
a:>
,..,
"
N
l
V= 150 kN I
I
o
,..,a:>

c - 1- •T -I-
,..,o
200 ~

Figura 3.19- Conexão do exemplo 3.6

- protensão nos parafusos: Tb = 0,7(A/J = 0,7(2,15x82,5) = 125 kN/paraf

- tração por parafUso:

T = C = ~ = -~~0 = 132 kN
5

T 132
Tl = n = 4 = 33 kN

-resistência ao deslizamento:

parafusos contidos na região tracionada:

«PvRnv = 0,28(Tb- T) = 0,28(125- 33) = 25,8 kN/paraf


Estrunras Metálicas EESC/USP Capitulo 3 - Solicitações em parafusos e aoIdas 66

parafusos contidos na região comprimida:

~Rnv = 0,28(Tb- T) = 0,28(125) = 35 kN/paraf

Observa-se novamente que não se considerou acréscimos na pressão de contato.

-resistência total da conexão ao deslizamento:

(tl>vRnvhotal = 4x25,8 + 2x35:: 173 kN >V= 150 kN [OK]

3.6- CONEXÕES SOLDADAS SOB MOMENTO E CORTANTE

Neste item serão apresentados dois exemplos frequentes de conexões


soldadas sob a ação simultânea de momento fletor e força cortante, o primeiro
compreendendo um console conectado à uma coluna, e o segundo, uma conexão
viga-coluna.
Conforme já mencionado anteriormente, admite-se que qualquer solicitação
atuante num cordão de solda se traduza em tensões de cisalhamento na seção
efetiva da solda ou na face teórica de fusão. Desta forma, a verificação consiste na
busca do ponto critico da solda, ou seja, aquele de maior tensão resultante,
lembrando que tensão resultante é a soma vetorial de todas as tensões atuantes no
ponto.

I Exemplo3.7l
Determinar a máxima força de cálculo Pd que pode ser aplicada ao console
esquematizado a seguir, admitindo:

- solda de entalhe de penetração total


- eletrodos AWS classe 60 ~ fw = 415 MPa
- metal base: ASTM A36 ~ fy = 250 MPa
Estruturas MetáliCIIII EESC/USP Capítulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 67

180
~
160
p
d
=9
. lDI ~ I
r-11 I I _L
~
'
r-1
I{')
N
'<t
I"") o!
I{")
N
N
CH.8

Figura 3.20- Conexão soldada do exemplo 3.7

Hipóteses assumidas neste caso:


-tensões lineannente distribuídas devido ao momento fletor.
- tensões uniformemente distribuídas na nervura vertical devido à cortante_

~
0
(fM}mox.
PONTO CRÍTICO

Figura 3.21 - Distribuição de tensões na solda

Diante das hipóteses assumi~ o ponto crítico da solda é o ponto extremo


inferior junto à nervura vertical, pois resulta sujeito à máxima tensão horizontal
(devido ao momento) simultaneamente com uma tensão vertical (devido à cortante)
Eslrutlras Metálicas EESCIUSP Capitulo 3 - Solicitações em pa-afusos e soldas 68

- propriedades geométricas na seção conectada: / C;;; lc


C\,"ÍI.-
-posição do centro de gravidade:
. y 't::J ~v /
r\ .;, I
1,6x16x0,8 + 0,8x20,9xl4 ~ 5 ..,
Yco = 16x16+08x20 9 6
= ~ 3 em
' ' '
- momento de inércia:
L\
c./:/ G' ~~
I ':/ /
J
QQ
\ to "'

08x209 (
3
í
J= ' ' +0,8x20,9x8,32 2 + 1,6x16x5,432 = 2.521 cm4
12

- tensão resultante no ponto crítico:

M 18Pd
fM = yY = 252!18,77 =0,134Pd
pd pd
fv = A= O8x20 9 = 0,06Pd
w ' '

- resistências de cálculo da solda:


,~J
(
=
ruptura da solda ~ ~Rn 0,75(0,6fw) = 0,75(0,6x41,5) = 18,67 kN/cm2
escoamento metal base ~ ~Rn = 0,9(0,6fy) = 0,9(0,6x25) = 13,5 k.N/cm2
\- ~""'
Em se tratando de solda de entalhe de penetração total, a área efetiva é igual
à área da face de fusão, portanto as tensões nestas duas superficies são iguais. Para
se determinar Pd basta igualar a tensão resultante à menor resistência de cálculo, •
que neste caso, refere-se ao estado limite último de escoamento do metal base na
face teórica de fusão.
EsCroluras Metálicas EESCIUSP Capitulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 69

I Exemplo 3.8 I
Verificar a conexão soldada viga-coluna esquematizada a seguir, admitindo:

- solda de filete com dimensão nominal b = 5mm.


- eletrodos A WS classe 70 ~ fw = 485 MPa
- metal base: ASTM A36 ~ fy = 250 MPa

I
5

~~
li
~)
Md=l05 kN.m I i
~1 s1
..., o::r-1
6,3
vd = 120 kN
_li
~~r
2oo I
VS 400 X 49

Figura 3.22- Conexão soldada do exemplo 3.8

Hipóteses assumidas neste caso:


- distribuição linear de tensões ao longo de toda a seção, devido ao momento fletor
- distribuição uniforme de tensões ao longo da alma, devido à cortante.

6,3
_ __...__ _ _ _-+---. ----------

Figura 3.23 - Distribuição de tensões na solda


Estruturas Metálicas EESCIUSP Capitulo 3 - Solicitllç6es em pandilsos e soldas 70

Novamente, deve-se buscar o ponto de maior tensão resultante, ou seja,


aquele em que a resultante vetorial de tensões na seção efetiva da solda ou na face
teórica de fusão seja máxima. Neste caso, há duas regiões a analisar:

-região A: extremos da seção (mesas), onde ocorre a máxima tensão hori-


zontal (devido ao momento fletor).
-região B: extremos da alma, onde há atuação simultânea de tensão hori-
zontal, devido ao momento fletor, e tensão vertical devido à cortante.

- momento de inércia junto à seção conectada:

I ~" 0,63~ 3,1' + 2( 0,95x20xl9,5;') = 16.390 em'


- tensões na seção conectada:

Md 10500 kN/
(fM)A = - -y A = 16390 20 = 12,81
1 /cmz

vd 120 kNI
fv =A =O 63x331 = S,?S /cm2
w ' '

- tensão resultante na região A:

-tensão resultante na região B:

Em se tratando de solda de filete, deve-se calcular a tensão resultante na


seção efetiva da solda e na face teórica de fusão. Este cálculo é imediato, bastando
multiplicar a tensão resultante calculada para a seção conectada pela relação de
espessuras correspondente.
Estrulurall Metálicas EESCIUSP Capitulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 71

f Região A I
- tensão resultante na seção efetiva da solda:
garganta efetiva ~ a= 0,7b = 0,7x0,5 = 0,35 em
para dois filetes ~ toma-se a garganta efetiva 2a = 0,70 em

- tensão resultante na face teórica de fusão:


dimensão nominal ~ b = 0,5 em
para dois filetes ~ toma-se a dimensão nominal 2b = 1,0 em
\)}c_
(\/- ~ lb'/

=i~ (fR)A =}~ 12,81 =12,2


0 5
(fMB)A kNfcffil
'

I Região B I
- tensão resultante na seção efetiva da solda:

-0,63 - kN/
(fJB- 0 7 12-10,8 /cmz
'
- tensão resultante na face teórica de fusão:

:~resistências de cálculo:

- ruptura da seção efetiva:


+R..= 0,75(0,6fw) = 0,75(0,6x48,5) = 21,8 .kN/cm2 > fs (OK]
- escoamento do metal base na face teórica de fusão:
+Rn = 0,9(0,6fy) = 0,9(0,6x25) = 13,5 .kN/cmZ > fMB [OK]
Estruturas Metálicas EESC/USP Capitulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 72

3. 7 - CONEXÃO DE EXTREMIDADE DE VIGA DO TIPO FLEXÍVEL

Nos exemplos anteriores foram apresentados quatro casos frequentes


envolvendo conexões de extremidade de viga do tipo rígidas. Neste item será
apresentado um exemplo de conexão do tipo flexível em perfil "I", constituída por
um par de cantoneiras na alma, que consiste no esquema mais utilizado nestes
casos (figura 3.24). Normalmente, as cantoneiras são soldadas na viga (solda de
fábrica) e parafusadas no elemento de apoio (coluna ou outra viga); porém é usual
também utilizar somente parafusos (figura 3.24b).
Conforme já definido, uma conexão flexível é aquela que permite um giro
relativo entre os elementos conectados, superior a 80°/o do giro correspondente à
condição de apoio simples (rótula). Assim sendo, procura-se projetar a conexão de
modo que a restrição ao giro seja a menor possível, ou sej~ procura-se aproximar o \

máximo possível da condição de rótula perfeita.


Em vigas com seção "I", a maior parcela do momento fletor é equilibrada
pelas mesas, enquanto que a alma é o elemento responsável pela resistência à força
cortante. Desta form~ ao se procurar transmitir apenas força cortante, torna-se
claro que a conexão deve ser feita apenas através da alma, entretanto, alguma
restrição ao giro ocorrerá e este fato deverá ser levado em consideração no dimen-
sionamento da conexão.

I PARAFUSOS
l
PARAFUSOS

I
I
I
i
I
SOLDA rh ,..--
-
I
- - - - . ---·--,
I

1r
i
I
I

a) solda e parafusos b) apenas parafusos

Figura 3.24 - Conexões de extremidade de viga do tipo flexível


Estruturas Metálicas EESCIUBP Capitulo 3 - Solicitações em pandDsos e soldas 73

I Exemplo 3.91
Verificar a conexão flexível viga-coluna esquematizada a seguir, admitindo:

-parafusos ASTM A325, conexão do tipo contato. - ·/


-eletrodos AWS E60XX (fw = 415 MPa)
- metal base ASTM A36 (fy = 250 MPa; fu = 400 MPa)

VS 500x86

L 76 X 76 X 6,3 (A.Ll

v,l2 i i I
I
v,/2

I~ VIGA

Figura 3.25- Conexão do exemplo 3.9

a) estimativa da quantidade de parafusos:

Adotando-se diâmetro nominall9rnm (Ap = 2,85cm2)

~v= 0,65(0,42Apfu) = 0,65(0,42x2,85x82,5) = 64 kN/paraf

n= ,~,.R
vd. =
220
= 3,4 ~
fi
4 para usos
'!'v nv 64

Como tem-se cisalhamento +tração, adota-se 1,5n ~ 6 parafusos


Estruturas Metálicas EESCIUSP Capitulo 3 - Solicitaç6es em parafusos e soldas 74

'j

o
<:r

o
o(\J

o
<:r

b) verificação da solda cantoneira-alma:

Neste caso, tem-se dois grupos de cordões de solda sob cisalhamento excên-
trico, onde pela simetria, cada grupo de solda é solicitado por uma força igual à
metade de V d-

tI2 vd
= llOkN '
/

-G-+-1------"-+--)M, ·l
_'!_;__'
2 l

dimensão nominal da solda?

valor mínimo NBR 8800 ~ 3mm


valor máximo :N13R 8800 ~ t- 1,5mm = 6,3 - 1,5 = 4,8mm

Adota-se b = 5mm ~ garganta efetiva a = O, 7b = 3,5mm


F.slnizns Metálicas EESC!USP Capitulo 3 • Solicitações em parafusos e soldas 75

- propriedades geométricas da seção efetiva do grupo de solda:

)
2x6,6x3,3 I
"
X= 2x6,6+20 = 1,31 em :
J I
'l
J
[

A= LL;a; = 0,35(2x6,6+20) = 11,62 cm 2


\

I p =I X +I y = 742 cm 4

-tensões no ponto critico:


crítico

110
fv=l162=9,47
kN_iccmz
: fM

M
'

110x6,29 kN,i.
I
E:
I
fv

fM = r f= 742 10,09 = 9,41 Cffi2 u\ ---


1
~'
p
21 G

I
I

y
10 . kN~
fMx = fM r= 9A1 1009 = 9,33 _ cmz L
'}- ' 5,29 1,31

X 1,31
fMy = fM r= 9,4110,09 = 1,22
kNkCffi2 6,6

- tensão junto à face teórica de fusão:

\ fMB = f. ~ = 0,7x14,2 = 9,9 ~lcm2


Estruturas Metálicas EEBCIUSP Capitulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 76

- resistências de cálculo da solda:

- ruptura na seção efetiva:

+Rn = 0,75(0,6fw) = 0,75(0,6x41,5) = 18,7 k.N/cmZ > fs = 14,2 kN/cm2 [OKJ

- escoamento do metal base na face de fusão:

+Rn = 0,9(0,6fy) = 0,9(0,6x25) = 13,5 k.N/cmZ > fMB = 9,9 kN/cmZ (OK]

c) verificação dos parafusos:

Os parafusos críticos são os superior~ pois resultam solicitados à tração e


cisalhamento simultaneamente. A tração é proveniente do momento de extremidade
M 1 e o cisalhamento da ação combinada da força cortante Vde do momento M2 .
Devido à simetria, será analisado apenas um lado da conexão.

c.l) cisalhamento: considerando análise elástica (método vetorial)

~ 110 kN

T- -4~­
~1

o:
-+-- +--
t.!> M 2 =110x4,7=517 kN.cm

L-r+-
t
i

-f=
V
llOkN
~
.;('-/
VIGA

w 4 4 + 3 ,47mm

)
EstnJbns Metálicas EESC/UBP Capitulo 3 - Solicitações em pm'llfusos e soldas 77

v/
Fv = ~ = 1~O = 36,7 kN
-c _ M 2 _110x4,7 _ kN
J.'M- Z - 12 - 43

Fp = -136
'V '
72 +432 =56' 6 kN

c.2) tração: considerando distribuição linear de deformações

\--- -----~~~ --------------

.,.\
\
\
- -+-
i
~~- --T

T2 - \
\
\
\
\
-
) M l =110 X
~
6,29 =S29 kN.cm

:
1-
8......
~
- --
y; y
- ~ -~
---,j<-__!.....:~:......::....<;..J.::J _J__ ___j_

REGIÃO
COMPRIMIDA

. ./ . .:.

- posição da linha neutra


yz
M~ =M~ ~ 7,62=2,85{16-y)+2,85(10-y) ~ y=3,73cm

Como a linha neutra resultou abaixo do parafuso inferior, sua posição


deveria ser recalculada, pois todos os parafusos estio contidos na região tracionada
e a hipótese inicial não foi verificada. Entretanto, devido à pequena diferença entre
a posição do parafuso inferior e à da linha neutra, pode-se adotar o valor calculado.

- momento de inércia

3
,~ + 2,85(16- 3,73)2 + 2,85(10- 3,73)
33
I= 7,6 2
= 672 cm4
Estruturas Meáilicas EESC/USP Capitulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas IX

- força de tração no parafuso superior

M 110x6,29
Fl = - 1 (d 1 - y)Ap = (16- 3,71)2$5 = 36 kN
1 672

c.3) resistências de cálculo:

cisalhamento: tl>vRnv = 64 k.N/paraf (já determinado no item a)

pressão de contato em furo:


rasgamento entre furo e borda: a= e/d -11 2 = 32/19- O= 1,68 (crítico)
rasgamento entre furos: a= s/d -11 1 = 60/19- 0,5 = 2,66

tl>Rn = 0,75(a.Atfu) = 0,75(1,68xl,9x0,63x40) = 60,3 kN < 64 kN

Portanto, +vR.v = 60,3 kN/paraf. > FP = 56,6kN [OK]

tração: tl>tRnt = 0,75(0,75Ap±'u) = 0,75(0,75x2,85x82,5) = 132 kN/paraf

Portanto, +tRnt = 132 kN/paraf. > F 1 = 36 kN [OK]

:>f

cisalhamento +tração: cl»tRnt ~ 0,69Apfu- 1,93Vd =53 kN/paraf. >F 1 [OK]

d) verificação da cantoneira:

Verificam-se dois estados limites últimos: o escoamento por cisalhamento na


seção bruta e a ruptura por cisalhamento na seção líquida:

d.1) escoamento (seção 1):

•A15 =O , 63x20 = 12, 6 cm2


~Rn = 0,9(0,6.\-fy) = 0,9(0,6x12,6x25) = 170 k."N" > Vi2 = 110 k..N [OK]
Estruturas Metálicas EESCIUSP Capitulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 79

d.2) ruptura (seção 2):

An = 0,63[20- 3(1,9 + 0,15)] = 8,73 cm2


+Rn = 0,75(0,6Anfu) = 0,75(0,6x8,73x40) = 157 kN >Vd/2 = 110 kN- [OK]

SEÇÃO 2 , SEÇÃO 1
11/

SEÇÃO 1

o
o
N
)
SEÇÃO 2

Observações complementares:

Nos casos em que há recortes de encaixe na vig~ que é o caso típico de


conexão viga-vig~ há possibilidade de ocórrência de outro estado limite último.
denominado "cisalhàmento em bloco" (figura 3.26).
A NBR 8800 apresenta um critério simplificado de verificação (item
7.5.3.2), que consiste em admitir cisalhamento ao longo de toda a superficie crítica
ana~ ou sej~ a tensão de cálculo pode ser detenninada dividindo a força de
cálculo pela área (A,+ AJ aplicável, onde:

Av = área sujeita à tensões de cisalhamento.


f\ = área sujeita à tensões normais.

A resistência de cálculo, em termos de tensão, é tomada com base no


escoamento (para seção bruta) e ruptura (para seção líquida).

- escoamento para seção bruta: +Rn = 0,9(9,6fy)


-ruptura para seção líquida: +Rn = 0,75(0,6fu)
Estrutlns Metálicas EESC/USP Capitulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 80

ÁREA CRÍTICA

L;
\';RECORTE P/ ENCAIXE
ÁREA
...,...-rl--.../ Av

Figura 3.26 - Colapso por rasgamento (cisalhamento em bloco)

I Exemplo 3.10 I
Verificar a possibilidade de colapso por rasgamento na conexão apresentada
a seguir~ admitindo aço ASTM A36 e parafusos «P 19mm (furos c!>= 2lmm):

Av

v, ~95 kN!
o
<.0
......

tw= 5 mm

Figura 3.27 - Extremidade da viga do exemplo 3.1 O

-área bruta total: Ag = 0,5(16 + 3,4) = 9,7 cm2

-área líquida total: An = 0,5(16 + 3,4- 3x2,1) = 6,55 cm2


Estruturas Metálicas EESCIUSP Capitulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 81

Escoamento:

Ruptura:

3.8 - EFEITO ALAVANCA EM PARAFUSOS

O efeito alavanca nos parafusos (prying action) ocorre devido à excentrici-


dade entre a força externa aplicada e a linha de ação do parafuso, provocando um
acréscimo na força de tração no parafuso. É intuitivo imaginar que a intensidade
deste efeito está diretamente relacionada com a rigidez à flexão das partes envolvi-
das (figura 3.28), ou seja, o efeito alavanca é tão mais significativo quanto menor a
rigidez à flexão dos elementos conectados.

T+O

}2T ~ 2T

a) chapa "espessa'' b) chapa "fma"

Figura 3.28 - Efeito alavanca em parafusos

\
Estruú.ns Metálicas EESCIUSP Capítulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 82

Da figura 3.28 observa-se que que o efeito alavanca no primeiro caso (a) é
=
desprezível, ou sej~ Q O; enquanto que no segundo (b) seu valor pode resultar
elevado.
A avaliação do efeito alavanca (força Q) é compli~ o que fez surgir, ao
longo dos últimos anos, vários modelos teóricos para sua determinação. O modelo
mais simples, e por conseguinte, o mais utilizado, é o modelo de viga. Neste
modelo, considera-se uma faixa de largura constante "p", e admite-se por hipótese a
plastificação da seção 1-1 (figura 3.29). Admite-se também que a linha de ação da
força no parafuso (T + Q) é deslocada para a extremidade do furo devido à defor-
mação da chapa.

b
Q 2 1 '

Figura 3.29 - Efeito alavanca: modelo de viga

A largura de influência "p" é dada por:

- entre parafusos: p = 2pl


-entre parafuso e borda: p = P1 + P2

Pi é o menor valor entre e/2 ou b + d/2 (d = diâmetro nominal do parafUso)


P2 é o menor valor entre ~ ou b + di2
Eslrulunls Metálicas EESCIUSP Capítulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 83

Por hipótese, o momento iletor na seção 1-l é igualado ao momento resis-


tente de cálculo:

Na seção 2-2 admite-se a largura de contribuição "p- d", resultando:

A ex-pressão anterior refere-se à uma condição de resistênci~ pois se não for


satisfeita, significa que o momento M 2 é maior que o momento resistente de cálculo
(plastificação total da seção). É interessante observar que 8 é um parâmetro pura-
mente geométrico.
Das condições de equilíbrio, tem-se:

- M2 Tb1 -M1
Dfi
eme-se a- 8M
1
= õM 1

Analisando os valores de a., conclui-se que:

- se a > 1 ~ M2 > õM 1, ou sej~ a condição de resistência não é verificada.

- se a < O ~ não há efeito alavanca, ou seja, a hipótese adotada não se verificou.

- se O < a < 1 --;)- a hipótese adotada se verifica e a força Q é dada por:

Tb 1 -M
Q= I 1
a

onde M1 por h1pótese, é o momento resistente de cálculo (plastificação).


Estruturas Metálicas EESC/USP Capitulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 84

I Exemplo 3.11 I
Determinar o efeito alavanca na conexão apresentada a seguir, admitindo:

- modelo de viga.
- aço ASTM .A36 (fy = 250 MPa).
- parafusos tf> = 16mm.

L 30 _l 40

l,,i
- -
I

+ _L____ I I


Oi
~1138, ~
I[) I
oi
+--
1:1
<.DI
.-! '
I~ I 32
1:1 I I
or li


lf'l!

[__t
I L.-
I! I
11

1

Pd =180 kN (TOTAL)
I 150
t-----
I

Figura 3.30 -Conexão do exemplo 3.11

- distâncias de referência:

a 1 =a+ d/2 = 30 + 16/2 = 38inm


1
b = b - d/2 = 40 - 16/8 = 3 2mm

-largura de contribuição "p":

p 1 é o menor valor entre 50/2 ou 40 + 16/2 ~ p 1 = 25mm

P2 é o menor valor entre 30 ou 40 + 16/2 4 p 2 = 30mm

parafusos centrais: p = 2p 1 = 50mm (critico)


parafusos extremos: p = p 1 + p 2 = 55mm
Estruturas Metálicas EESC/USP Capitulo 3 - Solicitações em panrfusos e soldas 85

- força de tração na faixa analisada:

2Td = 180/3 = 60 kN (30 kN/parafuso)

-parâmetro geométrico õ:

~ - p - d - 50 - 16 - o68
o- p - 50 - '

- momento resistente de cálculo (plastificação ):

5xl,62
M1 = ~bMn = 0,9(1,5 6 25) = 72 kN.cm

- parâmetro a.:

Tb 1 - M 1 30x3,2 - 72
a = oMt = 0,68x72 = 0,49 < 1 _,. [OK]

- efeito alavanca Q:

_ Th 1 - M 1 _ 30x3,2 - 72 _ kN
Q- a· - 3,8 - 6 '3

Neste caso, o efeito alavanca representa aproximadamente 20% da força de


tração aplicada no parafuso. É importante frisar que o modelo de viga é conser-
vador, pois considera uma faixa isolada do elemento, desprezando o comporta-
mento de placa.
Ainda com relação ao exemplo anterior, qual a mínima espessura da chapa
de modo a não haver efeito alavanca?
Basta igualar o parâmetro a a zero, resultando:
Estruturas Metálicas EESCIUSP Capftulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 86

Th'-M1
a= õM1 Th'-M1-0
-

0,9(1,5
52
! 25) = 30x3,2 ~ t = 1,85 em

Mediante essa análise, seria necessário adotar chapa de 19mm (3/4") para
desprezar o efeito alavanca nos parafusos. Ao invés de se aumentar a espessura da
chapa, poderia adotar-se elementos enrijecedores. conforme figura 3.31, o que
reduz consideravelmente o efeito alavanca.

SOLDA

~\
' 1'1

+-1~1 +-
== ·~ -~1.; 1!1 f-~
= + .~~~==-to=~t
. :!: +- ENRI J EC E DOR

c.-+=·
- ;:~--
li .
1
+~ .

I !li
I

Figura 3.31- Enrijecedores transversais reduzindo o efeito alavanca


Estruturas Metálicas EESCIUSP Capitulo 3 - Solicitações em parafusos e soldas 87

3.9 - SOLDA DE COMPOSIÇÃO EM PERFIS

A fabricação de perfis através da composição de chapas é uma prática muito


comum no campo das estruturas metálicas. Esta prática surgiu em decorrência da
necessidade de se obter perfis diferentes dos laminados disponíveis no mercado.
Até a década de 50 tal composição era feita utilizando-se rebites, e a partir
do desenvolvimento das técnicas de soldagem, a grande maioria dos perfis com-
postos passaram a ser executados utilizando a solda elétrica.
No Brasil, devido à pequena gama de perfis laminados disponíveis e a total
inexistência dos laminados de abas planas (paralelas), resta apenas a opção dos
perfis soldados, que apesar de apresentarem custos mais elevados que os lami-
nados, apresentam como vantagem a total liberdade de escolha das dimensões da
seção transversal, respeitando, é óbvio, as espessuras disponíveis de chapas. Os
tipos mais comuns são os perfis "I" e caixão (figura 3.32).

I
I

SOLDA SOLDA/

a) perfil "I" b) caixão

Figura 3.32 - Perfis soldados

A solda de composição, que pode ser de filete ou de entalhe, deve resistir ao


fluxo de cisalhamento gerado entre as chapas componentes do perfu, permitindo o
trabalho conjunto dos elementos (alma e mesas). Da Resistência dos Materiais tem-
se que o fluxo de cisalhamento é dado por:

VM.
q = -c.t = I
Estn.úuru MeiD!icas EESC/USP Capitulo 3 - Solicitações em p811'8fusos e soldas 88

onde:
V= força cortante na seção.
I = momento de inércia em relação ao eixo de flexão.
Ms = momento estático correspondente à fibra analisada em relação ao CG.
t = espessura da seção junto à fibra analisada.

Nas seções delgadas de abas largas, que é o caso das seções "I" ou caixão
usuais, a tensão de cisalhamento pode ser admitida uniformemente distribuída na
alma, desprezando a contribuição das mesas, o que implicará num erro relativa-
mente pequeno (figura 3.33).

,_1max-
--IH----- -- 9
7

Figura 3.33 - Cisalhamento em seção "I"

Com essa aproximação, o fluxo de cisalhamento na interface mesa-alma é


obtido por:

onde 'tm é a tensão de cisalliamento média na alma e h é a altura da alma.

Quando o perfil soldado é projetado para uma detenn.inada utilização, é


conhecida a força cortante atuante e a solda pode ser dimensionada para esta força
cortante. Entretanto, na maioria dos casos, os perfis são fabricados para uso geral,
. não se sabe onde e como serão utiiizados. Nesses casos, a soida de compo-
ou seja, -
sição é dimensionada tomando-se por base a resistência de cálculo à força cortante
da seção.
Estruturu Metálicas EESCIUSP Capitulo 3 -Solicitações em parafusos e soldas 89

I Exemplo 3.12 l
Verificar a solda de composição do perfil apresentado a seguir, admitindo:

- aço ASTM A36 (fy = 250 MPa).


-solda de filete; eletrodo AWS classe 70 (fw = 485 MPa).

!
5 J
6,3 ~I
i
L() I

~I

Figura 3.34- Perfil soldado do exemplo 3.12

- resistência de cálculo da seção à força cortante:

- fluxo de cisalhamento na interface mesa-alma:

q -- V - 361 - 8 49 kN I
h - 42,5 - ' I em

-resistência de cálculo da solda por centímetro de comprimento:

ruptura: ~Rn = 0,75(0,6Awfw) = 0,75(0,6x0,35x48,5)2 = 15,3 kN/cm


escoamento: +Rn = 0,9(0,6Aw3fy) = 0,9(0,6x0,5x25)2 = 13,5 kN/cm (crítico)

Portanto, +Rn = 13,51ú~/cm > q = 8,49 kN/cm [OK]


CAPÍTUL04

CÁLCULO DE EMENDAS EM BARRAS

Na grande maioria das estruturas metálicas é inevitável a execução de


emendas em barras, seja pelo comprimento máximo disponível dos perfis lamina-
dos ( 12 metros) e chapas, ou mesmo por limitações de transporte e/ou montagem
dos elementos. Normalmente, as emendas de fábrica são soldadas e as de campo
(obra) parafusadas, uma vez que as condições de soldagem na obra quase sempre
são desfavoráveis implicando em má qualidade da solda.
De maneira geraL uma emenda deve ser projetada de modo a resistir aos
esforços solicitantes atuantes na barra, ou ao menos 50% de sua capacidade, evi-
tando ao máximo concentrações de tensão. Além disso, deve-se detalhar a emenda
de modo que sua execução seja a mais fácil possível, ou seja, evitar soldas de
execução complicada e instalação de parafusos em locais de dificil acesso.
Neste capítulo serão apresentados alguns exemplos referentes a casos fre-
quentes de emendas em barras solicitadas axialmente (tração ou compresão) e em
barras fletidas.

4.1- EMENDAS EM BARRAS SOLICITADAS AXIALMENTE

4.1.1- Emenda de cantoneira simples

Neste caso, geralmente a emenda é feita através de uma cobrejunta em


cantoneira, de mesma seção transversal da barra a ser emendada, o que garante que
a tensão média na cobrejunta será a mesma da barra (igualdade de áreas).

I Exemplo 4.1 I
Dimensionar a emenda de uma barra tracionada constituída por uma canto-
neira L 64x64x6,3, admitindo conexão do tipo atrito.

-parafusos q, 12,5mm; ASTM A325 ---+ fu = 825 MPa


- metal base ASTM A36 ~ fu = 400 MPa
-solicitação: N = 100 kN (nominal); Nd = 140 kN (cálculo)

- resistência de cálculo da barra:


c
tPtRnt = 0,9(Agfy) = 0,9(7,67x25) = 172 kN

Como Nd = 140 kN > 50o/o(<PtRnJ, a emenda deve ser dimensionada para Nd.
Estruturas Metálicas EESCIUSP Capitulo 4 - Cálculo de emendas em barras 91

- resistência ao deslizamento:

«PvRnv = l,O[~(Tb- T)] = 1,0(0,28x53) = 14,8 k.N/paraf


-\ ' ' - ' '
j'-1 1\

onde T b = O, 7 Arfu = O, 7x0,92x82,5 = 53 kN

N 100
n= R ~
th
'fv zrv
=
14' 8 = 6,7 7 parafusos

Obs: a resistência ao deslizamento é um estado limite de utilização, portanto foi


verificada com base na solicitação nominal. Porém, é necessário que se verifique
também o estado limite último (contato) com base na solicitação de cálculo.

- resistência de cálculo à força cortante:

~vRnv = 0,65(0,42Apfu) = 0,65(0,42xl,26x82,5) = 28,4 kN/paraf (crítico)

- pressão de contato em furo:


rasgamento entre furo e borda: a= e/d -11 2 = 30/12,5- O= 2,4
rasgamento entre furos: a= s/d -11 1 = 50/12,5 - 0,5 = 3,5

~Rn = 0,75(a.AJ'u) = 0,75(2,4x1,25x0,63x40) = 56,7 kN/paraf

Nd 140
n= A R = 284 =4,9 ~ 5 parafusos
'+'v nv '

Concluindo, são necessários 7 parafusos.

L30 50 50 50 30 Jp-
lO

'''.
Ii
--- --- - ----,~-.-----:----;---.-- r--
(

. ' ·:: 11 ' I ' .. I ' -

I
I
I
55 50 50 55 J
I
I
'
I

430
I
'

Figura 4.1 - Emenda parafusada em cantoneira simples: exemplo 4.1


Estruturas Metálicas EESC/USP Capitulo 4 - Cálculo de emendas em barras 92

4.1.2 - Emenda em c~toneira dupla

No caso de dupla cantone~ um dos esquemas mais utilizados é o apresen-


tado na figura 4.2, que consiste em se adotar como cobrejuntas, duas cantoneiras
laterais e uma chapa de miolo, sendo que a áre~ total das cobrej"u~Aeve s~_
-~~r <:)Ujê!~- 4 ár~ da. d11pl~ canton~ira._N este caso, os parafusos que inter-
ceptam a chapa de miolo apresentam quatro planos de corte, enquanto os outros.
apenas um plano de corte.

I Exemplo 4.2 I
Dimensionar a emenda do banzo inferior da treliça esquematizada a seguir.
com seção constituída por dupla cantoneira 2L 76x76x5, admitindo duas situações:
emenda parafusada e emenda soldada.

-parafusos comuns ASTM A307; ~ 16mm (Ap = 1,98 cmZ)


- metal base ASTM A36
-eletrodos AWS E60:XX (fw = 4151v1Pa)
- solicitação de cálculo: Nd = 250 kN

.JL 76 X 76 X 5
2
Ag = 14 cm

SEÇÃO DA BARRA

- resistência de cálculo à tração da barra:

~tRnt = 0,9(Agfy) = 0,9(14x25) = 315 kN

Como Nd = 250 kN > 50o/o(<PtKnt), a emenda deve ser dimensionada para Nd.
Estruturas Metálicas EESCIUSP Capitulo 4 - Cálculo de emendas em barras 93

a) emenda parafusada:

- área das cofmtiuntas:


elemento seção área(cm2 )
I
cantoneira lateral (2X) L64x64x5 2x5,80
chapa de miolo 6,3x76 4,80
2: I 16,40

A área total das cobrejuntas é maior que a área da barra ~ OK

Admitindo-se compatibilidade de deformação na seção da emenda, o qui-


nhão da força normal transmitido por cada elemento é proporcional à sua área:

AlL 5,80
NlL =LA Nd = 16,4 250 =88,5 kN
ACH 4,8
N CH = LA N = 16,4 250 = 73 kN
d

- resistência de cálculo à força cortante por plano de corte:

«PvRnv = 0,6(0,42Apf'u) = 0,6(0,42xl,98x41,5) = 20,7 kN


A quantidade e a distribuição dos parafusos na emenda podem ser defmidas
em função do número de planos de corte necessários para cada elemento de
cobrejunta. Neste exemplo, os parafusos que interceptam a chapa de miolo são
denominados parafusos Pl (quatro planos de corte) enquanto os outros, P2 (um
plano de corte).

- quantidade de planos de corte necessários por elemento (m):

chapa de miolo: m = 73/20,7 = 3,5 ~ 4 planos de corte


como há dois planos de corte, são necessários 2 parafusos Pl

p/ uma cantoneira lateral: m = 88,5/20,7 = 4,3 ~ 5 planos de corte


descontando-se os dois parafusos Pl, portanto dois planos de corte, tem-se:
5 - 2 = 3 planos de corte, portanto, mais 3 parafusos P2.
EsCruturas Metálicas EESC/USP Capitulo 4 - Cálculo de emendas em barras 94

r- 60 r 60 + 60 ---j ~
I 1 i

.____ :: )
(
-~

'
-
li
li
li
·+--+
I
(
I
----~
I I I

I I r I! ! :
'

+ I~
I
Í30 60 i 60 30 10 por. P2 /

370

Figura 4.2- Emenda parafusada do exemplo 4.2

- pressão de contato em furo:


rasgamento entre furo e borda: a = e/d -11 2 = 30/16 - O = 1,87 (crítico)
rasgamento entre furos: a= s/d -11 1 = 60/16- 0,5 = 3,25

<I>Rn = 0,75(a.Aj,fu) = 0,75(1,87x1,6x0,5x40) = 45 kN/paraf > 20,7 kN [OK]

É sempre interessante proceder à uma verificação da resistência total da


emenda, em função da quantidade total de planos de corte existentes:

parafuso quantidade planos de cortes/paraf total de planos corte

Pl 2 4 8
P2 6 1 6
L 14

Resistência total= 14 x 20,7 = 290 kN > Nd = 250 kN (OK]

b) emenda soldada:

- area das cobre.~untas


elemento seção área(cmZ)

cantoneira lateral (2='º L 50x50x5 I 2x4,58


chapa de miolo 6,3x116 ,
730
L 16,46
Estruturas Metálicas EESC/USP Capitulo 4 - Cálculo de emendas em barras 95

- quinhão de força normal transmitido por cada elemento:

NCH = ~Ã Nd = ~~:~6250 = 110 kN


dimensão nominal mínima da solda: bmin = 3nnn
dimensão nominal máxima da solda: bmax = 5nnn

~ Valor adotado = bmin = 3mm (garganta efetiva a= 0,7x3 = 2,1mm)

-resistência de cálculo do filete por centímetro de comprimento:

ruptura na seção efetiva: ~Rn = 0,75(0,6x0,2lxl,Ox41,5) = 3,9lc"N/cm

escoamento na face de fusão: ~Rn = 0,9(0,6xi),3xl,Ox25) = 4,1 kN/cm

Concluindo, +Rn = 3,9 kN/cm

- comprimentos de solda:

chapa de miolo:

NCH 110
2:L, ="'R = 39 = 28 em
'r n '

p/ 4 cordões de solda ~ LcH = 28/4 = 7 em

cantoneira lateral:

"" NlL 70
~L.= "'R = 39 = 18 em
o/ n '
Estroturas Metálicas EESC!USP Capítulo 4 - Cálculo de emendas em barra<; 96

Adotando-se filetes transversais e longitudinais, tem-se:

comprimento total da solda transversal = 1O em


comprimento necessário da solda longitudinal = 18 - 1O = 8 em

p/ 2 cordões --;)- L 1L = 8/2 = 4 em

Do ponto de vista da resistência de cálculo da solda, bastaria adotar compri-


mentos de 7cm para a chapa de miolo e 4cm para a cantoneira lateral, porém é
conveniente adotar comprimentos superiores à duas vezes à distância entre cordões
de solda, amenizando os efeitos de concentração de tensão. Desta maneira, neste
caso resulta um comprimento mínimo igual a 2x7,5 = 15cm.

3VL\ l
I 3

I
'\1
L
J I
J I
li
\ li
?
150 lO 150
I
I

i
310 i
I

Figura 4.3 - Emenda soldada do exemplo 4.2

4.1.3 - Emenda em perfis "I"

Neste caso adotam-se cobrejuntas na alma e nas mesas, buscando-se sempre


distribuir os parafusos ou os cordões de solda proporcionalmente aos quinhões de
força normal distribuídos por cada elemento (alma e mesas). Nas emendas de
fábrica pode-se adotar solda de topo, eliminando cobrejuntas, porém, tal solda deve
sofrer algum tipo de inspeção para comprovar sua qualidade.
Estruturas Metálicas EESCIUSP Capitulo 4 - Cálculo de emendas em barras 97

I Exemplo 4.3 I
Dimensionar a emenda da barra tracionada apresentada a seguir, constituída
de perfil soldado CS 400xl07, admitindo:

-parafusos q, 19mm : ASTM A325 (fu = 825MPa)


- conexão tipo atrito
- metal base: aço ASTM A36
-solicitações: N = 2.190 kN (nominal); Nd = 2.950 kN (cálculo)

400
i
área da seção:

alma 0,95x37,5 = 35,6 cm2


6~
I
· ao so
!
60 ao i 60

mesa: 1,25x40 = 50 cm2 i6j


'

total: Ag = 35,6 + 2x50 = 135,6 cm2 o


N 'I ~+=--
I
~\.../"'CH. 6,3

ª'@l -
r<)

l --
. . <J
il
~CH.6,3

; ! I
-~
180 i
I
Esquema adotado inicialmente

A.s cobrejuntas de alma e mesas devem ser adotadas de maneira que sua
área seja igual ou maior que a área do respectivo elemento conectado. Observar
que no esquema inicialmente adotado (figura anterior), os parafusos de alma e
mesas são solicitados a corte duplo.

área da cobrejunta de mesa: Acr= 0,63x40-+- 2x0,63xl8 = 48 cm2


área da cobrejunta de alma: Acw = 2x0,63x32 = 40.3 cm2
área total Atotal = 2x48 + 403 = 1363 cm2 > Ag = 135.6 cm2 [OK]

- resistência de cálculo à tração da barra:

<b..N~ = 0.9( A.f.) = 0.9(135.6x25) = 3.05lkN


ll 11 ' ' ~ y/ ' /

Como Nd = 2.950 k...~ > 50%(~tNJ = 1.525 kN ~ dimensionar emenda para Nd


Estruturas Metálicas EESC!USP Capitulo 4 - Cálculo de emendas em bam!s 98

- quinhão da força normal transmitido por cada elemento:

Acf 48
Nf =LA N = 136~32.190= 771 kN
Acw
40,3
Nw =LA N = 136,3 2.190 = 647 kN

- resistência ao deslizamento por parafuso:

Tb = 0,70(A/u) = 0,7(2,15x82,5) = 124 kN

$v:Rnv = 1,0[~(Tb- T)] = 1,0(0,28x124) = 34,7 kN/plano de contato

para dois planos de contato: $vRnv = 2 x 34,7 = 69,5 kN/parafuso

- quantidade de parafusos:

para uma mesa: n = 771/69,5 = 11 ~ 12 parafusos

na alma: n = 647/69,5 = 9,3 ~ 9 parafusos

- verificação da resistência total ao deslizamento:

L: $vRnv = (2xl2 + 9)69,5 = 2.293 kN > N = 2.190 kN [OKJ

- verificação do estado limite úhimo (conexão tipo contato)

resistência de cálculo à força cortante por plano de corte:

$vRnv = 0,65(0,42Apfu) = 0,65(0,42x2,85x82,5) = 64,2 kN

para dois planos de corte ~ $vRnv = 128 kN/parafuso

L: $vRnv = (2x12 + 9)128 = 4.224 kN > Nd = 2.950 kN [OK]


Estruturas Metálicas EESC/USP Capítulo 4 - Cálculo de emendas em barras 99

- pressão de contato em furo:


rasgamento entre furo e borda: a = e/d -11 2 = 50!19 - O = 2,63 (critico)
rasgamento entre furos: a = s/d -11 1 = ?Oi 19 - 0,5 = 3,18

alma: ~Ru = 0,75(a.AJ'u) = 0,75(2,63x1,9x0,95x40) = 142 kN/paraf > 128 ki"J


mesa: ~Ru = 0,75(aAJ'u) = 0,75(2,63x1,9x1,25x40) = 187 kN/paraf > 128 kN

CH.6,3

....
f
fi
-I I
'r
s ~ ..l,. i
..!..
r·'I
,,
IJ

[
~---~

~
"F'
i I
..i.. ..1.. lil
f' I
T ~li
I I li

50 60

Figura 4.4 - Emenda parafusada do exemplo 4.3

4.1.3 - Emenda em colunas

Em geral, as colunas para edificios de múltiplos andares são fabricadas em


comprimentos correspondentes a dois andares, pois elementos maiores acarretam
dificuldades no transporte e na montagem. No caso de número ímpar de andares.
um dos trechos poderá corresponder a três andares ou a apenas um andar.
As emendas das colunas são geralmente executadas 50 a 60cm acima do
piso acabado, evitando-se assim interferências com as conexões viga-coluna. Nos
casos de solicitações relativamente altas, as super:ficies de contato das colunas a
serem emendadas devem ser usinadas propiciando um contato perfeito de toda a
seção. O termo "usinado" significa que a superficie foi trabalhada. cortada c
acabada, de forma a constituir uma superficie ideal.
Estruluras Metálicas EESCIUSP Capitulo 4 - Cálculo de emendas em barras 100

Nos casos de elementos puramente comprimidos com superfícies usinadas, a


força normal pode ser admitida como sendo totalmente transferida pelo contato,
porém, há necessidade de se prever outras formas de conexão, mantendo as partes
alinhadas durante a montagem. Além disto, sempre há ocorrência de momento
fletor e força cortante nas colunas, o que reforça a necessidade de se adotar talas de
emenda parafusadas (figura 4.4a) ou mesmo junta soldada (figura 4.4)-
A NBR 8800 apresenta algumas condições específicas para o caso de barras
comprimidas transmitindo esforços por contato (item 7.1.5):

-em colunas cujas extremidades são usinadas, as ligações das extremidades


com as placas de apoio ou as emendas, devem ser feitas com parafusos ou soldas
capazes de manter em suas posições, com segurança, todas as partes conectadas.

-outras barras comprimidas com extremidades usinadas, transmitindo esfor-


ços por contato, devem ter meios e elementos de ligação posicionados de modo a
manter alinhadas todas as partes conectadas, sendo dimensionadas para resistir a
pelo menos 50% da compressão de cálculo.

- em ambos os casos anteriores, as ligações citadas devem ser dimensionadas


para resistir também a 100% das solicitações de cálculo que não sejam transmitidas
por contato, incluindo casos de inversão de esforços.

-
I - ,. . .,. TA LAS I
,/~ I
I
i
r v
SOLDA DE
ENTALHE

SUPERFÍCIES
~ USINADAS j_
- 1- ·- ~

v - - -
~
" ~FIXAÇ
I
- ÃO DE
MONT AGEM
! ' ~

l '
~ _j -

(a) parafusada (b) soldada

Figura 4.4 - Emenda de coluna


Estruluras Metálicas EESCIUSP Capitulo 4 - Cálculo de emendas em b81T8S 101

4.2 - EMENDAS EM BARRAS FLETIDAS

Nas barras fletidas de seção delgada, as mesas equilibram a maior parcela


do momento fletor, enquanto a alma equilibra, quase que totalmente, a força
cortante. Com isto, se na seção da emenda houver momento fletor e força cortante,
é necessário que se faça a conexão das mesas e da alma.
Nas emendas de campo é usual a utilização de cobrejuntas parafusadas na
alma e nas mesas, enquanto que nas emendas de fábrica é comum a utilização de
cobrejuntas soldadas ou mesmo junta de topo soldada (figura 4.5).

I I I

'
11 '
- I' .l..
li
li
- -
::
li
"!"

'
I li
I

(a) cobrejuntas e parafusos

SOLDA DE
v
v
\ I / ENTALHE

J IY
v
li
'J
li
li
I:
I
0
11

(b) cobrejuntas e solda (c) solda de topo

Figura 4.5 - Emenda em barras fletidas: seção "I"

I Exemplo 4.4 I
Dimensionar a emenda da viga esquematizada a seguir, admitindo:
-parafusos q, 19mm; ASTM A325 (fu = 825 MPa)
- conexão tipo contato, rosca inclusa no plano de corte
- metal base ASTM A36 (fu = 400 MPa)
Estruluras Metálicas EESCIUSP Capítulo 4 - Cálculo de emendas em barras 102

1 vs 6ooxl25 1
EMENDA
~o,·320kN
_K_
l 4m
~l 4m
~
l 4m o
o
~ 1 1 <.D
:

~ 12m
1 1
1--t=~:~0'1 I
..... f 300

- Esforços solicitantes de cálculo na seção na emenda:

Mct = 160 x 4,0 = 640 kN.m


vct = 160kN

50 100 j_ 50 10
L
I

'
!

i
I
I
J.r- \
'
'
60_ 1---
100
-!----
li
·IJ
1.1
-111
(
Ir
420 100 I -~~~ -

- f--- .!... jll


100 I ~~~
_1'1
I 60 I--'
I II
111
I I

II e=l05

Esquema inicialmente adotado

- Distribuição dos esforços:


A conexão de alma é solicitada pela totalidade da força cortante e uma
pequena parcela do momento fletor, consistindo num caso de grupo de parafusos
sob cisalhamento excêntrico. As conexões das mesas são solicitadas por forças de
tração (mesa inferior) e compressão (mesa superior), correspondentes à parcela
restante do momento fletor.
Estruturas Metálicas EESCIUSP Capitulo 4 - Cálculo de emendas em barras 103

A distribuição do momento fletor é feita com base na compatiblidade de


curvaturas na seção na emenda, ou seja:

o índice "w" refere-se à alma e "f' à mesa.

~30l CH.92,~ ,

~~~
CH. 6, 3"'
210
X-·-· 600

210

F ===§ _______.,__
~ 300 I·

seção da emenda

Momento de inércia da alma:

Momento de inércia das mesas:

I f= 2(0,95x30x30,4'P)+4(0,95xl3x27,62 2 ) = 90.605 cm4

Momento de inércia total: I= 7.780 + 90.605 = 98.385 cm4

Quinhões de momento fletor:

I 7.780
M._ = j Md = 98385 640 =51 kN.m

~
Mr = yMd = 98.385 640 =) 89
Ir 90.605 kN
.m
Estruturas Metálicas EESCIUSP Capí1nlo 4 - Cálculo de emendas em barras 104

-resistência de cálculo do parafuso à força cortante:

<l>v.Rnv = 0,65(0,421\fu) = 0.65(0,42x2,85x82,5) = 64 kN/ plano de corte


para dois planos de corte: <l>v.Rnv = 128 kN

-verificação dos parafusos de alma:


~este caso tem-se um grupo de parafusos sob cisalhamento excêntrico. CUJC'
momento de torção é dado pelo quinhão de momento na alma Mw acrescido do
momento provocado pela excentricidade da força cortante em relação ao centro de
gravidade do grupo de parafusos .6M. Adotando-se o método vetoriaL tem-se:

EMENDA

~ e=lOS v
1 .,

vd =160kN
Md = Nl + LlM = 5.100 + 160xl 0,5 = 6.780 kN. em
Força no parafuso crítico (posições L 4, 5 e 8):

E = vd
n
= 16o = 20 kN
v 8

M 6.780
FM = Liiz I; = 1200 15,81 = 89,3 kN.cm

Fp = ~84,82 +(28,2 +20)2 = 97,5 kN < ~vRnv = 128lú"\J [OK]


EstnBuras Metálicas EE8CIUSP Capitulo 4 - Cálculo de emendas em b81TSS 105

- verificação dos parafusos de mesa:


O momento fletor é traduzido num binário, provocando cisalhamento nos
parafusos, cujo valor é dado por:

número de parafusos:

T 1.014
n = ~ftnv = 128 = 7,9 --+ 8 parafusos

- pressão de contato em furo:

rasgamento entre furo e borda: a.= e/d -11 2 = 50/19- O= 2,63 (crítico)
rasgamento entre furos: a= s/d -11 1 = 100/19-0,5 = 4,76

f r ', alma: <f>Rn = 0,75(a.Atfu) = 0,75(2,63xl,9x0,8x40) = 120 kN/paraf


Como <f>Rn = 120 kN > FP = 97,5 kN ~ OK

mesa: <PRn = 0,75(a.Atfu) = 0,75(2,63xl,9x1,9x40) = 285 kN/paraf > 128 kN

;i(
I
I
"
li
) _L,
-
li
-:I
- -
- - ,, -

1•1
- -i/
li
liI

Figura 4.6 - Emenda do exemplo 4.4


CAPÍTULOS

BASES DE COLUNAS

A extremidade inferior das colunas, denominada "base da coluna", deve ser


projetada de modo a transmitir adequadamente as solicitações atuantes ao elemento
de apoio, que normalmente é de concreto armado.
A..ssim como nas conexões viga-coluna, pode-se classificar as bases de colu-
nas em três categorias, de acordo com a restrição ao giro: bases rígidas, t1exíveís e
semi-rígidas. Ao detalhe adotado para a base corresponde um tipo de comporta-
mento, daí a importância deste detalhe ser compatível com as hipótese adotadas no
cálculo dos esforços na estrutura. As figuras 5.1 e 5.2 ilustram exemplos de bases
flexíveis e rígidas, respectivamente.

placa de
base

'b,· €1-9.

chumb.

Figura 5.1- Bases flexíveis: exemplos

~:/e~
. ~ I
.j..6::j .
chumb.
, •, ! L chumb.

Figura 5.2- Bases rígidas: exemplos


Eslruturas Metálicas EESCIUSP Capl1ulo 5 -Bases de col11118S 107

5.1- PRESSÃO DE CONTATO EM APOIOS DE CONCRETO

Antes de se abordar o projeto da base da coluna propriamente dita. é pn-


mordíal que se conheça a resistência do concreto à pressão de contato, uma vez que
o esmagamento do concreto também constitui um estado limite último. A norma
brasileira NBR 8800, item 7.6.1.4, apresenta uma expressão para a determinação
da resistência nominal do concreto à pressão de contato:

onde:
A 1 =área carregada sob a placa sob a placa de apoio.
A2 = área da superficie de concreto.
fck =resistência característica do concreto à compressão.

A resistência de cálculo é dada «PRn sendo~= 0.70.

Nota: quando os contornos não forem homotéticos-, a resistência nominal Rn pode


ser detenninada pela expressão anterior, porém a área A2 deve ser calculada
conforme indicado na figura 5.3.

---------71
\ 111
\ I I area carregado
\ I I Al
I
\~ / I
\~I I
\ / I // ' qs,.
\ I
/X
I
I A
/
----7:______ .: ,. P.i:Jo•
'- ,. ~· p ·-·.a

I \ I -; ~.'
I
I \
\
I
I
área A 2 ~
I \
I \ I
I
1 contorl")o. \ 1
homotet tco ef1\
relacão a A 1 \
1 CORTE (&
1
---------~

PLANTA

Figura 5.3- Pressão de contato em concreto: determinação da área A2


Estruturas Metálicas EESC!USP Capitulo 5- Bases de colunas 108

5.2 - BASES FLEXÍVEIS

Neste caso o detalhe da base deve ser tal que a restrição ao giro seja a menor
possível. Normalmente adota-se uma placa de base e dois chumbadores posiciona-
dos junto à linha de centro da seção (figura 5.4), pemritindo que ao menos uma das
extremidades da base possa se deslocar livremente. Se a rigidez à flexão da placa
de base for relativamente alta, pode-se admitir que a pressão de contato seja
uniformemente distribuída ao longo da área da placa. Os chumbadores são
dimensionados em função da força cortante "V", desprezando-se a força de atrito
mobilizada entre a placa de base e o apoio de concreto. Em alguns casos. este~
podem ser substituídos por barras de cisalhamento.
É importante lembrar que no caso de colunas com grandes dimensões. c
consequentemente com grandes esforços, deve-se projetar aparelhos de apo1o
especiais com o objetivo de reduzir ao máximo a restrição ao grro.
compatibilizando-os com as hipóteses de cálculo.

!N H

__,-,--.___J_J.\Ir-'- - - . . , . . . _

r -~ ~-

-
-~ ~-
'-

~chumbadores

- I
I
N
vv p= -s.H"' barra de cisalhamento
ao invés de chumbadores
tttt ttfJ (~olda

-~ :'·5 ç /

. J·,.

Figura 5.4- Base flexível: detalhe típico

Tendo-se em vista a dificuldade de se avaliar os esforços na placa de base.


através de cálculos manuais, o manual do AISC apresenta um método simplificado
com boa aceitação no meio técnico e que vem sendo amplamente utilizado.
O momento fletor máximo é obtido tomando-se uma faixa em balanço da
placa, com largura unitária, cujo comprimento é definido mediante duas conside-
rações:
Eslruturas Metálicas EESCIUSP Capitulo ~ - Bases de coiUIIIJS 109

a) balanços externos "m" e "n": são deftnidos em função de um retângulo ftctício de


lados (0,95d) e (0,8br), conforme ftgura 5.5.

FAIXA EM BALANÇO

1. m ou n 1.

n 1 ~ se cão
--.Ji!.-
t~
j l

ttttth
I . ! "-P

m 0.95 d

H
m
n

Mr
Figura 5.5 - Método do AISC: balanços externos

A força normal Nct é admitida uniformemente distribuída ao longo da área


da placa de base (B x H), e o máximo momento fletor é obtido em função do maior
valor do balanço externo "m" ou "n". A espessura da placa é defmida admitindo-se
plasti:ficação total da seção.

onde:
Pd = pressão de contato (valor de cálculo).
A 1 = área da placa de base (B x H).
t = espessura da placa.
Mct =máximo momento de cálculo.
<Pb1-fn =resistência de cálculo ao momento fletor, admitindo-se plasti:ficação total.
Estruturas Metálicas EESCIUSP Capitulo 5 - Bases de colmas 110

Igualando-se o máximo momento de cálculo à resistência de cálculo ao


momento fletor, obtém-se a espessura da placa "t".

b) balanço interno "c": é defmido em função de uma área interna efetiva AH obtida
sob a hipótese de que nesta área atua uma pressão de contato p 0 igual à resistência
de cálculo à pressão de contato 4>Ru. A figura 5.6 ilustra esta área efetiva.

c • ~ t f/2
p I
,
4
I
I
!,
1 n
I

Figura 5.6- Método do AISC: área interna efetiva

Neste caso, a resistência de cálculo à pressão de contato deve ser calculada


tomando-se Al = br X d ao invés de B X a ou seja:
F.strulm'8S Metálicas EESCIUSP Capitulo 5 - Bases de colllllliS 111

Como força normal, considera-se apenas o quinhão da força normal total N d


atuante na área br x d, dado por:

Com N 0 calcula-se a pressão de contato efetiva p 0 e a área efetiva AH:

Po =~o = ~Rn
H
(por hipótese)

Novamente, admitindo-se plastificação total da seção da placa, tem-se:

(MJ. = p2cz

Concluindo, a espessura da placa é dada pelo maior valor entre 1m , 111 e te.

l Exemplo 5.1 I
Dimensionar a base da coluna em perfil CS 400xl65, sujeita à força normal
de cálculo Nd = 1.850 kN e cortante de cálculo Vd = 190 k.N, admitindo:

Aço ASTM A36 p/ placa de base (fy = 250 MPa)


Aço SAE 1020 p/ chumbadores (fu = 380 ~fPa)
Concreto fck = 20 MPa
Estruturas Metálicas EESCIUSP Capítulo -' - Bases de colunas 112

a) placa de base

-resistência de cálculo do concreto à pressão de contato:

Admitindo-se A2/ A 1 = 1,0 (pior situação):

~Rn = 0,7(0,7fck) = 0,49x2,0 = 0,98 ~~mz


- área mínima necessária da placa de base A1:

Nd 1.850 ,
Al = 'flA-R = O98 = 1888
o
. cm-
'

Adotando-se B = H = 450mm, tem-se:

1,. H =450
i
1 ! ---,;c
- __& - 1.850 - kN;/ i

Pd- B.H- 45x45- 0,9 l Ir _____ ,_ __ --r-r 65


I
/ cn12 -.r-
I . I
I 1 I
m=35mm
o
1.{)
I! -
I ! 320
n=65mm
<j"
11
I I I
co I I I
I : I
Lr-----l.---- W

380

- área interna efetiva AH:

N 0 = plbrd) =0,91(40x40) =1.456 kN

Tomando-se A1 = br-d, obtém-se o valor ~Rn correspondente:


Esà'uturaa Metálicas EESCIUSP · Capitulo S - Bases de colmas 113

_J j45x45) _
cj>Rn - O, 1~0,7x2,0"\j 40x4 0 - 1,1 O
kN/
1 em2

N0 1.456 2
AH = cj>Rn = 1JO = 1.324 em

1
c = [40 + 40- 1,9- ~(40 + 40- 1,9) 2- 4(1.324- 40x1,9) J = 11,2 em
4

Admitindo-se plastificação total da seção da placa, obtém-se a espessura ''t":

I 2p0
~
/2x1,10
te= c o9f = 11,21/Q 9x25 = 3,5 em
' y v '
Portanto, tomando-se o maior valor encontrado para t, adota-se CH 38mm.

Obs: a espessura da placa de base pode ser reduzida adotando-se enrijecedores, o


que altera as condições de vinculação da placa aliviando os esforços.

b) chumbadores

Os chumbadores são dimensionados em função da força cortante na base,


vd = 190kN
- resistência de cálculo à força cortante por chumbador:

-adotando dois chumbadores, tem-se:

~ = 3,55 em (adota-se <f>= 38 mm)

\
Estruturas Metálicas EESCIUSP Capítulo 5 -Bases de colmas 114

en r i j ecedo res

225 225 225 225

-~ ~-
o
L() -
<;j"

-~ ~-
J___
--+---< 41 chumb. 0 38

(a) sem enrijecedores (b) com enrijecedores

Figura 5. 7 - Detalhe da base da coluna do exemplo 5.1

5.3 - BASES RÍGIDAS

Neste caso a restrição ao giro deve ser a maior possível, aproximando-se da


hipótese assumida no cálculo da estrutura, ou seja, engastamento. Com isto, além
da força normal e força cortante, atua momento fletor.
O detalhe normalmente usado consiste em se adotar uma placa de base e
chumbadores afastados em relação à linha de centro da seção (figura 5.8), os quais
geralmente resultam tracionados, portanto, quanto mais af~"tados maior o braço de
alvanca e, consequentemente, menor a força de tração.
Estruturas Metálicas EESCIUSP Capitulo 5 - Bases de çollXIIIS 115

I>E chumbadores
tracionados
enrijecedor

B -
-~ ~-

.__
I
I
I
I
-·-_.__
i

-~
I
'COmpressão

Figura 5.8 - Bases rígidas: detalhes típicos

Tomando-se o caso da flexo-compressão, há duas possibilidades a analisar:

O ponto de aplicação da força normal está contido dentro do núcleo central


da seção, portanto, há pressão de contato ao longo de toda a placa de base e os
chumbadores resultam solicitados apenas ao corte, ou seja, não há tração nos
chumbadores (figura 5.9).

'
LH/6 LH/6 L
, l ,
I
H

Figura 5.9- Base de coluna sob flexo-compressão: e~ H/6


EstraQras MeWicas EESC!USP Capitulo 5- Bases de colmas 116

Neste caso pode-se adotar o método do AISC, proposto para o caso da


compressão simples, tomando-se a favor da segurança, uma pressão de contato
uniformemente distribuída e igual à máxima pressão de contato Pmax·

12° Caso: I e> H/6


Este é o caso mais frequente, onde o ponto de aplicação da força normal não
está contido no núcleo central da seção da base, surgindo tração nos chumbadores
(figura 5.10).

1,. e
1

- ~ "-r[

a .i_ ( I
~
.I
l b
I T 1

" H/2 +G-Y: y ~

l
r--. -.... -.....
-..... ~R= N+T
1
--------
~lt-....l
\ T
V\Jma )(

.~ r---...--...__

G Y/3

Figura 5.10- Base de coluna sob flexo-compressão: e> H/6


E'.slnJturu Metálicas EESCIUSP Capftulo 5 - Bases de ~IU118S 117

Admitindo-se distribuição linear de deformações na seção da base, o que é


uma hipótese razoável para pequenas deformações, tem-se três incógnitas (pmax• T
e Y) e apenas duas equações de equilíbrio, portanto há necessidade de se constituir
uma relação de compatibilidade de deformação.

-Equações de equilíbrio:

~ N + T =R= PIWII: Y. B
2

LM=O ---* T.G+(N+-r{~- ;)-N.e=O


- Equação de compatiblidade de deformação:

E s. _ T 1
Fazendon=-
E. s. - A.PIWII: n

n = fator de homogeneização, é a relação entre os módulos de elasticidade do aço e


do concreto, que em geral varia de 7 a 1O.
As-= área dos chumbadores situados na zona tracionada.
Adotando-se um valor para f\, o problema está resolvido, resultando uma
equação do 3° grau na variável Y:
Estruturas Metálicas EESCIUSP Capitulo 5 - Bases de colunas 118

onde

6
K2 = ~· (G+e)

K, = -K,(~ +G)

Obtida a posição da linha neutra (Y), pode-se calcular as outras duas incógnitas:

2(T+N)
Pmax = Y.B

I Exemplo 5.2 I
Dimensionar a base da coluna esquematizada a seguir, admitindo:

-aço SAE 1020 p/ chumbadores (fy = 210 MPa; fu = 380 MPa)


-aço ASTM A36 p/ placa de base e enrijecedores (fu = 400 MPa)
-concreto Íck = 25 MPa

-Esforços de cálculo: Nd = 460 kN ; Vd = 122 kN ; Md = 90 k.N.m


e= Md/Nd = 9.000/460 = 19,56 em

- fator de homogeneização n = 1O
Eslrulura.s Metálicas EESCIUSP Capilulo .5 - Bases de coluoas 119

-
/
40 J.. 480 40
l
I

-H ~- I -
8
- 8=250
-H ~- -H .__
i
l G =240
!
~ ESFORÇOS NA BASE

Figura 5.11 - Base rígida do exemplo 5.2


/

- Adotando-se inicialmente dÕis chumbadores cp 25 ( 1") na região tracionada,


As= 10cm2
- posição da linha neutra Y:

Y3 +KY
1
2
+K2 Y+K3 =0

6
K2 = ~s (G+e) = 6x~~O (24 +J9,56) = 1.045 cm 2

K, =-K,(~ +G)= -l.o4~5% +24) =-54.340 em'-


Resolvendo a equação cúbic~ obtém-se Y = 36,9 em

- resultante de tração nos chumbadores:

í y; +e -7
-I
HI l 136~9I / ;-. ,1 n-:f ,JO
::c ~ól l
- -; I
I
;1 - ')I
I
.. J -
1 - ,') . ·------
Td = Nd
l Hl _yI'._ jl= 46q s6/
72 /3 + G L /2 -
36,9 / '-~--j~~ 44,7 kN
/3 + 24
Estrutm1IS Metálicas EESC/USP Capitulo .5 - Bases de colunas 120

- resistência de cálculo do chumbador:

a) tração
Crct(+'5 · L -:tt:;
-escoamento na seção bruta: ~Nn = 0,9(1\fy) = 0,9(5x21) = 94,5 kN
-ruptura da parte rosqueada: ~Rnt = 0,65(0,751\fJ = 0,65(0,75x5x38) =j 3 KN - ~"' "

Portanto, «PtNn = 2} kN > Td 1 = 44,7/2 = 22,35 kN (OK]

b) cisalhamento
lrc- :. I -
~vRnv = 0,6(0,421\fu) = 0,6(0;42x?x38) = _48' kN
- ( · - , . ,! fc :::- (Z 1 0 f
Portanto, ~vRnv = 48 kN :> Vdt = 122/4 = 30,5 kN (OK)

Pressão de contato em furo: não é crítico~ uma vez que a espessura da placa de base
normalmente é elevada.

c) tração + cisalhamento
../ J lz_1o I _ s""'
~tRnt ~ 0,641\fu- 1,93Vd = 0,64~5x38- 1,93~0,5 = 62-;7 kN

Concluindo, «PtRnt = 62,7 kN > Td 1 = 44,7/2 = 22,35 kN [OK)


{'JO,ZZ' /.' / - =-
:::---._ 1 c
:J

• . /_· ?JOWt:.f-( ~_225 ~J.. .::: C


- maxuna pressão de contato: -} -z._ 1, Co x 'o o
.
_ 2(T, +
Pmc - Y. B
N,)J -
2(44,7 +460) _
36,9x25 - ' 1 09
kNj
I Cffi
2

-resistência de cálculo à pressão de contaio no concreio: iomando-se A 2/A1 = 1

$Rn = 0,7(0,7fck) = 0,49x2,5 = 1,22 id)~~2 > Pmu [OK]


Esiruturas Metálicas EESCIUSP Capftulo 5 - Bases de colunàs 121

Solução alternativa (simpliftcada):

Com relação ao modelo apresentado anteriormente, a postçao da linha


neutra Y foi determinada impondo-se uma relação de compatibilidade de deforma-
~ o que resultou numa equação cúbica em Y. Hoje em dia, com as calculadoras
eletrônicas e computadores disponíveis, a solução de equações cúbicas é pratica-
mente imediata. Entretanto, há algum tempo atrás, isto não ocorria e uma solução
simplificada era apresentada na maioria das publicações sobre o assunto.
Nesta solução, admite-se que a resultante de compressão na base se situa
junto ao centro de gravidade da mesa comprimida da coluna, desta forma, a posi-
ção da linha neutra Y é previamente conhecida. Com o valor de Y determina-se as
duas incógnitas T e Pmax de maneira análoga ao caso anterior.
Como pode-se imaginar, normalmente esta solução apresenta valores bem
diferentes dos obtidos com o caso anterior. Por exemplo, refazendo-se o exemplo
5.2 e comparando-se os resultados, tem-se:

44,7 1,09
lificada 3,8 1,41

\ N

v
'
Y = 26,4 em

I
I ;
11111111
i '
i
11111111

i !, ~ I
I Cl jmesa , ,
:-.r---...

-
......... R= J+ T
-- .........
:

l 176 las l
1 1

Figura 5.12 - Base de coluna sob flexo-compressão: solução alternativa


Eslrutun!s Metálicas EEBCIUSP Capitulo 5 - Bases de colunas 122

5.4- ANCORAGEM NO CONCRETO

Conforme já comentado neste capítulo~ a ancoragem da coluna no elemento


de apoio (concreto armado em geral), é feita mediante a colocação de parafusos de
ancoragem, denominados chumbadores. Do ponto de vista construtivo, estes chum-
badores podem ser previamente posicionados no bloco de concreto, sendo assim
denominados chumbadores fixos ou de aderência inicial; ou posicionados posterior-
mente à concretagem dos blocos, em cavidades apropriadas para tal (figura 5.13 ).

<t> I. ~
1I.:1
êl
chumbador
;0/

I l :~ • •

travessa de
ancoragem

--,
_ _.J

(a) chumbadores fixos (b) cavidades

Figura 5.13 - Parafusos de ancoragem ( chumbadores)

Os chumbadores posteriormente posicionados (com cavidade) apresentam a


vantagem de permitir ajustes quando da montagem da estrutura, o que não acon-
tece com os chumbadores fixos, porém, a execução de cavidades no bloco de
concreto acarreta uma série de inconvenientes de ordem prática, como por exemplo
a retirada de formas. Além disto, antes de se proceder à concretagem posterior das
cavidades, ou seja, após o alinhamento e nivelamento da estru~ deve-se limpá-
las adequadamente, permitindo a aderência entre o concreto "velho"e o novo.
Concluindo, sempre que possível é preferível adotar chumbadores fixos.
Capitulo 5 - Bases de colunas 123

As tabelas seguintes resumem as dimensões dos chumbadores e cavidades:

CHUMBADORES - dimensões em milímetros


!P(nnn) A<l) B<Z) C(3) D E G H J K L

16 50 90 67 27 8 30 22
I I
19 ! I I I 60 1 100 80 32 10 I 40 I 26
22 : ! 65 llO 93 38 11 45 30
25 I I I I 75 120 102 I 38 I 13 50 I 32
I
32 i i 95 160 116 44 16 65 38
38 I 115 190 145 50 19 75 44
44 135 220 167 57 22 90 51
50 155 255 197 70 25 100 60

Notas:
(l)A=B+C+D
(2) B é calculado em função da força de tração atuante no chumbador.

A resistência chumbador/concreto é dada pelas parcelas de resistência ao


deslizamento e resistência ao arrancamento. A resistência ao deslizamento pode ser
avaliada em função da tensão de aderência recomendada pela NBR 6118 (Projeto e
execução de obras de concreto annado ), considerando situação de boa aderência:

p/ escorregamento, barras lisas (llb = 1,0):

Quanto à parcela da resistência ao arrancamento do conjunto, sua avaliação


só pode ser feita mediante análise experimentaL pois trata-se de uma região de
comportamento complicado.

Na prática de projetos, a bibliografia apresenta uma recomendação que tem


sido aceita e usada por muitos projetistas, a qual consiste em se considerar que
50% da força de tração no chumbador é equilibrada pela resistência ao desliza-
mento e os 50% restantes, pela resistência ao arrancamento.
Com isto, a dimensão B é obtida tomando-se apenas 0,5Td:

(3) C é função do detalhe da base.


EstnJturas Metálicas EESCIUSP Capftulo 5 - Bases de collllliiiS 124

CAVIDADES - dimensões em milímetros


+P(mm) I +T
(mm) F X y yl y2 z
I I I
I
16 i 22 80 60 120 90 30 I 80
19 ! 25 90 I 60 120 II 90 I 30
I
! 90
22 i 32 I 100 65 I 130 I 100 I
I
30 '
I 100
25 j 32 120 75 150 110 40 I
i 120
32 I 38 150 80 I 160 I 115 45 I 140
38 J 44 160 95 190 140 50 I 190
44 ! 50 180 105 l 210 160 50 190
50 I 64 200 125 250 190 60 220

~p =diâmetro do parafuso de ancoragem (chumbador)


~T =diâmetro da travessa de ancoragem
eve ntua I contra porca

~~ __topo do trovesso ou ploca do <>:>uno


o

u topo da base de concreto

CD

2x y

VISTA 1-l

Figura 5.14 - Dimensões de chumbadores e cavidades


Estruturas Metálicas EESCIUSP Bibliografia 125

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